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Belo Horizonte
2015
Fagner Alexandrino da Silva
Belo Horizonte
2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................4
2 A SELFIE NO ÂMBITO DA SOCIEDADE DO ENTRETENIMENTO..........................................5
2.1 O termo “cultura”.........................................................................................................................5
2.2 A civilização do espetáculo..........................................................................................................7
2.3 Conceito e história da “selfie”.....................................................................................................8
2.4 Descrição de cases.......................................................................................................................9
2.5 O significado da “selfie” na sociedade atual..............................................................................10
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................12
4 REFERÊNCIAS................................................................................................................................13
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1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem por objetivo compreender o fenômeno das “selfies” e seu
significado em meio a uma sociedade que se encontra em uma vertiginosa decadência cultural
e que cede cada vez mais espaço para uma existência superficial na qual é mais importante
Visando aumentar a compreensão de tal fenômeno, serão apresentados dois cases que
envolvem a produção de selfies e que chamaram a atenção da mídia global. O primeiro refere-
se ao autorretrato feito pelo presidente americano, Barack Obama, junto ao primeiro ministro
selfie produzida pela apresentadora americana Ellen Degeneres durante a festa do Oscar de
2014. Notar-se-á que ambas as fotografias refletem, na realidade, uma sociedade que busca de
forma desenfreada o entretenimento, por vezes, em detrimento da cultura, sendo que esta será
Além dos cases que foram brevemente apresentados, serão abordados o significado do
termo “cultura”, sua evolução histórica e seu significado na sociedade atual. Tal sociedade
também será analisada no que tange a sua relação atual com o mundo das artes. Ademais, será
apresentada a evolução histórica dos autorretratos até os dias atuais e o que estes significam
Em síntese será demonstrado que as selfies são o símbolo de uma sociedade que
supervaloriza o entretenimento em detrimento da busca pelo conhecimento, e que, portanto,
não passam de meras representações efêmeras da realidade desprovidas de valor.
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Llosa (2013) inicia sua obra apresentando o vocábulo sob a perspectiva de outros
grandes pensadores que igualmente refletiram acerca do significado da palavra “cultura”, tais
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como: T.S. Eliot, George Steiner e Guy Dubord. Conforme Eliot, a “alta cultura”, ou seja,
aquela voltada para o mundo das artes e o cultivo da sensibilidade para sua devida apreciação,
é algo que está em um vertiginoso processo de decadência. Essa cultura, que segundo Eliot, é
patrimônio de uma elite que possui um importante papel no que tange sua preservação, já
estaria desaparecendo em sua época devido aos limites presentes entre as classes sociais que
paulatinamente foram se deteriorando. Eliot considera que a massificação da cultura,
evidenciada no discurso de que a educação deve ser universalizada, acaba empobrecendo-a
visto que a torna cada vez mais superficial (LLOSA, 2013, p.13). Segundo Llosa, a cultura à
qual se referia Eliot está morrendo em nossos dias:
A cultura “livresca” a que Eliot se referia exclusivamente em seu livro vai perdendo
vitalidade e existindo cada vez mais à margem da cultura de hoje, que rompeu quase
totalmente com as humanidades clássicas – hebraica, grega e latina -, limitadas
agora a alguns especialistas quase sempre inacessíveis em seus jargões herméticos e
sua erudição asfixiante, quando não em teorias delirantes. (LLOSA,2013,p.19)
Outro pensador citado por Llosa foi Steiner. Steiner associa o termo cultura à
religião. Todavia, o crítico literário não vincula a cultura à religião devido ao fato de ter sido
esta durante séculos a guardião do “conhecimento” e, portanto, aquela que soube desenvolver
a “disciplina” para lidar com ele. Steiner se refere ao fato de a cultura possibilitar, assim como
a religião, a transcendência do ser humano mesmo no seio de um povo tão sanguinário, basta
olhar para o passado, assim como o foi o povo europeu. (Llosa, 2013, p.15-17).
O capitalismo, na visão de Dubord, não foi benéfico para o mundo da cultura, pois
até mesmo as experiências de contato com esse mundo, tornaram-se de certo modo apenas
mais um “objeto” ou “mercadoria”. As escolhas dos indivíduos passaram a ser pautadas nos
modismos determinados pelo capitalismo e nesse contexto, as experiências de caráter cultural
passaram a ser banalizadas. Sendo assim, a vivência foi substituída pela representação e a
vida tornou-se um “espetáculo” que o consumidor cria e do qual se alimenta de ilusões (Llosa,
2013, p.22).
