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DO CONTRATO SOCIAL
ENSAIO SOBRE A
ORIGEM DAS LINGUAS
DISCURSO SOBRE AS
CIÉNCIAS E AS ARTES
1200502914
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LIVRO PRIMERO
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Quero indagar se pode existir, na
ordem civil 5, alguma regra de adminis- nessa procura, para unir o que o direi-
to permite ao que o interesse prescreve,
tragäo legitima e segura, tomando os
a fim de que näo fiquem separadas a
homens como säo e as leis como
justiga e a utilidade 7.
podem ser 6. Esforqar-me-ei sempre,
Entro na matéria sem demonstrar a
importåncia de meu assunto. Pergun-
5 Näo se de estudar as relaqöes de
trata tar-me-äo se sou prfncipe ou legisla-
homem a homem, como
faria supor a expres-
dor, para escrever sobre polftica. Res-
säo "ordem civil", täo pr6xima do que moder-
namente é regulado pelo direito civil. O obje-
pondo que näo, e que por isso escrevo
tivo em mira é a organizaqäo geral da sobre politica. Se fosse prfncipe ou
sociedade, os seus principios fundamentais e legislador, näo perderia meu tempo,
as regras institucionais do que hoje chamamos dizendo o que deve ser feito; haveria de
de "ordem püblica". (N. de L. G. M.) fazé-lo, ou calar-me8.
6 Aqui se encontram dois elementos substan-
ciais do pensamento de Rousseau:
Tendo nascido cidadäo de um Esta-
l.a)Separa-se, neste ponto, de Montesquieu,
do livre e membro do soberan09, embora
pois, se o Espirito das Leis procura com- fraca seja a influéncia que minha opi-
preender as leis tais como existem para expli- niäo possa ter nos neg6cios pfiblicos, o
cå-las segundo as situaqöes reais que as gera- direito de neles votar basta para impor
ram, o Contrato Social procura o que as leis
o dever de instruir-me a seu respeito,
Odem ser" e devem ser para corresponder ås
vicissitu es, In IVI uais e coletivas, dos "ho-
sentindo-me feliz todas as vezes que
mens como sao parte, pois, do
.
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ROUSSEAU
medito sobre os governos, por sempre tivos para amar o governo do meu
dade de seus concidadäos, Rousseau sempre freqüentemente voltei os olhos para o desta
manteve Genebra gomo modelo de repåblica. repåblica" Agora, faz nova referéncia ao
Para tanto, deveu idealizar bastante a reali- caso modelar. E s6 se calarå depois de sua
dade genebrina, cuja estrutura constitucional, condenaqäo pelo Governo genebrino. (N. de L.
segundo certos comentaristas, näo conhecia
CAPfrULO I
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Do CONTRATO SOCIAL 1
18
cional" e "natural" (v. nota anterior) 0Döem- POUCO precisa e demasiado condensadal. Entäo),
diferenga entre o que é obra da Vida em socie- far-se-å a refutaqäo das vårias doutrinasquese
propöem a Justificar a servidäo civil. No
dade e da consciéncia daf resultante parao diferenqa entre golernantes e governados se
CAPfrULO II
uma aproximaqäo, porém meramente ilustra- liberdade, originalmente preservada pelos ins-
tiva e sublinhando que mesmo o grupo fami- tintos e necessidades, å liberdade justificada,
os momentos é a familia —
de que dessa delo" da familia, desde que jå demonstrou ser
esta, em seus aspectos eståveis, uma sociedade
sociedade primåria se derivam todas as de
convencional. (N. de L. G. M.)
mais. (N. de L. G. M.)
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ROUSSEAU
v 0, niäo de Hobbes2 5. vemos
nascido iguais e livres, s6 alienam sua espécie humana dividida Como
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DO CONTRATO SOCIAL 1 31
28 Ver um pequeno tratado de Plutarco intitu- mundo, como o foi Robinson em sua
lado Os Animais Usam a Razäo. (N. do A.) ilha30, por isso que era ünico habitante
29 Beaulavon anota como, nessa passagem, da terra, e o que havia de cÖmodo
Rousseau inova a teoria politica quando se re- nesse império era o monarca, firme em
cusa a reconhecer nas deficiéncias reais de cer- seu trono, näo temer rebeliöes, guerras
tos homens uma justificativa para a diminui-
ou conspiradores.
Gäo de seus direitos. Lembremos, apenas, que,
nesse tempo, Voltaire, o revolucionårio Voltai-
re, defendia Grotius das criticas desse capitulo, 30 Simples referéncia irönica, a alusäo a
dizendo que o direito do mais forte é uma infe- Robinson contudo vale como demonstragäo
licidade ligada å miseråvel natureza do ho- do antiindividualismo de Rousseau. (N. de L.
mem... (N. de L. G. M.)
CAPfrULO Ill
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ROUSSEAU
bido chamar o médico? Quando um
na-se legitimo
lais forte temfazé-lo visto
sempree, razäo, que o
basta bandido me ataca num recanto da
somente agir de modo a ser o mais resta, näo somente sou obrigado
rte. ora, que direito serå esse, que dar-lhe minha bolsa, mas, se
impöe obedecer pe a orga, nao se tem ciéncia a då-la, visto que, enfim, a pis_
CAPfrULO IV
Da escravidäo
Visto que homem algum tem autori- vo de um senhor, por que näo o pode-
dade natural sobre seus semelhantes e ria fazer todoum povo e tornar-se st-
que a forga näo produz qualquer direi- dito de um rei?3 7 Nessa frase existem
to, s6 restam as convenqÖes como base muitas palavras equivocas a exigir
de toda a autoridade legitima existente
explicaqäo, mas prendamo-nos s6
entre os homens3 6.
palavra alienar. Alienar é dar ou ven-
Se um particular, diz Grotius, pode der. Ora, um homem, que se faz escra-
alienar sua liberdade e tornar-se escra-
vo de um outro, näo se då; quando
muito, vende-se pela subsisténcia. Mas
36 Voltamos ao tema central do Contrato, tal um povo, por que se venderia? O rei,
como se propös no capitulo inicial. Mas näo se
longe de prover subsisténcia de seus
refutaram todas as teorias desp6ticas. Se a
autoridade näo se justifica nem pela forga nem süditos, apenas dele tira a sua e, de
pela vontade de Deus, provirå de uma conven- acordo com Rabelais, um rei näo vive
€0, mas desde logo se impöe demonstrar que com pouco. Os süditos däo, pois, a sua
talconvenqäo näo importa na total renüncia å
liberdade. Assim pensava Grotius e, seguindo-
o, a maior parte dos adeptos da escola do 37 Resumo de idéias que se encontram no
Direito da Paz e da Guerra, l. I, c. Ill, e I. Ill,
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DO CONTRATO SOCIAL 1 33
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rio aos princfpios do Direito Natural
tanto mais legitima quanto resulta em
proveito de ambas as partes A guerra näo representaupois, de
É Claro que esse pretenso direito de modo algum, uma relaqäo de homem
matar os vencidos de modo algum para homem, mas uma relaqäo de Es-
tado para Estado, na qual os particu-
resultado estado de guerra
porque, vivendo -em sua primitiva lares s6 acldentalmente se tornam ini-
independéncia, näo mantém entre si migos, näo o sendo nem como homens
nem como cidadäos4 5
uma relaGäo suficientemente constante , mas como sol-
para constituir quer o estado de paz dados, e näo como membros da påtria
quer 0 de guerra, os homens em abso- mas como seus defensores. Enfim
luto näo säo naturalmente inimigos.g cada Estado s6 pode ter como inimigos
a rela äo entre as coisas e näo a rela- outros Estados e näo homens, pois que
Gäo entre os homens que gera a guerra, näo se pode estabelecer qualquer rela-
e, näo podendo o es ao e guerra Gäo verdadeira entre coisas de natu-
originar-se de simples relagöes pes- reza diversa.
