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net/publication/301503952
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Adriano Codato
Universidade Federal do Paraná
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State elite and economic bureaucracy: a prosopography of the decision makers and managers of economic instruments within Brazil’s Public Administration View
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All content following this page was uploaded by Adriano Codato on 20 April 2016.
Vice Reitor
Rogério Andrade Mulinari
Conselho Editorial
Cleverson Ribas Carneiro
Cristina Gonçalves Mendonça
Edson Luiz Almeida Tizzot
Emerson Joucoski
Everton Passos
Ida Chapaval Pimentel
Jane Mendes Ferreira
José Carlos Cifuentes Vasquez
José Eduardo Padilha de Souza
Marcia Santos de Menezes
Como estudar elites
Renato Perissinotto
Adriano Codato (orgs.)
® Renato Perissinotto e Adriano Codato (orgs.)
Coordenação Editorial
Lucas Massimo
Revisão
Lucas Massimo e Fernando Leite
Capa
Indústria Inc.
Foto de capa
Renato Perissinotto
ISBN 978-85-8480-038-4
Inclui referências ao final de cada capítulo
Vários autores
CDD 305.5
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Como estudar elites
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Introdução
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Como estudar elites
Renato Perissinotto
Adriano Codato
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1. Metodologias para
a identificação de elites:
três exemplos clássicos
Adriano Codato
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Para ilustrar, mencionamos aqui alguns trabalhos em cada domínio. Para backgrounds
sociais, ver (GÖHLMANN; VAUBEL, 2007; MATTHEWS, 1962). Para estudo de padrões de
carreira na política ver (BORCHERT; ZEISS, 2003; SCHLESINGER, 1966). Sobre valores de
elites, ver (CZUDNOWSKI, 1983; POWER; ZUCCO, 2012; PUTNAM, 1973). Sobre conflitos
intra-elite, ver (CODATO, 2015; HOFFMANN-LANGE; NEUMANN; STEINKEMPER, 1985).
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Como estudar elites
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Metodologias para a identificação de elites
Quadro 1. Poder, influência e processo decisório conforme os métodos posicional, reputacional e decisional
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Dahl fornece uma descrição detalhada do método no apêndice do livro. É preciso calcu-
lar o número de iniciativas ou vetos bem-sucedidos de cada participante em uma decisão
e o número de insucessos. Em seguida deve-se considerar como mais influente o parti-
cipante que tiver a mais alta taxa de sucessos ou tiver a mais alta relação entre os seus
sucessos e o total de suas tentativas. Ver Dahl (1961, p. 331–333).
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Hunter expõe minuciosamente o procedimento da pesquisa no apêndice. Ver Hunter
(1953 Apêndice).
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O DIAP faz entrevistas com os próprios deputados federais e senadores, e também
com os assessores da Câmara e do Senado, jornalistas, cientistas políticos e analistas
de conjuntura.
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Metodologias para a identificação de elites
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Para um panorama desse debate, ver a entrada Community Power Debate na Encyclo-
pedia of Power (DOWDING, 2011, p. 122–126).
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3. O método posicional
De acordo com Wright Mills (1956), os membros da elite são aqueles que
“ocupam as posições estratégicas de comando da estrutura social”. Essas
posições, por sua vez, são estratégicas porque controlam “as principais hie-
rarquias e organizações da sociedade moderna”: o aparelho do Estado, as
forças armadas e as grandes empresas capitalistas.
Em que pese a tautologia embutida na definição de quem é a elite, di-
zemos que esta é uma definição “posicional”, uma vez que a elite é discri-
minada em função das posições de comando que ela ocupa. Essas posições
são “institucionais”, isto é, para fazer parte da elite não é suficiente ocu-
par posições informais de mando, mas formais, nas principais instituições
econômicas, políticas e militares de uma dada sociedade. Escreve Mills: “A
riqueza não se centraliza na pessoa do rico. A celebridade não é inerente
a toda e qualquer personalidade. Ser célebre, ser rico, ter poder, exige o
acesso às principais instituições, pois [são] as posições institucionais [que]
determinam em grande parte as oportunidades de ter e conservar essas ex-
periências a que se atribui tanto valor” (MILLS, 1956 capítulo 1).
