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200-O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO-ALLAN KARDEC

CAPÍTULO XXIII: ESTRANHA MORAL ITENS 9 a 13: NÃO VIM TRAZER A PAZ,
MAS A ESPADA

“Não julgueis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer-lhe paz, mas a
espada; porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a
nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos
domésticos.”(Mateus, X: 34 a 36.)

Sendo a sua doutrina alicerçada na lei do amor e da caridade, precisa-se


perceber o que está por detrás dessas palavras, analisadas como partes de um
todo coerente e sábio, que é Constituição Divina, e Jesus não poderia contradizer-
se.

Sendo um Espírito puro, sabia que seus ensinos provocariam nos que não
poderiam ou não quereriam aceitá-los, a revolta, a indignação, a perseguição, a
disputa, a imposição, o ódio, pela dificuldade que o homem tem de respeitar o outro
nas suas escolhas e determinações, e pela facilidade que tem de querer impor seus
pontos de vistas.

Na Terra, mundo de expiações e provas, toda ideia nova causa oposições,


muitas vezes violentas, cruéis, pelas diferenças individuais dos seus habitantes e
pelo orgulho, egoísmo, vaidade, que dificultam a caminhada evolutiva do homem,
que prefere permanecer como está por lhe ser mais cômodo. Resistencia a
mudanças, ao pregresso, evolução, principalmente a espiritual.

Quanto mais verdadeira for a ideia nova, mais incita oposição nos que se
sentem prejudicados e ameaçados nos seus interesses, nas suas posições, nas
suas posturas.    

Os ensinos de Jesus, se ainda hoje causam estranheza em muitos, pode-se


imaginar o que sentiram os fariseus, os escribas e os sacerdotes daquela época,
que viam naquelas novas ideias a ruína do seu mundo de poder e privilégios.

Mataram-no, e a muitos dos seus discípulos, mas sua doutrina de amor e


sabedoria continua penetrando nas mentes e corações dos homens, em um
processo dinâmico de reeducação espiritual, lento, mas firme e persistente,
demonstrando, cada vez mais, ser o caminho, a verdade e a vida.

Nos textos acima, vê-se Jesus prevendo as divergências que seus ensinos
trariam aos homens, bem como no seio das famílias, pelas diferenças individuais,
causadas pelos diferentes graus evolutivos de cada um dos seus membros.

Mas, os que buscam entender e vivenciar essa moral divina, mesmo entre
pessoas que pensam de maneira diferente têm, nesses ensinos, o estímulo à
compreensão, à fraternidade, ao perdão, desfazendo as divergências pelas atitudes
cristãs que se esforçam por expressar, com sinceridade.
A ESPADA SIMBÓLICA

Ensina Jesus: “Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a
espada.” — Jesus. (MATEUS, capítulo 10, versículo 34.)

Escreve Kardec no capítulo em estudo que a Doutrina do Cristo não se estabeleceu


sem lutas acirradas pelos interesses humanos e imediatistas. Ele trazia a Lei do amor que
contrariava todos os princípios egoísticos humanos ferozmente defendidos com unhas e
dentes pelo “homem velho” de todos os tempos. Registra ainda Allan Kardec: Somente a
forma, um tanto equívoca, não exprime exatamente o seu pensamento, o que provocou
alguns enganos quanto ao seu verdadeiro sentido. Tomadas ao pé da letra, elas tenderiam
a transformar a sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e
discórdias, conseqüência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia
contradizer-se.

O bom senso afirma em nossa consciência que O AMOR E A PAZ não se estabelecem
pela espada... então que espada é essa que afirma o Cristo de Deus ter trazido à Terra?

Emmanuel nos esclarece em seu livro CAMINHO VERDADE E VIDA na Lição 104 “A
Espada simbólica” começando em sua mensagem a nos elucidar acerca de nosso conceito
sobre A PAZ:

Ensina Emmanuel: “Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas


afirmativas do Mestre Divino, porqüanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos
séculos foi visceralmente viciado”.

Vivemos dizendo: EU SÓ QUERO PAZ! ME DEIXE EM PAZ! ME DÁ UM POUCO DE PAZ!


E na verdade nem sabemos direito o que vem a ser PAZ. CONFUNDIMOS PAZ COM
OCIOSIDADE, COM FACILIDADE, COM IRRESPONSABILIDADE INCONSEQUENTE... e dizemos
ainda que trocariamos tudo o que temos por um pouquinho de PAZ sem nem mesmo
entender o que venha a ser isso...

Ao longo de nossas vidas fomos nos equivocando em nossa compreensão acerca da


paz que o dicionário afirma ser: estado de espírito de uma pessoa que não é perturbada por
conflitos ou inquietações; calma, quietude, tranqüilidade; relação entre pessoas que não
estão em conflito; acordo, concórdia; relação tranqüila entre cidadãos; ausência de
problemas, de violência; situação de uma nação ou de um Estado que não está em guerra;
relação dos países que desfrutam dessa situação... e outras sínteses semelhantes.

