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Produção & Engenharia V.7 / N.

1
www.revistaproducaoengenharia.org (2015)
ISSN: 1983-9952 587-599

Fabio Alves Barbosa (a), Guilherme Faria da Silva Ribeiro (b),


Juliana Suemi Yamanari(c), Walter Roberto Hernández Vergara (d)
(a) Universidade Federal da Grande Dourados, MS, Brasil / fabiobarbosa@ufgd.edu.br
(b) Universidade Federal da Grande Dourados, MS, Brasil / faria_guilherme1993@hotmail.com
(c) Universidade Federal da Grande Dourados, MS, Brasil / jusuemi@hotmail.com
(d) Universidade Federal da Grande Dourados, MS, Brasil / waltervergara@ufgd.edu.br

DESENVOLVIMENTO COLABORATIVO DE UM SISTEMA MÓVEL PARA


ENVASAMENTO DE SANEANTES

RESUMO
O presente trabalho aborda o desenvolvimento e projeto de um sistema eletromecânico móvel para
envasamento automatizado de produtos saneantes químicos através de parceria entre uma
Universidade Federal Brasileira e um pequeno fabricante de saneantes químicos localizado em um
dos principais pólos de desenvolvimento agroindustrial da Região Centro-Oeste. O objetivo central
desse artigo é a descrição do desenvolvimento e projeto conceitual do referido equipamento destinado
à ampliação de capacidade do principal recurso limitador do fluxo produtivo (operação de
envasamento), o que resultou em ganhos de flexibilidade para todo o sistema de manufatura. A
metodologia utilizada foi a pesquisa exploratória que fundamentou a elaboração de um estudo de
caso. Os principais resultados obtidos são o projeto de um equipamento de envasamento versátil e
inovador, baseado em Controlador Lógico Programável (CLP) e Interface Homem Máquina (IHM),
capaz de reconhecer e preencher automaticamente embalagens plásticas (2 a 200 litros), bem como o
patenteamento do referido sistema junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial/INPI.
Palavras-chave: desenvolvimento de produto; automação em processo industrial; saneantes químicos.

COLLABORATIVE DEVELOPMENT OF A MOBILE SYSTEM FOR POTTING


SANITIZERS

ABSTRACT
This paper discusses the development and design of a mobile electromechanical system for automated
filling of chemical cleaning products through partnership between a Brazilian Federal University and
a small manufacturer of chemical sanitizers located in an important center of agro-industrial
development of the Midwest Region. The main objective of this paper is a description of development
and conceptual design of this equipment for capacity expansion of the main limiting resource of
production flow (filling operation), which resulted in flexibility gains for all the manufacturing system.
The applied methodology was the exploratory research that supported the development of a case
study. The main results are the design of a versatile and innovative filling equipment, based on
Programmable Logic Controller (PLC) and Human Machine Interface (HMI), capable to recognize
and fill plastics packaging automatically (2 - 200 liters), as well as patenting of this system at the
National Institute of Industrial Property.
Keywords:product development; industrial process automation; chemical sanitizers.

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Fabio Alves Barbosa, Guilherme Faria da Silva Ribeiro, Juliana Suemi Yamanari, Walter Roberto Hernández Vergara

1. Introdução processos produtivos em tempo real baseado na


incorporação de sistemas eletromecânicos e
A inovação tecnológica obrigatoriamente informatizados aplicados para aumentar a
implica no planejamento detalhado e execução capacidade das instalações, melhorar a
coordenada de um conjunto de atividades nas padronização e os níveis de qualidade dos
áreas científica, tecnológica, organizacional, produtos, permitindo melhor posicionamento
financeira e técnico-comercial, que deve ser competitivo frente aos concorrentes.
realizado pelas organizações produtivas que Desse modo, a incorporação de sistemas
demandam processos e/ou disponibilizam ao automatizados em operações consideradas
mercado novos produtos tecnológicos ou recursos restritivos críticos (que são limitadoras
significativamente melhorados (FORSMAN, da capacidade produtiva como um todo) é
2010; ZHOU e WU, 2010; OCDE, 2005). fundamental para aumentar competitividade.
Schumpeter e McDaniel (2009) Botelho, Carrijo e Kamasaki (2007) defendem
consideram que as organizações que buscam que a realização de parcerias entre
aumentar resultados financeiros (lucros) devem universidades, centro de pesquisas e empresas
desenvolver novos produtos e processos constituem um importante mecanismo para
produtivos tecnologicamente aprimorados para potencializar a capacidade de inovação industrial
obterem vantagens comparativas em custos, – as alianças colaborativas entre o setor
qualidade e entregas em relação a seus produtivo, universidades e centros de pesquisa
concorrentes, o que lhes permitem alcançar podem representar um grande diferencial para
maior margem em relação aos preços vigentes de construção de vantagens em termos de
mercado e, dependendo da elasticidade da diferenciação de produtos e processos. Na
demanda, combinar preço mais baixo e uma mesma linha, Segatto-Mendes e Rocha (2005) e
maior margem em comparação com seus Stal e Fujino (2005) mencionam que as parcerias
concorrentes diretos, de modo a conquistar estratégicas entre universidade-empresa
maior participação de mercado, aumentar a requerem elevado comprometimento e ampla
lucratividade, defender posições competitivas e integração entre todas as partes envolvidas para
ampliar a participação em vendas nos mercados que promovam, concretamente, a transferência
da sua base de atuação. de competências e tecnologias de produto e
Nesse contexto, a inovação em produtos e processo necessárias à expansão sustentável dos
processos é considerada imprescindível à negócios.
competitividade das organizações produtivas e, O presente trabalho trata da realização de
dessa forma, o processo de atividades de cunho inovativo para a concepção
desenvolvimento/projeto do produto deve e desenho de um equipamento aplicado a uma
possuir forte orientação para os requisitos dos operação-gargalo em um pequeno fabricante de
clientes. As atividades inovativas consideram, produtos saneantes agroindustriais da Região da
desde suas atividades preliminares, um conjunto Grande Dourados/MS, que fazem parte da
de necessidades, expectativas, atributos e execução de um projeto integrado universidade-
exigências de mercado, que deve ser incorporado empresa apoiado pelo Conselho Nacional de
aos bens e/ou serviços de modo a se atingir Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
conteúdos significativos de diferenciação Programa de Formação de Recursos Humanos
perante a concorrência. As competências em Áreas Estratégicas do (CNPq-RHAE).
organizacionais, que estão ligadas à O objetivo do presente estudo é descrever
identificação de oportunidades de mercado, o processo de desenvolvimento e projeto
direcionamento de esforços de desenvolvimento conceitual de um sistema automatizado móvel
de novos produtos/processos e agilidade no para envasamento multivolumétrico de produtos
atendimento das necessidades de mercado saneantes, que contribui com o aumento de
podem ser consideradas como fatores decisivos capacidade produtiva da planta fabril como um
para fortalecer a competitividade dos processos todo através do aprimoramento tecnológico de
de negócio (COOPER, 2011). uma operação considerada como restritiva do
Teixeira (2013) e OECD (2005) defendem fluxo de processamento.
que as atividades inovativas ligadas ao Atualmente, a referida indústria processa
desenvolvimento/aprimoramento tecnológico de um diversificado mix de embalagens com
produtos e processos devem estar integradas à diferentes volumes e formatos, gerando
própria estratégia competitiva da organização consideráveis tempos de preparação dos
fabril, sendo que a automação industrial equipamentos (setup time). Assim, a operação de
possibilita o gerenciamento autônomo dos envasamento de produtos saneantes químicos

