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Plano Cruzado e a nova república

APRESENTAÇÃO

A década de 1980 foi conhecida como a “década perdida” por causa de grandes instabilidades
econômicas e acelerações inflacionárias. Até 1985, foram adotados planos ortodoxos para
enfrentar esses obstáculos, contudo, sem sucesso. Porém, a partir de 1986, juntamente com o
início da Nova República, as estratégias de combate à inflação se basearam em choques
heterodoxos, sendo o Plano Cruzado a primeira política do governo baseada nesses critérios.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará alguns conceitos e aplicações relacionados com
a inflação, os quais servirão de apoio para o acompanhamento do conteúdo relacionado com o
Plano Cruzado e com a Nova República.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Diferenciar os principais índices de preços do Brasil.


• Reconhecer a importância dos índices de preços na mensuração do Produto Interno Bruto
(PIB).
• Constatar a importância da estabilidade inflacionária para o crescimento econômico.

DESAFIO

Você é o Presidente da República do país "X" e possui os dados do PIB nominal durante o seu
mandato. Contudo, deseja realizar uma avaliação do real desempenho econômico desse período.
Após a realização dos cálculos, faça uma análise dos resultados, considerando qual foi o
desempenho econômico em termos reais e nominais e qual o motivo das diferenças na evolução
desses dados. Saliente a importância de realizar o acompanhamento do PIB utilizando essa
metodologia.

INFOGRÁFICO

No infográfico a seguir, observe os principais pontos do Produto Interno Bruto (PIB) e do


índices de preços.
CONTEÚDO DO LIVRO

Na década de 1980, o Brasil ultrapassou períodos de grande instabilidade inflacionária e de


crescimento do PIB. O foco foi ultrapassar os obstáculos da inflação para retomar o ritmo de
crescimento econômico adquirido ao longo das décadas anteriores.
Acompanhe um trecho da obra Economia: Teoria e Política, que apresenta os principais índices
de preços e qual é a relação destes com a mensuração do Produto Interno Bruto (PIB). Inicie sua
leitura a partir do tópico "A relação entre o PIB a preços de mercado e o PIB a custo dos
fatores" e finalize até o final do tópico "Outra forma de medir o nível geral de preços: o deflator
do Produto Interno Bruto (PIB)".

Boa leitura.
ECONOMIA
TEORIA E POLÍTICA
Tradução da 5a Edição Espanhola

Francisco MOCHÓN MORCILLO


Catedrático de Teoria Econômica
Facultad de Ciencias Económicas
Universidad Nacional de Educación a Distancia

Tradução
Fátima Conceição Murad
Leila de Barros
Sheila Clara Dystyler Ladeira

Revisão Técnica e Adaptação


Carlos Roberto Martins Passos
Economista com graduação e pós-graduação pela
Universidade de São Paulo – USP
Lecionou nos cursos de graduação da PUC/SP, FMU e UNIP,
na pós-graduação da FASP e da Faculdade São Luís, e no MBA
em Finanças do Ibmec e no IbmesLaw, do Ibmec Educacional

Bangcoc Beijing Bogotá Caracas Cidade do México


Cingapura Londres Madri Milão Montreal Nova Delhi Nova York
Santiago São Paulo Seul Sydney Taipé Toronto
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 269

O PIB (a produção total de uma economia) é igual à é o resultado da multiplicação de uma série de quantidades
renda gerada nessa economia. (de bens e serviços) por seus respectivos preços. Assim,
podemos expressar o PIB a preços correntes (em termos
O fato de a produção ser igual à renda se deduz direta-
nominais) ou a preços constantes (em termos reais).
mente do método do custo de fatores do PIB. Isso explica
por que os especialistas em macroeconomia utilizam os O PIB em euros correntes será medido com os preços
termos “produção” e “renda” como se fossem sinônimos: existentes quando se realiza a produção, enquanto o PIB
eles têm o mesmo significado. Se aumentar a produção, a preços constantes será medido com os preços existentes
a renda sobe no mesmo valor; se a produção cair, a renda em um ano-base específico.
cai no mesmo valor.
Dado que os preços dos diversos bens variam em
diferentes proporções, devemos tentar estabelecer a
13.3.3 A relação entre o PIB a preços de mercado e variação “geral” deles. Para isso, recorremos aos índi-
o PIB a custo dos fatores ces de preços.
A relação entre o PIB a preços de mercado (PIBpm) e o Os índices de preços são utilidos para “deflacionar”
PIB a custo dos fatores (PIBcf ) se estabelece consideran- – quer dizer, para eliminar o efeito da variação dos pre-
do os impostos indiretos e os subsídios. Para passar do ços nos valores correntes das macromagnitudes – ou, em
PIBcf ao PIBpm, devem-se somar os impostos indiretos e outras palavras, para passar de magnitudes correntes para
deduzir os subsídios. magnitudes reais em termos constantes.