soais, mas unicamente das relaqöes Esse principio estå mesmo de acor-
näo pode existira uerra articu-
reais, do com as måximas estabelecidas em
ou de homem para homem, nem no
lar
estado de natureza, no qual näo ha
44 Rousseau serviu-se da transcriqäo francesa
propriedade constante, nem no estado
da "politeia" grega, grafando "politie"
literal
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DO CONTRATO SOCIAL 1
35
M.)
48 Locke considera a escravidäo como "o es-
46 Como os eruditos de seu tempo, Grotius tado de guerra continuado entre o legftimo
valia-se de citaqöes da Bfblia, dos historia- conquistador e o prisioneiro". (Governo Civil,
dores e poetas antigos em suas argumentagöes. c. 11.) (N. de L. G. M.)
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em meu proveito, convengäo essa a e que tu observarås f
Or do
que obedecerei enquanto me aprouver meu
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DO CONTRATO SOCIAL 1 37
pois, de examinar o ato pelo qual um
povo elege um rei, conviria examinar o fosse unånime, onde estaria a obriga-
Gäo de se submeterem os menos nume-
ato pelo qual um povo é povo, pois
rosos å escolha dos mais numerosos?
esse ato, sendo necessariamente ante-
rior ao outro, constitui o verdadeiro Donde sai o direito de cem, que que-
fundamento da sociedade 53. rem um senhor, votar em nome de dez,
Com efeito, caso näo haja conven- que näo o querem de modo algum? A
Gäo anterior, a menos que a eleiGäo lei da pluralidade dos sufrågios é, ela
pr6pria, a instituiqäo de uma conven-
por seus continuadores, era patente —
a sobe- Gäo e supöe, ao menos por uma vez, a
rania popular, admitida em principio, era dimi- unanimidade.
nuida pelas distinqöes te6ricas e anulada na
pråtica —
e Rousseau näo pode calar-se: ou o
cuidamos da "doaqäo" dos siditos ao podero-
principio é moralmente vålido e näo pode a ne-
nhum pretexto ser contrariado, ou simples- so, mas de uma organizaqäo politica que se
mente näo existe e s6 haverå a tirania. Assim enrafza direta e profundamente na organizagäo
social. Consideramos, pois, a sociedade una e
responde å verdadeira provocagäo contida na
mesma passagem do Direito da Guerra e da agindo como um todo, em lugar de basear nos-
CAPfrULO VI
Do pacto social
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ROUS
téncia, impelindo-as para um s6 m6vel, Essas clåusulas, quando be
preendidas, reduzem-se todas a
levando-as a operar em concerto a alienagäo total" de
Essa soma de forgas s6 pode nascer
ciado, com to os os Seus direitos
do concurso de muitos; sendo, porém,
a forga e a liberdade de cada indivfduo comunidade toda, porque, em primelro
lugar, cada um dando-se completa.
os instrumentos primordiais de sua
conservaGäo, como poderia ele empe- mente, a condigäo é igual para todos
e, sendo a condigäo igual para todos
nhå-los sem prejudicar e sem negligen-
Ciar os cuidados que a si mesmo deve? ninguém se interessa por tornå-la one
rosa para os demais.
Essa dificuldade, reconduzindo ao meu
assunto, poderå ser enunciada como Ademais, fazendo-se a alienaqäo
sem reservas, a uniäo é täo perfeita
segue:
"Encontrar uma forma de associa- quanto possa ser e a nenhum associado
Gäo que defenda e proteja a pessoa e os restarå algo mais a reclamar, pois, se
bens de cada associado com toda a restassem alguns direitos aos particu-
forga comum, e pela qual cada um, lares, como näo haveria nesse Caso um
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DO CONTRATO SOCIAL I
39
tornnrin necessarinmente tirinica ou
Essa pcssoa påblica, que se forma,
desse modo, pela uniäo de todas as
Enfirn, cada um dnndo•se {Hodos
outras, tomava antigamcnte o nome de
nio se a ninguém 00
nio existindo
e, cidade 0 4
e, hoje, o de replibllca ou de
um associado sobre o qual nao se corpo politico, o qual é chamado por
adquira o mesmo direito que se lhe scus membros de Estado quando passi-
cede sobre si mesmo, ganha•se o equi- vo, soberano quando ativo, c poténcla
valente de tudo que se perde, e maior quando comparado a scus semelhan
forga para conservar o que se tern. tes. Quanto aos associados, recebem
ver-se-å que ele se reduz aos seguintes enquanto partfcipes da autoridade so-
termos: ' 'Cada um
de n6s pöe em
64 0 verdadciro sentido dessa palavra* quase
comum sua pessoa e todo o seu poder que perdeu inteiramente entre os modernos.
se
sob a direqäo suprema da vontade A maioria considera um burgo como sendo
geral, e recebemos, enquanto corpo, uma cidade e um burgués como um cidadäo.
cada membro como parte indivisfvel Näo sabem que as casas formam o burgo, mas
que säo os cidadäos que fazem a cidadc. Esse
mesmo erro custou caro, outrora, aos cartagi•
Imediatamente, esse ato dc associa- neses. Näo sei de jamais havcr-se dado o titulo
de cives ao sédito de qualquer principe, nem
Gäo produz, em lugar da pessoa parti-
mesmo antigamente entre os macedönios, nem
cular de cada contratante, um corpo atualmente entre os ingleses, se bem que cstcs
moral e Coletivo, composto dc tantos se encontrem muito mais pr6ximos da liber-
membros quantos säo os vot" da dadc do que todos os demais. Somente os fran-
assembléia 62 cescs tomam com familiaridade o titulo de
e que, por esse mesmo
cidadäos porque, como se pode ver nos seus
ato, ganha sua unidade, seu eu
dicionårios, näo dispöem da verdadeira nogäo
comum 63 sua Vida e sua vontade. do significado do termo, sem o que pratica-
riam, por usurpå-lo, o crime de lesa-majestade.
60 Contra essa afirmagäo sc levantou o libe- Essa palavra, para eles, exprime uma virtude e
ralismo individualista do século XIX que, näo näo um direito. Quando Bodin quis falar de
obstante, ainda hå quem julgue derivar de
nossos cidadäos e burgueses**, incorreu em sé-
rios erros, tomando uns pelos outros. O Sr.
