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Política do messianismo: algumas reflexões

sobre Agamben e Derrida


Miroslav Milovic1

Resumo: O direito, afirma Agamben, não tem nada a ver com a justiça,
nem com a verdade. O que interessa ao direito são o procedimento e a
conclusão jurídica que não necessariamente inclui as questões sobre jus-
tiça e sobre verdade. O direito, como nos lembra Foucault, fica ligado a
um específico poder soberano tradicional e não chega até às novas
estruturas do poder articuladas no contexto da discussão sobre a biopo-
lítica. A dúvida que Agamben tem sobre Foucault parece simples. Por
que Foucault, mesmo falando sobre a biopolítica, não chega até às con-
seqüências dramáticas da Modernidade, até a experiência dos campos
de concentração, por exemplo? O artigo inclui os argumentos críticos de
Jacques Derrida sobre a possibilidade de conexão entre direito e justiça.
Palavras-chave: Biopolitica – direito – filosofia.

I. “No primeiro volume da “História da sexualidade”, intitulado “A


vontade de saber”, Foucault diz: “o homem, durante milênios, permane-
ceu o que era para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de
existência política; o homem moderno é um animal, em cuja política,
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sua vida de ser vivo está em questão.” Foucault se refere ao início da
“Política” de Aristóteles e a discussão sobre a natureza. Natureza de uma
coisa é o seu estágio final, pensa Aristóteles3. Assim se articula a dife-
rença entre o fato de ser vivo e as condições da deliberação política,
entre zoê e bios, entre biologia e política. O que importa para Aristóteles
não é o fato de ser vivo, mas as conduções da superação deste particula-

1 Professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília.


2 FOUCAULT, História da sexualidade, p. 156.
3 ARISTÓTELES, Politica, 1253a.
104 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 105

rismo e da realização do bem comum. O geral tem “precedência por talvez, até a justiça e a verdade é o que caracteriza o direito. Por isso
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natureza sobre o indivíduo” . O geral tem a precedência ontológica uma abertura filosófica pode talvez superar os limites do direito. É isso o
“sobre cada um de nós individualmente”5. que Agamben quer? Talvez, porque Agamben não quer no lugar do di-
Como isso mudou durante a época moderna será uma das principais reito uma filosofia reificadora. Qual é, então, o ponto da dúvida sobre o
perguntas de Foucault. Como a diferença entre a biologia e política se direito? E por que, finalmente, Agamben quer renovar a discussão sobre
supera caminhando para uma perspectiva da biopolítica é um dos sinais o direito, mesmo apontando seus limites, quando o próprio Foucault
mais destacados da Modernidade. Agamben vai continuar este projeto quase deixa as discussões sobre o direito no passado? O direito, pode-
de Foucault tentando mostrar como, mesmo assim, a “tese de Foucault mos nos lembrar de Foucault, fica ligado a um específico poder sobe-
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deverá ser... corrigida ou, pelo menos, completada...” O primeiro ponto rano tradicional e não chega até às novas estruturas do poder articuladas
que nos interessa aqui são os motivos dessa crítica de Agamben sobre o no contexto da discussão sobre a biopolítica.
projeto da biopolítica de Foucault. Assim se tornaria claro como o pri- A dúvida que Agamben tem sobre Foucault parece simples. Por que
meiro vê as condições da biopolítica dentro da Modernidade. Foucault, mesmo falando sobre a biopolítica, não chega até às conse-
Outro ponto é a questão sobre o direito. Um dia, afirma Agamben, a qüências dramáticas da Modernidade, até a experiência dos campos de
humanidade vai brincar com o direito, como as crianças que brincam concentração, por exemplo? Por que Foucault não vê as conseqüências
com objetos, não para restituir o uso canônico, mas para definitivamente totalitárias da biopolítica e fala, inclusive, sobre os aspectos quase posi-
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se livrar dele . Por que brincar um dia com direito? Por que ele não satis- tivos do poder que ajudam na criação da subjetividade? Como entender
faz as nossas expectativas filosóficas? Poderia ser uma das respostas que a biopolítica que chega até a certa tanatopolítica? É a pergunta inicial de
Agamben articula no sentido explícito no livro sobre Auschwitz. O direi- Agamben. Mas o que é, em primeiro lugar, a própria biopolítica?
to, diz ele, não tem nada a ver com a justiça, nem com a verdade. O que Mencionamos a diferença aristotélica entre zoê e bios, entre o natural
interessa ao direito são o procedimento e a conclusão jurídica que não ou privado e público ou político. É a diferença que Aristóteles concre-
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necessariamente inclui as questões sobre justiça e sobre verdade . Isso tiza falando sobre a desigualdade dos homens. O “escravo não possui
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nos lembra a herança aristotélica sobre o direito. Aqui a referência é a de forma alguma a faculdade de deliberar”, diz ele na Política . Assim
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própria palavra phronesis, que na tradição latina vai ser traduzida como ele chega à justificação da escravidão . A Modernidade mudou essa
prudência, incluindo jurisprudência. Phronesis é o nosso raciocínio prá- perspectiva. Nós somos iguais por natureza. Quer dizer, zoê e bios não
tico cujo interesse é aplicar as premissas gerais numa situação particular, ficam contrapostos. A experiência moderna é uma específica inclusão
sem questionar as próprias premissas. Aristóteles não questiona as pre- da zoê no bios. Aqui podemos pensar em Hobbes também e na questão
missas nem na discussão sobre a ética. São os costumes que articulam a da nossa autopreservação. Sobreviver, quer dizer, preservar a vida natu-
ética e não o questionamento deles. Obviamente essa herança deter- ral parece o projeto político no início da Modernidade. A liberdade é o
mina um forte aspecto conservador do direito. Ficar dentro de um pro- fato natural. Nós somos livres como os seres naturais. Só depois, no con-
cedimento coerente e não questionar as premissas, chegando assim, texto do idealismo alemão, será feita uma específica separação entre a

