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Reciclan
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Junho de 2021
Introdução
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e gerenciamento destes resíduos, além de apontar as responsabilidades dos geradores, do
poder público, e dos consumidores. Vale destacar que uma das mais importantes contri-
buições da PNRS foi o reconhecimento e integração dos catadores de material reciclável
como parte importante da solução do tratamento dos resíduos sólidos. Mesmo com esse
reconhecimento legal, a sociedade civil e as empresas custam a entender a importância e
a colaborar com a reciclagem e com o descarte correto. Reflexo disso é que a porcentagem
de destinação inadequada caiu apenas 3 pontos entre os anos de 2010 e 2019, de acordo
com o Panorama dos resíduos sólidos de 2020 feito pela Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE). Conforme o gráfico abaixo.
Da porcentagem que tem a destinação final adequada, pouco tem coleta seletiva e me-
nos ainda se é reciclado, a maioria dos materiais recicláveis vão para os aterros
sanitários. Como ressalta a ABRELPE:
“No que se refere à coleta seletiva, as iniciativas que estavam presentes em
56,6% dos municípios em 2010, agora foram registradas em mais de 73% das
cidades, mas ainda são bastante incipientes, e a falta de separação dos resíduos
reflete na sobrecarga do sistema de destinação final e na extração de recursos
naturais, muitos já próximos do esgotamento. A consequência direta disso são
os índices de reciclagem que, nesses dez anos da Lei Federal, permanecem em
patamares inferiores a 4% na média nacional”.
Ou seja, fica claro que, apesar de presente em muitas cidades as iniciativas têm pouca
visibilidade e apoio da sociedade civil. No ritmo atual só acabaremos com o descarte
inadequado no Brasil em 55 anos. Isso deve-se à opção política dos estados e municípios
de priorizar o “negócio do lixo”, que concede às empresas de limpeza publica recursos e
prioridade na gestão dos resíduos sólidos, mesmo que na PNRS seja priorizada a partici-
pação dos catadores.
O simples cumprimento da lei de 2010, de acordo com Gina Rizpah Bazen2 em seu livro
“A questão da coleta seletiva formal”, romperia com a lógica de gestão de resíduos em que
predominam práticas voltadas para a coleta, transporte, tratamento e disposição final de
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Doutora em Saúde Pública pela USP.
resíduos e construiria sistemas de gestão mais sustentáveis. A questão notada pela PNRS
e que merece nossa atenção é que os grandes heróis do tratamento dos resíduos
sólidos são os catadores de materiais recicláveis, eles são a base da cadeia de re-
ciclagem. Os catadores autônomos levam seu material para as cooperativas ou vendem
para pequenas sucatas, ambos muitas vezes na informalidade e que, por sua vez, vendem
-quase sempre sem a possibilidade de emissão de nota fiscal- para organizações com maior
capacidade de processamento e armazenamento. Essas organizações podem ainda vender
o material para outros intermediários ou para empresas recicladoras que são responsáveis
pela transformação e venda diretamente para as industrias. Infelizmente, eles lutam por
uma sociedade que pouco olha para eles, como explicitado pelo mestre em ciências sociais
Sandro Miranda em seu site Sustentabilidade e Democracia no artigo “O PROBLEMA
DOS RESÍDUOS SÓLIDOS: uma necessária mudança de cultura e a importância dos
catadores”:
“Historicamente discriminados e afastados dos espaços deliberativos, quando
não sofriam a criminalização do mercado de resíduos, dominado por grandes
conglomerados de limpeza urbana, nas últimas décadas, é possível observar em
várias partes do mundo um processo de organização do segmento de trabalha-
dores informais da reciclagem de resíduos sólidos em cooperativas e associações
catadores que, em muitos casos, vêm se engajando em diversos projetos dentro
do setor em parceria com administrações locais, sendo o Brasil um dos países
onde o reconhecimento formal dos catadores ganhou maior peso, especialmente
pela criação do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e
Reutilizáveis – MNCR.”.
Mas recentemente o último estudo profundo e abrangente sobre a situação social das
catadoras e catadores foi feito em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) com base nos dados do último censo demográfico feito em 2010 pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, que apesar de algumas imprecisões com os dias
atuais devido ao modelo de estudo e da distância temporal, nos permite traçar algumas
características do perfil dos heróis da reciclagem. De acordo com o IPEA as catadoras e
catadores são em sua maioria pretos e pardos, maiores de 35 anos, de baixa escolaridade,
de pouco acesso a tecnologia, recebem 517,56 reais em média, quase sua totalidade vive
nas cidades. De acordo com o MNCR, existem 800 mil catadores dentre os quais 70% são
mulheres e o dinheiro proveniente da reciclagem sustenta 700 mil crianças. Importante
ressaltar que para além da função socioambiental que esses profissionais desempenham, a
coleta de material reciclável é seu ganha-pão, mas que devido ao grau informalidade do
catador individual e ao fato de que a maioria do catadores estão à margem da sociedade
esse trabalho acaba tendo péssimas condições e sendo despido de muitos diretos. Como
ressalta a pesquisa feita em lixão no Distrito Federal e publicada em 2018 na revista Brasil
Epidemiologista através do artigo “Acidentes de trabalho e condições de vida de catadores
de resíduos sólidos”:
“Observou-se que a maioria dos catadores já se acidentou no trabalho (55,5%),
tem noção da periculosidade do ambiente de trabalho (95,0%) e alega não
receber equipamento de proteção individual (51,7%). Dentre outros achados,
55,8% já comeu alimentos encontrados no lixo, 50,0% vivenciava insegurança
alimentar em seus domicílios e 44,8% recebia Bolsa Família”.