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Desenvolvimento colaborativo de um sistema móvel para envasamento de saneantes

não contribui diretamente para a agregação de operacionais sob os pontos de vista da redução
valor aos produtos acabados, consumindo de custos, incremento da qualidade dos produtos
energia e recursos produtivos (horas-homem e e expansão dos mercados consumidores.
horas-máquina). Por fim, a estrutura do presente artigo é
Nesse sentido, um dos métodos mais composta por revisão bibliográfica (que aborda
efetivos para minimizar o impacto da operação conceitos sobre capacidade produtiva,
de envasamento na formação dos custos de automação industrial e processo de
produção está relacionado à diminuição de seu desenvolvimento do produto), materiais e
tempo de execução por meio de automação métodos da pesquisa (que envolvem a
industrial. O equipamento desenvolvido tem por caracterização da empresa em questão,
finalidade aumentar a flexibilidade e metodologia e procedimentos adotados) e, na
produtividade da referida operação, bem como sequência, são apresentados os resultados
fornecer capacidade produtiva adicional, obtidos e as considerações finais.
realizando o envasamento automatizado de
embalagens devidamente dispostas em uma 2. Revisão bibliográfica
plataforma de posicionamento única ou múltipla
(para utilização de um único bico ou um 2.1. Considerações sobre capacidade e
conjunto de múltiplos bicos de enchimento), automação industrial
conforme um determinado volume pré-
programado no sistema de comando. A capacidade do sistema produtivo como
Ademais, o sistema móvel para um todo é limitada pela descontinuidade do
envasamento de produtos saneantes apresenta fluxo de materiais influenciada pela capacidade
tamanho reduzido, ocupando menor espaço das operações-gargalo, pois a mesma é
físico em comparação com as envasadoras responsável pelo ritmo de produção de toda a
instaladas na empresa, bem como possui fábrica e influencia sobremaneira as atividades
sistemas de movimentação motorizada e de apoio/facilidades relacionadas ao suprimento
alimentação híbrida de energia, podendo ser de matérias-primas e insumos, avaliação da
conectado diretamente à rede elétrica ou qualidade no processo, manutenção e preparação
alimentado através de acumuladores (baterias dos equipamentos (TADEUSZ, 2012). Nesse
automotivas). sentido, a automação industrial, segundo Bartelt
Dessa forma, o equipamento proposto visa (2010), busca eliminar a intervenção humana nos
solucionar problemas relacionados aos atuais processos produtivos em termos da otimização
equipamentos de envase fixos/rígidos (grande do controle operacional, redução de esforços dos
porte) que apresentam baixa flexibilidade para operadores (aumento da produtividade) e
envasamento de diversos modelos de aprimoramento da conformidade do sistema de
embalagens, falta de mobilidade para utilização manufatura, podendo atenuar as interferências
em outras linhas de produção e custos elevados dos recursos restritivos nos fluxos de
de manutenção devido à própria estrutura processamento dos materiais.
construtiva formada por diversos sistemas O aumento do nível de automação nos
mecânicos, hidráulicos, pneumáticos e processos pode influenciar positivamente o
eletroeletrônicos, dentre outros. Além disso, as nivelamento da produção, pois permite adequar
envasadoras fixas tradicionais demandam um corretamente os níveis de produção para
conjunto significativo de atividades de responder rapidamente às variações da demanda
acompanhamento e controle operacional, e reduzir estoques em processo, promovendo
requerendo dedicação intensa de pessoal de uma distribuição mais uniforme das cargas de
apoio para preparação/setup, manutenção e trabalho nas operações – o que se traduziria em
programação. quantidades mais constantes produzidas nos
A OCDE (2005) considera que as períodos de atividade fabril.
inovações focalizadas em processos são Para Lippolt e Furmans (2008), o
consideradas fundamentais para o aumento de nivelamento operacional via aplicação de
competitividade industrial, sendo que no estudo automação industrial também pode minimizar
em questão, o conjunto de incrementos diferenças presentes nos tempos de utilização
inovativos realizado em equipamentos dos recursos produtivos (pessoas,
industriais determinantes para a capacidade máquinas/equipamentos e materiais/insumos),
produtiva (operações-gargalo), conjuntamente melhorando o balanceamento/sincronização das
com a reorganização do arranjo físico industrial, operações e assegurando que os tempos de
podem propiciar melhores desempenhos processamento se mantenham relativamente