4 FOUCAULT, História da sexualidade, p. 156.


9 Hannah Arendt vê as conseqüências totalitárias da Modernidade mas, pensa Agamben,
5 FOUCAULT, História da sexualidade, p. 156. não liga essas conseqüências à biopolitica. Essas dúvidas sobre Foucault e Arendt aparecem já
6 AGAMBEN, O poder soberano e a vida nua. Homo sacer, p. 18. no início do livro Homo sacer.
7 AGAMBEN, Stato di eccezione, p. 83. 10 ARISTÓTELES, Política, 1260a.
8 AGAMBEN, Was von Auschwitz bleibt, p. 16. 11 ARISTÓTELES, Política, 1255a.
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natureza e liberdade e uma ligação particular entre liberdade e política. tico” . Assim, Schmitt poderia também ser uma das testemunhas sobre a
Nós não somos livres como seres naturais, mas dentro de uma específica específica despolitização moderna. Na época perturbada da República
afirmação espiritual sobre a natureza – é o recado do idealismo. de Weimar ele encontra a necessidade de repensar a política. Precisa-
Mas essas são as discussões posteriores. O que Agamben quer enten- mos de decisão e não de normas. As normas não resolvem o caos polí-
der é essa mudança moderna da relação entre zoê e bios. Se nós somos tico. Precisamos da decisão soberana para estabelecer a ordem e para
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iguais e livres por natureza, como então podemos entender essa inclu- que a própria ordem jurídica tenha sentido . Soberania é assim a com-
são de zoê em bios? É o contexto onde Agamben se confronta com Fou- petência para decidir sobre a vida e a morte, como ele explicita nas pági-
cault avisando as conseqüências catastróficas dessa ligação moderna nas do Conceito do político. Ou, com as famosas palavras da Teologia
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entre natureza e política. Para esclarecer essa inclusão moderna de zoê política, “soberano é quem decide sobre o estado de exceção” . No
Agamben vai voltar para um conceito que Foucault utiliza, mas indica os fundo da ordem jurídica temos um específico sentido político e uma das
limites históricos dele. É o conceito de soberania. Em lugar do poder nossas perguntas sobre Agamben fica ainda aberta. Por que voltar para
soberano da normação, pensa Foucault, a partir do século XVIII e XIX, uma crítica do direito se talvez tenhamos que nos confrontar com o
temos o poder disciplinar da normalização. Em lugar do poder judiciário fundo político dele? O novo critério para política não é, para Schmitt,
ligado ao poder soberano, temos a perspectiva cuja função não é “de nenhuma visão humanista. Pacificando os conflitos, o humanismo
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punir as infrações dos indivíduos, mas de corrigir suas virtualidades” . É parece mais uma negação da política do que o conceito dela . No Con-
o novo tipo de poder que Foucault classifica como sociedade disciplinar ceito do político Schmitt diz: “(...) um globo terrestre finalmente pacifi-
“por oposição às sociedades propriamente penais que conhecíamos cado seria um mundo sem distinção entre amigo e inimigo e,
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anteriormente. É a idade de controle social” . É o novo tempo do conseqüentemente, um mundo sem política” . A palavra despolitização
panoptismo e do olhar vigilante do poder controlando os indivíduos, os do mundo moderno aparece no sentido explícito e Schmitt fala sobre as
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corpos e a população. A dúvida que Agamben neste contexto tem sobre conseqüências liberais do idílico estado final da despolitização . Criar,
Foucault é que assim não ficam claros os perigos do novo poder. Articu- então, a ordem, articulando a diferença entre os amigos e inimigos são
lando a diferença entre poder soberano e poder disciplinar, Foucault, algumas conseqüências dessa perspectiva. Schmitt obviamente não vê
por exemplo, diz: “O direito de soberania é, portanto, ou de fazer mor- que assim está pacificando o espaço político de novo. Os conflitos não
rer ou deixar viver. E depois, este novo direito é que se instala: o direito aparecem no contexto interior do estado e dos amigos, mas só no plano
de fazer viver e de deixar morrer”14. O que Agamben vê nessa perspec- internacional. Mas isso são outras perspectivas da discussão que não nos
tiva é o poder que nos deixa expostos à morte, que nos deixa nos cam- interessam aqui.
pos de concentração. A pergunta então é: como isso aconteceu? E aqui Agamben não vai seguir essa diferença entre o amigo e inimigo. O
Agamben quer repensar o conceito da soberania tendo em vista este que importa para ele, dentro dessa nova visão da soberania é exata-
conceito na obra de Carl Schmitt. mente essa competência do poder de decidir sobre a vida ou morte.
O objetivo de Schmitt é talvez investigar as possibilidades políticas
da modernidade. O mundo pacificado do liberalismo ficou sem política. 15 SCHMITT, Teologia politica, p. 58.

