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INTRODUÇÃO
O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
gestos e fonemas sem sentido que a criança apresenta e que somente a mãe sabe
interpretar e, a partir disto, realiza uma tripla função: a de proteger a criança,
satisfazer suas necessidades e fornecer estimulações necessárias para o
desenvolvimento perceptivo e afetivo. A criança e a mãe então estabelecem uma
relação do tipo díade na qual a mãe percebe as necessidades e reações do filho e
este percebe as variações de humor, neurovegetativas e de disposições afetivas da
mãe a seu respeito.
O prazer-desprazer e a tensão-distensão, a hipertonia no apelo e a hipotonia
da satisfação da criança estão ligados a ausência e presença da mãe. Sendo assim,
conclui que o controle das reações tônico-emocionais é um elemento fundamental
para um comportamento equilibrado e para a reabilitação de um corpo. “Esse
controle permite a elaboração de uma gestualidade adaptada ao mundo e integrada
à personalidade” (COSTE, 1987, p.35).
Em 1935, Eduard Guilmain iniciou uma prática psicomotora mais específica e
elaborou protocolos de exames para medir e diagnosticar transtornos psicomotores.
A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, em 1982, define
psicomotricidade como “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem por
meio do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”,
e complementa ainda que este termo é “empregado para uma concepção de
movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito
cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização”,
indicando que o individuo, dentro dessa perspectiva, é visto como um todo e como
um ser integrado em seu corpo.
De acordo com Ajuriaguerra (s/d,apud COSTE,1987, p.52) “a
psicomotricidade não é exclusiva de um método, ou de uma ‘escola’ ou de uma
‘corrente’ de pensamento, nem constitui uma técnica, mas visa fins educativos pelo
emprego do movimento humano”.
Para Mattos (2002, p.36) afirma que a educação psicomotora pode ser
preventiva, quando visa oferecer condições da criança se desenvolver da melhor
forma possível em seu ambiente.
Vayer (s/d, Apud MATTOS, 2002, p.36) acrescenta que a educação
psicomotora se trata de “uma educação global que, associando os potenciais
intelectuais, afetivos, sociais, motores e psicomotores da criança, lhe dá segurança,
equilíbrio e permite o seu desenvolvimento, organizando corretamente as suas
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relações com os diferentes meios nos quais tem de evoluir”. Essa educação é
dirigida a atuação dentro do âmbito escolar, principalmente nos segmentos da
Educação Infantil.
Segundo Lê Boulch (2001) a educação psicomotora teve inicio na França, na
segunda metade da década de 60 do século XX, com o próprio autor quando ainda
era professor de educação física, e visava o desenvolvimento global do individuo por
meio dos movimentos, e especificamente, evitar distúrbios de aprendizagem.
Sobre essa educação Lê Boulch (1984, apud MATTOS, 2002, p 35) afirma
que esta faz com que a criança tome consciência do seu corpo, da lateralidade,
situe-se no espaço, domine o tempo, e adquira habilidade a coordenação de gestos
e movimentos. Por esta educação, podem-se prevenir inadaptações, difíceis de
corrigir quando já estão estruturadas.
A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a
toda criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta possibilidades da criança e
ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o
ambiente humano. (LE BOULCH, 2001, p. 13).
A corrente educativa em psicomotricidade nasceu das insuficiências da
educação física que não teve condições de corresponder às necessidades de uma
educação real do corpo. O terço- Tempo Pedagógico significou uma renovação na
pedagogia e a introdução da educação psicomotora na escola primaria. Os
questionamentos formulados por Lê Boulch em sua obra L’ éducation par lê
mouvement, publicada em 1966, tiveram contribuições neste processo.
Segundo Lê Boulch (2001)
uma percepção.
Existe também a reeducação psicomotora, que oferece o tratamento para
indivíduos que apresentam qualquer problema de ordem psicomotora. São sintomas
que podem vir acompanhados de distúrbios mentais, orgânicos, psiquiátricos,
neurológicos, relacionais e afetivos.
No contexto da área reeducativa, o autor Lê Boulch afirma que em todos os
casos onde os transtornos da relação fundamental entre o EU e o mundo são
evidentes, a reeducação psicomotora em permitido obter resultados espetaculares.
Isto também é válido para as crianças normais durante todo período de maturação
de seu esquema corporal (LE BOULCH, 2001, p 24)
Este estudioso também pontua que se deve unir o aspecto funcional ao
afetivo, e que estes devem caminhar lado a lado. O primeiro aspecto é a forma como
o individuo reage aos estímulos do meio e quanto se modifica estes estímulos
podem ser naturais ou induzidos pelo educador psicomotor. Já o segundo aspecto,
dito afetivo ou relacional, é a forma como a criança se relaciona com o adulto, com o
ambiente físico e com as outras crianças: “a afetividade é expressa através da
postura, das atividades e do comportamento” (MATTOS, 2002, p37)
Neste cenário temos também a terapia psicomotora, voltada para indivíduos
que apresentam transtornos psicomotores associados com os da personalidade,
tendo como foco a readequadação do individuo a atividade mental que preside a
elaboração do movimento, melhorando as estruturas psíquicas pela transmissão,
execução e controle dos movimentos, por meio de um melhor reconhecimento
espaço-temporal, visando a integração mental do movimento.