É ainda Emmanuel que esclarece: ”Na expressão comum, ter paz significa haver
atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados,
rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos
movimentos da vida”. Quanta razão! Confundimos mesmo paz com o “dulce far niente” de
ficar de papo pro ar esperando a morte chegar, com todos os desejos atendidos, apetites
saciados, mimos e frescurinhas reverenciados por quanto nos cerquem a ilusão de crianças
iludidas com uma paz que nada tem a ver com MATURIDADE ESPÍRITUAL! Casa na praia,
suquinho gelado, barriguinha cheia, sexo atendido, dinheirinho no banco, sogra no
cemitério, possuir, ter, consumir... nada disso é PAZ isso é ESTAGNAÇÃO TOTAL DE NOSSA
CAPACIDADE DE AGIR NO BEM! Jesus nos convidou para sua LAVOURA... para sua SEARA...
para sua OFICINA... nunca falou em COLÔNIA DE FÉRIAS!!! VAMOS ACORDAR MINHA
GENTE DESSE SONO HIPINÓTICO, DESSA BUSCA DESENFREADA PELO TER, TER, TER QUE
NOS CONSOME A ALMA QUE SÓ DESEJA NA VERDADE É SER.... SER FELIZ, SER BOA, SER
PACÍFICA, SER AMADA...

Continua Emmanuel a nos despertar: “Jesus não poderia endossar tranqüilidade


dessa espécie, e, em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe
consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação
divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo”.

Chegamos finalmente ao significado da espada simbólica! A Espada do


conhecimento interior, aquele que enxerga sem piedade nem medo as nossas próprias
imperfeições.

Aquela espada da valentia de decepar a sombra que demora em nossa alma, nos
impedindo de voar à plena luz do amor de Deus. Onde está o inimigo que a Espada do
Cristo deve combater e matar sem piedade nem dó?

Creio eu que está dentro de nós... É a nosso “eu sombra” conforme ensinou o
eminente Carl Gustav Jung, que nos ancora no sofrimento, no medo e na dor, impedindo o
EU VERDADEIFO – O SELF - de brilhar libertando-nos definitivamente das amarras do Ego
dominador.

“O Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a Terra. Desde o seu


ensinamento primeiro, foi formada a frente da batalha sem sangue, destinada à iluminação
do caminho humano. E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios
supremos”.

– Continua nos esclarecendo Emmanuel, mentor de Chicho Xavier. Quando Jesus


disse AMAI-VOS soou na Terra o “Grito de Guerra” que iria derrotar o “homem velho”
cansado e sofrido que habita o nosso interior, e libertar da crisálida de erros e enganos a
borboleta celeste da alma para a glória da luz. Não sem o sofrimento peculiar de toda
“morte por transformação” mas certamente compensador, porque seriam as dores do
parto de um anjo rompendo as prisões do EGOISMO, ORGULHO e da VAIDADE...

A ESPADA DO CRISTO é cirúrgica, através do AUTOCONHEICMENTO ela remove as


sombras, expandindo a luz. AME-SE é um farol de luz voltado para dentro de nós. AMEM-SE
é o mesmo farol quando rompe a concha do eu e lança-se para fora identificando-se com
cada irmão e irmã na fraternidade imortal de filho de Deus. Alerta com franqueza o
benfeitor Emmanuel: “Há quase vinte séculos (hoje mais de 20...) vive a Terra sob esses
impulsos renovadores, e ai daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!”
A proposta do Cristo Jesus de nossa PACIFICAÇÃO PELO AMOR já nos ilumina a vida a
mais de 20 séculos. Porque nos demoramos na sombras? Porque dormimos como se não
soubessemos que é o AMOR que vai nos salvar da loucura, da solidão, do auto abandono,
da tristeza, da síndrome do pânico, da depressão, do transtorno bipolar, dos cânceres e das
síndromes que nos visitam a alma como demônios da dor a nos tentar despertar do
pesadelo da irresponsabilidade em que nos demoramos... É soada a hora do despertar: é
amar ou sofrer... QUAL SERÁ A NOSSA OPÇÃO?

“Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da luz, fugindo à vida e


precipitando a morte. No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.” Nos lembra
ainda Emmanuel.

Toda ociosidade e excessos de prazeres que julgamos ser A PAZ na verdade causam
em nós a estagnação das energias, as doenças degenerativas, os processos de morte do
corpo e da alma, trazendo o estado de coma do espírito num sono sem descanso recheado
de pesadelos.

PAZ é uma força dinâmica, que nos empurra para frente... Jesus, o Prícipe da Paz, nos
trouxe então uma espada?

Emmanuel responde: “Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada


renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso
aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra,
encontram, nEle, a serenidade inalterável.” Em Jesus encontramos repouso operante, na
sua LEI DE AMOR encontramos o remédio para nossas aflições, o jugo leve, o descanso do
fardo do egoismo que carregamos... a redenção de nossos erros.