Hoje, afirma ele, “nada é mais moderno que a luta contra o âmbito polí- 16 SCHMITT, Teologia politica, p. 13.
17 SCHMITT, Teologia politica, p. 7.
12 FOUCAULT, A verdade e as formas jurídicas, p. 86. 18 SCHMITT, O conceito do político, p. 82.
13 FOUCAULT, A verdade e as formas jurídicas, p. 86. 19 SCHMITT, O conceito do político, p. 61.
14 FOUCAULT, Em defesa da sociedade, p. 287. 20 SCHMITT, O conceito do político, p. 81.
108 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 109

Assim a mencionada inclusão de zoê fica mais visível como a exclusão, Estamos longe do otimismo hegeliano falando sobre a realização polí-
como a vida exposta à morte, como a vida nua que perdeu a possibili- tica da nossa liberdade. Auschwitz, Gulag, Guantánamo... Ou os povos
dade da própria autonomia. É a vida do homo sacer, da dupla exclusão do Terceiro Mundo, que também são incluídos como excluídos.
dele. O “homo sacer pertence ao Deus na forma de insacrificabilidade e Estamos, parece, longe da superação da natureza onde aparece o
é incluído na comunidade sob a forma da possibilidade de ser morto espiritual. A diferença entre a natureza e liberdade, entre o animal e o
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sem crime” . Homo sacer ilustra assim uma perspectiva política “mais humano, tão importante para nossa cultura, existe ainda? E além do
original” do que a relação entre amigo e inimigo de Carl Schmitt. Na ori- mais, fica impossível testemunhar sobre isso. A verdade está dentro do
gem da política temos a relação entre homo sacer e soberano, quer dizer campo e não fora. E quem esta dentro morre e não pode testemunhar. O
as condições da produção da vida nua. “O elemento político originário fato de poder falar, ou o a priori da comunicação não significa nada
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não é a simples vida nua, mas a vida exposta à morte...” A zoê incluída, nessa situação. A possibilidade da comunicação ainda não significa que
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como pensa a biopolítica, fica agora incluída como excluída pelas estru- podemos falar . É um argumento que Agamben articula contra os pen-
turas políticas e jurídicas. Assim a biopolítica da modernidade caminha sadores de certo a priori da comunicação o que podemos encontrar em
em direção a uma tanatopolitica. É o ponto onde Agamben tenta superar Apel e Habermas. Quem fala é quem sobreviveu. Mas quem sabe o que
o projeto de Foucault. aconteceu, o Muçulmano, não pode falar. Quem é a verdadeira e única
A despolitização moderna, segundo Agamben, fica ligada ao direito testemunha não pode testemunhar.
e às novas condições da soberania. Para Foucault direito não chega tão Isso também é o exemplo de que existem as experiências além da
longe. A despolitização é mais ligada às práticas disciplinares, do que às linguagem, ou, melhor dizendo, de outra linguagem. Porque a nossa
estruturas jurídicas. Na obra Em defesa da sociedade o autor afirma: “O natureza é lingüística. Só nela aparecem as significações. A própria natu-
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discurso da disciplina é alheio à lei... Portanto, as disciplinas... definirão reza se sente traída do significado . Aqui Agamben volta para a infância,
um código que será aquele, não da lei, mas da normalização, e elas se para uma subjetividade de outra linguagem talvez. O ser humano não é
referirão necessariamente a um horizonte teórico que não será o edifício sempre falante, idêntico com a própria linguagem, como os animais. Ele
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do direito, mas o campo das ciências humanas” . Adiante vamos ver os é um infante, um sem-identidade, o que constitui a possibilidade da
motivos de Agamben para se confrontar com direito não só no contexto autenticidade do ser humano. A infância fica assim como o lugar trans-
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da Modernidade, mas discutindo também a herança cristã. cendental da história, do mundo humano . Existe assim para Agamben
A mencionada exclusão de zoê fica visível nos campos de concentra- outra política e outra linguagem ? Buscar outra polis fica assim “a tarefa
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ção. Pensamos que somos da cidade, mas no último momento o campo infantil da humanidade que vem” .
é o nosso espaço político. Os homens do campo são os novos exemplos Vimos as conseqüências dramáticas dessa inclusão de zoê dentro da
do homo sacer. Agamben fala aqui dos muçulmanos abalados de fome, política moderna. A dúvida que pode aparecer é se, neste sentido, a
ajoelhados na terra, pois as pessoas do campo parecem os muçulmanos alternativa poderia ser afirmar bios de novo, voltar para a herança grega.
rezando. Parecem mortos-vivos. É a vida exposta à morte. Aqui fica mais
claro o sentido da palavra biopolítica. É uma política sem a política. É 24 AGAMBEN, L’aperto…, p. 28.
uma conseqüência da despolitização moderna e da perda da liberdade. 25 AGAMBEN, Was vom Auschwitz bleibt, p. 56.
26 AGAMBEN, La Comunita che viene, p. 49. Aqui talvez tenhamos o início de um específico
21 AGAMBEN, O poder soberano..., p. 83. antropocentrismo que Derrida vai enfrentar.
22 AGAMBEN, O poder soberano..., p. 88. 27 AGAMBEN, Infância e história, p. 65.
23 FOUCAULT, Em defesa da sociedade, p. 45. 28 AGAMBEN, Infância e história, p. 17.
110 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 111

