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ELU/ELS E O CONFRONTO COM O MÉTODO DAS BIELAS NO

CÁLCULO DE VIGAS DE TRANSIÇÃO

Henrique César Campagnolo Gimenes1


Rafael Alves Souza2
Vladmir José Ferrari3

RESUMO

O cálculo de vigas de transição é uma atividade de muito zelo, reponsabilidade e cautela no


cotidiano de escritórios de engenharia de projetos estruturais. Frequentemente ele é feito as luzes do
ELU, o qual pode-se basear na Teoria Geral da Flexão e verificado posteriormente o ELS, com o
cálculo da formação de fissuras, abertura de fissuras e deformação excessiva. Contudo, em alguns
casos particulares de tais vigas, esse método de cálculo torna-se impreciso, com resultados que não
refletem a realidade física do problema. Casos em que a altura da viga de transição é
demasiadamente grande, a Teoria Geral da Flexão deixa de ser satisfatória, sendo necessário o
cálculo pela abordagem do Método das Bielas, (Strut and Tie Method). Com grandes alturas, essas
vigas passam a ter o comportamento de vigas-paredes, desenvolvendo campos de tração com
larguras bem mais expressivas do que aquelas verificadas nas vigas convencionais, unidos por nós.
Entretanto, tal informação não é plenamente dominada pela maioria dos profissionais que atuam em
projetos estruturais, de maneira que a utilização do Modelo Clássico de Viga para o
dimensionamento em ELU e verificação em ELS de vigas de transição é ainda uma atividade
frequente no dia-a-dia dos escritórios. Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo expor tal
problemática exemplificando o cálculo de uma viga de transição sobre a ótica dos dois métodos e
comparando seu resultados, os quais revelam que existe uma diferença significativa na taxa de
armadura transversal de uma viga calculada e verificada pelo ELU/ELS em relação ao Método das
Bielas.

Palavras-chave: Vigas de transição. Teoria Geral da Flexão e Método das Bielas. Taxa de
armadura transversal.

1
Eng. Esp. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PCV, Universidade Estadual de Maringá-
UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, henriquegimenes@gmail.com
2
Prof. Dr. Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, rsouza@uem.br
3
Prof. Dr. Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, vladimirjf@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO

Há várias décadas, o cálculo de vigas de transição é feito sobre as hipóteses básicas da


Teoria Geral da Flexão. Essa rotina é consagrada e amplamente aplicada no âmbito acadêmico e
profissional, porém há casos em que tal procedimento pode-se tornar inadequado.
Regiões D são regiões especiais e particulares dos elementos estruturais, onde a Hipótese de
Bernoulli não pode ser admitida, geralmente, tais regiões são pontos de aplicação de carga,
descontinuidade geométrica e mudança severa de direção nos elementos, podendo ocorrer em vigas,
consolos, dentes-gerber, blocos de fundação, nichos de protensão e outros.
Segundo Souza et al (2003) nessas regiões de descontinuidade e perturbação as deformações
oriundas do esforço cortante passam a ser relevantes no dimensionamento do elemento estrutural e a
adoção de métodos convencionais, as luzes da Hipótese de Bernoulli, passa a resultar em soluções
duvidosas, imprecisas ou inseguras.

Figura 1 – Comprimento da Região D

Fonte: ACI 318 (2011) – (Adaptado)


