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1.Lógica Matemática
O estudo da lógica é o estudo dos métodos e dos princı́pios utilizados para distinguir o
raciocı́nio correto do incorreto.
1 Proposições
Definição 1.1. Chama-se proposição todo conjunto de palavras ou sı́mbolos que exprimem um
pensamento de sentido completo, sendo ele verdadeiro ou falso.
As proposições são determinadas por sentenças pertencentes a uma certa linguagem e as
sentenças formam um conjunto de palavras ou sı́mbolos pertencentes a uma lı́ngua e que
expressam uma idéia. Somente as sentenças declarativas determinam uma proposição, pois
somente elas expressam significados que podemos dizer ser verdadeiros ou falsos. Por exemplo,
são proposições as afirmações
• 2 é um número natural;
• por dois pontos passa uma única reta;
• Campo Grande é a capital do Mato Grosso do Sul.
Uma proposição é uma sentença declarativa, na qual são válidos os seguintes princı́pios:
1. Princı́pio da Indentidade: garante que uma proposição é igual a si mesma;
2. Princı́pio da não-contradição: uma proposição não pode ser verdadeira e falsa;
3. Princı́pio do terceiro excluı́do: uma proposição ou é verdadeira ou é falsa, não existe
uma terceira alternativa.
A propriedade fundamental de uma proposição de ser VERDADEIRA (V) ou FALSA (F) é
denominada valor verdade ou valor lógico da proposição.
Definição 1.2. Chama-se proposição simples aquela que não contém nenhuma outra proposição
como parte integrante de si mesma.
Ou seja, quando a proposição, ao ser decomposta em sujeito lógico e predicado lógico, cor-
responde à expressões com sentido incompleto. Por exemplo, a proposição “João é professor”,
ao ser decomposta no sujeito lógico “João”e no predicado lógico “é professor”, corresponde à
expressões com sentido incompleto.
Definição 1.3. Chama-se proposição composta aquela formada pela combinação de duas ou
mais proposições.
As proposições simples geralmente são designadas pelas letras minúsculas p, q, r, s, . . ., en-
quanto as proposições compostas pelas letras maiúsculas P, Q, R, S, . . .. Exemplos de proposições
compostas podem ser dados por
P: Carlos é professor e Pedro é estudante;
Q: Se Carlos é gaúcho, então é brasileiro.
1
2 Tabelas-Verdade
Chamamos de conectivos as palavras que se usam para formar novas proposições a partir
de outras. Os conectivos freqüentemente usados na matemática são ∧, ∨, → e ↔, designados,
respectivamente, por conjunção, disjunção, condicional e bi-condicional.
Ao formar proposições compostas através de proposições p, q, . . ., com os conectivos ∧, ∨,
→, ↔ e a negação ∼, obtemos o que denominaremos forma sentencial, ou seja, uma expressão
da forma P (p, q, . . .). As proposições p, q, . . ., são denominadas variáveis sentenciais.
Para que se possa determinar o valor lógico de uma proposição composta, usamos de um
dispositivo chamado tabela-verdade, que construı́mos usando os conectivos ∧, ∨, →, ↔ e a
negação ∼. Essa tabela pode ser construı́da para qualquer forma sentencial P (p, q, . . .), relacio-
nando o valor lógico de P com os valores lógicos de p, q, . . ..
2.1 Conjunção
Definição 2.1. Sejam p e q proposições. A conjunção das proposições p e q, denotada por p∧q
(lê-se “p e q”), é uma nova proposição que assume o valor lógico verdadeiro somente quando p
e q forem verdadeiras simultaneamente.
Em uma proposição composta com duas componentes tal como p ∧ q, existem 22 = 4 possi-
bilidades, chamadas as possibilidades lógicas a serem consideradas:
1. p é verdadeira e q é verdadeira;
2. p é verdadeira e q é falsa;
3. p é falsa e q é verdadeira;
4. p é falsa e q é falsa.
De uma forma geral, para uma proposição com n variáveis, existem 2n possibilidades lógicas.
Assim, a tabela-verdade para p ∧ q é dada por
p q p∧q
V V V
V F F
F V F
F F F
2.2 Disjunção
Definição 2.2. Sejam p e q proposições. A disjunção das proposições p e q, denotada por
p ∨ q (lê-se “p ou q”), é uma nova proposição que assume o valor lógico verdadeiro quando p ou
q forem verdadeiras (não necessariamente simultâneas).
A tabela-verdade para p ∨ q é dada por
p q p∨q
V V V
V F V
F V V
F F F
A palavra “ou”pode ter dois significados. Por exemplo:
P: Sou mineiro ou estudo matemática;
p q pYq
V V F
V F V
F V V
F F F
2.3 Negação
Definição 2.4. Dada uma proposição p, a negação de p, denotada por ∼ p, é uma proposição
com valor lógico contrário ao valor lógico de p.
p ∼p
V F
F V
2.4 Condicional
Definição 2.5. Sejam p e q proposições. A condicional de p e q, denotada por p → q (lê-se
“p condiciona q”), é uma nova proposição que assume o valor lógico falso somente quando p for
verdadeira e q for falsa.
p q p→q
V V V
V F F
F V V
F F V
p q q→p
V V V
V F V
F V F
F F V
2.5 Bicondicional
Definição 2.6. Sejam p e q proposições. A bicondicional de p e q, denotada por p ↔ q
(lê-se “p bicondiciona q”), é uma nova proposição que assume o valor lógico verdadeiro somente
quando p e q forem verdadeiras ou p e q forem falsas.