É uma das perguntas de um dos últimos livros de Agamben O reino e a ao divino significa celebrar, afirmar essa inoperatividade da essência
glória. E é a continuação dos motivos presentes no livro O tempo que humana. Viver em Deus significa fazer inoperativa a vida que estamos
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resta. O que resta finalmente como a possibilidade política? E como vivendo . Agamben fala neste contexto sobre o Messias. E essa vida
entender o resto como um conceito messiânico? É interessante examinar Paulo chama a vida em Jesus, zoê de Jesus, utilizando então a palavra
algo sobre isso e sobre as diferenças possíveis que neste contexto apare- zoê e não bios. “Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à
cem entre Agamben e Derrida. morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus (zoê tou
O Reino e a glória é uma discussão sobre o cristianismo onde apare- Jesou) se manifeste em nossa carne mortal” (2 Cor., 4: 11).
cem as questões sobre a economia. Parece uma ruptura com a herança Este é um ponto muito importante da discussão. A confrontação com
grega. Paulo é o primeiro que articula uma significação teológica da eco- a inclusão de zoê na política, que se afirma como a exclusão dela, não
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nomia . Paulo se refere aos membros da sua comunidade no sentido vai em direção a uma nova afirmação do bios político ou de uma especí-
econômico, no sentido de uma administração doméstica30. Jesus aparece fica reviravolta na tradição grega. O bios aristotélico é a ilustração de
como o senhor da casa, como kyrios e não em termos políticos. O voca- uma teleologia que se realiza na política e de uma finalidade com a qual
bulário paulino, afirma Agamben, é econômico e não político. A vida se realiza a nossa natureza. Podemos nos lembrar de novo das palavras
eterna aparece ligada a oikos, e não mais ligada a polis, o que é impensá- dele na Política onde a questão da natureza fica ligada a seu estágio
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vel para os gregos . final. Bios, podemos dizer assim, é uma perspectiva que caminha para a
Mas, qual é o sentido dessas questões sobre a economia? A teologia realização dessa teleologia. E a essa operatividade de bios, Agamben
cristã, diz Agamben, transforma, no sentido dinâmico, o monoteísmo quer confrontar a inoperatividade de zoê, a glória do divino. É a imanên-
bíblico e opõe o pluralismo das pessoas e das práticas à unidade da cia da vida desligada das estruturas estaduais e jurídicas. No contexto
substância32. Assim a questão da economia é talvez o início da pergunta moderno o que se afirma é exatamente a soberania do Estado, concreti-
sobre nós mesmos e sobre a nossa zoê. Isso anima essa volta de Agam- zada pelas formas jurídicas. A Modernidade, explica Agamben, não con-
ben para herança cristã o que fica visível nos próximos passos de sua seguiu pensar uma alternativa política além das estruturas estaduais. Por
reconstrução. Da economia, o caminho vai para as questões da glória. E isso, pensar uma vida humana e uma política não estadual e não jurídica
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a glória aponta para a perfeição divina. É algo que já se viu em Aristóte- é ainda um projeto a ser pensado .
les. O divino é a unidade entre potência e ato, ele não tem que realizar Vimos que Agamben usa a palavra Messias neste contexto. A vida
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algo. Ele reina, mas não precisa governar e se mediar com o mundo . A inoperativa não é repouso, mas uma operação messiânica37. Uma opera-
glória do divino é a inoperatividade (inoperosita) dele. Por isso o lugar ção que se realiza, não sofrendo a pressão de uma necessidade teleoló-
dele fica vazio, sem as condições para serem realizadas. Neste sentido, gica. Agamben daqui tira um messianismo específico da política. O
Agamben fala sobre o trono vazio do divino34. O vazio é a ilustração da sentido da política pode ser só o messianismo, algo que talvez se realize.
glória. Assim, da glória a gente chega até a política da glória. Entregar-se O sentido da política não pode ser a reificação da ação dentro de um
mundo dominado pela teleologia. Assim, Agamben se confronta tam-
29 AGAMBEN, Il regno e la gloria, p. 35. bém com as ações políticas representativas. Representar significa repre-
30 AGAMBEN, Il regno e la gloria, p. 38. sentar essa teleologia. O sentido de zoê está na inoperatividade, na
31 AGAMBEN, Il regno e la gloria, p. 15.
32 AGAMBEN, Il regno e la gloria, p. 223. 35 AGAMBEN, Il regno e la gloria, 271.
33 Cf. AGAMBEN, Il regno e la gloria, p. 99. 36 Cf. AGAMBEN, Mezzi senza fine, Note sulla politica, p. 89.
34 AGAMBEN, Il regno e la gloria, 266. 37 AGAMBEN, Il regno…, p. 272.
112 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 113

