Você está na página 1de 11

Pediatria artigo6.

qxd 05/03/08 10:52 Page 275

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

■ REVISÕES E ENSAIOS 275

Dislipidemias na infância e na adolescência


Dyslipidemia in childhood and adolescence

Dislipidemia en la infancia y adolescencia

Isabela de Carlos Back Giuliano1, Bruno Caramelli2


Unidade de Medicina Interdisciplinar do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP)
1
Doutora em Ciências. Responsável pelo ambulatório de Cardiologia Pediátrica
Preventiva do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Florianópolis, SC
2
Professor-associado do Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP
e Diretor da UMIC – InCor, São Paulo, SP

Resumo tos dependem da intensidade dessas alterações e


de fatores clínicos do paciente.
Objetivo: avaliar a epidemiologia, importância
clínica, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento Descritores: Dislipidemias. Lípideos. Ateroscle-
das dislipidemias na infância e na adolescência. rose. Fatores de risco. Adolescente. Criança.
Fontes pesquisadas: foram selecionados artigos
originais e diretrizes nas bases de dados MEDLI- Abstract
NE, SciELO e LILACS entre os anos de 1996 e
2007, bem como artigos relevantes de anos ante- Objective: to evaluate the epidemiology, clinical
riores, com as palavras-chave: lípides (lipids) e relevance, physiopathology, diagnosis and treatment
criança (child) ou adolescente (adolescent). Sín- of dyslipidemia in childhood and adolescence. Data
tese dos dados: foram definidos, para crianças e sources: original papers and guidelines were select-
adolescentes, valores ideais de colesterol total ed from MEDLINE, SciELO and LILACS databases
(CT <150 mg/dL), LDL-colesterol (< 100 mg/dL), between 1996 and 2007, as well as other ones rele-
triglicérides (< 100 mg/dL) e HDL-colesterol (> vant articles published previously, with the key-
45 mg/dL). A dislipidemia teve aumento de inci- words: lipids and child or adolescent. Data synthe-
dência nos últimos anos e constitui o maior fator sis: desirable values for total cholesterol (< 150
de risco para a progressão da aterosclerose desde mg/dL), LDL-cholesterol (< 100 mg/dL), triglyceri-
a infância. A obesidade é a principal causa deter- des (< 100 mg/dL), and HDL-cholesterol (> 45
minante, porém outras doenças e medicamentos mg/dL) were established. Dyslipidemia prevalence
podem causar hiperlipidemia. O tratamento é ba- has increased in the last years and is recognized as
seado em adequação da dieta, atividade física e the bigger risk factor on atherosclerosis progression
controle do peso; eventualmente, podem ser utili- and cardiovascular disease, beginning since child-
zados medicamentos como estatinas, resinas, eze- hood. Obesity, other diseases and drugs may disturb
timiba e fibratos. Conclusão: a dislipidemia deve the lipid metabolism at this age bracket, determining
ser avaliada aos dez anos de idade, ou antes quan- a pro-atherogenic state. The treatment includes diet
do houver histórico familiar ou pessoal de risco adaptation, physical activity and weight control, and
de hiperlipidemia. O CT superior a 150 mg/dL in some cases drugs prescription – statins, resins,
e/ou o LDL acima de 100 mg/dL, em duas amos- ezetimibe and fibrates. Conclusion: in every child,
tras, determinam a necessidade de seguimento. dyslipidemia should be evaluated at ten years age
O tipo de dieta e o eventual uso de medicamen- and sooner when a personal or familial history risk
for hiperlipidemia is present. The CT above 150
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 276

PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):275-285

276 mg/dL and/or the LDL-C above 100 mg/dL, in two perior a 200 mg/dL1. No Brasil, a prevalência si-
samples, determine treatment beginning. The diet tua-se entre 28 e 40% das crianças e adolescentes,
specificity and the medication are prescribed upon quando o critério adotado é o CT sérico superior
the hyperlipidemia severity and the patients’ clinical a 170 mg/dL2-4. Essa prevalência, porém, está su-
profile. bestimada, uma vez que a III Diretriz Brasileira de
Prevenção da Aterosclerose estabelece que o va-
Keywords: Dyslipidemias. Lipids. Atherosclerosis. lor máximo da normalidade é 150 mg/dL5.
Risk factors. Adolescent. Child A importância da dislipidemia em adultos está
bem estabelecida pela associação causal com a
Resumen aterogênese; reconhecida a aterosclerose como
doença vascular inflamatória crônica que determi-
Objetivo: evaluar la epidemiología, importancia na a ocorrência das doenças cardiovasculares. Na
clínica, fisiopatología, diagnostico y tratamiento de última década, a importância da dislipidemia es-
las dislipidemias en la infancia y adolescencia. tendeu-se à faixa pediátrica, quando o início da
Fuentes pesquisadas: fueron seleccionados artícu- seqüência fisiopatogênica descrita anteriormente
los originales y directrices en las bases de datos passou a ser verificado desde tenra idade. Adicio-
MEDLINE, SciELO y LILACS, con los descriptores: nalmente, também na criança, a intensidade, a ex-
lípidos y niño o adolescente. Síntesis de los datos: tensão e a prevalência da aterosclerose parecem
fueran establecidos los valores ideales de colesterol estar relacionadas à ocorrência e à gravidade dos
total (< 150 mg/dL), LDL-colesterol (< 100 fatores de risco cardiovasculares descritos tradi-
mg/dL), triglicéridos (< 100 mg/dL) y HDL-coles- cionalmente em adultos. O fator de maior influên-
terol (> 45 mg/dL). La prevalencia de la dislipide- cia na aceleração da progressão da aterosclerose é
mia se ha aumentado en los últimos años asi como a dislipidemia, especialmente quando os níveis de
su importancia, con lo reconocimiento de que es lo colesterol total (CT), LDL-colesterol (LDL-C) e
mayor factor de riesgo para la progresión de ateros- triglicérides (TG) estão elevados e a concentração
clerose, desde la infancia. La obesidad, otras enfer- de HDL-colesterol (HDL-C) está reduzida6,7.
medades y medicamentos pueden cambiar el meta- Há várias evidências da importância da hiper-
bolismo de los lípidos en esta faja de edad, lipidemia para a ocorrência de aterogênese na
determinando la hiperlipidemia y un estado pro- criança e no adolescente. Estudos experimentais
aterogênico. La terapéutica incluye la dieta, activi- mostram, inicialmente, a infiltração de lípides e
dad física y control del peso corporal, eventualmen- de proteoglicanos na camada íntima dos vasos e,
te se puede utilizar medicamentos como estatinas, posteriormente, infiltração de macrófagos e for-
resinas, ezetimiba y fibratos. Conclusión: la disli- mação de células espumosas8. Na gestante, a hi-
pidemia debe ser evaluada a los diez años de edad, perlipemia pode determinar a formação de es-
o antes, cuando hay factores de riesgo de hiperlipi- trias gordurosas vasculares nos fetos. A presença
demia familiar o personal en el histórico. El CT su- de placas ateromatosas na segunda década de
perior a 150 mg/dL y/o el LDL arriba de 100 vida é freqüente em algumas populações com hi-
mg/dL, en dos amostras, determina la necesidad de perlipidemia, sendo verificadas em necrópsias.
seguimiento del caso. La dieta y eventualmente lo Outras evidências podem ser observadas em pa-
uso de medicamentos depende de la gravedad de la cientes hiperlipêmicos, tanto pelo aumento da
hyperlipidemia y de aspectos clínicos del paciente. espessura médio-intimal arterial à ultra-sonogra-
fia, quanto pela verificação de disfunção endote-
Palabras clave: Dislipidemias. Lípidos. Ateroscle- lial, especialmente em crianças com elevado ní-
rosis. Factores de riesgo. Adolescente. Niño. vel de LDL-colesterol. Nesses pacientes, a
disfunção endotelial é caracterizada por maiores
Introdução níveis de marcadores séricos, como as moléculas
de adesão intercelular (ICAM) e da célula vascu-
A prevalência de dislipidemia em crianças e lar (VCAM). Além disso, também estão aumen-
adolescentes varia no mundo todo entre 2,9 e tadas as concentrações de mediadores inflamató-
33%, adotado o nível de colesterol total (CT) su- rios, como a interleucina 18 e a proteína C
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 277

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

reativa de alta sensibilidade, verificando-se, por- A dislipidemia e a associação com outras 277
tanto, um perfil sugestivo de estado inflamatório doenças
subclínico, característico do processo da ateros-
clerose. Essas alterações parecem ser potenciali- A dislipidemia pode ser um evento primário,
zadas pela obesidade, em decorrência do siner- mas, freqüentemente, é secundária à obesidade
gismo do efeito inflamatório da dislipidemia e do infantil. Nesse caso, ocorrem geralmente níveis
aumento da relação entre leptina e adiponectina. elevados de CT, TGC e LDL-C, sendo mais preva-
Todos esses achados sugerem que haja uma ace- lentes as subclasses de colesterol com menor ta-
leração da aterosclerose na adolescência, tanto manho molecular, mais aterogênicas, e níveis re-
mais grave quanto mais desfavorável o perfil li- duzidos de HDL-C12.
pídico e maior o número de outros fatores de ris- Nas crianças com diabetes melito, não são en-
co cardiovasculares associados9. contradas alterações significativas em relação ao
A dislipidemia pode se iniciar na infância e CT ou às lipoproteínas LDL-C, HDL-C e TGC.
manter a característica durante o crescimento e Contudo, são constatadas elevações dos níveis de
desenvolvimento – comportamento denominado LpA-I e de HDL-C glicado e diminuição da relação
fenômeno de trilha, mais freqüente em famílias LpA-I:LpA-II, o que confere a essas crianças um
com história de aterosclerose precoce ou de dis- perfil metabólico mais aterogênico, em relação às
lipidemia10. Esses pacientes apresentam, na vida que portam distúrbios do CT13. Na Tabela 1, são
adulta, maiores espessuras da camada média e descritas as doenças associadas aos distúrbios do
íntima das artérias e mostram que a dislipidemia metabolismo dos lípides e, na Tabela 2, estão con-
isolada na infância pode influir na velocidade de tidos produtos e drogas que podem determinar al-
instalação da aterosclerose11. teração no perfil lipídico.

