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Com uma abordagem fundamentada nos diplomas jurídicos da Declaração

Universal dos Direitos Humanos (UNESCO, 1948) e da Constituição Federal de 1988


(CF/88), as autoras iniciam a discussão questionando a igualdade normativamente
protegida em uma realidade socioeconômica plural e híbrida, chamando o Estado para
assistir aos excluídos e colocando a educação como ferramenta principal na manutenção
da paz, “materializando uma forma de resistência contra toda e qualquer prática
violadora dos direitos à vida, à participação na sociedade e à dignidade dos indivíduos”
(p.670).

A partir das conclusões de Booth, o princípio da igualdade e a educação como


direito, ambos protegidos constitucionalmente, revestem-se na pesquisa de um caráter
inclusivo, incumbindo, portanto, à instituição educacional (e seus membros) “minimizar,
ou eliminar, as barreiras que estudantes possam sofrer e que os impeçam de participar
plenamente da vida acadêmica, por conta de suas diversidades oriundas de gênero,
etnias, condições sociais, situações familiares, religião, habilidades acadêmicas”
(p.672).

E nesse papel inclusivo, relevante protagonismo se dá aos professores, uma vez


que reformas pedagógicas isoladas não trazem contribuições substanciais, porque, na
maioria das vezes, desprezam os fatores sociais relacionados ao processo educacional.
Isso significa que é imperioso ao corpo docente sua aproximação às questões políticas,
pois se considera o ambiente educacional um palco para o processo de conscientização e
emancipação.

Assim, por meio de um questionário dirigido aos docentes de um colégio público


no Rio de Janeiro, valendo-se da técnica de evocação livre e da análise de conteúdo, as
autoras buscaram conhecer a compreensão dos professores sobre a inclusão na educação
e os valores relacionados aos seus respectivos entendimentos, bem como se esses valores
se operacionalizam (na prática) em sala de aula.

Em uma pergunta, solicitava-se aos docentes que escrevessem quatro palavras


vindas à mente associadas à inclusão em educação, tendo sido encontras as palavras
“participação”, “respeito”, “oportunidade” e “igualdade”, como as mais citadas,
respectivamente.
Isso revelou que “os professores reconhecem as diferenças e acreditam que as
mesmas devam ser valorizadas (trabalhadas) no cotidiano da escola” (p.675) mas
restava saber se suas práticas refletiam esses mesmos ideais.

Em relação a isso, uma segunda questão foi formulada, dessa vez para que os
docentes respondessem quando ou em que momentos entendiam ser inclusivos nas
atividades pedagógicas, cujas respostas foram tratadas sobre dimensões culturais,
políticas e práticas de inclusão em educação.
A conclusão das pesquisadoras nessa segunda interpelação, a qual tinha o intuito
de conhecer eventuais contradições entre “o pensar e o agir” dos docentes, fundou-se em
um “imbricamento de dimensões”, evidenciando a necessidade, segundo as autoras, de
um engajamento conjunto em todas as instâncias sociais.

Segundo Leme e Costa, os obstáculos à aprendizagem e à inclusão “são


construídas e mantidas cotidianamente, por serem fruto de nossas concepções, crenças
e valores (culturas), pelo modelo de gestão (política) e pelas reações possíveis de cada
professor (práticas)”(p.676).

Por fim, as autoras defendem que os caráteres pacificador, crítico e emancipador


da educação inclusiva, eminentemente democrática, são manifestados desde que haja
“diálogo por vias da gestão democrática, que os projetos pessoais se estruturem na
experiência com os demais indivíduos e que a diversidade se expresse na matriz
igualitária de todos”.

Observa-se a partir da organização teleológica da pesquisa e das conclusões


alcançadas pelas autoras que as normas e todo o conjunto legislativo por parte do Poder
Público em favor da educação em direitos humanos, inclusive no âmbito internacional,
não podem efetivar, por si só, a educação democrática senão quando aliados às
experiências pedagógicas que, nesse contexto, sobrepuja a afinidade dos professores com
práticas inclusivas e sua aproximação crítica junto às instâncias sociais e políticas.

Perpetuar, portanto, uma educação dita transformadora e emancipadora representa


incluir no ambiente escolar a realidade extrapedagógica ou extramuros tão relevante no
processo de conscientização dos alunos, que sob a regência de um professor devidamente
capacitado e aberto às problemáticas sociais, sustentará a igualdade e a dignidade outrora
afiançados em leis e na Constituição federal.

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