As vigas de transição têm alturas grandes, devido ao fato que são vigas que suportam cargas
pontuais oriundas de pilares. Essas vigas deveriam ser classificadas e tratadas como vigas-paredes,
pois tem seu comportamento regido em sua totalidade pelas Regiões D, em razão de que o elemento
todo é uma região D, a zona de perturbação é estendida ao longo do elemento na medida de duas
vezes a altura do mesmo, como ilustra a Figura 01.
A condução de uma análise em vista das Regiões D só é aplicada em escritórios de alto
nível. Na maioria casos, tal análise é feita em situações impares e em caráter investigativo, sobe a
prerrogativa de uma segunda avaliação sobre um cálculo já feito pela flexão e força cortante. Tal
relutância pode ser atribuída pelo fato de que o cálculo feito com as hipóteses clássicas, seguido de
uma análise no ELU e a verificação no ELS seja suficiente para o detalhamento, funcionamento e
adequação satisfatório do elemento estrutural calculado.
Diversas pesquisas têm demostrado a importância da utilização das Regiões D no cálculo e
dimensionamento de vigas de grandes alturas, Souza et al.e Souza e Bittencourt (2003) mostram
que a taxa de armadura de cisalhamento obtida com a norma brasileira vigente da época, a qual é
baseada no ELU/ELS, é substancialmente diferente da obtida com o Método das Bielas.
Nesse cenário, o presente trabalho tem por objetivo salientar a diferença brusca de resultados
no cálculo de uma viga de transição sobre o foco do ELU e a verificação nos ELS ante o cálculo do
mesmo ente estrutural na perspectiva do Método das Bielas.

2. ESTADO LIMITE ÚLTIMO

Segundo a NBR 6118 (2014) estado limite último é atingido quando a estrutura entra em
colapso, ruína estrutural de qualquer forma e isso resulte na paralisação do uso da estrutura.
Para o dimensionamento adequado é necessário ter ciência das hipóteses básicas dos
elementos sujeitos a solicitações normais e os domínios da seção transversal. Todos esses preceitos
estão expostos na norma NBR 6118 (2014).
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Segundo o mesmo código, a verificação do estado limite último de uma seção transversal de
concreto armado, deve ser considerada satisfatória, quando for verificada força cortante solicitante
de cálculo em relação a força cortante resistente de cálculo da ruína das diagonais comprimidas e
tracionadas.
Neste estudo foi adotado o valor do cortante no centro do apoio, sem a parcela de redução
permitida pela norma do cortante na face do elemento, próximo ao apoio. Foi feito o cálculo das
verificações e armaduras transversais pelo modelo de cálculo I da NBR 6118 (2014).

3. ESTADO LIMITE DE SERVIÇO

Para a verificação dos estados limites de serviço é necessário o cálculo dos parâmetros de
verificação da formação de fissuras, deformação excessiva e abertura de fissuras. Todos esses guias
de cálculo estão descritos na norma NBR 6118 (2014)

4. MÉTODO DAS BIELAS

Segundo Souza (2004) a maioria dos elementos estruturais de engenharia podem ser
dimensionados segundo a Hipótese de Bernoulli, onde seções planas permanecem planas e a
distribuição de deformações é linear ao longo da seção, para todos os casos de carregamento. Tais
elementos têm regiões chamadas Regiões B, beam-like regions ou Bernoulli.
Existe outro grupo de elementos que esta hipótese não pode ser aplicada, neles existem
regiões chamadas de Regiões D, disturbed regions ou descontinuidade. Nessas regiões há mudanças
bruscas de carregamento, geometria e seção transversal, em tais locais, as tensões de cisalhamento
são significativas, sendo então necessária uma abordagem diferente.
A NBR 6118 (2014) apresenta situações típicas de manifestação de regiões D, conforme a
Figura 2.
Figura 2 – Situações típicas de Regiões D

Fonte: NBR 6118 (2014)


Existem códigos normativos que recomendam a utilização desses modelos e sugerem
parâmetros para valores de resistência das bielas e regiões nodais. O ACI 318 (2011), CEB-FIP
(1990), a norma canadense CSA-A23.3-94 e a NBR 6118 (2014) são alguns deles. Em relação à
norma NBR 6118 (2014) tais parâmetros são recentes, incluídos somente na revisão de 2014 e estes
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serão utilizados nesse estudo.
Segundo MacGregor (2002), as regiões D podem ser concebidas com a modelagem
utilizando a “Análise de Treliça”, onde o concreto estará submetido a tensões de compressão,
trabalhando como escoras, as armaduras estarão tracionadas, servido de tirantes e esse sistema todo
é unido por nós.
Nos nós acontece à transferência de esforços, entre escoras, tirantes e apoios fixos das
estruturas. Essa idealização corresponde á estrutura do Método das Bielas – correspondente em
inglês Strut-and-Tie models sobe a sigla de STM em inglês.