Tabela 1. Principais doenças que cursam com dislipidemia na criança14-17


Doenças hepáticas Atresia biliar congênita, colestases crônicas
Doenças endócrinas Deficiência de hormônio do crescimento, diabetes melito, hipopituitarismo, hipotireoidismo
Doenças renais Insuficiência renal crônica, síndrome nefrótica
Doenças hereditárias Obesidade, doenças metabólicas de depósito, síndrome dos ovários policísticos, síndrome
de Prader-Willi
Doenças graves Leucemia aguda, lúpus eritematoso sistêmico, infecções graves, Aids, transplantes de
sistêmicas órgãos sólidos

Tabela 2. Drogas e nutrientes que mais comumente alteram o perfil lipídico18-23


Classe de drogas Substâncias
Anticonvulsivantes Ácido valpróico, carbamazepina
Anti-hipertensivos Betabloqueadores, clortalidona, espironolactona, tiazidas
Drogas lícitas Álcool, tabagismo primário ou passivo
Esteróides sexuais Contraceptivos orais, estrógenos, progestágenos
Imunossupressores Ciclosporina, prednisona, prednisolona
Dieta Dieta cetogênica, nutrição parenteral
Outros Ácido acetilsalicílico, ácido ascórbico, alopurinol, amiodarona, asparaginase, inibidores de
protease, hemodiálise
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 278

PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):275-285

278 Diagnóstico de dislipidemia Conduta na dislipidemia durante


a infância e a adolescência
Segundo a I Diretriz Brasileira para a Preven-
ção da Aterosclerose na Infância e na Adolescên- Desde a década de 1950, especula-se sobre a
cia24, deve-se solicitar perfil lipídico para crian- exeqüibilidade e a segurança do tratamento da
das de 2 a 10 anos de idade quando houver: dislipidemia na criança, especialmente em nível
populacional. A situação é complexa e difere dos
● pais ou avós com história de aterosclerose adultos, pois a utilização de dietas restritivas
precoce; pode interferir no crescimento, no desenvolvi-
● parentes de primeiro grau com valores de mento e na qualidade de vida da criança. Sendo
colesterol total 240 mg/dL e de triglicérides assim, o tratamento é restrito às crianças consi-
400 mg/dL; deradas de alto risco, para as quais sugere-se o
● outros fatores de risco, como diabetes melito, acompanhamento por equipe interdisciplinar
infecção pelo HIV, síndrome nefrótico e lúpus habilitada27-31. Isso é importante em qualquer lu-
eritematoso sistêmico; gar, mas especialmente em países em desenvolvi-
● história positiva de pancreatite aguda, xantomas mento, como o Brasil, em que convivem crianças
eruptivos, arco corneano palpebral, xantomas com sobrepeso e desnutridas, muitas vezes com
em tornozelos, face dorsal das mãos e joelhos; deficiência de ferro, cálcio e vitaminas lipossolú-
● história familiar desconhecida. veis. Os estudos têm mostrado segurança no tra-
tamento, desde que a monitoração seja feita de
Além das situações anteriormente descritas, forma adequada, respeitando as necessidades
todas as crianças devem ter determinados seus inerentes ao crescimento e o desenvolvimento
níveis de colesterol total em jejum aos 10 anos das crianças dislipidêmicas.
de idade. A triagem na faixa pediátrica é impor- Inicialmente, uma vez verificada a ocorrência
tante, pois a monitoração em saúde é feita prefe- de hipercolesterolemia, deve-se avaliar a possibi-
rencialmente na criança e é, ainda, reduzida a lidade de a mesma ser secundária. A principal
triagem nos adultos quanto ao seu perfil lipídico. causa associada é a obesidade, seguida de outras
Além disso, é mais fácil obter os dados de hiper- menos freqüentes, como diabetes melito, infec-
lipidemia familiar na presença de pais e avós24. ção pelo HIV, síndrome nefrótica e lúpus erite-
Para a avaliação dos resultados do perfil lipídi- matoso sistêmico. Quando há tendência à hiper-
co, são considerados os valores de referência des-
lipidemia hereditária, torna-se recomendável a
critos na Tabela 3. Usualmente, utiliza-se a fór-
triagem lipídica dos familiares de 1º grau.
mula de Friedewald para o cálculo de LDL-C25.
A triagem das crianças para hiperlipidemia
Em crianças ou adolescentes com diabetes melito
está sumarizada na Figura 1, bem como a se-
ou hipertrigliceridemia (acima de 400 mg/dL), o
qüência das condutas possíveis, que abrangem
LDL-C deve ser determinado diretamente26.
desde a recomendação de hábitos adequados e
de exercícios, até dietas especiais e o uso de dro-
Fórmula de Friedewald
gas. Essas medidas são detalhadas na seqüência e
LDL-C = CT – (HDL + TG/5)
têm sido sistematizadas em consensos.

Tabela 3. Valores de referência para lípides em crianças e adolescentes24


Lípides Desejável (mg/dL) Limítrofe (mg/dL) Aumentado (mg/dL)
CT < 150 150 a 169 ≥ 170
LDL-C < 100 100 a 129 ≥ 130
HDL-C ≥ 45 – –
TG < 100 100 a 129 ≥ 130

CT = colesterol total; HDL-C = HDL-colesterol; LDL-C = LDL-colesterol; TG = triglicérides;


VLDL-C = VLDL-colesterol.
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 279