Rousseau. Benjamin Constant, no Curso de
d'Alembert näo se enganou nesse particular e
Politica Constitucional, protesta que "n6s
distinguiu muito bem, em seu artigo intitulado
sempre nos damos aos que agem em nome de
"Genebra", as quatro ordens de homens (que
todos". Ora, Rousseau afirmava que mesmo os
podem ser Cinco, se nelas se inclufrem os sim-
governantes estäo submetidos vontade ge-
ples estrangeiros) que existem no nosso burgo
ral. .. (N. de L. G. M.)
... "parte indivisivel do todo"... cuja— e das quais somente duas compöem a repü-
blica. Nenhum outro autor francés, que eu
existéncia independente jå näo se admite, por-
saiba, compreendeu o sentido verdadeiro da
que näo podemos compreender, na realidade,
palavra cidadäo.
um individuo fora da sociedade. (N. de L. G.
* Dificilmente o vocåbulo portugués "cidade"
M.)
62 Como o contrato, essa "assemblera e recobrirå o significado especifico visado por
esses "votos" näo tém existéncia concreta, mas Rousseau, que sem divida se apoiou na diver-
apenas simbolizam a tomada de consciéncia sificaqäo, em francés, entre "cité" e "ville".
Mais pr6ximo do sentido do texto estaria o
de sua condiGäo pelos componentcs do corpo
social. (N. de L. G. M.)
grego polls , mas carregaria consigo inevitå-
veis implicaqöes histdricas. Mais abaixo (v.
63 Ao contrårio do que diz Georges Beaula•
von, esse "eu comum" muito se aproxima da nota ao Pé da pågina) contrastamos "cidade" e
"consciéncia coletiva" dos soci610gos moder- "burgo" para melhor evidenciar as intenqöes
nos. Basta ler Rousseau em seu sentido pro- do Autor. (N. da T.)
fundo e tendo em conta suas mesmas ressalvas ** Bodin tratou da questäo nos Seis Livros
e adverténcias interpretativas. (N. de L. G. M.) Repiblica, l. 1, c. VI. (N. de L. G. M.)
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ROUSSEAU
saber distingui-los quando säo
berana, e siditos enquanto submetidos
leis do Estado. Esses termos, no gados
entanto, confundem-se freqüentemente 65
e säo usados indistintamente; basta gatais termos no sentido exato.(N.
CAPfTULO VII
Do soberano
Cial 6 7. Tal näo significa näo poder esse
Vé-se, por essa f6rmula, que o ato de
associagäo compreende um compro- corpo comprometer-sescom outrem, no
que näo derrogar o contrato, pois, em
misso recfproco entre o påblico e os
relaGäo ao estrangeiro, torna-se um ser
particulares, e que cada individuo, singelo, um indivfduo.
contratando, por assim dizer, consigo
mesmo, secompromete numa dupla Mas o
corpo politico ou o soberano
relagao: como membro do soberano näo existindo senäo pela integridade68
CreiaGäo aos particulares, e como do contrato, näo pode obrigar-se,
membro do Estado em relaGäo ao mesmo com outrem, a nada que derro.
soberano. Näo se pode, porém, aplicar gue esse ato primitivo, como alienar
a essa situaGäo a måxima do Direito uma parte de si mesmo ou submeter-se
Civil que afirma ninguém estar obri- a um outro soberano. Violar o ato pelo
gado aos compromissos tomados con- qual existe seria destruir-se, e o que
Sigo mesmo 6 6, pois existe grande dife- nada é nada produz.
r-enga entre obrigarse $onslgo_mesmo
e—emerelaqäo a um tododo qual se faz 67 Agindo, em sua pr6pria esfera, como pes-
soa, o corpo social permanece livre mesmo em
parte.
Impöe-se notar ainda que a delibera- relagäo ao pacto fundamental. Com isso, ao
Gäo püblica, que pode obrigar todos os contrårio do que acreditaram certos individua-
listas (aos quais faz eco Paul Janet na Histdria
süditos em relaqäo ao soberano, devi-
da Ciéncia Politica), näo se reconhece ao Esta-
do ås duas relaqöes diferentes segundo
do um poder ilimitado e superior até å moral e
as quais cada um deles é encarado,näo ao direito, mas, sim, que a sociedade, matriz
pode, pela razäo contråria, obrigar o dessa moral e desse direito, pode a qualquer
soberano em relagäo a si mesmo, momento tomar novas direqöes que seus mem-
sendo conseqüentemente contra a na- bros, na medida de suas consciéncias, busca-
räo estabelecer de forma concreta. (N. de L. G.
tureza do corpo politico Impor-se o
M.)
soberano uma lei que näo possa infrin-
68 No original figura a expressäo "la sainteté
gir. Näo podendo considerar-se a näo du contrat", porém traduzi-la, literalmente, por
ser numa finica e mesma relagäo, "a santidade de contrato" importaria em per-
encontrar-se-å entäo no caso de um der-se o essencial do sentido da frase que esta-
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DO CONTRATO SOCIAL 1
41
Desde o momento em que essa mul-
tidäo se encontra assim reunida em um O mesmo näo se då, porém, com os
ainda menos, ofender o corpo sem que guém responderia por seus compromis-
os membros se ressintam. Eis como o sos, senäo encontrasse meios de asse-
dever e o interesse obrigam igualmente gurar-se a fidelidade dos süditos 71 .
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ROUSSEA
injustiga cujo progresso garante contra qualquer dependéncia
aos outros: aquele que recusar obede- 73 Forgå-lo-äo a conservar a liberdade con.
cer vontade geral a tanto serå cons- encional, pois a liberdade natural tornou-se
trangido por todo um corpo, o que näo nula e inoperante, e qualquer tentativa de fugir
significa senäo que o forgaräo a ser ao dominio do corpo politico redundarå no
risco de cair na dependéncia de outrem. (N. de
73, pois é essa a condiGäo que,
entregando cada cidadäo påtria, o L. G. M.)
CAPfrULO VIII
Do estado civil
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DO CONTRATO SOCIAL 1 43
76 Ao contrårio do que se tem dito, Rousseau Gäo, os homens se disponham a manter-se fiéis
näo ataca a sociedade. Nem a defende. Qual- a eles — para isso é escrito o Contrgto Social.
quer sociedade, para ele, permite ao homem os Tudo uma escolha: ser infinitamente
se reduz a
avangos morais e racionais responsåveis pela livre em
seus impulsos, mas sofrer todos os
sua condiGäo atual. Ao mesmo tempo, a Vida contrastes cerceadores e, mesmo, aniquila-
social enseja os progressos da desigualdade, dores da Vida natural, ou aceitar a liberdade
descritos no segundo Discurso. Tais desvios, nos limites e com as garantias da lei, na har-
contudo, podem ser evitados desde que, cons- —onia civil. V. parågrafo seguinte. (N. de L. G.
cientes do sentido normal dessa transforma- M.)
