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Águas encobriam a areia da praia, separando as escuras e molhadas das

claras e secas. Sentava-me na parte molhada da areia, minha calça molhada e eu nem
ligava, observando o pôr do Sol, em Itaparica. A nostalgia tomara minha mente por
completo, e minhas lembranças de breves anos retornara. Sabe aquele momento
nostálgico que temos quando paramos no tempo olhando uma paisagem, mas ao mesmo
tempo olhando para dentro, e os nossos olhos fitam o vazio? Ele fixava no reflexo
que o Sol fazia no mar, um reflexo alaranjado mesclado com o azul oceânico,
traziam-me lembranças dos romances que experimentei nos últimos cinco anos. É
deveras doloroso essas memórias, como uma auto-mutilação, horrível só de pensar,
mas sinto em compartilhar-las com o leitor ávido das vidas alheias, ainda mais em
se sentir prazeroso e gozar da desgraça alheia; sois maus. Não obstante, como eu
sou um masoquista assíduo, pretendo faze-lo.
Estava eu em minha casa assistindo a um jogo de futebol, televisão velha,
raramente funcionava, comprei-a parcelada em doze vezes, temava em pifar sempre no
momento do gol; sentado em um sofá medíocre, arrombado, devido talvez aos antigos
donos adiposos que o tinham antes de eu ter comprado o imóvel, sim! Comprei dessa
vez, não aluguei um, aluguéis são extramamente caros, seria mais econômico comprar
um do que alugar; meus falecidos pais me deixaram uma casa e a metade das
paupérrimas migalhas de dinheiro que também eu dividi com o meu irmão mais velho e
um carro singelo ele também ficou, a casa que eu habitava seria minha por direito,
mas como eu era tapado, acabei caindo num golpe arquitetado por ele. Tudo isso por
que ele conseguiu fraudar o documento da herança, só fiquei com a meia dúzia de
onças descarnadas. Era muito obtuso, deveras obtuso; comprei a minha casa com dois
terços do dinheiro que me restara, não tinha dinheiro para um advogado, era burro,
só me restou a aceitação e conformação da injustiça.

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