imanência e não na representação. A imanência da vida aparece assim Vamos voltar para essa inspiração heidegeriana tentando incluir
como a alternativa da vida nua. Pensar a política no plano dessa imanên- alguns argumentos críticos de Jacques Derrida. Como pensar, final-
cia é o projeto de Agamben. Aqui talvez reapareça uma nova política mente, essa diferença entre o ôntico e ontológico?
sem política, porque se trata de uma política que não representa ou rea- No final do livro IX da República, Platão questiona se “a cidade que
liza certa teleologia. Alguns falam sobre o pensamento impolítico de edificamos... na nossa exposição, está fundada só em palavras”, como
Agamben ou sobre uma comunidade política sem ações, sem nome, que um “modelo no céu”, que não se encontra em parte alguma da terra.
não está fazendo ou representando algo e assim não articula as novas Como hoje podemos entender este aspecto “utópico” da política e do di-
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formas identitárias . O sentido da política está no messianismo, na pos- reito?
sibilidade da chegada que nunca se reifica. No artigo Crítica da violência: crítica do poder, Walter Benjamin
O messianismo não é de uma metafísica, de uma narrativa do pas- afirma que “a institucionalização do direito é institucionalização do
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sado. Talvez a igreja finalmente abandone o messianismo. Segundo a poder e neste sentido, um ato de manifestação imediata da violência” .
Escritura, Jesus diz que não chegou para abolir a lei, mas para cumpri-la. Contra este poder, que ele vai chamar mítico, Benjamin vai confrontar o
Já no Antigo Testamento o Senhor disse a Josué: “Não deixe de falar as poder divino, o único capaz de se confrontar com as violências secula-
palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas... para que você cumpra res. Contra a violência que instaura o direito secular, ou o direito mítico,
fielmente tudo o que nele está escrito...” (Josué 1: 8) E agora Jesus fala: Benjamin vai confrontar a violência divina que o destrói. Assim, este ato
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas divino articula a justiça contra o poder. Derrida vai repensar este concei-
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cumprir” (Mateus 5: 17). Assim, pensa Agamben, a igreja congela o mes- to do poder no direito e essa relação entre o poder e a justiça . A res-
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sianismo com este compromisso com direito . Por isso, aqui fica mais posta dele não vai se voltar para a justiça divina, mas para o mencionado
clara a confrontação com o direito. O direito se confronta com messia- conceito da diferença ou, poderíamos dizer, do vazio. Na perspectiva da
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nismo, afirmando a continuidade de uma tradição normativa e não as desconstrução não existe mais o fundamento puro, mas só a alteridade .
rupturas. O messianismo não é do direito. A institucionalização do poder não articula essa iterabilidade na parte
O messianismo também não é um projeto revolucionário, como performativa e deixa-o visível só na parte propositional ou constantiva
ainda acreditava Walter Benjamin. Quem são, então, os novos protago- que assim, só aparentemente, fala em nome do povo e da democracia.
nistas, ou sujeitos de uma política que nem representa nem cria as novas Este equívoco Derrida vai encontrar por exemplo na Declaração da
identidades?40 Talvez Agamben esvazie a política dos sujeitos concretos Independência norte-americana. Assim, quem assina a declaração,
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aqui e agora. O que acontece é o esquecimento do ôntico, seguindo assina não só para si mesmo, mas também para os outros . A referência
uma inspiração heideggeriana sobre a ontologia. Por isso Moisés e não constantiva sozinha não aparece no ato performativo. O que Derrida
só Messias, a libertação e não só a salvação, a parte ôntica e não só a quer enfatizar é este momento da exclusão na articulação da política e
parte ontológica da política41. na institucionalização do direito. O poder do direito é o poder contra o
Outro. O sujeito do ato performativo, no caso da Declaração da Inde-
pendência, não é o sujeito do ato constantivo46. Aparecem dois “nós”
38 Cf. HERVÁS, Política y Mesianismo, p. 67 e 79.
42 BENJAMIN, Critica da Violência, disponível em: , p. 4.
39 AGAMBEN, Mezzi senza fine..., p. 105.
43 Cf. DERRIDA, Force de loi.
40 Cf. MARCHART, Zwischen Moses und Messias. Zur politischen Differenz bei Agamben, p.
20. 44 DERRIDA, Force de loi, p. 94.
41 MARCHART, Zwischen Moses und Messias..., p. 26. 45 DERRIDA, Declarations of Independence, Negotiations, p. 48.
114 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 115

