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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO – UNINOVE

PROGRAMA DE MESTRADO E DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO

MARCUS VINÍCIUS LOPES SILVA

BRICOLAGEM EMPREENDEDORA E REJEIÇÃO DE LIMITAÇÃO NO


EMPREENDEDORISMO DE ESTILO DE VIDA

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

São Paulo
2020
Marcus Vinícius Lopes Silva

BRICOLAGEM EMPREENDEDORA E REJEIÇÃO DE LIMITAÇÃO NO


EMPREENDEDORISMO DE ESTILO DE VIDA

ENTREPRENEURIAL BRICOLAGE AND REFUSAL TO ENACT LIMITATIONS IN


LIFESTYLE ENTREPRENEURSHIP

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Administração – PPGA na
Universidade Nove de Julho – UNINOVE,
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Mestre em Administração na linha de
pesquisa Empreendedorismo e Pequenos
Negócios - EPN.

Orientador: Professor PhD. Edmilson de


Oliveira Lima.

São Paulo
2020
FICHA CATALOGRÁFICA

Silva, Marcus Vinícius Lopes.


Empreendedorismo de estilo de vida e a relação com a rejeição de
limitação na bricolagem empreendedora / Marcus Vinícius Lopes
Silva. 2020.
78 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, São Paulo, 2020.
Orientador (a): Prof. Dr. Edmilson de Oliveira Lima.
1. Empreendedorismo de estilo de vida. 2. Bricolagem
empreendedora. 3. Rejeição de limitações. 4. Dar-se um jeito.
5. Escassez de recursos.
I. Lima, Edmilson de Oliveira. II. Título.

CDU 658
TERMO DE APROVAÇÃO DA BANCA

MARCUS VINÍCIUS LOPES SILVA


EPÍGRAFE

Escolha um trabalho que você ame e não terá


que trabalhar um único dia em sua vida.
Confúcio
DEDICATÓRIA

Dedico este estudo à comunidade interessada no


lifestyle entrepreneur, a meu pai, por ser
trabalhador, a minha mãe, por ser benevolente, e
aos familiares, amigos, professores, avaliadores
e colegas que acreditam no meu potencial a fim
de trazer novas contribuições sobre esse tema.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao programa PROSUP da CAPES pelo apoio financeiro enquanto aluno do PPGA da
UNINOVE. Aos professores do stricto sensu e funcionários da instituição pelos serviços
prestados. Foi uma grande oportunidade trazer discussões teóricas a respeito do fenômeno
empreendedorismo de estilo de vida na ótica da teoria da bricolagem empreendedora no
contexto brasileiro, em especial na cidade de São Paulo. Agradeço em seguida ao professor e
orientador Edmilson de Oliveira Lima pelos ensinamentos que me ajudaram a construir uma
visão crítica a respeito do conhecimento. Ao professor Henrique Mello Rodrigues de Freitas e
a sua equipe, bem como a seus alunos. Aos colegas da graduação, do mestrado e do doutorado,
pelas oportunidades de crescimento que me fizeram sair da zona de conforto em busca de novos
aprendizados. Meus sinceros agradecimentos à recém doutora Andréa Luísa Bozzo, pelo auxílio
acadêmico. À futura juíza Maria Victória de Moura Marques Scarpelini, pelo mindset de
crescimento e pelos auxílios acadêmicos. Ao professor Matheus Slodkevicius Mariano, pelo
auxílio acadêmico. Ao mestre Kevin Sie Kambou, pelo compartilhamento de seu senso crítico
a respeito das múltiplas realidades. À mestra Neiva Menezes, pelas experiências que trocamos
ao longo do mestrado. Ao futuro doutor Stefano Maleski, pelo aprendizado internacional e pelo
auxílio acadêmico. A Guilherme Almeida Mascarenhas, pelo auxílio acadêmico. Ao professor
e futuro mestre Allex Rodrigues, pela energia positiva. Ao mestre Roberto Ricardo Sollberger
Jeolás, pelas trocas de experiências acadêmicas. Aos empreendedores e colaboradores
entrevistados, que contribuíram para o avanço deste estudo. Agradeço também a todas as
pessoas que conviveram comigo ao longo de minha trajetória de vida e me ensinaram sobre
trabalho, flexibilidade, objetividade, respeito, amor, humildade, humanidade, ética e senso
crítico. Me ajudando a superar todos os desafios no lado pessoal quanto no lado acadêmico.
RESUMO

Ainda não está claro na literatura como os empreendedores de estilo de vida rejeitam limitações
usando a bricolagem para fortalecer os estilos de vida nos negócios. Nosso objetivo de pesquisa
que trata desse tema, pretende explicar como os empreendedores de estilo de vida usam a
bricolagem empreendedora de modo a superar dificuldades para empreender em alinhamento
com um estilo de vida prazeroso desejado. Para que esse objetivo geral fosse atingido,
trabalhamos com os seguintes objetivos específicos: (I) explorar a literatura de
empreendedorismo de estilo de vida (EEV) para caracterizar esse tema, (II) explicar como os
empreendedores estudados viram-se com os recursos que têm em mãos para resolver o
necessário e continuar empreendendo e (III) descrever como empreendedores de estilo de vida
superam dificuldades em seus negócios utilizando a bricolagem empreendedora. Este é um
estudo empírico de natureza qualitativa que explorou e analisou dados de campo a partir de sete
entrevistas presenciais realizadas na cidade de São Paulo, no Brasil. Utilizamos um roteiro de
entrevista semiestruturada com trinta e duas perguntas com o intuito de coletar os dados da
trajetória de vida e da rejeição de limitações com uso da bricolagem no empreendedorismo.
Nos resultados, detalhamos como empreendedores de estilo de vida empregam a rejeição de
limitações e explicamos as principais características comportamentais de EEV segundo nossos
dados. O campo mostrou que os empreendedores de estilo de vida usam a bricolagem para
superar limitações e assim, dão um jeito de enfrentar dificuldades que os impedem de
conquistar a autorrealização na vida e no trabalho. Eles gostam de ensinar o que aprenderam
aos clientes, como dar aula de surfskate, fazer artesanato, fazer artes plásticas além de oferecer
pratos alternativos da culinária vegetariana. Enfatizamos a necessidade de se pesquisar sobre a
bricolagem empreendedora como um campo ainda não estudado no EEV. Deduzimos que a
bricolagem empreendedora no EEV oferece cada vez mais a possibilidade das pessoas terem
uma renda sem deixar abandonar um estilo de vida prazeroso que as conquistou no
empreendedorismo.

Palavras-chave: Empreendedorismo de estilo de vida. Bricolagem empreendedora. Rejeição


de limitações. Dar-se um jeito. Escassez de recursos.
ABSTRACT

It is not yet clear in the literature how lifestyle entrepreneurs reject limitations by using the
bricolage to strengthen business lifestyles. Our research objective that addresses this theme,
aims to explain how lifestyle entrepreneurs use entrepreneurial bricolage in order to overcome
difficulties to undertake in alignment with a desired pleasurable lifestyle. In order for this
general objective to be achieved, we worked with the following specific objectives: (I) to
explore the lifestyle entrepreneurship (EEV) literature to characterize this theme, (II) to explain
how entrepreneurs have come up with the resources they have to hands to solve their problems
and continue entrepreneurship and (III) describe how lifestyle entrepreneurs overcome
difficulties in their businesses using entrepreneurial bricolage to face limitations. This is an
empirical qualitative study that explored and analyzed field data from seven face-to-face
interviews conducted in the city of São Paulo, Brazil. We used a semi-structured interview
script with thirty-two questions in order to collect data on life trajectory and the rejection of
limitations with the use of bricolage in the entrepreneurship. In the results, we detail how
lifestyle entrepreneurs employ the rejection of limitations and explain the main behavioral
characteristics of EEV according to our data. The field showed that lifestyle entrepreneurs use
bricolage to overcome limitations and, thus, give a way to face difficulties that prevent them
from achieving self-realization in life and work. They have shown that they enjoy teaching
customers what they have learned how to instructor surfskate lessons, make crafts, make plastic
arts and offer alternative vegetarian dishes. We emphasize the need to research entrepreneurial
bricolage as a field not yet studied on EEV. We deduce that entrepreneurial bricolage in EEV
increasingly offers the possibility for people to earn an income without abandoning a
pleasurable lifestyle that won them over in entrepreneurship.

Keywords: Lifestyle entrepreneurship. Refusal to enact limitations. Entrepreneurial bricolage.


Making do. Resources at hand.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EEV: Empreendedorismo de estilo de vida.

LE: Lifestyle entrepreneurship.

MEI: Microempreendedor individual.

MPE: Micro e pequenas empresas.

PE: Pequenas empresas.

SEBRAE: Serviço brasileiro de apoio às micro e pequenas empresas.

TBE: Teoria da bricolagem empreendedora.


LISTA DE FIGURA

Figura 1: Processo de construção da metodologia qualitativa .................................................. 26


Figura 2: O processo da rejeição de limitações no EEV ..........................................................48
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Definições frequentes dos empreendedores de estilo de vida ............................ 24
Quadro 2: Definições frequentes de rejeição de limitações ................................................ 25
Quadro 3: Procedimentos de coleta dos dados .................................................................... 27
Quadro 4: Protocolo de pesquisa ......................................................................................... 28
Quadro 5: Síntese e procedimento metodológico utilizados nesta dissertação.....................29
Quadro 6: Explicando o contexto da rejeição de limitações.................................................45
RESUMO................................................................................................................................. 20

ABSTRACT ............................................................................................................................ 21

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 22

LISTA DE FIGURA ............................................................................................................... 23

LISTA DE QUADROS........................................................................................................... 24

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16

1.1 Problema de pesquisa ................................................................................................ 18

1.2 Objetivo geral ............................................................................................................ 19

1.3 Objetivos específicos ................................................................................................. 19

1.4 Justificativa ................................................................................................................ 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................... 21

2.1 Empreendedorismo de estilo de vida ......................................................................... 23

2.2 Bricolagem empreendedora ....................................................................................... 25

2.3 Rejeição de limitações no empreendedorismo .......................................................... 27

3 MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA ............................................................. 29

3.1 Delineamento da pesquisa ......................................................................................... 29

3.2 Procedimentos de coleta de dados ............................................................................. 30

3.3 Protocolo de pesquisa ................................................................................................ 31

3.4 Matriz de síntese metodológica ................................................................................. 32

4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................... 33

5 ANÁLISE DESCRITIVA DAS ENTREVISTAS .................................................. 43

5.1 Análise comparativa das entrevistas .......................................................................... 46

6 DETALHAMENTO DOS RESULTADOS ............................................................ 49

6.1 Identificando os objetivos.......................................................................................... 52

6.2 Contexto das limitações ............................................................................................. 53


6.3 Processo empreendedor ............................................................................................. 54

6.4 Bricolagem empreendedora ....................................................................................... 55

6.5 Recursos disponíveis à mão....................................................................................... 56

6.6 Ganhos obtidos .......................................................................................................... 57

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................................ 58

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 62

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 63

10 APÊNDICE 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA .................................................... 78


16

1 INTRODUÇÃO

Correntes de pensamento sobre o comportamento empreendedor há muito tempo têm discutido


questões relativas ao bem-estar do homem no trabalho (Nahas, de Barros & Francalacci, 2000;
Siqueira & Padovam, 2008; Ryff, 2019). Em especial, a atenção dos pesquisadores das ciências
sociais têm questionado se realmente o interesse econômico de alguns empreendedores é o objetivo
principal que eles têm em seus negócios (Shaw, Williams & Greenwood, 1987; Filion & Lima,
2010; Bredvold & Skalén, 2016), ainda que pesquisadores nas ciências econômicas tenham focado
mais no interesse financeiro como motivador do empreendedorismo (Marchant & Mottiar 2011;
Markantoni, Koster & Strijker, 2014).

Os pesquisadores que se dedicam a estudar o comportamento dos empreendedores não se


concentraram em explicar o processo de superação das dificuldades quando o estilo de vida é o
foco principal de um negócio (Marchant & Mottiar, 2011). Apesar do tema ser importante. O fato
deixado em aberto, mostra a necessidade de se pesquisar e discutir a abordagem das diferentes
dificuldades a ser superada no empreendedorismo de estilo de vida (Ateljevic & Doorne, 2000).

Obter autorrealização na vida é um sonho de muitos empreendedores (North, 1991;


Mendonça, 2009; Krieger, 2014) e o significado dado por eles sobre a realização pessoal ajuda
explicar a defesa de um estilo de vida desejado (Mendonça, 2009; Damke E, Damke J, Hijazi,
Benitez, & Moreira, 2016). O esforço direcionando à busca de autorrealização (Moretti, & Treichel,
2003; Velasco & Saleilles, 2007) e de aproveitamento de um estilo de vida são tidos
frequentemente como objetivo dos negócios (Velasco & Saleilles, 2007; Claire, 2012). A intenção
de se criar um negócio nem sempre prioriza o enriquecimento financeiro, como muitas pessoas
acreditam. São exemplos disso as organizações sociais que captam recursos financeiros a fim de
direcioná-los a pessoas que precisam de ajuda.

Qualquer evidência de lucro utilizado para financiar uma empresa cujo interesse é a
valorização de estilo de vida poderia ser vista, pelos empreendedores de estilo de vida, como um
meio de se buscar enriquecimento financeiro para além do que é necessário (Marchant & Mottiar,
2011). Em suma, evidências na literatura de EEV mostram o contrário: pessoas decidem
empreender com a intenção de realizar suas ambições por meio de uma atividade empreendedora
trabalhando prazerosamente (Mendes & Tamayo, 2001; Krieger, 2014). Trabalhar assim dá um
sentido especial à vida e afasta o sofrimento do trabalho, criando uma realidade bem diferente
daquela em que as pessoas se sentem impedidas de obter felicidade e bem-estar no ambiente de
trabalho (Neto, 2006; Rodrigues, Alvaro & Rondina, 2006; Ryff, 2019).
17

Para facilitar a compreensão do que é EEV neste estudo, definimos que EEV são atividades
empreendedoras nas quais os empreendedores visam dar sustentação a seu estilo de vida desejado,
tendendo a ignorar conscientemente oportunidades de negócios que poderiam dificultar sua
autorrealização na vida (Velasco & Saleilles, 2007; Mendonça, 2009). Exemplos mais comuns
desse tipo de atividade são escolas de surfe em que empreendedores amam surfar e aproveitam
para ensinar a comunidade interessada (Shaw & Williams, 2004; Nerothin, 2017).

Além dos empreendedores de estilo de vida viverem suas ambições empreendidas (Krieger,
2014), estão dispostos a lidar com as diferentes limitações impostas em suas vidas e em seus
negócios a fim de manterem suas atividades empreendedoras e seu estilo de vida desejado
(Ateljevic & Doorne, 2000, Di Domenico, 2005). Dessa forma, os conceitos da teoria da
bricolagem empreendedora (TBE) são úteis para estudar o tema, pois refere-se à rejeição de
limitações para se virar com o que se tem em mãos para encontrar soluções para os desafios do
empreendedorismo frente à restrição de recursos (Baker & Nelson, 2005).

