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1. Justificativa e objetivos
Nesse módulo, ao compreender o que caracteriza o déficit
habitacional no Brasil você discutirá como a moradia, entendida
como um direito humano presente na Declaração Universal dos
Direitos Humanos e na Constituição Federal brasileira
permanece sendo negado à população em situação de rua. A fim
conhecerá as políticas de moradia para população em situação
de rua existentes em outros países, bem como assimilará as
discussões em curso no Brasil sobre este tema.
Fonte: http://www.fna.org.br/2018/05/29/4o-congresso-nacional-da-populacao-de-rua-aborda-importancia-da-
assistencia-a-moradia/
Alega-se que o alto custo dos terrenos e dos imóveis existentes nas áreas centrais das
cidades é um dos entraves para a execução de uma política habitacional com fins sociais.
A consequência mais brutal desta argumentação é que de tal forma a casa, tida na
Constituição Federal como “asilo inviolável do indivíduo” (Art. 5, XI) e como um direito
social (Art. 6), permanece não sendo uma realidade para as milhares de pessoas que
atualmente estão nas ruas das cidades brasileiras. Mesmo a determinação legal expressa
na Constituição de que é competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios “promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico” (Art. 23, IX), não é algo aplicado quando se trata
do povo da rua.
Sobre as causas e consequências do déficit habitacional paro Brasil, assista o vídeo a seguir:
Dizer que morar com dignidade é um direito humano parece ser uma constatação óbvia,
mas que em uma sociedade excludente como a brasileira precisa ser reafirmada a todo
momento, ainda mais quando se tratam de direitos humanos da população em situação
de rua.
Como todos os cidadãos brasileiros as pessoas que estão nas ruas têm direito a uma
moradia digna, com divisão de cômodos que respeite sua autonomia e privacidade, com
banheiro, cozinha, quartos e sala. Localizadas em áreas onde haja uma boa estrutura de
serviços públicos, assistência social e transporte que lhes permitam serem reinseridos. A
segurança representada por ter uma moradia fixa pode ser, efetivamente, o primeiro
passo para acessar demais direitos.
Porém, ainda faltam programas habitacionais que possibilitem uma oportunidade real de
saída das ruas, mesmo que uma parcela, ainda que pequena, consiga acessar moradia
através de programas como o aluguel social e o Minha Casa Minha Vida, isto deve ser
ampliado para solucionar o problema.
O programa Minha Casa Minha Vida tem uma modalidade chamada Entidades que foi
criada com o objetivo de dar acesso à moradia para as famílias que se organizam em
cooperativas habitacionais, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos.
Estas entidades organizam os empreendimentos através de autogestão na construção da
habitação.
Na cidade de São Paulo a prefeitura, por meio de seu do Programa de Locação Social
para atendimento de famílias de renda familiar de até três salários-mínimos, gere seis
empreendimentos com 903 unidades habitacionais. No ano de 2008 a prefeitura local
criou o Programa Parceria Social (Resolução no 33/2008, São Paulo) que oferecia auxílio
aluguel para acesso à moradia prioritariamente para pessoas em situação de rua, mas
este programa possuía um prazo determinado, cujo rompimento era determinado pela
Prefeitura. Entre os anos de 2009 e 2013 cerca de 803 pessoas em situação de rua foram
atendidas.
No relatório a consultora define que, no momento atual “a moradia perdeu sua função
social e passou a ser vista como um veículo para riqueza e lucros. A transformação da
moradia em uma mercadoria rouba a conexão da casa com a comunidade, a dignidade e
a ideia da propriedade como um lar”. Consequentemente, para ela, a situação de rua
ocorre, dentre tantos outros fatores, quando a moradia é tratada como mercadoria e não
como direito humano gerando uma “violação global de direitos humanos que requer uma
resposta global urgente”.
https://terradedireitos.org.br/wp-
content/uploads/2016/11/Relat%C3%B3rio_Popula%C3%A7%C3%A3o-em-
situa%C3%A7%C3%A3o-de-rua.pdf
Como parte das discussões sobre moradia o MNPR, que já vem debatendo o tema há
bastante tempo, apresentou no ano de 2016 suas reivindicações e comentou as
recomendações do Relatório Especial de Moradia Adequada diante do Conselho de
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça.
Em 2018 este tema também foi amplamente debatido durante o 4o. Congresso Nacional
da População em Situação de Rua que aconteceu na cidade de Porto Alegre. Durante o
congresso arquitetos engajados na luta por políticas públicas que participaram
apresentaram dados interessantes a respeito da questão, para se ter uma ideia, segundo
o presidente do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp) Maurílio
Chiaretti, os valores que hoje são usados para atender provisoriamente pessoas em
situação de rua são maiores do que o que custaria a construção de moradias
permanentes.
O vídeo a seguir trata da importância do acesso à moradia para a população em situação de
rua:
Pelo mundo a fora inúmeras experiências para o provimento de moradia para as pessoas em
situação de rua têm sido postas em prática, a maioria delas inspira-se no programa Housing
First (moradia primeiro em livre tradução), é este programa que também inspira as
discussões mais atuais conduzidas pelo Ciamp-Rua em conjunto com a sociedade civil e com
os movimentos sociais sobre o direito à moradia. A seguir é apresentado este programa, uma
ação inspirada nele desenvolvida na cidade de Lisboa, Portugal e o que vem sendo
construído no Brasil.
