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MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
São Paulo
2020
Marcus Vinícius Lopes Silva
São Paulo
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU 658
TERMO DE APROVAÇÃO DA BANCA
Agradeço ao programa PROSUP da CAPES pelo apoio financeiro enquanto aluno do PPGA da
UNINOVE. Aos professores do stricto sensu e funcionários da instituição pelos serviços
prestados. Foi uma grande oportunidade trazer discussões teóricas a respeito do fenômeno
empreendedorismo de estilo de vida na ótica da teoria da bricolagem empreendedora no
contexto brasileiro, em especial na cidade de São Paulo. Agradeço em seguida ao professor e
orientador Edmilson de Oliveira Lima pelos ensinamentos que me ajudaram a construir uma
visão crítica a respeito do conhecimento. Ao professor Henrique Mello Rodrigues de Freitas e
a sua equipe, bem como a seus alunos. Aos colegas da graduação, do mestrado e do doutorado,
pelas oportunidades de crescimento que me fizeram sair da zona de conforto em busca de novos
aprendizados. Meus sinceros agradecimentos à recém doutora Andréa Luísa Bozzo, pelo auxílio
acadêmico. À futura juíza Maria Victória de Moura Marques Scarpelini, pelo mindset de
crescimento e pelos auxílios acadêmicos. Ao professor Matheus Slodkevicius Mariano, pelo
auxílio acadêmico. Ao mestre Kevin Sie Kambou, pelo compartilhamento de seu senso crítico
a respeito das múltiplas realidades. À mestra Neiva Menezes, pelas experiências que trocamos
ao longo do mestrado. Ao futuro doutor Stefano Maleski, pelo aprendizado internacional e pelo
auxílio acadêmico. A Guilherme Almeida Mascarenhas, pelo auxílio acadêmico. Ao professor
e futuro mestre Allex Rodrigues, pela energia positiva. Ao mestre Roberto Ricardo Sollberger
Jeolás, pelas trocas de experiências acadêmicas. Aos empreendedores e colaboradores
entrevistados, que contribuíram para o avanço deste estudo. Agradeço também a todas as
pessoas que conviveram comigo ao longo de minha trajetória de vida e me ensinaram sobre
trabalho, flexibilidade, objetividade, respeito, amor, humildade, humanidade, ética e senso
crítico. Me ajudando a superar todos os desafios no lado pessoal quanto no lado acadêmico.
RESUMO
Ainda não está claro na literatura como os empreendedores de estilo de vida rejeitam limitações
usando a bricolagem para fortalecer os estilos de vida nos negócios. Nosso objetivo de pesquisa
que trata desse tema, pretende explicar como os empreendedores de estilo de vida usam a
bricolagem empreendedora de modo a superar dificuldades para empreender em alinhamento
com um estilo de vida prazeroso desejado. Para que esse objetivo geral fosse atingido,
trabalhamos com os seguintes objetivos específicos: (I) explorar a literatura de
empreendedorismo de estilo de vida (EEV) para caracterizar esse tema, (II) explicar como os
empreendedores estudados viram-se com os recursos que têm em mãos para resolver o
necessário e continuar empreendendo e (III) descrever como empreendedores de estilo de vida
superam dificuldades em seus negócios utilizando a bricolagem empreendedora. Este é um
estudo empírico de natureza qualitativa que explorou e analisou dados de campo a partir de sete
entrevistas presenciais realizadas na cidade de São Paulo, no Brasil. Utilizamos um roteiro de
entrevista semiestruturada com trinta e duas perguntas com o intuito de coletar os dados da
trajetória de vida e da rejeição de limitações com uso da bricolagem no empreendedorismo.
Nos resultados, detalhamos como empreendedores de estilo de vida empregam a rejeição de
limitações e explicamos as principais características comportamentais de EEV segundo nossos
dados. O campo mostrou que os empreendedores de estilo de vida usam a bricolagem para
superar limitações e assim, dão um jeito de enfrentar dificuldades que os impedem de
conquistar a autorrealização na vida e no trabalho. Eles gostam de ensinar o que aprenderam
aos clientes, como dar aula de surfskate, fazer artesanato, fazer artes plásticas além de oferecer
pratos alternativos da culinária vegetariana. Enfatizamos a necessidade de se pesquisar sobre a
bricolagem empreendedora como um campo ainda não estudado no EEV. Deduzimos que a
bricolagem empreendedora no EEV oferece cada vez mais a possibilidade das pessoas terem
uma renda sem deixar abandonar um estilo de vida prazeroso que as conquistou no
empreendedorismo.
It is not yet clear in the literature how lifestyle entrepreneurs reject limitations by using the
bricolage to strengthen business lifestyles. Our research objective that addresses this theme,
aims to explain how lifestyle entrepreneurs use entrepreneurial bricolage in order to overcome
difficulties to undertake in alignment with a desired pleasurable lifestyle. In order for this
general objective to be achieved, we worked with the following specific objectives: (I) to
explore the lifestyle entrepreneurship (EEV) literature to characterize this theme, (II) to explain
how entrepreneurs have come up with the resources they have to hands to solve their problems
and continue entrepreneurship and (III) describe how lifestyle entrepreneurs overcome
difficulties in their businesses using entrepreneurial bricolage to face limitations. This is an
empirical qualitative study that explored and analyzed field data from seven face-to-face
interviews conducted in the city of São Paulo, Brazil. We used a semi-structured interview
script with thirty-two questions in order to collect data on life trajectory and the rejection of
limitations with the use of bricolage in the entrepreneurship. In the results, we detail how
lifestyle entrepreneurs employ the rejection of limitations and explain the main behavioral
characteristics of EEV according to our data. The field showed that lifestyle entrepreneurs use
bricolage to overcome limitations and, thus, give a way to face difficulties that prevent them
from achieving self-realization in life and work. They have shown that they enjoy teaching
customers what they have learned how to instructor surfskate lessons, make crafts, make plastic
arts and offer alternative vegetarian dishes. We emphasize the need to research entrepreneurial
bricolage as a field not yet studied on EEV. We deduce that entrepreneurial bricolage in EEV
increasingly offers the possibility for people to earn an income without abandoning a
pleasurable lifestyle that won them over in entrepreneurship.
ABSTRACT ............................................................................................................................ 21
LISTA DE QUADROS........................................................................................................... 24
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................... 21
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 62
1 INTRODUÇÃO
Qualquer evidência de lucro utilizado para financiar uma empresa cujo interesse é a
valorização de estilo de vida poderia ser vista, pelos empreendedores de estilo de vida, como um
meio de se buscar enriquecimento financeiro para além do que é necessário (Marchant & Mottiar,
2011). Em suma, evidências na literatura de EEV mostram o contrário: pessoas decidem
empreender com a intenção de realizar suas ambições por meio de uma atividade empreendedora
trabalhando prazerosamente (Mendes & Tamayo, 2001; Krieger, 2014). Trabalhar assim dá um
sentido especial à vida e afasta o sofrimento do trabalho, criando uma realidade bem diferente
daquela em que as pessoas se sentem impedidas de obter felicidade e bem-estar no ambiente de
trabalho (Neto, 2006; Rodrigues, Alvaro & Rondina, 2006; Ryff, 2019).
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Para facilitar a compreensão do que é EEV neste estudo, definimos que EEV são atividades
empreendedoras nas quais os empreendedores visam dar sustentação a seu estilo de vida desejado,
tendendo a ignorar conscientemente oportunidades de negócios que poderiam dificultar sua
autorrealização na vida (Velasco & Saleilles, 2007; Mendonça, 2009). Exemplos mais comuns
desse tipo de atividade são escolas de surfe em que empreendedores amam surfar e aproveitam
para ensinar a comunidade interessada (Shaw & Williams, 2004; Nerothin, 2017).