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

rapia para a dislipidemia na criança, há a neces- 279


Na Figura 1, observa-se os principais parâ-
metros para a tomada de decisões frente à hiper- sidade de estimar o risco cardiovascular global
lipidemia. A idade e as condições de saúde do do paciente, determinando o número de fatores
paciente, bem como o histórico familiar de hi- de risco associados. Deve-se aferir dieta, ativida-
percolesterolemia e doença cardiovascular, de- de física, pressão arterial, índice de massa corpo-
terminam a idade da triagem inicial do colesterol ral, perímetro abdominal, tolerância à glicose e
total. A criança é triada antes dos 10 anos de ida- tabagismo primário ou passivo32-37. Frente a es-
de quando há doença hiperlipemiante no pacien- ses parâmetros, há casos em que apenas se obser-
te ou hipercolesterolemia e/ou doença cardiovas- va a evolução, apesar do CT aumentado, desde
cular precoce nos familiares. Exceto nesses que o LDL-C seja inferior a 100 mg/dL e não es-
casos, a triagem é realizada rotineiramente so- tejam presentes fatores de risco; outras vezes são
mente aos 10 anos de idade. Sempre que os valo- preconizadas dietas de tipo I ou II (posterior-
res forem superiores a 150 mg/dL de CT, deve-se mente descritas) ou mesmo o uso de hipolipe-
repetir a dosagem e obter a média de duas dosa- miantes. A recomendação dietética é sempre rea-
gens diferentes do LDL-colesterol. Como obser- lizada, pois constitui profilaxia e tratamento da
vado na Figura 1, o nível de LDL-C e os fatores hiperlipidemia e, em conjunto com as atividades
de risco familiares para a tomada de decisões de físicas, recebe a denominação de estilo de vida
conduta são decisivos37. Antes de programar a te- saudável na Figura 1.

Criança < 10 anos com CT


acima de 240 ou
criança > 10 anos

CT < 150 CT 150-170 CT > 170

Repetir CT Criança com HF+ para


doença cardiovascular
prematura

CT < 150 CT 150-170

Medida de 2
EV saudável perfis lipídicos

LDL-C LDL-C LDL-C LDL-C > 160 LDL-C


< 100 100-129 < 130 e ICO precoce > 190
ou FR

EV saudável Dieta tipo I Dieta tipo II


Dieta tipo II e hipolipemiantes
dosar em 5a dosar em 1a dosar em 2a

CT = colesterol total; LDL-C = LDL-colesterol; FR = fator de risco; HF+ = história familiar.

Figura 1. Algoritmo de diagnóstico e conduta na dislipidemia na criança e no adolescente.


Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 280

PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):275-285

280 Dieta A I Diretriz Brasileira de Prevenção da Ateroscle-


rose na Infância e na Adolescência preconizou,
A profilaxia da hiperlipidemia deve ter início diferentemente de outras diretrizes internacio-
desde o nascimento, com a recomendação da nais, que essa dieta deve ser avaliada quanto à
amamentação do lactente. O leite materno é rico viabilidade mesmo quando preenchidos esses cri-
em gorduras saturadas, porém o perfil lipídico térios, pois em regiões carentes os lacticínios ain-
dos adolescentes que foram amamentados ao da são a única fonte de vitaminas lipossolúveis.
seio é melhor que o dos adolescentes alimenta- A dieta tipo II é mais restritiva, fornece até 20%
dos com leite de vaca. Aparentemente, os níveis das calorias na forma de gorduras, contém até 7%
mais elevados de colesterol nos amamentados de gorduras saturadas e colesterol até 60 mg/1.000
pode induzir à regulação endógena do metabo- calorias (máximo 200 mg/dia), sendo indicada
lismo dos lípides ao longo da vida38. As crianças quando o CT estiver acima de 150 mg/dL e o LDL-
amamentadas têm menor possibilidade de inge- C acima de 130 mg/dL.
rir dietas hipercalóricas, reduzindo o risco de Em crianças, alguns estudos têm mostrado
obesidade e de hiperlipidemia. Deve haver orien- que a alimentação com grande quantidade de
tação aos lactentes obesos e/ou hiperlipêmicos, açúcar e de ácidos graxos saturados e poliinsatu-
porém, não é realizada restrição dietética nos rados pode resultar em baixos níveis plasmáticos
dois primeiros anos de vida, pois a ingestão de de HDL-colesterol. Todavia, não está bem deter-
gorduras nessa fase é fundamental para a mieli- minado se a diminuição da ingestão desses ali-
nização do sistema nervoso central37. mentos por crianças com reduzido nível desse
A partir dos 2 anos de idade, os hiperlipêmi- colesterol, protetor vascular, poderia elevar o ní-
cos devem receber orientação alimentar qualita- vel plasmático de HDL-colesterol42,43.
tivamente adequada e com restrição moderada
Atividade física
de gorduras, o que pode determinar a diminui-
ção dos níveis de colesterol sérico, sem prejuízo
Não há consenso sobre a diminuição dos ní-
do crescimento e do desenvolvimento da crian-
veis de CT e LDL-C com a prática esportiva, mas
ça. A quantidade diária de gordura total na dieta
a semelhança das recomendações para adultos é
das crianças deve estar entre 25 e 35% do total
indicada tanto na prevenção quanto no trata-
calórico consumido, sendo até 10% do tipo satu-
mento coadjuvante das dislipidemias na criança
rada, até 10% poliinsaturada e até 20% monoin-
e no adolescente44. A atividade física regular
saturada. O consumo dos ácidos graxos trans
pode propiciar a melhora da obesidade infantil e,
deve ser inferior a 1% do total energético diário.
secundariamente, o controle da dislipidemia. Os
Em relação ao colesterol, a ingestão alimentar estudos populacionais mostram que o sedenta-
não deve ultrapassar 100 mg por 1.000 calorias rismo infantil é a causa mais importante da epi-
ao dia, com ingestão máxima de 300 mg por demia mundial de obesidade nessa faixa etária,
dia39;40. Para o cálculo da quantidade de fibras na que determinou o aumento da prevalência de
infância, deve ser utilizada a seguinte fórmula41: dislipidemia em todo o mundo45.
Os pacientes pediátricos dislipidêmicos que
Quantidade de fibras (g) = têm maior benefício com a atividade física são
idade (em gramas) + 5 aqueles com síndrome metabólica. Nesses, há di-
minuição significante dos níveis de CT, LDL, TG
Nos casos de hipercolesterolemia com CT su- e da relação CT/HDL após curto período de ati-
perior a 150 mg/dL e LDL-C superior a 100 vidade supervisionada – duas semanas, mesmo
mg/dL, são recomendadas dietas mais restritivas. antes de haver diminuição do índice de massa
Existem duas opções de dieta utilizáveis segundo corporal. Adicionalmente, há melhora da tole-
a situação clínica, denominadas dieta tipo I e II. rância à glicose e a diminuição dos níveis tensio-
A dieta tipo I deve fornecer diariamente até nais46. Atualmente, recomenda-se uma hora por
30% das calorias na forma de gorduras, até 10% dia de atividade física moderada a intensa para a
de gorduras saturadas e colesterol até 100 criança hiperlipêmica. Simultaneamente, deve
mg/1.000 calorias (máximo 300 mg/dia). É reco- haver redução para, no máximo, duas horas/dia
mendada quando o colesterol total estiver acima de atividades sedentárias, como televisão, jogos
de 150 mg/dL e o LDL-C entre 100 e 130 mg/dL. eletrônicos e computador37.
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 281