Isso posto – a elite é aquele grupo social que ocupa, controla e comanda
as principais instituições de uma comunidade –, poderíamos formular, a
partir de Mills, seguindo os passos do seu livro, uma lista de procedimentos
“metodológicos” para os estudiosos dos grupos dirigentes.
Em primeiro lugar, é preciso se perguntar: quais são as instituições mais
importantes de uma sociedade determinada? Sociedades são históricas,
isto é, suas características variam ao longo do tempo (e também geografica-
mente, frise-se). Assim, não há “a” instituição ou “a” organização que con-
centra desde sempre todos os meios de poder. Em segundo lugar, uma vez
determinada a ou as instituições principais, é preciso descrever seus traços
fundamentais: seu poder é abrangente ou não, ou seja, afeta muitas áreas
da vida em comum ou da vida de indivíduos?; essas instituições exercem o
poder em regime de monopólio, oligopólio ou são concorrentes?
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Como estudar elites
munidade de interesses afins entre eles que devem ser perseguidos pelo gru-
po; e iii) unidade de “ação”: a proximidade entre os interesses perseguidos
pelas cúpulas das instituições centrais de uma comunidade pode produzir
uma ação coordenada entre elas a fim de atingirem mais facilmente seus
fins (MILLS, 1956 capítulo 1).
Essas etapas aqui descritas resumidamente foram pensadas por Wright Mills
para analisar uma sociedade. Podemos, entretanto, adaptá-las para uma insti-
tuição em particular. Por exemplo, se estudamos o Parlamento de um deter-
minado país, as mesmas questões se colocam. De saída: quem manda?; ou por
outra, quem é a elite do Legislativo nacional? Devemos assim buscar nas insti-
tuições formalmente descritas como sedes do poder essa resposta. Poderíamos
dizer: o presidente e todos os indivíduos que ocupam a mesa diretora da Casa.
A partir daí todos aqueles passos descritos acima precisariam ser dados: qual é
tipo de poder desse grupo e como ele é exercido; saber se esses indivíduos for-
mam um grupo coeso; que recursos eles conseguem mobilizar para chegarem
e se manterem nessa posição de “elite da elite” política; quais são as caracterís-
ticas desses indivíduos; qual o seu tamanho e o que os mantém unidos.
4. O método decisional
O método posicional para identificar qual é o grupo de elite é bastante in-
tuitivo e de fácil operacionalização. A elite é aquela que controla posições
formais de mando numa dada sociedade ou organização.
Mas o método posicional falha em três raciocínios básicos. Primeiro, as-
sume que quem controla as posições formais de mando possui, por isso,
a capacidade efetiva de tomar as decisões mais importantes para uma so-
ciedade ou organização, o que nem sempre é correto. Segundo, não leva
suficientemente em conta aqueles que têm o poder de impedir que certas
iniciativas de determinados grupos sejam transformadas em demandas; ou
impedir que essas demandas se tornem questões políticas e, a partir daí,
objeto de deliberação pelos governos; ou que, uma vez deliberadas, cer-
tas decisões sejam implementadas. E, terceiro, que só é possível saber se
um grupo de elite é elite e manda de fato, tem poder, estudando o ciclo do
processo decisório. É, segundo Robert Dahl, através da análise de decisões
concretas de governo que se pode determinar quem, efetivamente, possui a
capacidade de influenciar as decisões públicas. Este é o método decisional.
Os princípios do método decisional foram sistematizado por Dahl num
célebre artigo publicado na American Political Science Review em fins dos
anos cinquenta (1958). De acordo com ele, para se determinar quem gover-
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Metodologias para a identificação de elites
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Tradução: “através de um exame de uma série de casos concretos onde são tomadas
decisões importantes: decisões sobre tributação e gastos, subsídios, programas de bem-
-estar social, política militar, e assim por diante”.
