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DESAFIOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL DA

EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL


CHALLENGES IN PANDEMIC TIMES: THE EMERGENCY REMOTE TEACHING IN THE PHYSICAL
EDUCATION OF FUNDAMENTAL EDUCATION

OLIVEIRA, Tálita Regina Henrique de; FERREIRA, Verônica Moreira Souto;


SILVA, Maria Ivonaide Félix Duarte da.1

Grupo Temático 1. Ensino e aprendizagem por meio de/para o uso de TDIC


Subgrupo 1.1 Aprender por meio das diferentes tecnologias – da educação básica à pós-graduação

Resumo:
Diante da importância e obrigatoriedade da Educação Física na educação básica
brasileira e o contexto da pandemia de COVID-19, buscou-se relacionar a utilização de
TIC e as aulas de EF Escolar. Compreender a dinâmica educacional no campo da
Educação Física no ensino fundamental nos dias atuais define o objetivo geral. Para
tanto, a pesquisa foi desenvolvida com base no método bibliográfico, optando-se por
utilizar artigos de jornais, publicações governamentais e sites relacionados a educação, a
fim de contribuir na elaboração do texto. Apresentamos a importância da manutenção
de uma rotina de exercícios e atividades físicas, e identificamos o uso das TIC na
Educação Física Escolar antes da pandemia, intensificado no contexto atual, além de
abordar questões inerentes a exclusão digital, contextualizando os obstáculos que
permeiam o uso das tecnologias. Os resultados preliminares apontam que a prática
pedagógica emergencial, diante da COVID-19, pode contribuir para a reflexão dos
docentes e profissionais da área. Nesse sentido, sinalizamos a importância da
continuidade de pesquisas que envolvam os componentes da educação básica, inclusive
a Educação Física, diante das TIC, a fim de promover um ensino cada vez mais atual e
que contribua para a formação integral dos estudantes.
Palavras-chave: Educação Física Escolar, TIC, COVID-19, ensino remoto emergencial.

Abstract:
In view of the importance and obligation of the Physical Education in Brazilian basic
education and the context of the pandemic of COVID-19, we sought to relate the use of
ICT and School PE classes. Understanding the educational dynamics in the field of
Physical Education in elementary education nowadays defines the general objective. For
this purpose, the research was developed based on the bibliographic method, opting to
use newspaper articles, government publications and education-related websites, in
order to contribute to the elaboration of the text. We present the importance of
maintaining an exercise and physical activity routine, and identified the use of ICT in
School Physical Education before the pandemic, intensified in the current context, in
addition to addressing issues inherent to digital exclusion, contextualizing the obstacles 1
that permeate the use of technologies. The preliminary results indicate that the
emergency pedagogical practice, before COVID-19, can contribute to the reflection of
teachers and professionals in the area. In this sense, we signal the importance of
continuing research involving the components of basic education, including Physical

1 PUC - São Paulo; UFPA; UNIP - São Paulo.


Education, in the face of ICTs, in order to promote an increasingly current education that
contributes to the integral training of students.
Keywords: School Physical Education, ICT, COVID-19, emergency remote education.