4.1 Tipo de escoras e seus parâmetro de resistência

Segundo a NBR 6118 (2014), as tensões de compressão nas escoras assumem os seguintes
valores:

f cd1  0,85   v 2  f cd
f cd 2  0,60   v 2  f cd (1)
(2)
f ck
 v2 = 1 - [MPa] (3)
250

em que: f cd 1 : Tensão resistente máxima no concreto, em verificação pelo Método de Bielas


em regiões de tensão de compressão transversal ou sem tensões de tração transversal
e em nós com bielas de compressão somente;
f cd 2 : Tensão resistente máxima no concreto, em verificação pelo Método de Bielas,
em regiões de tensão de tração transversal e em nós onde há o trânsito de dois ou
mais tirantes.
f cd : Resistência de cálculo à compressão de concreto;
f ck : Resistência característica à compressão de concreto.

De forma simplificada a norma brasileira sugere que para escoras do tipo garrafa o valor de
tensão máxima de compressão f cd 2 e para escoras do tipo prismáticas o valor de tensão máxima de
compressão f cd1 .

4.2 Nós e seus parâmetros de resistência

Segundo a NBR 6118 (2014), o parâmetro de resistência nos nós é dado pela Equação 4:

f cd 3  0,72   v 2  f cd (4)

em que: f cd 3 : Tensão resistente máxima no concreto, em verificação pelo Método de Bielas,


em nós com tirante associado;

4.3 Tirantes e seus parâmetros de resistência

Na grande maioria dos casos, os tirantes são representados por barras de aço entalhadas, tais
barras são distribuídas em uma única camada ou em múltiplas, ao longo da seção de concreto.
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Devido a isso, a largura do tirante é considera igual à altura da camada de barras distribuídas,
já na situação de camada única, a largura do tirante é admitido como duas vezes o cobrimento do
concreto mais o diâmetro da barra de aço.
O parâmetro de resistência utilizado é a tensão de escoamento e seu dimensionamento é
obtido pela Equação 5:
R st
AS = (5)
f yd

em que: As : Área de aço do tirante;


Rst : Força atuante no tirante;
f yd : Tensão de escoamento de cálculo no tirante.

4.3.1 Largura dos elementos

A largura do tirante pode ser definida quando já se conhece as quantidades de armadura


da seção. Segundo Reineck apud Souza (2004) a largura assume os seguintes valores:
 , para uma camada de armadura de diâmetro com ancoragem dentro do nó;
 , para uma camada de armadura e ancoragem atravessando o nó de um
comprimento de pelo menos 2c;
 , para “n” camadas de armaduras espaçadas de “s”, não maior
que 1,5 vezes a largura do apoio ou da placa de apoio.
Dessa forma o nó inferior terá suas dimensões restringidas pela largura da placa de apoio e
pela largura dos tirantes. A largura da escora inclinada, é dada pelo comprimento do segmento
de reta perpendicular á esta escora, ela é definida pela Equação 29:

ws  wt  cos  lb  sen (6)

em que: ws : Largura da escora interna inclinada;


wt : Largura do tirante;
 : Inclinação da escora concorrente no nó;
lb : Comprimento de apoio ou placa de apoio.

4.3.1.1 Cálculo da armadura para o controle de fissuração segundo o ACI 318 (2011)

Segundo o ACI 318 (2011) o cálculo da armadura vertical e horizontal para o controle da
fissuração deve seguir as seguintes equações:

a sv  0,25  bw (7)
(8)
a sh  0,15  bw
Simultaneamente deve obedecer a Equação 9:

Asi
b  sen( yi )  0,003 (9)
i

em que: Asi : Área de aço da armadura;


bi : Largura da viga;
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y i : Ângulo formado entre as armadura vertical e horizontal.