Além dos empreendedores de estilo de vida viverem suas ambições empreendidas (Krieger,
2014), estão dispostos a lidar com as diferentes limitações impostas em suas vidas e em seus
negócios a fim de manterem suas atividades empreendedoras e seu estilo de vida desejado
(Ateljevic & Doorne, 2000, Di Domenico, 2005). Dessa forma, os conceitos da teoria da
bricolagem empreendedora (TBE) são úteis para estudar o tema, pois refere-se à rejeição de
limitações para se virar com o que se tem em mãos para encontrar soluções para os desafios do
empreendedorismo frente à restrição de recursos (Baker & Nelson, 2005).
Desta forma, é importante destacar a fragilidade conceitual a respeito dos conceitos de EEV
que se associam a teoria da bricolagem no empreendedorismo para este tipo de negócio. Podendo
trazer novas concepções que ajudaram a fortalecer conceitualmente, elementos centrais do
empreendedorismo de estilo de vida. Nas próximas sessões, mostramos nossos objetivos, com que
pretendemos contribuir para o avanço dos estudos da EEV.
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Com base nas precisões e nas considerações que já apresentamos, nosso objetivo é: explicar
como os empreendedores de estilo de vida usam a bricolagem empreendedora de modo a
superar dificuldades para empreender em alinhamento com um estilo de vida prazeroso
desejado.
Para que possamos atender ao nosso objetivo geral, queremos responder os seguintes
objetivos específicos:
II. Explicar como os empreendedores estudados “viram-se” com os recursos que têm em
mãos para resolver o necessário e continuar empreendendo.
III. Descrever como empreendedores de estilo de vida superam dificuldades em seus negócios
utilizando a bricolagem empreendedora.
1.4 Justificativa
Percebemos que pesquisadores empolgados com o tema do estilo de vida exploram mais a
ideia de que empreendedores buscam uma rápida melhoria em suas vidas ampliando seus negócios,
ao invés de mostrar os ganhos além do dinheiro como aquelas pessoas que valorizam o próprio
estilo de vida e utilizam de pequenos negócios como um meio para atingir a autorrealização.
micro ou pequenas empresas na realidade brasileira. Contudo, no Brasil e no mundo vemos que é
praticamente inexistente estudos de EEV.
I. O EEV é muito atrativo para pessoas que queiram abrir um negócio por conta própria em
busca de melhoria de vida pessoal e familiar.
II. O EEV é importante para o setor público, que busca aprimorar políticas públicas regionais
para pequenos negócios que geram desenvolvimento socioeconômico local e mais satisfação
pessoal no trabalho.
III. O EEV é um tema promissor para os pesquisadores que estudam problemas de saúde
causados por nervosismo, estresse, desprazer e pressão no trabalho.
IV. O tema importa para instituições de ensino que queiram aprimorar seus cursos tratando
também de formas de se trabalhar e empreender de modo prazeroso e útil.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os campos das ciências sociais e das ciências econômicas evoluíram à medida que os agentes
econômicos, políticos e os donos de empresas foram sendo estudados em seus papéis na
macroeconomia e na microeconomia (Carvalho, 2012; Vale, 2014). O campo das ciências sociais
se dedicou a estudar os empreendedores nos aspectos psíquico e comportamental, além dos
aspectos econômico e social, enquanto o campo das ciências econômicas se dedicou a estudar o
impacto do desenvolvimento econômico olhando para os grandes empresários, agentes públicos,
figuras econômicas e outros agentes de mudança (Gartner, 1988; Minello & Scherer, 2012; Verga
& Silva, 2014).
(I) A escola clássica (Adam Smith, 1776) discutiu o aspecto econômico a respeito do modelo de
equilíbrio entre mercados de forma matemática e lógica a partir da intervenção dos empresários e
da gestão pública;
(II) Na escola marxista, segundo Lombardi e Saviani (2005), o teórico e político Karl Marx deu
início às discussões filosóficas a respeito do aspecto social. A fim de buscar um planejamento da
distribuição mais justa dos recursos para população, o estado deveria intervir nos meios de
produção para que não deixasse a riqueza nas mãos de poucas pessoas. A escola é crítica quanto à
economia e às políticas vigentes desde aquela época (o capitalismo radical);
(IV) A escola de Chicago (Friedman, 1962) discutiu o livre mercado no aspecto empresarial da
valorização da moeda e da estabilização da taxa de juros, sem que haja tanta intervenção política;
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(V) A escola keynesiana (Keynes, 1936) discutiu o aspecto político no papel dos agentes públicos
na intervenção do estado no mercado para controle da taxa de juros em períodos de crise.
Embora essas escolas tenham discutido por muito tempo quem são os empreendedores e
quais são seus papéis na sociedade, foi a escola austríaca de economia que se dedicou a discutir o
comportamento empreendedor a partir do ponto de vista do liberalismo clássico da microeconomia
(Hayek, 1976). Em síntese, essa abordagem frisou a heterogeneidade do capital como papel
importante na cadeia produtiva a partir dos valores socioculturais.
A partir dos estudos do EEV, é possível identificar atividades empreendedoras que, por
exemplo, se concentram em: oferecer a pessoas alimentos não derivados de animais (Abonizio,
2013), customizar pranchas de surf para adequá-las aos desejos de surfistas (Marchant & Mottiar,
2011), hospedagem que valoriza as experiências dos hóspedes e viajantes (Di Domenico, 2005;
Rimmington, Williams & Morrison, 2009; Blichfeldt, Nielsen, Just & Aae, 2011), aulas de surf e
treinos esportivos ao ar livre (Shaw & Williams, 2004), passeios a cavalo (Cederholm, 2015).
Um estudo recente identificou atletas que praticam seu esporte e trabalham prazerosamente
com atividades de surfe (Ratten, 2018). Shaw e Williams (2004) identificaram que trabalhar e se
divertir ao mesmo tempo é uma mudança comportamental do empreendedorismo que vem
chamando atenção de jovens pesquisadores (Bandura, 1977; Camara, 2012). Isso converge com as
ideias de Ateljevic and Doorne (2000) sobre o tipo de empreendedor que faz do seu passatempo
um negócio satisfatório.
Nessa lógica, viajantes denominados mochileiros frequentemente não são apenas turistas,
mas também empreendedores que ganham dinheiro guiando pessoas em viagens apaixonantes
(Ateljevic & Doorne, 2004; Larsen, Ogaard & Brun, 2011). Velasco and Saleilles (2007)
identificaram que os comércios populares nas cidades também são rodeados por turistas
interessados em novas aventuras locais, assim aproximando clientes e empreendedores a viver um
estilo comum entre eles. Aspectos como esses põem em destaque a tendência de se ganhar dinheiro
a fim de financiar um estilo de vida prazeroso associado a um negócio (Larsenm, Ogaard & Brun,
2011; Sun & Xu, 2017).
Para se dar um jeito de atingir um objetivo desejado, podemos considerar o ato de: alugar
equipamentos, utilizar recursos que estavam sem uso, pegar emprestado alguns materiais, pedir ou
compartilhar um espaço emprestado, fazer trocas, usar materiais ou retalhos que seriam
descartados, adquirir gratuitamente, comprar objetos por preço vantajosos entre outras facilidades,
denominadas como bricolagem empreendedora (Levi Strauss, 1967; Baker & Nelson, 2005). De
forma mais específica, a escassez de recursos exige uma forma diferente de arranjar, substituir,
modificar, improvisar e recombinar recursos e explorar outras formas de agir em prol de uma
solução visada (Baker et al., 2003; Di Domenico et al., 2010).