(p → q) ∧ (q → p),
p q p↔q
V V V
V F F
F V F
F F V
Exemplo 2.1. Vamos construir a tabela verdade para a proposição composta de ∼ [(∼ p)∧(∼ q)].
p q ∼p ∼q (∼ p) ∧ (∼ q) ∼ [(∼ p) ∧ (∼ q)]
V V F F F V
V F F V F V
F V V F F V
F F V V V F
Essa tabela serve apenas para facilitar a construção da tabela-verdade, que deve conter apenas
as subproposições e a proposição composta desejada. Nesse caso, temos
p q ∼ [(∼ p) ∧ (∼ q)]
V V V
V F V
F V V
F F F
Observe que utiliza-se parênteses “()” ou colchetes “[]” para definir prioridades.
Exemplo 2.2. Vamos construir a tabela-verdade de uma maneira diferente. Considere a proposição
Façamos primeiro a seguinte tabela onde separamos por colunas todos os conectivos, as negações
e as proposições simples.
p q ∼ (p ∧ ∼ q)
V V V V F F V
V F F V V V F
F V V F F F V
F F V F F V F
Etapa 4 1 3 2 1
Construı́mos a tabela por etapas, seguindo as prioridades. A solução será a última etapa; nesse
caso, a etapa 4.
3 Inferência e Equivalência Lógica
3.1 Tautologia e Contradição
Definição 3.1. Uma forma sentencial P (p, q, . . .) é uma tautologia se ela assume o valor
lógico verdadeiro, quaisquer que sejam os valores lógicos das variáveis sentenciais. Uma forma
sentencial P (p, q, . . .) é dita uma contradição se ela assume o valor lógico falso, quaisquer que
sejam os valores lógicos das variáveis sentenciais.
Observação 3.1. Como uma tautologia é sempre verdadeira, a negação de uma tautologia é
sempre falsa, e, portanto, é uma contradição.
Exemplo 3.1. A proposição ∼ (p∧ ∼ p) é tautológica, conforme a tabela-verdade
p ∼p p∧ ∼ p ∼ (p∧ ∼ p)
V F F V
F V F V
Observa-se que a proposição p∧ ∼ p é uma contradição. Isso quer dizer que uma proposição ser,
simultaneamente, verdadeira e falsa é falso.
Teorema 3.1. (Princı́pio da Substituição): Se P 0 (p, q, . . .) é uma tautologia, então P 0 (P, Q, . . .)
também é uma tautologia, para quaisquer proposições P , Q, . . .
p ∼p ∼ (∼ p)
V F V
F V F
Como a primeira e a terceira coluna são idênticas, temos a equivalência lógica desejada. Essa
equivalência lógica é denominada lei da dupla negação.
Como conseqüência, temos que se P (p, q, . . .) ⇔ Q(p, q, . . .), então P (p0 , q0 , . . .) ⇔ Q(p0 , q0 , . . .)
para quaisquer proposições p0 , q0 , . . .
Os próximos resultados estabelecerão as principais inferências e equivalências lógicas.
a) Leis de adição: p ⇒ p ∨ q e q ⇒ p ∨ q.
b) Leis de simplicação: p ∧ q ⇒ p e p ∧ q ⇒ q.
d) Modus Ponens: (p → q) ∧ p ⇒ q.
Prova. Faremos os ı́tens a) e c). Os outros deixaremos para exercı́cio. Vamos construir as
tabelas-verdade.
p q p → (p ∨ q) p q q → (p ∨ q)
V V V V V V V V V V V V V V
V F V V V V F V F F V V V F
a)
F V F V F V V F V V V F V V
F F F V F F F F F F V F F F
Etapa 1 3 1 2 1 Etapa 1 3 1 2 1
Como, pela etapa 3, a condicional é uma tautologia, temos uma implicação lógica.
p q (p ∨ q) ∧ ∼p → q
V V V V V F F V V
V F V V F F F V F
c)
F V F V V V V V V
F F F F F F V V F
Etapa 1 2 1 3 2 4 1
Como, pela etapa 4, a condicional é uma tautologia, temos uma implicação lógica.
a) (p → q) ⇔ (∼ p) ∨ q.
b) (p ↔ q) ⇔ (p → q) ∧ (q → p).
p q (p → q) ↔ (∼ q → ∼ p)
V V V V V V F V F
V F V F F V V F F
F V F V V V F V V
F F F V F V V V V
Etapa 1 3 1 4 2 3 2
p q (p → q) ↔ (p ∧ ∼ q) → c
V V V V V V V F F V F
V F V F F V V V V F F
F V F V V V F F F V F
F F F V F V F F V V F
Etapa 1 3 1 5 1 3 2 4 1
¤
a) ∼ (p ∧ q) ⇔ (∼ p∨ ∼ q).
b) ∼ (p ∨ q) ⇔ (∼ p∧ ∼ q).
Prova. Demosntraremos o item a). O item b) fica como exercı́cio. Vamos construir a tabela-
verdade simplicada da bicondicional
∼ (p ∧ q) ↔ (∼ p∨ ∼ q).
p q ∼ (p ∧ q) ↔ (∼ p ∨ ∼ q)
V V F V V V V F F F
V F F V V F V F F V
F V F F V V V V F F
F F V F F F V V V V
Etapa 3 1 2 1 4 2 3 2
Dessa forma, como a bicondicional é uma tautologia, temos uma equivalência lógica. ¤
a) Leis comutativas: p ∧ q ⇔ q ∧ p e p ∨ q ⇔ q ∨ p.
b) Leis de idempotências: p ∧ p ⇔ p e p ∨ p ⇔ p.