Definimos aqui os empreendedores bricolores como sendo aqueles empreendedores que


rejeitam limitações (refusal to enact limitations) conscientemente e dão um jeito (making do) de se
virar com recursos à mão (resources at hand) para realizarem seus objetivos (Baker & Nelson,
2005; Di Domenico, Haugh & Tracey, 2010). Percebemos que tais elementos se manifestam nos
comportamentos dos empreendedores de estilo de vida para ajudar na superação das dificuldades
que aparecem em seus negócios a fim de manter seus estilos de vida desejados. Dadas essas
considerações, buscamos responder a seguinte questão de pesquisa: como os empreendedores de
estilo de vida usam a bricolagem empreendedora de modo a superar dificuldades para
empreender em alinhamento com um estilo de vida prazeroso desejado?
18

1.1 Problema de pesquisa

Segundo a literatura especializada, os empreendedores de estilo de vida manifestam


comportamentos similares entre eles visando desenvolver seus negócios de modo a aproveitar seu
estilo de vida desejado. Um dos comportamentos é insistir com opções de ação que assegurem esse
aproveitamento mesmo que isso implique em abrir mão de mais lucratividade ou do crescimento
de sua empresa, ou até mesmo de melhores condições financeiras pessoais – quando esses aspectos
são vistos pelos empreendedores como limitações ao seu EEV. Esse e outros modos de rejeição de
limitação, incluindo condições de alta restrição de recursos, são então comuns no EEV. São
importantes, mas ainda não estudados. Buscamos então compreender a insistência dos
empreendedores do EEV em sustentar um estilo de vida pelo uso da bricolagem, incluindo a
rejeição de limitação.

Por muito tempo, pesquisadores deixaram de aprofundar as principais características do EEV,


como a rejeição de limitações. É necessário considerar que empreendedores de estilo de vida
recusam empregos ou novas oportunidades de negócios a fim de seguir adiante no EEV. Superando
restrições que aparentam impedir a concretização ou a continuação desse tipo de atividade.

Existe uma necessidade de se estudar o EEV e o comportamento dos empreendedores no


EEV. Sabemos que manter um negócio não é fácil. Isso se complica mais quando os
empreendedores querem conciliar um negócio com um estilo de vida prazeroso, entre outras coisas,
porque iniciativas boas para o negócio podem perturbar o estilo de vida e vice-versa. Um tema
atrativo é que não se tem conhecimento de como estes empreendedores superam os desafios dessa
conciliação e da restrição de recursos no EEV.

Desta forma, é importante destacar a fragilidade conceitual a respeito dos conceitos de EEV
que se associam a teoria da bricolagem no empreendedorismo para este tipo de negócio. Podendo
trazer novas concepções que ajudaram a fortalecer conceitualmente, elementos centrais do
empreendedorismo de estilo de vida. Nas próximas sessões, mostramos nossos objetivos, com que
pretendemos contribuir para o avanço dos estudos da EEV.
19

1.2 Objetivo geral

Com base nas precisões e nas considerações que já apresentamos, nosso objetivo é: explicar
como os empreendedores de estilo de vida usam a bricolagem empreendedora de modo a
superar dificuldades para empreender em alinhamento com um estilo de vida prazeroso
desejado.

1.3 Objetivos específicos

Para que possamos atender ao nosso objetivo geral, queremos responder os seguintes
objetivos específicos:

I. Explorar a literatura de EEV para caracterizar esse tema.

II. Explicar como os empreendedores estudados “viram-se” com os recursos que têm em
mãos para resolver o necessário e continuar empreendendo.

III. Descrever como empreendedores de estilo de vida superam dificuldades em seus negócios
utilizando a bricolagem empreendedora.

1.4 Justificativa

Percebemos que pesquisadores empolgados com o tema do estilo de vida exploram mais a
ideia de que empreendedores buscam uma rápida melhoria em suas vidas ampliando seus negócios,
ao invés de mostrar os ganhos além do dinheiro como aquelas pessoas que valorizam o próprio
estilo de vida e utilizam de pequenos negócios como um meio para atingir a autorrealização.

Pesquisadores desatentos ao fenômeno do empreendedorismo, que utiliza o estilo de vida


como um meio de se trabalhar, acabam focando no crescimento dos negócios. Considerando
aspectos comportamentais discutidos em outros estudos de empreendedorismo em uma tentativa
de explicar o que ocorre no EEV. Assim, eles não percebem a real manifestação do EEV nas
atividades empreendedoras. Gastando esforços e tempo contrariando o que se vem sendo estudado
com êxodo na literatura de EEV.

Pesquisadores de diversas áreas como do turismo têm se dedicado a explicar o fenômeno


EEV mas ainda não entendem como rejeitam limitações. Nesse sentido, são raros estudos no Brasil
que tratam esses dois temas no empreendedorismo, mesmo sendo possível observar o EEV em
20

micro ou pequenas empresas na realidade brasileira. Contudo, no Brasil e no mundo vemos que é
praticamente inexistente estudos de EEV.

Ser um empreendedor de estilo de vida oferece contribuições importantes nos ambientes


acadêmico, empresarial, político, familiar e social. Destacamos assim seis benefícios que reforçam
a necessidade de se aprofundar conhecimentos no EEV:

I. O EEV é muito atrativo para pessoas que queiram abrir um negócio por conta própria em
busca de melhoria de vida pessoal e familiar.

II. O EEV é importante para o setor público, que busca aprimorar políticas públicas regionais
para pequenos negócios que geram desenvolvimento socioeconômico local e mais satisfação
pessoal no trabalho.

III. O EEV é um tema promissor para os pesquisadores que estudam problemas de saúde
causados por nervosismo, estresse, desprazer e pressão no trabalho.

IV. O tema importa para instituições de ensino que queiram aprimorar seus cursos tratando
também de formas de se trabalhar e empreender de modo prazeroso e útil.

V. O tema importa para pesquisadores que se dedicam a estudar aspectos comportamentais e


cognitivos dos empreendedores devido a suas particularidades e efeitos positivos sobre a satisfação
no trabalho.
21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A respeito do empreendedorismo, sabemos que é um campo de estudo fruto do avanço de


diversas ciências que evoluíram à medida que o homem aprendeu a interagir social e
economicamente (Gartner, 1990; Vale, 2014). O ser humano tem necessidades relacionadas a um
estilo de vida dirigido a realização pessoal (Lindo, Cardoso, Rodrigues & Wetzel, 2007). À medida
que o homem aprendeu a se adaptar às dificuldades de seu contexto, passou a valorizar seus desejos
que antes não eram considerados no trabalho (Moretti & Treichel, 2003; Mendonça, 2009),
inclusive na formação de novos negócios (Dawson, Fountain & Cohen, 2011).

Os campos das ciências sociais e das ciências econômicas evoluíram à medida que os agentes
econômicos, políticos e os donos de empresas foram sendo estudados em seus papéis na
macroeconomia e na microeconomia (Carvalho, 2012; Vale, 2014). O campo das ciências sociais
se dedicou a estudar os empreendedores nos aspectos psíquico e comportamental, além dos
aspectos econômico e social, enquanto o campo das ciências econômicas se dedicou a estudar o
impacto do desenvolvimento econômico olhando para os grandes empresários, agentes públicos,
figuras econômicas e outros agentes de mudança (Gartner, 1988; Minello & Scherer, 2012; Verga
& Silva, 2014).

Quando olhamos para as escolas do pensamento moderno que se dedicaram a estudar a


economia, percebemos seu foco nas mudanças políticas, econômicas, no meio empresarial e no
meio social (Conner, 1991), como vemos nos exemplos a seguir:

(I) A escola clássica (Adam Smith, 1776) discutiu o aspecto econômico a respeito do modelo de
equilíbrio entre mercados de forma matemática e lógica a partir da intervenção dos empresários e
da gestão pública;

(II) Na escola marxista, segundo Lombardi e Saviani (2005), o teórico e político Karl Marx deu
início às discussões filosóficas a respeito do aspecto social. A fim de buscar um planejamento da
distribuição mais justa dos recursos para população, o estado deveria intervir nos meios de
produção para que não deixasse a riqueza nas mãos de poucas pessoas. A escola é crítica quanto à
economia e às políticas vigentes desde aquela época (o capitalismo radical);

(III) A escola neoclássica (Menger, 1986) discutiu a capacidade de as empresas gerarem


transformação na economia de mercado negligenciado a capacidade de os indivíduos tomarem
decisões que geram resultados reais, considerando as condições microeconômicas.

(IV) A escola de Chicago (Friedman, 1962) discutiu o livre mercado no aspecto empresarial da
valorização da moeda e da estabilização da taxa de juros, sem que haja tanta intervenção política;
22

(V) A escola keynesiana (Keynes, 1936) discutiu o aspecto político no papel dos agentes públicos
na intervenção do estado no mercado para controle da taxa de juros em períodos de crise.

Embora essas escolas tenham discutido por muito tempo quem são os empreendedores e
quais são seus papéis na sociedade, foi a escola austríaca de economia que se dedicou a discutir o
comportamento empreendedor a partir do ponto de vista do liberalismo clássico da microeconomia
(Hayek, 1976). Em síntese, essa abordagem frisou a heterogeneidade do capital como papel
importante na cadeia produtiva a partir dos valores socioculturais.

Para os economistas da escola austríaca, a maximização do lucro ou a negação dele fere os


anseios dos comportamentos empreendedores enfatizados pelo modelo de equilíbrio entre
mercados (Peterson, 2005; Camara, 2012). Para Kirzner (1997), o modelo de equilíbrio econômico
denominado perfeito se mostra imperfeito nas relações institucionais nessa linha de pensamento,
pois seus autores sabem que uma economia desequilibrada deterioraria os valores sociais em busca
do bem-estar das nações. Na ótica dos austríacos, a liberdade econômica significa aproximar as
empresas e os clientes com a intermediação dos empreendedores, que disponibilizam produtos e
serviços e aprendem com a competitividade não radical a gerar equilíbrio nas economias (Steptoe,
Deaton & Stone, 2015).

Ainda que as escolas de economia tenham discutido importantes contribuições, percebemos


que existem muitas divergências de pensamento a respeito do papel dos empreendedores nas
dimensões microeconômica e macroeconômica do desenvolvimento das nações (Vale, 2014).
Reinterpretações teóricas da liberdade financeira ao longo da história ainda vêm sendo feitas e, por
isso, não vale a pena confrontar aqui as diversas correntes de pensamento a respeito dos
empreendedores na tentativa de organizar ou explicar a formação de modelos econômicos (Conner,
1991). Todavia, mostramos que existem diferentes formas de entender os empreendedores
estudando os indivíduos que decidem abrir um negócio (Ryff, 2019) e valorizar o bem-estar pessoal
e social (Diener & Seligman, 2004).

Dessa forma, a valorização do desejo individual no empreendedorismo é um fenômeno social


contemporâneo que reflete na formação de novos pequenos negócios a partir do comportamento
de pessoas que valorizam uma ideologia de vida, como se vê nos empreendedores de estilo de vida
(Ateljevic & Doorne, 2000). Portanto partimos para uma investigação a respeito do fenômeno EEV
em conexão com a possibilidade de superação de limitações oferecida pela bricolagem
empreendedora (Baker & Nelson, 2005). Nas próximas sessões, apresentamos uma pesquisa
empírica utilizando o método indutivo para responder a pergunta de pesquisa.
23

2.1 Empreendedorismo de estilo de vida

A partir dos estudos do EEV, é possível identificar atividades empreendedoras que, por
exemplo, se concentram em: oferecer a pessoas alimentos não derivados de animais (Abonizio,
2013), customizar pranchas de surf para adequá-las aos desejos de surfistas (Marchant & Mottiar,
2011), hospedagem que valoriza as experiências dos hóspedes e viajantes (Di Domenico, 2005;
Rimmington, Williams & Morrison, 2009; Blichfeldt, Nielsen, Just & Aae, 2011), aulas de surf e
treinos esportivos ao ar livre (Shaw & Williams, 2004), passeios a cavalo (Cederholm, 2015).

O estilo de vida é evidenciado em atividades que deixam os empreendedores felizes em


realizar uma atividade que lhes oferece satisfação e qualidade de vida (Siqueira & Padovam, 2008).
Sendo reconhecida por atividades recreativas, que, por exemplo, entretêm muitas pessoas ao
oferecer cuidados de saúde física e mental, como o ensino de habilidades artísticas, esportistas e/ou
espirituais entre outras atividades que despertam um sentimento positivo ao se experimentar
trabalhar com o que se gosta (Masi & Palieri, 2000; Barbieri & Sotomayor, 2013).

Um estudo recente identificou atletas que praticam seu esporte e trabalham prazerosamente
com atividades de surfe (Ratten, 2018). Shaw e Williams (2004) identificaram que trabalhar e se
divertir ao mesmo tempo é uma mudança comportamental do empreendedorismo que vem
chamando atenção de jovens pesquisadores (Bandura, 1977; Camara, 2012). Isso converge com as
ideias de Ateljevic and Doorne (2000) sobre o tipo de empreendedor que faz do seu passatempo
um negócio satisfatório.

Nessa lógica, viajantes denominados mochileiros frequentemente não são apenas turistas,
mas também empreendedores que ganham dinheiro guiando pessoas em viagens apaixonantes
(Ateljevic & Doorne, 2004; Larsen, Ogaard & Brun, 2011). Velasco and Saleilles (2007)
identificaram que os comércios populares nas cidades também são rodeados por turistas
interessados em novas aventuras locais, assim aproximando clientes e empreendedores a viver um
estilo comum entre eles. Aspectos como esses põem em destaque a tendência de se ganhar dinheiro
a fim de financiar um estilo de vida prazeroso associado a um negócio (Larsenm, Ogaard & Brun,
2011; Sun & Xu, 2017).

O empreendedor de estilo de vida atrai pessoas que se preocupam em se sentir bem


consumindo os bens e/ou serviços oferecidos pelo empreendedor (Carter, 2011; Ryff, 2019) e tende
a valorizar o trabalho em família (Li et al., 2013; Andersson et al., 2014; Cederholm & Sjoholm,
2014). A frequência crescente do EEV estimula mais estudos a respeito do bem-estar ligado aos
interesses e à manifestação dos desejos dos empreendedores (Nahas et al., 2000; Diener &
Seligman, 2004; Siqueira & Padovam, 2008).
24

No Quadro 1, relacionamos precisamente as três principais definições de EEV na literatura.

