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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

 CURSO DE DIREITO- 2020.1


 CAMPUS: West Shopping
 ALUNO: Amanda Neves de Sousa
 MATRÍCULA: 201307307604
 PROFESSOR (A): Marcio Rosa
 MATÉRIA: DIREITO CIVIL V

RESENHA CRÍTICA

O presente artigo vista falarmos a respeito das mundanças ocorridas a


partir a partir de 12 de março de 2019 que entrou em vigor a Lei n.
13.811/2019, que confere nova redação ao art. 1.520 do Código Civil (CC),
suprimindo as exceções permissivas ao casamento infantil, de modo que,
atualmente no Brasil, o casamento passa a ser permitido, apenas, para
pessoas com 16 (dezesseis) anos completos e mediante a autorização dos
pais ou responsáveis, considerando que ainda são menores, com fulcro no art.
1.517 do diploma civil.

Antes, é importante adentrarmos no conceito de família, pois a base


para formação do ser humano é a família, sendo o pilar de sustentação para
todos, e por meio deste aprende-se a interagir e conviver com o mundo. E é
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente a efetivação de seus direitos com absoluta prioridade. A
importância do tema em foco é a grande mudança que tem ocorrido na
sociedade, o que tem levado a transformações sociais e valores morais, diante
de uma sociedade cada vez mais precoce, onde principalmente as meninas
iniciam a “vida adulta” mais cedo. Nos casos de casamento, a lei brasileira
estipula 18 anos como a idade mínima legal para o casamento e, havendo
consentimento de ambos os pais, poderão se casar a partir dos 16 anos.
Entretanto, existia uma exceção, nos casos de gravidez, no artigo 1.520 do
CC/2002 que por meio de autorização judicial poderia se casar o menor de 16
anos (BRASIL, 2019e).

Desta feita, com a evolução social da família e a mudança nos


costumes, os operadores do direito são impulsionados a uma constante
reorganização do Direito de Família, buscando os elementos necessários de
tudo aquilo que mais se aproxima do justo. Desse modo, tem-se os princípios
como a fonte onde se encontra a melhor adequação da justiça no Direito de
Família, decidindo sobre o que é justo e injusto, acima de valores morais
(PEREIRA, 2012, p. 57-58).

Como sabemos, o casamento é uma união que produz importantes


efeitos jurídicos. Por isso, foi necessário estabelecer uma idade mínima para
que a pessoa possa se casar. Isso é chamado de idade núbil. No Brasil a idade
núbil é de 16 anos. No entanto, se essa pessoa for maior de 16, mas menor de
18 anos, ela só poderá casar se houver autorização.

Nesse sentido, estabelece o art. 1.517, CC: “O homem e a mulher com


dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de
seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil” (que se
dá aos 18 anos completos, nos termos do art. 5°, caput, CC). Se um ou ambos
os pais não autorizarem e o juiz entender que a recusa foi injusta, ele pode
autorizar o casamento. No entanto, nessa situação o casamento deve ser
realizado sob o regime da separação obrigatória de bens (ou separação legal
de bens), conforme estabelece o art. 1.641, III, CC.

Sendo assim, casamento pode ser conceituado como uma união de


duas pessoas com o fim de construir uma comunhão plena de vida, baseada
no amor, afeto, respeito, companheirismo, submetendo-se aos direitos e
deveres previstos em lei advindos do ato (BARBOSA; HIRONAKA; VIEIRA,
2008, p. 37).

Na concepção de Nader (2016, p. 92), o casamento como todo negócio


jurídico, é um ato de vontade, formalizado segundo a lei, podendo o casal optar
ou não por uma cerimônia religiosa. Diante dos diversos efeitos que a união
acarreta, tanto na organização familiar, quanto em relação à prole, a prática
indica a vantagem de haver um estatuto regulador, visto que em questões
decorrentes da vida em comum, a moral e a religião não se mostram
suficientes para a solução.

