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Universidade Federal de Pernambuco

Centro Acadêmico do Agreste

Núcleo de Gestão - Curso de Ciências Econômicas

Discente: Ednilsom Andrade de Santana Júnior e Moisés Farias do Nascimento

Docente: Glaudionor Gomes Barbosa

Disciplina: História econômica antiga e medieval

História antiga: A influência do crescente fértil no comércio

Resumo

Na primeira parte desse trabalho é retratado como o ser humano, através do


desenvolvimento da agricultura e do procedimento de domesticação de animais
selvagens, conseguiu assegurar a sua subsistência, e além disso produzir
excedentes comerciáveis. Em seguida é mostrado como o comércio possibilitou a
formação dos estados, que asseguravam a subsistência do povo, porém promovia
estratificações sociais. E por fim é relatado como essas relações de trocas se
intensificaram, entre diversas civilizações com distintas culturas, políticas e religiões,
que apesar de serem independentes politicamente, ternaram-se interdependentes
economicamente, de tal modo que a decisão de uma civilização afetava o bem-estar
de outra civilização.

Abstract

In the first part of this work is portrayed how the human being, through the
development of agriculture and the procedure of domestication of wild animals,
managed to ensure their livelihood, and also produce tradable surpluses. Then it is
shown how commerce made possible the formation of states, which ensured the
subsistence of the people, but promoted social stratifications. And finally it is reported
how these relations of exchanges intensified, between diverse civilizations with
different cultures, politics and religions, that although politically independent, they
became economically interdependent, in such a way that the decision of a civilization
affected the well-being of another civilization.
Lista de figuras

Figura 1: Crescente Fértil.............................................................................................6


Figura 2: Rotas de comércio entre as colônias Fenícias............................................13
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1.Introdução

Desde que a humanidade passou a dominar a agricultura e a domesticar


animais, foi alcançada a capacidade de se produzir excedentes, que poderiam ser
comercializados. O comércio é de fundamental importância para o ser humano,
apesar de parecer complexo, as relações comerciais começaram de um modo bem
simples. Se algo aparenta não ter uma causa lógica e simples é porque ignora-se
sua natureza. Segundo o historiador francês Marc Bloch “O passado é, por
definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é
uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa.”

O presente trabalho tem por objetivo principal, retratar o comércio na


antiguidade, perfazendo a história econômica de uma das regiões mais influentes da
época, denominada Crescente Fértil. Como objetivos específicos, é contextualizado
o surgimento e a contribuição do comércio, para o desenvolvimento das primeiras
civilizações, fazendo uma breve análise de como acorria o processo de trocas,
através de uma perspectiva evolutiva, do ponto de vista histórico. Será abordado
também como objetivo especifico os aspectos sociais, culturais e políticos das
civilizações mais notórias da época, o Egito e as sociedades Mesopotâmicas.

Este trabalho será delimitado temporalmente pelo período que compreende a


história antiga, que se inicia em 4000 a.c. e vai até 476, nesse longo período a
humanidade obteve importantes conquistas, na qual algumas serão retratadas neste
artigo. A divisão desse trabalho apresenta sete seções, incluindo essa introdução.
Na segunda seção, é abordado o surgimento do comércio, fazendo um breve relato
de como o ser humano superou as adversidades inerentes a sua subsistência, e
passou a produzir um excedente que poderia ser comercializado. Na terceira seção
é mostrado, como o comércio transformou o Crescente Fértil no berço da civilização.
Na quarta seção, é mostrada a interdependência entre as civilizações primitivas, em
termos comerciais. Na quinta seção revela que existiu na antiguidade uma certa
especialização do trabalho. A sexta seção é composta pelas considerações finais,
que sintetiza os objetivos desse trabalho. E por fim na sétima seção contém toda
bibliografia utilizada no presente trabalho.
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2. O surgimento do Comércio

A lenta passagem da atividade coletora para a atividade agrícola


desenvolveu-se de um longo processo de percepção dos fenômenos naturais como
por exemplo a observação do crescimento de grãos abandonados no solo. A
atividade agrícola demorou bastante tempo para se firmar, devido ao lento processo
que envolve a observação, porém através dela, pode-se perceber que os vegetais
crescem quando são plantados, o que possibilitou posteriormente, o
desenvolvimento da agricultura, através de uma plantação racional.