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5. O método reputacional
O método reputacional, como mencionamos mais acima, foi utilizado por
Floyd Hunter em Community Power Structure: A Study of Decision Makers
(1953). O livro conduziu os estudos sobre governo a um novo patamar ao
tentar compreender o jogo político olhando para grupos sociais específicos
de uma comunidade específica. Community Power Structure é uma pesquisa
monográfica sobre Atlanta, uma cidade média, à época com 500 mil pessoas,
no estado da Georgia, EUA. Hunter recupera e amplia os estudos políticos
de comunidades na tradição de Democracy in Jonesville (1949), de William
Lloyd Warner (STRONG, 1954). Trata-se de uma análise empírica sobre o que
é o poder, os tipos de poder que existem e como ele está distribuído entre os
grupos minoritários. Sua motivação é encontrar onde está, ou quem detém,
melhor dizendo, o “real power” por detrás do “formal power”.
Community Power Structure mostrou que o poder nos Estados Unidos
nos anos 1950 numa “regional city” estava concentrado – e não disperso
em múltiplos grupos de interesse que concorriam entre si. Além disso,
mostrou que se ele era gerido a partir da prefeitura municipal (adminis-
tration), não era ali que era produzido (policy). Esse poder estava reuni-
do nas mãos de uma pequena elite – top leaders –, formada por homens,
brancos, na sua maioria empresários de negócios e bancos, que estavam
interconectados, e as decisões que realmente importavam eram tomadas
no Piedmont Country Club. Nesse sentido, as análises de Hunter irão evi-
denciar que onde se decidem as coisas fundamentais, raramente (ou qua-
se nunca) são os comitês burocráticos, escritórios políticos ou repartições
administrativas formalmente designadas para tanto.
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Hunter também entrevistou 34 líderes da comunidade negra e 14 assistentes sociais e
planejadores urbanos. Fez a eles a maioria das perguntas que ele tinha feito aos princi-
pais líderes da comunidade. A partir desse grupo de controle, ele foi capaz de precisar
as informações que possuía sobre as relações econômicas, políticas e pessoais entre os
poderosos (DOMHOFF, 2005).
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<http://www.encyclopedia.com/topic/Floyd_Hunter.aspx>. Acesso em: 2 set. 2015.
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Conclusões
Todos esses três métodos não se diferenciam entre si em um postulado. O
“poder” é sempre entendido aqui como “capacidade de tomar decisões”
(ou como a competência para influenciar aqueles que têm, formalmen-
te, a função política de tomá-las: prefeitos, burocratas, gestores, etc.). O
objetivo essencial desses três autores foi estabelecer um método onde se
pode provar que um grupo tem poder ou tem mais poder do que outros,
já que essa é uma medida relacional. Nesse sentido, toda a discussão se
concentra em torno da definição dos indicadores empíricos que serão
utilizados para testar se um determinado grupo – que pode ser político,
econômico, social, etc. – detém ou não poder e o quanto poder ele de-
tém. Mas esses procedimentos não permitem identificar quem impede
que decisões públicas sejam tomadas (embora os procedimentos descri-
tos por Floyd Hunter tenham um bom potencial para isso); nem quem
se beneficia das decisões dos governos. Assim, não devemos pedir mais
do que eles podem nos oferecer, por exemplo uma teoria política sobre o
mundo social. No entanto, há uma dificuldade maior e mais importante:
o que esses métodos não discutem é o que poderíamos chamar de os fun-
damentos estruturais do poder.
As condições de acesso a postos de elite, isto é, as colocações privile-
giadas numa comunidade, o controle desigual de recursos (econômicos,
políticos, ideológicos), e o grau variável de influência de certos grupos
sociais estão, conforme o postulado dos marxistas, condicionados funda-
mentalmente, ainda que não exclusivamente, por seu lugar na estrutura
social (OFFE; WIESENTHAL, 1984). Grupos – frações de classe, camadas
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Ver sobre esse ponto a crítica de Dahl (1960) ao livro de Hunter (1959) sobre os EUA.
O método reputacional se assemelha com a técnica de construção de amostragens
snowball (“cadeia de informantes”). Ela consiste em descobrir, para o caso de popula-
ções pouco acessíveis, quem são os seus integrantes a partir de indicações sucessivas
dos seus membros (‘Discovering new influential individuals by asking others’). Ver para
mais detalhes Goodman (1961).
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Para a expressão, ver Tarrow (1994).
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Referências
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Sobre os autores
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