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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 25ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA

CAPITAL – RJ

Proc. n.º: XXXXXXXXXXXXXXXXX

ESPÓLIO DE (NOME), já qualificado nos autos do processo em epígrafe,


vem, por sua advogada abaixo assinada, esclarecer para ao final requerer o que se
segue:

Trata-se de ação de cobrança de cota condominial, em fase de execução,


onde o único bem de família de propriedade dos réus foi penhorado para garantia
da dívida compreendida entre 2006 e 2011.

Entretanto, ressalta-se que desde 2011 os débitos


condominiais vêm sendo regularmente quitados.

Ademais, conforme adiante se demonstrará, existe uma enorme


desproporção entre o valor da dívida e o valor executado, contrariando normas
jurídicas constitucionais e infra-constitucionais, senão veja:

Por se tratar, a moradia, de um Direito Fundamental, a referida


ação de cobrança, tal qual a ordem normativa constitucional, deverá ser analisada
por dois aspectos: o aspecto objetivo e o subjetivo.

I) Do Aspecto Objetivo:
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O aspecto objetivo que deu causa à propositura da Ação, muito embora
não seja modificativo dos fatos, é importante esclarecê-lo, com o intuito de que
sejam verificados os fins e os valores constitucionais proclamados no artigo 3º da
Constituição Federal, tornando base e solidificando o direito fundamental adiante
requerido.

A dívida condominial em questão se deu em virtude das dívidas médicas


contraídas pelos filhos do “de cujos”, que, antes de falecer teve 8 (oito) derrames e
necessitou de cuidados especiais inerentes à sua condição, à época.

Antes dos derrames, Exa., houveram outras dívidas médicas, já que a


mãe dos réus desenvolveu um câncer e também necessitou de cuidados médicos
complexos.
Somando os dois casos, foram mais de dez anos de acúmulos de dívidas
em razão dos tratamentos médicos necessários.

Veja que a dívida progrediu, não por falta de vontade dos réus em arcar
com suas dívidas, mas sim por falta REAL de condição financeira.

II) Do Aspecto Subjetivo:

No plano subjetivo, os direitos fundamentais atuam como garantias da


liberdade individual e no caso concreto, deverá atuar como um mecanismo de
perseguir uma sociedade livre, justa e solidária, senão veja:

A moradia, que é um direito social E fundamental subordina-se à regra da


auto-aplicabilidade expressa no §1º do artigo 5º da Constituição Federal.

Apesar da mais que comprovada garantia fundamental, necessário frisar


que os Réus NÃO querem sobrepor à aplicação de um direito fundamental à
autonomia da vontade; querem, apenas, que tais direitos sejam mediatamente,

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indiretamente ou horizontalmente aplicados, de forma norteadora e interpretativa
das cláusulas gerais e dos conceitos indeterminados.

III) Da Desproporcionalidade Entre o Valor do Bem e o Valor Executado – Da


Graduação Legal do art. 655 do CPC:

Considerando, portanto, a garantia constitucional como princípio


fundamental norteador dos direitos dos réus, há, primeiramente de ser ressaltada a
desproporcionalidade entre o valor do bem imóvel e o valor executado.

Na hipótese dos autos, a dívida encontra-se em torno de uns R$


70.000,00 (setenta mil reais) e a pretensão do Autor foi a penhora e a posterior venda em
hasta pública, de um imóvel situado no Leblon, ou seja, local altamente valorizado na
cidade, cujo montante de avaliação irá, em muito, superar a quantia devida ao credor,
revelando-se clara a desproporcionalidade entre o valor da dívida e do bem penhorado.

Dessa forma, mostra-se viável, inicialmente, o respeito à ordem indicada


no artigo 655 do CPC, com o intuito de privilegiar, ao mesmo tempo, o interesse de
satisfação do crédito e o princípio da menor onerosidade disposto ao executado.

Não há dúvidas que o referido artigo 655 não estabelece uma gradação
rígida e obrigatória a ser seguida, mas é certo que, na sua aplicação, o d. julgador deve
atentar para as circunstâncias do caso concreto e ao disposto no artigo 620 do mesmo
diploma legal.

IV) Da Inexistência de Dívidas Vincendas:

A Exma. Sra. Dra. Juiza determinou em sua d. sentença o pagamento das


cotas condominiais vencidas e vincendas desde novembro de 2006. Contudo, há de
ser esclarecido que desde 2011 que os réus vêm pagando pontualmente as cotas

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condominiais, não deixando qualquer mês em atraso, inexistindo, portanto, cotas
vincendas.
O que se pretende demonstrar com tal observação, é a boa-fé e a

lealdade dos réus em adimplir seus débitos, uma vez que vêm mantendo em dia
o pagamento das cotas condominiais.

IV.a) Do Princípio da Solidariedade – Dever de Cooperar (Art. 6º do Novo CPC):

Em audiência de conciliação foi proposto um acordo pelos réus para o


adimplemento de sua dívida condominial, o qual não foi aceito pelo Autor.
Apesar de o mesmo não ser obrigado a aceitar a proposta específica, por
outras vezes, informalmente, foram oferecidas propostas de parcelamento da
dívida, haja vista que os réus não tem como pagá-la integralmente em cota única.

Considerando, contudo, (i) a boa-fé e lealdade dos réus para com o


condomínio, que repita-se: vem pagando em dia suas cotas mensais;
(ii) considerando a vontade dos réus em adimplir o débito; e (iii) considerando a
proporção entre o valor do imóvel e o valor da dívida executada, há de ser
ressaltado o princípio da solidariedade e o dever de cooperação entre as partes.

O Princípio da solidariedade descrito no artigo 3º, inciso I da Constituição


Federal, carrega um caráter axiológico abstrato, ou seja, vai além de uma regra
meramente normativa, pois possui um conteúdo jurídico essencial, pelo qual o
Estado e os cidadãos devem pautar suas ações, sendo, portanto, um princípio
norteador da sociedade brasileira.

Outrossim, o artigo 6º do novo CPC – o qual, apesar de ainda não estar


em vigor, deve ser, no mínimo observado, em virtude de questão meramente
temporal - determina que “ todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si
para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva .”

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Dessa forma, há de ser advertida a falta de cooperatividade

do Autor não somente para com o Réu, mas também com a sociedade
brasileira e com o Poder Judiciário que já teria posto fim a presente causa, que
perdura por quase cinco anos.
Isso porque, em relação ao argumento do Autor, de que a assembleia
condominial não permite acordos, há de ser trazido aos autos o preceituado no P.U.
do artigo 2.035 do Código Civil que determina que “nenhuma convenção
prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. ”

Assim, para a manutenção de uma sociedade livre e justa, os interesses


particulares deverão atender aos interesses sociais, buscando-se no plano concreto
a igualdade real entre as partes contratantes, conferindo certeza e estabilidade às
relações econômicas.

V) Da Necessidade de Audiência Especial de Conciliação:

Desta forma, considerando todo o acima exposto, requer, nesta


oportunidade, designação de Audiência Especial para a tentativa de formalização
de acordo.

Termos em que,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, XX de fevereiro de 20XX.

NOME ADVOGADO
OAB/RJ XXX.XXX

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