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SLIDE ...

uma lesão do órgão, pode ser o retorno de um apelo que foi uma
passagem ao ato. Nasio 1993
O que Násio sugere ?
Nasio (1993) igualmente sugere que, na lesão de órgão, trata-se de uma
"foraclusão local", parcial. Neste caso, ao invés de condenar o sujeito à
psicose, o autor pensa na estruturação de um fragmento de realidade segundo
o processo de foraclusão. Ele afirma que o fenômeno psicossomático
corresponde a uma formação do objeto a e não a uma formação do
inconsciente. A doença orgânica estaria do mesmo lado das alucinações e da
passagem ao ato, onde o Nome-do-Pai não se mantém, não oferecendo
consistência ao sujeito.
O que equivale o gozo para Nasio? E para Lacan?
O gozo equivale à energia psíquica que o inconsciente utiliza para trabalhar, o
que pode ser situado muito próximo do conceito freudiano de libido. O gozo,
da mesma forma que a libido, é passível de ser investido, tem a característica
de aderir às representações e pode ser acumulado. O seu local por excelência
é o corpo. O corpo inconsciente goza no corpo. Segundo Nasio:

[...] o gozo faz-se ouvir por atos cegos, sejam eles


ações produtivas, quando um pintor cria, fora de si, sua
tela ou ações destrutivas, como a do motorista que
roçou a morte. Mas, em todos os casos, são atos em
que o sujeito é apenas corpo, ou [...] em que o corpo
toma tudo; o sujeito não fala nem pensa114.
O conceito lacaniano de gozo envolve uma noção de transgressão e
excesso, e se expressa enquanto a satisfação da pulsão de morte, encarada
como vontade de destruição. Vontade de recomeçar com novos custos e de
Outra coisa115.

De que gozo específico se trata no psicossomático? Trata-se de


um gozo fora do sentido, um gozo que ex-siste ao sentido, um gozo
cortado da relação com o Outro, um gozo auto-erótico, um gozo do
corpo próprio. Um gozo que nos remete a uma foraclusão da
significação fálica, portanto, do gozo fálico. O fenômeno psicossomático
está arraigado no imaginário, é o imaginário invadindo o real, em
oposição ao sintoma que é do simbólico elevado ao real. São formas
diferentes de gozar. “No sintoma, os significantes, aqueles que
deciframos, são significantes que tomaram corpo, que são gozados pela
via de sua encarnação”(SOLER, 2010, p. 13). No fenômeno
psicossomático o que nós temos é o retorno do objeto no real, é o
buraco no real do corpo. É o corpo em carne viva.
E a foraclusão? Lacan preferiu foraclusão à rejeição, em alusão ao
seu uso no vocabulário jurídico procedimental, significando o vencimento
de um direito não exercido nos prazos prescritos

O que é fundamental para a abordagem clínica do fENOMENO


pSICOSSOMATICO FPS, dentro da orientação psicanalítica lacaniana,
distingui-lo do que entendemos especificamente por sintoma, quando tomamos
o sintoma histérico como paradigma, em sua interface com o real da satisfação
e o simbólico, sendo assim passível de interpretação. Essa perspectiva difere
radicalmente daquela dos pioneiros da abordagem psicanalítica do FPS
(Alexander & Selesnick, 1980; Groddeck, 2011).

Para nós, FPS e sintoma distinguem-se radicalmente um do outro conforme o


FPS se encontra fora do jogo da articulação significante e, por conseguinte, da
emergência do sentido; por sua estrutura holofraseada, não se presta à
interpretação. Assim, a tarefa analítica consiste, como indicam os dados
clínicos abordados, em ler a holófrase implicada no FPS, estando atento para
as singularidades de cada caso. No caso de uma psicose, por exemplo, é
preciso ter cautela, pois o FPS pode cumprir uma função na vida desse
paciente.

Além disso, é importante destacar que, no caso de tais fenômenos, estamos


diante de um gozo específico, de um corpo marcado pela holófrase no real,
como uma assinatura ou uma tatuagem indecifráveis, daí o fato de ter uma
lesão correspondente. A perspectiva, aqui, é a do tratamento aliado à medicina,
sempre que necessário. À condição, evidentemente, do respeito à
especificidade de cada uma dessas abordagens. A partir do último ensino de
Lacan, podemos considerar o fenômeno psicossomático como um modo de
adoecer passível de ser abordado pela psicanálise, assumindo no horizonte o
direcionamento ao real.

No Seminário RSI, Lacan (1992) atribui ao significante Nome-do-Pai a


função de nominação, que leva a uma redistribuição gozosa e sua
articulação ao sintoma. Szapiro (2008) pontua que, para operar sobre o
FPS, pode-se trabalhar a partir da suplência, gerador de estabilidade ao
sujeito: fazendo uso do Nome-do-Pai, pode promover uma regulação de
gozo, pois o objeto ao qual o gozo estava fixado se transformado em
causa de desejo. Observa que, o que está em jogo, é a possibilidade de
uma outra forma de enodamento. Assim, pode emergir um sujeito com a
remissão do FPS, o que leva a um descongelamento da cadeia
significante, produzindo uma dialetização do discurso na
transferência. Essa operação possibilita um novo saber-fazer com o seu
gozo.

Esta é uma clínica desafiadora porque a fala é endereçada pela via da escrita
no corpo e não pela via da transferência de amor e de sabre, com a produção
do sujeito suposto saber, onde o analista é convocado a ocupar o lugar do
Outro, permitindo que o analisante associado pode e pode se endereçar ao
Outro do seu próprio inconsciente. O dito sobre o FPS diz respeito a uma
escrita ilegível, precisando ser decifrada, para ser lida, a fim de ascender ao
nível do significante passível de deslizamento na cadeia e de produção de
sentido. Trata-se de uma fala vazia que não faz laço social e não possibilita
um manejo pela via do simbólico na experiência de análise. O desejo do
analista deve operar, alocar a divisão do sujeito, para que remeta a fala ao seu
desejo, a um dizer.

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