diferentes, um no ato performativo e outro no ato constantivo. Assim os Trata-se, assim, de uma crítica incansável do capitalismo e de sua metafí-
“nós” do performativo não inclui os negros e os índios. Os “nós” do per- sica da presença. A filosofia de Heidegger ainda afirma os lugares privi-
formativo exclui os Outros e aqui Derrida vê o paradoxo principal da legiados para pensar a autenticidade do ser. Assim, ela ainda não é a
constituição da democracia moderna. diferença verdadeira, a diferença que produz a diferença. A diferença de
Mas, é possível a abertura para os Outros, além da tolerância? A tole- Heidegger parece mais uma diferença reificada, determinando – pode-
rância é a forma da abertura onde ainda domina certo paternalismo. ríamos dizer assim – os lugares para a aparição do autêntico. Heidegger
Aceitamos os Outros somente se eles seguem as regras, a Identidade da ainda ficou preso no horizonte da moderna metafísica da subjetividade.
nossa própria cultura. É possível a abertura para os Outros além da tole- Por isso o projeto da destruição da metafísica tem de ser superado pelo
rância? É possível a abertura incondicional, que Derrida vai chamar de projeto de sua desconstrução.
hospitalidade? É possível abrir-se para “alguém que entra em nossas O recado é forte. Criticar a Identidade, afirmando a diferença, quer
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vidas sem ter sido convidado” ? dizer também que o lugar da política e do direito tem que ficar vazio,
A situação é quase contraditória. O Outro pode, por um lado, negar para não criar as novas formas da ideologia. Ou, com as palavras de Cla-
a nossa soberania. E, por outro lado, só com essa soberania aparece a ude Lefort “ a soberania popular junta se à imagem de um lugar vazio,
possibilidade da hospitalidade incondicional. A abertura para o Outro impossível de ser ocupado, de tal modo que os que exercem a autori-
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aparece como um projeto complicado, quase impossível. E assim tam- dade pública não poderiam pretender apropriar-se dela” . O vazio não é
bém a democracia, que Derrida liga à alteridade que não pode ser redu- a falta que a cultura sempre articulou como algo que teria que ser supe-
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zida (irréductible) . rado, superando assim o próprio indivíduo. O vazio é a dinâmica do so-
E, no último momento, a democracia “não significa uma democracia cial que nunca se entrega ao fetichismo e à própria reificação. Uma
futura que um dia será presente”49. A democracia não está na presença. A colocação semelhante encontramos em Agamben também. Qual é a
presença, aprendemos da História, é só outra palavra para a metafísica diferença entre os dois?
da nossa vida. Assim, também, no processo moderno do desencanta- Agamben acha que a posição de Derrida não supera a tradição já
mento, aparecem os novos fetichismos e as novas identidades. O capita- existente. Dentro do dado é possível articular a diferença. A desconstru-
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lismo, a economia e a política não são as novas formas da metafísica, ção está bloqueando, suspendendo o messianismo . Por isso a saída
ocupando o lugar vazio da diferença e criando as novas identidades for- messiânica é a proposta de Agamben. Mas Derrida também é o autor do
tes? Por isso, o projeto da destruição da metafísica permanece ainda messiânico. Só que o seu messianismo não é uma nova afirmação da
atual. Portanto, a desconstrução derridiana talvez articule uma nova subjetividade. O messiânico é a ruptura com as formas da identidade. E
política da diferença. “A hospitalidade incondicional, que não é nem essa ruptura inclui os Outros. É a hospitalidade no sentido da abertura
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jurídica nem política, ainda assim é a condição do político e jurídico” . para os Outros. Neste ato da hospitalidade talvez possamos falar sobre
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um nascimento latente de uma outra subjetividade . E os Outros nem
46 Cf. também BENHABIB, Demokratie und Differenz, p. 105. Aqui não vou seguir a critica aparecem nessa proposta de Agamben. Mesmo criticando o direito,
que Benhabib, com motivos habermasianos, que articula contra Derrida. O primeiro abrindo-se para as questões da justiça, Derrida vai apontar para a neces-
argumento é que Derrida não oferece uma resposta para corrigir ou melhorar os argumentos
normativos (ibid., p. 108) e o segundo é o de que as complexas sociedades modernas não
podem ser baseadas na idéia derridiana da amizade. 50 BORRADORI, Filosofia em tempo de terror, p. 139.
47 BORRADORI, Filosofia em tempo de terror. Diálogos com Habermas e Derrida, p. 139. 51 LEFORT, A invenção democrática, p. 76.
48 DERRIDA, Politiques de l’amitié, p. 40. 52 AGAMBEN, Il tempo que resta, p. 98.
49 BORRADORI, Filosofia em tempo de terror, p. 130. 53 Cf. BERNARDO, “Mal de hospitalidade”, p. 203.
116 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 117