A produção de alimentos agrícolas e a criação de animais possibilitou a


obtenção de um excedente de produção que precisava ser armazenado para
consumo posterior. A presença de um excedente de produção, induziu os grupos a
pensarem no armazenamento e planejamento do estoque. Assim comércio surge
ligado as atividades agrícolas e de criação de animais oriundos da revolução
neolítica. Em função da agricultura e da capacidade de domesticar os animais, o
homem passa a viver em grupos mais estáveis se comparado a atividade coletora,
inicia-se desse modo uma cultura de trabalho coletivo e regular. Conforme PINSKY
(1939) a produção de excedentes foi gerada por mudanças oriundas das inovações
do período neolíticos, o que impulsionou o crescimento populacional e o surgimento
do comércio entre os grupos.

Pinsky (1939) esclarece que:

[...]A produção de um excedente agrícola, somada à atividade


criadora (que, no fundo, representa a produção de um excedente de
carne), servirá para atender às necessidades da comunidade em
períodos mais duros, propiciando o crescimento da população e o
surgimento posterior de um comércio incipiente. (PINSKY,1939, p.
39).

O comércio surge das trocas dos excedentes agrícolas e das atividades de


criação de animais, que ocorreu com o desenvolvimento de técnicas, aumentando a
produtividade e consequentemente possibilitando o estoque de produtos, antes
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escassos. As trocas de excedentes, concedeu a possibilidade de consumir produtos


de difícil obtenção, já que os povos tinham suas especificidades culturais e naturais.
considerando que cada grupo tinha suas próprias peculiaridades e limitações, o
comércio possibilitou ganhos e melhorias no bem-estar dos povos, diante do
aumento da diversidade de produtos.

No início das relações comerciais, as trocas casuais não afetaram as


estruturas dos grupos pela existência de uma grande diversidade entre eles. Alguns
tinham a agricultura como principal atividade, outros grupos eram especializados na
criação de animais. Esse fato criou, uma alimentação bem especifica, tal que, alguns
grupos eram praticamente vegetarianos, outros mais carnívoros. Com o comércio a
mudança na dieta não ocorreu de modo acentuado, porém foi bem gradual, o que
inviabilizava de certa forma o comércio. Um exemplo importante, da diversidade
existente na dieta dos povos, são as diferenças entre as preferências dos cereais
que inicialmente fez com que as trocas não tivessem grande impacto entre os
grupos.

Com o surgimento da agricultura, da criação de animais e do trabalho regular


coletivo, isso levou o homem a procurar os locais que davam maior facilidade para
desenvolver suas atividades. Tendo as margens dos grandes rios condições
altamente favoráveis para agricultura e a criação de animais utilizando um trabalho
sistemático e organizado. No final do período neolítico nasceram as primeiras
grandes civilizações em torno dos rios, entre elas a Mesopotâmia e o Egito sendo
essas regiões possuidoras de altíssimas condições para o desenvolvimento das
atividades produtivas que surgem no decorrer do período neolítico.

3. O comércio no crescente fértil e o início da civilização

O Oriente Médio, é uma região, seca, quente e desértica em sua maior parte.
Porém nela pode ser encontrada uma vasta porção de terra fértil, que se estende,
em torno do golfo Pérsico até o vale do Nilo, conhecida como Crescente Fértil. Muito
dos acontecimentos da antiguidade ocorreram nessa região produtiva, além de ser o
berço de importantes civilizações. Na região norte, onde fica localizado o atual
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Iraque, havia grandes impérios, onde as civilizações mesopotâmicas


desenvolveram-se. Já mais ao sul havia outra grande civilização a egípcia. Foi no
crescente fértil que surgiu o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo. Todavia diante
dessa pluralidade cultural, o oriente médio foi caracterizado como uma região de
tensões e conflitos.