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semelhantes, permitindo o agrupamento dos microeletrônica e mecânica de precisão, de


postos de trabalho para equilibrar a alocação de forma a garantir estabilidade dimensional aos
recursos e capacidade produtiva entre os produtos e repetibilidade aos processos
mesmos. Assim, poder-se-ia estabelecer um produtivos, o que exige adaptação do ambiente
fluxo mais uniforme no processo de produção, produtivo com relação a ciclos rápidos de
propiciando melhor utilização dos recursos para desenvolvimento de novos produtos, alta
atender prontamente a demanda nas quantidades qualidade em diversas escalas de produção e
e prazos preestabelecidos pela programação da capacidade de conformação de mix variados de
produção. produtos. Nesse sentido, para Yu, Schüller e
Nesse contexto, a inserção de conteúdos Epple (2014) e Bielawny et al. (2012), os
tecnológicos nos processos de transformação, principais elementos de automação presentes nos
associada à utilização de técnicas de atuais sistemas industriais são os controladores
modelagem/simulação e estruturação da cadeia lógicos, dispositivos para contagem de eventos
de operações, confere maior robustez ao sistema cíclicos, temporizadores, transdutores elétricos,
de manufatura, o que implicaria adicionalmente inversores de frequência, sensores
em maior integração de distribuidores, pontos de eletromecânicos, óticos, magnéticos e
venda/fornecedores e práticas de gerenciamento ultrassônicos, chaves eletromecânicas, relés e
mercadológico (LEAN MANUFACTURING contatores elétricos, atuadores mecânicos,
JAPAN, 2014; CHASE et al., 2006). hidráulicos, pneumáticos e eletromecânicos,
Petruzella (2004) considera que o boom da válvulas de bloqueio, controle de fluidos,
automação dos processos industriais está eletropneumáticas, magnéticas e servoválvulas,
associado ao desenvolvimento do Controlador motores de corrente contínua e alternada,
Lógico Programável/CLP (Programmable Logic motores de passo e geradores eletrônicos de
Controller/PLC) ocorrido nas décadas de 1960- pulsos.
1970, o que possibilitou uma ampla Por fim, com base em Lamb (2013) e
disseminação dos sistemas automatizados fabris Previdelli e Meurer (2005), os sistemas de
para armazenamento de instruções de controle automação flexível possuem ampla
operacional com funções específicas de lógica, aplicabilidade em pequenas e médias indústrias,
sequenciamento, temporização e cálculo visto que as mesmas normalmente não possuem
aritmético com entradas e saídas digitais recursos para investimentos em diversas linhas
conectadas a computadores e de produção rígidas (dedicadas a poucos
máquinas/equipamentos operatrizes. produtos), o que necessariamente demanda
Em relação à flexibilidade de utilização estruturas produtivas altamente adaptáveis a
em máquinas/equipamentos produtivos ambientes competitivos cada vez mais dinâmicos
(componentes, características e aplicações), e inserção de soluções industriais com baixos
Groover (2010) explica que os sistemas custos iniciais de aquisição e facilidade de
automatizados industriais podem ser assim manutenção.
classificados:
• Rígidos, que estão associados a 2.2. Processo de desenvolvimento do
operações padronizadas de manufatura produto
de produtos em larga escala (grandes
volumes com alta conformidade); O Processo de Desenvolvimento do
• Programáveis, que são usados em Produto/PDP representa as atividades que levam
sistemas de produção em ao estabelecimento de uma linha de produtos
lotes/bateladas com possibilidade de novos e/ou modificados, disponibilizados ao
reprogramação de instruções para cada mercado ao longo do tempo, incluindo a geração
nova ordem de produção que será de oportunidades, seleção e transformação destas
processada; em bens e/ou serviços para os consumidores
• Flexíveis, que são instalados em finais (LOCH e KAVADIAS, 2008). Rozenfeld
sistemas de manufatura que permitem et al. (2006) e Krishnan e Ulrich (2001)
rápidas modificações e reprogramações defendem que o PDP é iniciado pela
constantes nas rotinas de trabalho de identificação dos requisitos dos clientes,
máquinas/equipamentos. avaliação de estratégias competitivas/funcionais
Os Sistemas Flexíveis de Manufatura e análise de possibilidades tecnológicas,
(Flexible Manufacturing Systems/FMS) se restrições e recursos necessários às atividades de
orientam de acordo com a constante desenvolvimento e projeto.
inserção/atualização de tecnologias baseadas em Para Ulrich e Eppinger (2011), o