Prova. Vamos demonstrar a primeira lei distributiva. A demonstração das outras leis serão
deixadas como exercı́cio. Devemos mostrar então que a bicondicional p∧(q ∨r) ↔ (p∧q)∨(p∧r)
é uma tautologia. Considere a tabela-verdade
p q r p ∧ (q ∨ r) ↔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
V V V V V V V V V V V V V V V V
V V F V V V V F V V V V V V F F
V F V V V F V V V V F F V V V V
V F F V F F F F V V F F V F F F
F V V F F V V V V F F V F F F V
F V F F F V V F V F F V F F F F
F F V F F F V V V F F F F F F V
F F F F F F F F V F F F F F F F
Etapa 1 3 1 2 1 4 1 2 1 3 1 2 1
Logo, pela etapa 4, temos que a proposição em questão é uma tautologia, e assim, temos uma
equivalência lógica. ¤
Teorema 3.7. Seja t uma tautologia, c uma contradição e p uma proposição qualquer. Então
a) c ⇒ p b) p ⇒ t c) p∧t ⇔ p d) p∨t ⇔ t e) p∧ ∼ p ⇔ c
f ) p∧c ⇔ c g) p∨c ⇔ p h) ∼ t ⇔ c i) ∼ c ⇔ t j) p∨ ∼ p ⇔ t
Prova. Faremos os itens a), b), c) e g). Deixaremos os itens restantes como exercı́cio. Considere
as tabelas-verdade dos itens a), b), c) e g):
c p c→p t p p→t
a) F V V b) V V V
F F V V F V
p t p ∧ t ↔ p
V V V V V V V
c)
F V F F V V F
Etapa 1 2 1 3 1
p c p ∨ c ↔ p
V F V V F V V
g)
F F F F F V F
Etapa 1 2 1 3 1
O próximo resultado nos garante que podemos trocar em uma proposição composta, duas
sub-proposições equivalentes.
Teorema 3.8. Se p é equivalente a s, então P (p, q, r, . . .) é equivalente a P (s, q, r, . . .).
p q (p ∨ ∼ p) ↔ [(p ∨ q) ∨ ∼ p] p q p ↔ p ∨ q
V V V V F V V V V V F V V V V V V V
V F V V F V V V F V F V F V V V V F
F V F V V V F V V V V F V F F F V V
F F F V V V F F F V V F F F V F F F
Etapa 1 3 2 5 1 3 1 4 2 Etapa 1 3 1 2 1
Observação 3.3. Se p implica s, não podemos afirmar que P (p, q, r, . . .) é equivalente a P (s, q, r, . . .).
De fato, temos a ∧ b ⇒ t, mas a ∧ b → d não é equivalente a t → d, onde a, b e d são proposições
e t uma tautologia. Vejamos as tabelas-verdade:
a b d [(a ∧ b) → d] ↔ (t → d)
V V V V V V V V V V V V
a b a ∧ b → t V V F V V V F F V V F F
V V V V V V V V F V V F F V V V V V V
V F V F F V V V F F V F F V F F V F F
F V F F V V V F V V F F V V V V V V V
F F F F F V V F V F F F V V F F V F F
Etapa 1 2 1 3 1 F F V F F F V V V V V V
F F F F F F V F F V F F
Etapa 1 2 1 3 1 4 1 2 1
Como último resultado de interesse nas demonstrações, temos a reflexividade e a transitivi-
dade da inferência e da equivalência lógica e a simetria da equivalência lógica.
Teorema 3.9. Sejam p, q e r proposições quaisquer. Então
a) p ⇒ p.
b) p ⇔ p.
c) Se p ⇔ q, então q ⇔ p.
d) Se p ⇒ q e q ⇒ r, então p ⇒ r.
e) Se p ⇔ q e q ⇔ r, então p ⇔ r.
Prova. Os itens a), b) e c) são imediatos. Quanto ao item d), a única possibilidade de p → r
ser falsa ocorre quando p é verdadeira e r é falsa. Nesse caso, como p ⇒ q, devemos ter q
verdadeiro e, como q ⇒ r, devemos ter r verdadeiro, assim não é possı́vel r ser falso quando
p é verdadeiro. No item e), observamos que p e q possuem a mesma tabela-verdade, pois são
logicamente equivalentes. Pelo mesmo motivo, temos q e r com a mesma tabela-verdade. Logo,
p e r possuem a mesma tabela-verdade, e, portanto, são logicamente equivalentes. ¤
Resumimos na tabela abaixo todos os resultados que obtivemos até aqui. Denotaremos as
proposições por letras maiúsculas para indicar que podem ser proposições compostas quaisquer
(ou formas sentenciais).