Quem escolhe agir no mundo pela LEI DO AMOR não está isento de sofrimento, mas
encontra forças para tudo, não está absolvido de seus erros, mas lhes suporta serenamente
as consequências, não está com a estrada atapetada de flores, mas já respira as aragens
renovadoras da consciência tranquila...

Arremata Emmanuel nos ensinando a ser melhores: “É que Jesus começou o combate
de salvação para a Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz
sublime para todos os homens bons e sinceros”. Que Jesus nos sustente a espada da
libertação de nossas sombras, firme em nossas mãos, até o dia em que poderemos
finalmente devolver-lhe à bainha e estender ao Cristo Jesus as nossas mãos limpas e
calejadas no trabalho do autoaperfeiçoamento e dizer-lhe felizes: JESUS, ESTOU AQUI, O
QUE QUERES QUE EU FAÇA.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - ALLAN KARDEC CAPÍTULO XXIII: ESTRANHA
MORAL ITENS 7 E 8: DEIXAI OS MORTOS ENTERRAR OS SEUS MORTOS

“E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que eu vá primeiro
enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu
vai, e anuncia o Reino de Deus. (Lucas, IX: 59 e 60)

Também neste texto evangélico, vemos Jesus impedindo um costume sagrado que é
o dos familiares enterrarem os seus mortos, como condição para aceitar alguém como seu
discípulo, o que não condiz com a sua doutrina de respeito, de amor ao próximo.

Jesus aproveitava todas as circunstâncias e situações cotidianas para expressar seus


ensinos, algumas vezes com palavras fortes, para que elas não fossem esquecidas, uma vez
que ele nada escrevia.

Analisadas as palavras “Deixa que os mortos enterrem seus mortos”, no contexto


geral dos seus ensinos, Jesus, uma vez mais, ressaltou a importância da vida espiritual, que
antecede a esta, e continua após a morte, dos seus valores para o Espírito eterno, que vem
à Terra para desenvolver-se, para completar-se, visto não ser ainda obra acabada.

Se pensarmos bem no ato de enterrar um morto, sabemos que apenas um corpo sem
vida é enterrado. A alma, o ser espiritual que o habitava, ali não está, tendo sido expulso do
corpo, quando perdeu sua vitalidade orgânica.

O que se enterra é apenas um corpo sem vida, que merece consideração e respeito,
como um instrumento do Espírito, enquanto encarnado. Cumprida a sua tarefa, decompõe-
se nos seus elementos constitutivos, que irão formar outros corpos.

E o amor que se dedica a alguém não é ao corpo, mas ao ser inteligente que vive
nele, expressando-se, manifestando-se, agindo, através dele.

Assim compreendendo, percebe-se melhor esse ensino do Mestre, que quis chamar a
atenção para as coisas espirituais, para a vida futura, que é a verdadeira, porque é a eterna.

A existência terrestre é transitória e passageira, em que o corpo constitui apenas em


uma vestimenta grosseira, limitando as expressões espirituais, expressando apenas as que
se relacionem com suas necessidades atuais.
Desse modo, um músico sensível à música, por exemplo, mas desrespeitoso,
indiferente aos sofrimentos alheios, poderá reencarnar com um corpo, cujo cérebro não lhe
permite expressar sua capacidade musical, para desenvolver sentimentos fraternos e
outras habilidades.

Se, nessa existência, ele iniciar o desenvolvimento de sentimentos nobres, poderá em


uma nova, expressar sua musicalidade, uma vez que toda habilidade, todo conhecimento
adquiridos jamais serão perdidos.

O respeito que se sente pelos mortos é sempre endereçado à pessoa que aqui viveu,
continuando a viver em outros planos, refazendo-se em novas experiências, num
aprendizado constante, evoluindo sempre em inteligência e moralidade.

Na Terra, se vive tantas vezes quantas forem necessárias, mas não será nela, mundo
material, que o Espírito viverá, quando o desenvolvimento alcançado lhe permitir viver em
planos mais elevados, até poder viver a plenitude da vida espiritual, sem necessidade de
viver em mundos materiais, a não ser em missões especiais.

  A vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida normal do


Espírito. Sua existência terrena é transitória e passageira, uma espécie
de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. O
corpo: é uma vestimenta grosseira, que envolve temporariamente o
Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e da qual ele se
sente feliz em libertar-se. O respeito que temos pelos mortos não se
refere à matéria, mas, através da lembrança, ao Espírito ausente.

Era isso que aquele homem não podia compreender por si mesmo.
Jesus lhe ensinou; dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai
antes no Espírito; ide pregar o Reino de Deus: ide dizer aos homens que
a sua pátria não se concentra na Terra, mas no Céu, porque somente lá é
que se vive a verdadeira vida.

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