1. Introdução
A EF é uma disciplina obrigatória na educação brasileira (BRASIL, 1996). De acordo
com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) a organização do ensino no Brasil é
dividida em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Durante o Ensino
Fundamental, a criança passa por um estágio de desenvolvimento do despertar para o
aprendizado. Período de várias transformações, no aprendizado, no desenvolvimento motor,
na interação social e psicomotora. Nessa faixa etária os estímulos devem ser constantes
devido às diversas transformações do desenvolvimento infantil. O “novo” deve ser sempre
inserido no cotidiano da criança para que aprenda a lidar com as situações do dia-a-dia e
aprender a vencer obstáculos.
De acordo com Freire (1992), as práticas corporais devem ser entendidas como uma
ferramenta pedagógica importantíssima no decorrer do ensino fundamental, uma vez que “a
mão escreve o que a mente pensa a respeito do mundo com o qual a criança interage”
(FREIRE, 1992, p. 81). Nesse sentido, para os alunos do ensino fundamental, as aulas de
Educação Física desenvolvem habilidades e capacidades físicas, objetivando a formação
integral do indivíduo (BRASIL, 1996).
Levando-se em consideração a inserção de TIC nas aulas de Educação Física, também
é possível detectar adversidades, uma vez que nem todos os alunos têm acesso à internet ou
sequer fazem uso de um aparelho que permite acessar as informações (MORAN, 1997). No
contexto da EF, definimos TIC como importante recurso para a preparação de ações
pedagógicas, cabendo ao professor problematizar constantemente situações para um
despertar crítico sobre a espetacularização esportiva na TV, estimular perspectivas sobre a
mídia, partindo de iniciativas de cada região ou escola.
As informações diárias e atualizações no número de casos e de vítimas da COVID-19
causam ansiedade, estresse, medo, depressão entre outros (RAIOL, 2020). Nesse sentido,
exercícios e atividades físicas contribuem para amenizar esse quadro emocional, ajudando a
regular a taxa de hormônios importantes para o bom funcionamento do organismo, dentre
eles a endorfina, responsável pela sensação de bem estar e que atua no alívio de dores,
contribui para a melhora do humor, além de melhorar a disposição física e mental (CRUZ;
ALBERTO FILHO; HAKAMADA, 2013).
O momento exige o isolamento social, e, assim, a ausência de aulas de EF gera
inquietudes nas crianças e pais. Porém, com a aplicação adequada da TIC, as crianças podem
ser estimuladas a essa prática em ambiente domiciliar, utilizando diversos métodos 2
inerentes às práticas físicas. Vista como um grande aliado para o desenvolvimento dos
educandos, de maneira geral, a TIC torna-se uma via de mão dupla. Entende-se que as
adversidades provenientes da pandemia de COVID-19 contribuíram para a valorização
dessas TIC, o que nos levou a refletir quanto a aplicação nas aulas de Educação Física escolar.
Contudo, é necessário considerar as dificuldades relacionadas ao uso dessas tecnologias.
A utilização de informações presentes em plataformas oficiais, blogs e sites podem
ser significativas, capazes de embasar trabalhos relevantes. Nesse sentido, pergunta-se:
Como as aulas de Educação Física do ensino fundamental estão sendo realizadas durante a
pandemia de COVID-19? Sendo o objetivo geral: Compreender a atual dinâmica educacional
no campo da Educação Física no ensino fundamental. E, objetivos específicos: Apresentar o
contexto educacional frente à pandemia; Analisar a utilização de Tecnologias de Informação
e Comunicação nas aulas de Educação Física; Discutir as alternativas utilizadas para
continuidade das aulas de EF durante a pandemia.

2. Metodologia
As medidas de contenção do vírus Sars-Cov2, causador da COVID-19, estabeleceram
uma nova realidade social, possibilitando investigações em diversas áreas de conhecimento.
E, partindo do entendimento de que pesquisa é um “procedimento racional e sistemático
que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (GIL,
2002, p. 17), buscou-se investigar as problemáticas que permeiam a temática definida.
Para alcançar os objetivos delineados, foi definido como caminho metodológico uma
pesquisa com base no método bibliográfico, que prevê a consulta e análise de dados obtidos
a partir de livros, periódicos, artigos de jornais, sites, bem como outros tipos de publicações
(PIZZANI et al., 2012). Relacionando fontes diversas, articuladas a partir do cenário
educacional frente à pandemia.
Por se tratar de um novo cenário mundial, novas produções ainda estão sendo
desenvolvidas, dificultando a coleta em periódicos e livros. Optou-se, portanto, por utilizar
artigos de jornais, publicações governamentais e conteúdos de sites relacionados a
educação, a fim de contribuir na elaboração do texto.
Conforme Minayo e Sanches (1993), “conhecimento científico é sempre uma busca
de articulação entre uma teoria e a realidade empírica; o método é o fio condutor para se
formular esta articulação” (p. 240). Assim sendo, as informações reunidas a partir da
pesquisa supracitada serão analisadas e relacionadas tendo como parâmetro aspectos
qualitativos, com o intuito de aprofundar a observação do objeto estabelecido (MINAYO;
SANCHES, 1993).