Os subsídios (Sb) são transferências do setor público às


empresas e, portanto, reduzem o custo real de produção. Os índices de preços são médias ponderadas dos preços de cada
período em que cada bem ou serviço é valorizado de acordo com
seu “peso” ou importância no produto total.
Tendo em conta os impostos indiretos e os subsídios,
o PIB a preços de mercado, obtido a partir do PIB a custo
de fatores se expressa como se segue:
13.4.1 O Índice de Preços de Consumo (IPC)
PIBpm = PIBcf + Ti – Sb O crescimento dos preços é um tema que interessa aos
consumidores (quando fazem compras), aos trabalha-
Mesmo que todas as macromagnitudes apontadas na dores (para ver como evolui o poder de compra dos sa-
Contabilidade Nacional sejam expressas em termos no- lários durante a revisão anual dos salários monetários),
minais ou monetários, a variável renda real (y) que utili- às empresas (para ver a evolução relativa dos diferentes
zaremos ao longo do texto coincide com o PIBpm medido preços e, conseqüentemente, fixar os preços de seus pro-
em termos reais. Portanto, dutos também para estabelecer o crescimento dos salários
monetários) e ao governo (a evolução do nível geral de
preços do país incide na competitividade e no crescimen-
PIBpm ≡ C + IB + G + X – M ≡ y [13.1]
to de algumas variáveis, tais como pensões, salário míni-
mo, que são variáveis com uma forte incidência pública).
em que toda a expressão anterior está medida em termos
Conhecer o crescimento dos preços dos bens considera-
reais. Porém, na Contabilidade Nacional, as macromag- dos de forma individual, como a gasolina, o transporte
nitudes são habitualmente medidas em moeda corrente, público ou o cinema é fácil: basta comparar os preços
ou seja, em termos nominais. Quando a Contabilidade em dois momentos. No entanto, medir como aumentam
Nacional efetua uma medição em termos reais, ela está os preços “em geral” durante determinado período não é
geralmente valorada em termos de uma moeda de deter- uma tarefa fácil, já que os bens e serviços que se compram
minado ano, como veremos a seguir. e se vendem são muito variados e os crescimentos que ex-
perimentam costumam ser bastante diferentes, sendo que
essa é precisamente a informação que interessa a todos.
13.4 O PIB real e o PIB nominal: os índices de
preços e a inflação O índice de preços de consumo é uma medida dos preços
agregados e se calcula como uma média ponderada dos bens de
A definição do produto nacional como o valor total da pro- consumo finais. O gasto da família média, em cada um dos bens,
constitui a ponderação utilizada.
dução corrente de bens e serviços equivale a dizer que ele
270 - CAPÍTULO 13 - A MEDIÇÃO DO PIB: DO PIB À RENDA DISPONÍVEL