TABELA RESUMO
REGRAS DE INFERÊNCIA
1 Adição P ⇒P ∨Q Q⇒P ∨Q
2 Simplificação P ∧Q⇒P P ∧Q⇒Q
3 Silogismo Disjuntivo (P ∨ Q)∧ ∼ P ⇒ Q
4 Modus Ponens (P → Q) ∧ P ⇒ Q
5 Modus Tollens (P → Q)∧ ∼ Q ⇒∼ P
6 Dilema Construtivo (P → Q) ∧ (R → S) ⇒ (P ∨ R) → (Q ∨ S)
7 Dilema Destrutivo (P → Q) ∧ (R → S) ⇒ [(∼ Q∨ ∼ S) → (∼ P ∨ ∼ R)]
8 Lei Transitiva (P → Q) ∧ (Q → R) ⇒ (P → R)
9 Contradição e Tautologia c⇒P P ⇒t
10 Inferência por Casos (Q → P ) ∧ (R → P ) ⇒ [(Q ∨ R) → P ]
11 Inferência por Eliminação [P → (Q ∨ R)]∧ ∼ R ⇒ (P → Q)
12 União P ∧Q⇒P ∨Q
EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS
1 Condicional (P → Q) ⇔∼ [P ∧ (∼ Q)] P → Q ⇔ (∼ P ) ∨ Q
2 Bicondicional (P ↔ Q) ⇔ [(P → Q) ∧ (Q → P )]
3 Lei da Dupla Negação ∼ (∼ P ) ⇔ P
4 Leis Comutativas P ∧Q⇔Q∧P P ∨Q⇔Q∨P
5 Leis de Idempotência P ∧P ⇔P P ∨P ⇔P
6 Lei Contrapositiva (P → Q) ⇔ [(∼ Q) → (∼ P )]
7 Reductio Ad Absurdum (P → Q) ⇔ (P ∧ ∼ Q) → c
8 Leis de De Morgan ∼ (P ∧ Q) ⇔ [(∼ P ) ∨ (∼ Q)] ∼ (P ∨ Q) ⇔ [(∼ P ) ∧ (∼ Q)]
9 Leis Associativas (P ∧ Q) ∧ R ⇔ P ∧ (Q ∧ R) (P ∨ Q) ∨ R ⇔ P ∨ (Q ∨ R)
10 Leis Distributivas P ∧ (Q ∨ R) ⇔ (P ∧ Q) ∨ (P ∧ R) P ∨ (Q ∧ R) ⇔ (P ∨ Q) ∧ (P ∨ R)
11 Contradição P ∨c⇔P P ∧c⇔c P ∧ (∼ P ) ⇔ c ∼c⇔t
12 Tautologia P ∨t⇔t P ∧t⇔P P ∨ (∼ P ) ⇔ t ∼t⇔c
13 Substituição (p ⇔ s) ⇒ [P (p, q, r, . . .) ⇔ P (s, q, r, . . .)]
4 Quantificadores
Existem sentenças que não há como decidir se assumem valor lógico verdadeiro ou falso. Por
exemplo:
“x2 + 2x − 5 = 0”
“T é um triângulo eqüilátero”
Essas sentenças são denominadas proposições abertas ou predicados, e o sujeito lógico
envolvido nessas sentenças, nesse caso x e T , é denominado variável. Nessas sentenças não
está definido o que chamamos de Universo de discurso, que denotaremos por U , que são os
elementos que a variável pode assumir, a fim de tornar-se uma proposição.
Há duas maneiras formais de transformar uma proposição aberta em uma proposição, através
do que chamamos de quantificadores. Em algumas bibliografias, denomina-se essas proposições
criadas por proposições quantificadas. Considere, por exemplo, a proposição
onde “os seres humanos”, nesse caso, formam o universo de discurso. Podemos expressá-la
também como
“Para cada x no universo, x é mortal”
onde x simboliza “um homem”. A frase “Para cada x no universo”é chamada quantificador
universal, simbolizada por “∀ x”. A proposição aberta “x é mortal”designa alguma propriedade
sobre x; simbolizamos isso por p(x). Assim, podemos reescrever a proposição original “Todos
os seres humanos são mortais”como
(∀ x) (p(x)).
De uma maneira geral, essa expressão pode ser lida como:
Agora, consideremos a proposição “Alguns seres humanos são mortais”. Aqui, o universo de
discurso continua sendo o mesmo do exemplo anterior. Podemos reescrevê-la como
ou
“Existe pelo menos um x, tal que p(x)”.
A frase “Existe pelo menos um x, tal que”é chamada quantificador existencial, simbolizado
por “∃ x”. Podemos reescrever a proposição original “Alguns seres humanos são mortais”como
(∃ x) (p(x)).
Observação 4.1. Observe que (∃! x) (p(x)) ⇒ (∃ x) (p(x)), mas a recı́proca não é verdadeira.
Exemplo 4.1. Considere a proposição “f (x) = 0, para todo x”. Podemos rescrevê-la como
(∀ x) (f (x) = 0).
Definição 4.1. Seja p(x) uma proposição com uma variável x em um universo de discurso.
Definimos a negação dos quantificadores por:
Analogamente,
Definição 4.2. Quando temos uma proposição verdadeira em uma proposição composta pelo
quantificador universal ou existencial, apresentar um exemplo é escolher um objeto x em U ,
para o qual a proposição é verdadeira.
Definição 4.3. Quando um quantificador universal não é uma proposição verdadeira, significa
que existe pelo menos um objeto x para o qual p(x) não é verdadeira. Esse objeto x escolhido
determina um exemplo para a não-validade da proposição e é denominado contra-exemplo.
Exemplo 4.2. Considere a proposição (∀ x)(x2 − 1 < 0), onde U = R. Essa proposição não
é verdadeira. Basta tomar x = 1 e teremos um contra-exemplo. De fato, para x = 1, temos
x2 − 1 ≥ 0. Observe, no entanto, que existem valores de x que satisfazem a equação. Basta
tomar x = 0, donde temos −1 < 0, ou seja, x = 0 é um exemplo. Entretanto, esse exemplo não
garante a veracidade da proposição para todo x.
Exemplo 4.3. Considere a proposição (∀ n)(n2 é um número par), onde U é o conjunto dos
números inteiros pares. Essa proposição é verdadeira para qualquer n em U . De fato, sendo n
um inteiro par, podemos escrevê-lo na forma n = 2k, com k inteiro. Daı́,
n2 = (2k)2 = 4k 2 = 2(2k 2 ).
Como 2k 2 ainda é um inteiro, a igualdade n2 = 2(2k 2 ) nos permite concluir que n2 é par.
Portanto, a proposição é verdadeira.