Independentemente da área (estimulação, educação, reeducação ou terapia),
o processo é condicionado à confiança e clareza na relação ali estabelecida. Mas
para que se tenha tranquilidade sobre essa atuação, há que se esclarecer a sua
abrangência tanto na estimulação quanto na educação, na reeducação e na terapia
psicomotora. A psicomotricidade atuará proporcionando um ambiente que estimule
vivências corporais, permitindo a criança a viver e desenvolver seu corpo de forma
integral. (MATTOS, 2002, p37)
Neste caso, Erikson (apud Barros, p. 93), afirma que ações como punição,
ridicularização e sarcasmo por parte do adulto para com a menina que expressa seu
desejo natural de ser mulher farão com que a mesma sinta-se diminuída e culpada
por ter demonstrado alguns de seus sentimentos mais íntimos sobre a pessoa que
deseja tornar-se.
Nesta fase do desenvolvimento infantil é de suma importância transmitir a
criança segurança para que no futuro possam vir a ser adultos completos e
realizados sem carregar culpa por expressar seus desejos. (BARROS,1993)
Para Erikson (apud Barros, 1993), essa é a idade em que a criança sente
extrema necessidade de ser orientada quanto a sua sexualidade, de modo
gradativo, conforme for manifestada sua curiosidade sobre o assunto e de acordo
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Esquema Corporal
Lateralidade
A lateralidade diz respeito a noção de dominância lateral, ou seja, a definição
de qual lado será mais forte, mais ágil, terá maior destreza e precisão, etc. A
lateralidade é definida por dados neurológicos, mas pode ser influenciada por
hábitos sociais. As observações de Bergés ( s/d, apud Lê Boulch 2001, p92)
mostram que um percentual de destros de utilização podem ser considerados como
sinestros de equipamentos, resultados da pressão social, ou seja, tornando-se
destros por inúmeras atividades cotidianas. Se a educação limitar as iniciativas da
criança, existirá maior probabilidade de discordância entre lateralidade espontânea
( potencial genético) e lateralidade de utilização.
Depois que a lateralidade for definida, pode-se introduzir os conceitos de
esquerda e direita. Afinal, estes conceitos decorrem da noção da dominância lateral.
Lê Boulch (2001, p.92) afirma que a lateralização é a tradução de uma
assimetria funcional, pois, os espaços motores do lado esquerdo e do lado direito
não são homogêneos, “esta desigualdade vai se tornar mais precisa durante o
desenvolvimento e vai manifestar-se durante os reajustamentos práticos de natureza
intencional”.
A lateralidade é função da dominância, sendo que um dos hemisférios tomará
a iniciativa de organização do ato motor, que traduzirá no aprendizado e
consolidação das práxis
Estruturação Espacial
A estruturação espacial é a consciência que a criança tem em relação as
possibilidades motoras e as possibilidades de agir e de expressar-se.(LE BOULCH,
2001)
Diz respeito à consciência do lugar e da orientação em relação as pessoas e
as coisas que a cerca, e da possibilidade de se organizar perante o mundo, de
organizar as coisas entre si, de movimentá-las e mudá-las de lugar.
De acordo com Meur e Staes (apud LE BOULCH, 2001, pág. 13) até mesmo
para realizar uma simples atividade, por exemplo, é necessário que a criança
consiga se situar, situar os objetos a sua volta e se organizar em função do espaço
que dispõe.
Os autores ainda propõem etapas para a formação da estruturação espacial.
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São elas:
1- Conhecimento das noções, na qual a criança deve saber se deslocar em
seu espaço habitual, se situar e situar objetos, perceber formas, grandezas e
quantidades.
2- Orientação Espacial que ocorre quando a criança consegue dominar
termos espaciais como frente, trás, lado (direito e esquerdo), alto, baixo, etc;
consegue ficar em fila, e percebe, através de discriminações visuais, o que está
orientado na mesma direção.
3- Organização Espacial na qual a criança, além de saber situar um objeto
em um determinado ponto de referência, consegue usar isso para atingir um
objetivo. Esta etapa difere-se das outras por exigir maior raciocínio em situações
bem precisas.
Um exemplo de como funciona essas etapas são: na primeira, a criança põe
uma figura humana diante de uma casa; na segunda, consegue colocar essa figura
no lado direito da casa; na terceira, cria um povoado e movimenta essa figura a fim
de que ela percorra um trajeto por todo este povoado, sem passar, por exemplo,
duas vezes pelo mesmo lugar.
Orientação Temporal
Pré-Escrita
De acordo com Barros (1999) a pré-escola é um lugar que, pelo nome, deve
preparar crianças para a escola. Reduzir seu papel a isso, no entanto, seria uma
pena, pois a primeira infância é um período da vida onde se pode viver muito
intensamente. Quem não leu Monteiro Lobato, com seu Sítio do Pica-Pau Amarelo,
ou A História sem fim, de Michael Ende? Quantos de nós não mergulhamos em
mundos mágicos de fadas, bruxas, assombrações, dragões e heróis? Quem já não
foi Narizinho, Emília ou o Visconde de Sabugosa? Quem nunca viajou, como Atreiú,
nas costas de um dragão da sorte?