Esses tipos de empresas nem sempre possuem recursos suficientes para manter seus
negócios (Shaw et al., 1987; Phillips & Tracey, 2007). Para North (1991), muitos empreendedores
não desistem de suas ambições ao buscar soluções apesar de muitas restrições, mesmo com poucos
recursos, corroborando as ideias de Krieger (2014) sobre os empreendedores de estilo de vida. Já
para Gundry, Kickul, Griffiths and Bacq (2011), empreendedores buscam, de maneira criativa,
resolver qualquer tipo de problema para não ser impedidos de trabalhar. Podemos observar que a
busca por soluções em negócios com baixa disponibilidade de recursos pode ser vista como uma
forma de se inovar de modo frugal e criativo para ajudar a superar dificuldades (Zeschky,
Widenmayer & Gassmann, 2011; Weyrauch & Herstatt, 2017; Santos, 2018).
Os autores North (1991) e Gundry et al., (2011) concordam que as regras locais não
determinam o futuro dos empreendedores por estarem ativamente comprometidos com a melhoria
de seus negócios, independentemente de como aparecem os problemas. As contribuições de Baker
and Nelson (2005) mostram especificamente que a bricolagem empreendedora pode ocorrer com
cinco principais características:
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1°- O conjunto de recursos de baixo valor agregado que possa ter um uso futuro.
2°- O aprendizado gerado pelas tentativas e erros, fazem os empreendedores ser reconhecidos como
bricolores para lidar com diferentes situações.
3°- Empreendedores bricolores desafiam regras impostas pelo ambiente e as rejeitam, devido a
facilidade em lidar com as limitações impostas.
4°- Ser multifuncional é visto por pesquisadores como uma competência profissional que envolve
a capacidade de se relacionar com pessoas ligadas ao negócio.
5°- Encontrar formas de utilizar recursos acessíveis para serem reaproveitados futuramente.
A habilidade de virar-se com o que se tem em mãos na bricolagem intelectual descrita por
Claude Lévi Strauss é citada como um processo de armazenamento e reutilização de recursos –
como uma estratégia psicológica adotada por pessoas que dão um novo significado aos recursos
deixados de lado, com o intuito de lhes agregar valor para novas finalidades (Levi Strauss, 1967).
A partir da rejeição de limitações, consideramos diferentes maneiras de se resolverem os problemas
nos negócios a fim de continuar a gerar soluções que ajudem a enfrentar desafios no
empreendedorismo.
Normas institucionais, leis e regras formais funcionam como barreiras que dificultam ou
impeditivas de certos comportamentos (é justamente para isso que servem) para que pessoas
desejosas em descumpri-las sejam punidas de modo socialmente aceito (Levi Strauss, 1962).
Ocorre que frequentemente essas limitações também se opõem a alguns tipos de comportamento
que facilitariam as atividades empreendedoras. No EEV, acaba também sendo tentador para os
empreendedores rejeitar tais limitações que dificultam seus negócios e do aproveitamento do estilo
de vida desejado (Claire, 2012). Isso se aplica ainda mais quando falamos dos empreendedores de
estilo de vida que fazem do estilo de vida um objetivo de altíssima prioridade no negócio
(Cederholm & Sjholm, 2014).
Sabemos também que perdas são aceitáveis pelos empreendedores que descumprem
restrições, sendo elas: políticas, econômicas, sociais e ambientais, a fim de testar os limites do
trabalho (Stinchfield et al., 2013). Como vimos anteriormente, empreendedores bricolores veem
regras como limitações questionáveis, possíveis de serem testadas, e por essa razão, decidem testar
novas soluções em cima dos recorrentes problemas, de forma criativa e não convencional (Baker
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& Nelson, 2005). Por essa ótica, restrições impostas forçam empreendedores a rejeitarem limites
que cercam seus negócios.
Justificamos que, das três principais definições desse estudo, a rejeição de limitações
segundo Baker and Nelson (2005) é a definição que mais explora as atitudes empreendedoras
(Damke et al., 2016). Nesse sentido, mostramos que a literatura de bricolagem descreve traços
comportamentais dos mesmos empreendedores de estilo de vida (Di Domenico et al., 2010). Por
isso, a rejeição de limitações é definida no presente estudo como: recusa de ser impedidos de
realizar um objetivo com utilização de seus conhecimentos para recombinar recursos à mão a fim
de dar um jeito de continuar a atividades empreendedoras como se quer (Nahas et al., 2000;
Velasco & Saleilles, 2007; Andersson et al., 2014).
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Organizamos cinco fases para a realização deste estudo para explicar nossa metodologia:
Explicamos que as entrevistas vindas dos empreendedores de estilo de vida e das pessoas
ligadas a estes empreendedores foram realizadas a fim de investigarmos o contexto da rejeição de
limitações na bricolagem como estudo de caso único (Seawright & Gerring, 2008). Este estudo
teórico-empírico visa explorar o contexto da rejeição de limitações visto no fenômeno de EEV,
como uma situação real particular vivenciada por essas pessoas através da coleta detalhada dos
dados. Para isso, explicamos como a rejeição de limitações ajuda empreendedores a dar sustentação
ao estilo de vida em seus negócios.
Uma segunda coleta de dados foi realizada com três pessoas próximas a esses
empreendedores, sendo elas: dois funcionários, uma cliente e um sócio (ver em síntese e discussão
dos resultados) para que assim fosse possível validar os dados coletados com os empreendedores
estudados. Algumas das perguntas semiestruturadas utilizadas no formulário que disponibilizamos
no Apêndice 1 nos auxiliaram nesta segunda etapa. Destacamos que as informações registradas em
gravações de áudio, anotações de campo e trocas de mensagens foram utilizadas para que
pudéssemos fazer a triangular os dados (Creswell, 2010).
Para facilitar a coleta de dados, utilizamos um aplicativo de rede social para localizar,
comunicar e coletar informações adicionais dos entrevistados para esse estudo. Destacamos que
convites foram realizados aos empreendedores para participarem de uma entrevista presencial para
nos dizer a respeito das trajetórias de vida a concretização de seus negócios. Gentilmente, pedimos
aos empreendedores que indicassem pessoas relacionadas em seus negócios para que ampliássemos
a amostra com mais variedade de entrevistados (Vinuto, 2014).
Notamos que por meio de uma cronologia narrativa podemos explicar como a rejeição de
limitações ajuda empreendedores a dar sustentação a seu estilo de vida com os negócios.
Exploramos, assim, visões de mundo diferentes a respeito dos significados subjetivos fornecidos
pelos entrevistados (Muylaert et al., 2014; Silva & Fossá, 2015). Informamos que, por uma questão
de ética na pesquisa quanto a evitarmos qualquer tipo de efeito negativo para os informantes, tanto
os nomes dos negócios quanto dos entrevistados foram omitidos com sua substituição por nomes
fictícios.
Nessa dissertação consideramos apenas um estudo de caso único, ao considerar que quatro
elementos principais deste estudo passam por um processo de rejeição de limitações. E por isso,
exploramos brevemente suas trajetórias de vida que os levaram a realização de suas ambições ao
empreendedorismo de estilo de vida, ainda que eles não se apelidam assim.