3. A utilização das TIC nas aulas de Educação Física


Através do mapeamento de textos encontrados sobre a utilização de Tecnologias da
Informação e Comunicação nas aulas de Educação Física antes da pandemia verifica-se como
esse tipo de metodologia vem sendo usada e as dificuldades encontradas pelos professores
para manter atividades desse tipo. 3

Ao falar em TIC no meio educacional faz-se necessário um breve histórico sobre o


desenvolvimento tecnológico frente à EF Escolar. E, com embasamento em alguns estudos,
notam-se aspectos comuns que já se faziam importantes antes dos acontecimentos atuais.
Muitos professores já faziam uso das ferramentas tecnológicas como complemento
das atividades desenvolvidas no âmbito escolar, uma vez que o tempo disponível para as
aulas a maioria das vezes não é suficiente para todo o conteúdo proposto.
Pode-se estabelecer a relação entre educação e tecnologias, focando a socialização
da inovação, ressaltando que “a presença de uma determinada tecnologia pode induzir
profundas mudanças na maneira de organizar o ensino” (KENSKI, 2012, p. 44).
Frente ao cenário atual onde crianças e adolescentes se comunicam com facilidade e
destreza, e navegam com leveza por conteúdos diversos, as mídias digitais podem ser usadas
para pesquisas e aprendizagens diversas. Diante da evolução da TIC nas práticas
educacionais em geral, “a Educação Física não se mostra alheia ao movimento de
informatização. Ainda que geralmente esteja associada à exclusividade de práticas corporais
e atividades físicas, esta área tem acompanhado o movimento tecnológico no meio
educacional” (GONÇALVES; FURTADO; GONÇALVES, 2019, p. 6).
Mesmo com os diversos avanços das TIC e sua utilização cada vez mais intensa na
sociedade, é possível observar muitos professores de EF que “limitam suas aulas a ensinar a
técnica pela técnica, ou seja, apenas aulas práticas que visam desenvolver movimentos
corporais” (MELO; BRANCO, 2011 apud MONTIEL; ANDRADE, 2016, p. 2). O professor de EF
não deve esquecer-se da parte prática da aula, e deve encontrar maneiras de utilizar as TIC
de forma que contribuam no desenvolvimento de suas aulas, motivando e incentivando a
participação dos alunos e da utilização da ferramenta na pesquisa de modalidades esportivas
não praticadas em ambiente escolar.
O uso das TICs, quando bem conduzido pode promover a interação entre
professores e alunos, o intercâmbio de informações e experiências, agindo
como uma “janela para o mundo”, isto é, permite que o educando
conquiste outros e novos espaços. Uma das principais características da
educação, envolvendo as TICs é o de promover o acesso às informações que
acaba provocando uma descentralização do poder de comunicar em sala de
aula, anteriormente, centrado na figura do professor (BIANCHI; HATJE;
2007, p. 293).
Se levarmos em consideração os princípios educacionais destacados por Rossetto
Júnior, Costa e D’angelo (2008), ao referirem-se sobre esporte educacional, que são a
inclusão de todos, a construção coletiva, o respeito à diversidade, a educação integral e o
rumo à autonomia, as pesquisas em ambientes virtuais são excelentes auxiliares.
Kenski apresenta as redes tecnológicas, citando a internet como o “espaço possível
de integração e articulação de todas as pessoas conectadas com tudo que existe no espaço
digital, o ciberespaço” (KENSKI, 2012, p. 34), e relata que o avanço das tecnologias digitais
define poderes baseados na velocidade de acesso às informações disponíveis nas redes.
4
Assim como afirmam Bianchi e Hatje (2007), o contínuo progresso tecnológico na
sociedade acaba facilitando o acesso às informações, ou seja, é possível identificar uma
democratização desse acesso, além de possibilitar um largo acesso a diversos dispositivos
digitais. Mas qual o alcance desse acesso? Como ficam os alunos em vulnerabilidade social
diante do desafio da pandemia?
No contexto atual acabamos sendo surpreendidos ao “considerar um leque de
aspectos relativos às tecnologias de informação e comunicação. A começar pelos papéis que
elas desempenham na construção de uma sociedade que tenha a inclusão e a justiça social
como uma das prioridades” (TAKAHASHI, 2001, p. 45 apud KENSKI, 2012, p. 65).
[...] utilizar-se das tecnologias digitais nas aulas de EF, é uma grande
possibilidade, pois se torna evidente sua influência no âmbito da cultura
corporal de movimento, abre possibilidades a diversas práticas corporais,
reproduzindo-as, e também as transformando e constituindo novos
modelos de consumo (MELO; BRANCO; 2011, p. 2993).
Para compreender a educação à distância, caracterizada pelas mídias digitais, isto é,
utilizando e-mails, fóruns, chats, tele e videoconferência, por exemplo, Kenski apoia-se em
Jacquinot (1993), que analisa a questão da distância em educação a partir de cinco aspectos
diferentes: o geográfico, o temporal, o tecnológico, o psicossocial e o socioeconômico.
Moran (1997) é realista ao complementar que “a distância hoje não é principalmente
a geográfica, mas a econômica (ricos e pobres), a cultural (acesso efetivo pela educação
continuada), a ideológica (diferentes formas de pensar e sentir) e a tecnológica (acesso e
domínio ou não das tecnologias de comunicação)” o que nos dias atuais se torna ainda mais
notório tendo em vista o distanciamento e consequências devido o COVID -19.