Para poder oferecer informação sobre a evolução 3) Calcula-se o IPC como uma média ponderada dos
dos preços em geral, devemos realizar um processo de quocientes para cada produto, entre o preço no ano
agregação que vamos ilustrar por meio de um exemplo. em questão e o preço no ano-base.
Suponhamos que só se consomem quatro tipos de bens
A partir dos dados dos Quadros 13.3 e 13.4, podemos
(alimentos, transporte, moradia e vestuário, lazer e outros),
que precisamente são as quatro categorias que possuem maior calcular os Índices de Preços de Consumo dos três anos
ponderação para o cálculo do IPC espanhol. No Quadro considerados, tal como se segue:
13.3, mostramos a evolução dos preços durante três anos,
definida como a diferença entre o preço de 31 de dezembro 8 5 800 9
IPC2004 = 20 + 15 + 10 + 55 = 100
do ano anterior e o preço de 31 de dezembro desse mesmo 8 5 800 9
ano. Como podemos observar, os crescimentos sofridos
pelos diversos preços são muito diferentes (alguns preços 7 6 900 11
IPC2005 = 20 + 15 + 10 + 55 = 113, 97
podem, inclusive, decrescer). Ainda assim, a porcentagem 8 5 800 9
do gasto em cada um dos tipos de bens em relação ao
total gasto da família média é diferente (Quadro 13.4). 12 7 1.000 15
IPC2006 = 20 + 15 + 10 + 55 = 155,17
8 5 800 9
Quadro 13.3 - Nível de preços (até 31 de dezembro de cada ano)
– Espanha
2004 2005 2006 Quadro 13.4 - Porcentagem do gasto da família média em cada
tipo de bem – Espanha
Alimentos 8 7 12
Ano 2004
Transporte 5 6 7
Bem ou serviço Porcentagem do gasto em 2004
Moradia 800 900 1.000 Alimentos 20
Vestuário, lazer e outros 9 11 15 Transporte 15
Moradia 10
Vestuário, lazer e outros 55
Dadas essas circunstâncias, para calcular o crescimento
Total 100
dos preços “em geral” durante os três anos considerados
no Quadro 13.3, utilizamos como medida agregada uma
média ponderada dos preços que atribua um peso maior O ano de 2004 foi tomado como ano-base, de forma
aos preços dos produtos nos quais o consumidor realiza um que o Índice de Preços de Consumo toma um valor de
gasto maior, pois o que se pretende calcular é um Índice de 100. A partir desses dados, concluímos que os preços,
Preços de Consumo (IPC). Esse índice engloba unicamen- medidos por meio do IPC, cresceram 13,97% entre 2005
te os preços dos bens e serviços de consumo final que as e 2004 e que esse crescimento foi de 55,17% em 2006. Já
famílias compram. Portanto, não considera os preços dos que durante os dois anos os preços cresceram, dizemos
bens de capital nem os bens intermediários. Em razão de que houve inflação.
seu caráter de índice (ver Nota Complementar 13.1), es-
tabelecemos o valor de 100 em um período arbitrário de
tempo, que tomamos como base e ponto de referência para 2 O cálculo do IPC como índice de Laspeyres convencional é realizado
os demais períodos. No caso que estamos considerando, o utilizando a seguinte fórmula:
t t n
P1t t
0 P2 + g 0 P3 +  + g 0 Pn = Pt
ano de 2004 é o que tomamos como ano-base. IPC1 = g10
P10
+ g 2
P20
3
P30
n ∑ gi0 i
Pn0 t =1 Pi0
Tradicionalmente, o IPC tem sido calculado aplican- Sendo:
do-se um Índice de Laspeyres2 convencional. O procedi- IPC1 = Valor índice de preços de consumo no ano t.
mento de cálculo seguido é como mostrado: Pi j = Preço do bem i no ano j.
1) Mede-se o preço de cada bem ou serviço em todos os n = Número de bens que entram em uma cesta básica que se define
para calcular o IPC.
anos que serão calculados o IPC (Quadro 13.3).
Pi0 = Porcentagem do gasto de família “média” no bem i durante o ano
2) Escolhe-se um ano como base e calcula-se, para esse zero. Esse ano é o que se toma como base.
n
ano, a porcentagem do gasto da família média em ∑ Soma desde o elemento 1 até o n.
t =1
cada um dos bens. Essas porcentagens se utilizarão no As ponderações g se referem ao gasto de família “média” em cada um
restante dos períodos como ponderações para calcular dos bens. A soma de todos os gi0 se mantém constante durante os períodos
o IPC (Quadro 13.4). considerados.
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 271

Nota Complementar 13.1 - Índice de chegada de imigrantes


Elaboração de um índice de chegada de imigrantes Em 2000, o ano-base, o índice terá o valor:

De maneira geral, um número índice de qualquer quantidade é cal- 10.433


culado da seguinte forma: i 100 = 100
10.433
Valor no período atual
i 100 Constatamos, então, que um índice sempre é igual a 100 no ano-
Valor no período-base base.
Vamos, agora, calcular o valor do índice em outro ano. Se em
Vamos ver como são os números índice com um exemplo sim- 2004 chegaram 14.534 imigrantes, o índice para esse ano teria o
ples. Suponha que queiramos calcular como tem evoluído o nú- valor de:
mero de imigrantes que chegam a determinada localidade. Para
isso, poderíamos construir um índice. O primeiro passo consiste 14.534
em escolher um período-base, ou seja, um período que vamos uti- i 100 = 139, 3
lizar como referência. Vamos escolher o ano de 2000 como perío- 10.433
do-base e supor que nesse ano chegaram 10.433 imigrantes a essa Os índices simplificam a informação para que possamos ver
localidade. O índice de chegadas de imigrantes em qualquer ano se como as coisas estão mudando em uma passada de olhos. O índice
calcularia assim: de chegadas de imigrantes a determinada localidade, por exemplo,
nos diz que o número de chegadas em 2004 foi 139,9% do número
Número de chegadas de imigrantes no ano
i 100 de chegadas de 2000. Ou, de forma mais simples, que as entradas
10.433 de imigrantes entre 2000 e 2004 cresceram 39,9%.

Diante do apontado, concluímos que o IPC, e em termos B) IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
gerais um índice de preços, pode ser interpretado de duas Ampliado) – IBGE
formas: como uma média dos preços atuais dos bens e ser-
viços, calculados em termos relativos com respeito ao ano- Também calculado pelo IBGE, esse índice tem por base
base e ponderados mediante coeficientes que indicam a pro- uma cesta de itens representativos do consumo de famí-
porção do gasto efetuado em cada bem, ou como o custo de lias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos, nas regiões
comprar no ano atual um conjunto de bens que, adquiridos metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo
no ano-base, representavam um gasto de 100. Levando em Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador
conta que um índice de preços não pode compreender todos e Curitiba, além do Distrito Federal e do município de
os bens existentes em uma economia, devemos escolher um Goiânia. O período de coleta vai do primeiro ao último
conjunto que se considere representativo do total. dia do mês de referência e a divulgação ocorre próxima

No Brasil
 ao dia 15 do mês posterior. O IPCA ganhou destaque pelo
fato de ter sido, a partir de junho de 1999, selecionado
No Brasil, existem vários índices de preços, dos quais po- para ser o índice oficial de acompanhamento da inflação
demos destacar os seguintes: do País, dentro do Sistema de Metas de Inflação.

A) INPC (Índice Nacional de Preços ao C) IGP-DI (Índice Geral de Preços –


Consumidor Restrito) – IBGE Disponibilidade Interna) – FGV
Esse índice tem por finalidade tornar-se o indexador ofi- Medido pela Fundação Getulio Vargas, esse índice é cal-
cial de salários. Calculado pelo Instituto Brasileiro de culado em dois conceitos: oferta global e disponibilidade
Geografia e Estatística (IBGE), tem por universo de pes- interna. No conceito oferta global, consideram-se a pro-
quisa pessoas que ganham de 1 a 8 salários mínimos nas dução interna e as importações; já no conceito disponibili-
regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, dade interna, excluem-se as exportações da oferta global.
Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Refere-se ao mês “cheio”, ou seja, o período de coleta vai
Salvador e Curitiba, além do Distrito Federal e do mu- do primeiro ao último dia do mês de referência e a divul-
nicípio de Goiânia. O período de coleta vai do primeiro gação ocorre próxima ao dia 20 do mês posterior. O IGP-
ao último dia do mês de referência e a divulgação ocorre DI foi criado com o objetivo de balizar o comportamento
próxima ao dia 15 do mês seguinte. de preços em geral na economia. É composto por:
272 - CAPÍTULO 13 - A MEDIÇÃO DO PIB: DO PIB À RENDA DISPONÍVEL