Definições de empreendedorismo de estilo de vida Autores


São empreendedores que ignoram conscientemente oportunidades de Ateljevic and Doorne
trabalho em busca da realização das próprias ideologias. Sendo que a (2000).
obtenção do lucro serve para manter seu estilo de vida em um negócio de
seus interesses.
São empreendedores que buscam realização na vida e procuram alinhar Velasco and Saleilles
trabalho e ambição por uma atividade, enquanto escolhe quanto tempo (2007).
trabalha por dia. São empreendedores que buscam se conectar com pessoas
interessadas com um objetivo em comum.
São os empreendedores que dedicam tempo e esforço em carreiras que se Barbieri and Sotomayor
identificam muito e buscam se beneficiar do lazer e do contato com a (2012).
natureza ao levar a sério esse tipo de trabalho.
Quadro 1. Definições frequentes dos empreendedores de estilo de vida
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Neste estudo, consideramos que os empreendedores de estilo de vida ignoram


conscientemente oportunidades que poderiam ser úteis ao desenvolvimento de seus negócios
quando acreditam que estas poderiam prejudicar o estilo de vida desejado. Por exemplo, a obtenção
de lucro é vista como importante para viabilizar o aproveitamento do estilo de vida desejado, mas
ela precisa ser moderada devido aos riscos de sobrecarregar o empreendedor de trabalho e/ou outras
obrigações que dificultam o estilo de vida ou o aproveitamento dele (Ateljevic & Doorne, 2000).
25

2.2 Bricolagem empreendedora

O estudo da bricolagem empreendedora tem como foco a capacidade de empreendedores


gerarem soluções para problemas com a (re) combinação de recursos que eles têm a sua disposição
(Nelson, Lluesma, Companys & Stinchfield, 2018). Bricolores dão um jeito para achar soluções
usando gambiarras ou ideias criativas para obterem resultados satisfatórios (Baker, Miner &
Eesley, 2003). Sabemos que diversos recursos podem ser usados quando falamos de pequenas e
medias empresas; e os recursos à disposição de um empreendedor podem ser variados, como
ferramentas, máquinas, aplicativos, matéria prima, tecnologias, dinheiro, tempo, voluntários
(pessoas), conhecimentos anteriores ou qualquer outro meio que ajude a enfrentar dificuldades.

Para se dar um jeito de atingir um objetivo desejado, podemos considerar o ato de: alugar
equipamentos, utilizar recursos que estavam sem uso, pegar emprestado alguns materiais, pedir ou
compartilhar um espaço emprestado, fazer trocas, usar materiais ou retalhos que seriam
descartados, adquirir gratuitamente, comprar objetos por preço vantajosos entre outras facilidades,
denominadas como bricolagem empreendedora (Levi Strauss, 1967; Baker & Nelson, 2005). De
forma mais específica, a escassez de recursos exige uma forma diferente de arranjar, substituir,
modificar, improvisar e recombinar recursos e explorar outras formas de agir em prol de uma
solução visada (Baker et al., 2003; Di Domenico et al., 2010).

Esses tipos de empresas nem sempre possuem recursos suficientes para manter seus
negócios (Shaw et al., 1987; Phillips & Tracey, 2007). Para North (1991), muitos empreendedores
não desistem de suas ambições ao buscar soluções apesar de muitas restrições, mesmo com poucos
recursos, corroborando as ideias de Krieger (2014) sobre os empreendedores de estilo de vida. Já
para Gundry, Kickul, Griffiths and Bacq (2011), empreendedores buscam, de maneira criativa,
resolver qualquer tipo de problema para não ser impedidos de trabalhar. Podemos observar que a
busca por soluções em negócios com baixa disponibilidade de recursos pode ser vista como uma
forma de se inovar de modo frugal e criativo para ajudar a superar dificuldades (Zeschky,
Widenmayer & Gassmann, 2011; Weyrauch & Herstatt, 2017; Santos, 2018).

Os autores North (1991) e Gundry et al., (2011) concordam que as regras locais não
determinam o futuro dos empreendedores por estarem ativamente comprometidos com a melhoria
de seus negócios, independentemente de como aparecem os problemas. As contribuições de Baker
and Nelson (2005) mostram especificamente que a bricolagem empreendedora pode ocorrer com
cinco principais características:
26

1°- O conjunto de recursos de baixo valor agregado que possa ter um uso futuro.

2°- O aprendizado gerado pelas tentativas e erros, fazem os empreendedores ser reconhecidos como
bricolores para lidar com diferentes situações.

3°- Empreendedores bricolores desafiam regras impostas pelo ambiente e as rejeitam, devido a
facilidade em lidar com as limitações impostas.

4°- Ser multifuncional é visto por pesquisadores como uma competência profissional que envolve
a capacidade de se relacionar com pessoas ligadas ao negócio.

5°- Encontrar formas de utilizar recursos acessíveis para serem reaproveitados futuramente.

A habilidade de virar-se com o que se tem em mãos na bricolagem intelectual descrita por
Claude Lévi Strauss é citada como um processo de armazenamento e reutilização de recursos –
como uma estratégia psicológica adotada por pessoas que dão um novo significado aos recursos
deixados de lado, com o intuito de lhes agregar valor para novas finalidades (Levi Strauss, 1967).
A partir da rejeição de limitações, consideramos diferentes maneiras de se resolverem os problemas
nos negócios a fim de continuar a gerar soluções que ajudem a enfrentar desafios no
empreendedorismo.

Evidências da bricolagem empreendedora definidas por pesquisadores que estudam a


bricolagem nos levam a compreender que empreendedores criativos se adaptam em seu ambiente
usando habilidades de solução de problemas que surgem no caminho (Di Domenico et al., 2010).
As limitações são rejeitadas (refusal to enact limitations) para se virar com o que se tem (making
do) recombinando-se recursos à mão (resources at hand) a fim de se atingir um objetivo
determinado para o negócio, como já havíamos citado (Baker & Nelson, 2005).

Ao compreender os principais conceitos da teoria da bricolagem empreendedora para a


gestão de pequenas empresas (Machado & Gimenez, 2000; Ateljevic, 2007), observamos
semelhanças comportamentais do bricolor com os empreendedores de estilo de vida (Santos, 2015;
Damke, Damke, Hijazi, Benitez & Moreira, 2016). A seguir, exploramos a ideia de rejeição de
limitações para avançarmos na metodológica de coleta, análise de dados, apresentação e discussão
de resultados e fechamento de nossa pesquisa.
27

2.3 Rejeição de limitações no empreendedorismo

As limitações da ação do empreendedor aqui consideradas são aquelas impostas por


restrições de seu ambiente, sejam elas físicas, sociais, políticas, trabalhistas, econômicas entre
outras (Stinchfield, Nelson & Wood, 2013; Damke et al., 2016). Baker and Nelson (2005)
escreveram sobre características de empreendedores bricolores que rejeitam limitações (refuse to
enact limitations) que afetam as atividades empreendedoras, expressando a capacidade
empreendedora em criar soluções para os diversos problemas enfrentados, sejam eles pessoais ou
empresariais.

Normas institucionais, leis e regras formais funcionam como barreiras que dificultam ou
impeditivas de certos comportamentos (é justamente para isso que servem) para que pessoas
desejosas em descumpri-las sejam punidas de modo socialmente aceito (Levi Strauss, 1962).
Ocorre que frequentemente essas limitações também se opõem a alguns tipos de comportamento
que facilitariam as atividades empreendedoras. No EEV, acaba também sendo tentador para os
empreendedores rejeitar tais limitações que dificultam seus negócios e do aproveitamento do estilo
de vida desejado (Claire, 2012). Isso se aplica ainda mais quando falamos dos empreendedores de
estilo de vida que fazem do estilo de vida um objetivo de altíssima prioridade no negócio
(Cederholm & Sjholm, 2014).

Baker and Nelson (2005) constataram que, no comportamento de bricolagem


empreendedora, os empreendedores frequentemente contrariam regras e normas impostas pelo
ambiente com base na rejeição de limitações, além de superarem situações de restrição de recursos
recombinando recursos seus escassos, muitas vezes com sua utilidade redefinida, ao agregar valor
aos seus negócios, bens e serviços. Por saberem da importância da defesa de causa pessoal, algumas
pequenas empresas geridas por empreendedores enxergam a escassez de recursos como uma forma
de enfrentar dificuldades encontradas em seus negócios (Baker et al., 2003; Di Domenico et al.,
2010). A fim de manter o desenvolvimento de seus negócios, os empreendedores também recorrem
à ajuda dos amigos, familiares, conhecidos e potenciais parceiros de negócio para enfrentar as
dificuldades (Ducci & Teixeira, 2011; Corrêa & Vale, 2014; Cederholm, 2015).

Sabemos também que perdas são aceitáveis pelos empreendedores que descumprem
restrições, sendo elas: políticas, econômicas, sociais e ambientais, a fim de testar os limites do
trabalho (Stinchfield et al., 2013). Como vimos anteriormente, empreendedores bricolores veem
regras como limitações questionáveis, possíveis de serem testadas, e por essa razão, decidem testar
novas soluções em cima dos recorrentes problemas, de forma criativa e não convencional (Baker
28

& Nelson, 2005). Por essa ótica, restrições impostas forçam empreendedores a rejeitarem limites
que cercam seus negócios.

Nesse sentido, a rejeição de limitações no empreendedorismo é um elemento importante que


pode ser visto na trajetória empreendedora dos empreendedores que priorizam um dado estilo de
vida em seus negócios. No Quadro 2, apresentamos as três principais definições de rejeição de
limitação vindas da literatura.

Definições de rejeição de limitações Autores


Recusar-se de ser impedido de trabalhar devido à normas sociais, políticas e
empresariais o que depende de uma visão empreendedora para recombinar Levi Strauss (1967)
recursos que ajudem a rejeitar as dificuldades enfrentadas.
Ações empreendedoras tomadas para testar regras que impeçam a
manutenção de um negócio em ambiente de restrições institucionais que Baker and Nelson (2005)
intimidem um comportamento criativo.
Comportamento de recusar, criar, improvisar, adaptar e neutralizar restrições Di Domenico, Haugh,
enfrentadas, seja pelo fraco apoio regulatório ou por restrições institucionais and Tracey (2010)
impostas em defesa de uma causa social.
Quadro 2. Definições frequentes de rejeição de limitações
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Justificamos que, das três principais definições desse estudo, a rejeição de limitações
segundo Baker and Nelson (2005) é a definição que mais explora as atitudes empreendedoras
(Damke et al., 2016). Nesse sentido, mostramos que a literatura de bricolagem descreve traços
comportamentais dos mesmos empreendedores de estilo de vida (Di Domenico et al., 2010). Por
isso, a rejeição de limitações é definida no presente estudo como: recusa de ser impedidos de
realizar um objetivo com utilização de seus conhecimentos para recombinar recursos à mão a fim
de dar um jeito de continuar a atividades empreendedoras como se quer (Nahas et al., 2000;
Velasco & Saleilles, 2007; Andersson et al., 2014).
29

3 MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA

Na sequência da sessão teórica, mostramos a metodologia adotada nesse estudo. Usamos o


método exploratório de forma indutiva a fim revelar novos conhecimentos (Packard, 2017).
Utilizando de base, o paradigma epistemológico na concepção filosófica de estudo interpretativista
(Smith & Osborn, 2004).

3.1 Delineamento da pesquisa

Organizamos cinco fases para a realização deste estudo para explicar nossa metodologia:

Figura 1. Processo da construção da metodologia qualitativa


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
30

As fases apresentadas mostram as etapas realizadas para a construção desta dissertação.


Mostrando todo o processo de construção do tema. Desde o referencial teórico, a metodologia, a
coleta de dados, a apresentação das análises, detalhamento dos resultados, discussão dos resultados
até as considerações finais.

3.2 Procedimentos de coleta de dados

No Quadro 3, identificamos o papel dos entrevistados, a quantidade de entrevistas


necessárias e sobre quais condições teóricas vamos responder a nossa pergunta de pesquisa.
Características dos Empreendedores de estilo de vida, um sócio, uma cliente e um
entrevistados funcionário conforme justificamos e descrevemos nas entrevistas.
Quatro empreendedores de estilo de vida e três pessoas
Número de entrevistados
relacionadas aos negócios estudados (totalizando sete entrevistas).
como os empreendedores de estilo de vida usam a bricolagem
empreendedora de modo a superar dificuldades para
Pergunta de pesquisa
empreender em alinhamento com um estilo de vida prazeroso
desejado?
Empreendedorismo de estilo de vida
(Ateljevic & Doorne, 2000; Shane et al., 2003; Velasco &
Fundamentação teórica para Saleilles, 2007; Siqueira & Padovam, 2008; Allardyce, 2015;
a preparação das perguntas Barbieri & Sotomayor, 2012; Nerothin, 2017).
semiestruturadas deste
estudo Rejeição de limitações empreendedora, a partir da teoria da
bricolagem empreendedora
(Levi Strauss, 1967; Baker & Nelson, 2005; Phillips & Tracey,
2007; Di Domenico et al., 2010; Stinchfield et al., 2013).
Quadro 3. Procedimentos de coleta dos dados
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Explicamos que as entrevistas vindas dos empreendedores de estilo de vida e das pessoas
ligadas a estes empreendedores foram realizadas a fim de investigarmos o contexto da rejeição de
limitações na bricolagem como estudo de caso único (Seawright & Gerring, 2008). Este estudo
teórico-empírico visa explorar o contexto da rejeição de limitações visto no fenômeno de EEV,
como uma situação real particular vivenciada por essas pessoas através da coleta detalhada dos
dados. Para isso, explicamos como a rejeição de limitações ajuda empreendedores a dar sustentação
ao estilo de vida em seus negócios.

No Apêndice 1, estão listadas as 32 questões de nosso roteiro de entrevista semiestruturado


usado nas entrevistas presenciais que realizamos. As questões exploram os conceitos da
fundamentação teórica (ver Quadro 3). São dez perguntas sobre o fenômeno de empreendedorismo
de estilo de vida, dez perguntas sobre a rejeição de limitações, além de cinco perguntas a respeito
do perfil dos empreendedores e cinco perguntas sobre seus negócios.
31

3.3 Protocolo de pesquisa

Após enquadrarmos os constructos de EEV e da bricolagem, obtidos a partir da revisão da


literatura, trazemos novas ideias para suprir a lacuna na literatura conforme sintetizamos a
operacionalização desta pesquisa no Quadro 4.
Etapas da pesquisa Operacionalização

Identificamos na literatura uma lacuna teórica a respeito da


1. Questão de pesquisa rejeição de limitações olhando para a recusa de oportunidades
conscientemente para que esses empreendedores possam
praticar o estilo de vida desejado. Sabendo que conceitos
utilizados na teoria da bricolagem empreendedora ajudam a
explicar a rejeição de limitações.
Para coletar os dados, enquadramos as perguntas
2. Instrumento de pesquisa semiestruturadas criadas para este estudo (Creswell, 2010).

3. Unidade de análise Empreendedores e pessoas relacionadas aos negócios.

Amostragem populacional Quatro empreendedores de estilo de vida e três pessoas


relacionadas aos negócios estudados (ver em análise e discussão
dos resultados), totalizando sete pessoas entrevistadas na cidade
de São Paulo – SP (Brasil).
Dez perguntas de EEV, dez perguntas a respeito do contexto da
4. Coleta e análise dos dados rejeição de delimitações na cidade de São Paulo, cinco perguntas
de perfil dos empreendedores, cinco perguntas de perfil do
negócio e duas perguntas discriminatórias para esta pesquisa.
Observamos e participamos das entrevistas a fim de coletar as
narrativas de vida com mais detalhes (Boni & Quaresma, 2005;
Silva & Fossá, 2015).

Após transcrever os áudios das entrevistas foi possível descrever


5. Explicação das categorias o comportamento dos empreendedores (Seawright & Gerring,
utilizadas 2008). E assim comparar e discutir as informações obtidas das
narrativas de vida (Muylaert et al., 2014).
Quadro 4. Protocolo de pesquisa
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Validamos o roteiro semiestruturado de entrevista em duas sequências de revisões, da estrutura


das perguntas e de sua redação, com a participação de especialistas da área de empreendedorismo.
Realizamos também pré-testes com empreendedores até chegarmos à versão final das perguntas
para fazermos a pesquisa de campo (Creswell, 2010).