5. EXEMPLO

Para ilustrar as diferentes respostas obtidas, quando feito o cálculo de uma viga de transição
pelo ELU/ELS e confrontado pela Método das Bielas será proposto o cálculo da viga de transição,
ilustrada na Figura 3.
O edifício estudado foi concebido em concreto armado moldado in-loco, cujas lajes são de
tipologia nervuradas com formas plásticas removíveis, popularmente conhecidas por “cubetas” com
altura de 30 cm e pé-direito estrutural de 3,00 m. O modelo do edifício possui 18 pavimentos, sendo
uma cobertura, 13 pavimentos tipos, dois pavimentos da caixa d’agua, que eram o piso e a cobertura
da mesma e dois pavimentos de embasamento
Esse edifício foi modelado usando o software de cálculo estrutural CAD/TQS (2016), versão
19.1 – Versão Plena. Na concepção dos parâmetros para modelagem da estrutura, foi considerado
um modelo integrado e flexibilizado de pórtico espacial com lajes em um modelo de grelha
nervurada, para os pavimento piso e cobertura.
Em relação aos materiais, foi considerada a classe C30 para concreto, aço CA50A para
armadura longitudinal e CA60 para a transversal em uma estrutura de nós fixos, com classe de
agressividade ambiental II, para ambientes urbanos, como cobrimento de 3,00 cm.
Admitiu-se nas lajes uma carga de uso de 1,50 kN/m² e uma carga permanente, com
revestimento e regularização, de 1,00 kN/m² e alvenaria de parede de tijolos furados sobre as vigas
do piso com 15,00 cm de largura acabadas, 3,00 m de altura e peso específico aparente de 12,00
kN/m³ quando pronta.

Figura 3 – Detalhe da viga de transição em viga

          



 
 



  
 

    



Fonte: O AUTOR (2017)


No primeiro pavimento, nomeado transição, tinha a viga de transição V16 (54/180) a qual
suportava o pilar P25 (25/135) que nascia nesse pavimento de transição e morria na cobertura da
caixa d’agua.
Após o processamento do edifício no software descrito acima obteve-se os valores dos
esforços solicitantes, com isso em mãos, será realizado o dimensionamento, detalhamento e
quantificação de aço segundo a Teoria Geral da Flexão e recomendações da NBR 6118 (2014) e

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Método das Bielas.

5.1 Dimensionamento no Estado Limite Último

5.1.1 Dimensionamento pela Teoria Geral da Flexão

Valor de momento fletor obtido no cálculo foi de Mfk = 4.690,57 kN.m, com isso temos a
armadura longitudinal calculada igual a 102,51 cm² e adotada 21 Ø 25,0 mm que resulta em 102,90
cm².

5.1.2 Ancoragem no apoio

Para o cálculo da ancoragem no apoio foi calculado o número de barras a serem ancoradas
de apoio a apoio e chegou-se a 13 Ø 25,0 mm, totalizando 63,78 cm². Feito isso foi obtido o valor
da decalagem do diagrama, al = 141,71 cm e por fim a cobertura do momento fletor.
Com isso temos as barras de 14-21 com 650 cm de comprimento. A Figura 4 ilustra o
cálculo do comprimento dessas barras:

Figura 4 – Cálculo do comprimento das barras 14 a 21 do arranjo da V16

 

     






Fonte: O AUTOR (2017)

5.1.3 Dimensionamento à Força Cortante

Valor de esforço cortante obtido no cálculo foi de Vsk = 1.423,79 kN, com isso a taxa
armadura transversal obtida foi de asw = 18,0 cm²/m e o valor mínimo de asw, mín = 19,0 cm²/m.
Com isso tem-se a armadura transversal calculada junto ao apoio igual a 8,99 cm²/m/face e
armadura mínima 9,59 cm²/m/face. Foi adotado Ø 8,0mm a cada 10,0 cm, totalizando 10,05
cm²/m/face, satisfazendo ambas condições. As Figuras 5 e 6 ilustram as armaduras longitudinal e
transversal que devem ser corroboradas e verificadas no ELS.