• Índice de Preços por Atacado (IPA) – no qual entram O Quadro 13.5 mostra o IPC de vários anos e a taxa de
preços praticados do mercado atacadista (matérias-pri- inflação medida sobre esse índice. Para calcular, a partir do
mas, bens intermediários para a indústria, comércio e IPC, a taxa de inflação entre dois anos determinados, isto é,
agricultura). A pesquisa desse índice é realizada em to- a taxa de crescimento dos preços, calculamos a variação per-
das as capitais brasileiras. Representa 60% do IGP-DI. centual experimentada por esse índice nesse período. Assim,
a taxa de inflação em 2003 é calculada da seguinte forma:
• Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – a coleta
de dados ocorre nas cidades de São Paulo e Rio de
Inflação IPC2004 − IPC2003 149, 6 − 145, 2
Janeiro entre as famílias que têm uma renda de 1 a = i 100 = i 100 = 3, 0
em 2004 IPC2003 145, 2
33 salários mínimos. Representa 30% do IGP-DI.
• Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) – Por O IPC é adequado para conhecer a evolução dos pre-
intermédio desse índice, são avaliados os preços no ços dos bens e serviços que geralmente os consumidores
setor de construção civil, não só de materiais, como adquirem. Reflete, de forma apropriada, como a vida tem
também de mão-de-obra. Representa 10% do IGP-DI. se tornado mais cara, pois indica a quantidade de dinheiro
que é necessária para manter o mesmo padrão de vida.
D) IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado)
– FGV A inflação, medida pelo IPC, é a taxa de variação percentual que
esse índice experimenta no período considerado.
Calculado pela Fundação Getulio Vargas, o IGP-M utiliza
a mesma metodologia do IGP-DI, sendo composto pelo
IPA-M, IPC-M, INCC-M, com os mesmos pesos que o Quadro 13.5 - Índice de Preços de Consumo (IPC) e a inflação de
IGP-DI. Muda apenas o período de coleta de dados, que 1999-2004 – Espanha
é efetuada entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês IPC Taxa de Inflação
de referência. O IGP-M foi criado com o objetivo de se
1999 126,7 2,3
ter um indicador confiável para as operações financeiras,
2000 131,9 4,1
particularmente as de longo prazo.
2001 135,5 2,7
E) IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor 2002 141,0 4,0
da Fipe) 2003 145,2 2,9
2004 149,6 3,0
O Índice de Preços ao Consumidor, calculado pela Fipe
– instituição de pesquisa ligada à Faculdade de Economia
e Administração da Universidade de São Paulo, é medido 13.4.3 Outra forma de medir o nível geral de
na cidade de São Paulo e abrange famílias que ganham
de 1 a 20 salários mínimos. A composição dos grupos de
preços: o deflator do Produto Interno Bruto (PIB)
despesa para o cálculo do índice é a seguinte: Habitação Quando, no Capítulo 12, estudamos a diferença entre o
(32,7925), Alimentação (22,7305), Transportes (16,0309), Produto Interno Bruto (PIB) nominal e o PIB real, foi
Despesas Pessoais (12,2985), Saúde (7,0756), Vestuário introduzido o conceito de deflator do PIB. Enquanto o
(5,2893), Educação (3,7827). Como podemos observar, PIB nominal é calculado agregando os valores dos bens
o maior peso do índice é atribuído às despesas do grupo de acordo com os preços de cada ano, o PIB real é ob-
Habitação. O período de coleta vai do primeiro ao último tido valorizando os bens conforme os preços de um ano
dia de cada mês. Um dos motivos da aceitação desse ín- tomado como base. Portanto, as diferenças que podemos
dice é que semanalmente ocorrem divulgações prévias, observar entre o PIB nominal e o PIB real se devem às
chamadas quadrissemanais. O IPC mensal diz respeito ao variações dos preços entre o ano-base e o ano corrente. O
resultado apurado para a quarta quadrissemana do mês- quociente entre essas duas magnitudes é uma medida de
calendário de referência. nível geral de preços, conhecida como deflator do PIB:

PIB nominal (ano t )
13.4.2 O IPC e a inflação Deflator do PIB (ano t ) = i 100
PIB real (ano t))
Tal como vimos na Seção 12.1, uma forma normal de me-
dir a inflação é pelo IPC. O deflator do PIB é um índice de preços que toma o
valor 100 no ano-base, e será tão mais elevado no ano t
O IPC representa o custo de um conjunto de bens e serviços quanto maior tenha sido o incremento de preços do ano 0
consumido por uma unidade familiar representativa (ou média). (ano-base) para o ano t.
ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 273