CAPfrULO IX
Do dominio real 7 7
Cada membro da comunidade då-se Cidade säo incomparavelmente maio-
a ela no momento de sua formagäo, tal res do que as de um particular, a posse
como se encontra naquele instante; ele püblica é também, na realidade, mais
e todas as suas forgas, das quais fazem forte e irrevogåvel, sem ser mais legiti-
parte os bens que possui. O_quecnäo ma, pelos menos para os estrangeiros.
significa que, por esse ato, a pos e Tal coisa se då porque o Estado,
mude de natureza ao mudar de mäo e perante seus membros, é senhor de
se torne propriedade nas do sobera- todos os seus bens pelo contrato social,
no 78, mas sim que, como as forgas da contrato esse que, no Estado, serve de
base a todos os direitos, mas näo é se-
77 "Real": "das coisas" ou "sobre as coisas", nhor daqueles bens perante as outras
como diz a linguagem juridica. É o que agora poténcias senäo pelo direito de pri-
se estudarå depois de examinadas as relagöes
meiro ocupante, que tomou dos parti-
pessoais. Quanto å expressäo "domrmo ,Insi-
nua a sugestäo de um direito de Estado, como culares.
anota Vaughan. No Contrato Social comple- O direito do primeiro ocupante, em-
ta-se a evolugäo do pensamentö de Rousseau bora mais real do que o do mais forte
relativamente ao direito de propriedade. Parte s6 se torna um verdadeiro direito 79 de
de um Claro individualismo que, no segundo
pois de estabelecido o de propriedade.
Discurso, via na preservagäo do patrimönio de
cada um o principal motivo da fundaqäo do Todo o homem tem naturalmente direi-
Estado e, na Economia Politica, ia talvez mais to a quanto lhe for necessårio, mas o
longe. Agora, toda propriedade é submetida ao ato positivo, que o torna proprietårio
Estado, ainda quando apenas para atribuf-la e de qualquer bem, o afasta de tudo
garanti-la aos particulares; fora do estado
mais. Tomada a sua parte, deve a ela
civil, näo hå mais do que a simples posse e,
Sca
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44
algum comunidade. Eis por que o em nome da coroa de castela,
direito de primeiro täo frågil bastaria para desapossar
habitantes e dai excluir todos os princi-
no estado de natureza, se torna respei-
tåvel para todos os homens civis. Por pes do mund02 corn tal razäo,
esse direito, respeita-se menos o que cerimönias se multiplicariam
pertence a que aquilo que mente e o rei cat61ico näo precisaria
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DO CONTRATO SOCIAL 1 45
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LIVRO SEGUNDO
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CAPfrULO I
A soberania é inalienåvel
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de geral, jamais pode alienar:se, e que algo contrårio ao bem do
o soberano, que nada é senäo um ser ja. Se, pois, o povo promete que•dese
simples.
soberano pode muito bem dizer: näo se concebe o ente moral, nascido do pacto,
"Quero, neste momento, aquilo que um sem vontade pr6pria. Eis por que um povo näo
pode entregar-se a um senhor sem deixar de ser
tal homem deseja, ou, pelo menos,
povo, soberano e corpo politico. (N. de L. G
aquilo que ele diz desejar". Mas näo M.)
poderå dizer: "O que esse homem qui- 95 Assim chegamos a certas regras pråticas
por ser absurdo submeter-se a vontade mitir o poder, nunca, porém, a vontade geral;
2) qualquer compromisso de submissäo do
a grilhöes futuros e por näo depender
povo, como tal, pöe fim ao estado civil; 3) pre-
de nenhuma vontade o consentir em sume-se que as ordens da autoridade estejam
de acordo com a vontade geral, desde que esta
92 0 impulso natural é egofsta, a Vida em silencie. A observagäo impöe-se quando sabe-
sociedade impöe padröes iguais para todos. mos que este capftulo é tido, por muitos, como
cogitando s6 de problemas "abstratos". Rous-
93 Seguimos, nesta passagem, a correqäo de seau, aqui,comeqa a realizar sua promessa ini-
pontuaqäo proposta por G. Beaulavon sua em cial: dos princfpios fundamentais deriva "re-
ediGäÖ do Contrato c que torna inteligfvel a
gras de administraqäo". (N. de L. G. M.)
frae. (N. da T.)
96 N0Livro 111. (N. de L. G. M.)
CAPfrULO II
A soberania é indivisfvel
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DO CONTRATO SOCIAL 11 51
rica das opiniöes. É o que faz supor a frase "ou cies de guerra e å "guerra dos süditos contra as
(a vontade geral) é a do corpo do povo, ou poténcias". (N. de L. G. M.)
somente de uma parte", com que se abre o 102 Professor de direito na Universidade de
capftulo. Ademais, a pr6pria idéia de assem- Groningue, Barbeyrac tornou-se célebre como
tradutor de Grotius e Pufendorf. (N. de L. G.
bléia, jå vimos anteriormente, tem valor pura-
mente simb61ico. (N. de L. G. M.)
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dizer 0 bastante Segundo seus pontos deiros princfpios
de vista, fazendo colidir os interesses todas as dificuldades, e teriam
lherme um
usurpador. Se esses dois (1688-89), que prosseguiu com uma série
reformas constitucionais de
escritores tivessem adotado os verda-
CAPfrULO Ill
104 Aqui se inicia uma exposiGäo sobre a da "mente" comum, mas ainda levantava a
esséncia da vontade geral, que ocuparå dois questäo que agora surge, no titulo de Rous-
capitulos. Tém-se apontado duas fontes inspi- seau, ao perguntar se pode errar a cidade —
radoras dessa teoria: Diderot espinoza. Foi "An civitas peccare possit". Importa, contudo,
Dreyfus-Brisac que, pela primeira vez, aproxi- assinalar que para Diderot os homens säo
mou a nocäo rousseauniana de vontade geral naturalmente levados å Vida em comum, e que
daquela exposta no artigo atribufdo a Diderot, para Spinoza o Estado näo erra porque näo
da Enciclopédia, em que a vontade geral é des- conhece maior poder do que o seu assim se—
crita como sendo "em cada indivfduo um ato tornam patentes a originalidade e as dimensöes
puro do entendimento que raciocina no silén- inéditas do pensamento de Rousseau. (N. de L.
Cio das paixöes" e å qual devera ser confiado o
poder legislativo, por isso que jamais erra. O
105 Extensäo, å vontade geral, do raciocfnio
pr6prio Rousseau remete o leitor a esse artigo
de S6crates acerca da .tendéncia natural dos
sobre Direito Natural, ao desenvolver o seu,
sobre a Economia Politica, na mesma enciclo- homens ao que consideram seu bem, s6 poden-
. "Nin-
pédia. Näo obstante, G. Beaulavon sublinhou do errar, pois, no discernir esse bem
que aqui, como no capitulo II do Manuscrito
guém é mau voluntariamente". (N. de L. G.
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DO CONTRATO SOCIAL 11 53
privado e näo passa de uma soma das em relaqäo a seus membros e particu-
vontades particulares10 7. Quando se lar em relaqäo ao Estado: poder-se-å
retiram, porém, dessas mesmas vonta- entäo dizer näo haver mais tantos
des, os a-mais e os a-menos que nela se votantes quantos säo os homens, mas
destroem mutuamentel 08, resta, como somente tantos quantas säo as associa-
soma das diferenqas 109 a vontade Göes. As
diferengas tornam-se menos
numerosas e däo um resultado menos
geral.