Housing First
O programa Housing First foi criado elaborado pelo psicólogo e ativista Sam Tsemberis junto
com a organização não-governamental Pathways to Housing First e tornou-se uma política
pública que primeiro foi testada na cidade de Nova Iorque, no ano de 1992.
Originalmente o programa foi projetado para ajudar pessoas com problemas de saúde mental
que viviam nas ruas. Após foi expandido incluindo pessoas desabrigadas ou em risco de ficar
em situação de rua ao saírem de hospitais psiquiátricos ou da prisão. O programa, tal como
foi pensado, baseia-se em oito princípios fundamentais:
Fonte: Adaptado de Guía-Housing-First-Europa, pág. 13
Neste programa a moradia é o ponto de partida e não um objetivo final, é a primeira coisa
fornecida antes de qualquer outro tipo de apoio ou intervenção. A ideia inicial do Housing
First é a de que ter uma moradia é o caminho principal a partir do qual os sujeitos podem
acessar todos os demais direitos e, por isso, se deve oferecer uma moradia individual para as
pessoas em situação de rua, sem que haja pré-condições ou imposições que estas pessoas
não possam cumprir.
Após as primeiras experiências em Nova Iorque o modelo foi expandido para o Canadá,
Japão e 20 países europeus.
Se quiser conhecer mais sobre como funciona o programa Housing First na Europa leia
o “Guía housing first” (em espanhol):
http://housingfirsteurope.eu/assets/files/2016/11/Gui%CC%81a-Housing-First-
Europa.pdf
Estudos realizados mostram que o Housing First já provou sua eficiência no cumprimento do
seu objetivo principal que é o acesso e permanência das pessoas na moradia. Sabe-se,
pelos dados das experiências em curso que cerca de 80% à 90% das pessoas que
ingressaram em projetos de Housing First permanecem na mesma moradia após dois anos.
O Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos da América
aponta que a partir da implementação do programa chamado Opening Doors, entre os anos
de 2010 e 2014, o número total de pessoas sem moradia lá diminuiu em 10%, incluindo uma
redução de 25% no número de pessoas desacolhidas. Verificou-se lá que a quantidade de
pessoas em situação de rua crônica diminuiu 21% e o número de famílias em situação de rua
diminuiu em 15%, com uma redução de 53% no número de famílias desabrigadas.
Já na cidade de São Francisco, o projeto Housing First que foi lançado em 2004 demonstrou,
em 2016, seu relatório de avaliação de custo-benefício, uma redução dos investimentos em
serviços de apoio à população em situação de rua entre os anos de 2011 e 2015, à medida
que as pessoas foram se estabilizando em suas moradias. Esta diminuição dos custos,
segundo apurou o relatório, deveu-se principalmente a uma redução de 58% dos custos para
atendimento de emergência e cuidados urgentes, especialmente hospitalização.
Em outra experiência, na cidade de Denver, no ano de 2012 haviam cerca de 15 mil pessoas
sendo atendidas pelo Housing First. Após 2 anos de ingresso no Programa 77%
permaneciam na sua moradia; 50% apresentaram melhorias no seu estado de saúde; houve
uma redução de 72,9% dos atendimentos emergenciais em hospitais; os custos de
acompanhamento foram reduzidos em 34,3% e a permanência nas cadeias caiu 76%.
Para se aprofundar sobre como o programa Casas Primeiro é realizado em Lisboa leia
o relato a seguir:
http://jornelas.aeips.pt/casas-primeiro/
Esta concepção tem como inspiração algumas experiências exitosas de oferta de habitação
para a população em situação de rua já realizadas no país a partir das reivindicações da
sociedade civil organizada em diálogo com a gestão pública e em alguns casos, com a
iniciativa privada.
O modelo de política pública de moradia para pessoas em situação de rua que vem sendo
proposto pela Coordenação-Geral dos Direitos da População em Situação de Rua do MDH é
inspirada no modelo Housing First, (cuja apresentação foi feita no item anterior deste módulo)
e recebeu o nome de Moradia Primeiro. Esta proposta prioriza o acesso imediato destas
pessoas a uma unidade habitacional individual, com dignidade e o acompanhamento por uma
equipe multidisciplinar.
A proposta do projeto Moradia Primeiro do MDH está sendo construída em três grandes
eixos: habitação como direito e prioridade; trabalho como forma de manutenção do processo
de inserção social e econômica; e um pacote de outros direitos (saúde, educação,
assistência social, esporte, laser, etc.) que darão o suporte para a permanência da pessoa
em sua habitação e consequente saída da situação de rua.
Para finalizar este módulo assista ao documentário curta-metragem “Não repare a bagunça”,
realizado pela agência Pública de jornalismo investigativo (https://apublica.org/) que trata da
situação da falta de moradia na cidade de São Paulo com depoimentos de pessoas em
situação de rua e de moradores expulsos de ocupações.
5. Guarde na memória!
Neste módulo você aprendeu sobre a moradia, um dos princípios dos direitos
humanos presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Além disso, ficou conhecendo as políticas de moradia para população em situação de
rua existentes em outros países.
Por fim, você conheceu também as discussões em curso no Brasil sobre este tema.
Encerramos este terceiro módulo. A seguir, você deverá realizar uma
avaliação de aprendizagem!
6. Referências Bibliográficas
BRASIL. Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua –
CENTRO POP. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Secretaria
Nacional de Assistência Social, 2011.