Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abelhas Da Caatinga-Biogeografia, Ecologia e Conservação PDF
Abelhas Da Caatinga-Biogeografia, Ecologia e Conservação PDF
Abelhas da Caatinga
2
ABELHAS DA CAATINGA:
BIOGEOGRAFIA, ECOLOGIA E
CONSERVAÇÃO
Introdução
A Caatinga, provavelmente devido à sua característica semi-
árida e relativa pobreza de espécies, é o ecossistema brasileiro mais
negligenciado quanto à conservação de sua biodiversidade.
Entretanto, o conhecimento de sua fauna e flora, apesar de ainda
incipiente, será extremamente importante, justamente para o
manejo de ambientes em processo de desertificação, cada vez mais
comuns nas paisagens do planeta. Os estudos sobre a fauna de
abelhas da Caatinga têm revelado idiossincrasias, como espécies
endêmicas e interações específicas com sua flora, além de
informações relevantes para o conhecimento biogeográfico da
fauna de abelhas Neotropical. Todavia, o conhecimento dos
aspectos faunísticos, ecológicos, comportamentais e filogeográficos
das espécies de abelhas deste ambiente são ainda muito
fragmentados e, devido à enorme pressão antrópica sofrida pela
Caatinga, é urgente estudar e conhecer suas particularidades e
potencialidades, além de preservar as poucas áreas remanescentes
de sua cobertura original.
O Brasil apresenta uma grande diversidade de abelhas, com
um número estimado de 3.000 espécies (Pedro & Camargo 1999).
75
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
76
2. Abelhas da Caatinga
77
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
78
2. Abelhas da Caatinga
79
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
80
2. Abelhas da Caatinga
81
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
No de No total
espécies de Porcentagem Fonte
endêmicas espécies
Flora
180 437 41 Prado & Gibbs 1993
lenhosa
Abelhas 30 94 (192) 32 Zanella 2000b
Escorpiões 4 17 23 Lourenço 1990
Mamíferos* cf. 1 80 1 Mares et al. 1985;
Willig & Mares 1989;
Redford & Fonseca
1986
* Não voadores
82
2. Abelhas da Caatinga
83
Tabela 2. Distribuição geográfica dos gêneros de abelhas que ocorrem na Caatinga. NE – Região Neártica, AC – América Central e
México, FAm – Floresta Amazônica, FAt – Floresta Atlântica, BC – Brasil central (Cerrados), SE – Serras e planaltos do sudeste do
Brasil, SA – Sul da América do Sul, regiões temperadas e subtropicais, inclui áreas desertas da Argentina e Chaco, DP – Desertos da
costa do Pacífico, AD – Andes, AR – Região Araucana, na parte central do Chile. “+” = regiões altas, acima de 800 m, “m” =
marginalmente ou somente por espécies amplamente distribuídas.
92
2. Abelhas da Caatinga
93
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
94
2. Abelhas da Caatinga
95
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
96
2. Abelhas da Caatinga
97
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
98
2. Abelhas da Caatinga
99
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
100
2. Abelhas da Caatinga
101
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
102
2. Abelhas da Caatinga
Fenologia
O clima na região semi-árida do nordeste do Brasil apresenta
tipicamente um período chuvoso e um período seco, quando as
chuvas são nulas ou extremamente escassas. A oferta de recursos
florais, bem como a variação na diversidade e abundância de
abelhas, pode ser descrita, em termos gerais, com base nessa
divisão (Figura 3).
No período chuvoso há uma grande oferta de alimento
determinada em grande parte pelo desenvolvimento e floração de
espécies de plantas herbáceas anuais e arbustivas. Nesse período, é
observada também uma maior abundância e diversidade de abelhas,
em especial das espécies solitárias.
No período seco, salvo exceções, encontram-se ervas e
arbustos com flores somente nos leitos secos dos rios e próximos a
corpos d’água (riachos, açudes, lagoas temporárias, etc.). Segundo
Aguiar et al. (1995), durante o período seco em uma área estudada
em São João do Cariri (PB), próximo ao local mais seco do Brasil,
somente foram ofertadas flores de espécies arbóreas, de cactáceas e
de bromeliáceas. Para uma revisão sobre os poucos dados
fenológicos existentes das plantas da Caatinga veja Machado
(1996) e Machado et al. (1997).