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Estilo de vida: Seu irmão o incentivou a voltar a andar de skate como nos velhos tempos
quando treinava em seus momentos de lazer com a família e com amigos. Antônio destaca que
antes não tinha tempo para andar de skate, muito menos condições para trabalhar com isso. Há
cinco anos, cansado de trabalhar só no escritório e disposto a praticar atividade física, iniciou um
novo negócio com um cunhado para que pudesse ajudar a financiar seu estilo skatista de ser. Hoje
Antônio está comprometido com o seu negócio e com seu emprego de publicitário em uma
emissora de televisão, utilizando-se desse emprego para lhe dar a maior parte do financiamento de
seu hobby. Antônio trabalha em busca de melhores condições de vida para si, para sua família e
para seus sócios, que o apoiaram desde o início. Três produtos mostraram ser essenciais para o
negócio: shapes artísticos de fabricação própria, skates e longboard prontos e skates do tipo
simulador de surf.
enfrentaram acabariam por se mostrar como uma oportunidade para que eles se enquadrarem
juridicamente como fábrica de artesanato de skates. Na categoria de artesanato, corriam menos
risco de terem problemas com fiscalização. A falta de conhecimento foi uma dificuldade no começo
mas buscaram a ajuda do SEBRAE / SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de São Paulo) para formalizar o negócio e planejar o crescimento com um plano de ação
estruturado, depois de assistir várias palestras e fazer alguns cursos de empreendedorismo para
conseguir combinar paixão e negócio.
que assim mantém a profissão de publicitário em paralelo até que tenha condições de viver apenas
de seu negócio de skates. Ainda que tenha uma boa demanda de trabalho durante a semana, teve a
participação do filho de Rinaldo no negócio para ajudar com os pedidos, tanto da internet quanto
da rua – projetando vender para outros estados do Brasil e para fora do país nos próximos anos.
Neste sentido, tem o intuito de ampliar os negócios, contratar pessoas e continuar trabalhando e
continuar se divertindo aos domingos e feriados na Avenida Paulista, continuando a manter
próximos a família e os amigos, algo tão importante para Antônio.
Rogério tem 33 anos, se identificou com uma demanda de serviços artísticos vindo de
festivais de música para os quais começou a fazer pinturas artísticas. Há mais de sete anos, trabalha
como cenografista, usando um dom que se desenvolveu devido a seu senso artístico para desenhar e
pintar fora dos modos tradicionais, usando vários efeitos e cores diferentes para pintar objetos em
grandes estruturas para eventos. Além de ser cenografista, ensina suas técnicas a grupos de jovens, quando
oportuno, em parcerias com escolas ou empresas, trabalhando a reutilização de materiais descartados
para a criação artística em artesanato feito à mão. Ele explora sua crença de que é possível expressar
belas-artes como a manifestação de sentimentos reprimidos, como o drama da vida na escola, na família
e no emprego. E desperta o lado criativo dos jovens, estimulando ganhos ambientais, sociais e
financeiros quando trabalha em cooperação. Desistiu de trabalhar em empresas porque se sentia preso
por regras que tiravam seu espírito criativo. Hoje está cercado de pessoas que admiram seu trabalho
artístico e pagam por isso.
Estilo de vida: Suas manifestações artísticas ocorrem por meio de desenhos psicodélicos,
ligados a mundo imaginário, animais, mandalas, sentimentos (como aprisionamento, solidão e drama
da vida), liberdade humana, além de serem uma expressão espiritual e da própria natureza, segundo
ele. Ele manifesta em seus desenhos o respeito pela vida como um todo. Faz do seu passatempo
uma atividade de negócio. Grande parte de seus aprendizados vieram da avó. Contudo, busca
aprimorar constantemente as técnicas artísticas. Rogério não pensava em viver da arte e nem que
sua expressão artística virasse um trabalho profissional. A busca pela felicidade o levou a uma vida
totalmente diferente da que vinha levando há dez anos. Sua ideologia de vida se mostrou persistente e até
hoje ele colhe frutos disso, uma realização pessoal que só foi possível graças a dedicação e
autonomia.
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Rejeitando limitações: Rogério ignora limites criados pela família e regras do governo
quanto à permissão para trabalhar. Sabia que não poderia prestar serviços sem ter um o registro de
CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e isso claramente poderia lhe impedir definitivamente
de seguir com a vida desejava. Diz que as pessoas na sociedade reprimem as outras por causa das
próprias limitações e, consequentemente, desmotivam aqueles que querem correr atrás dos próprios
sonhos. Em seu antigo emprego, tinha que cumprir exigências comportamentais e relacionais,
contrariando sua própria identidade. As exigências empresariais e o convívio com pessoas sem
autenticidade não faziam mais sentido para ele e, por isso, procurou se encaixar em outro tipo de
trabalho. No início, sua família não entendia o sentido do seu trabalho. Ele teve que insistir para que ela
pudesse apoiar e compartilhar sua ideia de viver um sonho. Considera invasivas demais as regras impostas
pela sociedade e pelo governo para aceitar trabalhar como antes, até porque isso o deixaria ansioso, um
problema emocional que não tinha antes e passou a ter constantemente devido às exigências de
como deveria pensar, falar e agir. Toda a pressão o deixava muito estressado por tirar uma parte
da sua liberdade e da expressão de seu estilo de vida. A busca pela autonomia no trabalho despertou
seu espírito artístico e empreendedor, parte do seu processo criativo em busca da felicidade. Isso o levou
a tomar a decisão de trabalhar por conta própria. Lembra que a cenografia e as artes plásticas não são
valorizadas por grande parte da sociedade brasileira e pessoas que entendem o papel na arte na
sociedade são dignas de admirar a arte como um todo. Segundo ele, a falta de intelecto cultural
prejudica o senso artístico individual e reprime as novas gerações. Afirma que as dificuldades do
passado vieram como aprendizados para fazer coisas de um jeito diferente ou melhor. Por fim,
reconhece que pessoas ligadas à arte o ajudaram a sair das dificuldades do começo de sua trajetória.
Hoje troca e indica serviços como uma forma de retribuir algo que fizeram por ele, fazendo muita diferença
em sua vida.
Virar-se com o que se tem à mão: Ainda que tenha sentido insegurança no ramo artístico
pela falta de reconhecimento inicialmente, enfrentou com força e paixão a área artística. Por amar
tanto a arte, ele se expressa utilizando diversas recursos, como materiais descartados, quadros, tecidos,
tinta acrílica, galhos, restos de ossos, palhetes, vasos, cordões e madeira. Trabalha com pintura em
paredes e objetos, fotografia, artes visuais, música, grafite, além de tatuagem e outras expressões
artísticas como atividade complementar para ganhar dinheiro. Hoje trabalha sozinho com vários tipos
de artes plásticas. Quase sempre faz adaptações estruturais para conseguir montar seus desenhos
diferenciados e expô-los em algum lugar. Já trabalhou até no frio e embaixo de chuva para finalizar seus
desenhos. Mas reconhece que, nessas condições, tem a oportunidade de ter contato com a natureza,
comer frutos das árvores, nadar no mar ou em rios, conversar com seus amigos e brincar com animais.