4. O ensino remoto emergencial e a continuidade do calendário letivo


A necessidade de minimizar aglomerações, a fim de conter o progresso da pandemia,
vem provocando mudanças substanciais no modelo educacional tradicionalmente utilizado
no Brasil. A evidente importância de manter o isolamento domiciliar (ESCHER, 2020)
possibilitou a utilização de TIC em vários níveis de ensino.
A partir da emissão da Portaria nº 343, de 17 de março de 2020, feita pelo Ministério
da Educação (MEC), foi autorizada a “substituição das disciplinas presenciais, em
andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação”
(BRASIL, 2020). Essa determinação passou a ser denominada de ensino remoto emergencial,
tendo em vista a necessidade de se manter um calendário letivo semelhante ao proposto
antes da pandemia, porém sem o contato inerente à educação tradicional (TOMAZINHO,
2020).
Também foi publicada a Medida Provisória nº 934, de 1º de abril de 2020, que prevê
a flexibilização do cumprimento dos 200 dias letivos obrigatórios na educação básica
(compreendida por educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), desde que
cumpra a carga horária mínima anual determinada pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB).
5
Apesar da importância do isolamento domiciliar, as orientações sobre a continuidade
das aulas no modelo de ensino remoto ainda não seguem um plano adequado, ficando a
critério dos órgãos governamentais, municipais e até dos próprios professores, estratégias
para o prosseguimento das atividades educacionais de nível básico. Diante disso, “a ausência
de parâmetros mínimos nacionais sobre que tipos de atividades devem ou não contar para
fins de equivalência traz sérios riscos no futuro imediato” (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2020).
Tendo em vista a Portaria nº 343 emitida pelo MEC, é de responsabilidade das
instituições “a disponibilização de ferramentas aos alunos que permitam o
acompanhamento dos conteúdos ofertados bem como a realização de avaliações” (BRASIL,
2020). Nesse sentido, as instituições de ensino privadas agiram rápido para manter as
atividades educacionais. As alternativas buscadas foram diversas, como aquisição de
plataformas para videoconferências, utilização de estúdios para gravação de aulas em vídeo,
atividades de leitura, escrita e resolução de exercício (RIBEIRO; BLOWER; COSTA, 2020).
As instituições privadas conseguiram implementar rapidamente um plano de ensino
remoto, a fim de atender os alunos e dar continuidade aos conteúdos. Essa proposta
emergencial está sendo possível graças a utilização de Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC), como mostra o Parecer nº 33, de 24 de março de 2020, emitido pelo
Conselho de Educação do Distrito Federal (CEDF), que acredita na possibilidade de
ampliar para toda a Educação Básica o uso das TIC com intencionalidade
pedagógica e acompanhadas e supervisionadas pelo docente em turmas
separadamente, respeitados os limites de acessos às diversas tecnologias
disponíveis às instituições educacionais e de seus respectivos estudantes
(CEDF, 2020, p. 6).
Nesse sentido, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) optou
por disponibilizar vídeo-aulas em plataformas online e em programação na tv aberta, a fim
de atender o maior número de alunos possível (SEEDF, 2020). De acordo com a Secretaria,
“na rede pública, serão viabilizadas aulas on-line por meio de uma plataforma que poderá
ser acessada pelo computador ou por aplicativo para celular” (SEEDF, 2020).
Assim como a SEEDF, Secretarias de Educação de diversos estados estão utilizando as
TIC para continuidade das aulas. Alguns estados estão utilizando apenas a transmissão em
TV aberta ou em outros apenas as plataformas online e por último alguns estados estão
fazendo uso conjunto de ambas as possibilidades (OLIVEIRA, 2020).
É possível observar o empenho da rede pública de ensino que também busca manter
as atividades escolares através das TIC, estabelecendo o ensino remoto emergencial. Apesar
da semelhança com o modelo de Ensino à Distância (EAD), que é “uma forma de ensino-
aprendizagem mediada por Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) que permitem
que o professor e o estudante estejam em ambientes físicos diferentes” (COSTA, 2017, p.
61), o ensino remoto emergencial encontra diversos obstáculos, complexificando o processo
de ensino-aprendizagem.
Dentre as adversidades, um ponto fundamental que dificulta a implementação do
ensino remoto é a exclusão digital e as dificuldades de acesso à internet. Embora haja uma
crescente utilização de aparelhos eletrônicos, com o Brasil ocupando uma das cinco
primeiras posições mundiais em número de smartphones (COUTINHO, 2014), não significa
que toda a população tenha acesso. As questões inerentes a exclusão digital estão 6
estritamente vinculadas a desigualdade social, além de manter relação com muitas
diferenças presentes entre as diversas regiões do país (SORJ; GUEDES, 2005).
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 30% da
população ainda não possui acesso à internet, porém é notável o aumento de pessoas
conectadas à internet através de aparelhos smartphones e uma diminuição na utilização de
computadores conectados à rede (IBGE, 2018). Dessa forma, a disponibilidade de conteúdos
online para a continuidade dos estudos dos alunos da rede pública é de fundamental
importância e de responsabilidade das Secretarias de Educação.
Diante disso, é válido afirmar que a inclusão digital passa a ser essencial para diminuir
as disparidades sociais, tanto para a implementação de um ensino remoto acessível quanto
na transformação da população, promovendo autonomia e mudanças significativas na
sociedade em geral (GROSSI; COSTA; SANTOS, 2013). Como alternativa válida para
implementação imediata de um ensino remoto acessível temos a transmissão de aulas nas
emissoras de televisão aberta, já que apenas 3,3% da população do país não possuem
aparelhos de televisão em seus domicílios (BRASIL, 2018).