Para se evitar equívocos na seleção dos empreendedores de estilo de vida, acrescentamos


na pré-seleção dos entrevistados duas perguntas adicionais, a fim de confirmamos se realmente os
quatro entrevistados eram empreendedores de estilo de vida (ver Apêndice 1).
32

3.4 Matriz de síntese metodológica

Na matriz metodológica apresentamos o procedimento metodológico utilizado para facilitar


a leitura, conforme apresentamos no Quadro 5.

Síntese metodológica Procedimentos utilizados


Natureza da pesquisa Qualitativa (Godoy, 1995; Creswell, 2010).
Técnica de pesquisa Exploratória (Marcketti et al., 2006).
Paradigma Epistemológico Interpretativista (Gil, 2008; Saccol, 2009; Packard, 2017).
Análise de conteúdo (Caregnato & Mutti, 2006).
Entrevistas (Creswell, 2010).
Métodos científicos utilizado
Estudo de caso único sobre o fenômeno da rejeição de
limitações (Seawright & Gerring, 2008)
Unidade de análise Indivíduo (Boni & Quaresma, 2005).
Coletar os dados primários por meio de questões
Procedimentos de coleta de dado semiestruturadas como o uso de um roteiro de entrevista (Martins
& Theóphilo, 2009).
Registramos as falas dos entrevistados sobre a trajetória
empreendedora (Muylaert et al, 2014; Silva & Fossá, 2015).
Utilizando um gravador de áudio e trocas de mensagens
Instrumentos de coleta de dados
previamente autorizadas, além de um diário de campo para
coletarmos o máximo de informações possíveis, exclusivas para
este estudo (Creswell, 2010).
Transcrevemos as falas dos entrevistados e assim discutimos os
Análise dos dados resultados. Devido ao baixo número de entrevistados obtidos não
utilizamos um software de suporte para a análise dos dados.
Quadro 5. Síntese e procedimento metodológico utilizados neste estudo
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A revisão da literatura da fundamentação teórica desta dissertação possibilitou também a


identificação de uma metodologia coerente com os objetivos geral e específicos deste estudo. Em
seguida, transcrevemos as entrevistas registradas a fim de analisar a realidade dos empreendedores.
Isso nos ajudou a responder de forma clara a pergunta de pesquisa.
33

4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A partir do consentimento dos entrevistados para participar desta dissertação, coletamos e


analisamos os conteúdos obtidos como dados primários (Caregnato & Mutti, 2006). De forma clara
e objetiva, descrevemos as trajetórias dos quatro empreendedores e de seus negócios a fim de
responder a pergunta de pesquisa e realizar os objetivos propostos.

Uma segunda coleta de dados foi realizada com três pessoas próximas a esses
empreendedores, sendo elas: dois funcionários, uma cliente e um sócio (ver em síntese e discussão
dos resultados) para que assim fosse possível validar os dados coletados com os empreendedores
estudados. Algumas das perguntas semiestruturadas utilizadas no formulário que disponibilizamos
no Apêndice 1 nos auxiliaram nesta segunda etapa. Destacamos que as informações registradas em
gravações de áudio, anotações de campo e trocas de mensagens foram utilizadas para que
pudéssemos fazer a triangular os dados (Creswell, 2010).

Para facilitar a coleta de dados, utilizamos um aplicativo de rede social para localizar,
comunicar e coletar informações adicionais dos entrevistados para esse estudo. Destacamos que
convites foram realizados aos empreendedores para participarem de uma entrevista presencial para
nos dizer a respeito das trajetórias de vida a concretização de seus negócios. Gentilmente, pedimos
aos empreendedores que indicassem pessoas relacionadas em seus negócios para que ampliássemos
a amostra com mais variedade de entrevistados (Vinuto, 2014).

Notamos que por meio de uma cronologia narrativa podemos explicar como a rejeição de
limitações ajuda empreendedores a dar sustentação a seu estilo de vida com os negócios.
Exploramos, assim, visões de mundo diferentes a respeito dos significados subjetivos fornecidos
pelos entrevistados (Muylaert et al., 2014; Silva & Fossá, 2015). Informamos que, por uma questão
de ética na pesquisa quanto a evitarmos qualquer tipo de efeito negativo para os informantes, tanto
os nomes dos negócios quanto dos entrevistados foram omitidos com sua substituição por nomes
fictícios.

Nessa dissertação consideramos apenas um estudo de caso único, ao considerar que quatro
elementos principais deste estudo passam por um processo de rejeição de limitações. E por isso,
exploramos brevemente suas trajetórias de vida que os levaram a realização de suas ambições ao
empreendedorismo de estilo de vida, ainda que eles não se apelidam assim.
34

Elemento 1: Antônio, seus dois sócios e a empresa Arte em Skates

Antônio é um empreendedor skatista, que, aos 37 anos, se diverte andando de skate


enquanto trabalha em uma das principais avenidas comerciais de São Paulo, a Avenida Paulista,
quando está fechada para lazer nos fins de semana. Mesmo se dedicando à carreira de publicitário
durante a semana, percebeu que não teria crescimento profissional nessa atividade e, portanto,
sentiu que precisava ter um trabalho que priorizasse seu estilo de vida desejado, de skatista. Com
seu cunhado e sócio, Rinaldo, fundou a Arte em Skates, um negócio que em 2015 começou a
fabricar, alugar e vender shapes e skates artesanais. Tudo começou quando Antônio percebeu que
conseguia atrair a atenção de muitas pessoas praticando manobras radicais de skate em frente ao
museu do Ipiranga em São Paulo e poderia ganhar dinheiro fazendo o que gosta.

Estilo de vida: Seu irmão o incentivou a voltar a andar de skate como nos velhos tempos
quando treinava em seus momentos de lazer com a família e com amigos. Antônio destaca que
antes não tinha tempo para andar de skate, muito menos condições para trabalhar com isso. Há
cinco anos, cansado de trabalhar só no escritório e disposto a praticar atividade física, iniciou um
novo negócio com um cunhado para que pudesse ajudar a financiar seu estilo skatista de ser. Hoje
Antônio está comprometido com o seu negócio e com seu emprego de publicitário em uma
emissora de televisão, utilizando-se desse emprego para lhe dar a maior parte do financiamento de
seu hobby. Antônio trabalha em busca de melhores condições de vida para si, para sua família e
para seus sócios, que o apoiaram desde o início. Três produtos mostraram ser essenciais para o
negócio: shapes artísticos de fabricação própria, skates e longboard prontos e skates do tipo
simulador de surf.

Rejeitando limitações: A empresa Arte em Skates, começou a expor seus produtos na


calçada de parques, estacionamentos públicos e museus. Em um primeiro momento, não tinha
alvará de funcionamento e, portanto, não poderia usar o espaço público que utiliza hoje, onde expõe
seus skates (calçadas e ruas). No começo, os sócios não se inibiram de testar seus produtos nesses
espaços por se tratar de uma atividade esportiva, até porque não teriam condições de arcar com as
despesas de um negócio formal. Num primeiro momento, as vendas não foram suficientes para
pagar as despesas com aluguel, energia, materiais de confecção, máquinas de corte, ferramentas de
laminação e desenho, entre outros. Além de não possuir uma permissão oficial, tiveram dificuldade
para conseguir apoio para revender seus produtos em lojas de skate e faltavam patrocinadores para
financiar o negócio. Sabendo que existiam pessoas interessadas em comprar os skates artesanais
precisavam, continuar vendendo nas ruas. Por conveniência, começaram a frequentar a avenida
Paulista e perceberam que ali teriam mais chance de vender seus produtos e de alugar tanto os
simuladores de surf quanto o longboard devido ao alto fluxo de pessoas. Entretanto, observaram
que outras dificuldades continuavam impedindo a concretização de seu sonho. As restrições que
35

enfrentaram acabariam por se mostrar como uma oportunidade para que eles se enquadrarem
juridicamente como fábrica de artesanato de skates. Na categoria de artesanato, corriam menos
risco de terem problemas com fiscalização. A falta de conhecimento foi uma dificuldade no começo
mas buscaram a ajuda do SEBRAE / SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas de São Paulo) para formalizar o negócio e planejar o crescimento com um plano de ação
estruturado, depois de assistir várias palestras e fazer alguns cursos de empreendedorismo para
conseguir combinar paixão e negócio.

Virar-se com o que se tem à mão: Rinaldo, recém-formado no curso de shapeamento de


pranchas de surf, foi desafiado na época por Antônio a criar um shape maior e mais resistente para
andar mais confiante e solto de skate no asfalto. Rinaldo recombinou e reutilizou suas ferramentas
disponíveis como recursos para a tarefa. A montagem do shape foi feito com resina composta, fibra
de vidro e retalhos de madeiras maciças. Já a customização envolveu técnicas de pintura e
envelopamento, além de técnicas específicas de shapeamento e laminação de prancha de surf, com
o intuito de produzir artesanalmente o primeiro protótipo de shape adaptado ao skate. Ambos os
sócios perceberam que poderiam fabricar alguns tipos de skate de diversos tamanhos, como os
simuladores de surf e longboards para as necessidades diferenciadas de clientes. Como uma forma
interessante de começar um negócio juntos, Rinaldo trabalhou desde 2013 em uma empresa de
contabilidade intercalando com a administração da Arte em Skates. Neste mesmo período,
começou a shapear designer de skates com técnicas aprendidas em um curso de pranchas de surf.
Atualmente, realiza seu sonho em sociedade com Antônio, fabricando skates com técnicas de surf.
Tiveram aparentes dificuldades para arcar com despesas e custos iniciais nos primeiros meses, por
isso utilizaram as próprias garagens como fábrica e armazém até terem condições para ter uma
fábrica. Antônio dava um jeito de participar de eventos de skate no litoral e no interior de São Paulo
como uma forma de difundir a sua marca e conhecer novos parceiros de negócio. Aproveitando
também para passear com sua família e com amigos, achou a liberdade que queria para empreender
vivendo melhor seu estilo de vida desejado.

Bricolagem empreendedora: Após adaptar alguns modelos de skate, perceberam que


poderiam fabricar shapes personalizados em grande quantidade para atender uma demanda
identificada. Mesmo com escassez de recursos, a Arte em Skates deu um jeito de fabricar seus
próprios produtos artesanalmente. Foi durante as dificuldades que Antônio conseguiu se posicionar
no mercado enquanto começava a empreender. A venda pela internet foi a solução encontrada para
suprir, com custo mínimo, as baixas vendas dos três tipos de produtos. A boa divulgação de Antônio
foi vista por Rinaldo, que também foi informante para a presente pesquisa, como uma vantagem
para levar o negócio adiante superando os desafios. Justamente por aplicar seus conhecimentos de
publicitário, Antônio possibilitou uma divulgação eficaz dos produtos nas redes sociais. Ele diz
36

que assim mantém a profissão de publicitário em paralelo até que tenha condições de viver apenas
de seu negócio de skates. Ainda que tenha uma boa demanda de trabalho durante a semana, teve a
participação do filho de Rinaldo no negócio para ajudar com os pedidos, tanto da internet quanto
da rua – projetando vender para outros estados do Brasil e para fora do país nos próximos anos.
Neste sentido, tem o intuito de ampliar os negócios, contratar pessoas e continuar trabalhando e
continuar se divertindo aos domingos e feriados na Avenida Paulista, continuando a manter
próximos a família e os amigos, algo tão importante para Antônio.

Elemento 2: Rogério e seu negócio na Roger Artes e Cenografias

Rogério tem 33 anos, se identificou com uma demanda de serviços artísticos vindo de
festivais de música para os quais começou a fazer pinturas artísticas. Há mais de sete anos, trabalha
como cenografista, usando um dom que se desenvolveu devido a seu senso artístico para desenhar e
pintar fora dos modos tradicionais, usando vários efeitos e cores diferentes para pintar objetos em
grandes estruturas para eventos. Além de ser cenografista, ensina suas técnicas a grupos de jovens, quando
oportuno, em parcerias com escolas ou empresas, trabalhando a reutilização de materiais descartados
para a criação artística em artesanato feito à mão. Ele explora sua crença de que é possível expressar
belas-artes como a manifestação de sentimentos reprimidos, como o drama da vida na escola, na família
e no emprego. E desperta o lado criativo dos jovens, estimulando ganhos ambientais, sociais e
financeiros quando trabalha em cooperação. Desistiu de trabalhar em empresas porque se sentia preso
por regras que tiravam seu espírito criativo. Hoje está cercado de pessoas que admiram seu trabalho
artístico e pagam por isso.

Estilo de vida: Suas manifestações artísticas ocorrem por meio de desenhos psicodélicos,
ligados a mundo imaginário, animais, mandalas, sentimentos (como aprisionamento, solidão e drama
da vida), liberdade humana, além de serem uma expressão espiritual e da própria natureza, segundo
ele. Ele manifesta em seus desenhos o respeito pela vida como um todo. Faz do seu passatempo
uma atividade de negócio. Grande parte de seus aprendizados vieram da avó. Contudo, busca
aprimorar constantemente as técnicas artísticas. Rogério não pensava em viver da arte e nem que
sua expressão artística virasse um trabalho profissional. A busca pela felicidade o levou a uma vida
totalmente diferente da que vinha levando há dez anos. Sua ideologia de vida se mostrou persistente e até
hoje ele colhe frutos disso, uma realização pessoal que só foi possível graças a dedicação e
autonomia.
37

Rejeitando limitações: Rogério ignora limites criados pela família e regras do governo
quanto à permissão para trabalhar. Sabia que não poderia prestar serviços sem ter um o registro de
CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e isso claramente poderia lhe impedir definitivamente
de seguir com a vida desejava. Diz que as pessoas na sociedade reprimem as outras por causa das
próprias limitações e, consequentemente, desmotivam aqueles que querem correr atrás dos próprios
sonhos. Em seu antigo emprego, tinha que cumprir exigências comportamentais e relacionais,
contrariando sua própria identidade. As exigências empresariais e o convívio com pessoas sem
autenticidade não faziam mais sentido para ele e, por isso, procurou se encaixar em outro tipo de
trabalho. No início, sua família não entendia o sentido do seu trabalho. Ele teve que insistir para que ela
pudesse apoiar e compartilhar sua ideia de viver um sonho. Considera invasivas demais as regras impostas
pela sociedade e pelo governo para aceitar trabalhar como antes, até porque isso o deixaria ansioso, um
problema emocional que não tinha antes e passou a ter constantemente devido às exigências de
como deveria pensar, falar e agir. Toda a pressão o deixava muito estressado por tirar uma parte
da sua liberdade e da expressão de seu estilo de vida. A busca pela autonomia no trabalho despertou
seu espírito artístico e empreendedor, parte do seu processo criativo em busca da felicidade. Isso o levou
a tomar a decisão de trabalhar por conta própria. Lembra que a cenografia e as artes plásticas não são
valorizadas por grande parte da sociedade brasileira e pessoas que entendem o papel na arte na
sociedade são dignas de admirar a arte como um todo. Segundo ele, a falta de intelecto cultural
prejudica o senso artístico individual e reprime as novas gerações. Afirma que as dificuldades do
passado vieram como aprendizados para fazer coisas de um jeito diferente ou melhor. Por fim,
reconhece que pessoas ligadas à arte o ajudaram a sair das dificuldades do começo de sua trajetória.
Hoje troca e indica serviços como uma forma de retribuir algo que fizeram por ele, fazendo muita diferença
em sua vida.

