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LUIZ, Gabriel Amaro. Fichamento do texto de BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico.

O ato de projetar envolve variadas metodologias, teorias, manuais de


procedimentos e técnicas, acumuladas ao longo da história humana. As metodologias
existentes não são procedimentos universais para a projetação. Entretanto, o arquiteto
possui a responsabilidade de não ignorar os conhecimentos da história da arquitetura.

É importante ressaltar que projetar um edifício é, na essência, o ato de


criação que nasce na mente do projetista. É fruto da imaginação criadora,
da sensibilidade do autor, de sua percepção e intuição próprias. É resultado
do trabalho do pensamento. Sendo assim, constitui-se em algo de difícil
controle, interferência e ordenamento. (NEVES apud BISELLI, 2011)1.

Projetação, segundo o autor é “(...) o termo que define a produção do projeto de


arquitetura como um processo” (BISELLI, 2011). Este processo é sinuoso e escapa a
qualquer metodologia, mesmo no Renascimento, por exemplo, onde as ordens clássicas
eram tidas como tratado, refletindo o que chamamos de zeitgeist. Biselli cita que o
diferencial entre os projetos, o ponto crítico, que foge das regras, é o partido arquitetônico
(BISELLI, 2011).

A projetação envolve lógica, pois o projeto é uma resposta do arquiteto frente às


condicionantes e premissas. Entretanto, a subjetividade é o fator que torna o ato de projetar
mais rico, porque é através dela que os projetistas podem responder de forma diversa,
frente ao mesmo problema. Se não houvesse subjetividade o ato de projetar envolveria
resultados padronizados, e talvez, desempenhado por máquinas.

O arquiteto trabalha com subjetividade, o partido é uma resposta perante uma


problemática, e esta resposta em algumas situações necessita sobrepor a função para
tornar o projeto mais notável, como comenta Biselli:

(..) mesmo em situações onde a configuração funcional é um dado, uma


condicionante ou determinante, fato comum quando em projetos para
estádios, ginásios esportivos, teatros e em alguns casos, aeroportos. Via de
regra configurações funcionais rígidas por tradição ou quando o próprio
cliente é a autoridade no que tange às funções, muito comum no ramo das
indústrias. Em todos esses casos, a despeito dos limites, o arquiteto
encontrará espaço para introduzir uma ideia, ora migrando da forma para a
matéria. (BISELLI, 2011).

Partido é a ideia principal do projeto, pode ser compreendido como estratégias de


projeto, e é possível advir do sistema estrutural, de circulações (promenade), átrios centrais,
percursos, entre outros. “Denomina-se Partido Arquitetônico a idéia preliminar do edifício
projetado” (NEVES apud BISELLI, 2011)2. Bicelli acrescenta que:

1
NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador, Edufba, 1998, p. 15.
2
NEVES, Laert Pedreira. Adoção do partido na arquitetura. Salvador, Edufba, 1998, p. 15.

1
LUIZ, Gabriel Amaro. Fichamento do texto de BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico.

(...) o partido arquitetônico é compreendido como a ideia que subjaz ao


projeto, aquela identificada como idéia principal ou central, quando o projeto
já se apresenta concluído, não importando quando esta idéia surgiu. É a
idéia que o projeto é capaz de veicular ou expressar, o conteúdo intelectual
de um edifício ou projeto enquanto manifestação, mediada por uma
linguagem. É da avaliação destas ideias que se ocupam as comissões
julgadoras em concursos, professores em avaliação etc. (BISELLI, 2011).

Desta forma, o partido pode nascer no início do projeto ou durante o processo,


após análises e digestão de informações, sem uma ordem padronizada.

Biselli cita que na linguagem, os indivíduos não podem mudar palavras para
exprimir algo, pois foge do contrato social e não consegue comunicar-se com os outros
indivíduos. Já a arquitetura difere-se pois “o arquiteto (...) pode e faz modificações no
sistema, que é inventado a partir de um sistema de convenções” (AGREST;
GANDELSONAS apud BISELLI, 2011)3, e acrescenta que “(...) com poucas exceções, não
existe um contrato social para o significado da arquitetura, e esta é uma diferença
fundamental entre a arquitetura e a linguagem” (BROADBENT apud BISELLI, 2011)4.
Devido a isso não há uma definição universal sobre arquitetura e partido, por não haver um
consenso.

Portanto, o ato de projetar é, acima de tudo, um processo criativo, sem


padronização mecânica, embora possua âmbitos técnicos-normativos.

Bibliografia
BISELLI, Mario. Teoria e prática do partido arquitetônico. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n.
134.00, Vitruvius, jul. 2011. Disponível em:
https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.134/3974. Acesso em: 07 set. 2021.

3
AGREST, Diana; GANDELSONAS, Mario. Semiótica e arquitetura: consumo ideológico ou trabalho
teórico. In NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 137-138.
4
BROADBENT, Geoffrey. Um guia pessoal descomplicado da teoria dos signos na arquitetura. In
NESBIT, Kate (org.). Op. cit., p. 153.

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