Se, quando o povo suficientemente gerall127E, finalmente, quando uma
informado delibera, näo tivessem os dessas associaqöes for täo grande que
se sobreponha a todas as outras, näo se
cidadäos qualquer comunicaqäo entre
si, do grande nÜmero de pequenas dife-
terå mais como resultado uma soma
rengas sempre a vontade
resultaria das pequenas diferenqas, mas uma
geral e a deliberaqäo seria sempre
diferenqa finica — entäo, näo hå mais
boal 10. Mas quando se estabelecem vontade geral, e a opiniäo que dela se
facqöesl associaqöes parciais a ex-
1 ,
assenhoreia näo passa de uma opiniäo
pensas da grande, a vontade de cada particularl 13.
uma dessas associaqöes torna-se geral para alcangar o ver-
Importa, pois,
dadeiro enunciado da vontade geral,
107 Cf. Emmo (l. II) — "Nos meus Principios que näo haja no Estado sociedade par-
de Direito Politico, ficou demonstrado que Cial e que cada cidadäo s6 opine de
nenhuma vontade particular pode ser ordenada acordo consigo mesmo 11 4. Foi essa a
no sistema social". (N. de L. G. M.)
diz o Marqués
d'Argenson, "tem principios diversos. O acor- t 12Novamente, malgrado os respeitåveis pre-
do de dois interesses particulares se forma por cedentes, impöe-se evitar uma compreensäo
oposiGäo ao de um terceiro." Ele poderia ter "matemåtica" dos termos:
acrescentado que o acordo de todos os interes- rem entre si as opiniöes, tanto mais oportum-
ses se forma por oposigäo ao de cada um. Se dades haverå de emergir o substrato comum, o
näo houvesse interesses diferentes, reconhe- que parece sumamente Improvave quando,
cer-se-ia com dificuldade o interesse comum, pela uniäo em facqöes, as opiniöes encontram
que jamais encontraria obståculos. Tudo anda- apoio mÜtuo nas diferenqas facciosas e näo no
ria por si e a politica deixaria de ser uma arte*. interesse do todo. (N. de L. G. M.)
(N. do A.) 113 Porque a associaqäo supöe o prévio acor-
* Isto é: a organizagäo social funcionaria do de seus associados que se unem, contra as
natural e espontaneamente, dispensando a arte opiniöes divergentes dos demais, exatamente a
politica de revelå-la ås consciéncias. (N. de L. fim de sustentar a opiniäo comum a toda a
associaqäo que, contudo, por näo ser expres-
109 Soma das diferengas: substrato comum ås säo da vontade geral, "näo passa de uma opi-
opiniöes variadas. Totalmente inütil serå atri- niäo particular". (N. de L. G. M.)
buir qualquer sentido "aritmético" a esta 11 4 "Vera cosa V', disse Maquiavel, "che al-
expressäo e a. outras semelhantes, €ncontra- cuni divisioni nuocono alle republiche e alcune
digas em Rousseau, muito embora o fagam giovano: quelle nuocono che sono dalle sette e
bons comentaristas. (N. de L. G. M.) da partigiani accompagnate: quelle giovano
110 Näo se supöe, pois, para que se estabelega che senza sette, senza partigiani, se manten-
a vontade geral, qualquer acordo consciente e gono. Non potendo adunque provedere um
deliberado. Mesmo no concerto tåcito ou näo- fondatore d'uma republica che non siano nimi-
preparado das opiniöes particulares (necessa- cizie in quella, ha de proveder almeno che non
riamente discordantes, posto que correspon- vi siano sette " (Hist. Florent., Liv. VII).* (N.
dendo a impulsos individuais e a interesses do A.)
privados), ela emerge natural e espontanea- * "Em verdade, hå divisöes que prejudicam as
mente, pois que subjaz em todas as conscién- repÜblicas e outras que lhes aproveitam: preju-
cias capacitadas a exprimir-se. (N. de L. G. diciais säo as que suscitam seitas e partidårios,
M.) proveitosas, as que se mantem sem seitas nem
111 Na Reptiblica (l. V), Platäo perguntava: partidårios. Näo podendo, pois, o fundador
"Para um Estado, o maior mal näo é que o duma repüblica impedir que nela existam
dividam? que, de um s6, faqam muitos?" (N. inimizades, impedirå ao menos que haja sei-
tas." (N. de L. G. M,)
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ROUSSEAU
do grande geral sempre se esclareqa e näo se
Estado. (N. de L. G. M)
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DO CONTRATO SOCIAL 11
convir, também, em que s6 0 soberano 55
pode julgar dessa importåncial 2 1
por si mesmo, e, conseqüentemente, da
Todos os serviqos que um cidadäo natureza do homem12 4.
pode prestar ao Estado, ele os deve que a vontade geral, para ser verdadei-
Locke —
"É erröneo supor que o poder supre- do-se pelo consenso coletivo, razäo por que s6
pode atender aos interesses comuns em ques-
mo ou legislativo do Estado possa fazer o que
quiser e dispor dos bens dos süditos duma
töes gerais.Em tudo que for particular, perde
maneira arbitråria." (Governo Civil, c. IX) — sua pr6pria razäo de ser. (N. de L. G. M.)
e de Montesquieu —
"A lei näo é puro ato de 12 6 No sentido juridico de "contencioso ad-
ministrativo", iSto é, respeitante a questöes
poder. As coisas por sua natureza indiferentes
entre a administraqäo påblica e os particula-
näo säo de sua algada." (Do Espfrito das Leis,
res. (N. de L. G. M.)
l.XIX, c. XIV.) (N. de L. G. M.)
12 7 Isto é: interesse püblico, que serå sempre
123 Isto é: todos terem direitos iguais. (N. de
o da vontade geral. (N. de L. G. M.)
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qüentemente, näo passa, para a outra todos nas mesmas condigöes e
näo agia mais como soberano, mas outro objetivo que näo o bem geral, e
como magistrado. Isto parecerå con- s61ida por ter como garantia a forga
p6blica e o poder supremo. Enquanto
trårio ås idéias comuns, mas dai-me
os süditos s6 estiverem submetidos a
tempo para expor as minhas pr6prias
idéias.
Deve-se compreender, nesse sentido, guém, mas somente å pr6pria vontade,
que, menos do que o nåmero de votos, e perguntar até onde se estendem os
aquilo que generaliza a vontade é direitos respectivos do soberano e dos
interesse comum_que os_unel 29, pois cidadäos é perguntar até que ponto
nessa instituiqäo cada um necessaria- estes podem comprometer-se consigo
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DO CONTRATO SOCIAL 11
o direito de onerar mais aum nuamente protegida e, quando se ex-
•dadäo do que a outro, porque, entäo, pöem para defendé-lo,
CAPfrULO V
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58 Os processos e o julgamento
. 7. Ora, o cidadäo
provas e a declaraqäo de ter ele rompi
as
näo é mais juiz do perigo ao qual a lei
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DO CONTRATO SOCIAL 11
59
o grande nåmero de crimes asseguraa minosos delas näo teräo mais necessi-
sua impunidade quando o Estado defi- dade e todos podem ver aonde isso
leva. Sinto, porém, que meu coraqäo
n ado nem os cÖnsules jamais tentaram murmura e retém minha pena: deixe-
conceder graga, e mesmo o povo näoo mos essas questöes para serem discuti-
fazia, embora por vezes revogasse seu das pelo homem justo que nunca fa-
pr6prio julgamento. As gragas fre-
qüentes anunciam que em breve os cri- lhou e nunca tenha tido, ele pr6prio,
necessidade de graqa.