Já precisou recorrer aos conhecidos, parceiros de negócios e amigos para obter ajuda financeira e pagar
despesas, transporte, hospedagens, alimentação e materiais de pintura escassos em seus momentos de
dificuldade. Agradece por isso. Teve apenas um problema com fiscalização no trabalho, quando exigiram
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um curso de trabalho em altura. Na Roger Artes e Cenografias, pediu para um conhecido acompanhar
seu trabalho, uma vez que o mesmo tinha certificação de segurança para trabalhar em altura, o que
permitiu montar os suportes necessários para finalizar serviços. Rogério se lembra de um serviço em
que teve que criar um boneco gigante com pedaços de madeira e materiais encontrados na areia da
praia para lembrar as pessoas de não jogar seus resíduos na natureza e mostrar que a mesma
oferece muitos recursos importantes para a nossa sobrevivência e que os humanos deveriam agradecer
e retribuir por isso. Com a obra, ele também queria mostrar ao público que é possível criar algo a
partir do nada reutilizando matérias de forma criativa. Hoje trabalha em um estúdio de tatuagem, um
espaço compartilhado com um amigo como se fosse uma oficina de arte para que consiga desenvolver
seus outros trabalhos, como quadros.
Há mais de três anos, Adelino dá aula de surfskate, uma adaptação do skate que utiliza o
conceito do surf (conhecida também como simulador de surf). Adelino tem 33 anos e foi pioneiro
como professor na modalidade no Brasil. Hoje ensina pessoas de diferentes idades, interessadas em
conhecer o surfskate, transformando o asfalto em ondas. Ele se sente realizado e feliz por usar seu dom
no esporte para ganhar dinheiro, fazendo do seu passatempo uma forma de ensinar as pessoas.
Quando oportuno, dá cursos e palestras para um grupo maior de pessoas, aumentando a visibilidade do
negócio.
Estilo de vida: O interesse pelo surf veio da adolescência, quando surfava na praia de
Peruíbe, no litoral de São Paulo. Passou dos 15 aos 17 anos surfando, mesmo período no qual sua
família decidiu se mudar para a cidade de São Paulo em busca de melhores condições de vida. Nesse
momento, Adelino se distanciou do litoral para se adaptar à capital por reconhecer que não tinha
conhecimento suficiente para viver de surf naquela época. Trabalhou em uma empresa de eventos para
tentar crescer na vida e ajudar sua família, mas não conseguia. Ele não se sentia realizado trabalhando
em escritório e desejava encontrar algo melhor na vida. Em 2015, descobriu o simulador de surf ao
encontrar uma forma de amenizar a insatisfação que vivia, fazendo manobras radicais. Identificou a nova
onda do momento e descobriu uma oportunidade para ensinar pessoas a andarem de simulador de surf
em São Paulo. Mudou seu estilo de vida. Juntou amigos, conhecidos e mais pessoas interessadas para
praticar com o simulador. Foi no contato pessoa a pessoa e nas redes sociais que ele conseguiu atrair
alunos.
Rejeitando limitações: Ele reconhece que o próprio surf é um esporte caro devido aos altos
custos com viagens – por exemplo, devem-se pagar pedágios, combustível, despesas com moradia,
além de alimentação, transporte e manutenção com prancha de surf. O simulador de surf proporcionou
a ele um sentimento de superação diante das dificuldades da rotina estressante. Adelino deixou o
trabalho, depois de sete anos na mesma empresa, para resgatar sua paixão por esporte. O simulador
de surf veio para suprir seu desejo de voltar ao litoral. Desta forma, pessoas que o viam praticar
manobras radicais em seu tempo livre passaram a se interessar, o que chamou sua atenção para uma
oportunidade não percebida: ensinar pessoas a andar de skate na modalidade surfskate. Adelino
demonstra dedicação, paciência e um olhar técnico para corrigir os erros dos seus alunos. Por conta
isso, inicialmente recusou oportunidades conscientemente para dar aula de simulador de surf a seus
clientes, com o intuito de se tornar um especialista no esporte. As influências positivas do irmão, da
esposa e de amigos ajudaram a vencer limitações que antes pareciam ser intransponíveis. Sem uma
licença do parque ou da prefeitura, Adelino não poderia trabalhar ali. Ainda assim, isso não foi um
problema, pois ofereceu aula sem chamar atenção, uma forma de testar os limites das regras que o
impediriam. Deu esse jeito, sem precisar de um curso de empreendedorismo para trabalhar assim. Queria
40
viver de seu sonho, e assim prosseguiu. Adelino comentou que toda essa mudança lhe ensinou mais
sobre a vida do que uma faculdade poderia lhe ensinar.
Virar-se com o que se tem à mão: Sem materiais para criar produtos de sua empresa, decidiu
usar seu dom e sua rede de contatos para conseguir prestar seus serviços, estimulando as pessoas
que se identificavam com o esporte a praticar atividade física. Viu que não era tão difícil ter um
negócio apenas com seu conhecimento, ainda que tenha ficado dividido entre realizar seu novo sonho
ou voltar ao mercado de trabalho. Uma solução no começo do seu negócio foi oferecer aulas
experimentais para que as pessoas pudessem se interessar ao ponto de comprar seus simuladores e
combinar de treinar com ele. Uma das primeiras pessoas que fizeram aula com ele foi Paula. Ela nos deu
um depoimento sobre o apoio que ele lhe deu ao ensinar manobras e técnicas de autocontrole para
praticar o esporte. O cuidado de Adelino ao ensiná-la fez com que ela se sentisse à vontade para indicar
o professor a seus amigos. E estes foram conquistados pelas primeiras aulas experimentais de simulador
de surf. Aos poucos, Adelino ganhou a confiança das pessoas e viu que estava no caminho certo. Por
isso, decidiu investir tempo e dinheiro em conhecimento, montar treinos de diferentes níveis, desenvolver
a própria metodologia de ensino, além de comprar alguns simuladores como ferramenta de trabalho.
Conta com a ajuda de fornecedores para criar um sistema empreendedor ligado ao esporte.
Estilo de vida: A cozinheira Claudia oferece em seu restaurante vegetariano uma variedade
de pratos que podem ser consumidos no self-service, além de queijos, salgados, doces e bebidas
oferecidos por suas empresas. É uma alternativa saudável de alimentar as pessoas que queiram se inserir
nesse universo e mudar o estilo de vida. Quando pequena, morava em uma cidade do Paraná, região
conhecida pela tradição do corte bovino. Na infância, viu a crueldade no processamento de carne
ao ter que matar animais para consumo. A partir daquele momento, ela se negou a comer qualquer
tipo de carne. Vendo a dificuldade de encontrar alimentos que não tivessem origem animal, voltou a
comer carne com a promessa de que conseguiria mudar essa ideia na cabeça das pessoas. Buscou
conhecer mais sobre o processamento de alimentos vegetarianos e hoje, com 43 anos, com seu
esposo e sócio, defende essa ideia e transmite as pessoas essa consciência. Ela o faz para seus clientes,
funcionários e empreendedores relacionados, a fim de ajudar a proteger os animais. Desta forma,
promove a mudança para que as pessoas possam se encontrar e se alimentar tranquilamente, sem
serem julgadas pela sociedade.
formação em respeito aos animais. Uma das dificuldades enfrentadas pelo restaurante é conseguir
alimentos orgânicos que nem sempre estão disponíveis nos supermercados ou nos fornecedores.
Encontrar alimentos em boas condições e tempo hábil é um grande desafio para Claudia. Observou
claramente que é possível rejeitar a limitação da falta de ingredientes e substitui-los por outros, a fim
de criar pratos alternativos a suprir algumas faltas que o restaurante possa enfrentar Deu origem a um
novo sabor para os pratos tradicionais. Frequentes adaptações ou substituições de ingrediente nos pratos
são realizadas. Neste caso, testar as receitas criadas na cozinha proporciona às pessoas uma combinação
de sabores únicos.