Virar-se com o que se tem à mão: Ainda que tenha sentido insegurança no ramo artístico
pela falta de reconhecimento inicialmente, enfrentou com força e paixão a área artística. Por amar
tanto a arte, ele se expressa utilizando diversas recursos, como materiais descartados, quadros, tecidos,
tinta acrílica, galhos, restos de ossos, palhetes, vasos, cordões e madeira. Trabalha com pintura em
paredes e objetos, fotografia, artes visuais, música, grafite, além de tatuagem e outras expressões
artísticas como atividade complementar para ganhar dinheiro. Hoje trabalha sozinho com vários tipos
de artes plásticas. Quase sempre faz adaptações estruturais para conseguir montar seus desenhos
diferenciados e expô-los em algum lugar. Já trabalhou até no frio e embaixo de chuva para finalizar seus
desenhos. Mas reconhece que, nessas condições, tem a oportunidade de ter contato com a natureza,
comer frutos das árvores, nadar no mar ou em rios, conversar com seus amigos e brincar com animais.
Já precisou recorrer aos conhecidos, parceiros de negócios e amigos para obter ajuda financeira e pagar
despesas, transporte, hospedagens, alimentação e materiais de pintura escassos em seus momentos de
dificuldade. Agradece por isso. Teve apenas um problema com fiscalização no trabalho, quando exigiram
38

um curso de trabalho em altura. Na Roger Artes e Cenografias, pediu para um conhecido acompanhar
seu trabalho, uma vez que o mesmo tinha certificação de segurança para trabalhar em altura, o que
permitiu montar os suportes necessários para finalizar serviços. Rogério se lembra de um serviço em
que teve que criar um boneco gigante com pedaços de madeira e materiais encontrados na areia da
praia para lembrar as pessoas de não jogar seus resíduos na natureza e mostrar que a mesma
oferece muitos recursos importantes para a nossa sobrevivência e que os humanos deveriam agradecer
e retribuir por isso. Com a obra, ele também queria mostrar ao público que é possível criar algo a
partir do nada reutilizando matérias de forma criativa. Hoje trabalha em um estúdio de tatuagem, um
espaço compartilhado com um amigo como se fosse uma oficina de arte para que consiga desenvolver
seus outros trabalhos, como quadros.

Bricolagem empreendedora: A divulgação frequente de seus trabalhos nas redes sociais


ajudou a aproximar do trabalho dele os organizadores de eventos. Reconhece que precisa aprender
sobre administração de empresa para lidar com as finanças e o marketing do seu negócio, ainda que
isso não o impeça de continuar o negócio informalmente. Conhecimentos anteriores, como atender bem
os clientes, negociar, administrar recursos, entre outros, ajudaram a se preparar para manter o seu
negócio. Ao mudar de vida, teria que enfrentar a resistência das pessoas e as incertezas econômicas. Por
isso, decidiu continuar a buscar a própria felicidade, algo que vai além do plano material e passa
para o plano espiritual. Não tinha orientação empreendedora e por isso teve dificuldades para atrair
novos clientes e a estruturar o negócio, mesmo tendo algumas habilidades empreendedoras. Diz
que, se utilizasse mais a tecnologia, poderia melhorar sua forma de trabalhar, ainda que as
dificuldades se estendam na própria área artística. Como exemplo, citou artistas que se corrompem por
falta de ética e senso crítico ao copiarem os trabalhos de outros artistas. Segundo ele, algumas pessoas
são medíocres por se interessarem apenas pelo retorno financeiro, fugindo da ideologia artística. Até
por isso, ele tem dificuldade de precificar seus desenhos. Ter sucesso para ele é fazer as coisas que gosta
com amor e persistir. Busca impactar vidas com a arte. Por isso, utiliza a arte como instrumento para
que as energias do universo retribuam. Pretende se tornar um artista conhecido por suas expressões
artísticas e que domina diversas técnicas de desenho e pintura, pois pensa que suas crenças espirituais
o levam a servir as pessoas.
39

Elemento 3: Adelino e seu negócio de surf nas ruas

Há mais de três anos, Adelino dá aula de surfskate, uma adaptação do skate que utiliza o
conceito do surf (conhecida também como simulador de surf). Adelino tem 33 anos e foi pioneiro
como professor na modalidade no Brasil. Hoje ensina pessoas de diferentes idades, interessadas em
conhecer o surfskate, transformando o asfalto em ondas. Ele se sente realizado e feliz por usar seu dom
no esporte para ganhar dinheiro, fazendo do seu passatempo uma forma de ensinar as pessoas.
Quando oportuno, dá cursos e palestras para um grupo maior de pessoas, aumentando a visibilidade do
negócio.

Estilo de vida: O interesse pelo surf veio da adolescência, quando surfava na praia de
Peruíbe, no litoral de São Paulo. Passou dos 15 aos 17 anos surfando, mesmo período no qual sua
família decidiu se mudar para a cidade de São Paulo em busca de melhores condições de vida. Nesse
momento, Adelino se distanciou do litoral para se adaptar à capital por reconhecer que não tinha
conhecimento suficiente para viver de surf naquela época. Trabalhou em uma empresa de eventos para
tentar crescer na vida e ajudar sua família, mas não conseguia. Ele não se sentia realizado trabalhando
em escritório e desejava encontrar algo melhor na vida. Em 2015, descobriu o simulador de surf ao
encontrar uma forma de amenizar a insatisfação que vivia, fazendo manobras radicais. Identificou a nova
onda do momento e descobriu uma oportunidade para ensinar pessoas a andarem de simulador de surf
em São Paulo. Mudou seu estilo de vida. Juntou amigos, conhecidos e mais pessoas interessadas para
praticar com o simulador. Foi no contato pessoa a pessoa e nas redes sociais que ele conseguiu atrair
alunos.

Rejeitando limitações: Ele reconhece que o próprio surf é um esporte caro devido aos altos
custos com viagens – por exemplo, devem-se pagar pedágios, combustível, despesas com moradia,
além de alimentação, transporte e manutenção com prancha de surf. O simulador de surf proporcionou
a ele um sentimento de superação diante das dificuldades da rotina estressante. Adelino deixou o
trabalho, depois de sete anos na mesma empresa, para resgatar sua paixão por esporte. O simulador
de surf veio para suprir seu desejo de voltar ao litoral. Desta forma, pessoas que o viam praticar
manobras radicais em seu tempo livre passaram a se interessar, o que chamou sua atenção para uma
oportunidade não percebida: ensinar pessoas a andar de skate na modalidade surfskate. Adelino
demonstra dedicação, paciência e um olhar técnico para corrigir os erros dos seus alunos. Por conta
isso, inicialmente recusou oportunidades conscientemente para dar aula de simulador de surf a seus
clientes, com o intuito de se tornar um especialista no esporte. As influências positivas do irmão, da
esposa e de amigos ajudaram a vencer limitações que antes pareciam ser intransponíveis. Sem uma
licença do parque ou da prefeitura, Adelino não poderia trabalhar ali. Ainda assim, isso não foi um
problema, pois ofereceu aula sem chamar atenção, uma forma de testar os limites das regras que o
impediriam. Deu esse jeito, sem precisar de um curso de empreendedorismo para trabalhar assim. Queria
40

viver de seu sonho, e assim prosseguiu. Adelino comentou que toda essa mudança lhe ensinou mais
sobre a vida do que uma faculdade poderia lhe ensinar.

Virar-se com o que se tem à mão: Sem materiais para criar produtos de sua empresa, decidiu
usar seu dom e sua rede de contatos para conseguir prestar seus serviços, estimulando as pessoas
que se identificavam com o esporte a praticar atividade física. Viu que não era tão difícil ter um
negócio apenas com seu conhecimento, ainda que tenha ficado dividido entre realizar seu novo sonho
ou voltar ao mercado de trabalho. Uma solução no começo do seu negócio foi oferecer aulas
experimentais para que as pessoas pudessem se interessar ao ponto de comprar seus simuladores e
combinar de treinar com ele. Uma das primeiras pessoas que fizeram aula com ele foi Paula. Ela nos deu
um depoimento sobre o apoio que ele lhe deu ao ensinar manobras e técnicas de autocontrole para
praticar o esporte. O cuidado de Adelino ao ensiná-la fez com que ela se sentisse à vontade para indicar
o professor a seus amigos. E estes foram conquistados pelas primeiras aulas experimentais de simulador
de surf. Aos poucos, Adelino ganhou a confiança das pessoas e viu que estava no caminho certo. Por
isso, decidiu investir tempo e dinheiro em conhecimento, montar treinos de diferentes níveis, desenvolver
a própria metodologia de ensino, além de comprar alguns simuladores como ferramenta de trabalho.
Conta com a ajuda de fornecedores para criar um sistema empreendedor ligado ao esporte.

Bricolagem empreendedora: Adelino não gostava de ser funcionário e, desde seus 11


anos, já pensava em ter o próprio negócio. Esse pensamento foi um divisor de águas para a escolha
da realização deste novo sonho. Ser professor de surf refletiu em como ele manteria seu trabalho
autônomo. Ainda que não esteja formalizado como um microempreendedor individual (MEI), sabe
que não precisa ter muitos clientes a ponto de abrir uma escola de surfskate.
41

Elemento 4: Claudia e seu restaurante vegetariano

A cozinheira Claudia é dona do próprio restaurante chamado Espaço e Restaurante


Vegetariano, além de administrar uma fábrica de queijo (chamado vegarela) e outra fábrica de doces e
salgados, tudo 100% vegano. Vende os produtos a seus clientes do restaurante, para pequenos eventos e
para comércios locais. Hoje seu Espaço e Restaurante Vegetariano é um restaurante com 14 ambientes
criados para entreter as pessoas, tendo sala de jogos gratuitos, cozinha, estacionamento, varanda para as
pessoas conversarem e repousarem em redes em frente a um lago improvisado para descansar. É
um lugar confortável, que incentiva as pessoas a repensarem seus hábitos de consumo devido aos
desenhos e quadros da decoração. Em seu restaurante, trabalha também seu esposo e sócio na
administração, um chefe de cozinha, duas auxiliares, dois atendentes, uma faxineira e um segurança, além
de professores terceirizados para dar aulas de dança, ginástica e fisioterapia. Seu Espaço e Restaurante
Vegetariano tornou-se referência na região por ser um lugar onde as pessoas se encontram para
usufruir dos serviços e consumir da culinária vegetariana, podendo comer no rodízio de pizza
vegetariana aos finais de semana, comer no self-service na semana, tomar sucos naturais, comer
doces e salgados vegetarianos, além de outros alimentos por um valor acessível. Os serviços de
aulas de dança, ginástica e fisioterapia são oferecidos como uma forma de complementar o lucro, e
assim reinvestir nos negócios. Além disso, empreendedores podem deixam lá cartões de visita para as
pessoas interessadas em comprar produtos veganos, trocando serviços e divulgando seus negócios.

Estilo de vida: A cozinheira Claudia oferece em seu restaurante vegetariano uma variedade
de pratos que podem ser consumidos no self-service, além de queijos, salgados, doces e bebidas
oferecidos por suas empresas. É uma alternativa saudável de alimentar as pessoas que queiram se inserir
nesse universo e mudar o estilo de vida. Quando pequena, morava em uma cidade do Paraná, região
conhecida pela tradição do corte bovino. Na infância, viu a crueldade no processamento de carne
ao ter que matar animais para consumo. A partir daquele momento, ela se negou a comer qualquer
tipo de carne. Vendo a dificuldade de encontrar alimentos que não tivessem origem animal, voltou a
comer carne com a promessa de que conseguiria mudar essa ideia na cabeça das pessoas. Buscou
conhecer mais sobre o processamento de alimentos vegetarianos e hoje, com 43 anos, com seu
esposo e sócio, defende essa ideia e transmite as pessoas essa consciência. Ela o faz para seus clientes,
funcionários e empreendedores relacionados, a fim de ajudar a proteger os animais. Desta forma,
promove a mudança para que as pessoas possam se encontrar e se alimentar tranquilamente, sem
serem julgadas pela sociedade.

Rejeitando limitações: Há três anos, Otávio, um funcionário, começou a trabalhar no


restaurante e rapidamente aderiu à cultura vegana, mudando seus hábitos alimentares. A principal
motivação para trabalhar ali foi o bom relacionamento com as pessoas que também defendem a causa
dos animais querendo atuar na defesa dos animais, mostrando a preocupação em iniciar uma
42

formação em respeito aos animais. Uma das dificuldades enfrentadas pelo restaurante é conseguir
alimentos orgânicos que nem sempre estão disponíveis nos supermercados ou nos fornecedores.
Encontrar alimentos em boas condições e tempo hábil é um grande desafio para Claudia. Observou
claramente que é possível rejeitar a limitação da falta de ingredientes e substitui-los por outros, a fim
de criar pratos alternativos a suprir algumas faltas que o restaurante possa enfrentar Deu origem a um
novo sabor para os pratos tradicionais. Frequentes adaptações ou substituições de ingrediente nos pratos
são realizadas. Neste caso, testar as receitas criadas na cozinha proporciona às pessoas uma combinação
de sabores únicos.

Virar-se com o que se tem à mão: Claudia percebeu que poderia defender os animais com
pequenas mudanças de hábito e de consumo na vida, ainda que enfrentasse a resistência das pessoas
quanto a suas escolhas. Hoje seu negócio funciona de uma forma não convencional. Existe uma
rotatividade de atividades entre os funcionários, tanto na cozinha quanto no caixa. Claudia se preocupa
com as pessoas de baixa renda e, por isso, prefere contratar pessoas que passam dificuldades para
trabalhar em seu restaurante. A estratégia pode servir também para reduzir custos e aproximar pessoas
interessadas na cultura vegetariana, além de ensinar às suas receitas as pessoas interessadas no seu
estilo de vida.

Bricolagem empreendedora: O cardápio foi planejado para atrair pessoas interessadas em


conhecer o lar e repensar a forma de se alimentar. Uma habilidade empreendedora desenvolvida
nesse sentido foi a criação de novas receitas com ingredientes à mão, uma vez que nem sempre o
restaurante possui os ingredientes originalmente recomendados para as receitas especificas. Por isso,
Claudia cria diferentes formas de fazer um prato. Ela tem oito funcionários nas fábricas de salgados, três
funcionários na fábrica de queijo e dez funcionários no restaurante. Totaliza 21 funcionários, além do
seu sócio e esposo que ajuda na administração.
43

5 ANÁLISE DESCRITIVA DAS ENTREVISTAS

Investigamos o comportamento dos quatro empreendedores de estilo de vida e a percepção


das três pessoas relacionadas a esses negócios. A iniciativa deles de serem empreendedores de estilo de
vida ocorreu como reação a dificuldades enfrentadas no passado (principalmente insatisfação com
trabalhos convencionais). Por exemplo, o Adelino (elemento 3) adorava surfar e se adaptou a uma nova
realidade simulando o surf no skate. No mesmo caso, sua cliente Paula, que participou neste estudo,
gostou tanto de praticar o esporte que começou a indicar seus amigos para praticar com eles. Já a
Claudia (elemento 4) queria mostrar às pessoas de que é possível comer um doce ou um salgado
sem usar ingredientes de origem animal, com a substituição de leite, queijo e ovos por ingredientes
orgânicos, conhecidos no veganismo. Desta forma, possui um restaurante e duas fábricas para
fornecer seus produtos aos seus clientes e parceiros.

Tratando de aplicar um conhecimento a favor do negócio, Rinaldo, sócio da empresa Arte


em Skates (elemento 1) realizou o seu sonho de se envolver com pranchas de skate (shapes) que
começou a fabricar com técnicas de prancha de surf. Seu conhecimento sobre como fazer pranchas de
surf foi vista por ele como uma oportunidade de trabalhar em seu passatempo (hobby) laminando e
desenhando em madeiras para a criação de diferentes tipos de skate. Rogério (elemento 2) aplicou
seus conhecimentos em artes plásticas e percebeu que poderia viver da arte, este sendo um sonho
de infância, desde que desenhava com sua avó.

Os empreendedores dos elementos 2 e 3 deste estudo encontraram formas de enfrentar as


regras impostas, sejam elas políticas, financeiras, acadêmicas, sociais e familiares. Em busca de
autonomia e liberdade, eles criaram soluções para seus negócios, ainda que possuíssem insuficientes
recursos para dar um jeito, passaram a usar suas experiências para se virarem com o que tinham
em mãos. Nos elementos 1 e 2, os empreendedores tinham um ou mais funcionários auxiliando na
administração do negócio, o que ajudava na manutenção dos negócios. Assim, geraram trabalho e
renda direta e indiretamente para a população. Mas, nos elementos 3 e 4, trabalharam sozinhos, sem
deixar de manter parcerias comerciais atreladas a seus negócios.

Já os motivos para trocarem de trabalho foram devido a cansaço do trabalho repetitivo em


um emprego (elemento 1), estresse causado por regras de como agir (elemento 2), estagnação na área
administrativa, desmotivação no trabalho e falta de objetivo na vida (elemento 3), defender uma
causa animal e montar um lar para pessoas se conscientizarem do alimento vegetariano (elemento
4). Quanto aos motivos de mudança de vida, o empreendedor do elemento 2 expressa seu lado
artístico, no elemento 3, houve prática de atividades desportivas. No elemento 4, houve o foco em
alimentação sem proteína animal e, no elemento 1, ganhar dinheiro se divertindo ao andar de skate com
as pessoas na rua.
44

Os objetivos dos empreendedores foram definidos segundo uma escala de percepção de


prioridade que valoriza ganhos pessoais e sociais ao invés de ganhos financeiros. Apenas Antônio e
seu sócio Rinaldo (elemento 1) têm empregos complementares com o intuito de somar os recursos
financeiros para estabilizar o negócio. Por outro lado, os elementos 2, 3 e 4 estão envolvidos apenas em
atividades que representam a realização de seus sonhos, trabalhando para ofertar produtos e serviços
complementares na mesma linha do negócio principal para dar a sustentação a seu estilo de vida. Os
elementos 1, 2, 3 e 4 possuem atividades paralelas para financiar seus negócios principais.

Os quatro empreendedores contribuem para a criação de valor para a população. Por exemplo,
o elemento 3 busca estimular seus alunos a sair de sua rotina maluca para praticar atividade física ao ar
livre em um skate que chama atenção. Já o elemento 1 gosta de filmar suas manobras de skate na Av.
Paulista (quando ela fecha para recreação e lazer da população) para colocar nas redes sociais e
interagir com as pessoas interessadas, além de expor seus produtos na grade de proteção para convidar
as pessoas a se desafiar a praticar o esporte. Já as pessoas que buscam conhecer a cultura vegetariana
podem ir ao restaurante da cozinheira Claudia (elemento 4) ou pedir um queijo, um doce ou um salgado
vegetariano. Podem também ter a oportunidade de aprender uma nova forma de se alimentar sem
maltratar os animais na exploração da sua carne e derivados. E, por fim, o elemento 3 mostra seu lado
sensível ao desenhar quadros e painéis com efeitos profundos sobre as suas experiências de vida, e
sobre o aproveitamento de materiais reciclados, tentando respeitar a natureza.

A respeito do conhecimento, notamos que o trabalho do cenografista (elemento 2) mostra


suas técnicas artísticas para grupos de jovens a fim de ensinar seu trabalho a eles por prazer,
respeitando a individualidade do trabalho autônomo, estimulando a própria capacidade artística e
empreendedora. No restaurante vegetariano (elemento 4), a empreendedora gosta de ensinar por
prazer de fazer diferentes receitas com seus funcionários por ter aprendido a criar pratos diferenciados
devido à dificuldade de acesso a certos alimentos que faltam.

Já no Surf nas ruas (elemento 3), o empreendedor utiliza de suas habilidades de equilíbrio e
determinação para ensinar técnicas de surfskate, um diferencial utilizado como negócio a fim de financiar
seu estilo skatista. E para a Arte em Skates (elemento 1) o empreendedor aplica seus conhecimentos na
área da publicidade para fazer vendas de skates personalizados ou alugá-los enquanto se diverte
andando de skate aos domingos e feriados na rua com seus amigos e familiares. Com isso,
percebemos que os objetivos empreendedores variam entre ensinar e aplicar o que sabem em seus
negócios.
45

Tanto o artista Rogério (elemento 2) quanto o skatista Adelino (elemento 3) declararam não
precisar de formação empreendedora por possuírem perfil bricolor para tocarem seus próprios
negócios. Já o desportista Antônio (elemento 1) e a dona do restaurante Claudia (elemento 4) se
procuraram em buscar orientações – por exemplo de como abrir um CNPJ (Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica) e como administrarem seus próprios negócios. Os elementos 1 e 4 utilizam de
conhecimentos obtidos anteriormente em cursos ou em palestras para gerenciar seus próprios
negócios de forma autônoma.

Por vezes, situações indesejadas no emprego anterior ligadas aos empreendedores de estilo de
vida refletem na desmotivação e baixa produtividade das pessoas nas empresas. Esse mal-estar
percebido no aspecto profissional muitas vezes se torna uma justificativa para que pessoas decidam
abrir o próprio negócio. A percepção subjetiva que antecede a abertura de uma empresa é uma questão
pouco estudada nas ciências econômicas e ciências sociais. Por fim, fizemos a síntese e a discussão
dos resultados, contribuições e indicações de pesquisas futuras, seguindo as considerações finais desta
dissertação.

Em relação à idade e à formação dos empreendedores, temos o elemento 1 com formação


superior em marketing e publicidade com 37 anos, o elemento 2 com o ensino médio com 32 anos,
o elemento 3 com o ensino médio e 33 anos e o elemento 4 com pós graduação e 56 anos. Isso mostra
a gama de formação das pessoas que decidiram empreender. Sendo eles pessoas com mais de 32
anos, demonstram ter tempo de experiência no mercado de trabalho e aparente maturidade para encarar
as dificuldades e trabalham para realizar seus sonhos.
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5.1 Análise comparativa das entrevistas

Em resposta sobre como os empreendedores de estilo de vida rejeitam limitações usando a


bricolagem empreendedora para empreender, avançamos com as análises finais nesta seção. Esse
tipo de empreendedor persiste em trabalhar em atividades empreendedoras por se sentir confiante
para oferecer a seus clientes produtos e serviços que o ajudem a viver o estilo de vida desejado.
Como vimos, podem ser atividades artísticas, desportistas, gastronômicas, turísticas e outras.

Comparando as entrevistas dos empreendedores, identificamos que eles se sentem preparados


para enfrentar diversas limitações que dificultam seu empreendedorismo. Empreender de acordo com
um dado estilo de vida não significa trabalhar menos, mas sim trabalhar de forma produtiva fazendo o que
se gosta, gerando ganhos para manter o estilo de vida. Trabalhar em função do estilo de vida escolhido
é a opção dos entrevistados, que fazem isso mesmo com poucos recursos.

Esses empreendedores aproveitaram o processo de criação do novo negócio e o fizeram se


desenvolver em proximidade com familiares e amigos que acreditaram na importância do trabalho
segundo um estilo de vida escolhido. Claudia (elemento 4), por exemplo, abriu legalmente sua empresa
com um CNPJ somando suas forças às do esposo. Ingressaram junto no EEV ligado ao
vegetarianismo. O professor de skate Adelino (elemento 3) teve ajuda de uma amiga que dava
aula de atividades físicas e que posteriormente virou sua esposa, algo impulsionado pela
proximidade dos interesses dos dois pelo ensino. O artista Rogério (elemento 2), desde pequeno,
teve a influência de sua avó e hoje vive de arte, criando diversos produtos. Antônio teve a ajuda de um
cunhado e de um sobrinho para administrar o negócio enquanto anda de skate e divulga seu negócio para
as pessoas.

Esses empreendedores gostam de trabalhar não só em proximidade com sua família, mas
também com seus clientes no trabalho. Expandir os negócios poderia levar ao afastamento do estilo
de vida e ampliar demais as obrigações burocráticas e administrativas dos negócios. Portanto, é
importante para o estilo de vida desses empreendedores que eles se mantenham dentro de suas próprias
regras, que incluem evitar que o desenvolvimento dos negócios atrapalhe seu estilo de vida desejado,
ainda que isso implique lucrar e crescer menos do que o possível.

A escassez de recursos é uma característica predominante nos pequenos negócios. A rejeição


de limitações foi uma regra para todos os empreendedores entrevistados, conforme detalhamos no
Quadro 6. Também vemos mais nitidamente neste quadro algumas características que os levaram a
superar as dificuldades que surgiram durante o desenvolvimento de seus negócios.
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Características da Rejeição de
Empreendedor Atividade Características de Estilo de Características de EEV Características da TBE
Limitações
Vida
Anda de skate enquanto os vende Não conseguiu expor seus Concilia o tempo entre o emprego
Vende madeiras como no local em que se estabeleceu na Pequena Empresa. Faz o que primeiros longboard em lojas. e o próprio negócio. Utiliza
base dos skates rua. Trabalha apenas nos gosta com amor, praticando Começou a vender pela internet, retalhos de madeiras para
Elemento 1: personalizados como domingos e feriados nesse esporte radical e conversando mudou para uma local mais
Antônio e dois customizar shape de skate. Dá
artesanato. Além de negócio. Busca conciliar família, com pessoas sobre à cultura movimentado e conseguiu uma um jeito de participar de eventos
sócios alugar um tipo de skate dinheiro e bem-estar ao praticar skatista e surfista enquanto licença para trabalhar na rua. Ainda desportivos no litoral e no
chamado longboard. atividade desportiva. Antes não divulga para as pessoas seus fez cursos de empreendedorismo interior de São Paulo para
acreditava que seria possível essa produtos. para a administração do negócio. difundir à sua marca.
realização.
Monta cenografias Sucesso para ele é trabalhar sendo Micro Empreendedor Informal. Faz gambiarras ao reutilizar
feliz, não sendo mais reprimido Utiliza da habilidade artística, Regras impostas de como ele recursos descartados na criação
para eventos musicais
pela sociedade ou tendo que com ajuda da natureza para criar deveria pensar, falar e até agir em de novo produtos e serviços
Elemento 2: (cenógrafo) e quando
prestar contas à sociedade. seus trabalhos. Conta com à seu antigo emprego deixava artísticas. Devido ao dinamismo
Rogério oportuno, ensina
Afastou do estresse do emprego ajuda de amigos e colegas de área desmotiva e ansioso. Ao voltar a da atividade faz cenografias,
jovens a gerarem renda
fez com que ele se aproximasse da quando precisa de recursos. Hoje desenhar descobriu que poderia artes plásticas, eventos, artes
extra por meio de aulas
realização pessoal. Vem de uma trabalha com amor e fazendo o fazer desse hobby, um negócio. visuais, quadros, grafite,
de artes plásticas e
sustentabilidade. trajetória de muita luta e suor. que gosta. tatuagem, fotografia, oficina etc.
Micro Empreendedor Informal. Cansado de trabalhar em escritório
Dá aula de surfskate Viu a flexibilidade desse
Buscar realização pessoal e Pioneiro na modalidade e tendo influência do surf desde
(simulador de surf) equipamento para que fosse
profissional ao ensinar técnicas de desportiva, ensina desde o nível pequeno. Decidiu trabalhar com
Elemento 3: individualmente ou em adaptado para a modalidade,
equilíbrio e confiança as pessoas. básico até o intermediário para as longboard, aproximando de pessoas
Adelino grupo. Seja em parques assim poderia ensinar as pessoas,
Tem um número limitado de pessoas que gostariam de que possuem interesse tanto no
ou em outros espaços emprestando seus equipamentos.
alunos para passar mais tempo descobrir como é surfar no skate quanto no surf. Além de fazer
públicos na cidade de Até ter condições de comprar
com à família. asfalto ao utilizar o skate como parcerias com pequenas fábricas
São Paulo. outros simuladores.
prancha nesse modalidade. para ajudá-los.

Recusou a pressão das pessoas Possui três negócios Montou espaços improvisados para Faz refeições alternativas de
É cozinheira de um pratos vegetarianos. Isso porque
sobre consumir carnes e derivados relacionados ao amor pela descanso, jogos e outra sala para
Elemento 4: restaurante vegetariano ensina seus funcionários que é
de animais e defende à cultura cozinha vegetariana. Realiza seu exercícios físicos entre outros para
Claudia, seu e possui uma fábrica de possível substituir os
vegana ao criar um espaço para hobby na cozinha para ensinar que as pessoas se sentissem a
sócio e seus queijo e outra de doces ingredientes principais por
vegetarianos e produtos e serviços seus funcionários e clientes vontade de frequentar o
14 e salgados veganos. outros disponíveis. Criando
à comunidade. receitas saudáveis. restaurante e experimentar às suas
funcionários assim, receitas sem usar
receitas caseiras.
derivados de animais.

Quadro 6. Explicando o contexto da rejeição de limitações


Fonte: Elaborado pelo autor desta dissertação.
48

Os empreendedores de estilo de vida estudados desenvolveram atividades que apresentam uma


caraterística muito particular de cada um deles: paixão pela gastronomia (elemento 4), amor pelo
esporte (elemento 1), uma habilidade cultuada para ensinar (elemento 3) e a valorização da
expressão artística (elemento 2).

As necessárias mudanças em suas vidas para que as alinhassem ao estilo de vida desejado
dependeram das iniciativas de enfrentar ou evitar limitações impeditivas, fossem na vida pessoal ou
no desenvolvimento de seus negócios. Vemos a importância de alinhar vida pessoal e vida profissional
quando falamos que as características dos empreendedores quase que se fundem às características
de seus negócios. As mudanças levaram à criação de uma marca de identidade única, distinguindo seus
negócios de outros no mesmo ramo.

Os empreendedores de estilo de vida que possuem mais de cinco anos de experiência nesses
negócios estão acostumados a criar soluções com recursos de baixo valor para resolver seus
problemas. Desde a criação de seus negócios, eles conseguiram fazer muito usando poucos recursos
disponíveis. Isso ocorreu, por exemplo, pelo uso de redes socais online bem conhecidas para divulgar
seus trabalhos e atrair clientes.