sidade do direito. Precisamos das novas formas do direito ligadas ao essa autenticidade desapareceu. Nós somos reduzidos à vida nua, à vida
projeto da desconstrução da metafísica. Porque sem direito o Outro nem dos animais. A diferença entre o animal e o humano, fala Agamben, se
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pode aparecer. “Sem este direito, ele não pode introduzir-se em minha cancela .
casa, na casa do hospedeiro, senão como parasita como hóspede abu- E quando ele volta para a afirmação da imanência da vida, confron-
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sivo, ilegítimo, clandestino, passível da expulsão ou da prisão” . tada com a vida nua, os animais não aparecem mais. Finalmente, Agam-
O messiânico para Derrida é uma confrontação permanente, uma ben, como Heidegger, quer pensar a linguagem e não a voz, a voz dos
crítica incansável das formas presentes da identidade. O messiânico fica animais. Por um lado ele fala: “(...) eu não quis pensar (...) senão uma
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assim ligado à ação e não às formas passivas da política . É a radicaliza- única coisa: o que significa: existe linguagem...” .
ção do projeto heidegeriano sobre a destruição da metafísica, que assim Neste contexto fica mais clara a crítica que Agamben articula contra
supera o contexto do dado e das formas identitárias. Em lugar do projeto Derrida. Devemos certamente render homenagens a Derrida. Agamben
messiânico da política de Agamben, Derrida fala sobre o messianismo se refere a Derrida no livro Linguagem e a morte, p.60, “como o filosofo
sem messianismo. Neste contexto, Derrida não precisa uma idéia da que identificou com mais rigor o estado original do gramma e do signifi-
soberania para concretizar o próprio projeto. Mencionamos suas dúvi- cante na nossa cultura.” Obviamente Agamben se refere ao projeto der-
das sobre as condições da soberania na época da revolução americana ridiano da gramatologia. Mas Derrida havia trazido à luz o problema da
que exclui os outros. A soberania reifica, ela transforma “o ato performa- metafísica e não as condições da superação dela. A metafísica já é sem-
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tivo em ato constantivo” . pre gramatologia, conclui Agamben. A explicação dessa última tese fica
Assim Derrida finalmente chega até uma outra visão da discussão talvez mais transparente na discussão sobre a linguagem, no livro Infân-
sobre a zoê. Porque parece que não é só o soberano fora da lei, mas o cia e historia. A pergunta, inspirada por Heidegger, é: “Que coisa existe
animal também. A filosofia quase não fala sobre os animais. E quando na voz humana, que articula a passagem da voz animal ao logos, da
fala eles aparecem sob uma forte visão antropológica. Mesmo Heidegger natureza à polis ? É conhecida a resposta de Aristóteles: o que articula a
fica um cartesiano neste contexto. “(...) O animal, que é alogon, se voz são os grammata, as letras. (...) os gramáticos antigos opunham
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encontra segundo Heidegger, privado de acesso, em sua abertura assim a voz confusa dos animais à voz humana, que é articulada” . O
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mesma, ao ser do ente enquanto tal...” . Mesmo apontando para uma elemento constitutivo da voz, o gramma, aqui ainda não pode ser, eu
máquina antropológica em Heidegger, Agamben compartilha com acho, o argumento contra Derrida. São conhecidas, por exemplo, as crí-
aquele uma identidade antropocêntrica. O homem é o animal que pos- ticas dele à voz, já no livro Voz e fenômeno.
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sui linguagem . A elaboração dessa tese fica heideggeriana. Heidegger Por outro lado Agamben fala, como vimos, que a linguagem não se
não fala sobre o ser vivo, mas sobre o Dasein e o da deste ser aí “signi- identifica com o humano. Isso não cria nenhuma incoerência. Neste
fica: estar no lugar da linguagem”59. Significa não se identificar com a voz contexto, Agamben só quer investigar a infância como a “pátria trans-
identitária dos animais, mas articular a própria autenticidade. Vimos que cendental da história”, quer dizer, como o lugar da autenticidade do
humano. Quando fala sobre a linguagem, Agamben quer mostrar a pos-
54 DERRIDA & DUFOURMANTELLE, Da hospitalidade, p. 55. sibilidade do mundo que só o homem tem. E quando fala sobre a infân-
55 Cf. DERRIDA, “Marx e hijos”, p. 289. cia, ele quer apontar para este lugar vazio, não-substancial do homem.
56 Cf. RAJAGOPALAN, “Jacques Derrida e a corda bamba como o caminho da ética”, p. 123.
57 DERRIDA, O animal que logo sou, p. 41. 60 AGAMBEN, L’aperto. L’uomo e l’animale, p. 28.
58 AGAMBEN, A linguagem e a morte, p. 141. 61 AGAMBEN, Infancia…, p. 12.
59 AGAMBEN, A linguagem e a morte, p.78. 62 AGAMBEN, Infancia..., p. 15.
118 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 119