Figura 2: Crescente Fértil

fonte 1:https://historiablog.org/2008/10/02/pre-historia/

Ao longo da história diversas tribos, migraram para a região do Crescente


Fértil em busca de melhores condições de vida. Com o passar do tempo a
agricultura desenvolveu-se, tornando-se indispensável as obras de irrigação, e
permitindo a ampliação da produção de alimentos. Portanto decorre a necessidade
da criação de um Estado, possuidor até mesmo de um exército, capaz de unificar os
interesses individuais e construir obras de cunho social. Nesse contexto houve a
possibilidade de organizar e submeter os homens tanto ao trabalho no campo como
na realização de obras de irrigação, permitindo a sobrevivência de todos. Esse fato
também acabou determinando uma primeira estratificação social, aparecendo no
topo uma elite política possuidora das terras. Esses povos receberam o nome de
civilizações hidráulicas, já que todas organização social e política tinha por objetivo o
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controle das águas e da produção agrícola. Dentre as civilizações hidráulicas


podemos destacar o Egito e as civilizações da Mesopotâmia.

O termo Mesopotâmia criado por Heródoto, significa terra entre rios, e unifica
geograficamente as diversas civilizações que habitavam o vale do Tigre e Eufrates.
As enchentes que ocorriam na Mesopotâmia eram muito violentas e não possuía
uniformidade, diferentemente das enchentes observadas no Egito em função da
regularidade apresentada pelo rio Nilo.

A Mesopotâmia fica localizada nas regiões norte e leste do Crescente Fértil e


é irrigada pelo rio Tigre e o rio Eufrates. Conforme Marques (1995), foi uma região
por onde passava muitos povos nômades, oriundos das mais diversas religiões, cujo
alguns grupos se instalaram no local. O solo é rico e as pessoas cultivam essas
terras há milhares de anos. Esses dois grandes rios são alimentados pela a neve
que cai nas altas montanhas a noroeste. Porém se nevasse demais, ou se a
temperatura elevasse rapidamente, isto provocaria um degelo repentino e ocorreria
desastrosas inundações, que seriam fatais para à agricultura. A ocupação do vale
começou em 6.500 a.c. e as primeiras aldeias se formaram ao norte, na alta
Mesopotâmia, pois nessa área a agricultura estava livre das inundações. As regiões
mais baixas só foram povoadas a partir dos sumérios, acádios e caldeus, que
desenvolveram técnicas de irrigação.

Um dos primeiros relatos da história dessa região pode ser encontrado na


Bíblia, mais especificamente no livro do Gênesis, que mostra a história da criação na
perspectiva judaico-cristã. Na Bíblia essa região é relatada como um paraíso,
conhecido como “Jardim do Edén”, com alta fertilidade, natureza exuberante, rico em
fauna, flora e em recursos minerais. Além dos rios Tigre e Eufrates é descrito
também os rios Pisom e Giom. Diante dos vastos recursos naturais, essa região
permitiu o desenvolvimento humano e certamente pode ser descrita como o berço
da civilização.

Segundo o arqueólogo David Rohl, que se diz agnóstico, o Éden foi o berço
da civilização. Para ele não foi ali que surgiu o primeiro homem, mas foi ali que
surgiu a primeira tribo capaz de dominar a agricultura e domesticar animais. A
hipótese de que nas regiões montanhosas a noroeste também habitou povos
evoluídos é aceita por muitos arqueólogos. Resíduos de potes encontrados indica
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que já se fermentava vinho e cerveja na região há cerca de 5000 anos (BARROS,


1999).