5. A Educação Física escolar durante a pandemia


A Educação Física Escolar tem nas TIC uma importante ferramenta, como material de
apoio às aulas, facilitando a transmissão do aprendizado do educando, que já possui
facilidade aos meios de comunicação, como celulares e tablets. A educação escolar precisa
entender e incorporar as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as
possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar para usos
democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução
dos indivíduos.
De acordo com Montiel e Andrade (2016),
a EF é a disciplina que mais se preocupa com o desenvolvimento dos
aspectos motores, embora também tenha como propósito o
desenvolvimento dos aspectos cognitivos, afetivos e outros. Sendo assim, é
preciso encontrar alternativas além das atividades físicas, por meio das
atividades diferenciadas, como neste caso a inclusão das TICs nas aulas, a
fim de desenvolver os demais domínios do comportamento humano (p. 7).
Habituados a ministrar aulas presenciais, professores precisaram se adaptar para
realizar aulas online, utilizando mais uma vez a inclusão das TIC, substituindo a sala de aula
por outro ambiente, o domiciliar. As ferramentas online abriram espaço para uma nova
realidade aos professores e alunos. O cenário mudou, o professor começou a gravar vídeos,
passou a improvisar utilizando itens de casa para contribuir com o aprendizado dos alunos.
É possível observar um trabalho efetivo de algumas instituições de ensino pelo país,
proporcionando atividades que estimulam os alunos a manter uma rotina fisicamente ativa.
De acordo com as informações encontradas, essas atividades buscam incentivar “o
desenvolvimento integral do estudante, no viés do corpo em movimento, com o brincar
como princípio educativo aliado à formação em valores éticos, cidadãos e de cuidado com a
saúde individual e coletiva” (MARISTA, 2020). Nesse sentido, as práticas físicas são 7
orientadas tendo em vista as limitações dos espaços domiciliares, bem como a falta de
materiais de apoio, mantendo os benefícios inerentes às práticas físicas.
Vale ressaltar a importância de manter uma orientação adequada para minimizar os
riscos de acidentes durante a prática de exercícios físicos, para tanto as chamadas de vídeo
são essenciais para a manutenção desse acompanhamento, além do apoio de familiares.
Dessa forma, atividades regulares, com orientação e de intensidade moderada contribuem
para a manutenção do condicionamento físico e para a redução da ansiedade e do estresse,
ocasionados pelo isolamento social (RAIOL, 2020).
Através das publicações consultadas, observamos um trabalho efetivo das
instituições privadas de ensino, as quais estão desenvolvendo aulas de EF com o uso das TIC
(CAD, 2020; MARISTA, 2020; CMC, 2020; CSA, 2020). Com relação às instituições públicas,
algumas secretarias de educação apresentaram alternativas semelhantes, com a utilização
de TIC, porém em menor número (BAHIA, 2020; RIBEIRÃO PIRES, 2020; CARUARU, 2020).
Com essa nova metodologia de ensino remoto e a utilização das TIC, é possível
transmitir as informações de maneira precisa e coerente no tempo exato, com salas online e
a interação dos alunos. Entretanto, é fundamental levar em consideração o alcance dessas
tecnologias frente a desigualdade estrutural das classes sociais e regiões do Brasil.
Diante de uma revolução nos meios de ensino, muitas escolas ainda estão paralisadas
com a situação inesperada, buscando soluções, devido as dificuldade que algumas regiões
passam. Mas, a situação também mostra união e proximidade entre escola e comunidade.
Num ambiente novo para todos, os professores tentam se adaptar através de grupos de
WhatsApp, impressões de atividade para serem entregues na casa dos alunos, e contam
com a ajuda de familiares que se disponibilizam nesta adaptação de realidade.
Fica evidente a parceria entre as escolas e os pais durante o isolamento domiciliar, e
a arte de educar passa a ter enfim a ajuda da família, evidenciando o que cada um sabe e
pode oferecer, para garantir o direito de aprender aos alunos. Tendo em vista as
dificuldades que ainda permeiam as TIC, as diversas alternativas contribuem de maneiras
diferentes e estimulam o trabalho coletivo, sem deixar nenhum aluno para trás.