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Desenvolvimento colaborativo de um sistema móvel para envasamento de saneantes

desenvolvimento do produto abrange atividades de modelos); (3) projeto do produto e processo


iniciadas com a percepção de uma oportunidade (projeto detalhado do produto e sistema
de mercado, produção, venda e distribuição de produtivo, prototipagem/testes e
um produto. Wang, Guo e Liu (2013), por sua desenvolvimento de fornecedores); (4)
vez, definem as oportunidades de mercado como produção-piloto e ramp-up (avaliação/testes de
sendo as situações nas quais novos bens, processo e suprimento de materiais, liberação
serviços, matérias-primas e métodos para produção normal e inserção do produto no
organizacionais são introduzidos e vendidos a mercado); (5) introdução do produto no mercado
preços substancialmente mais elevados do que (elevação dos níveis de produção,
os referidos custos de produção, sendo que a preenchimento dos canais de distribuição e
descoberta e exploração de oportunidades podem estabilização do processo).
ser interpretadas como atividades inovativas e A metodologia de desenvolvimento do
empreendedorismo – consequentemente, novos produto supracitada é exibida na Figura 1.
bens tangíveis e serviços são considerados como
a ‘representação física das oportunidades de
mercado’.
A complexidade do desenvolvimento de
novos produtos é abordada por Baxter (2011),
que afirma que o mesmo representa uma
atividade complexa que requer pesquisas,
planejamento cuidadoso, controle meticuloso e
métodos sistemáticos. A divisão do processo de
desenvolvimento do produto deve ser realizada a
partir da configuração de um modelo Figura 1: Estrutura estratégica para desenvolvimento de
fundamentado em etapas interdependentes, produtos.
ressaltando a relevância do planejamento e Fonte: Clark e Wheelwright (1993).
controle de qualidade do PDP – sob esse De acordo com a Figura 1, o
aspecto, o conteúdo intrínseco de cada uma das desenvolvimento do produto está dividido em
etapas poderia ser adaptado segundo a natureza diferentes fases que podem ou não ocorrer
do produto e da organização produtiva. simultaneamente, dependendo de como o arranjo
Nesse sentido, Back et al. (2008), Chen et das atividades possa beneficiar a diminuição dos
al. (2008) e Akgun, Lynn e Yilmaz (2005) custos, utilização de recursos e/ou leadtimes
dissertam sobre o conteúdo eminentemente envolvidos. Assim, há forte interdependência
estratégico do processo de desenvolvimento do entre cada uma das fases do desenvolvimento do
produto a partir do uso de processos inovadores produto, sendo que o resultado de uma fase é
de aprendizagem e métodos de gestão de considerado como a base precursora da execução
conhecimentos necessários à realização de das atividades da fase subsequente – por esse
atividades organizacionais complexas com o motivo, as decisões tomadas em cada fase se
propósito de se obter diferenciação tecnológica, refletem no desenvolvimento do produto como
estética e/ou funcional em novos produtos ou um todo.
mesmo para o reposicionamento de produtos já As duas primeiras fases da metodologia se
comercializados. O PDP também pode ser referem ao desenvolvimento do conceito e
considerado como processo gerencial, planejamento do produto, em que são realizadas
estratégico-racional e metodológico para se prospecções de dados/informações sobre
estabelecer um conjunto de atividades inovativas oportunidades de mercado, competitividade,
a serem realizadas, cronogramas rígidos, equipes viabilidade técnica e requisitos do produto que
responsáveis/comprometidas, tecnologias e devem ser combinados na arquitetura do mesmo,
aporte de recursos financeiros. incluindo projeto conceitual, públicos-alvo, nível
Já a clássica ‘Estrutura Estratégica para de desempenho desejado, investimentos e
Desenvolvimento de Produtos’ proposta por impactos econômico-financeiros. Nesse sentido,
Clark e Wheelwright (1993) abrange cinco fases: há uma preocupação com o compartilhamento de
(1) desenvolvimento do conceito (definição de itens-chave já desenvolvidos em projetos
oportunidades e mercado-alvo, possibilidades anteriores, de modo a se criar ‘soluções
técnicas, arquitetura do produto e conceito final); diferenciadas’ para os novos produtos, com
(2) planejamento do produto (estudo detalhado custos viáveis de desenvolvimento e produção.
do mercado, investimentos, cronogramas, Nesse contexto, Ulrich e Eppinger (2011)
recursos necessários, especificações e construção apontam a coleta de dados/informações e
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posterior identificação e classificação das dos novos produtos e processos como forma de
necessidades dos consumidores, como aumentar a possibilidade de êxito durante a etapa
importantes formas de se obter as de introdução no mercado, onde o mesmo
particularidades primárias do produto. Uma vez identifica a necessidade de um procedimento não
que sejam identificadas as necessidades do prescritivo para avaliar um processo de
público-alvo, estas devem ser traduzidas em desenvolvimento do produto existente ou
especificações para serem usadas na proposto em um nível detalhado, analisando, no
conceituação do produto, que representa contexto das práticas de excelência mundial, os
inicialmente a descrição aproximada das produtos, processos, procedimentos e mercados
tecnologias empregadas, princípios de atingidos.
funcionamento, arquitetura e forma/estética. Na Assim, o projeto das operações de
visão de Ullman (2009), os conceitos tratam de fabricação e montagem, aliado ao
abstrações controladas do produto, que podem desenvolvimento de fornecedores, pode ser
ser apresentadas como diagramas, esboços, considerada a fase na qual são estudadas todas as
modelos simples, cálculos e/ou textos formas possíveis de se obter um produto ao
descritivos. menor custo possível sem sacrificar a dimensão
Na mesma linha, a partir do conceito da qualidade. Ullman (2009) considera, portanto,
selecionado, o seguinte passo deve ser a que o maior desafio é selecionar o processo que
definição de quais serão os componentes do melhor se adapte à manufatura de cada produto,
produto e que funções cada um deles deve tendo em vista que para qualquer componente há
exercer – esta fase é considerada uma etapa- diversas possibilidades de operações e roteiros
chave no desenvolvimento do produto, pois produtivos consistentes.
nesse momento são tomadas decisões sobre o Dessa forma, a obtenção de um produto
funcionamento e arquitetura final do produto que respeite as especificações mercadológicas e
(OTTO e WOOD, 2001). Lee e Wong (2011), condições técnicas de desempenho indica o
por sua vez, mencionam que a concepção dos início da fase de produção do lote-piloto, onde
sistemas técnicos e configuração final do há o pressuposto de que os sistemas, subsistemas
produto são obtidas com a realização de testes e componentes desenvolvidos/projetados e
em pequena escala dos conceitos propostos anteriormente testados serão normalmente
(modelagem e avaliação), sendo que também produzidos e avaliados internamente, de forma a
podem ser executadas avaliações adicionais com se conseguir a validação do novo e/ou
possíveis clientes, culminando com a aprovação modificado processo. Por fim, a fase final da
do programa de desenvolvimento do produto, metodologia de desenvolvimento do produto de
buscando integrar três pontos cruciais do PDP: Clark e Wheelwright (1993) é chamada ramp-
marketing, tecnologia e organização. up, indicando o início da produção comercial do
A fase seguinte, que trata da integração produto, que pode ser a princípio em volume
entre a Engenharia do Produto e Processo, reduzido – o aumento de produção é
aborda o desenvolvimento/projeto detalhado do gradualmente realizado com aumentos
produto, construção/testes de protótipos, projeto escalonados da confiabilidade do processo,
das operações de fabricação e montagem, fornecedores e distribuidores do produto
ferramentas e equipamentos necessários para a (atacadistas e varejistas).
produção em escala comercialmente viável. Um
aspecto de grande relevância é o ciclo 3. Materiais e métodos da pesquisa
combinado ‘projetar-construir-testar’ para
produto/processo (modelos físicos, 3.1. Caracterização da empresa
computacionais e protótipos). Caso os modelos
reais e/ou virtuais não atendam às especificações A BioLimp Produtos para Limpeza Ltda.
e aos níveis de desempenho desejados, realizam- está localizada na Região da Grande
se alterações e este ciclo é repetido até que se Dourados/MS e pode ser caracterizada como
atinjam as especificações propostas para o uma pequena fabricante de produtos saneantes
produto em questão. químicos para os segmentos agroindustrial,
Ainda dentro da lógica do PDP, a automotivo, doméstico e industrial,possuindo
especificação completa/integrada do produto e um amplo mix de produtos composto por
do processo produtivo é compreendida como detergentes, limpadores, amaciantes de roupa,
uma importante questão para se obter sucesso de alvejantes, desinfetantes, ceras, polidores e
vendas. Nesse sentido, Müller e Fairlie-Clarke sabões líquidos. A indústria conta com 25
(2003) propõem um método de autoavaliação funcionários, entre mão de obra direta e