Teorema 4.1. Se p é uma proposição aberta e b pertence a um universo de discurso, então:
a) (∀ x) (p(x)) ⇒ p(b);
b) (∀ x) (p(x)) ⇒ (∃ x) (p(x)).
Prova. Dado um universo de discurso U , se (∀ x) (p(x)) é verdadeira, então p(b) é verdadeira
para cada b pertencente a U . Tomando x = b, teremos que (∃ x) (p(x)) é verdadeira.
Teorema 4.2. Sejam p(x) e q(x) proposições abertas. Então:
a) [(∀ x) (p(x)) ∨ (∀ x) (q(x))] =⇒ (∀ x) (p(x) ∨ q(x)).
b) (∀ x) (p(x) ∧ q(x)) ⇐⇒ [(∀ x) (p(x)) ∧ (∀ x) (q(x))].
c) [(∃ x) (p(x)) ∨ (∃ x) (q(x))] ⇐⇒ (∃ x) (p(x) ∨ q(x)).
d) (∃ x) (p(x) ∧ q(x)) =⇒ [(∃ x) (p(x)) ∧ (∃ x) (q(x))].
Prova. Em todos os itens, consideraremos um universo de discurso U .
a) Se a proposição (∀ x) (p(x)) ∨ (∀ x) (q(x)) é verdadeira, então temos que, ou (∀ x) (p(x))
é verdadeira, ou (∀ x) (q(x)) é verdadeira, ou ambas são verdadeiras. Suponhamos que
(∀ x) (p(x)) é verdadeira; nesse caso, para todo x em U , p(x) ∨ q(x) é verdadeira, e assim,
a proposição (∀ x) (p(x) ∨ q(x)) é verdadeira. O caso em que (∀ x) (q(x)) é verdadeira nos
leva à mesma conclusão. Assim, pela definição de implicação lógica, temos o resultado
desejado.
b) Se (∀ x) (p(x) ∧ q(x)) é verdadeira, temos que, para todo x em U , p(x) e q(x) são ambas
verdadeiras. Logo, (∀ x) (p(x)) e (∀ x) (q(x)) são ambas verdadeiras. Assim, pela definição
de implicação lógica, temos o resultado desejado.
Para a recı́proca, se (∀ x) (p(x)) ∧ (∀ x) q(x)) é verdadeira, então (∀ x) (p(x)) e (∀ x) (q(x))
são ambas verdadeiras. Logo, para todo x em U , temos p(x) e q(x) ambas verdadeiras.
Assim, temos (∀ x) (p(x) ∧ q(x)) verdadeira e, pela definição de implicação lógica, temos o
resultado desejado.
c) Se (∃ x) (p(x)) ∨ (∃ x) (q(x)) é verdadeira, então temos que, ou (∃ x) (p(x)) é verdadeira, ou
(∃ x) (q(x)) é verdadeira, ou ambas. Suponhamos que (∃ x) (p(x)) seja verdadeira; nesse
caso, existe x em U tal que p(x) ∨ q(x) é verdadeira e, deste modo, (∃ x) (p(x) ∨ q(x))
é verdadeira. O caso (∃ x) (q(x)) é análogo, e nos leva à mesma conclusão. Assim, pela
definição de inferência, temos o resultado desejado.
Para a recı́proca, se (∃ x) (p(x) ∨ q(x)) é verdadeira, então temos que existe x em U tal
que, ou p(x) é verdadeira, ou q(x) é verdadeira, ou ambas. Suponhamos que (∃ x) (p(x)) é
verdadeira; nesse caso, (∃ x) (p(x))∨(∃ x) (q(x)) é verdadeira. Para (∃ x) (q(x)) verdadeira,
o resultado é análogo. Assim, pela definição de inferência, temos o resultado desejado.
d) Se (∃ x) (p(x) ∧ q(x)) é verdadeira, temos que existe x em U tal que p(x) e q(x) são ambas
verdadeiras. Logo, (∃ x) (p(x)) e (∃ x) (q(x)) são verdadeiras e, pela definição de implicação
lógica, temos o resultado desejado.
Observação 4.2. No teorema anterior, as recı́procas dos itens a) e d) não são verdadeiras. De
fato, considere
U = {−1, 0, 1}
p(x) : x2 − 1 = 0
q(x) : x2 = 0.
Então, (∀ x) (p(x) ∨ q(x)) é verdadeira, mas [(∀ x) (p(x)) ∨ (∀ x) (q(x))] é falsa. Temos também
que [(∃ x) (p(x)) ∧ (∃ x) (q(x))] é verdadeira, mas (∃ x) (p(x) ∧ q(x)) é falsa.
(∃ x) (2x + y = 24)
ainda não é uma proposição, pois seu valor lógico, embora dependa de x, depende ainda da
variável y, que ainda está livre. Assim, essa proposição permanece aberta em y. Isso também
ocorre com a expressão
(∀ y)(2x + y = 24),
pois agora é uma proposição aberta em x.
Dessa forma, para transformarmos uma proposição aberta com mais de uma variável em uma
proposição, precisamos aplicar sucessivamente os quantificadores até esgotarmos as variáveis
livres. Para uma proposição aberta com n variáveis, existem 2n+1 maneiras de acrescentar esses
n quantificadores. Para o caso n = 2, temos:
(∀ x) (∃ y) (2x + y = 24)
obtida pelo acréscimo dos quantificadores na proposição aberta 2x + y = 24, é verdadeira, pois,
para todo x inteiro, escolhemos y = 24 − 2x que é um número inteiro. Já a proposição
(∀ y) (∃ x) (2x + y = 24)
24 − y
é falsa, pois, para todo y, x = nem sempre é inteiro.