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

Tratamento farmacológico As estatinas são utilizadas, quando possível, 281


nas dislipidemias na infância para pacientes com idade superior a 10 anos e
após a menarca. A utilização dessas drogas deve
Como observado na Figura 1, o uso de drogas ser cautelosa, em baixa dose, com atenção para
hipolipemiantes é preconizado para casos com efeitos adversos musculares e hepáticos e terato-
LDL-C acima de 190 mg, com níveis superiores a gênese nas adolescentes60. A dosagem é ajustada
160 mg/dL e fatores de risco presentes. Na I Dire- individualmente, de acordo com os efeitos ad-
triz Brasileira de Prevenção da Aterosclerose na versos e a eficácia na redução do LDL-C. A utili-
Infância e na Adolescência, é recomendado o tra- zação das estatinas é detalhada na Figura 2.
tamento medicamentoso com níveis de LDL-C Para os pacientes em uso de anti-retrovirais,
acima de 130 mg/dL, quando há diabetes melito, dá-se preferência à pravastatina, por apresentar
infecção pelo HIV, síndrome nefrótica e lúpus eri- menor interação medicamentosa com as outras
tematoso sistêmico. A presença de outros fatores drogas.
de risco tem sido considerada na terapêutica – ní- A Tabela 3 descreve os efeitos favoráveis e
veis elevados de lipoproteína A, homocisteína e adversos das principais drogas hipolipemian-
proteína C reativa. Nessas circunstâncias e frente tes que podem ser utilizadas para crianças e
a níveis de LDL-colesterol acima de 160 mg/dL, adolescentes.
segundo alguns autores24, podem ser utilizados
hipolipemiantes em crianças. Conclusão
As drogas disponíveis para utilização na disli-
pidemia da criança e do adolescente estão conti- A dislipidemia deve ser avaliada aos 10 anos
das na Tabela 4. de idade ou antes, quando houver histórico pes-
Quando são preenchidos os critérios para uso soal de doença hiperlipemiante ou histórico fa-
de hipolipemiante (ver Figura 1), há preferência miliar de doença cardiovascular e dislipidemia.
pelo uso de estatinas devido a facilidade e efi- O CT superior a 150 mg/dL e o LDL acima de
ciência. Os fibratos são indicados quando há ní- 100 mg/dL, em duas amostras, determinam a ne-
veis persistentemente elevados acima de 350 cessidade de seguimento. O tipo de dieta e o
mg/dL ou valores isolados acima de 700 mg/dL. eventual uso de medicamentos dependem da in-
O ezetimiba pode ser utilizado como co-adju- tensidade dessas alterações e de fatores clínicos
vante das estatinas e das resinas de troca56-59. do paciente.

Tabela 4. Drogas utilizadas na infância para tratamento de dislipidemia47-55


Tipo de droga Mecanismo Efeitos Drogas (dose diária) Toxicidade
Inibidores da Inibem a síntese ↓ LDL-C Atorvastatina (10 a 20 mg), Hepática, muscular
HMG-CoA do colesterol e TG, fluvastatina (10 a 80 mg),
redutase ↑ HDL-C lovastatina (10 a 40 mg),
(estatinas) pravastatina (5 a 40 mg),
rosuvastatina (5 a 40 mg),
sinvastatina (10 a 40 mg)
Resinas de troca Ligam-se aos ácidos ↓ LDL-C Colestiramina (4 a 16 g), Gastrintestinal,
biliares, interrompendo e TG colestipol (2 a 12 g) deficiência de
recirculação vitaminas lipossolúveis
entero-hepática
Fibratos Inibem a síntese ↓ TG e Fenofibrato, bezafibrato Gastrintestinal,
de VLDL-C HDL-C (200 a 600 mg) hematológica, muscular
Inibidor da ↓ absorção intestinal ↑ LDL-C Ezetimiba (10 mg) Gastrintestinal,
absorção de de colesterol muscular
colesterol e fitoesteróis
Nutracêuticos Melhoram a função ↓ Discreta Ômega 3 (2 a 4 g) Piora da
endotelial dos TG sitosterolemia
Antioxidantes Melhoram a função ↓ PCRas Vit C (40 a 120 mg) Alergia
endotelial e LDLox e E (4 a 19 mg)
HDL-C = HDL-colesterol; HMG-CoA = 3-hidroxi-3-metil-glutaril-coenzima-A; LDL-C = LDL-colesterol;
LDLox = LDL-colesterol oxidado; TG = triglicérides; VLDL-C = VLDL-colesterol; Vit = vitamina
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 282

PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):275-285

282
Critério de uso dos hipolipemiantes

Idade de início depende do Idealmente acima de 10


número e da magnitude de outros anos e após a menarca
FR ou xantomas

Observar a interação com


ciclosporina, fibratos, niacina, Início com < dose, 1x/dia; Orientação sobre o risco
eritromicina, antifúngicos, in- dosagem de CK, TGO e TGP de teratogênese
ibidores de protease

Mialgia? CK?