Conforme Turci (2008), Simultaneamente a criação de obras de irrigação, as


cidades foram sendo criadas. Os primeiros centros urbanos, relatados na história
encontram-se na Baixa Mesopotâmia. As primeiras cidades foram resultado da soma
do crescimento urbano com o aumento da produção de alimentos, em oposição a
caça. O sistema hidráulico garantiu a utilização dos pântanos na agricultura evitando
inundações e armazenando água para a utilização nos períodos de seca. Mantendo
desse modo um certo nível de controle sobre o regime dos rios Tigre e Eufrates. Os
mesopotâmios não se caracterizavam por uma unidade política, pois sempre
predominou os pequenos Estados, que tinham nas cidades seu centro político,
conhecido como cidades-estados. Assim cada cidade controlava seu território e sua
rede de irrigação. Apesar da independência política esses pequenos Estados eram
interdependentes economicamente, criando um dinâmico processo de trocas. Porém
diante de situações de guerra havia alianças e uniões que formavam Estados
maiores, monárquicos, cujo o poder real era outorgado por origem divina.

Conforme Silva (2016), os sumérios foram uma das primeiras civilizações da


Mesopotâmia, e se destacaram por terem desenvolvido a primeira forma de escrita
da humanidade, chamada de cuneiforme. Construíram grandes obras, como
barragens e reservatórios, que eram utilizados nos períodos de seca. Na suméria
desenvolveram-se grandes cidades-estados, das quais as mais conhecidas são Ur,
Uruk, Nippur e Eridu. Essa civilização foi marcada pela desigualdade social, já que
havia uma elite detentora das terras, que explorava o trabalho do camponês. o
regime era monárquico, com a presença de um rei que era auxiliado por um
conselho de anciões e cada cidade possuía um grande templo, conhecido como
zigurate. O primeiro grande império centralizado da Mesopotâmia foi o acádio que
conquistaram os sumérios.

De acordo com Georgia (2015), os acádios foram conquistados pelos


amoritas, estes que se instalaram na cidade da babilônia. Hamurabi rei da babilônia
conseguiu unificar toda região fundando o primeiro império babilônico, a cidade se
transformou no maior centro urbano de sua época, constituídas por magnificas obras
arquitetônicas. O poder legislativo era bem organizado baseado na lei de talião,
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desenvolveu-se o primeiro código de leis da humanidade, o código de Hamurabi.


Apesar de ser um Estado extremamente organizado, os babilônicos, sofreram com
diversas invasões. Posteriormente no reinado de Nabucodonosor, teve início o
império neobabilônico, nesse período a sociedade da Mesopotâmia viveu seu auge.

Na extremidade sul do crescente fértil, fica localizado o Egito. Conforme


Marques (1995), os egípcios antigos dependiam das inundações anuais do Nilo,
para irrigar as terras e iniciar as plantações, após as cheias o solo ficava úmido e
fértil. Porém longe da área irrigada o Egito é seco e improdutivo. As colheitas
regulares tornavam o Egito próspero. Como é relatado na bíblia, através da história
de José do Egito, havia um processo extremamente eficiente de estocagem de
alimento capaz de atravessar com segurança, os períodos de secas mais severas.
Com baixo índice de pluviométrico e clima desértico, a terra precisava ser
constantemente irrigada durante a época de cultivo, então os egípcios
desenvolveram o shaduf, que era um instrumento utilizado para encher os canais de
irrigação.

Conforme Doberstein (2010). a sociedade egípcia, era dividida em várias


camadas, no topo estava o faraó, sendo considerado inclusive um deus. Sacerdotes,
militares e escribas, também se destacavam socialmente. E na base estavam os
escravos, que em geral eram prisioneiros de guerra. Que sustentava o estado
egípcio era o trabalho escravo e os impostos pagos por artesões, camponeses e
pequenos comerciantes. Nesse sentido a escrita egípcia, teve a importância de
organizar de certa forma as finanças públicas, a partir do controle dos impostos,
registrados em papiro. A civilização egípcia também se destacou na matemática,
com a construção das pirâmides e templos, e na medicina com através das técnicas
de mumificação. Há a hipótese de que os avanços civilizatórios, como a engenharia
hidráulica, o calendário, a monarquia e a escrita, surgiram primeiro na Mesopotâmia
e depois se propagaram para o Egito.

A necessidade dos afluentes, possibilitou a utilização dos rios para as


atividades produtivas, levando a uma maior organização dos recursos hídricos, o
que demandou maior trabalho, levando fertilidade ao solo e consequente
abundancia de produtos agrícolas. A construção de uma infraestrutura para a
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utilização dos rios foi um dos motivos do surgimento das civilizações que levaram ao
homem maior abundância de alimentos.