O IPEA ainda nos traz que apenas 10% dos catadores fazem parte de cooperativas ou as-
sociações, números tão inexpressivos na interação entre os catadores é um prejuízo enorme
para a classe e para os indivíduos, como explica a Tereza Marta Pagliotto, coordenadora
da cooperativa Cooperlagos, no documentário “O Lixo Nosso de Cada Dia”:
• Objetivo geral: Criar um ambiente online acessível com o foco nos catadores e
na reciclagem, permitindo interação entre os catadores, ações sociais, empresas,
sociedade civil e do próprio Estado. Ambiente esse que, além de fomentar tais
interações, possa trazer dinamismo a elas.
• Objetivos específicos:
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Desenvolvimento
A ideia, a priori, é unir os interessados na reciclagem em uma rede social, a solução foi criar
uma voltada só para a reciclagem, denominada Reciclan. Montou-se o case olhando para
uma proposta de implantação iniciada em Fortaleza-CE, pois dentre os estados, registrou
um dos piores números de coleta, de acordo com o IPEA.
Justificativa
Durante as pesquisas sobre a questão dos resíduos sólidos urbanos, após perceber que
os grandes heróis da reciclagem são os catadores o passo seguinte foi buscar entender
as questões que permeiam o dia-a-dia desses profissionais, com o objetivo de moldar
o Reciclan para ser uma ferramente que os ajude e evidencie seu protagonismo. Foi
feito contato com alguns catadores e/ou de associações de catadores de Fortaleza, cujas
informações, apesar de escassas, foram obtida online através do seguinte documento feito
pela Prefeitura.
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Após tentar contato com todos os números para conversar e saber a opinião dos coor-
denadores das associações, grupos e rede de catadores, verificou-se que alguns números
não batem mais, bem como algumas dessas pessoas não são mais coordenadoras de as-
sociações. O desenrolar da solução trouxe obstáculos e demandas adicionais. Abaixo se
encontram as justificativas para os objetivos anteriormente elencados afim de esclarecer
quem são os agentes dessas relações, suas nuances e as possibilidades.
1. Dar visibilidade a importância do cuidado com os resíduos sólidos e a como os
catadores facilitam e são os protagonistas nesse processo;
Isso para, mais uma vez, mostrar a dimensão do problema dos resíduos sólidos e que
as soluções ao alcance de cada um não requerem esforços tão grandes pelo trabalho
dos catadores.
2. Fomentar maior interação e articulação entre os catadores e cooperativas de todo o
Brasil, para empoderá-los;
Isso, como já mencionado na introdução, é muito importante para que possam com-
partilhar informações, aprender conjuntamente e para que possam se articular para
ter e entender sua relevância política, social e de negociação. Unidos podem eliminar
um ou dois intermediários nas negociações e assim arrecadar mais com suas coletas.
Unidos podem pressionar o poder público a dar mais atenção à sua causa. Unidos
e organizados podem conquistar um maior reconhecimento da sociedade e abrir os
olhos da mesma para a reciclagem.
3. Facilitar e fomentar o descarte correto por parte das empresas, empreendimentos
comerciais e sociedade civil como um todo;
Muitas vezes, apesar de saber-se da necessidade da reciclagem e do papel do catado-
res, opta-se por fazer o descarte inadequado por comodidade, para evitar o trabalho
de juntar os recicláveis e deixar em algum ponto de reciclagem. Mas uma possibi-
lidade é apenas separar o seco do orgânico e chamar um catador para combinar a
coleta. O objetivo aqui é que a rede social seja um lugar que tenha as informações
necessárias para essa relação, desde fazer entender que é fácil até podendo trazer o
contato de um catador que mora e/ou trabalha por perto.
4. Espalhar iniciativas e ações sociais que apoiem os catadores e a reciclagem por todo
Brasil;
Existem diversas iniciativas locais de apoio aos catadores, tal como o Pimp My
Carroça. Para estes e para que qualquer grupo ou empresa que queira apoiar a
reciclagem e/ou os catadores o Recicla serviria como um ambiente fértil para a
divulgação dessas iniciativas já existentes.