Virar-se com o que se tem à mão: Claudia percebeu que poderia defender os animais com
pequenas mudanças de hábito e de consumo na vida, ainda que enfrentasse a resistência das pessoas
quanto a suas escolhas. Hoje seu negócio funciona de uma forma não convencional. Existe uma
rotatividade de atividades entre os funcionários, tanto na cozinha quanto no caixa. Claudia se preocupa
com as pessoas de baixa renda e, por isso, prefere contratar pessoas que passam dificuldades para
trabalhar em seu restaurante. A estratégia pode servir também para reduzir custos e aproximar pessoas
interessadas na cultura vegetariana, além de ensinar às suas receitas as pessoas interessadas no seu
estilo de vida.
Os quatro empreendedores contribuem para a criação de valor para a população. Por exemplo,
o elemento 3 busca estimular seus alunos a sair de sua rotina maluca para praticar atividade física ao ar
livre em um skate que chama atenção. Já o elemento 1 gosta de filmar suas manobras de skate na Av.
Paulista (quando ela fecha para recreação e lazer da população) para colocar nas redes sociais e
interagir com as pessoas interessadas, além de expor seus produtos na grade de proteção para convidar
as pessoas a se desafiar a praticar o esporte. Já as pessoas que buscam conhecer a cultura vegetariana
podem ir ao restaurante da cozinheira Claudia (elemento 4) ou pedir um queijo, um doce ou um salgado
vegetariano. Podem também ter a oportunidade de aprender uma nova forma de se alimentar sem
maltratar os animais na exploração da sua carne e derivados. E, por fim, o elemento 3 mostra seu lado
sensível ao desenhar quadros e painéis com efeitos profundos sobre as suas experiências de vida, e
sobre o aproveitamento de materiais reciclados, tentando respeitar a natureza.
Já no Surf nas ruas (elemento 3), o empreendedor utiliza de suas habilidades de equilíbrio e
determinação para ensinar técnicas de surfskate, um diferencial utilizado como negócio a fim de financiar
seu estilo skatista. E para a Arte em Skates (elemento 1) o empreendedor aplica seus conhecimentos na
área da publicidade para fazer vendas de skates personalizados ou alugá-los enquanto se diverte
andando de skate aos domingos e feriados na rua com seus amigos e familiares. Com isso,
percebemos que os objetivos empreendedores variam entre ensinar e aplicar o que sabem em seus
negócios.
45
Tanto o artista Rogério (elemento 2) quanto o skatista Adelino (elemento 3) declararam não
precisar de formação empreendedora por possuírem perfil bricolor para tocarem seus próprios
negócios. Já o desportista Antônio (elemento 1) e a dona do restaurante Claudia (elemento 4) se
procuraram em buscar orientações – por exemplo de como abrir um CNPJ (Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica) e como administrarem seus próprios negócios. Os elementos 1 e 4 utilizam de
conhecimentos obtidos anteriormente em cursos ou em palestras para gerenciar seus próprios
negócios de forma autônoma.
Por vezes, situações indesejadas no emprego anterior ligadas aos empreendedores de estilo de
vida refletem na desmotivação e baixa produtividade das pessoas nas empresas. Esse mal-estar
percebido no aspecto profissional muitas vezes se torna uma justificativa para que pessoas decidam
abrir o próprio negócio. A percepção subjetiva que antecede a abertura de uma empresa é uma questão
pouco estudada nas ciências econômicas e ciências sociais. Por fim, fizemos a síntese e a discussão
dos resultados, contribuições e indicações de pesquisas futuras, seguindo as considerações finais desta
dissertação.
Esses empreendedores gostam de trabalhar não só em proximidade com sua família, mas
também com seus clientes no trabalho. Expandir os negócios poderia levar ao afastamento do estilo
de vida e ampliar demais as obrigações burocráticas e administrativas dos negócios. Portanto, é
importante para o estilo de vida desses empreendedores que eles se mantenham dentro de suas próprias
regras, que incluem evitar que o desenvolvimento dos negócios atrapalhe seu estilo de vida desejado,
ainda que isso implique lucrar e crescer menos do que o possível.
Características da Rejeição de
Empreendedor Atividade Características de Estilo de Características de EEV Características da TBE
Limitações
Vida
Anda de skate enquanto os vende Não conseguiu expor seus Concilia o tempo entre o emprego
Vende madeiras como no local em que se estabeleceu na Pequena Empresa. Faz o que primeiros longboard em lojas. e o próprio negócio. Utiliza
base dos skates rua. Trabalha apenas nos gosta com amor, praticando Começou a vender pela internet, retalhos de madeiras para
Elemento 1: personalizados como domingos e feriados nesse esporte radical e conversando mudou para uma local mais
Antônio e dois customizar shape de skate. Dá
artesanato. Além de negócio. Busca conciliar família, com pessoas sobre à cultura movimentado e conseguiu uma um jeito de participar de eventos
sócios alugar um tipo de skate dinheiro e bem-estar ao praticar skatista e surfista enquanto licença para trabalhar na rua. Ainda desportivos no litoral e no
chamado longboard. atividade desportiva. Antes não divulga para as pessoas seus fez cursos de empreendedorismo interior de São Paulo para
acreditava que seria possível essa produtos. para a administração do negócio. difundir à sua marca.
realização.
Monta cenografias Sucesso para ele é trabalhar sendo Micro Empreendedor Informal. Faz gambiarras ao reutilizar
feliz, não sendo mais reprimido Utiliza da habilidade artística, Regras impostas de como ele recursos descartados na criação
para eventos musicais
pela sociedade ou tendo que com ajuda da natureza para criar deveria pensar, falar e até agir em de novo produtos e serviços
Elemento 2: (cenógrafo) e quando
prestar contas à sociedade. seus trabalhos. Conta com à seu antigo emprego deixava artísticas. Devido ao dinamismo
Rogério oportuno, ensina
Afastou do estresse do emprego ajuda de amigos e colegas de área desmotiva e ansioso. Ao voltar a da atividade faz cenografias,
jovens a gerarem renda
fez com que ele se aproximasse da quando precisa de recursos. Hoje desenhar descobriu que poderia artes plásticas, eventos, artes
extra por meio de aulas
realização pessoal. Vem de uma trabalha com amor e fazendo o fazer desse hobby, um negócio. visuais, quadros, grafite,
de artes plásticas e
sustentabilidade. trajetória de muita luta e suor. que gosta. tatuagem, fotografia, oficina etc.
Micro Empreendedor Informal. Cansado de trabalhar em escritório
Dá aula de surfskate Viu a flexibilidade desse
Buscar realização pessoal e Pioneiro na modalidade e tendo influência do surf desde
(simulador de surf) equipamento para que fosse
profissional ao ensinar técnicas de desportiva, ensina desde o nível pequeno. Decidiu trabalhar com
Elemento 3: individualmente ou em adaptado para a modalidade,
equilíbrio e confiança as pessoas. básico até o intermediário para as longboard, aproximando de pessoas
Adelino grupo. Seja em parques assim poderia ensinar as pessoas,
Tem um número limitado de pessoas que gostariam de que possuem interesse tanto no
ou em outros espaços emprestando seus equipamentos.
alunos para passar mais tempo descobrir como é surfar no skate quanto no surf. Além de fazer
públicos na cidade de Até ter condições de comprar
com à família. asfalto ao utilizar o skate como parcerias com pequenas fábricas
São Paulo. outros simuladores.
prancha nesse modalidade. para ajudá-los.