Rezende Filho e Barros (1992) esclarecem que:

[...]na área que engloba a Mesopotâmia e o Egito, denominada de


Crescente fértil, apesar das cheias dos rios fertilizarem anualmente o
solo, permitindo uma alta produção agrícola, ou precisamente por
causa de sua ocorrência, houve a necessidade de um grande volume
constante de trabalho coletivo, para a construção e manutenção de
diques, barragens, canais e reservatórios, que levou à formação de
sociedades urbanizadas e complexas, baseadas na irrigação.
(REZENDE FILHO; BARROS,1992, p.13).

Os mesopotâmicos e os povos egípcios viviam em locais de muita fertilidade,


acionada pela abundante presença de água tendo grandes excedentes de produção
agrícolas, precisavam de outros produtos nos quais em suas localidades eram bem
mais escassos precisando então de um comércio bem mais forte que o que tinha
antes. Foi desenvolvido um comércio que tinha como objetivo suprir suas
necessidades de matérias primas e produtos fundamentais formando assim um
grupo de comerciantes, transportadores dos itens do comércio.

O comércio começa a se desenvolver mais fortemente com o surgimento das


cidades pois antes as trocas não tinham grande impacto sobre os grupos. Conforme
Pinsky (1939) as transações comerciais entre os grupos neolíticos antes do
surgimento das cidades não impactaram consideravelmente a vida dos grupos.

Pinsky (1939) esclarece que:

[...]Contatos entre tribos neolíticas deveriam ser


frequentes e até amistosos. Encontros de pastores nos
pastos e de agricultores nos oásis ocorreram muito, sem,
contudo, transformarem em integração política. Trocas
eventuais de produtos excedentes não alteram a estrutura
dos grupos. (PINSKY,1939, p. 39).
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O comércio se desenvolve com o crescimento das civilizações pois os seus


excedentes produtivos são trocados por matérias primas de supriam as suas
necessidades, o comércio desenvolvido entre as cidades também fez elas
desenvolverem-se pois com as necessidades de produtos essenciais antes não
produzidos e agora obtidos levou as sociedades uma facilidade em desenvolver-se.

Os comerciantes têm essencial papel no comércio da antiguidade sendo eles


os quem procuravam e convenciam os grupos de fora da sua cidade para produzir
os produtos necessários as suas cidades. Essa produção intermediada pelos
comerciantes que levou os povos vizinhos a alterar os seus costumes pois a
produção se tornou muito superior ao que antes estavam habituados. O comércio
que antes era apenas um artificio que não alterava com profundidade a vida dos
indivíduos agora com o desenvolvimento das cidades o comércio tem papel
fundamentas na vida das civilizações e dos grupos nos quais eles interagem.

4. O comércio entre as primeiras civilizações

Na Mesopotâmia a produção agrícola era a base da sua economia


dependendo de um grande número de trabalhadores em obras de irrigação e
produção. Mesmo com um alto nível de produção agrícola a Mesopotâmia no seu
sistema de produção focado na agricultura depende do comércio externo para a
obtenção das matérias primas básicas. Os povos mesopotâmios precisavam de
matérias primas como madeiras e metais então a especialização da produção
agrícola se tornou mais viável do que a diversidade produtiva tendo o comércio
fundamental importância na cultura dessa civilização.
A dependência do comércio exterior para a Mesopotâmia fez com que a
produção artesanal surgisse em maior escala com intuito de estabelecer comércio
em troca das matérias primas nas quais a sociedade necessita. A produção
Mesopotâmia tomou-se mais organizada focada em alguns segmentos tendo
pessoas ou até escravos cumprindo horários de trabalho e um sistema bancário
focado no empréstimo para agricultores e comerciantes.
A economia Mesopotâmia adota um tipo de moeda que serve como a
conhecida função da moeda atual uma medida comum de valor para facilitar as
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trocas entre os produtos, a adoção da moeda facilitou bastante o comércio interno