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Desenvolvimento colaborativo de um sistema móvel para envasamento de saneantes

supervisão (corpo administrativo), sendo Dosagem/Homogeneização. Assim, a


coligada à outra empresa de distribuição partir da composição específica de cada
atacadista e comercialização varejista produto, faz-se a separação prévia e
pertencente ao mesmo grupo empresarial. pesagem de pequenas quantidades de
A firma possui homologação do processo reagentes e matérias-primas
produtivo e sistema de qualidade em necessários, que são levados ao Setor
conformidade com a legislação para fabricação de Dosagem/Homogeneização. Os
de produtos saneantes do Ministério da Saúde- materiais líquidos que perfazem a maior
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (MS- proporção dos produtos são diretamente
ANVISA). O parque fabril possui 1.800 m2 de bombeados dos tanques de
área construída em galpões climatizados, armazenamento e das bombonas
sistemas de exaustão, proteção contra entrada de plásticas para os dosadores manuais
insetos e partículas sólidas e sistema de graduados. Posteriormente, os volumes
iluminação diferenciado (blindado). O processo de materiais líquidos e as massas de
é composto de oito operações sequenciais e reagentes sólidos devidamente
interdependentes que são assim descritas: quantificados (medidos e pesados) são
• Operação 1: recebimento/inspeção de transferidos aos tanques
matérias-primas, insumos e embalagens homogeneizadores;
– as três principais categorias de • Operação 4: homogeneização/inspeção
materiais diretos e indiretos são dos produtos acabados – as matérias-
recebidas pelo responsável do Setor de primas devidamente pesadas e dosadas
Almoxarifado e ali se verificam os contidas nos tanques misturadores são
documentos fiscais, quantidades e submetidas à agitação mecânica através
relatórios de qualidade dos de pás giratórias, com inserção de água
fornecedores. Normalmente, os (solvente principal), dentro de um
materiais/insumos são analisados intervalo de tempo predeterminado para
através de planos de amostragem pelo cada saneante químico produzido. A
Laboratório de Análise Química/LAQ, grande diversidade de produtos
que encaminha documentação referente processados, bem como suas
aos lotes aprovados ao Almoxarifado características físico-químicas
ou recomenda a devolução de matérias- específicas, tornaram necessária a
primas aos fornecedores (quando as divisão dos mesmos em três famílias
mesmas forem rejeitadas); distintas (clorados, alcalinos e ácidos),
• Operação 2: armazenagem das matérias- sendo que cada tanque homogeneizador
primas (período de quarentena), deve produzir somente uma
insumos e embalagens – os materiais determinada família de produtos, de
aprovados na operação 1 são forma a não contaminar e/ou
armazenados no almoxarifado (matéria- desencadear reações químicas
prima em quarentena) de acordo com a indesejáveis. Já a inspeção dos produtos
Resolução ANVISA RDC n.º 134/2001. em processos é responsável pelo
Já as embalagens primárias e controle da qualidade dos lotes
secundárias (recipientes para produzidos, em que são retiradas
envasamento de saneantes e caixas de amostras do lote em processamento
papelão para acondicionamento de para realização de análises físico-
recipientes envasados, químicas pelo Laboratório de Análise
respectivamente), bem como os demais Química/LAQ e microbiológicas por
insumos usados no processamento empresas terceirizadas (quando
químico, são armazenados em áreas necessárias). Caso os níveis de
específicas do Almoxarifado; qualidade definidos para os produtos
• Operação 3: formulação dos produtos forem atendidos, o volume
saneantes – a pesagem/dosagem homogeneizado é bombeado para o
volumétrica dos materiais diretos que Setor de Envasamento. Quando o lote
compõem os produtos acabados são do produto for rejeitado pela inspeção
realizadas através de balanças presentes final de qualidade, o mesmo pode ser
na Área de Pesagem e dosadores reprocessado para atendimento de
manuais instalados junto aos tanques especificações de qualidade ou, caso
homogeneizadores alocados no Setor de contrário, o volume rejeitado deve ser
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Fabio Alves Barbosa, Guilherme Faria da Silva Ribeiro, Juliana Suemi Yamanari, Walter Roberto Hernández Vergara