C.APfrULO VI
Da lei
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do justo, pois este as observa com guais. Segue-se que a
existe o todo, senäo duas partes desi- corpo e, pois, transformar-se-å no motivo de
uma relagäo entre os interessados e os näo-in-
teressados, com o que, novamente, näo haverå
Nessa ironia se tem enxergado uma cri- vontade geral. Comprova-se o principio: näo
tica a Montesquieu que, na parte inicial do Do hå vontade geral visando objeto particular. (N.
Espirito das Leis,esmiugava os vårios sentidos
da palavra "lei" e as rela$es entre a lei civil e 1 48 Osaois pontos de vista säo o ponto de
a lei natural. Näo obstante, Rousseau näo s6 vista dos membros do soberano, ao estatufrem
o valor excepcional
reconheceu explicitamente
a lei, e o ponto de vista dos sÜditos, que a
de Montesquieu, mas ainda buscou marcar a
obedeceräo, tendo-se presente que membros do
diferenga de suas posi?öes. Seriam, pois, infi-
soberano e såditos säo os mesmos individuos
teis quaisquer referéncias irönicas ao Do Espi- que constituem o corpo politico. (N. de L. G.
rito das Leis, sobretudo quando "metafisica"
era quase a totalidade das teorias entäo em
curso sobre a lei. (N. de L. G. M.) 49 Que näo hå direito "ad hominem", ou
V. IV deste mesmo Livro. (N. de
mente determinada pessoa, é principio que se
integrou no direito püblico moderno. Rousseau
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DO CONTRATO SOCIAL 11
61
podérå muito bem estatuir que haverå
privilégios, mas ela näo poderå conce- näo passam de registros de nossas
vontadesl 63
dé-los nominalmente a ninguém: a Lei
pode estabelecer diversas classes de Vé-se ainda que, reunindo a Lei a
universalidade da vontade e a do obje-
cidadäos, especificar até as qualidades
to, aquilo que um homem, quem quer
que daräo direito a essas classes, mas
seja, ordena por sua conta, näo é mais
näo poderå nomear este ou aquele para
uma lei: o que ordena, mesmo o sobe-
serem admitidos nelas; pode estabe-
rano, sobre um objeto particular näo é
lecer um governo real e uma sucessäo uma lei, mas um decreto, näo é ato de
hereditåria, mas näo pode elegey um soberania, mas de magistratural 5 4.
rei ou nomear uma familia real. Em Chamo pois #gepüblica-todo o Esq
suma, qualquer fungäo relativa a um tado regido por leis, sob qualquer
dbjeto individual näo pertence, de orma¯de administragäo que possa
modo algum, ao poder legislativol 50. conhecer, pois s6 nesse caso governa o
interesse püblico e a coisa püblical
Baseando-se nessa idéia, vé-se logo
que näo se deve mais perguntar a quem passa a ser qualquer coisa. Todo o
cabe fazer as leis, pois säo atos da von- governo legftimo é republicanol 5 6.
Explicarei logo adiante o que é gover-
tade geral, nem .se o principel 51 estå no.
acima das leis, visto que é membro do As leis näo säo, propriamente, mais
Estado; ou se a Lei poderå ser injusta, do que as condigöes da associagäo
pois ninguém é injusto consigo civil. O povo, submetido is leis, deve
mesmol 52, ou como se pode ser livre e sero seu autor. S6 åqueles que se asso-
estar sujeito is leis, desde que estas ciam cabe regulamentar as condi?öes
da sociedade. Mas, como as regula-
formula com rigor teorético o que Locke entre-
vira em
termos pråtico-empfricos: "Os regula- 1 53 "E-se livre quando submetido ås leis,
mentos seräo os mesmos para o rico e para o porém näo quando se obedece a um homem,
pobre, para o favorito e para o cortesäo, para o porque nesse Ültimo caso obedeqo å vontade
burgués e para o trabalhador". (Governo Civil, de outrem, enquanto obedecendo å lei näo obe-
c. X.) Jå Burlamaqui, na esteira de sua escola, deco senäo vontade püblica que tanto é
acreditava que o legislador, se pode derrogar
toda a lei, melhor ainda poderia suspender
minha como de quem quer que seja" dizia—
Rousseau no manuscrito de Neuchåtel. (N. de
seus efeitos para tal ou qual pessoa. (Pringi-
pios de Direito Natural, t. I, c. X.) (N. de L. G. Cf. Platäo (Leis l. IV): "Se aos magis-
trados chamei de•servidores da lei, näo foi por
5 Ao executivo, na agäo governamental, desejar mudar o sentido habitual dos termos,
toca aplicar aos casos particulares e is pessoas mas por estar persuadido de que a salvagäo do
a regra geral da lei. Esta, por sua pr6pria natu- Estado depende principalmente disso, enq
reza, obriga o legislativo a manter-se em plano quanto o contrårio fatalmente trarå sua ruina".
bem diverso. (N. de L. G. M.)
1 51 0 governo, näa importando sua forma ou 1 5 No sentido etim016gico da palavra "repå-
composi$äo. (N. de L. G. M.) blica". (N. de L. G. M.)
| 52 Claro que esta expressäo näo é rigorosa- 1 s 6 Por essa palavra näo entendo somente
mente baseada na realidade concreta, pois um uma aristocracia ou uma democracia, mas em
homem pode ser injusto consigo mesmo. Mas, geral todo governo dirigido pela vontade geral,
em tal.gaso, o seria por erro ou paixäo vol- — que é a lei. Para ser legitimo, näo é preciso que
tamos sempre å regra socråtica do "ninguém é o governo se confunda com o soberano, mas
mau €oluntariamente" (v. nota 105, supra), que seja seu ministro. Entäo, a pr6pria monar-
agora compreendida na forma reflexiva. (N. de quia é rep6blica. Isso serå esclarecido no Livro
yeguinte. (N. do A.)
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ROUSSEAU
rejeitam; o påblico quer o bem
do, uma O discerne. Todos
da seduGäo das vontades particulares, geral pode errar. É o que fica Claramente
aproximar a seus olhos os lugares e os expresso nesse trecho, base, aliås, da teoria do
"Legislador'@ que a seguir se exporå. (N. de L.
tempos, Pör em balango a tentaGäo das
vantagens presentes e sensfveis com o G. MJ
1 $8 Ou seja: do Legislador. (V. nota anterior.)
perigo dos males distantes e ocultos.
Os particulares discernem o bem que (N. de L. G. MI)
CAPfrULO VII
Do Legislador
dente de n6s e, contudo, quisesse dedi-
Para descobrir as melhores regras
car-se a n6s. gue, finalmente. alme-
de socieade que convenham ås nagöes, jando uma gloria distante, pudesse
precisar-se-ia de uma inteligéncia supe- trabalhar num século. e frui-la em
rior 1 59, que visse todas as paixöes dos
homens e näo participasse de nenhuma para dar leis aos homens.
delas, que näo tivesse nenhuma relagäo
com a nossa natureza e a eonhecesse a 1 60 Um povo s6 se torna célebre quando sua
fundo; cuja felicidade fosse indepen- legislagäo comega a declinar. Ignora-se por
quantos séculos a instituigäo de Licurgo deter-
minou a felicidade dos espartanos antes que se
falasse deles no.rest0'da Grécia. (N. do A.)