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Figura 5 - Detalhamento longitudinal da V16 - Flexão


  

 






 


  

  


Fonte: O AUTOR (2017)

Figura 6 – Detalhamento da armadura transversal da V16 - Cisalhamento


 













Fonte: O AUTOR (2017)

5.2 Verificação do Estado Limite de Serviço (ELS)

Para a viga em questão calculou-se que o Estado Limite de Formação de Fissuras (ELS-F)
que se dará para o momento fletor característico de 647,01 kN.m. Ainda na mesma viga, foi
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calculado o Estado Limite de Deformação Excessiva (ELS-DEF) que se manifestará para o
momento fletor característico de 924,30 kN.m.
A flecha imediata foi calculada e obteve-se um valor de 0,56 cm, em seguida foi calculada o
a flecha deferida e foi obtido o valor de 0,80 cm. Com esses valores em posse, foi calculado o valor
da flecha total e obteve-se o valor final de 1,36 cm.
Ainda para a mesma viga, foi calculado o Estado Limite de Abertura de Fissuras (ELS-W)
que ocorrerá com as medidas de fissuras de w1 = 0,13 mm e w2 = 0,48 mm, sendo adotado o menor
valor das duas, w1 = 0,13 mm.

5.3 Dimensionamento pelo Método das Bielas

5.3.1 Parâmetros de modelagem:

Para o cálculo da viga V16 pelo Método das Bielas foram adotados e calculados os seguintes
dados de entrada:
I. Dados geométricos:
 H = 180,0 cm; bw = 54,0 cm; cobrimento = 3,00cm;
 X = 60,58 cm; a = 32,40 cm; d = 133,51cm.
 α = 38,9°; β = 49,31°; γ = 35,67°; θ =31,77°
 bw pilar = 25,0 cm; L pilar = 40,0 cm.

Os valores de “X” e “a” são valores obtidos mediantes ao cálculo de uma seção de concreto
armado na flexão simples. A variável “X” equivale a altura da zona de compressão, ilustrada na
Figura 7, na parte superior, preenchida com a textura similar ao concreto armado, com a inscrição
“ZONA DE COMPRESSÂO”. Já por sua vez “a” é a altura da zona de tração, ilustrada na mesma
figura com o preenchimento de linhas vermelhas inclinadas para esquerda, com a inscrição “ZONA
DE TRAÇÃO”.

Figura 7 – Parâmetros geométricos do modelo de escoras e tirantes


   


























   

   

Fonte: O AUTOR (2017)


A Figura 8 ilustra a numeração dos nós, escoras e tirantes. Com tais informações é feito o
cálculo da treliça e é obtido os valores de força nos nós, escoras e tirantes. Tais informações são

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necessárias para a verificação da treliça.

Figura 8 – Numeração dos nós, escoras e tirantes

    

     

      

Fonte: O AUTOR (2017)


Com essas informações é feito o cálculo dos esforços das barras e nós, com o auxílio do
software Ftool. Após o processamento da estrutura é necessário a verificação dos nós, escoras e
tirantes por meio da wnec e wdisp. Tais valores são obtidos de acordo com as Equações 10 e 11:

Fd (10)
wnec 
f cdi  bw
em que: Fd : Força de cálculo, obtida pela multiplicação de Fk pelo coeficiente γc = 1,40
f cdi : Parâmetro de resistência do elemento verificado;
bw : Largura da viga.

wdisp  lb  sen()  a  cos() (10)

em que: lb : Largura da placa de apoio;


 : Ângulo de interesse do elemento verificado;
a : Altura da zona de compressão ou tração, dependo do elemento verificado.

Com isso em mão pode-se fazer a verificação das escoras, nós e tirantes. As Tabelas 1,2 e 3
mostram parâmetros de resistência e suas verificações:

Tabela 1 – Verificações das escoras


ÂNGULO Fci Wnec Wdisp
# NÓS TIPO Fk [kN] Fd [kN] Verificação
[rad] [kn/cm²] [cm] [cm]
1 1a2 garrafa 0,68 1,13 2.202,50 3.083,50 50,47 50,334 não ok
2 3a4 garrafa 0,86 1,13 1.748,20 2.447,48 40,06 58,450 ok
3 4a5 garrafa 0,62 1,13 1.620,10 2.268,14 37,12 63,790 ok
4 6a7 garrafa 0,55 1,13 1.910,50 2.674,70 43,78 48,606 ok
5 2 a 4 prismática 0,00 1,60 2.401,70 3.362,38 38,85 60,577 ok
6 4 a 6 prismática 0,00 1,60 2.225,70 3.115,98 36,00 60,577 ok