quando todos adotarem esse tipo de recurso. A moeda destaca-se mais no comércio
interno pois a diversidade cultural entre os diferentes povos dificulta a sua
disseminação inicial.
O ativo comércio exterior desenvolvido pela Mesopotâmia tem como essência
a troca de seus produtos agrícolas em madeiras, mármores, metais e marfim. Seu
comércio era feito com lugares da África, Síria, Líbano, Ásia, Pérsia, Arábia e Índia.
O comércio entre os indivíduos das próprias cidades mesopotâmicas era
diversificado graças ao comércio exterior tendo a presença de bazares como ponto
de encontro para a obtenção dos produtos necessários para os indivíduos.
Diferente da Mesopotâmia o Egito não era dependente do comércio externo
pois tinha como obter grande parte das suas matérias primas internamente tendo
uma boa autossuficiência. Havia uma necessidade de comércio exterior para poucos
setores como os madeira na qual existia carência desse material no Egito e de
alguns produtos específicos nos quais eram demandados pela parcela mais ricas da
sociedade.
A Civilização minoica de Creta era rica em madeira (produto de forte
demanda da civilização Mesopotâmica) e sendo geograficamente favorecida para o
comércio marítimo. Entre suas atividades comerciais se destaca a pesca e o cultivo
de vinhas e oliveiras permitindo o seu desenvolvimento urbano. O comércio marítimo
se destaca nas atividades comerciais de Creta tendo sido conhecida como uma
civilização comercial.
Os povos Fenícios também são conhecidos pelas suas atividades comerciais
pois devido sua impotência para a agricultura por causa da qualidade do seu solo os
fenícios tinham o comércio como essencial fonte de sobrevivência. Conforme
Kormikiari (2004) os fenícios procuraram estabelecer uma política de aumento do
comércio externo. O conhecimento nas navegações marítimas e a presença
excedente de materiais necessários para ouras civilizações como é o caso da
madeira tornou os fenícios especialistas nas atividades comerciais sendo uma
civilização que tornou a produzir o que era demandado pelas outras civilizações.

Kormikiari (2004) esclarece que:


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[...]Uma política comercial expansionista e de dominação de


mercados estrangeiros, no que se refere ao "monopólio" das
matérias-primas, foi empreendida pelos fenícios já a partir do século
XI a.c. (KORMIKIARI,2004, p.130).

Os Fenícios tinham como sua principal atividade econômica o comércio, com


essa atividade eles desenvolveram técnicas de navegação e descobriram rotas de
comércio tornando-se os maiores navegadores da antiguidade. Os Fenícios se
destacavam no comércio de escravos e de produtos artesanais tendo como
principais produtos armas, joias, vidros e tecidos. O comércio transformou a
sociedade Fenícia de um modo que o contato com outros povos fez com que os
fenícios incorporassem aspectos de várias culturas desenvolvendo as ciências.
Com intuito de aprimorar suas atividades comerciais os fenícios fundaram
pontos de apoio nos litorais do Mediterrâneo. Esses pontos de apoio se tornaram
tipos de colônias que facilitavam as rotas de comércio fenícias sendo elas portos de
embarque e desembarque comercias tornando-se os maiores comerciantes do
mediterrâneo no primeiro milênio antes de Cristo.

Figura 2: Rotas de comércio entre as colônias Fenícias

Fonte: http://www.efecade.com.br/fenicios

O comércio entre as primeiras grandes civilizações fez mudar suas estruturas


econômicas de um jeito que se houver uma quebra de relações comerciais
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externamente ou internamente desenvolveria uma grande escassez de produtos


para as civilizações.
A existência de uma certa especialização na produção oriunda de especificidades
culturais e regionais fez o comércio se tornar a única fonte de obter diversidade.
O papel dos comerciantes é essencial para esse então novo sistema de
comércio pois tornou mais fácil a troca dos excedentes na produção até se
desenvolver um sistema de comércio em que cada lugar se focava na produção de
determinados produtos cada vez mais se especializando e contribuindo para o
desenvolvimento das civilizações como um todo.