Recusou a pressão das pessoas Possui três negócios Montou espaços improvisados para Faz refeições alternativas de
É cozinheira de um pratos vegetarianos. Isso porque
sobre consumir carnes e derivados relacionados ao amor pela descanso, jogos e outra sala para
Elemento 4: restaurante vegetariano ensina seus funcionários que é
de animais e defende à cultura cozinha vegetariana. Realiza seu exercícios físicos entre outros para
Claudia, seu e possui uma fábrica de possível substituir os
vegana ao criar um espaço para hobby na cozinha para ensinar que as pessoas se sentissem a
sócio e seus queijo e outra de doces ingredientes principais por
vegetarianos e produtos e serviços seus funcionários e clientes vontade de frequentar o
14 e salgados veganos. outros disponíveis. Criando
à comunidade. receitas saudáveis. restaurante e experimentar às suas
funcionários assim, receitas sem usar
receitas caseiras.
derivados de animais.
As necessárias mudanças em suas vidas para que as alinhassem ao estilo de vida desejado
dependeram das iniciativas de enfrentar ou evitar limitações impeditivas, fossem na vida pessoal ou
no desenvolvimento de seus negócios. Vemos a importância de alinhar vida pessoal e vida profissional
quando falamos que as características dos empreendedores quase que se fundem às características
de seus negócios. As mudanças levaram à criação de uma marca de identidade única, distinguindo seus
negócios de outros no mesmo ramo.
Os empreendedores de estilo de vida que possuem mais de cinco anos de experiência nesses
negócios estão acostumados a criar soluções com recursos de baixo valor para resolver seus
problemas. Desde a criação de seus negócios, eles conseguiram fazer muito usando poucos recursos
disponíveis. Isso ocorreu, por exemplo, pelo uso de redes socais online bem conhecidas para divulgar
seus trabalhos e atrair clientes.
Na próxima seção, comparamos os resultados obtidos entre si, no detalhamento dos resultados,
a partir das análises das entrevistas e sobre o processo empreendedor rejeitando limitações. Mostramos
na Figura 2 os principais aspectos que nos conduziram aos resultados finais de nossa pesquisa, os quais
têm o intuito de explicar como os empreendedores de estilo de vida rejeitam limitações usando a
bricolagem empreendedora para empreender. Consideramos os principais elementos discutidos nos
capítulos de análise dos dados, como (1) o estilo de vida, (2), mudança comportamental e de
pensamento, (3) consciência das dificuldades, (4) possiblidade de aceitar ou recusar as limitações e
(5) as soluções encontradas.
49
Nesta seção, apresentamos os resultados obtidos na comparação dos dados dos entrevistados
com base no Quadro 6. Mostramos como os dados contribuem para o entendimento de como os
empreendedores estudados lidam com limitações e o que é preciso para rejeitar limitações em seus
contextos para alinharem trabalho e vida com o EEV.
A Figura 2 é um modelo que explica a relação dos elementos de estilo de vida buscados
com diferentes aspectos relacionados à bricolagem empreendedora. O processo de rejeição de limitações
no fenômeno de EEV se evidencia nas trajetórias de vida desde a identificação do estilo de vida
desejado. E é seguido pela identificação dos problemas que ameaçam a continuidade desses objetivos.
Existe um esforço pelo qual os empreendedores de estilo de vida se negam a seguir diretrizes
impostas a eles e por isso passam a criar as próprias regras. Olhando para o contexto da rejeição de
limitações, percebemos que esses empreendedores buscam alinhar vida e trabalho prazerosamente
sem que precisem justificar suas decisões na vida. A partir da consciência das diversas barreiras
existentes em suas vidas, tentam atingir seus objetivos de estilo de vida traçados, sabendo que pessoas
que se identificam com seus estilos de vida gostam do que fazem e sabem que sua atividade cria um
valor importante para a sociedade.
A superação do pessimismo das pessoas que não acreditaram no seu potencial empreendedor é
uma etapa a romper. Por isso, os empreendedores decidiram criar um negócio com uma identidade
pessoal a fim de se sentirem felizes e realizados na vida. Entretanto, novos objetivos de vida passam
a ser incorporados ao estilo de vida do empreendedor quando se sentem definitivamente impedidos
de concretizar suas ambições iniciais.
Num primeiro momento, não fica claro para as pessoas como um estilo de vida pode virar
um negócio. Antes de eles saírem de seus antigos empregos e decidirem empreender, passam a
questionar como querem trabalhar e viver. A liberdade profissional passa a ser algo questionado e
desejado por eles, se deparando com situações que poderiam melhorar a forma como levam suas vidas.
Acreditam que dependem de suas escolhas na vida para lutar por aquilo que realmente importa e
por isso decidem levar a sério a maneira de ser, ao ponto de buscar recursos e dar um jeito de praticar
suas ambições de vida na criação de um novo negócio.
Exemplos mais comuns das ambições de vida podem ser representados por algumas habilidades
descobertas, um dom para fazer algo, um passatempo, uma paixão por uma atividade, o amor por
um cultura, a realização de um sonho, a manifestação de uma atividade recreativa, manifestar o lado
artístico ou fazer artesanato para praticar técnicas aprendidas. A manifestação de estilo de vida é feita
quando essas pessoas decidem explorar suas maneiras de ser e de trabalhar em atividades prazerosas
desejadas.
Um estilo de vida pode ser momentâneo ou um propósito de vida, dependendo das escolhas
empreendedoras. Na literatura de EEV, tem sido difícil discutir a manifestação do estilo de vida,
não estando claro quando uma ideia de estilo de vida se torna um produto de um negócio, até
que percebemos que a motivação passa a fazer sentido em suas vidas e e os empreendedores desejam
trabalhar produtivamente fazendo do estilo de vida o objetivo do negócio.
Regras limitadoras de como eles deveriam pensar e agir levam a um ponto de exaustão mental
que eles sabem que pode prejudicar sua saúde física e mental. Por isso, decidem se libertar das
frustrações e seguir suas ambições. Eles têm a intenção de praticar um estilo de vida desejado
em suas vidas por saber da importância de se trabalhar produtivamente neste tipo de atividade.
Partem então para desenvolver novas maneiras de se trabalhar e de vencer as dificuldades na vida.
Mesmo não tendo perfil empreendedor, criam produtos e serviços que possam ser oferecidos a
pessoas interessadas nas redes sociais (elementos 1, 2, 3 e 4), em locais públicos (elemento 1), em
espaços compartilhados (1 e 4), como parques (elemento 3), para dar continuidade a seus negócios,
conforme mencionados na análise dos dados.
O contexto da rejeição de limitações é composto por regras que os controlam e levam a ter
sérios problemas de saúde, sejam problemas físicos ou mentais, geralmente associados ao trabalho.
São problemas ligados ao sedentarismo, atrofia muscular, problemas cardiovasculares e distúrbios
do sono além dos problemas emocionais ligados a ansiedade, estressadas, angústia, desmotivação e
depressão. Ou seja, problemas de saúde que afetam a maneira como eles vivem.
Neste seções, a busca pela autonomia na vida é direcionada ao empreendedorismo por prazer.
Pessoas visam abrir o próprio negócio e aceitam passar por um caminho empreendedor desconhecido
a fim de realizar seus objetivos na vida, como praticar um estilo de vida. Por exemplo para testar a
viabilidade de um negócio à Claudia decidiu abrir um negócios voltado a gastronomia vegetariana
convidando seu esposo para que eles pudessem realizar seus sonhos juntos. Ou como o caso do
Antônio, buscando andar mais de skate, convidou seu cunhado para confeccionar a base do longboard
usando sua habilidade de fazer prancha de surf para fazer skates artisticamente.