Nota Complementar 13.2 - O deflator do PIB e o IPC


A medição de qualquer variável econômica é o resultado do produ- determinadas rendas como os salários, pensões, aluguéis etc., com
to das unidades físicas e de seu respectivo preço. Os deflatores ou a finalidade de preservar seu poder aquisitivo.
índices de preços permitem diferenciar algo tão importante como o
O deflator do PIB cobre um espectro muito mais amplo ao in-
componente real e o de preços nos valores nominais.
cluir todos os componentes que o integram em cada uma das óticas
O índice de preços ao consumo (IPC) é uma das estatísticas mais de cálculo. O deflator leva em conta, explicitamente, a evolução
populares e que a maior parte do público segue. Cada aumento dos preços de consumo das famílias e do setor público aos preços
equivale a um corte de igual magnitude do poder de compra da uni- no conjunto da economia, sendo, portanto, o que mais fatores in-
dade monetária. O IPC é de uso relativamente comum para indexar corpora e cuja análise mais informação traz.

O deflator do PIB é um índice de preços obtido dividindo-se para do para “deflacionar” o produto nacional, ou seja, para
cada ano o PIB nominal pelo PIB real. separar o efeito dos preços e obter um conjunto de valores
que permitam conhecer a evolução real do produto nacional.
No Quadro 13.6, na coluna (2), observamos o PIB da Assim, dividindo os valores da coluna (2) pelos da coluna
economia espanhola em euros correntes, isto é, em euros (3) e multiplicando por 100, obteremos o produto nacional
de cada ano. A coluna (3) contém um índice de preços, em
em termos reais ou em euros constantes, coluna (1).
particular o denominado “deflator” do PIB, pois é utiliza-
No Brasil

Apresentamos, a seguir, o PIB brasileiro nominal (a pre-
Quadro 13.6 - O PIB espanhol a preços constantes e a preços ços correntes) para o período 1990–2000. Apresentamos,
correntes: o deflator do PIB – Espanha também, o PIB real (a preços correntes de 1990) para o
PIB real PIB nominal PIB mesmo período. Exemplificando, para calcularmos o PIB
Preços constan- Preços correntes Deflator Inflação de 2000 a preços de 1990, dividimos o valor da coluna (1)
tes (1) (2) (3) (4)
pelo valor da coluna (2) e multiplicamos por 100:
2000 528.825.000 609.735.000 115,3 3,5
2001 543.954.000 653.289.000 120,1 4,1 PIB2000 a preços de 2000
PIB2000 a preços de 1990 = i 100
2002 554.747.000 696.208.000 125,5 4,2 Índice de Preços de 2000
2003 568.513.000 743.046.000 130,7 4,5 1.086.699.881
PIB2000 a preços de 1990 = i 100
2004 583.294.000 789.858.000 135,4 3,6 7.222.518

2005 600.209.000 839.619.000 139,9 3,3 PIB2000 a preços de 1990 = 15.046

.
Brasil – Produto Nacional Bruto
PIB Nominal Índice de Preços PIB Real
(a preços correntes)
Ano Índice-base Taxa de Inflação (a preços constantes
(R$ 1.000) 1990 = 100 % de 1990)
(1) (2) (3) (4) = (1)/(2)*100
1990 11.549 100 2.596 11.549
1991 60.286 516 416 11.683
1992 640.959 5.516 969 11.620
1993 14.097.114 115.626 1.996 12.192
1994 349.204.679 2.705.964 2.240 12.905
1995 646.191.517 4.804.405 77,55 13.450
1996 778.886.727 5.640.837 17,41 13.808
1997 870.743.034 6.106.206 8,25 14.259
1998 913.735.044 6.393.808 4,71 14.291
1999 960.857.736 6.670.660 4,33 14.404
2000 1.086.699.881 7.222.518 8,30 15.046
Fonte: IBGE e FGV.

