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escravos
No livro “Destination Torah” (Ktav, 2001), páginas 62 a 64, o Dr Rabino Hacham Issac S.D.
Sassoon, nota que, se a escravidão é para ser considerado algo inerentemente perverso,
por qual motivo lemos que, na partida dos Israelitas de um Egito que os escravizava, eles
recebem instruções sobre como tratar seus escravos, inclusive, na celebração do
Pessach? A promulgação de tais instruções, justo naquele momento, certamente quebra o
encanto de se construir uma nação utópica, perfeita e contrária a escravização de outros
seres humanos. De fato, estas “leis de escravos” não deixam dúvida sobre a prática ser
normal e aceitável. Mas, então, por qual motivo os Egípcios são retratados como “maus”
por escravizarem os Israelitas? Só por uma questão de “meu time” versus o “time” do
outro? Neste caso, não se trata de ser “imoral” escravizar, mas apenas, não escravizar
certos grupos (o nosso, no caso)?
A elucidação acadêmica
Para aqueles que descobriram que a análise crítica apenas “fere” as noções, doutrinas e
regras religiosas que, por si só, já ofendem a inteligência e o bom senso cultivado no
século XXI; Sem com isso diminuir a importância da Torá ou dos antigos textos
tradicionais da Tradição Judaica, a análise acadêmica, como a Hipótese Documental e a
Hipótese Complementar, não apenas aliviam certas contradições, como conseguem em
muitos casos, resolver de modo inteligente e satisfatório, os conflitos morais.
Uma das fontes tradicionais mais antigas – chamada de “não-P” - traz uma narrativa do
êxodo, que não menciona, nem uma única vez, que os israelitas tivessem “licença” para
escravizar – bastando seguir certas regras – e, não receberam instrução alguma de fazer
isso, na ocasião de sua própria libertação.
Isso contrasta com Shemot 12: 43 – 51, que exibe sinais linguísticos e substantivos de
que, fazem parte exclusivamente, de um material sacerdotal, muito posterior ao período
indicado na narrativa. A tradição P – Sacerdotal.
Os Sinais Sacerdotais
Estes sinais, incluem a “proeminência estereotipada”, exemplificada em frases como:
“HaShem falou a Moshe/a Moshe e Aharon, dizendo” e, em seguida, trazendo insistência
em rituais como o da circuncisão, ritual de elevação do status e da ideia de pacto,
característico e próprio, apenas na Tradição P.
De fato, o verso 47, que ordena que “toda a congregação” - e não apenas os “anciãos”
iniciem os rituais de Pessach, parece estar polemizando com versões mais antigas do
processo, encontradas em Shemot 12: 21:
Um final esperançoso?
Esta aprovação da tradição P sobre escravizar não israelitas, parece ter sido uma
tentativa de solucionar uma crise social, que parecia ameaçar até a comunidade pós
exílica. E a menção da tradição P de tal escravização, como um elemento de sua versão
da história do êxodo, provavelmente, deve ser entendida como parte dessa circunstância
histórica.
Mas, como deu para perceber, esta não é uma visão adotada de outras fontes tradicionais
da Torá, como vimos no exemplo da tradição do Sefer Devarim, que tentou “melhorar” a
questão, por dizer que se deveria dar aos escravos o descanso, sendo este o motivo do
Shabat ter sido estabelecido.
Mas, melhores do que isto, foram as palavras de um profeta anônimo, cujo ensino foi
perpetuado no manuscrito de Ieshaiahu, capítulo 58: 6, exigindo da parte dos israelitas,
completa abolição da escravatura:
מֹוטה ְּתנ ֵ ַּֽתקּו
֖ ָ ְׁש ַ ּ֤לח ְרצּוצִ ים֙ חָ ְפ ֔ ִׁשים ְוכָל־
ַ ו
Libertem todos aqueles que foram esmagados, e quebrem todo o jugo.