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Tabela 2 – Verificação dos nós
Fcd Wnec Wdisp
# TIPO Força Fk [kN] Fd [kN] Verificação
[kn/cm²] [cm] [cm]
1,36 R1 1.420,70 1.988,98 27,13 50,334 ok
1 CCT 1,36 C1-2 2.202,50 3.083,50 42,06 72,262 ok
1,36 T1-3 1.715,40 2.401,56 32,76 32,400 não ok
1,36 C1-2 1.420,70 1.988,98 27,13 50,334 ok
2 CCT 1,36 C2-4 2.401,70 3.362,38 45,86 60,577 ok
1,36 T2-3 1.467,40 2.054,36 28,02 254,000 ok
1,13 T1-3 1.715,40 2.401,56 39,31 32,400 não ok
1,13 T2-3 1.467,40 2.054,36 33,62 254,000 ok
3 TTT
1,13 T3-5 3.518,00 4.925,20 80,61 32,400 não ok
1,13 C3-4 1.748,20 2.447,48 40,06 58,450 ok
1,60 C2-4 2.401,70 3.362,38 38,85 60,577 ok
1,60 C4-6 2.225,70 3.115,98 36,00 60,577 ok
4 CCC
1,60 C4-3 1.748,20 2.447,48 28,28 58,450 ok
1,60 C4-5 1.620,10 2.268,14 26,20 63,790 ok
1,13 T3-5 3.518,00 4.925,20 80,61 32,400 não ok
1,13 T5-7 1.619,60 2.267,44 37,11 32,400 não ok
5 TTT
1,13 T5-6 1.141,10 1.597,54 26,15 345,000 ok
1,13 C5-4 1.620,10 2.268,14 37,12 63,790 ok
1,36 C4-6 2.225,70 3.115,98 42,50 60,577 ok
6 CCT 1,36 C6-7 1.910,50 2.674,70 36,48 48,606 ok
1,36 T5-6 1.141,10 1.597,54 21,79 345,000 ok
1,36 R2 1.031,80 1.444,52 19,70 48,606 ok
7 CCT 1,36 C6-7 1.910,50 2.674,70 36,48 72,561 ok
1,36 T5-7 1.619,60 2.267,44 30,93 32,400 ok

Tabela 3 – Verificação dos tirantes


As nec As ad.
# FORÇA Fd [kN] A barra N Verificação Arranjo
[cm²] [cm²]
1 T1-3 2401,56 55,24 4,90 12,00 58,800 ok 12 Ø 25 mm
2 T3-5 4925,20 113,28 4,90 24,00 117,600 ok 24 Ø 25 mm
3 T5-7 2267,44 52,15 4,90 11,00 53,900 ok 11 Ø 25 mm
4 T2-3 2054,36 47,25 4,00 12,00 48,000 ok Ø 16 mm C/ 8
5 T6-5 1597,54 36,74 4,00 10,00 40,000 ok Ø 16 mm C/ 10

5.3.1.1 Cálculo da armadura para o controle de fissuração segundo o ACI 318 (2011)

I. Armadura vertical e horizontal:


 asv = 13,5 cm²/m; Armadura transversal adotada Ø 10,0 mm a cada 11,0 cm.
 ash= 8,10 cm²/m. Armadura transversal adotada Ø 8,0 mm a cada 12,0 cm.
II. Verificação:
 Com Ø 10,0 mm a cada 11,0 cm: ∑

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 Com Ø 8,0 mm a cada 12,0 cm: ∑
5.3.2 Ancoragem no apoio de comprimento das barras
I. Decalagem do diagrama:
 al = 97,35 cm
II. Comprimento da barras de 13-24:
 Dos nós 3 a 5 tem-se Li=300 cm;
 Somando al e 10Ø em cada lado, temos L=544cm.

Com isso temos as barras de 13-24 com 545 cm de comprimento. A Figura 9 ilustra o
cálculo do comprimento dessas barras:

Figura 9 - Cálculo do comprimento das barras de 13 a 24 do arranjo da V16

    

     

      

    



Fonte: O AUTOR (2017)


As Figuras 10 e 11 ilustram as armaduras longitudinal e transversal calculadas segundo o
Método das Bielas.

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Figura 10 - Detalhamento da armadura longitudinal da V16 – Método das Bielas


  

 





 



 

  

  


Fonte: O AUTOR (2017)

Figura 11 – Detalhamento da armadura da V16 – Método das Bielas

 







  







Fonte: O AUTOR (2017)

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6. RESULTADOS

Tendo em vista os detalhamentos da viga de acordo com os métodos apresentados chega-se


ao seguintes resultados de consumo de aço:

Tabela 4 - Resumo de aço da V16 – Teoria Geral da Flexão


COMPR. COMP. PESO PESO
BITOLA QUANT.
MÉTODO AÇO POS UNITÁRIO TOTAL LINEAR TOTAL
[mm] [unidade]
[m] [m] [kg/m] [kg]
9,11 36,44 3,930 143,21
CA50 2 10,00 26,00 8,51 221,26 0,624 138,07
CA50 3 25,00 8,00 6,50 52,00 3,930 204,36
ELU/ELS CA50 4 25,00 4,00 9,05 36,20 3,930 142,27
CA50 5 25,00 9,00 9,11 81,99 3,930 322,22
CA50 6 8,00 97,00 4,54 440,38 0,393 173,07
1123,19

Tabela 5 - Resumo de aço da V16 – Método das Bielas


PESO PESO
BITOLA QUANT. UNITÁRIO TOTAL
MÉTODO AÇO POS LINEAR TOTAL
[mm] [unidade] [m] [m]
[kg/m] [kg]
9,11 36,44 3,930 143,21
CA50 2 10,00 26,00 8,51 221,26 0,393 86,96
CA50 3 25,00 12,00 5,45 65,40 3,930 257,02
CA50 4 25,00 1,00 6,95 6,95 3,930 27,31
CA50 5 25,00 2,00 9,05 18,10 3,930 71,13
MBT
CA50 6 25,00 9,00 9,11 81,99 3,930 322,22
CA50 7 16,00 27,00 4,54 122,58 1,570 192,45
CA50 8 10,00 28,00 4,54 127,12 0,624 79,32
CA50 9 16,00 28,00 4,54 127,12 1,570 199,58
1179,63

Tabela 6 - Comparativo entre Teoria Geral da Flexão e Método das Bielas


TIPO DE ELU/ELS MBT Δ absoluta
Δ relativa Δ (%)
ARMADURA [kg] [kg] [kg]
TOTAL 1123,19 1179,63 56,44 0,05 4,78%
LONGITUDINAL 812,06 820,90 8,84 0,01 1,08%
TRANSVERSAL 173,07 471,35 298,28 0,63 63,28%

Os resultados mostram que no quantitativo de aço existe uma diferença sutil no consumo de
armadura total e longitudinal, em comparação da Teoria Geral da Flexão e o Método das Bielas,
cerca de 5% de variação. Essa diferença é menor ainda quando é comparado o consumo de
armadura longitudinal somente, pois o Método das Bielas tem o consumo dessa armadura cerca de

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1% maior que o da Teoria Geral da Flexão. Porém essa diferença torna-se abrupta quando é feito a
comparação da armadura transversal dos métodos, o Método das Bielas tem o consumo elevado,
cerca de 63% maior em relação ao da Teoria Geral da Flexão.
Também podemos observar que a viga está superdimensionada na geometria da seção para o
Estado Limite Último no cisalhamento, visto que a armadura transversal calculada é menor que a
armadura transversal mínima para seção.
No que tange os Estados Limites de Serviço podemos observar que a seção está adequada,
uma vez que os momento de formação e abertura de fissuras são significativamente inferiores ao
momento atuante. Em relação a deformação excessiva, pode-se dizer que a viga está apropriada,
visto que o valor da flecha total é cerca de 58 % da flecha limite de norma. Também podemos
concluir que a abertura de fissuras está apropriada, pois o valor de w1 é inferior ao valor de w
normatizado.
Em relação ao Método das Bielas não existe grande preocupação com as verificações que
não foram atendidas, visto que há muito espaço para o aumento das larguras das bielas, tirantes e
nós da treliça idealizada, isso se deve à grande geometria da seção da viga 54/180.
Em Collins e Kuchma (1999) os autores relatam vários casos em que o cálculo de armaduras
transversais de cisalhamento feito de acordo com os código vigentes, baseados na Teoria Geral da
Flexão com dimensionamento em ELU e verificações em ELS, resultaram em colapso de diversas
estruturas com seções robustas e taxas de armadura singelas, que se assemelham em alguns pontos
ao da nossa norma vigente.

7. CONCLUSÃO

Com isso podemos concluir que mesmo o elemento de viga sendo dimensionado pelo ELU e
verificado pelos ELS, respaldado na Teoria Geral da Flexão, não estará seguro, as luzes do Método
das Bielas. Também é compreensível que existe uma pequena variação no cálculo de armadura,
quando tomamos com referência o consumo total e longitudinal, significando que o cálculo de
estruturas em vistas da flexão está bem definido, uma vez que os diferentes métodos convergiram
para um resultado comum.
Porém há grande discrepância nos resultados de cálculo de armadura transversal de uma
método para outro, quando o foco é o força cortante. Isso salienta um grande perigo, sendo
necessário uma armadura transversal significativa em tais vigas. É necessário uma revisão no
cálculo de armaduras transversais de cisalhamento no ELU para a NBR 6118 (2014) visto que o
cálculo de armaduras transversais de cisalhamento feito de acordo com a norma vigente resultara
em taxas de armadura singelas, que estão distantes da realidade física apresentada em vigas de
transição.

8. REFERÊNCIAS

AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 318-2011. Building code requirements for


strucutural concrete. Farmington Hills, MI. 2011.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: projeto de


estruturas de concreto - procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

CANADIAN STANDARDS ASSOCIATION. CSA Standard-A23.3-94-Design of Concrete


Structures. Ontario: Rexdale. 1994.

CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais


de concreto armado segundo a NBR 6118: 2003. 3ª. ed. São Carlos: EdUSFCar, 2012. 368 p.

VII Seminário de Engenharia Civil da UEM 15


ISBN 978-85-7600-086-0.

COLLINS, P. M.; KUCHMA, D. How Safe Are Our Large, Lightly Reinforced Concrete Beamns,
Slabs, and Footings. ACI Strucutral Journal, Farmington Hills, v. 96, n. S54, p. 482-490, Julho
1999.

COMITÉ EURO-INTERNACIONAL DU BÉTON. CEB-FIP Model Code 1990. London. 1990.

MACGREGOR, J. Derivation or strut-and-tie models for the 2002 ACI Code. Examples for design
of strucutural concrete with strut-and-tie models, 2002.

MARTHA, L. F. Ftool: A Frame Analysis Educational Software. TECGRAF PUC - RIO, 2002.
Disponivel em: <http://webserver2.tecgraf.puc-rio.br/~lfm/>. Acesso em: 15 Novembro 2017.

SOUZA, R. A. Concreto Estrutural: Análise e Dimensionamento de Elementos com


Descontinuidades. Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 379. 2004.

SOUZA, R. et al. Dimensionamento e Verificação de Uma Viga-Parede Complexa Utilizand o


Método das Bielas e Análise Não-Linear. GRUPO DE DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DE
CONCRETO ESTRUTURAL, Maringá, p. 15, 2003. Disponivel em:
<http://www.gdace.uem.br/Rafael/Rafael_files/Artigo_R1.pdf>. Acesso em: 23 Novembro 2017.

SOUZA, R.; A; BITTENCOURT, T. N. Concreto Estrutural Análise e Dimensionamento de


Elementos com Descontinuidades. GRUPO DE DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DE
CONCRETO ESTRUTURAL, 2003. Disponivel em:
<http://www.gdace.uem.br/Rafael/Rafael_files/Artigo_R5.pdf>. Acesso em: 23 Novembro 2017.

VII Seminário de Engenharia Civil da UEM 16

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