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Nesta “Cantiga de Amigo”o sujeito poético (uma jovem) expressa a sua grande tristeza pelo

facto do seu namorado (“amigo”) lhe ter enviado um recado (“enviou mandado”) informando-a
de que é obrigado a ir numa expedição militar(“fossado”) para combater contra o inimigo.

Esta informação é importante como documento histórico, pois revela-nos uma característica da
época a nível político: a ida para o “fossado” que corresponderia ao actual serviço militar.

A confidente escolhida pela jovem para os seus desabafos íntimos é a sua mãe(“madre”) que é
informada da intenção da filha de ir fazer uma promessa a Santa Cecília, para que proteja o seu
namorado (“eu a Santa Cecília de coraçon e digo…de coraçon o falo”).

É uma poesia simples onde as mesmas ideias se desenvolvem ao longo das quatro estrofes, com
ligeiras alterações de vocabulário, substituído por sinónimos.

As estrofes são formadas por um dístico (dois versos) seguidos de refrão, o que é uma das
características deste tipo de poesia.

Salienta-se também a utilização de anáforas (repetição de palavras no início dos versos); do


ponto de exclamação, que transmitem a emotividade da jovem, o seu sofrimento amoroso, a
tristeza pela ausência do namorado.

A donzela dá conta à sua mãe da tristeza em que vive desde que o seu amigo lhe mandou dizer
que vai partir para a guerra.
A referência a Santa Cecília que é feita nas duas estrofes finais aparece igualmente nas quatro
cantigas seguintes do jogral, e ainda numa outra, pelo que é possível que as oito composições
que nos chegaram de Martim de Ginzo funcionassem em conjunto, como um ciclo.
"Que soidade de mha senhor ei"

. Assunto: o trovador exprime a saudade e o desespero que sente face à ausência da "senhor", de
tal forma que o levará à morte se não a vir rapidamente.

Temática : a saudade pela "senhor".

Estrutura interna

1.ª parte (vv. 1-6) - O trovador exprime:

- a saudade provocada pela ausência da amada;

- a recordação dela: "qual a vi", "que bem a oí falar", "quanto ben dela sei";

- refrão: o pedido a Deus para a ver.

. 2.ª parte (vv. 7-12) - Consequências de não ver a amada:

- a loucura

ou

- a morte.

. 3.ª parte (vv. 13-20) - Exaltação das qualidades da mulher amada ("non lhi fez par", "fez das
melhores melhor") e confissão da certeza de que morrerá se não vir rapidamente a "senhor"
(dependência total em relação à mulher amada).

1. Forma / Estrutura externa

. Cantiga composta por três estrofes isométricas de 4 versos e um refrão dístico e ainda uma
estrofe final dística, que é a finda.
. Rima - abbaRR;

- interpolada e emparelhada;

- consoante ("ei"/"sei");

- pobre ("ei"/"sei") e rica ("ben"/"ten");

- aguda ou masculina.

. Metro: versos decassílabos.

. Refrão (influência da cantiga de amigo): dístico de versos monórrimos que traduz a ansiedade e
do desejo do trovador de ver a dona, bem como a angústia e o desespero que o dominam.

. Finda: conclusão, remate ou assunto da cantiga. Exprime a certeza da morte se não conseguir
ver a mulher.

. Atafinda: forma de encavalgamento ou de ligação sintáctica e ideológica entre as estrofes. A


ligação é realizada através da repetição de "veer" no fim da estrofe e de "cedo" no início da
seguinte.

. Caracterização da "senhor":

- boas maneiras (fala bem);

- formosa;

- não há outra igual;

- ideal;

- perfeita;

- divinizada;

- altiva, distante, indiferente aos sentimentos do trovador (v. 7);

- inacessível;
- encontra-se ausente.

. Caracterização do trovador:

- recorda a "senhor" com saudade;

- sofre por ela (coita de amor);

- está triste;

- apaixonado;

- suplica a Deus que lhe permita voltar a vê-la;

- enlouquecerá e/ou morrerá se não voltar a vê-la;

- esperançado em voltar a vê-la;

- ansioso;

- desesperado;

- totalmente submetido à "senhor";

- comedido na expressão do sentimento amoroso (mesura);

- sente dor;

- revoltado;

- encontra-se na fase de fenhedor, pois suspira e pede a Deus que lhe permita vê-la.

Recursos poético-estilístico

. Hipérboles: a saudade é tamanha que, se não a vir, enlouquecerá e morrerá:

- "se a non vir, non me posso guardar / d' ensandecer ou morrer con pesar";

o encarecimento da dama - perfeita, ideal, divinizada, a melhor:

- "non lhi fez par";


- "fez das melhores melhor".

. Antíteses: - "mi nunca fez ben" ¹ "ensandecer ou morrer con pesar";

- ver ¹ não ver a dona ¯

vida morte

. Metáforas do "ensandecer" e do morrer de amor.

. Perífrases: o retrato da mulher ideal, perfeita, divinizada, inacessível:

® "ca tal a fez Nostro Senhor:

de quantas outras no mundo son

non lhi fez par";

® "se a non vir, non posso viver" (eufemismo).

. Repetição do verbo "fazer": reforça a ideia da superioridade da dama.

. Gradação na expressão dos sentimentos do trovador: sente saudades ® enlouquece ® morre de


amor.

. Classificação

1. Cantiga de amor: composição poética trovadoresca de carácter lírico, cujo emissor é um


trovador que exprime os seus sentimentos amorosos em relação a uma dama designada
por "mha senhor".
2. O poeta elogia as qualidades invulgares da mulher amada a nível físico, moral e social e
fala do seu sofrimento (coita de amor).

1.1. Formal:

- cantiga de refrão;

- cantiga de finda;

- cantiga de atafinda.

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