2
Utilizando a mesma proposição,
(∀ x) (∀ y) (2x + y = 24)
Teorema 4.3. Seja p(x, y) uma proposição aberta, com duas variáveis livres. Então:
c) Se (∃ x) (∀ y) (p(x, y)) é verdadeira, temos que existe algum x1 tal que p(x1 , y) é verdadeira
para todo y. Assim, para todo y, escolhemos o mesmo x1 e teremos p(x1 , y) verdadeira.
Logo, (∀ y) (∃ x) (p(x, y)) é verdadeiro, pois vale para p(x1 , y). Assim, pela definição de
inferência, temos o resultado desejado.
d) Para tornarmos uma proposição aberta p(x, y) em uma proposição, é necessário que acres-
centemos dois quantificadores. Assim,
onde tomamos (∀ y) (p(x, y)) = qy (x), ou seja, olhamos para (∀ y) (p(x, y)) como uma
sentença somente de x, com y fixo. Logo,
são primos, o que lhe animou a conjecturar que P (n) é um número primo para todo n ∈
{0, 1, 2, . . .}. Porém, mais de cem anos depois, Leonhard Euler mostrou que P (5) não é primo,
refutando a conjectura de Fermat:
xn + y n = z n .
Somente 356 anos depois, Andrew Wiles conseguiu demonstrar a veracidade dessa conjectura.
Exemplo 5.4. É par qualquer número do conjunto {10, −234, 4578, 1200}.
Exemplo 5.7. Se p for um número primo, então d(p) = 2p−1 − 1 é divisı́vel por p2 .
No primeiro exemplo, basta verificar um número finitos de casos. Nos outros exemplos, essa
estratégia é insuficiente.
No segundo exemplo, a afirmação é válida para todo 1 ≤ n ≤ 40. No entanto, para n = 41,
a afirmação é falsa. Alerta-se que a pseudo-demonstração continuaria sendo não aceita mesmo
que a afirmação da conjectura fosse verdadeira.
No terceiro exemplo, sendo n um inteiro par, podemos escrevê-lo na forma n = 2k, com k
inteiro. Daı́,
n2 = (2k)2 = 4k 2 = 2(2k 2 ).
Como 2k 2 ainda é um inteiro, a igualdade n2 = 2(2k 2 ) nos permite concluir que n2 é par.
Portanto, afirmação é verdadeira.
No quarto exemplo, a afirmação é verdadeira até p = 1092. Contudo, d(1093) é divisı́vel por
(1093)2 .
Ao empregarmos o método dedutivo, podemos chegar a uma conclusão através da utilização
de uma ou mais proposições. Esse procedimento nos leva ao conceito de argumento. Admitiremos
intuitivamente o conceito de seqüência finita.
Definição 5.1. Um argumento é uma seqüência finita de n + 1 proposições H1 , H2 , . . . , Hn , T ,
onde T se diz conseqüência das demais. Denotaremos
H1 , H2 , . . . , Hn ` T.
H1 , H2 ` T,
onde
H1 : Se eu estudar, fico cansado.
T : Se eu estudar durmo.
Observe que a conclusão decorre das premissas.
A validade de um argumento não é a garantia da verdade da sua conclusão.
Exemplo 5.9. Considere o argumento
H1 , H2 , H3 ` T,
onde
H1 : Por dois pontos passa uma única reta.
T : 1+0=1.
Veja que todas as premissas e a conclusão são verdadeiras. No entanto, não está muito claro a
“validade”do argumento.
Definição 5.2. Sejam H1 , H2 , . . . , Hn e T proposições quaisquer. Diremos que o argumento
H1 , H2 , . . . , Hn ` T é válido se a conclusão T for verdadeira sempre que as premissas H1 , H2 , . . . , Hn
tiverem valor lógico verdadeiro.
Teorema 5.1. Um argumento H1 , H2 , . . . , Hn ` T é válido se, e somente se,
H1 ∧ H2 ∧ . . . ∧ Hn =⇒ T
[(p → q)∧ ∼ p] ;∼ q.
p q [(p → q) ∧ ∼ p] → ∼ q
V V V V V F F V V F V
V F V F F F F V V V F
F V F V V V V F F F V
F F F V F V V F V V F
Etapa 1 2 1 3 2 1 4 2 1
Para determinar a validade de um argumento, podemos utilizar outros argumentos já vali-
dados. Essa é a base do método dedutivo, ao contrário das tabelas-verdade.
Por outro lado, ao desenvolvermos uma teoria, não é possı́vel validar todos os argumentos.
Alguns deles deverão ser considerados já válidos, os chamados axiomas. Nesse contexto, os três
princı́pios da lógica clássica, que foram assumidos no inı́cio do texto, são axiomas.
Vamos apresentar o conceito formal de demonstração:
H1 , H2 , . . . , Hn , T1 , T2 , . . . , Tp , T,
A → V, B → Z, A ∨ B, ∼ Z ` V.
1 A→V hipótese 1
2 B→Z hipótese 2
3 A∨B hipótese 3
4 ∼Z hipótese 4
5 ∼B (2,4,Modus Tollens)
6 A (3,5,Lei comutativa, Silogismo disjuntivo)
7 V (1,6,Modus Ponnens)
Observe que, se utilizássemos o método da tabela-verdade, terı́amos que construir uma tabela
com 32 casos. Na solução pelo método dedutivo, utilizamos 7 passos!
Como conseqüência do método direto e da transitividade da implicação, temos a demon-
stração da equivalência lógica de várias proposições simultaneamente.