1 59 Näo se trata de alguém supetdotado
1 61 Temos anotado como, na iinguagem de
intelectualmente, como se vé pelo restante do
Rousseau, as referéneias divindade sempre
parågrafo. As qualidades excepcionais que
significam o caråter supra-humano do fenö-
meno coletivo. Mais uma vez, tal é o sentido: o
peito ao conteådo e intengäo de suas inicia-
Legislador é aquele, entre os homens, que mais
tivasdo que a suas capacidades naturais, em-
bora essas näo possam ser subestimadas. (N. Clara consciéncia tem dos problemas comuns.
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LIVRO TERCEIRO
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Antes de falardas vårias formas de Governo, procuremos firmar o sentido preci-
CAPfrULO I
Do governo em geral
rendo o pedido de atengäo especial feito ao lei- os "atos particulares" que muitas vezes se
tor.Halbwachs näo teme aproximar esse ape- tomam, por erro, como "atos de soberania".
gamento ao texto dificil e åquele incidente S6 assim se compreenderå que, empregando
amoroso, acontecido em Veneza e ao cabo do duas expressöes também utilizadas por Mon-
tesquieu, como sejam poder legislativo e poder
qual Rousseau ouviu a famosa frase ir6nica:
executivo (cf. Do Espfrito das Leis, l. XI, c.
"Lascia le donne Zanetto, ed studia la mathe-
VI), Rousseau considere o executivo como
matica". A aproximagäo, embora carega de
mera fungäo do Estado, enquanto o legislativo
base objetiva, é assaz sugestiva, sobretudo ten-
é sua pr6pria esséncia, ao passo que Montes-
do-se em conta, segundo as Confissöes, que, quieu coloca a ambos em perfeito Pé de igual-
ainda em Veneza, Rousseau comeqou a con-
dade, como "poderes" componentes do todo
vencer-se da importåncia dos estudos politicos.
estatal. (N. de L. G. M.)
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os såditos e o soberano
qua quer modo determme na essoa ral que Rousseau agora estabelece. (N. de L.
püblica o que no homem faz a uniäo
223 Sem divida o termo francés roi, como o
entre a alma e o corp02 portugués rei, deriva do rex latino, que, por Seu
no Estado, a razäo do Governo, con-
turno, sai de regere, que é governar, dirigir. A
fundida erroneamente com o soberano, formagäo da palavra justifica, pois, o sentido
do qual näo é senäo o ministro. que lhe då Rousseau, porém empregå-la no
plural, ao tempo em que escrevia, representava
Que serå, pois, o Governo? É um
uma impertinéncia e um reforw da quase-pro-
corpo intermediårio estabelecido entre vocagäo iniciada com o termo magistrados.
Rei, na linguagem e no pensamento de entäo,
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DO CONTRATO SOCIAL 111
81
ernprego 22 6, do
funcionårios qual, como
nosoberano, exercem
simples em d0229
todo, ou do soberano com o Esta-
compöem a relagäo do todo com o rar qualquer dos trés termos sem rom-
per, de pronto, a proporgäo. Se o sobe-
rano quer governar ou se o magistrado
226 É o tema prediieto da Revoluqäo no quer fazer leis ou, ainda, se os s6ditos
momento inicial, quando, admitindo ainda a
recusam-se a obedecer, a desordem
permanéncia do monarca, pöe nas mäos do
povo toda a soberania: o rei serå um funcio-
toma o lugar da regra, a forga e a von-
nårio do Estado, como propöem os projetos tade näo agem mais de acordo e o
constitucionais. Perante a Assembléia, em Estado, em dissoluqäo, cai assim no
despotismo ou na anarquia. Enfim,
o representante da nagäo. O rei é
xato dizer-se como näo hå senäo uma média propor-
o empregado(em francés: commis), o delegado cional para cada relagäo, näo hå mais
da nagäo para executar as vontades nacio-
que um bom governo possfvel para
nais". E, diante da agitagäo do plenårio, conti-
nuou: "Se a alguém afligiram minhas express
cada Estad0232. Como porém, inüme-
söes, retrato-me. Por empregado s6 quis
significaro emprégo supremo, a tarefa sublime
230 "Uma proporgäo continua, expressäo
228 A f6rmula surge mais clara e precisa no Go Governo, isto é, o corpo de magistrados
Emflio: "O corpo inteiro (de governantes), encarregados do poder executivo, pode-se esta-
considerado nos homens que o compöem, cha- belecer a seguinte proporgäo continua:
ma-se principe, e, considerado em sua agäo, Essa, aliås, näo passa de uma
chama-se governo". (N. de L. G. M.) maneira aproximativa de exprimir a seguinte
229 A partir desta frase, inicia-se ajå referida proporgäo, bem diferente de uma proporgäo
exposiGäo pseudomatemåtica, ou melhor, o matemåtica: a poténcia que o soberano confere
paralelo com expressöes aritméticas que, täo ao Governo deve ser igual å poténcia que o
caras a Rousseau,em nada ajudam a esclare- Governo aplica na administraqäo do Estado."
por vezes alcanqando o resul-
cer suas idéias, (G. Beaulavon.) (N. de L. G. M.)
tado oposto. O mais paciente e cuidadoso 231 .Com efeito, da proporgäo supra pode-se
comentarista desta passagem espinhosa é deduzir: G2 = S X E. Poténcia é tomada no
sentido matemåtico." (G. Beaulavon) (N. de L.
Georges Beaulavon, cujas notas passamos a
exemplo, aliås, do que fizeram,
reproduzir, a
232 "Na proporgäo supra, o valor de G é
com meras variaqöes vocabulares, Maurice
efetivamente determinado pelos valores de S e
Halbwachs .e Frangois Bouchardy, entre os
melhores glosadores do Contrato. (N. de L. G. de E, e deve variar proporcionalmente a estes."
M.) (G. Beaulavon.) (N. de L. G. M.)
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ROUSSEAU
82
ros acontecimentos podem mudar as mais o Estado aumenta
a liberdade23 6
relaqöes de um povo, näo s6 diversos , mais d'
governos podem ser bons para diferen- Quando digo que a Irnin
tes povos, mas também para o mesmo ta, quero afirmar que se
mente submetido a ele23 5. Seja o povo pr6prio de cada südito näo muda (E l), mas
composto de cem mil homens, e näo a poténcia total do soberano aumenta na pro.