Aplicação
Criação do Reciclan
Reciclan é uma rede social acessível que contará com diferentes layouts para os diferen-
tes usuários, além é claro, da possibilidade de todos terem em seus perfis informações
particulares, como contato e endereço. Além disso, poderão postar fotos, vídeos, textos,
comentários e seguir outros perfis.
• Catador, funções específicas como: raio de proximidade por onde ele passa e perfis
próximos, se é ou não vinculado a algum grupo de catadores e os cursos que ele fez.
Também haverá a possibilidade de avaliação das empresas no quesito reciclagem.
• Grupos, associações e redes de catadores, haverá espaço para indicar quem são
os colaboradores, empresas parceiras, se são auxiliada por alguma iniciativa social
e se eles tem acordos com empresas e/ou com prefeituras. Além disso espaço para
indicar o material com que trabalham, quais são os bairros que cobrem, o volume
médio de material reciclado e os projetos em que estão inseridos.
• Empresas, haverá espaço para colocar os dias em que terá recicláveis disponíveis
para coleta, se eles têm acordos com cooperativas ou com catadores, a quanto tempo
fazem a separação do material e quanto de seu resíduo sólido é reciclado.
• Para demais perfis será um modelo comum de rede social. Terão acesso a diversos
informativos e dicas sobre reciclagem mas, diferente de uma rede social convencional,
os algoritmos priorizarão os posts de perfis de catadores num raio de proximidade.
Uma pergunta natural é “Se queremos dar visibilidade aos catadores, por que não inseri-
los nas mídias sociais tradicionais ao invés de criar uma nova?”.
Em entrevista com Rafaela Gomes3 , ela alerta que, nas mídias sociais é necessário um bom
volume de postagens e bom trato nas publicações para que o perfil não sofra diminuição
do seu alcance pelos algoritmos desses aplicativos. Como já mencionado, o foco desse
projeto é trazer protagonismo aos catadores. Além do Recilan servir a esse propósito,
pode funcionar como local de aprendizado sem desestimular a criação de conteúdo, assim,
após se acostumar a utiliza o Reciclan, migrar para outras plataformas pode se mostrar
mais fácil.
Inclusão Digital
A exemplo da parceria feita entre a Ambev e a Prefeitura de São Paulo durante a pande-
mia do Covid-19, a ideia do presente projeto é fechar uma parceria com a Prefeitura de
Fortaleza. Parceria essa para fornecer cursos de inclusão digital, que poderão ser ofertados
nas regionais (sub-prefeituras), na rede CUCA (rede de proteção social e oportunidades
formada por três Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte), nas escolas e/ou
ainda nas associações dos catadores. Esses cursos podem ser ministrados por pessoas ou
grupos contratados para tal e/ou pelos voluntários do Ambev Voa. Uma das bases dessa
iniciativa é ensinar o uso do Reciclan, podendo os locais onde as aulas ocorrerão, servir
como um ponto de cadastro de catadores e ponto de apoio tecnológico continuado.
Estratégia de comunicação
No caso de Fortaleza, a comunicação deve iniciar nas escolas, na rede CUCA, nas regionais
e nas traseiras de ônibus. Isso, pois, como mencionado, a renda das coletas sustentam 700
mil crianças que, provavelmente, frequentam o ensino público e/ou a rede CUCA. Além
disso o local de trabalho dos catadores são, em sua maioria, as ruas e por isso seria efetiva a
comunicação nas traseiras dos ônibus. Além disso, é importante promover propagandas via
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Pós-graduanda em Gestão em Comunicação Digital e Mídias Sociais e Fundadora da agência de
publicidade Verona Comunicação, empresa que faz gestão de mídias sociais para pequenas e médias
empresas e profissionais autônomos.
mídias sociais convencionais, considerando o número expressivo de seguidores da Ambev,
certamente será efetiva.
Incentivo a Reciclagem
Alé de todos os tópicos mencionados sobre a divulgação e a criação do Reciclan, para que
a reciclagem seja promovida ainda mais tanto pelas escolas quanto pelas empresas, num
objetivo de se alcançar a sociedade civil como um todo, o projeto inclui também uma
promoção via concurso.
Nas escolas se realizaria concursos promovidos pela Prefeitura em parceria com a Ambev,
no qual a escola do ensino público cadastrada no Reciclan que mais reciclar durante
o ano ganharia um prêmio de incentivo ao ensino de tecnologia, por exemplo alguns
computadores ou tablets. Para a medição dessa quantidade pode-se contar com a ajuda
dos catadores.
Para as empresas seria realizado um concurso nos mesmos termos que concederia a elas
o certificado de recicladora além da visibilidade recebida pela participação no concurso.
Vale lembrar que, como mencionado, toda empresa pode ser avaliada pelos catadores isso
para que se verifique o compromisso dela com a reciclagem.
Conclusão
Os rumos da sociedade, seu padrão de consumo e o modo como tratam os resíduos é, como
mostrado, algo que precisa ser mudado. Essas atitudes refletem diretamente na saúde da
terra, das pessoas e nosso bem-estar Muito já foi conversado, acordado
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Referencias
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