Cessar uso Reutilizar após resolução

4 semanas

Risco
CK > 10x/basal Mínimo LDL-C < 130
Lípides, TGO, TGP
TGO/TGP > 3x/basal Ideal < 100

Alteração de enzimas Alvo atingido Alvo não atingido

Cessar uso e monitoração Monitoração em Dobrar a dose e


em 2 sem (pré-requisito) 8 sem e 3/3 meses exames em 4 sem

CK = creatina-fosfoquinase; LDL-C = LDL-colesterol; FR = fator de risco; TGO = transaminase oxalacética; TGP = transaminase
glutâmico-pirúvica; sem = semanas.

Figura 2. Algoritmo de utilização de estatinas na infância.

Referências rose do Departamento de Aterosclerose da So-


ciedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardi-
1. Al-Shehri SN, Saleh ZA, Salama MM, Hassan YM. ol 2001;77(Suppl 3):1-48.
Prevalence of hyperlipidemia among Saudi school
children in Riyadh. Ann Saudi Med 2004;24:6-8. 6. Malcom GT, Oalmann MC, Strong JP. Risk factors
for atherosclerosis in young subjects: the PDAY
2. Gerber ZR, Zielinsky P. Fatores de risco para ate- Study. Pathobiological Determinants of Atheroscle-
rosclerose na infância: um estudo epidemiológico. rosis in Youth. Ann N Y Acad Sci 1997;817:179-88.
Arq Bras Cardiol 1997;69:231-6.
7. Berenson GS, Srinivasan SR, Bao W, Newman WP
3. Giuliano IC, Coutinho MS, Freitas SF, Pires MM, 3rd, Tracy RE, Wattigney WA. Association between
Zunino JN, Ribeiro RQ. Lípides séricos em crian- multiple cardiovascular risk factors and atheroscle-
ças e adolescentes da rede escolar de Florianópo- rosis in children and young adults. The Bogalusa
lis - Estudo Floripa Saudável 2040. Arq Bras Car- Heart Study. N Engl J Med 1998;338:1650-6.
diol 2005;85:85-91.
8. Nakashima Y, Fujii H, Sumiyoshi S, Wight TN,
Sueishi K. Early human atherosclerosis: accumu-
4. Moura EC, de Castro CM, Mellin AS, de Figueiredo
lation of lipid and proteoglycans in intimal thick-
DB. Perfil lipídico entre escolares de Campinas,
enings followed by macrophage infiltration. Arte-
Brasil. Rev Saúde Pública 2000;34:499-505. rioscler Thromb Vasc Biol 2007;27:1159-65.
5. Santos RD. III Diretriz Brasileira sobre Dislipi- 9. Pilz S, Horejsi R, Moller R, Almer G, Scharnagl H,
demias e Diretriz sobre Prevenção de Ateroscle- Stojakovic T, et al. Early atherosclerosis in obese ju-
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 283

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

veniles is associated with low serum levels of adipo- daemia in HIV-infected children in Europe. AIDS 283
nectin. J Clin Endocrinol Metab 2005;90:4792-6. 2004;18:1443-51.

10. Forti N, Salazar LA, Diament J, Giannini SD, Hira- 21. Parsons SK, Skapek SX, Neufeld EJ, Kuhlman C,
ta MH, Hirata RD. Alterações genéticas e dislipi- Young ML, Donnelly M, et al. Asparaginase-asso-
demia: novos estudos brasileiros. Arq Bras Car- ciated lipid abnormalities in children with acute
diol 2003;80:565-71. lymphoblastic leukemia. Blood 1997;89:1886-95.

11. Li S, Chen W, Srinivasan SR, Bond MG, Tang R, 22. Demircioglu S, Soylu A, Dirik E. Carbamazepine and
Urbina EM, et al. Childhood cardiovascular risk valproic acid: effects on the serum lipids and liver
factors and carotid vascular changes in adulthood: functions in children. Pediatr Neurol 2000; 23:142-6.
the Bogalusa Heart Study. JAMA 2003;290:2271-6.
23. Neufeld EJ, Mietus-Snyder M, Beiser AS, Baker AL,
12. Ballesteros MN, Cabrera RM, Saucedo Mdel S, Ag- Newburger JW. Passive cigarette smoking and re-
garwal D, Shachter NS, Fernandez ML. High in- duced HDL cholesterol levels in children with high-
take of saturated fat and early occurrence of spe- risk lipid profiles. Circulation 1997;96:1403-7.
cific biomarkers may explain the prevalence of
chronic disease in northern Mexico. J Nutr 24. Back GI, Caramelli B, Pellanda L, Duncan B, Mat-
2005;135:70-3. tos S, Fonseca FH. I diretriz brasileira para a pre-
venção da aterosclerose na infância e na ado-
13. Bustos P, Radojkovic C, Ulloa N, Munoz M, Martinez lescência. Arq Bras Cardiol 2005;85(Suppl 6):4-36.
A, Calvo C, et al. Lipoprotein composition in children
and adolescents with type 1 diabetes mellitus. J Pe- 25. Friedewald WT, Levy RI, Fredrickson DS. Estima-
diatr Endocrinol Metab 2005;18:257-64. tion of the concentration of low-density lipoprotein
cholesterol in plasma, without use of the prepara-
tive ultracentrifuge. Clin Chem 1972;18:499-502.
14. Pereira AM, Schmid EM, Schutte PJ, Voormolen
JH, Biermasz NR, van Thiel SW, et al. High preva-
26. Ticho BS, Neufeld EJ, Newburger JW, Harris N,
lence of long-term cardiovascular, neurological
Baker A, Rifai N. Utility of direct measurement of
and psychosocial morbidity after treatment for
low-density lipoprotein cholesterol in dyslipidem-
craniopharyngioma. Clin Endocrinol (Oxf) 2005;
ic pediatric patients. Arch Pediatr Adolesc Med
62:197-204.
1998;152:787-91.
15. Nagasaka H, Yorifuji T, Egawa H, Yanai H, Fujisawa 27. Holmes KW, Kwiterovich PO Jr. Treatment of dys-
T, Kosugiyama K, et al. Evaluation of risk for ath- lipidemia in children and adolescents. Curr Cardiol
erosclerosis in Alagille syndrome and progressive Rep 2005;7:445-56.
familial intrahepatic cholestasis: two congenital
cholestatic diseases with different lipoprotein me- 28. Wiegman A, Hutten BA, de Groot E, Rodenburg J,
tabolisms. J Pediatr 2005;146:329-35. Bakker HD, Buller HR, et al. Efficacy and safety of
statin therapy in children with familial hypercho-
16. Liuba P, Persson J, Luoma J, Yla-Herttuala S, lesterolemia: a randomized controlled trial. JAMA
Pesonen E. Acute infections in children are ac- 2004;292:331-7.
companied by oxidative modification of LDL and
decrease of HDL cholesterol, and are followed by 29. Tammi A, Ronnemaa T, Gylling H, Rask-Nissila L,
thickening of carotid intima-media. Eur Heart J Viikari J, Tuominen J, et al. Plant stanol ester
2003;24:515-21. margarine lowers serum total and low-density
lipoprotein cholesterol concentrations of healthy
17. Szczepaniska KJ, Tolwinska J, Urban M, children: the STRIP project. Special Turku Coro-
Gardziejczyk M, Glowinska B. Cardiac mass and nary Risk Factors Intervention Project. J Pediatr
function, carotid artery intima media thickness, 2000;136:503-10.
homocysteine and lipoprotein levels in children
and adolescents with growth hormone deficiency. 30. Olson RE. Is it wise to restrict fat in the diets of
J Pediatr Endocrinol Metab 2004;17:1405-13. children? J Am Diet Assoc 2000;100:28-32.

18. Perez-Navero JL, Dorao Martinez-Romillo P, 31. Jacobson MS, Lillienfeld DE. The pediatrician’s
Lopez-Herce CJ, Ibarra de lR, I, Pujol JM, Her- role in atherosclerosis prevention. J Pediatr
mana Tezanos MT. Nutrición artificial en unidades 1988;112:836-41.
de terapia intensiva pediátrica. An Pediatr (Barc)
2005;62:105-12. 32. The fourth report on the diagnosis, evaluation, and
treatment of high blood pressure in children and
19. Cofan F, Vela E, Cleries M. Analysis of dyslipi- adolescents. Pediatrics 2004;114(2 Suppl 4):555-76.
demia in patients on chronic hemodialysis in Cat-
alonia. Atherosclerosis 2006;184:94-102. 33. CDC growth charts. National Center for Health
Statistics 2006. Available: URL: http://www.cdc.
20. European Paediatric Lipodystrophy Group. Anti- gov/nchs/about/major/nhanes/growthcharts/clin-
retroviral therapy, fat redistribution and hyperlipi- ical_charts.htm (acesso 6 jun 2006).
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 284

PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2008;29(4):275-285

284 34. Fernandez JR, Redden DT, Pietrobelli A, Allison 47. Kwiterovich PO Jr. Safety and efficacy of treatment
DB. Waist circumference percentiles in nationally of children and adolescents with elevated low den-
representative samples of African-American, Eu- sity lipoprotein levels with a step two diet or with
ropean-American, and Mexican-American chil- lovastatin. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2001;11
dren and adolescents. J Pediatr 2004;145:439-44. (Suppl 5):30-4.