Consideremos as proposições p1 , p2 , . . . , pn e suponhamos que devemos demonstrar que todas
as implicações são logicamente equivalentes entre si. Não é necessário mostrar a validade de todos
os argumentos da forma pi ` pj , i = 1, . . . , n, j = 1, . . . , n. De fato, primeiramente mostremos
a validade dos argumentos pi `, pi + 1, i = 1, . . . , n − 1, e pn ` p1 . Finalmente, utilizamos
a transitividade e ficam válidos os outros argumentos da seguinte maneira: Sejam m, k com
possı́veis valores distintos em 1, 2, . . . , n. Se m < k, o argumento pm ` pk é validado utilizando
a transitividade sobre os argumentos pm+i ` pm+i+1 , i = 0, 1, . . . , k − m − 1. Se m > k, o
argumento pm ` pk é validado utilizando a transitividade sobre os argumentos
• pm+i ` pm+i+1 , i = 0, 1, . . . , n − m − 1,
• pn ` p1 ,
• pi ` pi+1 , i = 1, . . . , k − 1.
Esse processo diminui sensivelmente o número de argumentos a serem validados, pois, se
tivéssemos que validar todos os possı́veis, terı́amos no total n(n − 1) argumentos. Utilizando a
transitividade, se m < k, teremos k − m argumentos a serem validados e, se m > k, teremos
n − m + 1 + k − 1 = n + k − m argumentos a serem validados. Esse procedimento é denominado
demonstração cı́clica.
Utilizando a lei contrapositiva (P → Q) ≡ (∼ Q →∼ P ), temos o que chamamos de
demosntração contrapositiva.
Exemplo 5.14. Provemos a seguinte proposição: (∀ x ∈ Z) (x é par ⇔ x2 é par).
Vamos mostrar, por contraposição, a recı́proca
não é verdade que x é par ⇒ não é verdade que x2 é par,
ou seja
x é ı́mpar ⇒ x2 é ı́mpar.
De fato,
x é ı́mpar ⇒ x = 2k + 1, para algum k ∈ Z,
logo
x2 = (2k + 1)2 = 4k 2 + 4k + 1 = 2(2k 2 + 2k) + 1.
Como 2k 2 + 2k é um inteiro, temos que x2 é um inteiro ı́mpar.
H1 : (p ∨ q) → r, H2 : s → p ∧ u, H3 : q ∨ s, T : r.
Vejamos,
1 (p ∨ q) → r hipótese 1
2 s→p∧u hipótese 2
3 q∨s hipótese 3
4 ∼r negação da tese
5 ∼ (p ∨ q) (1,4, Modus Tollens)
6 ∼ p∧ ∼ q (5, Leis de De Morgan)
7 ∼p (6, Simplificação)
8 ∼q (6, Simplificação)
9 s (3,8, Silogismo disjuntivo)
10 p∧u (2,9, Modus Ponnens)
11 p (10, Simplificação)
12 p∧ ∼ p (11,7, Conjunção)
Exemplo 5.17.
√
Teorema 5.2. 2 é um número irracional.
√
Prova. Vamos raciocinar por absurdo. Suponhamos que 2 seja um número racional, ou seja,
√ m m
2 = , com m e n inteiros, e n não-nulo. Podemos assumir que mdc(m, n) = 1, ou seja,
n n
é irredutı́vel. Assim, teremos 2m2 = n2 e, conseqüentemente, n2 é par. Logo, n também é par.
Tomando n = 2k, com k inteiro, temos então que 2m2 = 4k 2 , ou seja, m2 = 2k 2 . Logo, temos
m
que m2 é par, e assim, m também é par. Então, não é irredutı́vel, o que é uma contradição.
√ n
Logo, 2 é irracional. ¤
Veja que nessa demonstração não usamos uma tabela e cada uma das conclusões parcias foi
justificada no próprio texto. Alguns resultados já ficaram implı́citos como p2 é par ⇔ p é par.
Para finalizarmos a demonstração, colocamos um sı́mbolo gráfico do tipo ¤.
Se utilizássemos o prodecimento formal, terı́amos:
√
1 x= 2 hipótese 1
2 p2 é par ⇔ p é par resultado já provado
3 x= m m
n , com n irredutı́vel negação da tese
4 x2 = 2 (1,elevando ao quadrado)
5 2
2m = n 2 (3,4, igualdade)
6 n = 2k, k inteiro (2,5, definição de número par)
7 2
m = 2k 2 (5,6, operações nos inteiros)
8 m é par (7,2, definição de número par)
9 m e n são pares (6,8)
10 m e n são pares e m n irredutı́vel (9,3, Conjunção)
Exemplo 5.18. Se n estiver no universo dos números naturais, então
n2 + 2n + 3 6= (n + 1)2 − 5.
n2 + 2n + 3 = (n + 1)2 − 5 ⇒ n2 + 2n + 3 = n2 + 2n + 1 − 5
⇒ n2 + 2n + 3 = n2 + 2n − 4
⇒ 3 = −4,
1 n∈N hipótese 1
2 n2 + 2n + 3 = (n + 1)2 − 5 negação da tese
3 n2 + 2n + 3 = n2 + 2n + 1 − 5 (2,expandindo o quadrado)
4 n2 + 2n + 3 = n2 + 2n − 4 (3, soma)
5 3 = −4 (4, soma)
Observemos ainda que, em muitas situações, surgem expressões do tipo: “sem perda de
generalidade, podemos supor que”, “de maneira análoga”, “analogamente”, etc. Essas expressões
têm por objetivo simplificar o processo de demonstração e subentendem que a demonstração
do resultado não está comprometida, pois foram omitidos argumentos que possuem a mesma
seqüência de raciocı́nio lógico.
p(n) : n2 − n + 41.