Neste prisma, a justificativa para tais conceitos acima visa adentrar em


um assunto delicado no ramo jurídico mesmo antes da nova lei, que é o
casamento de quem ainda não tem idade núbil.

Este assunto dividia os doutrinadores antes mesmo da nova lei. Cabe


ressaltar que, a Lei 13.811/19, que entrou em vigor, altera a redação do
art.1.520 do Código Civil e proíbe o casamento daqueles que não atingiram a
idade núbil, ou seja, os menores de 16 anos.

Anteriormente, o artigo 1.517 do Código Civil previa que menores de 16


anos poderiam se casar em duas situações:

1) Para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal, nos casos de


estupro, onde o matrimônio era uma forma de extinção da punibilidade;

2) Nos casos de gravidez.

Na nova redação restou desta forma: “Não será permitido, em qualquer


caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no
art. 1.517 deste Código”.

O Código Civil de 2002, embora tenha estabelecido a idade núbil de 16


anos, manteve excecão por autorização judicial nos casos de gravidez e para
evitar sanção penal.

Sabe-se que essa segunda hipótese já estava esvaziada em detrimento


da revogação da possibilidade de extinção de punibilidade pelo casamento da
vítima (alteração do art. 107, Código Penal), mas a autorização nupcial para
adolescentes gestantes permanecia viável.

Hoje, com o advento da Lei 13.811/2019, não há mais nenhuma


exceção que permita o casamento de menores de 16 anos, por via judicial ou
extrajudicial.

Portanto, qualquer casamento entre pessoas sem a idade núbil será


nula (e não anulável), uma vez que existe proibição legal.

Ressalta-se que permanece a possibilidade de jovens entre 16 e 18


anos casarem, desde que autorizados pelos pais ou representantes legais (art.
1.517, CC).

Nesta esteira, é de suma importância esclarecer que o casamento nulo


é aquele que não possui viabilidade jurídica. A nulidade do casamento ocorre
quando houver violação aos impedimentos matrimoniais, previstos no artigo
1.521 do CC que

Já no casamento anulável, sua invalidade é relativa, pois há predomínio


do interesse privado. O vício que o acomete não é tão grave, podendo ser
convalidado, de forma expressa ou tácita, dependendo da situação. As
hipóteses de anulabilidade estão previstas no artigo 1.550 do CC.

No último caso, usamos como exemplo o assunto em questão, pois é


anulável o casamento contraído por quem não atingiu a idade minima.
É sabido que há diversos entendimentos favoráveis e desfavoráveis a
questão do casamento que não atingiu a idade núbil, no caso da Jurisprudencia
abaixo, é notável o entendimento desfavorável juntamente com a premissa da
nova lei:

“Família. Supressão de idade núbil. Sentença de


improcedência. Irresignação. Menor que não atingiu a idade
núbil de 16 anos. Hipótese excepcional de gravidez que, com a
entrada em vigor da Lei nº 13.811/2019, deixou de existir no
Código Civil. Inadmissibilidade do casamento. Sentença mantida.
Recurso desprovido.

(TJSP;  Apelação Cível 1000506-76.2019.8.26.0459; Relator


(a): Alexandre Marcondes; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Pitangueiras - 2º Vara; Data do Julgamento:
22/01/2020; Data de Registro: 22/01/2020)”

No entanto, a imparcialidade na obra de Farias e Rosenvald (2017, p.


216) explicam que o casamento só pode ser autorizado de maneira
excepcional a fim de preservar a proteção que a Carta Magna de 1988
garantiu. Destaque-se o trecho a seguir da obra citada:

“[...] A gravidez, seguramente, não impõe a celebração de um


casamento, em especial porque a preocupação central do
ordenamento jurídico é com a proteção integral e a prioridade
absoluta da criança e do adolescente (CF/88, art. 227, e ECA,
arts. 1º e 4º). Bem por isso, deve o magistrado cuidar para não
retirar uma determinada criança ou adolescente da proteção
diferenciada do sistema estatutário, impondo a ela deveres
matrimoniais, de ordem pessoal e patrimonial, muitas vezes,
incompatíveis com a sua própria condição pessoal e o seu
desenvolvimento social, econômico e intelectual.”