Vivemos em uma sociedade que valoriza acima de tudo o entretenimento como meio
de escapar do tédio e como consequência o esforço intelectual que propicia o enriquecimento
cultural foi gradativamente sendo deixado de lado pela maioria das pessoas. Por esse motivo,
os intelectuais perderam o lugar de destaque que possuíam. (LLOSA, 2013, p.29-31)
Hoje vivemos a primazia das imagens sobre as ideias. Por isso os meios
audiovisuais, cinema, televisão e agora a internet, foram deixando os livros para trás,
que, a se confirmarem as previsões pessimistas de George Steiner, dentro de não
muito tempo estarão mortos e enterrados. (LLOSA, 2013, p.41)
Nota-se que a imagem ganhou grande importância na sociedade atual e que o mundo
da cultura, na acepção de Llosa, tem sido cada vez mais abandonado e dado lugar a
experiências desprovidas de sentido. Um reflexo disso é o chamado fenômeno das “selfies”.
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No ano de 2013, a palavra “selfie” entrou para o dicionário Oxford, um dos mais
conhecidos no mundo e, além disso, foi nomeada como “palavra do ano”. Isso se deve ao fato
de que seu uso na língua inglesa teve um aumento de 17.000% (BBC, 19/11/2013). Além
disso, não se pode negar que os falantes da língua de Shakespeare têm grande facilidade em
criar novas palavras quando são confrontados com novas situações no âmbito social, político
ou tecnológico se comparados com falantes de outras línguas.
O termo “selfie” nada mais é do que uma fotografia informal, mais precisamente um
autorretrato feito por meio de um celular ou webcam e que é imediatamente compartilhado
nas redes sociais. O fenômeno ganhou proporções que nunca tinham sido imaginadas nas
redes sociais e muitos foram os que tentaram explicá-lo do ponto de vista sociológico ou
psicológico dado que o autorretrato já existia há muito tempo em nosso meio.
Outro grande fotógrafo que recorreu aos autorretratos para divulgar sua arte foi
Robert Mapplethorne. Mapplethorne foi muito perseguido nos Estados Unidos devido ao seu
envolvimento com a subcultura gay sadomasoquista de Nova Iorque e sua produção
fotográfica retrata aspectos de seu sexo e sexualidade em suas obras. Na capa de seu livro
“Certain People: a book of portraits”, o autor apresenta dois autorretratos que revelam suas
identidades masculina e feminina. (SOARES, 2014, p.184-185).
Outro trabalho fotográfico interessante foi o da fotógrafa Cindy Sherman que fez
autorretratos não no intuito de retratar à si mesma, mas sim os diversos estereótipos da mulher
no âmbito da sociedade e da cultura americana. Sherman fazia fotos de si mesma, porém
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Nota-se que as “selfies” apresentadas até o momento são providas de sentido e visam
promover a reflexão dos indivíduos acerca de algum aspecto cultural, social ou político.
Contudo, o acesso à dispositivos fotográficos à grande parte da sociedade deu à praticamente
quase todos a possibilidade de realizar autorretratos que em sua maioria são uma mera
idealização da realidade e são consumidos de maneira irracional por um público que deixa-se
afogar em um mar de imagens que dá vazão ao desejo natural dos seres humanos de buscarem
aquilo que é mais “divertido”.
No ano de 2013, uma selfie que gerou muita polêmica na Casa Branca foi a do
presidente Barack Obama, no funeral de Nelson Mandela, junto à dinamarquesa Helle
Thorning-Schmidt e também com o primeiro-ministro britânico David Cameron. Segundo a
revista americana de economia Forbes, o funeral de Mandela estava previsto para se tornar um
local de espetacularização da mídia geopolítica. (FORBES, 30/12/2013). Houve muitas
críticas quanto à adequação de tal comportamento em um evento solene, além disso, houve
especulações quanto aos aspectos políticos de tal decisão, sem falar no aspecto privado da
vida amorosa do presidente americano. Percebe-se que os sujeitos presentes na foto, por
alguns momentos, deixaram de viver o momento fúnebre no qual se encontravam para buscar
o entretenimento, que por sua vez, tornou-se também uma diversão para a sociedade ocidental
dado que a fotografia ganhou um destaque bem maior do que a própria morte de um dos
líderes políticos mais importantes da história mundial.