Na próxima seção, comparamos os resultados obtidos entre si, no detalhamento dos resultados,
a partir das análises das entrevistas e sobre o processo empreendedor rejeitando limitações. Mostramos
na Figura 2 os principais aspectos que nos conduziram aos resultados finais de nossa pesquisa, os quais
têm o intuito de explicar como os empreendedores de estilo de vida rejeitam limitações usando a
bricolagem empreendedora para empreender. Consideramos os principais elementos discutidos nos
capítulos de análise dos dados, como (1) o estilo de vida, (2), mudança comportamental e de
pensamento, (3) consciência das dificuldades, (4) possiblidade de aceitar ou recusar as limitações e
(5) as soluções encontradas.
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6 DETALHAMENTO DOS RESULTADOS

Nesta seção, apresentamos os resultados obtidos na comparação dos dados dos entrevistados
com base no Quadro 6. Mostramos como os dados contribuem para o entendimento de como os
empreendedores estudados lidam com limitações e o que é preciso para rejeitar limitações em seus
contextos para alinharem trabalho e vida com o EEV.

Destacamos a motivação para empreender como um elemento que os conduziu a diferentes


maneiras de se lidar com as limitações na vida e no trabalho. Os empreendedores estudados fazem da
bricolagem empreendedora um meio de descobrir soluções viáveis que lhes permitem manter seus
negócios em conciliação com seus estilos de vida.

Os empreendedores de estilo de vida podem aceitar ou recusar limitações impostas em seus


contextos a fim de conseguir ter a vida e o trabalho desejados. Existem diferentes maneiras como
eles pensam e agem para enfrentar as mudanças ao longo de suas trajetórias. Na Figura 2,
estruturamos um modelo do processo de rejeição de limitações no EEV. Em seguida, justificamos a
importância da intervenção empreendedora para o atingimento dos objetivos traçados pelos
empreendedores de estilo de vida.
50

Figura 2. O processo da rejeição de limitações no EEV


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
51

A Figura 2 é um modelo que explica a relação dos elementos de estilo de vida buscados
com diferentes aspectos relacionados à bricolagem empreendedora. O processo de rejeição de limitações
no fenômeno de EEV se evidencia nas trajetórias de vida desde a identificação do estilo de vida
desejado. E é seguido pela identificação dos problemas que ameaçam a continuidade desses objetivos.

A escolha pelo EEV dependeu da intervenção da bricolagem empreendedora ao tentar os


limites impostos aos empreendedores até a concretização dos estilos de vida. Vemos como o contexto
das limitações interferiu diretamente nas decisões empreendedoras. Utilizando as limitações como
pretexto para improvisarem soluções a partir de recursos disponíveis à mão para se fazer as
necessárias mudanças nos negócios.

Categorizamos os elementos: objetivos dos empreendedores, processo empreendedor,


contexto das limitações, fazendo bricolagem empreendedora, tipos de recursos utilizados e ganhos
obtidos como categorias importantes neste modelo apresentado. São categorias comparáveis entre os
elementos centrais da bricolagem empreendedora e do empreendedorismo de estilo de vida que
exploramos nesse estudo.

Existe um esforço pelo qual os empreendedores de estilo de vida se negam a seguir diretrizes
impostas a eles e por isso passam a criar as próprias regras. Olhando para o contexto da rejeição de
limitações, percebemos que esses empreendedores buscam alinhar vida e trabalho prazerosamente
sem que precisem justificar suas decisões na vida. A partir da consciência das diversas barreiras
existentes em suas vidas, tentam atingir seus objetivos de estilo de vida traçados, sabendo que pessoas
que se identificam com seus estilos de vida gostam do que fazem e sabem que sua atividade cria um
valor importante para a sociedade.

A superação do pessimismo das pessoas que não acreditaram no seu potencial empreendedor é
uma etapa a romper. Por isso, os empreendedores decidiram criar um negócio com uma identidade
pessoal a fim de se sentirem felizes e realizados na vida. Entretanto, novos objetivos de vida passam
a ser incorporados ao estilo de vida do empreendedor quando se sentem definitivamente impedidos
de concretizar suas ambições iniciais.

Para os empreendedores de estilo de vida, o desafio de rejeitar as limitações é a etapa mais


importante no processo para se tornar um empreendedor e, assim, passam a conduzir a realização do
próprio estilo de vida. Por isso, há a necessidade de se explicar a lógica utilizada nessas categorias. Nas
subseções a seguir, descrevemos mais detalhadamente os componentes da Figura 2, aprofundando
e apresentação os resultados deste estudo.
52

6.1 Identificando os objetivos

Num primeiro momento, não fica claro para as pessoas como um estilo de vida pode virar
um negócio. Antes de eles saírem de seus antigos empregos e decidirem empreender, passam a
questionar como querem trabalhar e viver. A liberdade profissional passa a ser algo questionado e
desejado por eles, se deparando com situações que poderiam melhorar a forma como levam suas vidas.
Acreditam que dependem de suas escolhas na vida para lutar por aquilo que realmente importa e
por isso decidem levar a sério a maneira de ser, ao ponto de buscar recursos e dar um jeito de praticar
suas ambições de vida na criação de um novo negócio.

Exemplos mais comuns das ambições de vida podem ser representados por algumas habilidades
descobertas, um dom para fazer algo, um passatempo, uma paixão por uma atividade, o amor por
um cultura, a realização de um sonho, a manifestação de uma atividade recreativa, manifestar o lado
artístico ou fazer artesanato para praticar técnicas aprendidas. A manifestação de estilo de vida é feita
quando essas pessoas decidem explorar suas maneiras de ser e de trabalhar em atividades prazerosas
desejadas.

Um estilo de vida pode ser momentâneo ou um propósito de vida, dependendo das escolhas
empreendedoras. Na literatura de EEV, tem sido difícil discutir a manifestação do estilo de vida,
não estando claro quando uma ideia de estilo de vida se torna um produto de um negócio, até
que percebemos que a motivação passa a fazer sentido em suas vidas e e os empreendedores desejam
trabalhar produtivamente fazendo do estilo de vida o objetivo do negócio.

Desejar trabalhar prazerosamente contribui no desenvolvimento das atividades determinadas


para os negócios. A realização do desejo é sustentada pelas estratégias empreendedoras adotadas por
estes pequenos negócios. A busca pela autorrealização na vida requer que pessoas enfrentem limitações
além dos desafios enfrentados em suas vidas, acreditando que serão infelizes na vida se continuarem
levando uma vida de desprazer e tristeza. Por isso, decidem se inserir em atividades visando o bem-
estar.

Entretanto, nota-se que a existência de diversas dificuldades pode impedi-los de fazer as


mudanças desejadas em suas vidas. Por isso, precisam articular diversas maneiras com os recursos
disponíveis à mão para promover o negócio, como mostramos nas próximas seções.
53

6.2 Contexto das limitações

Os principais contextos de limitações identificados são regras impostas no ambiente familiar,


social, governamental e empresarial, regras estas limitadoras da maneira com que desejam viver. O
contexto de limitações geralmente desestimula as pessoas, mas, para os empreendedores de estilo de
vida, esta é uma oportunidade de repensar a maneira como desejam viver e por isso propõe novas
soluções para os problemas conhecidos.

Regras limitadoras de como eles deveriam pensar e agir levam a um ponto de exaustão mental
que eles sabem que pode prejudicar sua saúde física e mental. Por isso, decidem se libertar das
frustrações e seguir suas ambições. Eles têm a intenção de praticar um estilo de vida desejado
em suas vidas por saber da importância de se trabalhar produtivamente neste tipo de atividade.
Partem então para desenvolver novas maneiras de se trabalhar e de vencer as dificuldades na vida.

Mesmo não tendo perfil empreendedor, criam produtos e serviços que possam ser oferecidos a
pessoas interessadas nas redes sociais (elementos 1, 2, 3 e 4), em locais públicos (elemento 1), em
espaços compartilhados (1 e 4), como parques (elemento 3), para dar continuidade a seus negócios,
conforme mencionados na análise dos dados.

O contexto da rejeição de limitações é composto por regras que os controlam e levam a ter
sérios problemas de saúde, sejam problemas físicos ou mentais, geralmente associados ao trabalho.
São problemas ligados ao sedentarismo, atrofia muscular, problemas cardiovasculares e distúrbios
do sono além dos problemas emocionais ligados a ansiedade, estressadas, angústia, desmotivação e
depressão. Ou seja, problemas de saúde que afetam a maneira como eles vivem.

Quando falamos da transferência de um estilo de vida para um negócio percebemos que


dependendo das atividades para que tomem ciência das regras regulatórias que forçam os
empreendedores a cumpri-las rigorosamente, desde o início de um negócio. Mas sabemos que criar um
negócio estruturado numa atividade incerta ainda mais com poucos recursos é quase inviável para os
empreendedores de estilo de vida principalmente nos primeiros anos.
54

6.3 Processo empreendedor

Neste seções, a busca pela autonomia na vida é direcionada ao empreendedorismo por prazer.
Pessoas visam abrir o próprio negócio e aceitam passar por um caminho empreendedor desconhecido
a fim de realizar seus objetivos na vida, como praticar um estilo de vida. Por exemplo para testar a
viabilidade de um negócio à Claudia decidiu abrir um negócios voltado a gastronomia vegetariana
convidando seu esposo para que eles pudessem realizar seus sonhos juntos. Ou como o caso do
Antônio, buscando andar mais de skate, convidou seu cunhado para confeccionar a base do longboard
usando sua habilidade de fazer prancha de surf para fazer skates artisticamente.

A intenção de se trabalhar produtivamente em um pequeno negócio permite usar o ócio de


maneira criativa. Ainda que não possuem experiências de negócios anteriormente, dão um jeito de
aplicar o que aprenderam em suas formações e em suas profissões anteriormente. Desta forma,
se recusam afastar de seus objetivos ao testar as limitações impostas pelo ambiente que antes parece
ser impossível.

À medida que eles descobrem novas soluções para os problemas enfrentados nos negócios
eles vão se realizando no EEV. Vale destacar que contam com à ajuda de instituições que apoiam
as micro e pequenas empresas para aperfeiçoar seus conhecimentos. Como fazer cursos on-line de
empreendedorismo e tiram suas dúvidas com mentores de negócios dessas instituições, participando
de workshops para pequenos negócios.

Devido às impeditivas barreiras operacionais de seus negócios e em suas vidas, entendemos


que esses empreendedores reduzem as dificuldades, dando um jeito de administrar o negócio ao
juntar recursos que se tem à mão, dando a importância de se alinhar trabalho e vida.
55

6.4 Bricolagem empreendedora

Ainda que eles dão um jeito de se virar com o que se tem à mão, aos poucos usam técnicas
que descobriram em suas jornadas na vida para intervir de melhor maneira em seus negócios. Notamos
que algumas habilidades de improvisação são utilizadas para q continuidade de seus objetivos nos
negócios. Uma decisão importante tomada pelos empreendedores de estilo de vida que os ajudam a
sustentar suas atividades.

De forma específica, a escassez de recursos proporciona uma forma diferente de arranjar,


substituir, modificar, improvisar e recombinar diferentes recursos. Usando de um conjunto de
recursos de baixo valor agregado que possa ter um uso futuro a fim de dar uma outra utilidade para
seus negócios. Agindo em prol daquilo que os ajudem a enfrentar os problemas que surgem em seus
caminhos.

Empreendedores são multifuncionais, e possuem a capacidade de fazer várias coisas que


integrem o negócio as partes importantes de um empresa. Como cuidar dos recursos financeiros,
humanos, logísticos e outros. Em alguns casos, eles abrem um negócio em paralelo como uma
forma de complementar a renda com uma outra ideia que vá de encontro aos seus estilos de vida.

Os empreendedores estilos de vida criam produtos e ou serviços que nem sempre têm
resultados satisfatórios que atenda suas ambições estabelecidas. Por isso articulam de outras maneiras
para transformar as dificuldades em aprendizados que possam interessar seus estilos de vida.
Oferecendo as pessoas outras possiblidades e assim, ajudando a obter recursos financeiros
necessários para se atingir os objetivos. Portanto a busca pela autonomia para empreender e liberdade
para criar, ajudando os empreendedores ao fazer bricolagem para realizar suas ambições.

No entanto, eles precisam encontrar outras maneiras de enfrentar as limitações, descobrindo


jeitos de administrar o negócio. Ampliando os recursos disponíveis à mão. Veremos na próxima
seção a importância que os recursos têm no processo empreendedor ao se fazer bricolagem
empreendedora.
56

6.5 Recursos disponíveis à mão

Apresentamos na Figura 2, elementos que dão suporte aos empreendedores nesse processo
de empreender e assim realizar uma ambição de vida. A utilização de recursos disponíveis à mão neste
contexto é uma estratégia empreendedora utilizada para fazer bricolagem empreendedora. Uma vez
que empresas de estilo de vida começam com baixa disponibilidade de recursos e precisam articular
com o que se têm a disposição para dar um jeito de continuar o negócio, ampliando os recursos
acessíveis a eles.

Esses empreendedores se sentem confiante para empreender, persistindo em trabalhar


em uma atividade no qual criam soluções para suas limitações. Como improvisar ferramentas acessíveis
em seu ambiente social, familiar e do negócio. É importante destacar que a partir da interferência dos
interesses pessoais no negócio foi possível adotar estratégias que reduzissem suas limitações durante
suas trajetórias.

A ajuda voluntária de amigos, familiares e conhecidos no processo empreendedor por


meio de ajuda material e ou apoio emocional dessas pessoas se destaca nesta seção. Sendo está,
uma maneira de utilizar recursos disponíveis à mão e de fazer bricolagem empreendedora. Dando
preferência a ajuda das pessoas que se interessam em compartilhar um estilo de vida. Uma ajuda
não convencional que fortalece a confiança de algumas pessoas que valorizam seus potenciais de se
trabalhar naquilo que fazem produtivamente.

Uma outra maneira dessas pessoas ajudar os empreendedores de estilo de vida é comprando seus
produtos ou serviços para incentivá-los a vender. Inclusive utilizando as redes sociais, sites,
plataformas e aplicativos como recursos tecnológicos que os ajudam a direcionar seus trabalhos as
pessoas interessadas.

Vemos também recursos disponíveis à mão como máquinas, aplicativos tecnológicos,


matéria prima, dinheiro, tempo, voluntários, aplicar conhecimentos anteriores ou qualquer outro
meio que ajude a enfrentar as aparentes dificuldades na estruturação do negócio. Portanto o estilo de
vida influência diretamente nas atitudes empreendedoras, oferendo ganhos importante para a realização
de seus objetivos.
57

6.6 Ganhos obtidos

Não é de se exagerar que todos esses esforços resultem no alinhamento do trabalho e da vida
ou vida familiar desejado. Indo de encontro com a ambição de vida estabelecida anteriormente pelo
empreendedor de estilo de vida. Como no relato de Adelino (elemento 3) que deixou de atender
uma grande demanda de alunos para passar mais tempo com sua esposa. Ainda que se preocupava
em reagendar as aulas para outros horários livres na semana. Vale ressaltar que andar de surfskate
exigem além de treinos para fortalecer os músculos visa promover treinos de autoconfiança, coragem,
equilíbrio e concentração.