Os autores ainda defendem (2017, p. 216) a ideia de que o sistema


judiciário segue em direção a inadmissibilidade total do suprimento de idade
com relação ao casamento e ainda explicam que “[...] Criança e adolescente
merecem um regime protetivo incompatível com as responsabilidades impostas
pela constituição de uma família [...]”.
Dias (2016, p. 270) explica que a gravidez não justifica a autorização do
casamento para menor de 16 (dezesseis) anos, por não existir discriminação
da sociedade contra filhos havidos fora do casamento, não se fazendo
necessária a realização do casamento para fins de reconhecimento do filho.

Diante disso, a maturidade física, mental e psicológica da criança e do


adolescente ainda não está totalmente atingida antes de estes completarem 18
(dezoito) anos de idade, mas já possui capacidade para se casar. Tavares
(2017, s.p.), especialista em Desenvolvimento do Setor Privado do Banco
Mundial, ratifica que a permissão do casamento infantil é realidade crucial em
vários países, contudo, a possibilidade de ocasionar diversos problemas aos
menores de 18 (dezoito) anos, em especial as meninas, são vários:

“Casar uma criança antes que ela atinja a maturidade física,


emocional ou mental necessárias, por si só já é uma violência.
Sua saúde e seu bemestar psicológico são ameaçados, e sua
capacidade de funcionar socialmente fica restringida. Uma
menina casada precocemente pode também não ter condições de
trabalhar e se ver em posição inferior economicamente, assim
perpetuando o ciclo de desigualdade e violência.”

Rodrigues (2004, p. 39) explica que se deve limitar a idade mínima para o
casamento, por ser um ato de grande relevância:

“Bem caminha o legislador em restringir a liberdade das partes,


neste particular. O casamento é ato de imensa seriedade, do qual
defluem conseqüências (sic) de enorme repercussão na vida
social, sendo, portanto, conveniente que só se permita o ingresso
no matrimônio de pessoas que atingiram um maior
desenvolvimento intelectual, pois, embora o impedimento tenha
surgido tendo em vista a mera aptidão física, não se pode negar
que hoje se visa impedir, por intermédio dele, que pessoas sem
relativo desabrochamento intelectual venham a se casar.”

No mesmo sentido a ementa dos autos nº 0016416-34.2012.822.0002


do Tribunal de Justiça de Rondônia:

“Menor absolutamente incapaz. Autorização para casamento.


Caso concreto. Improcedência. Deve ser rejeitado pedido de
autorização para casamento de menor absolutamente incapaz e
que não atingiu a idade núbil mínima de dezesseis anos, quando
ausentes quaisquer das hipóteses excepcionais previstas no
Código Civil (TJRO. Apelação Cível nº 0016416-
34.2012.822.0002, segunda Câmara Cível, Relator: Des. Marcos
Alaor Diniz Grangeia. Julgado em 25/06/2015).”

Nesta esteira, o casamento infantil é um problema mundial por acarretar


diversas consequências para todos (pessoas envolvidas e sociedade) como:
gravidez precoce, mortalidade infantil e maternal, violência doméstica, evasão
escolar, entre tantos outros.

Em contraposição a essa situação, o Princípio da Proteção Integral


dispõe que crianças e adolescentes necessitam de proteção especial e
prioritária do Estado, da família e da sociedade.

Em conclusão, a manutenção que previa a possibilidade da união entre


jovens de 16 e 17 anos prevista no Código Civil delatava a cultura do
casamento infantil no Brasil. No meu entendimento,o casamento de menores
de idade não deveria ser permitido, que felizmente tornou-se possível com a
nova lei.

Amanda Neves de
Sousa, 2020.1

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