5. O Comércio Acompanhando o Crescimento

A especialização no trabalho decorrente de diversos fatores faz com que para


que a produtividade do trabalho aumente os trabalhadores gastassem um número
maior de tempo na realização de suas atividades. Essa especialização faz com que
a produtividade aumente pois Segundo Adam Smith na sua obra A Riqueza das
Nações os indivíduos se especializam em determinada atividade para trocar seus
excedentes por produtos necessários para sua sobrevivência sendo que a divisão do
trabalho leva o aprimoramento da produção.

Silva (2011) esclarece que:

[...]Smith relata a tendência natural dos seres humanos ao comércio,


escambo, a troca de produtos e serviços. Os seres humanos
procuram então se especializar em uma determinada ocupação para
daí poder negociar seus excedentes produtivos. Todas essas
transformações levam a divisão do trabalho e consigo o
aprimoramento da produção. (SILVA,2011, p.2).

Mesmo considerando que a principal causa da especialização na produção da


antiguidade é dos fatores naturais presentes no ecossistema das civilizações e em
fatores culturais leva a considerar a ideia de que divisão do trabalho que ocorre por
meio de que cada civilização produz determinados produtos leva a o aprimoramento
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da agricultura, extração, artesanato, criação de animais e outros meios produtivos


das primeiras civilizações.
Considerando que as peculiaridades de cada grupo e civilização deixaram
determinado ramo de trabalho mais produtivo que outro como é o caso da
Mesopotâmia que tinha como cultura a produção agrícola podemos nos leva a
considerar que o comércio foi uma das atividades mais importantes para o
crescimento das cidades. Com o intermédio do comércio para trocar os excedentes
produtivos nos quais cada sociedade produzia oque para ela era mais produtivo nos
leva a pensar que ficou mais fácil obter as matérias primas necessárias para o
desenvolvimento das civilizações.
No caso do Egito e da Mesopotâmia que necessitavam de matérias primas
como madeira para desenvolver sua produção agrícola o comércio veio para facilitar
a obtenção dessas matérias escassas nesses locais facilitando a produção agrícola
que era a especialidade dessas civilizações.
O comércio nos períodos finais Neolíticos não faz mudanças tão profundas
nas sociedades, mas com o crescimento das civilizações ele se torna de grande
para a história da humanidade. O desenvolvimento dos meios de troca fez parte do
desenvolvimento das primeiras civilizações auxiliando o crescimento produtivo e a
urbanização e levando um inevitável conhecimento das ciências e a invenção da
escrita.

6. Considerações Finais

Considerando a revisão bibliográfica, realizada tudo nos leva a sugerir, que o


comércio inicialmente não impactou a vida dos indivíduos, mas com o crescimento
das cidades, as trocas se intensificaram, demandando inovações e o comércio foi o
pilar para desenvolvimento das civilizações. O comércio ajudou o crescimento das
grandes civilizações por meio da maior facilidade da obtenção de matérias primas
tendo o comerciante e o produtor um papel importantíssimo nesse processo
facilitando aprimoramento da produção, da estocagem e da comercialização, o que
ajudou a aumentar os excedentes.
Com base nas pesquisas bibliográficas, realizadas pode-se concluir que o
desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais, outrora selvagens,
possibilitou as condições necessárias para o surgimento do comércio. E foi através
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das relações de trocas que a humanidade conseguiu desenvolver-se. As primeiras


civilizações, ao se organizarem para viver em sociedade, criaram importantes
vínculos comercias e intelectuais. Isso proporcionou a difusão do progresso e do
conhecimento, aumentando de um modo geral o bem estar social, através da
criação e do aperfeiçoamento do Estado, da escrita, da matemática, das ciências
naturais, das engenharias e por fim da racionalidade adquirida através desse longo
processo evolutivo de destruições e criações. Portanto a sociedade atual é produto
das conquistas das civilizações primitivas, que conseguiu desenvolver a capacidade
de pensar e de moldar o mundo a sua volta.
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7. Referências bibliográficas
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