No mesmo lugar ele vai repetir “os animais não entram na língua: já Politics of messianism: some reflections on Agamben and
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estão sempre nela” . Zoê, nessa reconstrução, exclui os animais. Derrida
Assim, a responsabilidade para o Outro, que não é só homem, mas
também animal, aparece como o ponto de uma diferença fundamental Abstract: The law, Agamben says, has nothing to do with justice, nor
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entre Derrida e Agamben . Uma metafísica que Agamben tenta detectar with the truth. What matters is the right procedure and the legal conclu-
na filosofia de Derrida aparece dentro do próprio sistema dele. E mesmo sion that does not necessarily include the issues of justice and truth. The
na filosofia onde aparece a possibilidade de pensar os Outros, como no law, we can remember Foucault, is connected to a specific traditional
caso da filosofia de Levinas, aparecem dúvidas. Levinas fala do homem, sovereign power and does not reach the new structures of power articu-
do próximo, do Outro, poderíamos dizer, enquanto homem. E isso para lated in the context of the discussion on bio-politics. The question that
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nós, fala Derrida é “o lugar de uma grave inquietação” . Agamben has on Foucault seems simple. Why Foucault, even talking
Desconstruir a identidade, devir outro, devir animal é o contexto que about bio-politics, does not reach the dramatic consequences of moder-
inclui nossa compaixão fundamental. O pensar, afirma Derrida, começa nity such as the experience of concentration camps? The article also
66
talvez diante do animal . É o “sim” dessa abertura para o Outro. É o includes the critical arguments of Jacques Derrida on the possibility of
“sim” do performativo? Talvez. O performativo talvez não seja a palavra, connecting the law and justice.
porque volta para a linguagem, para uma herança metafísica. Onde há Key-words: Bio-politics – law – philosophy.
os performativos, não há o acontecimento. Os performativos acontecem
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só no horizonte do possível . Confrontando-se com isso, a desconstru-
ção também fica ao lado do messiânico. Só o impossível pode aconte-
cer68. E exemplo disso, vimos, é a abertura para uma hospitalidade Referências bibliográficas
incondicional. Neste contexto, não aparecem mais bios ou zoê como os
novos tópicos do pensamento e como a forma de uma nova política ARISTÓTELES. Política. Brasília: Ed. UnB, 1985.
identitária. A vida é talvez uma “experiência na qual se abalam os limites AGAMBEN, G. Mezzi senza fine, Note sulla política. Torino: Bollati Bo-
à passagem de fronteiras entre bios e zoê...”69. Nessa ausência da identi- ringhieri, 1996.
dade, neste vazio, aparece, talvez, a possibilidade e da política e do di- ______. O poder soberano e a vida nua. Homo sacer. Lisboa: Editorial
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63 AGAMBEN, Infancia…, p. 64.
64 Cf. THURSCHWELL, Spectres of Nietzsche: Potential Futures for the Concept of Political in
______. Infância e história. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005.
Agamben and Derrida, em: www.law.csuohio.edu/faculty/athurschwell/nietzsche.pdf ______. A linguagem e a morte. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
65 THURSCHWELL, Spectres of Nietzsche, p. 30. ______. Il regno e la gloria. Torino: Bollati Boringhieri, 2007.
66 THURSCHWELL, Spectres of Nietzsche, p. 57.
______. Il tempo que resta. Torino: Bollati Boringhieri, 2008.
67 DERRIDA, Die unbedingte Universität, p. 73.
68 DERRIDA, Die unbedingte Universität. p. 73.
69 DERRIDA, O animal..., p. 49.
120 Milovic, M. Cadernos de Ética e Filosofia Política 14, 1/2009, p. 103-121. Política do messianismo: algumas reflexões sobre Agamben e Derrida 121

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