6. Considerações finais
O presente estudo nos possibilitou levantar questionamentos pertinentes a questões
anteriores à pandemia; contemplou tanto os benefícios do uso da TIC nas aulas de EF, assim
como as dificuldades de sua aplicação no que diz respeito ao contexto que o COVID-19
trouxe a tona.
Reforça-se que é possível, por meio das aulas regulares de EF, explorar todas as
dimensões que se exigem, como os domínios motor, afetivo-social e cognitivo dos alunos, e
deve encontrar formas de contemplar o disposto na LDB (BRASIL, 1996), que é a formação
integral do indivíduo, e, as finalidades previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino, através de um currículo que contemple estas demandas, utilizando das TIC para
contribuir neste processo.
Faz-se necessário discutir referenciais teóricos que subsidiem as práticas dos 8
professores sobre o uso das TIC nas aulas de EF, bem como, planejar ações pedagógicas com
os conteúdos estruturantes de EF agregando os recursos tecnológicos. Sempre na intenção
de pensar os conteúdos a partir da construção do conhecimento por meio de práticas,
experimentando diferentes estratégias, utilizando tecnologias de forma colaborativa,
associadas aos conteúdos curriculares, em parceria, nunca em substituição (MELO; BRANCO,
2011).
Acreditamos que esta prática pedagógica emergencial, diante do COVID-19,
contribua para a reflexão dos docentes e profissionais ligados a EF Escolar, engajados na
contribuição que a EF possa oferecer. A partir deste pressuposto o presente estudo vem
contribuir para que a EF continue a sua caminhada de legitimação diante dos demais
componentes curriculares e, consequentemente, os alunos reconheçam não só como uma
disciplina que trata os esportes, mas como aquela que auxilia no desenvolvimento do
conhecimento sobre as demais abordagens e práticas que possa apresentar, e em conjunto
com as TIC auxiliar o aluno na construção de um saber mais amplo.
Diante da atual realidade, torna-se indispensável que uma maior quantidade de
pesquisas e estudos acerca desse processo sejam desenvolvidos nessa área, de forma a
implementar e subsidiar a prática pedagógica do professor na utilização das tecnologias no
ensino/aprendizagem, em especial da EF. É notório que haverá muitos empecilhos a serem
vencidos, principalmente em tempos de pandemia, e superados para que haja a plena
efetivação das TIC em âmbito escolar.
Ao direcionar os olhares a respeito da utilização das tecnologias da informação e
comunicação na área de Educação Física Escolar, é possível identificar uma lacuna que deve
ser preenchida o quanto antes. Dessa forma, a partir de um trabalho conjunto entre
professores e alunos do Ensino Fundamental, as diferentes formas de se comunicar e de
compreender o mundo estarão em contínuo processo de desenvolvimento com a adoção
das TIC. A utilização das tecnologias torna-se de suma importância, haja vista a
implementação cada vez maior dessas ferramentas nas sociedades em geral e as
possibilidades passíveis de serem geradas pela parceria entre a Educação Física e as
Tecnologias da Informação e Comunicação.

7. Referências
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