porgäo do nÜmero de seus membros (S
muda a situagäo dos såditos, supor-
10 000; S 100 000, etc.). Logo, a importåncia
tando cada um igualmente todo o relativa do südito em relaqäo ao soberano
império das enquanto seu sufrå-
leis, diminui•em proporgäo inversa. Ele estå subme-
gio, reduzido a um centésimo de milé- tido a uma autoridade tanto mais forte quanto
Sca
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DO CONTRATO SOCIAL 111
o povo for mais numeros02 40
por outro lado, o crescimento do Es-
que
oferecendo aos depositårios da sessem que, para encontrar essa média
autoridade
tado p6blica mais tentaqÖes e
Governo, bastaria, segundo 0 que afir-
mo, extrair a raiz quadrada do nümero
deve ter o Governo para conter o
forga
pov0 e ponderia, entäo, que näo tomo aqui
de sua parte, para conter o Gover- esse nümero senäo como exemplo; que
no, Näo me refiro aqui a uma forga as relaqöes de que falo näo se medem
absoluta, mas å forga relativa das vå-
unicamente pelo nümero de homens,
mas em geral pela quantidade de agäo
Segue-se, dessa dupla relagäo, que a que se combina por mültiplas causas;
proporGäo continua entre o soberano, que, de resto, se, para exprimir-me por
meio de palavras, tomo de empréstimo
mente uma idéia arbitråria, mas uma termos å geometria, näo ignoro, no
conseqüéncia necessåria da natureza entanto, näo ter nenhum cabimento a
precisäo geométrica nas quantidades
um dos extremos, a saber, o povo,
enquanto sådito, sendo fixo e represen- O
Governo é em ponto pequeno o
tado pela unidade, todas as vezes que que o corpo politico, que o encerra, é
aumentar ou diminuir a razäo dupla, em ponto grande. É uma pessoa moral
dotada de certas faculdades, ativa
tambérp a rgzäp simples aumgptgré og
diminuirå, modificando-se, conseqüen-
eomq o sqberano, passiva como o
Estado, e que pode ser decomposta em
temente, o termo médi02 42. Isso mos-
tranäo haver uma constituiGäo de outras relaqöes semelhantes, donde,
por conseqüéncia, nasce uma propor-
Governo finica e absoluta, mas que
Gäo nova e desta, uma outra ainda, de
podem existir tantos Governos diferen-
tes quantos Estados dife-
pela natureza
242 Nota de G. Beaulavon: "A razäo ou rela-
rentes pelo tamanho.
Gäo dupla é a que resulta da multiplicagäo de
Se, pondo o sistema no ridfculo, dis-
duas relagöes iguais, cada uma das quais se
chama relagäo ou razäo simples". (Aritmética
de Bezout, citada por Brunel, na Revista de
240 Dir-se-ia que, segundo certos dados da Hist6ria Literåria da Franqa, julho de 1904.)
moderna, o crescimento quantita-
sociologia Portanto, dado que-o- = , sendo E = l,
tivo duma sociedade acarreta maior generali-
SG
zaqäo de valores, idéias e håbitos de Vida. multiplicando temos-c—. Logo, a populagäo de
Rousseau, contudo, interessa-se pela tendéncia um Estado basta para determinar a forma de
das grandes sociedades a consentir na forma- seu governo;. (N. de L. G. M.)
Gäo de grupos internos, isto é, a complicar sua 243 "Efetivamente, fazendo-se S = IOOOOe
estrutura, como dizem os soci610gos. Näo s6 0 E = l, G= (G. Beaula-
fato é verdadeiro, como ainda interessa direta- von.) Importa acrescentar que, neste passo,
mente ao problema central da politica de Rousseau comeqa a dar-se conta do ponto a
Rousseau, que busca a melhor maneira de pre- que poderia levå-lo o paralelo matemåtico e
venir ou, pelo menos, mitigar a desigualdade. reage a esse hipotético mas provåvel ridiculo,
opondo-se a qualquer exagero. (N. de L. G.
241 Ou
melhor: å relacäo das forgas internas, M.)
2 44 Todo esse parågrafo, que poderå resultar
pois do jogo entre o poder do soberano, Estado
e Governo depende o dominio do Governo duma segunda revisäo da primitiva explanagäo
pseudomatemåtica, praticamente a anula no
sobre os süditos, e o do soberano sobre o
que tem de abstrata e de pretensamente exata.
Governo. Essa relacäo näo é arbitråria, mas
decorre da natureza social, como se afirma no
O Rousseau moralista reassume seus direitos.
parågrafo seguinte. (N. de L. G. M.)
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ROUSSEAU
84 245
acordo com a ordem dos tribunais dominante do Principe s6 é
— as relaqoes
Göes seriam iguais se o povo
Z.-e
I
nao
Essas rela-
tivesse senäo
deliberar e de resolver, direitos,
outra, como a série dos nÜmeros inteiros e a genérico, a afirmagäo tem ainda implicaqöes
série dos nÜmeros fracionårios, enqanto o prin- imediatas e concretas, pois o governo dos
Cipe permanece igual å unidade." (G. Beaula- monarcas do século XVIII caracterizava-se
von.) (N. de L. G. M.) exatamente por uma total
confusäo da vontade
247 Pela segunda vez, Rousseau abandona o e interesses particulares da pessoa real com os
paralelo aritmético, voltando a uma linguagem objetivos e o exercfcio do poder do Estado. A
simples e direta para exprimir suas afirmagöes Revolugäo, enquanto fiel ås suas fontes doutri•
sobre o mecanismo do Governo no complexo nårias, lutou por estabelecer um Estado total-
social. (N. de L. G. M.)
mente impessoal. (N. de L. G. M.)
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que é mais penosa. As dificul- 85
consagrada do
De todas essas diferenqas nascem as
sempre pronto a sacrificar o Governo
com o corpo do Estado, segundo as
näo o povo ao Governo.
vo, e
relaqöes acidenta-is e particulares pelas
aoP0.,s embora o corpo artificia12•49
quais esse mesmo Estado é modifi-
do Governo seja a obra de um outro
cado. Freqüentemente, o melhor Go-
corpo artificial e,de certo modo, näo verno em si mesmo pode tornar-se o
possua senäo uma Vida emprestada e
mais vicioso, se suas relaqöes näo
subordinada, tal näo impede que possa
forem alteradas segundo os defeitos do
agir com maior ou menor vigor ou corpo politico ao qual pertence.
249 "artificial
—
a palavra surge para é, meios bastantes para comunicar-se e convi-
qualificar tanto o corpo do Governo quanto o ver com seus semelhantes. Entre tais meios,
pr6prio corpo social. Impöe-se, contudo, lem- inclui-se o contrato social, que é a tomada de
brar que com Rousseau näo quer
esse adjetivo consciéncia de sua condiGäo social e politica,
significar simplesmente o que é fruto do artifi- e, também, a consciéncia da necessidade e
cio, da atividade gratuita. do homem. Em seu limites do corpo governamental, elemento fun-
vocabulårio, "natural" identifica-se com a cional que servirå de intermediårio pråtico
natureza primåria, psicofisi016gica fundamen- entre as vontades particulares e a vontade
tal, do indivfduo humano guiado pelos seus geral. Näo se trata, pois, de entidades opostas
impulsos instintivos e suas necessidades båsi- å natureza a elas "sobrejuntadas" (como
cas. Em conseqüéncia, o "artificial", como o equivocadamente julgou Durkheim), mas de
"civil" e o "policiado", säo termos ligados decorréncias naturais (na acepgäo moderna do
esfera de desenvolvimento social do homem, vocåbulo) da evoluqäo sofrida pelo homem a
que assim adquire uma linguagem, o pleno partir de sua condiGäo primeira e primåria. (N.
desenvolvimento da razäo e uma moral isto —
CAPfrULO II
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