Para 0 ≤ n ≤ 40, todos os números em p(n) são primos, o que nos leva a induzir que p(n) é
primo para todo n em N. No entanto, o argumento falha para n = 41.
Dada uma proposição P (n), n ∈ N, em que condições P (n) é verdadeira? Induzindo uma lei
geral sobre P (n), em que condições P (n) é verdadeira para todo n?
1(1 + 1)
1 =
2
2(2 + 1)
1+2 =
2
3(3 + 1)
1+2+3 =
2
4(4 + 1)
1+2+3+4 =
2
Poderı́amos fazer k verificações, mas nunca poderı́amos afirmar que P (n) é verdadeira baseado
nesses testes. Se fizéssemos isso, estarı́amos usando o raciocı́nio indutivo. Mas podemos resolver
isso utilizando o método dedutivo. Primeiramente, observemos que P (1) é verdadeira. Logo,
podemos supor que P (k) é verdadeira, para algum k, ou seja,
k(k + 1)
P (k) : 1 + 2 + . . . + k =
2
é verdadeiro. Utilizando esse fato, temos que
k(k + 1)
1 + 2 + . . . + k + (k + 1) = + (k + 1).
2
Mas
k(k + 1) k(k + 1) + 2k + 2
+ (k + 1) =
2 2
k(k + 1) + 2(k + 1)
=
2
(k + 1)(k + 2)
= ,
2
(k + 1)(k + 2)
donde concluı́mos que 1+ 2 +. . . +k +(k +1) = , e assim, dedutivamente, obtemos
2
que P (k + 1) é verdadeira.
1◦ Princı́pio de Indução Finita: Seja P (n) uma proposição aberta envolvendo um número
natural n e suponha que:
Observação 5.2. Pelo 1◦ Princı́pio da Indução Finita, no exemplo 5.20, temos que a proposição
(∀ n ∈ N) (P (n)) é verdadeira.
Observação 5.3. A verificação da validade da parte i) não é suficiente para garantir que (∀ n ∈
N) (P (n)) é verdadeira. Isso acontece no exemplo 5.19.
Observação 5.4. A verificação da validade da parte ii) também não é suficiente para garantir
que (∀ n ∈ N) (P (n)) é verdadeira. De fato, considere
P (n) : n2 + n é ı́mpar.
Logo, (k + 1)2 + (k + 1) é a soma de (k 2 + k), que é ı́mpar pela hipótese de indução, com 2(k + 1)
que é par. Logo, (k + 1)2 + (k + 1) é ı́mpar e, portanto, P (k + 1) é verdadeira. Entretanto,
(∀ n ∈ N) (P (n)) não é verdadeira, pois basta considerar n = 1 ou observar que n2 +n = n(n+1),
onde um dos fatores sempre será par e, portanto, o produto também será par.
2◦ Princı́pio de Indução Finita: Seja P (n) uma proposição aberta envolvendo um número
natural n e suponha que:
Exemplo 5.22. Considere o problema: “Como multiplicar dois números naturais utilizando
somente as operações soma, multiplicação por 2 e divisão por 2”. A solução desse problema é
chamada aritmética do camponês russo.
Para multiplicar a e b, colocamos esses números encabeçando duas colunas. Na primeira
coluna, dobramos os números, e na segunda coluna, dividimos por 2, ignorando a parte decimal.
Continuamos até que apareça 1 na segunda coluna. Terminado esse processo, construı́mos uma
terceira coluna, colocando em correspondência a cada número ı́mpar da segunda coluna, o número
da primeira coluna. O resultado do produto é a soma dos números da terceira coluna.
Vamos encontrar o resultado de 311 × 116.
Coluna 1 Coluna 2 Soma
311 116
622 58
1244 29 1244
2488 14
4976 7 4976
9952 3 9952
19904 1 19904
36076
Se denotarmos a soma dada na terceira coluna por Produto(a, b), podemos verificar que, para
a, b ≥ 1, temos
i) P roduto(a, 1) = a
b
P roduto(2a, 2 ),
se b é par
ii) P roduto(a, b) =
P roduto(2a, b − 1 ) + a,
se b é ı́mpar.
2
Vamos mostrar que, por indução em b, que
P roduto(a, b) = a.b,
utilizando o 2◦ Princı́pio da Indução Finita. Aqui estamos considerando a fixo. De fato, con-
sidere a proposição
P (b) : P roduto(a, b) = a.b
Temos, pelo item i), que P (1) é verdadeira. Suponhamos que (∀ k ∈ N, k ≥ n0 )[(P roduto(a, r) =
a.r) ∧ (n0 ≤ r < k)] seja verdadeira. Então, pelo item ii), temos
k
P roduto(a, k) = P roduto(2a, )
2
ou
k−1
P roduto(a, k) = P roduto(2a, ) + a.
2
k k−1
Como e são menores do que k, temos dois casos:
2 2
1) Se k é par,
k k
P roduto(a, k) = P roduto(2a, ) = 2a. = a.k.
2 2
2) Se k é ı́mpar,
k−1 k−1
P roduto(a, k) = P roduto(2a, ) + a = 2a. + a = a.(k − 1) + a = a.k.
2 2
Logo, P (k) é verdadeiro e, portanto, P (b) é verdadeiro para todo b, ou seja, P roduto(a, b) = a.b.
Referências
[1] João R. Gerônimo and Valdeni S. Franco. Fundamentos de Matemática. Uma introdução à
lógica matemática, teoria dos conjuntos, relações e funções. Eduem: Editora da Universidade
Estadual de Maringá (UEM), 2008.