274 - CAPÍTULO 13 - A MEDIÇÃO DO PIB: DO PIB À RENDA DISPONÍVEL

O PIB nominal (Py) representa o valor monetário to- No Brasil



tal dos bens e serviços finais produzidos em um ano de-
O deflator do PIB também é um índice de preços. Trata-se
terminado, com os preços de mercado de cada ano. Para
da razão do PIB nominal em dado ano em relação ao PIB
eliminar as variações dos preços se calcula o PIB em pre-
real. Ele se diferencia dos demais índices de preços ao con-
ços constantes ou PIB real (y), dividindo o PIB nominal
sumidor, principalmente pelas seguintes razões:
pelo “deflator” do PIB:3
a) Leva em conta os preços de todos os produtos produ-
zidos internamente, ao passo que os índices de pre-
PIB nominal Py
PIB real = = =y ços ao consumidor refletem tão-somente o custo de
deflator do PIB P aquisição de uma cesta típica de bens e serviços de
consumo.
Assim, o deflator do PIB de 2005 calcula-se como
b) Ao considerar os preços de todos os bens e servi-
se segue:
ços produzidos internamente, o deflator apresenta
diferença substancial em relação aos demais índices
Deflator = PIB nominal2005 i 100 839.619 i 100 = 139, 9 de preços ao consumidor, pois estes incorporam os
do PIB2005 PIB real2004 600.209
preços dos bens e serviços importados. Assim, se o
preço de um bem importado aumentar, e esse bem
O deflator do PIB é o índice mais apropriado para in- fizer parte da cesta típica de bens, o aumento apare-
dicar a evolução de todos os preços dos bens e serviços cerá nos índices de preços ao consumidor, mas não
da economia. no deflator do PIB.
O Quadro 13.6 exibe a taxa de inflação para os anos c) O deflator permite o efeito-substituição, pois as
2000–2005. A partir do deflator do PIB, a taxa de inflação pessoas tendem a consumir menos dos bens que su-
se calcula como a variação percentual anual. biram muito de preço e mais dos bens que subiram
menos ou, ainda, os consumidores podem passar a
Taxa de
inflação = Deflator2005 − Deflator2004 i 100 =
consumir produtos não integrantes da cesta quando
Deflator2004 esta foi composta. Dessa forma, ele admite a mudança
2005
anual da cesta de produtos, o que nos demais índices
139, 9 − 135, 4 só é feito após longos períodos de tempo.
= i 100 = 3, 3 
135, 4

O deflator do PIB utiliza como ponderações do índi-


13.5 Do PIB à renda disponível
ce de preços a participação dos diferentes bens no valor Uma vez apresentado o valor do PIB, de acordo com os
da produção do ano corrente. O IPC, no entanto, utiliza diferentes enfoques, vamos aprofundar a idéia de que a
como ponderações a participação dos diferentes bens no produção total de uma economia é igual às vendas e va-
orçamento da unidade familiar representativa correspon- mos deduzir o conceito de renda nacional.
dente ao ano-base. Ainda assim, o IPC e o deflator se dife-
renciam porque o deflator inclui todos os bens produzidos
13.5.1 O Produto Interno Bruto e o Produto Nacional
enquanto o IPC mede o custo dos bens consumidos, ou
seja, os incluídos na “cesta básica” da economia domés- Utilizando as relações anteriores, vamos expressar o valor
tica representativa. da renda nacional como a soma das remunerações a todos
os fatores de produção. Previamente, vamos apresentar os
conceitos de produto interno bruto e produto nacional.

O produto “interno” representa o valor dos bens produzidos em


3 Um deflator é um índice de preços com o qual se converte uma quanti- um país.
dade “nominal” em outra “real”, ou seja, a magnitude nominal se “de-
flaciona” separando a variação em razão do crescimento dos preços da O produto “nacional” mede o valor da produção obtida pelos
variação atribuída ao aumento dos fatores reais. Dado que o PIB é uma
fatores nacionais situados no país ou no exterior.
magnitude básica da atividade econômica, seu deflator é o índice de pre-
ços de maior cobertura, e o que mais se aproxima ao conceito de índice
geral de preços.
DICA DO PROFESSOR

O fracasso das políticas ortodoxas adotadas na primeira metade da década de 1980 levou o
primeiro presidente da Nova República, José Sarney, a alterar as estratégias de combate à
inflação, o principal obstáculo ao crescimento econômico dos anos 80. Baseado no diagnóstico
de inflação inercial, as políticas passaram a ser heterodoxas, sendo a primeira delas a
implementação do Plano Cruzado e o congelamento temporário de preços, de salários e de
rendimentos. Acompanhe, no vídeo a seguir, uma breve abordagem sobre esse período.