103
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
200 20
180 18
160 16
Prec. (mm)/ No. de abelhas
140 14
No. de espécies
120 12
100 10
80 8
60 6
40 4
20 2
0 0
MAI
SET
FEV
ABR
DEZ
MAR
AGO
NOV
JAN
OUT
JUL
JUN
N ã o e u s s o c ia is E u s s o c ia is P r e c ip ita ç ã o
P la n ta s N o . d e a b e lh a s
104
2. Abelhas da Caatinga
105
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
citadas). Não se pretende aqui fazer uma revisão desses temas, mas,
baseando-se em nossa experiência em trabalhos de campo na
Caatinga e na síntese apresentada acima, apenas destacar alguns
aspectos importantes para uma apreciação do valor da conservação
deste ecossistema, em particular de sua fauna de abelhas, para a
definição de estratégias sobre como fazer e das lacunas do
conhecimento, importantes para a tomada de decisões.
Dois dos indicadores mais usados para avaliar a importância
de áreas para a conservação são o número de espécies presentes
(biodiversidade) e o número de espécies endêmicas (World
Conservation Monitoring Centre 1992). Na Caatinga, a diversidade
de abelhas é relativamente baixa, entretanto há uma fauna própria
de abelhas, bem como de plantas e de outros invertebrados,
formada por várias espécies endêmicas, o que ressalta o valor de
sua preservação.
Os dados apresentados também demonstram que a apifauna
da Caatinga é o resultado de uma história complexa, formada por
elementos de diferentes “origens”. O conhecimento dessa história
só é possível através do estudo detalhado da distribuição geográfica
das espécies e das outras que constituem o grupo ao qual
pertencem, acompanhado de uma análise das relações filogenéticas
entre elas. Assim, se estendermos a comparação feita por Janzen
(1997) entre áreas naturais preservadas e bibliotecas, poderíamos
dizer que a extinção do conjunto de espécies que faz parte de um
traçado biogeográfico representaria algo semelhante à destruição de
um capítulo do único livro que trata da história biogeográfica da
região, ou seja, a perda, para sempre, da possibilidade de conhecê-
la.
Conforme comentado anteriormente, as áreas de enclaves e
de transição com outros ecossistemas, não estão sendo
consideradas na presente discussão. Mas, é preciso ressaltar que
106
2. Abelhas da Caatinga
107
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
108
2. Abelhas da Caatinga
109
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
110
2. Abelhas da Caatinga
111
Tabela 3. Riqueza de espécies de abelhas (R), abundância total (AT) e de Apis (AA), abundância relativa de Apis (AR - %), posição
de Apis no ranking das mais abundantes (PA), número de espécies de plantas visitadas por todas as espécies de abelhas (NV) e
somente por Apis (NA) e sua porcentagem em relação ao total (VR), em levantamentos realizados em várias regiões do Brasil.
Agradecimentos
A presente contribuição inclui partes previamente não
publicadas da Tese de Doutorado do primeiro autor, na Pós-
Graduação em Entomologia da Universidade de São Paulo, campus
de Ribeirão Preto. Assim, faz-se necessário um agradecimento ao
Prof. Dr. João Maria Franco de Camargo, pela orientação e apoio.
Somos gratos também aos Drs. Maria Cristina Gaglianone, Márcio
Oliveira (Universidade Federal do Acre), Christian Westerkamp
(Universidade Federal de Uberlândia) e John Christopher Brown
(University of Kansas), pelas críticas e sugestões no manuscrito
final.
114
2. Abelhas da Caatinga
Referências bibliográficas
115
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
116
2. Abelhas da Caatinga
CANE, J. H. & V. J. TEPEDINO. 2001. Causes and extent of declines among native
North American invertebrate pollinators: detection, evidence, and
117
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
CROIZAT, L., G. NELSON & D. E. ROSEN. 1974. Centers of origin and related
concepts. Systematic Zoology 23: 265-287.