Vale destacar que a relação do estilo de vida visa promover a manifestação do bem- estar
não só físico, mas também mental. Seja do empreendedor ou da comunidade interessada. Este tipo
de decisão incomum e se baseia nos valores pessoais determinados por eles. Por isso existe um grande
preocupação em rejeitar limitações como oportunidades de emprego ou de ampliação do negócio que
possa impedir esses empreendedores de manter uma vida prazerosamente desejada.

Outros ganhos obtidos é a oportunidade de ensinar o que aprenderam a praticar em suas


atividades com os clientes. Além da oportunidade de compartilhar suas experiências de vidas com
pessoas que se interessam pelo o que eles fazem. Inclusive, é uma forma que atrair novas pessoas que
desejam viver um estilo de vida prazeroso.

Vale destacar que em alguns casos, eles se procuram em oferecer mais pessoas seus produtos
e serviços, como à Claudia (elemento 4) que abriu uma fábrica uma produz queijos veganos e outra
fábrica que faz doces e salgados veganos para atender, além dos clientes do restaurante, atender
encomendas para eventos e festas. Ou Adelino (elemento 3) que além de dar aulas particulares mas
também oferece a possibilidade de ministrar palestras e cursos em eventos esportivos para pequenos
grupos de pessoas.

Empreender de forma produtiva fazendo do estilo de vida um trabalho é um tremendo desafios


transmitidos por eles em suas falas. Mas são os ganhos obtidos que estes esforços que importa
para eles. Na próxima seção discutiremos como a literatura da bricolagem e do e do campo
investigado para explicar como se relacionam para entendermos melhor a literatura de EEV.
58

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados mostraram que os empreendedores do EEV são capazes de ignorar


conscientemente oportunidades financeiramente atrativas para seus negócios, mas que poderiam
prejudicar seu estilo de vida prazeroso. Eles persistem na realização de seus objetivos pessoais
frente a limitações impostas por seu contexto de negócio e de vida. Dão um jeito, com sua capacidade
de empreender, para rejeitar limitações, testar soluções e superar restrições (Baker & Nelson, 2005).

Percebemos que existe um fluxo de acontecimentos enfrentado pelos empreendedores


de estilo de vida em suas vidas que os direciona a seguir os objetivos de maneira a rejeitar as limitações
impostas a eles. Notamos que no processo empreendedor, no qual apresentamos no modelo da Figura
2, considera a bricolagem empreendedora como parte importante do crescimento empreendedor para
superar dificuldades em alinhamento com seus objetivos. Por esta razão, discutimos as relações obtidas
no detalhamento do resultado diante do modelo apresentado.

Mostramos que os empreendedores entrevistados passam por situações de dificuldade, tanto


em suas vidas quanto em seus negócios, que lhes ensinaram a superar as limitações em suas
trajetórias. Na seção do detalhamento dos resultados, mostramos que eles recorrem com frequência à
ajuda de amigos, familiares e conhecidos para dar continuidade a suas atividades empreendedoras. Como
vimos no estudo de Cederholm and Akerstrom (2016) e no trabalho de Ateljevic and Doorne
(2000), os empreendedores fazem as mudanças necessárias na estrutura de seus negócios para
manter seus estilos de vida vivos durante o trabalho.

Constatamos que empreendedores de estilo de vida são competentes para criar produtos e
serviços em resposta aos desafios de manter alinhados os negócios com seu estilo de vida desejado.
Ainda que estejam em ambientes dinâmicos de negócio e possuam recursos escassos para
empreender, eles se preparam para usar habilidades desenvolvidas anteriormente e, com elas, dar
um jeito de lidar com as dificuldades e alinhar trabalho e vida. Por estes motivos, usam da bricolagem
empreendedora como um mecanismo de superação de limitações durante o processo empreendedor
(Baker & Nelson, 2005).

A intenção de se trabalhar produtivamente permite que pessoas construam a própria mudança


na vida ao se dedicar em seus negócios. Mostramos no modelo da Figura 2 o processo empreendedor
que justifica a autonomia dos empreendedores em se dedicar para que isso ocorra. Por isso, confirmamos
a noção de Baker and Nelson (2005) de se virar com o que se tem como uma maneira encontrada
59

por muitos empreendedores para conquistar o alinhamento entre vida e trabalho usando de suas
ideologias de vida e rejeitando limitações.

Devido à importância do alinhamento entre a vida pessoal e vida profissional, empreendedores


de estilo de vida se sentem atraídos pelo EEV. Podem ter o prazer de viver o estilo de vida desejado
em uma atividade empreendedora. O alinhamento entre a vida pessoal e vida profissional é reforçado
por Cederholm and Sjoholm (2014). Confirmou-se a noção de que empreendedores de estilo de vida
se esforçam para criar soluções que evitem serem atrapalhados de viver o estilo de vida escolhido.

Em virtude do que foi mencionado, a resiliência diante das limitações aparece como uma
característica bastante evidenciada no contexto da rejeição. Fazer adaptações em seus negócios para o
desenvolvimento deles ajuda durante toda a trajetória empreendedora. Foi o caso de Adelino (elemento
3), que desejava ser surfista e acabou virando professor de simulador de surfskate (uma modalidade
que une dois esportes). Ou o caso de Antônio (elemento 1), que convidou seu cunhado para fabricar
a base de seu skate e decidiram fazer uma parceria visando personalizar e vender diversos tipos de
skate. Assim, os dois empreendedores usaram de seus recursos variados, ainda que restritos e não
muito adequados para fazerem skates, e seus conhecimentos anteriores para se adaptarem aos novos
desafios e empreenderem com sucesso.

Vimos em várias passagens do estudo que a motivação dos empreendedores de estilo de


vida depende da maneira como eles se sentem ao lidar com seus problemas. Deduzimos que a
maneira como eles desejam viver, mesmo que não seja fácil de se conquistar traz conflitos familiares
e sociais e por isso que nos últimos anos empreendedores buscam conduzir a própria mudança
de vida. Destacamos, assim, que a motivação dos empreendedores de estilo de vida vai ao encontro
do estudo de Minello and Scherer (2012) sobre a mudança de comportamento empreendedor que
auxilia no direcionamento de tempo e energia a fim de mudar a maneira como eles trabalham. E por
isso notamos que existe uma forte ligação conceitual entre a motivação empreendedora e a mudança
comportamental.

Destacamos que o mal-estar na vida dos empreendedores é um elemento ao qual devemos nos
atentar quando falamos do processo de rejeição de limitações no EEV. No entanto, o mal-estar dos
empreendedores de estilo de vida faz com que eles tenham que se proteger criando as próprias regras e
assim obter autonomia para criar soluções a problemas conhecidos pela sociedade. Vimo um exemplo
disso no empreendedor Adelino (elemento 3). Mesmo não tendo uma certificação para ensinar clientes
a praticar a modalidade surfskate, ele se vê e se apresenta como um profissional que ensina pessoas
o obter desenvolvimento pessoal através do esporte. Assim, a autonomia para criar as próprias regras

é um meio pelo qual os empreendedores do EEV rejeitam regras aceitas pela sociedade.
60

Levamos em consideração que esses empreendedores fazem as coisas de forma diferente, e


por isso desenvolvem novas habilidades empreendedoras como criar novas possiblidades e maneiras,
sob alta restrição de recursos, de se fazer negócio. Para tanto, eles se dedicam a aprimorar como
se relacionar com as pessoas e como realizar suas ambições na vida, o que os leva a realizar um trabalho
sério e produtivo (Barbieri & Sotomayor, 2013).

A maneira como lidam com os problemas com a bricolagem empreendedora representa um


meio que os auxilia a desenvolver seus negócios e seu estilo de vida. Entre outras coisas, aproveitam
melhor o tempo que seria gasto com a burocracia e distrações no trabalho e nas relações. Assim, podem
aproveitar melhor o tempo vivenciando seu estilo de vida, tendo mais tempo com sua família, por
exemplo. Isso justifica, em boa parte, a importância que dão ao equilíbrio entre trabalho e vida ao
enfrentarem problemas que aparentavam dificultar seu EEV.

Existe uma razão pela qual decidem transformar a maneira como pensam e agem em prol de
seus objetivos pessoais, como no caso de Rogério, que estava muito exposto a relações abusivas
no trabalho e passou a rejeitar crenças limitantes das pessoas com quem ele se relacionava e
decidiu mudar de vida. Transitou de suas frustrações no trabalho e na vida para um estilo de vida
artístico e prazeroso.

Trabalhar feliz é algo desejado por muitos empregados e empregadores na sociedade. O


desprazer frequentemente vivido no ambiente de trabalho e nas relações ligadas ao trabalho levam
o estresse e ao cansaço mental. Esses males resultam em infelicidade (Oliveira & Mendes, 2014),
resultado comum também experimentado pelas pessoas que continuamente seguem regras que lhes
desagradam (Neto, 2006).

Empreendedores de estilo de vida oferecem a pessoas interessadas em suas atividades


empreendedoras a possibilidade de se trabalhar produtivamente em seus negócios. À medida que o
negócio precisa de pessoas trabalhando, eles contratam pessoas para funções administrativas e
operacionais para continuarem trabalhando e vivendo prazerosamente da maneira desejada, ainda
que os empreendedores continuem a ter dificuldades em seus negócios (Claire, 2012).

Consideramos que negócios de estilo de vida geralmente oferecem ambientes de trabalho


construídos para oferecer às pessoas um espaço de experiências positivas àqueles que ainda não
estão familiarizados com um estilo de vida prazeroso que ser queira compartilhar com mais gente,
como se vê nos restaurantes veganos. Estes frequentemente cumprem um papel de propagação dos
hábitos veganos para o empreendedor do EEV, que comumente se parece com um missionário, ou seja,
busca fazer com que mais pessoas também vivam os benefícios de seu estilo de vida. A
empreendedora vegetariana Claudia, por exemplo, oferece aos clientes 14 ambientes para que possam
61

aproveitar as delícias da culinária vegetariana e os ambientes agradáveis do restaurante, assim como


repensar a maneira como consomem produtos derivados de animais utilizados no processo de
industrialização dos alimentos.

Nossos resultados evidenciaram ganhos pessoais e profissionais obtidos quando as pessoas se


comprometem a crescer na vida com uma clara e determinada opção pelo EEV direcionando esforços
para encontrar melhores soluções para as limitações enfrentadas. Porém poucos estudos discutiram
a importância do ganho relacionado ao bem-estar no EEV, mesmo que encontremos, por exemplo, alguns
pesquisadores da área da psicologia apresentado resultados satisfatórios quanto ao bem-estar
relativo a alimentação, vida e trabalho (Diener & Biswas-Diener, 2002; Siqueira & Padovam, 2008).

Em vista dos resultados apresentados, relacionamos que os empreendedores de estilo de vida


direcionam esforços a um trabalho produtivo e prazeroso como autorrealização na vida (Moretti &
Treichel, 2003; Velasco & Saleilles, 2007; Mendonça, 2009). Confrontamos nossos resultados com
a literatura utilizada no referencial teórico e percebemos que elementos-chave de comportamento
condizem com intenções de mudar de vida ao se praticar um novo estilo que adéque ambições
traçadas para a vida pessoal com aquelas para a vida profissional.
62

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apresentamos as implicações teóricas e práticas com base na discussão de nossos resultados:

(I) Implica em pesquisas futuras de empreendedorismo que investiguem os aspectos


comportamentais e cognitivos de empreendedores que decidem ter uma vida prazerosamente desejada,
bem como ajudar pesquisadas futuras que se dedicam a estudar problemas de saúde gerado por
limitações na vida e no trabalho que gera nervosismo, estresse, ansiedade, depressão e desprazeres
na vida diante de limitações.

(II) Implica na organização de comunidade interessada na valorização da qualidade de vida


como vimos que alguns produtos e serviços são capazes de fazer, como vimos na discussão dos
resultados.

(III) Implica na vida daquelas pessoas consideradas empreendedoras de estilo de vida e que estão
propensos a rejeitar limitações em suas vidas e em seus negócios em busca de.

(IV) Implica na vida das pessoas que queiram abrir um negócio por conta própria em busca de
melhoria de vida pessoal e familiar. Porque pessoas estão desmotivas com os seus resultados no trabalho
e na vida que vem levando.

(V) Implica no setor público que busca aprimorar às políticas públicas regionais voltada a pequenos
negócios que também geram desenvolvimento socioeconômico local. A baixa produtividade de alguns
setores como o esporte, à gastronomia, o artesanato, o trabalho artístico entre outros setores que
podem ser estimulados. A fim de proporcionar aos empreendedores de estilo de vida, recursos que os
ajudem a desenvolver práticas administrativas.

(VI) Implica na sociedade quando falamos de problemas de saúde causado pelo nervosismo, estresse,
ansiedade, desprazeres, pressão no trabalho, depressão e outros problemas associados ao
desalinhamento no trabalho e na vida.

(VII) Implica nas instituições de ensino que queiram entender a manifestação do estilo de
vida dos empreendedores e aprimorar seus programas de ensino sobre empreendedorismo.
63

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10 APÊNDICE 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perguntas descriminatórias para a seleção dos empreendedores de estilo de vida


1. Você trocaria o que faz por um negócio mais lucrativos?
2. Se positivo, essa outra atividade tenderia manter seu estilo de vida?
Perguntas semiestruturadas sobre o empreendedorismo de estilo de vida
1. Comente sobre a sua trajetória de vida e o que te motivou na criação desse negócio.
2. Comente se o bem-estar se manifesta na sua motivação empreendedora.
3. A motivação para abrir esse negócio ainda é o que te motiva a trabalha hoje? Por quê?
4. Comente como seu estilo de vida se manifesta na sua vida.
5. Comente se obter lucro nesse negócio é mais importante que a autorrealização pessoal.
6. Esse negócio serve para manter outra atividade empreendedora? Por quê?
7. Quais são os seus conhecimentos anteriores que hoje lhe ajuda a estar mais preparado (a)?
8. Comente se é importante para você conciliar trabalho se esilo de vida.
9. Comente se para você é importante o envolvimento familiar no negócio.
10. Como você se imagina trabalhando nos próximos anos?

Perguntas semiestruturada sobre a rejeição de limitações


11. Comente quais são as suas principais facilidades para manter este negócio.
12. Comente quais são as suas principais dificuldades para manter este negócio.
13. Como você geralmente lida com as limitações que ameaçam o seu negócio?
14. Qual é o maior risco que você já assumiu ao desenvolver seu estilo de vida?
15. Como você dá um jeito de captar recursos para a sua empresa que antes não tinha acesso?
16. Quais são suas atitudes que acredita contribuir para o enfrentamento das dificuldades?
17. Quais são as restrições no seu ambiente de negócio que lhe atrapalha a empreender?
18. O que você pensa sobre à sua capacidade de resolver problemas?
19. Em quais situações você pensaria em trocar esse negócio por um emprego?
20. Se você tivesse um outro negócio o que ele representaria para você?
Dados do perfil dos empreendedores
1. Identificação:
2. Gênero:
3. Idade:
4. Escolaridade:
5. Negócio ou profissão anterior:
Dados do perfil dos negócios
6. Há quanto tempo exerce essa atividade atual?
7. Qual atividade desempenha nessa empresa?
8. Qual o enquadramento da sua empresa?
9. Têm pessoas que trabalham no seu negócio?
10. Quais são os produtos ou serviços que à sua empresa oferece?

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