apresentadoras mais célebres dos Estados Unidos, Ellen Degeneres, tirou uma foto de si
mesma com diversas estrelas de cinema, dentre elas: Brad Pitt, Angelina Jolie e Bradly
Cooper. Segundo Maurice Levy, diretor da empresa Publicis, a fotografia poderia ter seu
valor estimado em 2,2 bilhões de reais. Esse valor tão absurdo decorre do fato de ela ter sido
maciçamente compartilhadas em redes sociais e ter ganhado milhares de paródias. (FOLHA
DE SÃO PAULO, 08/04/2014).
Como o fenômeno da “selfie” poderia ser explicado em meio aos demais indivíduos
que não são celebridades, políticos ou figuras de renome nacional ou internacional? A
jornalista, mestre em Comunicação e Artes, Doutora em Psicologia Social pela PUC de São
Paulo, Simonetta Persichetti, em seu artigo “Dos elfos aos selfies”, afirma que existe em torno
do retrato e do autorretrato um caráter ficcional que permite às pessoas a construção de
diversos personagens com base em si mesma. Este seria um modo de escapar de sua
“existência original”. (PERSICHETTI, 2013, p.160). A jornalista afirma que:
de uma vida “entediante” e ocupar todo o seu tempo ou grande parte dele na busca pelo
entretenimento. A diversão passa a ser o valor supremo (LLOSA, 2013, p.29). Sendo assim, a
“selfie” e o que nela é retratado não passam de experiências vazias de significado. O escritor
relata que a visita a pontos turísticos na atualidade, pontos estes que já foram considerados
verdadeiras fontes do saber, não passa de uma distração na atualidade:
[...] essas visitas de multidões a grandes museus e monumentos históricos clássicos não representam
um interesse genuíno pela “alta cultura” (assim a chamam), mas mero esnobismo, visto que a visita a
tais lugares faz parte da obrigação do perfeito turista pós-moderno. Em vez de despertar seu interesse
pelo passado e pela arte clássica, exonera-o de estuda-los e conhecê-los com um mínimo de
competência. Um simples relance basta para lhe dar boa consciência cultural. (LLOSA, 2013, p.25).
O uso de tal objeto, que se tornou indispensável para milhares de pessoas, traduz a sua
preocupação exacerbada em retratar o momento ao invés de vivenciá-lo de forma plena.
Segundo o filósofo Rafael Barbosa, mestre em filosofia pela FAJE (Faculdade Jesuíta), a
imagem de si mesmo “precisa ser perfeita, pouco importa a maneira como ela foi feita,
tampouco as circunstâncias da construção dela” (BARBOSA, 2015). Ainda segundo Barbosa,
há na sociedade atual uma supervalorização do “eu” que se tornou a instituição máxima.
Segundo o filósofo, a cultura do selfie nada mais faz que gerar sintomas. Portanto, o “pau de
selfie” nada mais seria do que “a busca pela melhor imagem de nós mesmos” (BARBOSA,
2015).
vazias de significado na medida em que tais circunstâncias passam a ser ignoradas no âmbito
de uma “cultura que transforma tudo em imagem de si mesmo” (BARBOSA, 2015).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade atual passa por um momento de perda de valores, que por sua vez já não
são mais comuns, visto que vivenciamos o individualismo. Um dos valores perdidos foi a
cultura, compreendida nesta pesquisa como o cultivo da sensibilização para apreciação das
artes, e que gradualmente vai sendo desvirtuada pela busca pelo entretenimento.
REFERÊNCIAS
FOLHA DE SÃO PAULO. 'Selfie' do Oscar vale R$ 2,2 bilhões, diz especialista em marketing In: <
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0606200008.htm#_=_>. Acesso em 01 nov.2015.
FORBES. “What Obama's Mandela Funeral Selfie Tells Us About The Web In 2014”. In: <
http://www.bbc.com/news/uk-24992393>. Acesso em 28 out.2015.
Radio France Internationale. Palácio de Versalhes já proíbe “pau de selfie”. In: <
http://www.brasil.rfi.fr/cultura/20150309-palacio-de-versalhes-ja-proibe-pau-de-selfie >. Acesso em
28 out.2015.