CURE, J. R., M. THIENGO, F. A. SILVEIRA & L. B. ROCHA. 1992. Levantamento
da fauna de abelhas silvestres na “Zona da Mata” de Minas Gerais. III.
Mata secundária na região de Viçosa (Hymenoptera, Apoidea). Revista
brasileira de Zoologia 9: 223-239.
DIAS, B. S. F., A. RAW & V. L. I. FONSECA. 1999. The São Paulo Declaration
on Pollinators. Report on the Recommendations of the Workshop on the
Conservation and Sustainable Use of Pollinators in Agriculture with
Emphasis on Bees. Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis, Brasília.
DODSON, C. H. 1975. Coevolution of orchids and bees. Pp 91-99 in: L. E. Gilbert
& P. H. Raven (eds.) Coevolution of Animals and Plants. University of
Texas Press, Austin.
118
2. Abelhas da Caatinga
119
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
HURD, P. D., JR. 1987. An Annotated catalog of the Carpenter Bees (genus
Xylocopa Latreille) of the Western Hemisphere (Hymenoptera:
Halictidae). Smithsonian Institution Press, Washington.
120
2. Abelhas da Caatinga
121
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
122
2. Abelhas da Caatinga
MICHENER, C.D. 1974. The social behavior of bees: a comparative study. The
Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge.
MICHENER, C.D. 2000. The Bees of the World. The Johns Hopkins University
Press. Baltimore, Maryland.
123
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
MOURE, J. S. & P. D. HURD JR. 1987. An Annotated catalog of the Halictid Bees
of the Western Hemisphere (Hymenoptera: Halictidae). Smithsonian
Institution Press, Washington.
MOURE, J. S., E. L. NEVES & B. F. VIANA. 2001. Uma nova espécie de Euplusia
da Bahia, Brasil (Hymenoptera, Apoidea, Euglossinae). Revista brasileira
de Zoologia 18: 841-844.
124
2. Abelhas da Caatinga
MOURE, J. S., D. URBAN & V. GRAF. 2000. Baptonedys, um novo gênero para
Lonchopria bicellularis Ducke (Hymenoptera, Colletidae). Revista
Brasileira de Zoologia 28: 11-17.
NEVES, E.L. & B.F. VIANA. 2001. Ocorrência de Epicharis bicolor Smith
(Hymenoptera: Apidae: Centridini) nas caatingas da margem esquerda do
médio Rio São Francisco, Bahia. Neotropical Entomology 30:735-736.
125
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
126
2. Abelhas da Caatinga
ROIG-ALSINA, A. 1989. The tribe Osirini, its scope, classification, and revisions
of the genera Parepeolus and Osirinus. University Kansas Science
Bulletim 54: 1-23.
ROUBIK, D.W. 1989. Ecology and natural history of tropical bees. Cambridge
University Press, Cambridge.
127
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
SANTOS, I. A. 2000. Notes on the bees of the tribe Emphorini. Pp. 211-216 in:
Anais do IV Encontro sobre Abelhas, Ribeirão Preto, Brasil.
128
2. Abelhas da Caatinga
SOLBRIG, O. 1976. The origin and floristic affinities of the south american
temperate desert and semi-desert regions. Pp. 7-49 in: D. W. Goodall
(ed.) Evolution of Desert Biota. University of Texas Press, Austin.
129
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
130
2. Abelhas da Caatinga
131
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
WESTERKAMP, C. 1998. Bee flowers with adaptations against bees: the keel
blossoms. Pp. 92-100 in: Anais do III Encontro sobre Abelhas, Ribeirão
Preto, Brasil.
132
2. Abelhas da Caatinga
133
F. C. V. Zanella & C. F. Martins
ZANELLA, F. C. V., SCHWARZ, D. L., FO & LAROCA, S. 1998. Tropical bee island
biogeography: diversity and abundance patterns. Biogeographica, 74:
103-115.
134