À medida que eles descobrem novas soluções para os problemas enfrentados nos negócios
eles vão se realizando no EEV. Vale destacar que contam com à ajuda de instituições que apoiam
as micro e pequenas empresas para aperfeiçoar seus conhecimentos. Como fazer cursos on-line de
empreendedorismo e tiram suas dúvidas com mentores de negócios dessas instituições, participando
de workshops para pequenos negócios.
Ainda que eles dão um jeito de se virar com o que se tem à mão, aos poucos usam técnicas
que descobriram em suas jornadas na vida para intervir de melhor maneira em seus negócios. Notamos
que algumas habilidades de improvisação são utilizadas para q continuidade de seus objetivos nos
negócios. Uma decisão importante tomada pelos empreendedores de estilo de vida que os ajudam a
sustentar suas atividades.
Os empreendedores estilos de vida criam produtos e ou serviços que nem sempre têm
resultados satisfatórios que atenda suas ambições estabelecidas. Por isso articulam de outras maneiras
para transformar as dificuldades em aprendizados que possam interessar seus estilos de vida.
Oferecendo as pessoas outras possiblidades e assim, ajudando a obter recursos financeiros
necessários para se atingir os objetivos. Portanto a busca pela autonomia para empreender e liberdade
para criar, ajudando os empreendedores ao fazer bricolagem para realizar suas ambições.
Apresentamos na Figura 2, elementos que dão suporte aos empreendedores nesse processo
de empreender e assim realizar uma ambição de vida. A utilização de recursos disponíveis à mão neste
contexto é uma estratégia empreendedora utilizada para fazer bricolagem empreendedora. Uma vez
que empresas de estilo de vida começam com baixa disponibilidade de recursos e precisam articular
com o que se têm a disposição para dar um jeito de continuar o negócio, ampliando os recursos
acessíveis a eles.
Uma outra maneira dessas pessoas ajudar os empreendedores de estilo de vida é comprando seus
produtos ou serviços para incentivá-los a vender. Inclusive utilizando as redes sociais, sites,
plataformas e aplicativos como recursos tecnológicos que os ajudam a direcionar seus trabalhos as
pessoas interessadas.
Não é de se exagerar que todos esses esforços resultem no alinhamento do trabalho e da vida
ou vida familiar desejado. Indo de encontro com a ambição de vida estabelecida anteriormente pelo
empreendedor de estilo de vida. Como no relato de Adelino (elemento 3) que deixou de atender
uma grande demanda de alunos para passar mais tempo com sua esposa. Ainda que se preocupava
em reagendar as aulas para outros horários livres na semana. Vale ressaltar que andar de surfskate
exigem além de treinos para fortalecer os músculos visa promover treinos de autoconfiança, coragem,
equilíbrio e concentração.
Vale destacar que a relação do estilo de vida visa promover a manifestação do bem- estar
não só físico, mas também mental. Seja do empreendedor ou da comunidade interessada. Este tipo
de decisão incomum e se baseia nos valores pessoais determinados por eles. Por isso existe um grande
preocupação em rejeitar limitações como oportunidades de emprego ou de ampliação do negócio que
possa impedir esses empreendedores de manter uma vida prazerosamente desejada.
Vale destacar que em alguns casos, eles se procuram em oferecer mais pessoas seus produtos
e serviços, como à Claudia (elemento 4) que abriu uma fábrica uma produz queijos veganos e outra
fábrica que faz doces e salgados veganos para atender, além dos clientes do restaurante, atender
encomendas para eventos e festas. Ou Adelino (elemento 3) que além de dar aulas particulares mas
também oferece a possibilidade de ministrar palestras e cursos em eventos esportivos para pequenos
grupos de pessoas.
Constatamos que empreendedores de estilo de vida são competentes para criar produtos e
serviços em resposta aos desafios de manter alinhados os negócios com seu estilo de vida desejado.
Ainda que estejam em ambientes dinâmicos de negócio e possuam recursos escassos para
empreender, eles se preparam para usar habilidades desenvolvidas anteriormente e, com elas, dar
um jeito de lidar com as dificuldades e alinhar trabalho e vida. Por estes motivos, usam da bricolagem
empreendedora como um mecanismo de superação de limitações durante o processo empreendedor
(Baker & Nelson, 2005).
por muitos empreendedores para conquistar o alinhamento entre vida e trabalho usando de suas
ideologias de vida e rejeitando limitações.
Em virtude do que foi mencionado, a resiliência diante das limitações aparece como uma
característica bastante evidenciada no contexto da rejeição. Fazer adaptações em seus negócios para o
desenvolvimento deles ajuda durante toda a trajetória empreendedora. Foi o caso de Adelino (elemento
3), que desejava ser surfista e acabou virando professor de simulador de surfskate (uma modalidade
que une dois esportes). Ou o caso de Antônio (elemento 1), que convidou seu cunhado para fabricar
a base de seu skate e decidiram fazer uma parceria visando personalizar e vender diversos tipos de
skate. Assim, os dois empreendedores usaram de seus recursos variados, ainda que restritos e não
muito adequados para fazerem skates, e seus conhecimentos anteriores para se adaptarem aos novos
desafios e empreenderem com sucesso.
Destacamos que o mal-estar na vida dos empreendedores é um elemento ao qual devemos nos
atentar quando falamos do processo de rejeição de limitações no EEV. No entanto, o mal-estar dos
empreendedores de estilo de vida faz com que eles tenham que se proteger criando as próprias regras e
assim obter autonomia para criar soluções a problemas conhecidos pela sociedade. Vimo um exemplo
disso no empreendedor Adelino (elemento 3). Mesmo não tendo uma certificação para ensinar clientes
a praticar a modalidade surfskate, ele se vê e se apresenta como um profissional que ensina pessoas
o obter desenvolvimento pessoal através do esporte. Assim, a autonomia para criar as próprias regras
é um meio pelo qual os empreendedores do EEV rejeitam regras aceitas pela sociedade.
60
Existe uma razão pela qual decidem transformar a maneira como pensam e agem em prol de
seus objetivos pessoais, como no caso de Rogério, que estava muito exposto a relações abusivas
no trabalho e passou a rejeitar crenças limitantes das pessoas com quem ele se relacionava e
decidiu mudar de vida. Transitou de suas frustrações no trabalho e na vida para um estilo de vida
artístico e prazeroso.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
(III) Implica na vida daquelas pessoas consideradas empreendedoras de estilo de vida e que estão
propensos a rejeitar limitações em suas vidas e em seus negócios em busca de.
(IV) Implica na vida das pessoas que queiram abrir um negócio por conta própria em busca de
melhoria de vida pessoal e familiar. Porque pessoas estão desmotivas com os seus resultados no trabalho
e na vida que vem levando.
(V) Implica no setor público que busca aprimorar às políticas públicas regionais voltada a pequenos
negócios que também geram desenvolvimento socioeconômico local. A baixa produtividade de alguns
setores como o esporte, à gastronomia, o artesanato, o trabalho artístico entre outros setores que
podem ser estimulados. A fim de proporcionar aos empreendedores de estilo de vida, recursos que os
ajudem a desenvolver práticas administrativas.
(VI) Implica na sociedade quando falamos de problemas de saúde causado pelo nervosismo, estresse,
ansiedade, desprazeres, pressão no trabalho, depressão e outros problemas associados ao
desalinhamento no trabalho e na vida.
(VII) Implica nas instituições de ensino que queiram entender a manifestação do estilo de
vida dos empreendedores e aprimorar seus programas de ensino sobre empreendedorismo.
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