35. Cutfield WS, Hofman PL. Simple fasting methods 48. Wiegman A, Hutten BA, de GE, Rodenburg J, Bak-
to assess insulin sensitivity in childhood. Horm ker HD, Buller HR, et al. Efficacy and safety of sta-
Res 2005;64( Suppl 3):25-31. tin therapy in children with familial hypercholeste-
rolemia: a randomized controlled trial. JAMA 2004
36. Active and passive tobacco exposure: a serious 21;292:331-7.
pediatric health problem. A statement from the
Committee on Atherosclerosis and Hypertension 49. van der GA, Nierman MC, Firth JC, Wolmarans KH,
in Children, Council on Cardiovascular Disease in Marais AD, de Groot E. Efficacy and safety of flu-
the Young, American Heart Association. Circula- vastatin in children and adolescents with het-
tion 1994;90:2581-90. erozygous familial hypercholesterolaemia. Acta
Paediatr 2006;95:1461-6.
37. Kash IJ. American Heart Association guidelines
for prevention of pediatric cardiovascular disease. 50. Shepherd J, Hunninghake DB, Stein EA, Kastelein
J Pediatr 2004;144:552. JJ, Harris S, Pears J, et al. Safety of rosuvastatin.
Am J Cardiol 2004;94:882-8.
38. Das UN. A perinatal strategy to prevent coronary
heart disease. Nutrition 2003;19:1022-7. 51. McCrindle BW, O’Neill MB, Cullen-Dean G, Helden
E. Acceptability and compliance with two forms of
39. Kersting M, Alexy U, Clausen K. Using the concept cholestyramine in the treatment of hypercholes-
of Food Based Dietary Guidelines to Develop an terolemia in children: a randomized, crossover trial.
Optimized Mixed Diet (OMD) for German children J Pediatr 1997;130:266-73.
and adolescents. J Pediatr Gastroenterol Nutr
2005;40:301-8. 52. Wiegman A, Hutten BA, de Groot E, Rodenburg J,
Bakker HD, Buller HR, et al. Efficacy and safety of
40. Shamir R, Fisher EA. Dietary therapy for children statin therapy in children with familial hypercho-
with hypercholesterolemia. Am Fam Physician lesterolemia: a randomized controlled trial. JAMA
2000;61:675-6. 2004;292:331-7.

41. Trumbo P, Schlicker S, Yates AA, Poos M. Dietary 53. Engler MM, Engler MB, Malloy MJ, Chiu EY,
reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, Schloetter MC, Paul SM, et al. Antioxidant vita-
fat, fatty acids, cholesterol, protein and amino mins C and E improve endothelial function in chil-
acids. J Am Diet Assoc 2002;102:1621-30. dren with hyperlipidemia: Endothelial Assessment
of Risk from Lipids in Youth (EARLY) Trial. Circula-
42. Slyper A, Jurva J, Pleuss J, Hoffmann R, Gutter- tion 2003;108:1059-63.
man D. Influence of glycemic load on HDL choles-
terol in youth. Am J Clin Nutr 2005;81:376-9. 54. Engler MM, Engler MB, Malloy MJ, Paul SM,
Kulkarni KR, Mietus-Snyder ML. Effect of docosa-
43. Cowin IS, Emmett PM. Associations between di- hexaenoic acid on lipoprotein subclasses in hyper-
etary intakes and blood cholesterol concentra- lipidemic children (the EARLY study). Am J Cardiol
tions at 31 months. Eur J Clin Nutr 2001;55:39-49. 2005;95:869-71.

44. Raitakari OT, Taimela S, Porkka KV, Telama R, Val- 55. Vanstone CA, Jones PJ. Limitations of plasma
imaki I, Akerblom HK, et al. Associations between plant sterols as indicators of cholesterol absorp-
physical activity and risk factors for coronary tion. Am J Clin Nutr 2004;79:340-1.
heart disease: the Cardiovascular Risk in Young
Finns Study. Med Sci Sports Exerc 1997;29:1055- 56. Hedman M, Matikainen T, Fohr A, Lappi M, Piippo
61. S, Nuutinen M, et al. Efficacy and safety of pravas-
tatin in children and adolescents with heterozy-
45. Hancox RJ, Milne BJ, Poulton R. Association be- gous familial hypercholesterolemia: a prospective
tween child and adolescent television viewing and clinical follow-up study. J Clin Endocrinol Metab
adult health: a longitudinal birth cohort study. 2005;90:1942-52.
Lancet 2004;364(9430):257-62.
57. Salen G, von Bergmann K, Lutjohann D,
46. Chen AK, Roberts CK, Barnard RJ. Effect of a Kwiterovich P, Kane J, Patel SB, et al. Ezetimibe
short-term diet and exercise intervention on effectively reduces plasma plant sterols in pa-
metabolic syndrome in overweight children. Me- tients with sitosterolemia. Circulation 2004;109:
tabolism 2006;55:871-8. 966-71.
Pediatria artigo6.qxd 05/03/08 10:52 Page 285

DISLIPIDEMIAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

58. Gagne C, Gaudet D, Bruckert E. Efficacy and safe- 60. McCrindle BW, Urbina EM, Dennison BA, Jacob- 285
ty of ezetimibe coadministered with atorvastatin son MS, Steinberger J, Rocchini AP, et al. Drug
or simvastatin in patients with homozygous famil- therapy of high-risk lipid abnormalities in children
ial hypercholesterolemia. Circulation 2002;105: and adolescents: a scientific statement from the
2469-75. American Heart Association Atherosclerosis, Hy-
pertension, and Obesity in Youth Committee,
59. Salen G, von BK, Lutjohann D, Kwiterovich P, Kane Council of Cardiovascular Disease in the Young,
J, Patel SB, et al. Ezetimibe effectively reduces with the Council on Cardiovascular Nursing. Cir-
plasma plant sterols in patients with sitos- culation 2007;115:1948-67.
terolemia. Circulation 2004;109:966-71.

Endereço para correspondência:


Dr. Bruno Caramelli
Instituto do Coração
Avenida Dr. Enéas C. de Aguiar, 441
São Paulo - SP
Cep: 05403-900 Enviado para publicação: 18/8/2007
E-mail: bcaramel@usp.br Aceito para publicação: 28/11/2007

Você também pode gostar