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EXERCÍCIOS

1) Com relação às diferentes formas de cálculo do PIB, assinale a alternativa correta.

A) O Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes não considera a inflação do período.
Desse modo, é importante quando se pretende avaliar o crescimento da economia em
termos reais, o quanto cresceu em termos de produção, e não financeiramente.

B) O PIB nominal é quando se avalia o PIB a preços constantes, ou seja, utilizando um ano
base fixo ao longo do período calculado.

C) Quando se pretende considerar o efeito das variações dos preços no resultado do PIB,
utilizam-se preços constantes na base do cálculo.

D) O PIB a preços constantes utiliza um deflator do PIB para chegar ao resultado,


desconsiderando os efeitos das variações dos preços no desempenho do PIB.

E) O PIB real multiplica a produção do período pelos preços dos bens e serviços no mesmo
período.

2)
Considerando os índices de inflação, marque a alternativa correta.

A) Os índices de inflação são usados para medir a variação do PIB e o seu impacto no bem-
estar da população.

B) Cada índice de preços representa um mesmo conjunto de bens e serviços de uma


economia, cuja variação dos preços é acompanhada mensalmente por órgãos oficiais do
governo, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fundação
Getulio Vargas (FGV).

C) No Brasil, a meta para a inflação foi definida em termos da variação do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor (INPC), que é calculado pelo IBGE.

D) Os índices de preços consideram gastos com alimentação e bebidas, artigos de residência,


comunicação, despesas pessoais, educação, habitação, transportes, saúde e cuidados
pessoais.

E) A escolha do índice de preços ao consumidor é frequente na maioria dos regimes de metas


para a inflação, pois é a medida mais adequada para avaliar a evolução do poder aquisitivo
da população.

3) Se o PIB nominal de uma economia no período X for de R$ 200.000.000.000,00, de


quanto é o PIB real?

A) R$ 173.913.043.478,26 se o deflator for 100.

B) R$ 173.913.043.478,26 se o deflator for 115.

C) R$ 1.739.130.434,78 se o deflator for 115.

D) R$ 1.739.130.434,78 se o deflator for 100.


E) R$ 23.000.000.000,00 se o deflator for 115.

4) Com relação ao estudo da inflação, marque a opção correta.

A) Em uma economia que apresenta inflação elevada, o PIB real e o nominal apresentam o
mesmo nível de desempenho.

B) A taxa de inflação do ano X é a diferença entre o índice de preços Y no ano X e no ano X-


1, dividida pelo índice de preços Y no ano X-1, multiplicado por 100.

C) Os grupos de bens e serviços que compõem um índice de preços possuem o mesmo peso,
pois todos apresentam a mesma importância nos gastos das famílias em geral.

D) Os índices de preços sempre apresentam um ano base que serve de ponto de referência
para os demais períodos.

E) Sempre há inflação de um ano para o outro.

5) Considere a tabela que apresenta o nível de preços por grupo de bens e serviços em
uma economia hipotética e os respectivos pesos médios nos gastos das famílias e
escolha a opção correta.
A) Se o ano base for 2012, o índice de preços no ano 2014 é de 102,6.

B) Se o ano base for 2012, o índice de preços de 2014 é de 122,4.

C) A taxa de inflação de 2014 é 22,4%.

D) Sendo 2012 o ano base, a variação de preços de 2012 a 2014 foi de R$ 22,4.

E) Sendo 2012 o ano base, a variação de preços de 2012 a 2013 foi de R$ 19,7.

NA PRÁTICA

A partir de 1986, a Nova República do Brasil implementou o Plano Cruzado, na esperança de


que políticas baseadas em choques heterodoxos seriam a solução para a instabilidade
inflacionária da época. Apesar do efeito imediato sobre a inflação, a durabilidade dessa
conquista foi curta. A partir de 1987, o nível de preços voltou a acelerar em um ritmo ainda
maior do que na primeira metade da década de 1980.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Plano Cruzado

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Memória e Contexto: Plano Cruzado

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Plano Cruzado: Crônica de uma Experiência

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