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pagamento que, teoricamente, fosse garantir a sua sobrevivência, bem como a de sua
família.
Até aí, a decisão de um camponês de abandonar sua terra e se tornar
empregado de um dos grandes latifúndios rurais ou tentar a vida nas cidades, onde
poderia trabalhar no comércio, na prestação de serviços ou na manufatura, cabia
somente a ele próprio. No campo, em sua própria terra, ele tinha a liberdade de decidir
o que plantar e o sistema de trabalho para sua produção, mas tinha também o risco de
eventualmente, produzir aquém do necessário para a subsistência. Nas cidades e nos
latifúndios tinha o conforto de um salário garantido. Fosse uma troca justa, o trabalho
assalariado até seria uma boa saída para quem quisesse fugir dos rigores e incertezas
da vida de camponês. Infelizmente, isso nunca foi verdade. Nas grandes propriedades
rurais ou nas cidades, o ex-camponês tinha que se submeter à vontade das poderosas
elites agrária, mercantil e posteriormente, a dos grandes industriais. Isso representava,
regra geral, uma jornada de trabalho exaustiva, de até dez horas diárias (inclusive para
mulheres e crianças) e uma remuneração muito abaixo do necessário para uma vida
digna. Essa situação foi um pouco amenizada com uma série de conquistas de direitos
trabalhistas ao longo dos séculos XIX e XX. Direitos esses que agora são postos em
cheque pelo sistema de globalização dos mercados mundiais, pois segundo seus
articuladores, a produção moderna, por ser mais ágil, exige uma legislação trabalhista
mais flexível.
O sistema econômico neoliberal, que tem como base a economia de mercado e
a livre inciativa, ou seja, a redução do papel do Estado e da legislação nas questões
econômicas, praticamente dita as regras das relações trabalhistas em nossa
sociedade. Seus especialistas e teóricos justificam dizendo que é “o mercado de
trabalho”, sem explicar que cada tendência desse mercado é matematicamente
planejada pelos magos da economia mundial. Há muito menos fatores naturais nisso
do que se alega.
Analisando as condições atuais de vida da parcela mais carente de nossa
população, que representa 85,45% dos brasileiros (sendo que 27,15% estão entre
aqueles que apresentam “muita dificuldade para chegar ao fim do mês com o
rendimento monetário familiar”, enquanto apenas 14,54% estão entre os que têm
“alguma facilidade”, com 0,72% representando os mais ricos1), notamos que o abismo
social entre as classes é assustador e materializa-se sob a forma dos mais diversos
Undergroundson
Junho de 2007