enviado a empresas de reciclagem de partir de conceitos da literatura. O principal


produtos químicos em condições de objetivo da pesquisa bibliográfica é a ampliação
manuseio/transporte ambientalmente e domínio do conhecimento disponível para
seguras; auxiliar na fundamentação de hipóteses e
• Operação 5: envasamento em construção de modelos (LAKATOS e
embalagem primária – posteriormente à MARCONI, 2010). A referida pesquisa também
aprovação do volume processado, o está baseada na elaboração de um estudo de
mesmo é bombeado dos tanques de caso, sendo que Yin (2010) ressalta sua natureza
homogeneização para os reservatórios empírica e adequação à investigação de
presentes nos equipamentos de problemas realísticos, principalmente quando os
envasamento (semiautomáticos ou mesmos não estão claramente definidos.
manuais), onde ocorre o • Sistematização do conhecimento através
acondicionamento em embalagens da construção do referencial teórico
plásticas primárias predeterminadas de para os temas “automação industrial e
500mL, 750mL, 1L, 2L e 5L, além de capacidade produtiva” e “processo de
bombonas de 20L, 50L e 200L; desenvolvimento do produto”;
• Operação 6: rotulagem e impressão da • Realização de visitas técnicas a diversos
data de validade/lote – as embalagens fabricantes de produtos químicos para
primárias referentes aos produtos estudo e embasamento das inovações
envasados são submetidas à colagem de propostas no equipamento desenvolvido
rótulos e à impressão de informações (detalhes técnicos e condições de
relacionadas à data de validade e aplicação dos produtos propostos);
codificação do lote fabricado, • Utilização da metodologia de
permitindo a rastreabilidade dos desenvolvimento do produto proposta
produtos e dos processos para eventuais por Clark e Wheelwright (1993) como
ações corretivas; referencial para desenvolvimento
• Operação 7: acondicionamento em conceitual, abrangendo a elaboração da
embalagem secundária – conforme as arquitetura (sistemas, subsistemas e
especificidades dos pedidos de vendas, componentes), realização de estudos
as embalagens primárias de 500mL, técnicos para proposição de conceito
750mL, 1L, 2L podem ser final do produto (equipamento),
acondicionadas em caixas de papelão detalhamentos e desenhos técnicos
(embalagens secundárias) para facilitar representativos;
o manuseio, movimentação e transporte • Elaboração do projeto conceitual de um
para os pontos de vendas e/ou sistema móvel automatizado compacto
distribuição aos consumidores finais; para envasamento de produtos
• Operação 8: armazenagem de produto saneantes em embalagens de múltiplas
acabado (período de quarentena) – os capacidades volumétricas (2 a 200
produtos acabados acondicionados em litros);
embalagens primárias ou secundárias • Patenteamento do produto
são previamente armazenados em uma (equipamento) proposto.
área de quarentena para estabilização
físico-química. Posteriormente, os 3.3. Resultados obtidos
mesmos são movimentados para o
Depósito de Produtos Acabados, O projeto do equipamento teve como
permanecendo nesse setor até a princípio fundamental a capacidade de
expedição final. reconhecimento e preenchimento automático de
embalagens de diferentes modelos e capacidades
3.2. Metodologia e procedimentos volumétricas (2, 5, 10, 20, 50 e 200 litros). Para
adotados tanto, buscou-se garantir confiabilidade para a
etapa de seleção automática de embalagens e
A estrutura metodológica do trabalho respectivos volumes de envase através da ação
segue a lógica de pesquisa aplicada/exploratória de um conjunto de chaves eletromecânicas
que, segundo Gil (2008) e Barros e Lehfeld (switches), que determina o modelo de
(2007), tem como premissa a produção do embalagem em função do deslocamento do
conhecimento através de resultados associados à conjunto-guia conforme a altura da mesma
solução prática de um problema específico a (Figura 5). A leitura dos switches é informada ao
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Desenvolvimento colaborativo de um sistema móvel para envasamento de saneantes

Controlador Lógico Programável (CLP) antes do ambiente fabril e peso total do equipamento.
início do envasamento, sendo que o operador
deve declarar o modelo de embalagem ao
sistema de Interface Homem Máquina (IHM).
Dessa forma, os switches representam o
sistema redundante em relação à programação
do modelo de embalagem realizada no CLP.
Para o controle do volume, utiliza-se uma
válvula medidora de vazão devidamente
acoplada à linha de recalque do equipamento e
adequada aos tipos de fluidos utilizados, sendo
que a mesma aciona/desliga a bomba hidráulica
responsável pela inserção do fluido na
embalagem. Como redundância, em caso de
falha da válvula medidora de vazão, o
equipamento conta com um sistema de células
de carga instalado na plataforma de Figura 2 – Esquema geral do sistema automatizado móvel
posicionamento única ou múltipla para medir a para envasamento multivolumétrico de produtos saneantes.
Fonte: Os Autores
massa associada ao volume envasado – caso
ocorra divergência anômala entre os valores
encontrados pela válvula medidora de vazão e a
leitura do sistema de células de carga, um alarme
é acionado, interrompendo a operação. O
equipamento também possui um dispositivo de
retorno para o reservatório (tanque paletizável),
a fim de evitar o transbordamento do fluido
quando houver excessiva formação de espuma.
Para possibilitar o pleno funcionamento
do sistema proposto em diferentes pontos do
arranjo produtivo, adotou-se um sistema híbrido
de alimentação (rede elétrica e/ou
acumuladores), que supre os sistemas de
bombeamento/controle do volume de envase e
movimentação. O equipamento inovador
também é bastante acessível em termos de custos
Figura 3 – Representação esquemática do Sistema de
de aquisição para a empresa em questão, que
Movimentação do Equipamento/SME
necessita obter rapidamente maior capacidade Fonte: Os Autores
para a operação de envasamento dos produtos
O Sistema de Envase Volumétrico/SEV,
saneantes.
que está representado na Figura 4, é composto
Como pode ser visto na Figura 2, o
pelo bico de enchimento e dispositivo de retorno
referido equipamento está dividido em três
(9), reservatório (tanque paletizável) (10)
partes-componentes principais, que são assim
acoplado à linha de sucção (11A) e linha de
elencados: (1) Sistema de Movimentação do
recalque (11B) acoplada à bomba hidráulica
Equipamento/SME; (2) Sistema de Envase
(12). Outra configuração possível para o sistema
Volumétrico/SEV; (3) Sistema Híbrido de
proposto é o engate direto da linha de sucção à
Energia/SHE.
tanques fixos industriais com maior capacidade
O Sistema de Movimentação do
volumétrica. O controle do volume de envase é
Equipamento/SME (Figura 3) é composto por
realizado pela válvula medidora de vazão (13A)
um motoredutor (6) acoplado ao eixo traseiro da
que é responsável por executar a função
envasadora móvel, que constitui o conjunto
liga/desliga da bomba hidráulica em função do
motriz e sistema de direção (8A). O controle de
volume de envasamento. Como sistema
direção é manual e acionado pela rotação de uma
redundante para garantir o correto enchimento
alavanca em formato de “T” acoplada ao
das embalagens foi acoplado ao sistema uma
conjunto motriz, onde também se encontra o
célula de carga (13B) que é responsável por
acionador do SME do tipo gatilho (8B). Todo o
medir a massa associada ao volume envasado,
conjunto encontra-se apoiado sobre pneus (7)
determinando conjuntamente com a válvula
especificados conforme o tipo do piso do
medidora de vazão (13A) o volume inserido na
Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 7, n. 1, p. 587-599, Jul./Dez. 2015 595
Fabio Alves Barbosa, Guilherme Faria da Silva Ribeiro, Juliana Suemi Yamanari, Walter Roberto Hernández Vergara

embalagem. Caso houver uma divergência para um dispositivo de alimentação de corrente


percentual predeterminada, que deve ser pré- contínua constituído de acumuladores de
programada no CLP (14), entre as leituras da energia elétrica (17).
válvula medidora de vazão (13A) e o da célula
de carga (13B) para a operação de envasamento,
um alarme (13C) é acionado, interrompendo a
referida operação para que sejam realizadas as
correções/ajustes no equipamento.

Figura 5 – Representação do Subsistema de Definição do


Volume de Envase (SDVE).
Fonte: Os Autores

Figura 4 – Representação esquemática do Sistema de


Envase Volumétrico/SEV
Fonte: Os Autores
A definição do volume de envase é
automaticamente executada pelo Subsistema de
Definição do Volume de Envase (SDVE), que é
representado em detalhes na Figura 5. O SDVE é
formado basicamente por uma unidade CLP (14)
integrada a um conjunto de três chaves
eletromecânicas A, B e C (15), que são ajustadas
com a regulagem da altura do bico de
enchimento associado aos diversos modelos de
embalagens utilizadas. Ressalta-se que a
composição dos switches (20, 50 e 200L)
representa somente um exemplo de uma possível
configuração do sistema para utilização de
somente três modelos de embalagem, visto que a
quantidade de chaves eletromecânicas está
diretamente ligada aos diferentes modelos de Figura 6 – Representação esquemática do Sistema Híbrido
de Energia/SHE
embalagens adotadas nas linhas de produção – e, Fonte: Os Autores
na prática, o número de switches está associado à
A Figura 7 representa o esquema de
quantidade de modelos e embalagens
ligação dos componentes utilizados para
normalmente empregadas na operação de
automação via CLP do sistema móvel
envasamento (2, 5, 10, 20, 50 e 200L), que é
automatizado para envasamento em embalagens.
limitada pelo número de entradas do CLP.
A lógica de controle aplicada ao sistema
O Sistema Híbrido de Energia (SHE) proposto possui as seguintes instruções: (1)
apresentado na Figura 6 é composto de um cabo definir embalagem e produto-IHM; (2)
de conexão principal de ligação à rede elétrica selecionar volume de envase; (3) colocar
para alimentação do SME e do SEV, sendo que embalagem vazia sobre a plataforma de
na ocorrência de falta de energia e/ou posicionamento; (4) iniciar operação de
necessidade de utilização sem conexão à rede envasamento; (5) operação de envasamento; (6)
elétrica convencional, o Quadro de interrupção do fluxo do produto-medidor de
Transferência Automática/QTA (16) vazão e célula de carga; (7) remoção da
redireciona a alimentação do SME e do SEV
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Desenvolvimento colaborativo de um sistema móvel para envasamento de saneantes

embalagem envasada; (8) colocar nova produto-IHM (caso haja alteração de embalagem
embalagem vazia sobre a plataforma de e/ou produto); (9) fim.
posicionamento ou redefinir embalagem e

Figura 7 – Esquema de automação via CLP aplicado ao produto proposto


Fonte: Os Autores

Finalmente, o referido equipamento, tecnológico dos processos produtivos, que


denominado de “Sistema Eletromecânico Móvel subentende o desenvolvimento e projeto de
para Envase Multivolumétrico de Produtos equipamentos industriais muitas vezes utilizados
Líquidos ou Pastosos”, está em processo de para atenuar o efeito das operações críticas
patenteamento junto ao Instituto Nacional de (recursos-gargalo). Adicionalmente, as
Propriedade Industrial/INPI, realizado pelo metodologias aplicadas ao desenvolvimento do
Núcleo de Inovação e Propriedade Intelectual da produto integradas à automação industrial
Universidade Federal da Grande Dourados potencializam os resultados das atividades
(NIPI-UFGD). inovativas focalizadas em pontos cruciais
presentes no ambiente de manufatura.
4. Considerações finais O sistema automatizado móvel para
envasamento multivolumétrico de produtos
As atividades inovativas voltadas ao saneantes pode ser considerado bastante
desenvolvimento/projeto de máquinas, acessível em termos de custos de aquisição para
dispositivos e equipamentos utilizados no as pequenas e médias indústrias que desejam
sistema de manufatura são consideradas automatizar o envasamento de produtos
fundamentais à competitividade industrial, líquidos/pastosos, pois o mesmo possui
compreendendo normalmente a execução de princípios construtivos relativamente
uma série de atividades científicas, tecnológicas simplificados em termos de estrutura física e
e organizacionais. A preocupação constante com componentes, facilitando sua utilização e
processos tecnologicamente aprimorados realização de atividades de manutenção que, de
possibilita à organização industrial alcançar uma modo geral, podem ser executadas pelos
substancial diferenciação nos produtos baseada próprios operadores. Com relação à
na otimização de importantes critérios aplicabilidade em grandes indústrias do sistema
competitivos, como custos de produção, níveis proposto, tem-se que o mesmo propicia ganhos
de qualidade e produtividade, melhorando seu de capacidade produtiva em períodos de elevada
posicionamento no ambiente de negócios. demanda, requerendo menores investimentos
Os modelos de referência originalmente financeiros em comparação com a aquisição de
elaborados para a área de Engenharia do Produto grandes equipamentos de envase que
podem ser adaptados para o aprimoramento pressupõem tanto uma apreciável imobilização
Revista Eletrônica Produção & Engenharia, v. 7, n. 1, p. 587-599, Jul./Dez. 2015 597
Fabio Alves Barbosa, Guilherme Faria da Silva Ribeiro, Juliana Suemi Yamanari, Walter Roberto Hernández Vergara

de capital quanto uma indesejável capacidade BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S.


ociosa em períodos de baixa demanda (quando Fundamentos da metodologia científica. 3. ed. São
essas grandes envasadoras não serão plenamente Paulo: Pearson Prentice-Hall, 2007.BARTELT, T. L.
utilizadas). M. Industrial automated systems: instrumentation and
motion control. Stamford: Cengage Learning, 2010.
A versatilidade do equipamento
desenvolvido está condicionada aos modelos de BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o
bombas hidráulicas empregadas (que estão design de novos produtos. 3. ed. São Paulo:
correlacionados à viscosidade dos produtos EdgardBlücher, 2011.
líquidos e/ou pastosos) e à utilização de BIELAWNY, D. et al. Multi-robot approach for
embalagens de capacidades e modelos automation of an industrial profile lamination
diversificados, apresentando possibilidade de process.International Symposium on Robotics and
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envasamento de produtos in natura, como leite,
sucos, mel, água mineral e matérias- BOTELHO, M.; CARRIJO; M.; KAMASAKI, G.
Inovações, pequenas empresas e interações com
primas/produtos agropecuários diversos.
instituições de ensino/pesquisa em arranjos
Por fim, constatou-se que durante a produtivos locais de setores de tecnologia avançada.
realização desse projeto, a indústria decidiu Revista Brasileira de Inovação, p. 331-371, n. 2, v. 6,
iniciar um novo projeto de aprimoramento 2007.
tecnológico para a operação de
CHASE, R. B. et al. Administração da produção
homogeneização/inspeção dos produtos para a vantagem competitiva. 10. ed. Porto Alegre:
acabados, que também é considerada um Bookman, 2006.
recurso-gargalo (limitador de capacidade
produtiva). Dessa forma, a empresa está ainda CHEN, H. H. et al.Developing new products with
knowledge management methods and process
mais voltada à construção de uma cultura
development management in a network. Computers In
organizacional para a inovação e o Industry: Product Lifecycle Modelling, Analysis and
aprimoramento permanente de processos e Management, v. 59, n. 2-3, p. 242-253, 2008.
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CLARK, K. B.; WHEELWRIGHT, S. C. Managing
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