Essa coisa de pré-escola lembra um trecho de um livro de Rubem Alves
(1984, p. 15), Estórias de quem gosta de ensinar, em que um pai, todo orgulhoso,
pergunta ao filho o que ele vai ser quando crescer. A criança responde que vai ser
médico, um dos rótulos respeitáveis que o pai admite (poderia também ser
engenheiro, advogado, diplomata...). Já outro pai, que tem um filho leucêmico, diz-
lhe que “se tudo correr bem iremos ao jardim zoológico no próximo domingo...” Este
pai não pode fazer perguntas sobre o futuro simplesmente porque seu filho não tem
futuro. Por ironia, a segunda criança acaba vivendo com intensidade cada dia de sua
vida (que deverá ser curta), ao passo que a primeira apenas prepara-se para viver
um futuro distante, incerto, irreal... um futuro que inventam para ela. Assim é a pré-
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escola: sempre preparando para o que vai chegar. Mas, chegar quando? Os
quandos, os agoras, os depois não existem, pois o tempo adulto ainda não foi
inventado – as crianças dessa idade ainda não contam os dias que as separam da
morte, como nós, adultos, mesmo estando, às vezes, tão próximas dela.
As crianças de Educação Infantil provavelmente nunca terminarão seu
preparo. No 1º grau irão preparar-se para o 2º; neste, para a faculdade; nesta, só
hão de preparar-se para a profissão futura, para a ascensão a postos cada vez mais
altos... e chega-se à constatação de que o presente, o real, o que existe, não existe,
não é para ser vivido; o passado é aquilo que se deixou de viver e o futuro é o que
nunca chegará. (GALLAHUE, 2003, p.89)
De acordo com Gallahue (2003) poderia começar por mudar o nome pré-
escola. Inventemos qualquer outro, mas que dê ideia de presente, pois, na infância,
como em qualquer outra fase da vida, vale a pena viver como se cada dia fosse o
último de todos. Poderíamos usar outros nomes, como escola de primeira infância
ou jardim de infância (que já foi usado no passado), por exemplo.
O fato é que cada vez mais crianças estão sendo levadas para a escola na
primeira infância. Com o aumento da miséria em nossa sociedade, os pais, ou
conseguem colocar seus filhos em creches, berçários e escolas enquanto trabalham,
ou, na maioria das vezes, os deixam em casa, aos cuidados da criança mais velha
da família, de vizinhos, parentes. Cada vez mais as mães precisam trabalhar, porque
o salário do marido é insuficiente para suprir as necessidades básicas de uma
família. Bem que eu gostaria de todas as mulheres adquirissem o mesmo direito de
trabalhar que os homens, mas em condições justas, não pelos motivos
mencionados. (GALLAHUE, 2003, p.91)
De acordo com Neto (1994) levando seus filhos às escolas e creches, os pais
geralmente não têm expectativas de que eles aprendam muita coisa, mas sim, de
que sejam bem cuidados e alimentados. Até porque a hipocrisia que se vê na nossa
sociedade é tão grande, que se investe amplamente nessa expectativa: negam-se
aos pais condições dignas de trabalho que lhes permitam alimentar bem seus filhos,
de modo que passam – pais e filhos – a depender do alimento que o Estado lhes
concede.
Miséria neste país é o que não falta, tanto física quanto moral... não sei qual
a mais grave. Todos os que dão aulas para crianças sabem muito bem que,
mesmo em escolas particulares – inclusive as mais caras – esse é um
problema muito grave. (NETO, 1994, p.75)
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superado pelo engatinhar. Isso porque o arrastar-se permite à criança uma viagem
muito limitada, enquanto o engatinhar já lhe permite ir mais longe e empreender
novas conquistas. (LE BOULCH, 2001, p.102)
A ação de engatinhar é um fenômeno que integra o sujeito com o mundo, uma
perfeita comunhão das partes, uma evidência da indissociabilidade entre as pessoas
e o mundo.
De acordo com Le Boulch (2001) se tivermos o cuidado de observar com
atenção uma criança muito pequena em seus intentos para pegar objetos ao seu
redor, verificaremos a dificuldade que alcançar certos objetos provoca. Com alguns
objetos, seu êxito é imediato; com outros, haverá uma sucessão de fracassos até
que ela obtenha um bom resultado. Por que isso ocorre? Acontece que o esquema
que permite manipular um objeto não serve de imediato para a manipulação de
outro. Cada coisa a ser pega exige uma atividade motora particular. Cada
assimilação exige uma acomodação. Podemos verificar, na criança, que seu impulso
mais imediato é aplicar ao objeto novo o esquema que já utilizou em outros.
Fracassando uma vez, ela tende a continuar tentando, passando, pouco a pouco, a
considerar as características do novo objeto, até que o esquema inicial utilizado
possa ser modificado, adaptando-se à nova situação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS