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DINÂMICA DA ÁGUA NO SOLO

Paulo Leonel Libardi


SUMÁRIO

r. Tensão Superficial... 11
1. Introdução................... 11
2. Contratilidade da Superficie dos Líquidos 11
3. Definição da Tensão Superficial...................................................... 16
4. Ângulo de Contato 18
5. Fórmula de Laplace 21
6. Capilaridade 27
7. Exercícios........... 32

11. Estrutura da Água 35


1. Introdução 35
2. Estrutura do Vapor D'Água 35
3. Estrutura do Gelo Comum ou Gelo I............................................. 37
4. Estrutura da Água Líquida............................................................... 37

IH. Retenção e Cálculo da Água no Solo 41


1. Retenção da Água pelos Solos 41
2. Cálculo da Água no Solo 43
3. Exercícios 64

IV. Termodinâmica como Base para Estudos de Sistemas Biológicos 69


1. Introdução............... 69
2. Nomenclatura Termodinâmica 69
3. Primeira Lei da Termodinâmica 73
8 • Sumário

4. Segunda Lei da Termodinâmica 78


5. Relação Fundamental da Termodinâmica ,.............. 82
6. Transformações de Legendre à Potenciais Termodinâmicos 83
7. Significado das Funções Entalpia, Energia Livre de Helmholtz e
Energia Livre de Gibbs 90
8. Potencial Químico de uma Substância 94
9. Influência do Campo Gravitacional Terrestre 96
10. Exercícios 98

V. Potenciais da Água no Solo 101


1. Introdução......................................................... 101
2. Potenciais da Solução no Solo 101
3. Potenciais do Componente Água no Solo 121
4. Unidades de Potencial...................................................................... 122
5. Exercícios........ 124
6. Apêndices........................... 124

VI. Medidas dos Potenciais da Água no Solo 129


1. Potencial Gravitacional...................................................................... 129
2. Potencial de Pressão 131
3. Potencial Mátrico 132
4. Potencial de Soluto.... 151
5. ExercÍ cios 153

VII. Movimento da Água no Solo 159


1. Introdução... 159
2. Equação de Darcy 159
3. Equação de Darcy-Buckingham.............................................. 162
4. Regra Prática para Designar o Sentido dos Movimentos
Horizontal e Vertical da Solução no Solo 168
5. Equações Fenomenológicas de Onsager 171
6. Eauacão da Continuidade para a Solução no Solo 176
3. Equação de Green e Ampt 210
4. Equação de Kostiakov (1932) 213
5. Equação de Horton (1940) 214
6. Equações de Philip (1955 e 1957) 215

IX. Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica dos Solos.......... 231


1. Introdução............ 231
2. Métodos de Laboratório 231
3. Métodos de Campo 239
4. Outros Métodos 249
5. Exercício Ilustrativo..... 250

X. Balanço Hídrico . 261


1. O Balanço........ 261
2. Exemplo Ilustrativo 265
3. Exercício - Cálculo da Evapotranspiração de uma Cultura
de Milho pela Equação do Balanço Híbrido no Solo 270

Apêndice I - Diferenciais Totais 275

Apêndice II - Análise Vetorial como Base para Estudo da Água no Solo 279
1. Introdução............ 279
2. Conceito de Vetor 279
3. Representação dos Vetores 279
4. Soma e Subtração de Vetores 280
5. Componentes Cartesianos de um Vetor......................................... 282
6. Produto de Vetores 284
7. Produto Misto 288
8. Duplo Produto Vetorial Triplo 289
9. Produto de Quatro Vetores 289
10. Derivada Vetorial 289
11. Derivada de Somas e Produtos 290
12. Componentes da Derivada de um Vetor 291
10 • Sumário

13. Gradiente............. 291


14. Divergência....... 296
15. Outros Operadores 302
Apêndice III - Energia Potencial Gravitacional........................................ 303

Apêndice IV - Respostas dos Exercícios 307


Capítulo I............................................ 307
Capítulo III 308
Capítulo IV 310
Capítulo V................ 314
Capítulo VI... 314
Capítulo VII 314

BibliogTafia 323

Índice Remissivo.. 331


I

TENSÃO SUPERFICIAL

1. INTRODUÇÃO

o estudo da tensão superficial é de fundamental importância para o completo entendimento


do fenômeno da retenção da água no solo. Este capítulo aborda a tensão superficial nos seus aspectos
básicos e, neste sentido, como referência complementar, sugerimos um bom livro de Física como,
por exemplo, o de Perucca (1953). A maioria dos livros de Física do Solo também trata do assunto,
mas o de Kirkham e Powers (1972), especificamente seu capítulo I, desenvolve-o detalhadamente.

2. CONTRATILIDADE DA SUPERFÍCIE DOS LÍQUIDOS

2.1 Evidências dofenômeno


Diversas são as experiências que podem comprovar a existência de uma "membrana contrátil"
na superficie dos líquidos.
Um exemplo cotidiano é a fonnação de gotículas quando se derrama água em uma superfície
encerada, mostrando que a água está como que envolta por uma membrana que a mantém nessa
fonna. Isto é também observado muito facilmente quando mercúrio é colocado numa superfície
limpa de madeira.
O exame de uma gota de água lentamente formada num conta-gotas ou na boca de uma
torneira também é um exemplo bastante corriqueiro. Nesse caso, a água se acumula (como se fosse
coletada numa membrana invisível) até um determinado tamanho, quando é, então, desprendida na
fonna de uma gota esférica.
Se salpicannos talco na superfície do mercúrio contido num recipiente suficientemente
profundo, e em seguida aprofundarmos cuidadosamente esta superficie com um bastão de vidro,
verifica-se que o talco desaparece no orificio feito pelo bastão de vidro, reaparecendo e retomando a
sua posição original quando o bastão é retirado. Esta experiência é uma evidência de que existe uma
certa resistência na superfície do mercúrio que impede a introdução das partículas de talco no seu
interior.
Demonstra-se também a contratilidade da superfície dos líquidos pela fornlação das
conhecidas bolhas de sabão, as quais podem ser expandidas ou contraidas conforme mais Oll menos
ar seja permitido entrar em seu interior.
12 • Tensão Superficial

Se, na mesma água com sabão utilizada para fom1ar as bolhas, mergulham10s uma armação
fechada feita de arame bem fino, verifica-se, ao retirá-Ia cuidadosamente do líquido, a fonnação de
uma película deste no seu interior. Colocando-se nesta película um fio de seda de extremidades
unidas, este tomará uma fonna qualquer. Se, no entanto, furannos a película intema ao fio de seda,
este tomará uma fonna circular. Ora, para um perímetro constante, a figura de maior área é o CÍrculo.
Logo, esta experiência mostra que a película de líquido remanescente (palie extema ao fio) tende a
ocupar a área mínima, evidenciando claramente a contratilidade da película formada.

2.2 Explicação molecular

Imaginemos um detenninado líquido (água, por exemplo) em repouso dentro de um


recipiente. Cada molécula do líquido é atraída pelas moléculas que a rodeiam por forças conhecidas
como forças moleculares de London-van der Waals de atração coesiva, ou simplesmente forças
moleculares de coesão ou, ainda, apenas forças de coesão. Esta atração diminui rapidamente com a
distância e se toma nula a uma distância r, que recebe o nome de raio da esfera de ação molecular.
Este raio, portanto, é a distância limite para a qual a molécula consegue exercer forças de atração
sobre as outras, seu valor não excedendo 0,5 nm para a água.
Nestas condições, moléculas como MIou M2 (Figura 1.1), cujas esferas de ação molecular ou
de influência se encontram totalmente dentro do líquido, atraem e são atraídas simetricamente por
todas as moléculas vizinhas, isto é, as forças de coesão são equilibradas e sua resultante é nula.
Entretanto, para qualquer molécula cuja esfera de ação não esteja inteiramente no interior do
líquido, como M3 e M4, por exemplo (na Figura 1.1), as forças sobre ela não se equilibram porque a
calota inferior da sua esfera de ação (área hachurada, Figura 1.1) está cheia de moléculas que as
atraem, mas a calota correspondente superior cai fora do líquido e, não estando cheia de moléculas
como a inferior, a força de coesão resultante do hemisfério superior da esfera de ação molecular se
toma menor do que a resultante do hemisfério inferior. Como conseqüência, tal molécula é atraída
para o interior do líquido pela resultante dessas forças de coesão não equilibradas. Evidentemente
esta resultante é nula quando a distância entre a molécula e a superfície do líquido for maior ou igual
a r (molécula M2, Figura 1.1) e vai aumentando à medida que a molécula se aproxima da superfície
do líquido até um máximo, quando se encontra na interface (molécula M4, Figura 1.1).

- - ~~
--F2=O- - -
-=- -=- -F4
-'- _ -- -- - F3-
- ~

~~ ~ ~ ~ ~ - -~ -- - - - - -
~ ~

~~
~ -=-
@-----
---jJ- -

M_L-:---=- -=- -=- -=- -=-


~ - - - -FI = O-=--=- -=- -=- -=- -=-

F.'gUrG i.i Forças nas moléculas de um líquido.


Dinâmica da AguQ 110 Solo • 13

Esta camada superficial de espessura r é chamada de "camada ativa".


Portanto, pela ação destas forças nas moléculas da camada ativa, a superficie do líquido se
contrai, minimizando sua área e adquirindo uma energia potencial extra que se opõe a qualquer
tentativa de distendê-Ia, ou seja, ocorrendo uma distensão, a tendência da superficie é sempre voltar à
posição original. Em outras palavras, devido a essas forças, a superficie do líquido se toma conh·átil.

2.2.1 Pressão interna

Além de tomar a superficie dos líquidos contrátil, essas forças moleculares de coesão não
equilibradas da camada ativa causam, ao puxar todas as moléculas da camada ativa para o interior do
líquido, uma enonne pressão chamada pressão interna P '. Para a água, P' == 1700 MPa.

f- P
P M
Z

I-----
):.( Pj

p
Figura 1.2 Pressão e.xercidapor um líquido.
Todos sabemos, por outro lado, que uma das hipóteses fundamentais da hidrostática elementar
é de que a pressão exercida por um líquido se deve a seu peso e à sua propriedade de transmitir
pressão em todas as direções. Assim, se considerannos a situação da Figura 1.2, na qual o líquido
possui uma densidade p e sobre sua superficie está atuando a pressão atmosférica (Pa1m), a pressão P
no ponto Mlocalizado na profundidade z do recipiente é dada por:

P=~IIIII + pgz, (1)

sendo g a aceleração da gravidade.


Entretanto, tendo em vista o exposto a respeito da pressão interna sob a superficie do líquido,
o valor correto da pressão P a uma distância z abaixo de uma superficie plana (Figura 1.2) não é, na
realidade, dado pela equação (1), mas sim pela equação (2) abaixo:

P = POIIII + p' + pgz. (2)

No entanto, esta pressão interna é cancelada nas medidas hidráulicas comuns, não
necessitando, portanto, ser considerada nessas medidas, daí a equação (1) ser suficiente.

2.2.2 Níveis de pressão


o fato de P' ser cancelada nas medidas hidrostáticas toma-se mais fácil de ser entendido com
a definição de termos importantes, como pressão absoluta, pressão barométrica (ou pressão
atmosférica local) e pressão manométrica (ou efetiva). Na realidade, tais telmos se referem a níveis
14 • Tensão Supeljicial

de pressão. Assim, teríamos um nível de zero absoluto no qual haveria vácuo completo (inexistência
de pressão), de tal maneira que todas as medidas de pressão feitas em relação a este nível
representariam pressões absolutas. A pressão atmosférica local é uma medida de pressão absoluta do
ar atmosférico em qualquer elevação e, sendo medida por meio de barômetro, é também chamada de
pressão barométrica. Além do nível de zero absoluto, definiu-se, então, um outro nível, o da pressão
barométrica em relação ao qual se definem pressões manométricas, pelo fato de o "zero" dos
manômetros ser sempre a medida da pressão atmosférica do local onde a medida está sendo feita.
Deste modo, se chamannos de P a pressão absoluta e de Pallll a pressão barométrica, a pressão
manométrica, PI/I> é dada pela diferença entre P e Pallll, isto é,
P m =P-P (11m· (3)
pressão
Á
absoluta: P

í
P > O (pressão)

ml pressão atmosférica local: P atm


I
T
"
:; Pm < O (vácuo)

"o
.D.
1 pressão absoluta: P

KI
.~ localbarométrica
leitura (pressão
"
:;
absoluta) õ
"
Vl
.D

."o
Vl
Vl
~
."
zero absoluto (vácuo completo)

Figura 1.3 Definição de pressão absoluta (P), pressão atmosférica ou barométrica (Pall/J e pressão
manométrica (PI/J.

Observe que a pressão manométrica ou efetiva é, na realidade, uma diferença de pressão. É


por isso que, quando P > Pallll, seu valor é positivo (PlII > O) e, quando P < Pali", negativo (PlII < O),
isto é, o medidor, o manômetro, está medindo um vácuo ou, mais conetamente, uma pressão menor
do que a pressão atmosférica local. O esquema da Figura 1.3 ilustra bem estas definições.

Exemplo llustrativo
A pressão de ar de um pneu de cano é medida, por meio de um manômetro, em um local A
em que a pressão barométrica é de 93 kPa. O resultado obtido é de 0,2 MPa. Este pneu é levado para
um outro local B, que se encontra à mesma temperatura que o local A, mas com uma pressão
barométrica de 80 kPa. Em B, a pressão de ar do pneu é novamente medida, por meio de um
manômetro local. De quanto será o valor da leitura do manômetro no local B?
Solução:
Pela equação (3), percebe-se facilmente que a pressão manométrica é influenciada pelo
ambiente do medidor de pressão ou manômetro.
Assim, pela mesma equação, a pressão absoluta em A vale:
P = p,,, +Po1m

ou
Dinâmica da Agua no Solo • 15

P = 0,2 + 0,093 = 0,293 MPa,


uma vez que, no caso, em A, Pm = 0,2 MPa e Palm = 93 kPa = 0,093 MPa.
Em B, a pressão absoluta é, evidentemente, igual à de A, ou seja, nada aconteceu (variação de
temperatura, de volume ou de massa de ar) para que ela se modificasse. Portanto, a pressão ou leitura
manométrica, em B, vale:
Pm =P-Palm
ou
Pm = 0,293 - 0,080 = 0,213 MPa.

Ou seja, o manômetro do local B lê um valor (0,213 MPa) maior do que o valor (0,2 MPa)
lido pelo manômetro do local A, porque a pressão barométrica de B é menor do que a de A. Note,
portanto, que isto não quer dizer que o pneu em B está mais "cheio" do que em A. Quem comanda
este fato é a pressão absoluta, uma vez que as paredes do pneu são rígidas. Note ainda que, neste
caso, a diferença entre os valores de Pm é pequena (6%) entre os dois locais, porque, em relação a
pressão de ar do pneu, as pressões barométricas são muito pequenas. Isso nos leva a concluir que a
variação da pressão atmosférica entre os locais onde a medida foi feita não foi muito relevante,
apesar desta ter sido de, aproximadamente, 14%. À medida, entretanto, que os valores das pressões
absoluta e atmosférica forem se tomando mais próximos entre si, toma-se mais relevante esta
variação de Pall1l e, conseqüentemente, menos recomendável o uso da pressão manométrica para
comparar valores de pressão entre ambientes com Palm diferentes.

Para explicar o esquema da Figura 1.3, principalmente no caso em que P < PaI"" e também
para comprovar que a pressão interna P' se cancela nas medidas hidrostáticas, considere os desenhos
da Figura IA.
reservatório de reservatório de
_a~comprimido ~~~ ar sob vácuo
:::::::;:
~;f:~:~~
=:=:::=:::-:::=::: --

::::::
~::~~~~~~~ª - - P

~>~
h rIm
:, 'f

P'

(b)
P,n= - pgh

Figura 1.4 Exemplo ilustrativo mostrando quando (a) Pm> O e (b) Pm < O (vácuo).
Esta figura mostra um tubo em "U" com água (manômetro de água); num caso, com um dos
ramos conectado a um reservatório com ar comprimido (Figura lAa), portanto com uma pressão
maior do que a atmosférica local Patim e no outro conectado ao mesmo reservatório, porém
parcialmente com vácuo (Figura lAb), portanto com pressão menor do que a atmosférica local Palm•
Note que a leitura h do manômetro dá diretamente o valor da pressão manométrica, isto é, P - P"lm,
sem ser necessário considerar P '.
16 • Tensão Superficial

Este fato da pressão interna P' não necessitar ser considerada nas medidas de PII1, como
acabamos de ver, não ocorre quando se estudam fenômenos capilares (ascensão e depressão capilar),
os quais, pelo contrário, só podem ser explicados com base na existência desta pressão, mais
especificamente de seu incremento quando a interface líquido-gás se toma curva (ver item 5). Neste
caso, a equação (l) não é suficiente e a equação (2) tem que ser utilizada.

3. DEFINIÇÃO DA TENSÃO SUPERFICIAL

Como vimos no item anterior, a superficie dos líquidos é contrátil, isto é, ao ser distendida sua
tendência é sempre voltar à posição original, mostrando que se encontra num estado de constante
tensão. Uma película de uma solução de água e sabão ilustra bem este fenômeno e pennite definir
com clareza a tensão superficial de um líquido.
Consideremos, então, uma armação ABCD de fio de cobre fino, com seu lado AB, de
comprimento L, móvel. Mergulhemos esta armação numa solução de água com sabão e obtenhamos,
na sua retirada, uma película do líquido no seu interior, conforn1e mostra a Figura 1.5. Quando se
puxa AB com uma determinada força para baixo, a película responde a este estímulo e se distende e,
quando se libera a aplicação desta força, ela se contrai, mostrando, portanto, que a película é
contrátil. Uma conclusão importante é que esta contratilidade é completamente independente da
espessura da película, isto é, o trabalho a se fazer para aumentar a superficie é sempre o mesmo,
esteja a película muito ou pouco esticada, ou seja, seja ela fina ou espessa. Isto acontece porque este
trabalho consiste unicamente em trazer moléculas do interior para as superficies da película, contra a
força da pressão interna. Igualmente, quando a força de esticamento é liberada, a contração do filme
não é nada mais, nada menos do que uma manifestação da força da pressão interna em trazer de volta
as moléculas para o interior da película. Conseqüentemente, o trabalho feito pelo agente externo,
quando a superficie está aumentando, ou pela pressão interna, quando está diminuindo, é sempre
proporcional ao aumento ou decréscimo da superficie, independentemente do estado de esticamento
do filme.
Esta conclusão está em desacordo com a lei que governa o esticamento dos sólidos (uma tira
de câmara de pneu, por exemplo), para os quais a força de esticamento depende de seu estado de
esticamento, isto é, de sua espessura; no entanto, é completamente comprovada pela experiência.
Segue-se, destas considerações, que se AB for puxado para baixo com uma força F em uma
distância d (figura 5), o trabalho w realizado por esta força será:

w=F.d, (4)

e o aumento de área da superficie será 2Ld, uma vez que ambos os lados da película devem ser
considerados; observe que a força F atua por meio do fio AB na linha de comprimento 2L da película
(lL para cada lado desta).
Como este trabalho é proporcional ao aumento de superficie, seu valor, por unidade de área de
superficie distendida, é uma constante (j para cada líquido, numa detenninada temperatura. Por
expressar a magnitude do estado de tensão da superficie do líquido, tal constante recebeu o nome de
tensão superficial ou coeficiente de tensão superficial, isto é, para o arranjo da Figura 1.5:

(5)
~= 2;d ~ [,:2]
L
D. ·C

A i7'7S~777'h'7'777777"7'7<;~. B

://///////, ://////~ / Id
t

I
-,y
F

Figura 1.5 Medida da tensão superficial de um líquido.

Portanto, por definição, tensão superficial de um líquido é o trabalho por unidade de área
asto para distender a superficie desse líquido.
A substituição da equação (4) na equação (5) resulta para ao valor:

2L -7 [N],
a = .!.- m (6)

S(Q é, a força necessária para deslocar AB de uma mesma distância d é proporcional ao comprimento
2L da linha da superficie na qual a força F é aplicada e a constante de proporcionalidade é 0".
Portanto, a tensão superficial, que representa um trabalho por unidade de área, é equivalente a
ma força por unidade de comprimento. Analisemos um pouco mais este fato. A partir da
uação (6), quando 2L = 1, obviamente:
a=F (numericamente) , (7)

onde se conclui que a tensão superficial a se manifesta na superficie de qualquer líquido como a
orça F contrátil, tangente à superficie e numericamente igual ao trabalho necessário para trazer do
interior para a superficie do líquido um número suficiente de moléculas para criar uma área
mitária de superficie nova.
Face a estas considerações, pode-se visualizar O" da seguinte maneira: se traçannos uma linha
arbitrária de comprimento .t sobre a superficie de qualquer líquido, pelo fato de a superficie se
encontrar num estado de constante tensão, a superficie de cada lado da linha puxa a superficie do
lado oposto com uma força igual ajperpendicular à linha e paralela à superficie (Figura 1.6), de tal
odo que O" = fi/. É evidente que se a linha sobre a superficie for diminuída de f'para 112 a força
passará dejparaj12, pois aé constante.
• Tensão Superficial

Figura 1.6 Tensão numa superfieie de líquido.

o valor do coeficiente de tensão superficial depende não só do líquido, mas também do meio
circundante. Para nossos objetivos interessa apenas o caso em que o ar é o meio. Quando aqui o
meio circundante não é mencionado está implícito que seja o ar. Depende também da temperatura,
diminuindo à medida que esta aumenta. A seguir, apresentamos alguns valores de (J para a água, a
diversas temperaturas, tendo o ar como meio circundante.

Tabela 1.1 Coeficiente de tensão superficial para a água.


Temperatura Coeficiente de tensão
(K) superficial (J (N/m)
265 0,07700
268 0,07640
273 0,07560
278 0,07490
283 0,07422
288 0,07349
291 0,07305
293 0,07275
298 0,07197
303 0,07118
313 0,06956
323 0,06791
373 0,05880

4. ÂNGULO DE CONTATO
Dinâmica da Agua no Solo • 19

tivesse qualquer força-componente paralela à superfície, as moléculas mover-se-iam em resposta a


esta força-componente e não haveria equilíbrio. Imaginemos, então, um líquido dentro de um
detenninado recipiente e analisemos as forças que atuam nas moléculas situadas na linha de contato,
isto é, na linha composta pelos pontos comuns às três fases: sólida (parede do recipiente), líquida
(líquido em estudo) e gasosa (o ar atmosférico, por exemplo). Em corte, a linha de contato é um
ponto conhecido como ponto de contato P, conforme mostra a Figura 1.7, no qual atuam as
seguintes forças:
a) A força da gravidade: devido ao tamanho extremamente pequeno da esfera de influência, o peso
das partículas contidas em seu interior é completamente desprezível em comparação com as
forças moleculares.
b) A resultante F das forças moleculares de London-van der Waals de atração coesiva das moléculas
do líquido do quadrante PAB sobre a partícula P.
c) A resultante G das forças moleculares de London-van der Waals de atração adesiva do sólido
s9bre a partícula P; esta força pode ser dividida em duas partes: aquela devida à parte do sólido
acima da superfície do líquido (quadrante PCD), de intensidade G1 e aquela devida à parte do
sólido abaixo da superfície do líquido (quadrante PBC), de intensidade também G1; portanto, a
intensidade da resultante das forças G de adesão sobre a partícula P será igual à G I '1/2 (teorema do
paralelogramo) .
É por meio da relação entre as intensidades destas duas forças moleculares (a resultante das
forças de coesão do líquido e a resultante das forças de adesão entre o sólido e o líquido) que se
detennina se o ângulo formado no líquido entre o plano tangente à sua superfície no ponto de
contato e a parede do recipiente será reto (superfície plana), agudo (superfície côncava) ou obtuso
(superfície convexa), como veremos nos três casos a seguir. Este ângulo denomina-se ângulo de
contato.

sólido
gás

líquido

A o
Figura 1. 7 Angulo de contato a = 90 .

]O caso: quando F = 2G} ou F = GV2

Nesta situação, como se pode observar pela Figura 1.7, a resultante fínal R das forças
moleculares atuantes em P é paralela à parede do recipiente, isto é, perpendicular à superfície do
20 • Tensão Superficial

líquido. Conseqüentemente, existe equilíbrio na condição assumida e o ângulo de contato a é igual a


90°.

rcaso: quando F < 2Gj ou F < GY2

Neste caso, a resultante final R cairá no quadrante PCB (Figura 1.8). Conseqüentemente, não
pode haver equilíbrio até que a superficie próxima de P se tome côncava, isto é, até que o ângulo a
se tome agudo e a resultante R fique perpendicular à superficie. Este é o caso dos líquidos que
molham a parede. Para substâncias como o querosene e o vidro, por exemplo, o equilíbrio é
alcançado somente quando a= 26°. Quando a= 0° (caso da água pura em vidro), dizemos que o
líquido molha perfeitamente a superficie sólida, isto é, um fino filme de líquido se espalha sobre a
face do sólido e a resultante final R será perpendicular à parede, o que indica que a resultante das
forças de coesão do líquido se toma desprezível face à grande intensidade da resultante das forças de
adesão entre o sólido e o líquido.

sólido
gás

líquido

-,
F

Figura 1.8 Ângulo de contato a < 90°.


30 caso: quando F > 2Gj ou F > GY2

Quando isto acontece, isto é, quando a coesão do líquido (F) for maior do que .,j2 vezes a
adesão (G) entre o sólido e o líquido, então a resultante final R cairá no quadrante PAB (Figura 1.9).
Conseqüentemente, só haverá equilíbrio quando a superficie de líquido próxima de P se tomar
convexa e, portanto, o ângulo de contato obtuso (a> 90°). Este é o caso dos líquidos que não
molham a parede. Para as substâncias mercúrio e vidro, por exemplo, o equilíbrio é alcançado
somente quando a= 148°.
Dinâmica da Agua no Solo • 21

sólido

líquido

A o
Figura 1.9 Angulo de contato (X> 90 .

5. FÓRMULA DE LAPLACE

Uma conseqüência importante do fenômeno da tensão superficial é o fato de que se a


superficie de um detenninado líquido deixar de ser plana, surge uma nova pressão p que pode atuar
no mesmo sentido que a pressão P " que é o que ocorre numa superficie convexa, ou opostamente a
P " como numa superficie côncava. A fónnula de Laplace mostra como se pode calcular o valor
desta nova pressão p que aparece quando a superficie do líquido se toma curva. Vejamos sua
dedução.
Pelo fato de a pressão intema se manifestar como uma contratilidade na superficie dos
líquidos, deve ser possível obter, a partir desta contratilidade, a quantidade p. Consideremos, então,
uma pequena porção (infinitesimal) ou elemento retangular ABCD de uma superficie de líquido
convexa separando duas fases (X (gás) e f3 (líquido) (Figura 1.10).
Qualquer superficie curva pequena pode ser caracterizada por dois raios principais de
curvatura. No caso, aos arcos AB = DC (que são aproximadamente iguais à linha média EG) e aos
arcos AD = BC (aproximadamente iguais à linha média Hl) correspondem os raios RI e Rz,
respectivamente.
Lembrando da definição de tensão superficial (item 2), o restante da superficie, da qual a
pequena porção ABCD é parte, exerce uma tensão ao longo de todo o perímetro do elemento ABCD,
tangencial à superficie e perpendicular às arestas do elemento. Exemplificando, em cada um dos
arcos opostos AD e BC, de comprimento infinitesimal diz, atua uma força igual a (J diz e em cada um
dos arcos opostos AB e DC, de comprimento infinitesimal di" atua uma força igual a (J di" forças
estas tangentes à superficie e normais aos arcos correspondentes, portanto, quatro forças: duas (J dll e
duas (J diz (Figura 1.10). Por causa da curvatura da superficie, estas quatro forças têm uma resultante
infinitesimal dF na direção do eixo N, evidentemente perpendicular à superficie, como veremos a
segUir.
22 • Tensão Superficial

a (gás)
B

crdlj

~ (líquido)

AB=DC=EG=dll
AD=BC=HT=dI2

Figura 1.1ORaios de curvatura de uma porção infinitesimal de uma superficie curva.

Vejamos inicialmente a resultante dF1 das duas forças (J dl2 que atuam nos arcos AD e BC.
Pela Figura 1.11, que é um corte da Figura 10 e que mostra no plano o arco de raio RI, é fácil
perceber que esta resultante é perpendicular à superfície do líquido e vale

dF1 = 2(Jd12 cos r = 2(Jd12 sen e I . (8)

N
I

crd12

EG=dll
EO=OG=dll2

1°1

Figura 1.11Ilustração das forças que atuam sob uma inteiface líquido-gás devido à curvatura da
inteiface.
No entanto, como EG = dI] é uma distância infínitesimal, no limite, isto é, 81 tendendo para
zero, EJ tende a se tomar igual a EO e JOI tende a se tomar igual a 001, pelo que
Dinâmica da Agua no Solo • 23

ou
dl/2
sen81=-I-, (9)
RI

uma vez que EO = dl/2 e 00, = R, (Figura 1.11).


A substituição da equação (9) na equação (8) fornece:

dFI = adl2dll (10)


RI

Seguindo o mesmo raciocínio, evidentemente, a resultante dFz das duas forças a d/l, que atuam nos
arcos AB e DC, valerá

(12)
2 dF = adlldl2(11)
dF = dF; +dF2,

resulta, pela substituição das equações (10) e (11) na equação (12):

(13)
dF = a dI 2 dI I (~+
RI R2
_1 ).

Ora, a pressão sob o elemento de superficie (convexa) ABCD, causada pela resultante dF é,
obviamente, igual à resultante dF dividida pela área d/!dlz do elemento, uma vez que, por definição,
pressão é força por unidade de área. Conseqüentemente, a pressão p devida à curvatura é:

p----------
_ d F _ adl2
d/l dl2
dll (11 RI
d/l dl2
+ 11 R2)

ou

(14)
p=a(~+_l ).
RI R2

A equação (14), como se pode notar, relaciona a tensão superficial e os raios de curvatura com
essa nova pressão p devida à curvatura da interface. É afórmula de Laplace.
A superficie da Figura 1.10, a qual tem ambos os raios de curvatura de um mesmo lado, é
chamada de supeiflcie sinclástica, e a pressão extra causada pela curvatura da superficie é, como
acabamos de demonstrar, dada pela equação (14). Note ainda que, pelo fato de a superficie ser
convexa, portanto com os dois raios no lado do líquido, a resultante dF, e conseqüentemente p, atua
no sentido da superficie para o interior do líquido, isto é, a favor da pressão P'. Com isso, podemos
dizer que a pressão interna que atua sob uma superficie convexa de um líquido é igual a P' + p.
Considerando a mesma superficie ABCD da Figura 1.10, mas que ao invés de convexa seja côncava,
a dedução da equação de Laplace leva ao mesmo resultado para p (equação 14), porque esta
superficie também é sinclástica; no entanto, neste caso, pelo fato de os dois raios ficarem do lado do
gás, verifica-se que a resultante dF e, conseqüentemente, p atua no sentido da superficie para fora do
líquido, isto é, contra a pressão P " pelo que a pressão interna sob uma superficie côncava de um
líquido será igual a P' -p. Resumindo, temos as três situações esquematizadas na Figura 1.12, ou
24 • Tensão Superficial

seja, a pressão interna (a) sob uma superficie plana é igual a P', (b) sob uma superficie convexa é
igual a P'+ p e (c) sob uma superficie côncava é igual a P' -p. Note que, na realidade, p não
representa uma nova pressão mas sim um incremento na pressão interna de uma superficie plana que
se encurva.
Quando a superficie curva tem seus raios de curvatura em lados opostos, isto é, um
estendendo-se para o líquido e o outro para o gás, por raciocínio semelhante (exercício 7), chega-se à
fónnula

(15)
p=a(~RI __Rz1 ),
na qual RI < Rz , e portanto dFj > dFz e o sentido da força dFj é o inverso do sentido da força dFz.
Esta superficie é conhecida pelo nome de supeifície anticlástica, e nela p pode atuar tanto contra
como a favor de P' ou mesmo até ser nula, dependendo das magnitudes de dFI e dFz.
Para uma superficie esférica, RI = Rz = R, e, como ela é obrigatoriamente sinclástica,
2a
(16)
P=R'
Para uma superficie plana:
RI = Rz ~ 00 e p= O .

0= - -

'i' P' P' ].P'-p


yP'

Lp
(a) (b) (c)
interfuce interfuce interfuce
plana convexa côncava

Figura 1.12Pressão interna sob uma supeifície de líquido: (a) plana, (b) convexa e (c) côncava.

Exemplos llustrativos
1. Qual é o diâmetro de uma bolha de sabão quando a pressão manométrica no seu interior é 9 N/mz
e a tensão superficial da solução de sabão 0,027 N/m?
Dinâmica da Agua 110 Solo • 25

Solução:
O esquema a seguir à esquerda mostra a bolha de sabão com as pressões externas atuantes em
sua película. O esquema à direita é uma pequena porção ampliada da película que mostra também as
pressões internas que nela atuam.
Pa11ll

-_.-
-~ -----, .~ ---P.'--,
-- -.- -', _.

-~f~~~~p~~~~_
p

Observe que a superfície da bolha voltada para o exterior é convexa, pelo que a pressão
interna que nela atua é igual à P' + p, enquanto que a superfície voltada para o seu interior é côncava
e, conseqüentemente, nela a pressão interna atuante é P' - p. Como estas pressões externas e intemas
que atuam na película estão em equilíbrio, então:

Paflll+ p'+ P =P+ P' - p


ou
P-Paflll=2p.
2a
Como PIIl=P-Pafllle p =-:
R
4a
P,I/=
R
Substituindo os dados do exercício:

R = 4xO,027 = 0,012m.
9

Como o diâmetro da bolhaD = 2R, então D = 0,024111 = 24 111111.

2. Um método comum de se medir a tensão superficial de um líquido consiste em borbulhá-Io com


um gás inerte, por meio de um pequeno tubo cilíndrico, logo abaixo de sua superfície, Prove que,
no processo de borbulhamento, a pressão do gás é máxima quando o raio da bolha em formação
for igual ao raio do pequeno tubo. Com base nisso, calcule a tensão superficial de um líquido com
densidade 1500 kg m-3, sabendo-se que o tubo de borbulhamento tem I llliTI de raio, que sua
extremidade aberta no interior do líquido está a 9 llliTI da superfície e que a pressão manométrica
de borbulhamento máxima obtida, sob estas condições, foi de 187 N/mz.
Solução:
O esquema, mostrado na figura a seguir, ilustra o procedimento experimental de medida do
coeficiente de tensão superficial apor este método. Neste esquema, R = raio de curvatura da bolha c
r = raio do tubo.
26 • Tensão Superficial

///

P'-p
Analisando qualquer uma das situações da figura acima, é fácil verificar que:

P + P' -p = Pa1m + P' + pgz


ou
P - Pa1m = p + pgz .

Mas, como P/lI = P - Pa1m ep = 2 eJ/R, então:


2eJ
P =-+pgz.
m R

Ora, pela equação acima, para que Pm seja um máximo, R deve ser um mínimo e isso vai
acontecer quando R = r, pois, como pode ser visto na seqüência mostrada na figura, à medida que se
aumenta a pressão do gás, R só pode diminuir até o valor limite (mínimo) quando ele se toma igual a
r, porque qualquer aumento de pressão a partir desse ponto fará com que a bolha seja perdida, isto é,
ela se expandirá e se destacará do tubo.
Neste ponto, portanto, que pode ser visto no esquema mais à direita da figura,

Pm(Max) _
r + pg I + r ,
- 2eJ ( )

sendo I = comprimento do tubo dentro do líquido.


Explicitando eJ,
p pg(Z + r)r
(J = m(Max)r
2 2

Substituindo os valores Pm(Max) = 187 N/mz, r = 1 mm = 10.3 m, p = 1500 kg m·3, 1=9


mm = 9.10.3 m eg= 9,8 m.s'z, resulta

(J = 187.10-3 1500 X 9,8(1O-Z )10-3 = 2,0.10-2 N/m.


2 2
Dinâmica da Agua no Solo • 27

6. CAPILARIDADE

Sabemos da hidrostática que, quando se preenchem vários vasos comunicantes com um


detem1inado líquido, este sempre atinge a mesma altura em todos os ramos. Entretanto, para tubos de
pequeno diâmetro (= tubos capilares) esta afirmação não é verdadeira, devido aos fenômenos
relacionados com a tensão superficial do líquido em contato com uma parede sólida (ver item 3), os
quais são muito mais acentuados nos tubos capilares, originando os chamadosj€?nômenos capilares.
Assim, se tomarmos um tubo de vidro em U, no qual um dos ramos é capilar (diâmetro
intemo de, por exemplo, 0,2 mm) e outro não (diâmetro intemo de, por exemplo, 20 mm) e o
preenchem10s com água ou com mercúrio, obtém-se, depois do equilíbrio, contrariando as leis de
hidrostática, o que é visto nas figuras 1.13a e 1.13b, respectivamente.
(a) (b)

vidro -..". água

Figura 1.13 Ascensão capilar (a) e depressão capilar (b).

Observa-se, pela Figura 1.13, que a superficie livre dos líquidos nos tubos capilares f0I1113um
menisco côncavo quando o líquido molha (água) a parede do tubo e convexo quando não a molha
(mercúrio). No primeiro caso, resulta um desnível h entre as duas superficies livres, sendo o nível
mais alto no tubo capilar, enquanto que no segundo o nível no tubo é mais baixo. Isto é, quando o
líquido molha a parede, ocorre uma ascensão capilar h e quando o líquido não molha a parede, uma
depressão capilar h.
Estes fenômenos de capilaridade são explicados pela fÓ11nula de Laplace. Vejamos o caso da
ascensão capilar, que mais nos interessa; se quiséssemos estudar a depressão capilar, o raciocínio
, seria o mesmo (exercício 8). Para maior facilidade de explicação, em vez de utilizar o tubo em U da
Figura 1.13, imaginemos que o tubo capilar de vidro é colocado verticalmente dentro de uma cuba
com água (Figura 1.14). A ascensão capilar é iniciada pela atração das moléculas que compõem a
superfície do vidro, fazendo com que a água se curve para cima num menisco (ver item 3). Esta
curvatura para cima faz com que, de acordo com a fónnula de Laplace, a pressão intema sob o
menisco (côncavo) se tome menor que a pressão intema sob a superfície plana, isto é, o sinal de pé
negativo, como já esclarecemos no item anterior. Nestas condições, o valor correto da pressão a uma
distância z abaixo da superfície côncava no capilar (ponto A da Figura 1.14a) é, de acordo com a
equação (2) e o exposto no item 4:

P(l/m + (p' - p)+ pgz . (17)

Ora, como a pressão à mesma distância z, porém abaixo da superfície plana (ponto B da
figura 14a), vale
28 • Tensão Superficial

Parll/+ p' + pgz,

Patm- Pargh

p,_~~ItA-

r r_I I"m í"m

-A

,1-
P

'- - - - P'.:.
A
fP~patm
I

(a)
T
,l' lr=:l" (b)

Figural.14 Ascensão da água num tubo capilar: (a)formação do menisco côncavo, (b) ascensão.

que é a equação (2) já explicada anterionnente, e tendo em conta a lei de Pascal da igualdade de
transmissão de pressão, não pode haver equilíbrio enquanto a pressão interna mais forte sob a
superficie plana na cuba empurre para cima o líquido no tubo capilar até a uma altura h
(Figura 1.14b), com a qual, em qualquer ponto no mesmo plano horizontal dentro da cúba, a pressão
total é a mesma. Assim, para os pontos A e B (Figura 1.14b),

Palll/ + p' + pgz = (Palll/ - Pargh) + (p' - p) + pgh + pgz


ou

p = (p - PaJgh

donde

P
17=-----, (18)
g(p - pJ

sendo Par = densidade média do ar entre o menisco no capilar e a superficie do líquido na cuba.
Observe que a pressão atmosférica, que atua no menisco na condição natural de equilíbrio da
Figura 1.14b, é igual a Palll1 - Pmgh, isto é, menos a quantidade p",gh em relação à pressão
atmosférica Pall1l que atua na superfície do líquido na cuba, devido à altura de ar h a mais que atua na
mesma superfície, quando se atinge o equilíbrio da Figura 1.14b.
No caso de a superfície côncava ser esférica e de raio R (Figura 1.15), resulta que p = 2cr/R
(equação 16), porquanto a expressão (18) se toma:

17= 2cr (19)


(p - PaJg R'
Dinâmica da Agua no Solo • 29

Por outro lado, da Figura 1.15:

R=--
r
cosa
,

sendo r = raio do capilar. Resulta, então, para h, a expressão:

h = 2cr cosa (20)


(p- pJgr'

Figura 1.15 Detalhe da superficie do líquido no capilar com o ângulo de contato a.

Devido ao seu baixo valor em relação a p (no caso, aqui, da água), a densidade do ar par
nonnalmente não é considerada nas equações (18), (19) e (20); daí, numa primeira aproximação,
utilizar-se as expressões

h=L , (21)
pg

h=~ (22)
pgR
e

h = 2 cr cosa (23)
pgr '

respectivamente, para o cálculo da altura da ascensão capilar do líquido. No caso, entretanto, de que,
em vez do ar, tenha-se um outro fluido, um líquido de densidade próxima à da água, por exemplo, a
utilização das equações (21), (22) ou (23) pode levar a obtenção de um valor h muito diferente do
real.

Exemplos Ilustrativos
1. Um tubo capilar de vidro de raio 0,1 mm é inserido numa cuba com água. Ocorre uma ascensão
capilar de 147 mm. Sendo o ângulo de contato igual a 0° e as densidades da água e do ar
1000 kg m'3 e 1,293 kg mo3,respectivamente, calcular a tensão superficial da água.
30 • Tensão Superficial

Solução:
A partir da equação (20):

(5 = (p - Par )grh .
2. cos a

Substituindo os valores do exercício:

(1000-1,293)9,8 X 10--4 X 147.10-3 = 0,07194N/m.


(5 = 2.cosO'

Se os cálculos acima forem refeitos sem considerar a densidade do ar, isto é, utilizando a equação
(23) em vez da equação (20), verifica-se que o resultado obtido é praticamente o mesmo, porque a
densidade do ar é muito pequena em relação à densidade da água (aproximadamente mil vezes
menor).
2. Consideremos a mesma situação do exemplo anterior, mas com substituição do ar por benzeno de
densidade 800 kg m-3, confonue a figura abaixo.
Nesta situação, a ascensão capilar do menisco água-benzeno
é 40 mm, e o ângulo de contato vidro-água-benzeno, 40°.
Qual o valor da tensão superficial da água, agora tendo
benzeno como meio circundante, isto é, qual é o valor da
tensão interfacial entre a água e o benzeno?

Solução:
Este é um exemplo típico em que a densidade do meio
circundante é relevante. Assim, neste caso, basta utilizar a
equação (23) substituindo a densidade do ar pela densidade
do benzeno. A propósito, a equação (23) pode ser
generalizada para

h = 2(5 cosa ,
(p - Pm )gr

em que Pm = densidade do meio circundante.


Portanto, no exemplo em questão, tem-se, a partir da equação acima, que:

(1000 - 800) 9,8x1 0--4x 40.1 0-3 = 0,0051N/m.


(5= 2cos40'

Evidentemente, a expressão (20) ou (23) pode também ser utilizada para os líquidos que não
molham o tubo, como o mercúrio em vidro, para os quais, ao invés de ascensão ocorre uma
depressão capilar. Neste caso, a> 90° e cosa < O, e demonstra-se facilmente que às expressões (20)
ou (23) há que se inserir um sinal negativo (ver exercício 8). Deve ser lembrado que na equação (20)
ou (23) entra em jogo o raio r do capilar no ponto onde se fonua o menisco, porquanto constrições
ou expansões abaixo deste ponto não interessam (Figura 1.16), daí o enunciado da lei de Jurin: "para
Dinâmica da Agua 110 Solo • 31

um mesmo líquido, a uma mesma temperatura, a altura de ascensão ou depressão capilar é


inversamente proporcional ao diâmetro do tubo na região em que se fonna o menisco".

f1

A B c

Figura 1.16 Tubos capilares com diferentes volumes de água.

É evidente que, quando se submerge o tubo A (Figura 1.16) na água, o desnível h se fonna
naturalmente, como acabamos de demonstrar. No entanto, nos casos dos hlbos B e C, é necessário,
para a obtenção do desnível h, que a água seja antes forçada a subir pelas partes não capilares destes
hlbos e, então, ao encontrar sua porção capilar, manter a coluna de altura h como no caso do hlbo A.

6.1 Tensão da água

Como pudemos observar, os fenômenos de ascensão (ou depressão) capilar só aparecerão


quando houver a fonnação de menisco (superfície líquida curva). Nos casos em que a superfície
líquida for plana, nunca irão ocorrer tais fenômenos. Assim, à semelhança do que vimos no caso dos
níveis de pressão para os quais selecionamos a pressão barométrica como nível de referência, por ser
a condição reinante sempre existente, por que não considerar como nível de pressão, no caso dos
fenômenos capilares, a pressão sob a superfície plana do líquido, por ser a superfície de líquido mais
comum? Se assim fízennos, a pressão efetiva (Pe), neste caso, seria igual à diferença entre a pressão
imediatamente abaixo da superfície curva (Pc) e a pressão imediatamente abaixo da superfície plana
(Pp), isto é,

(24)

e, como já demonstramos, no caso da superfície curva ser côncava, Pc = P' - P - e sendo Pp = P "
então Pe = -p. Nesta situação em que a pressão efetiva é negativa (Pc < Pp), introduz-se um novo
tenno -r chamado tensão, de tal maneira que

'r= p, (25)

isto é, o líquido sendo a água, defíne-se tensão da água como a pressão que atua imediatamente
abaixo de sua superfície quando côncava em relação à pressão que atua imediatamente abaixo de sua
superfície quando plana (Pc - Pp), com o sinal trocado: o tenno tensão elimina o sinal negativo. Note,
portanto, que quanto maior for a concavidade da superfície da água, maior será p e,
conseqüentemente, maior a tensão da água 'r.
32 • Tensão Superficial

7. EXERCÍCIOS

1. Se, ao se colocar um tubo capilar de vidro verticalmente dentro de uma vasilha com determinado
líquido, fonnar-se um menisco com ângulo de contato de 90°, o líquido subirá ou descerá no tubo
capilar? Qual será a forma da superfície do líquido no capilar?
2. No experimento de ascensão capilar da Figura 1.14, a que altura h água pura a 298 K subirá num
tubo capilar de vidro de 0,1 mm de diâmetro? Dados: p = 1000 kg/m3; a = O';
a = 71,97.10.3 N/m.
3. Se o tubo capilar cheio de água do problema anterior for quebrado, de tal modo que seu
comprimento acima da superfície livre da água se tome h/2, a água esguichará através da
extremidade superior do capilar? Por quê?
4. Se, em vez de água, utilizássemos mercúrio (a= 513.10.3 N/m, p= 13600 kg/m3 e a= 140°) no
exercício n. 2, de quanto seria a depressão capilar?
5. Um tubo capilar com 0,88 mm de diâmetro interno é mergulhado numa cuba com glicerina. A
glicerina sobe 23,3 mm no tubo. Sendo sua densidade igual a 1260 kg/m3, qual é seu coeficiente
de tensão superficial? Assuma a= 0°.
6. Se no exercício n. 2, em vez de um tubo capilar de 0,1 mm de diâmetro, imergíssemos duas
placas de vidro verticais, distantes entre si de O,llmn, qual seria o valor de h? A fónnula da
ascensão capilar seria a mesma? (não considere qualquer tipo de bordadura).
7. Prove que para a superfície curva da figura seguinte, a equação (14), fónnula de Laplace, se toma

p = a(l-
RI - ..!-J.
R2

líquido

8. Deduza a fórmula (20), considerando no processo de dedução um líquido que não molhe a
superfície sólida, isto é, um líquido em que a> 90° (ou seja, um líquido que sofre o fenômeno de
depressão capilar).
9. Um recipiente qualquer tem em seu fundo um orifício circular capilar de 0,04 mm de diâmetro.
Calcule qual a altura máxima de água com que esse recipiente pode ser preenchido sem que haja
gotejamento através do orifício.
Dinâmica da Agua no Solo • 33

O.Se o experimento para demonstrar a ascensão capilar fosse feito na Lua, na qual a gravidade é
seis vezes menor do que na Terra, o resultado seria o mesmo? E se fosse feito na própria Terra,
mas no vácuo, qual seria o resultado? Demonstre ambos os casos, não considerando, em ambos, o
aspecto da evaporação do líquido.
li. os mesmos experimentos de demonstração da ascensão capilar, o que aconteceria, depois de a
água ter estabilizado a uma altura h, se uma parte dela fosse, por um processo qualquer
(evaporação, por exemplo), retirada do capilar? A altura h diminuiria? Explique. E se o processo
fosse o inverso, isto é, depois do equilíbrio ainda existisse capilar acima do menisco e fosse
possível colocar água (sem aprisionar ar) no capilar, a altura h aumentaria? Por quê?
II
,
ESTRUTURA DA AGUA

1. INTRODUÇÃO

Em três pontos parece haver concordância entre os especialistas sobre a estrutura da água. O
primeiro é de que o vapor d'água consiste de moléculas simples discretas, isto é, há muito pouca
evidência de que estas moléculas na forma de vapor se associam, a não ser em casos muito raros,
quando moléculas que se colidem podem, ocasionalmente, combinar-se e fonnar dímeros (Dyke et
aI., 1977). O segundo é o da existência de uma estrutura do gelo comum (a estrutura em látices do
gelo - I), e, fInalmente, o terceiro ponto de concordância é o de a água líquida possuir uma estrutura
I
desmoronada do gelo - com ligações de hidrogênio mantendo moléculas juntas.
Este capítulo tratará, resumidamente, da exposição destes três pontos a respeito desta
substância que, embora em grande abundância na natureza, ainda não é completamente entendida.

2. ESTRUTURA DO VAPOR D' ÁGUA

Uma molécula isolada de água é composta de um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio. O


átomo de hidrogênio possui um próton positivamente carregado (em seu núcleo) e um elétron
negativamente carregado movendo-se ao seu redor. O átomo de oxigênio tem oito prótons (em seu
núcleo) e oito elétrons movendo-se ao seu redor, seis dos quais na camada externa da eletrosfera.
Para alcançar um estado de gás nobre, o oxigênio precisa, portanto, de mais dois elétrons, enquanto o
átomo de hidrogênio de apenas mais um elétron. Por esse motivo, estes átomos têm afInidade entre si
e na molécula de água, conseqüentemente, um átomo de oxigênio compartilha dois elétrons de dois
átomos de hidrogênio para que a camada externa da eletrosfera do átomo de oxigênio fIque com oito
elétrons e a dos átomos de hidrogênio com dois elétrons. Portanto, na molécula de água, existem
duas ligações covalentes O-H A partir da difração de raios-X e outros estudos, hoje se sabe que uma
molécula de água individual tem uma fonna de V, na qual o ângulo formado pelas linhas que unem
os dois núcleos de hidrogênio ao do oxigênio foi estimado em 104°31', a distância entre os núcleos
de oxigênio e hidrogênio em 0,096 nm e a molécula toda em um diâmetro de 0,33 nm, com o raio
variando entre 0,12 nm e 0,14 nm, uma vez que ela não é uma esfera perfeita (Figura 2.1).
36· Estrutura da Agua

j/

Figura 2.1 Molécula de vapor d'água (Camp, 1963).

Além disso, há duas regiões com excesso de carga positiva associadas a cada átomo de
hidrogênio e outras duas regiões com excesso de carga negativa associadas com os dois pares de
elétrons não compartilhados do átomo de oxigênio, dando à molécula de água uma distribuição de
carga líquida que se assemelha a uma figura geométrica de quatro lados. Se conectannos estes
prótons particulares e os pares de elétrons não compartilhados, obtém-se um tetraedro com dois
vértices positivos e dois negativos (Figura 2.2, Davis & De Wiest, 1960). Com esta distribuição de
cargas, o centro resultante da carga positiva não coincide com o centro resultante da carga negativa,
fazendo com que a molécula de água se tome um dipolo elétrico, possuindo, conseqüentemente, um
momento dipolar, o qual tem sido estimado em 6,14.10,30 cm. (Davis & Day, 1961).

/' ~ /' ~
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\ 0/
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"'- ~e
"- ./

Figura 2.2 Arranjo da molécula de água, com o núcleo do átomo do oxigênio no centro do
tetraedro e a posição média dos dois núcleos de hidrogênio e cada um dos dois pares de
elétrons não compartilhados, nos seus ápices (Davis & De Wiest, 1960).

É por causa deste momento dipolar que uma molécula de água tem a capacidade de atrair
,outras moléculas de água, ou mesmo outras substâncias estranhas quando no estado líquido ou
sólido,
Dinâmica da Agua no Solo • 37

3. ESTRUTURA DO GELO COMUM OU GELO-I

o gelo comum é chamado de "gelo-I" pelo fato de haver oito outras formas de gelo, gelo-lI a
gelo-IX, as quais têm interesse apenas acadêmico, pois não se fonnam naturalmente.
Quando duas moléculas de água se aproximam, elas se unem devido à uma atração elétrica
entre um vértice positivo de um tetraedro e um vértice negativo de um outro tetraedro. Nesta ligação
entre duas moléculas de água, um próton de hidrogênio é envolvido; daí esta ligação (de natureza
elétrica) se chamar ligação de hidrogênio.
Se olhannos para uma molécula particular de água numa estrutura de gelo comum, verifica-se
que ela tem quatro moléculas de água vizinhas, resultando em quatro ligações de hidrogênio num
alTanjamento tetraedral (Figura 2.3, Home, 1972).
Nota-se, pela Figura 2.3, que não se trata de um tetraedro de quatro esferas encostadas umas
às outras, mas sim um grupo bem aberto de cinco esferas, uma das quais está no centro do tetraedro
fonnado pelas outras quatro. .
A energia destas ligações de hidrogênio na estrutura do gelo comum foi estimada em
18,8 kJ/mol.
ligação cova lente (713,1 kJ/mol)

ligação H (18,8 kJ/mol)

Figura 2.3 Arranjamento tetraedral de quatro moléculas de água ao redor de uma quinta, no gelo
(Horne, 1972).
Estudos desenvolvidos por Frank (1970) têm mostrado que a distância entre dois oxigênios na
estrutura do gelo-I é 0,276 nm, e que a distância entre os núcleos de hidrogênio e oxigênio, numa
mesma molécula, é 0,099 nm, um pouco maior do que na molécula de vapor d'água (0,096 nm),
resultando um valor de 0,177 nm para a distância entre o núcleo de oxigênio de uma molécula e o
núcleo de hidrogênio da molécula vizinha.

4. ESTRUTURA DA ÁGUA LÍQUIDA

No caso da estrutura da água no estado líquido, a situação é mais complexa e ainda não bem
definida, havendo algumas especulações que passamos a descrever.
38· Estrutura da Agua

1. Se todas as ligações de hidrogênio na estrutura do gelo-I fossem quebradas no processo de fusão, a


água líquida deveria ter um arranjamento bem compacto, isto é, cada molécula de água seria
rodeada por muitas moléculas de água e não apenas por quatro. Se o raio molecular da água
líquida permanece em 0,14 nm (como na molécula de gelo ou do vapor d'água), então a densidade
da água líquida seria computada a 1840 kg.m-3, o que sabemos não ser verdade. Assim, esta
especulação não convence, pelo que então, aparentemente, nem todas as ligações de hidrogênio
são rompidas quando o gelo derrete.
2. Se assuminnos que as ligações de hidrogênio não são quebradas no processo de fusão e que a
densidade da água líquida a 273 K seja 1000 kg m-3, então o raio molecular do gelo na sua fusão
teria que aumentar de 0,14 para 0,172 nm. Mas os pioneiros no estudo da estrutura da água
afinnam que o raio da molécula na água líquida é aproximadamente o mesmo que na estrutura do
gelo-I ou no vapor d'água. Assim, em vez de mudar o raio da molécula de água, há que se pensar
em outras mudanças, como na estrutura.
3. A 273 K, a água líquida, assim como o gelo, tem quatro moléculas de água vizinhas, mas a
distância que separa os núcleos de oxigênio é 0,29 nm, em vez de 0,276 nm. Assim, nesta
interpretação, a água líquida teria uma estrutura muito similar à do gelo-I, mas não exatamente a
mesma. Por esta hipótese, isto é, se a estrutura da água líquida fosse idêntica à do gelo, este
pequeno aumento na distância entre os núcleos de oxigênio (de 0,276 para 0,29 nm) tomaria a
densidade da água aproximadamente igual a 780 kg m-3, em vez de 1000 kg m-3. Portanto, assumir
que a estrutura da água líquida é a mesma do gelo, apenas com um aumento na distância entre os
núcleos de oxigênio, também não satisfaz.
Estes pontos de controvérsia que ainda estão sendo decifrados continuavam até 1933, quando
Berual e Fowler publicaram seu trabalho pioneiro sobre a estrutura da água.
Antes de apresentarmos os modelos de estrutura da água líquida, consideremos algumas
relações de energia nas ligações de hidrogênio. A energia média das ligações de hidrogênio é de
18,8 kJ/mol, e o calor de fusão do gelo, 334,4 kJ/kg x 0,018 kg/mol = 6 kJ/mol. Assim, pelo fato de
o calor de fusão ser menor do que a energia da ligação de hidrogênio, ao se derreter o gelo, é muito
provável que apenas uma fração das ligações de hidrogênio se rompa. A literatura relata que somente
14 - 16% das ligações de hidrogênio são quebradas quando o gelo se funde a 273 K. Outros
pesquisadores afirmam que, na realidade, as ligações de hidrogênio são simplesmente distorcidas
porque o calor de fusão é demasiado pequeno em comparação à energia de ligação de hidrogênio.
Estudos sobre a estrutura da água a altas temperaturas (298 - 373 K) indicam que a porcentagem de
ligações de hidrogênio quebradas a 298 K varia de 20 a 50%, e a 373 K entre 50 e 75%. É por isso
que a água líquida tem uma estrutura desmoronada da estrutura do gelo-I.

4.1 Modelo de Bernal e Fowler (1933)


Este modelo considera que as ligações de hidrogênio na água líquida estão continuamente se
quebrando e se rearranjando. Assim, os autores defendem a hipótese de que cada molécula de água
tem somente um pouco mais que quatro moléculas de água vizinhas.
Quando a temperatura da água é aumentada a partir de 273 K, observa-se que entre 273 e
276,94 K sua densidade aumenta até um máximo de 1000 kg m-3, e a partir daí diminui. Este fato
incomum que ocorre com a água, de aumento da densidade com aumento de temperatura, é porque
ao se awnentar a temperatura de 273 para 276,94 K, mais e mais ligações de hidrogênio são
quebradas e, assim, ela se toma mais compacta. Mas, para valores de temperatura maiores do que
276,94 K, a agitação térmica é maior do que o rompimento das ligações de hidrogênio e a densidade
diminui. Assim, de acordo com Bernal e Fowler, o aumento da densidade da água quando se eleva a
Dinâmica da Agua no Solo· 39

temperatura de 273 e 276,94 K é causado pelo colapso das ligações de hidrogênio e que, acima de
276,94 K, a agitação térmica predomina e a densidade se toma menor.

4.2 Modelo de Frank & Wen (1957)

Os autores deste modelo acreditam que a estrutura da água líquida consiste, na realidade, de
uma mistura de aglomerados de moléculas de água ligadas como no gelo-I, rodeados por um fluído
de moléculas de água não ligadas entre si (Figura 2.4). Dentro dos aglomerados, as moléculas de
água estão mais ou menos rígidas, como na estrutura do gelo-I, enquanto que, por fora dos
aglomerados, as moléculas de água são menos rígidas. Frank e Wen (1957) se referem a este modelo
dinâmico como um modelo de aglomerados oscilantes. Essencialmente, eles explicam que estes
aglomerados aparecem e desaparecem continuamente num intervalo de tempo de aproximadamente
10-10 segundos. Desta maneira, em nível microscópico, há alguns pontos frios e outros quentes no
volume global da água; o que nós medimos macroscopicamente usando um tennômetro ou um
telmistor é, na realidade, uma temperatura média da água como um todo. No entanto, estudo mais
recente desenvolvido por Stillinger (1980) parece rejeitar este modelo dinâmico, considerando a
água líquida como uma rede tridimensional de ligações de hidrogênio que mostram uma tendência
para a geometria tetraedral, mas contendo muitas ligações tensas ou quebradas.

aglomerado

aglomerado

Figura 2.4 Representação esquemática dos aglomerados de moléculas de água ligadas e não
ligadas na água líquida, de acordo com o modelo de Frank e Wen (Cavanau, 1964).
III

RETENÇÃO E CÁLCULO DA ÁGUA NO SOLO

1. RETENÇÃO DA ÁGUA PELOS SOLOS


Para nossos propósitos, vamos considerar o solo como sendo, simplesmente, um material
natural, sólido e poroso. A parte sólida deste material poroso consiste principalmente de partículas
minerais e substâncias orgânicas de várias fonnas e tamanhos, e é chamada de esqueleto, sólidos ou
matriz do solo. A parte porosa, isto é, a parte não ocupada pela matriz, consiste de poros
interconectados e recebe o nome de espaço poroso ou poros do solo. Solos contendo, na camada
°
superficial de a 0,5 m de profundidade, mais de 85% de matéria mineral são chamados solos
minerais, e aqueles contendo mais de 15% de matéria orgânica nesta camada são chamados solos
orgânicos. Os poros do solo abrigam, em seu interior, quantidades variáveis a) de uma solução
aquosa de vários eletrólitos (Na+, K+, Ca2+,Mg2+,CI-, NO;, SO~- etc) e outros componentes,
denominada água ou solução no solo e b) de uma solução gasosa, composta principalmente de N2,
02' vapor d'água, CO2 e pequenas quantidades de outros gases, denominada ar no solo.
Imaginemos a situação em que o espaço poroso esteja totalmente cheio de água, isto é, solo
saturado. Quando a água em um solo nestas condições é drenada, ar deve entrar para substituí-Ia no
espaço poroso, resultando o solo não saturado. Portanto, um solo não saturado, também chamado
por alguns de solo agrícola, é aquele cujo espaço poroso é parcialmente cheio de água e
parcialmente cheio de ar. Esta saída de água do complexo espaço poroso do solo faz com que ocorra
a fonnação de interfaces ar-água, resultantes dos processos de retenção da água pela mah-iz do solo.
A Figura 3.1 mostra, de [onna esquemática, como a água é retida no arranjo poroso do solo após a
drenagem.
Dois processos explicam, basicamente, a retenção da água pelos solos.
No primeiro deles, a retenção ocorre nos microporos (ver definição na página 47) dos
agregados e pode ser ilustrada pelo fenômeno da capilaridade, o qual está sempre associado a uma
interface curva ar-água, como já estudamos no capítulo I. Entretanto, o solo não é um simples tubo
capilar, mas sim uma composição irregular de poros e canais formados pelos seus sólidos. Isto,
evidentemente, complica a descrição do estado da água no solo.
42 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

interface curva
ar-água

partícula
do solo

agregado

filme contínuo
de água

ar no solo
(macroporo )

mlcroporo

Figura 3.1 Retenção da água por agregados do solo após a drenagem.

No seglUldo processo, a retenção ocorre nas superfícies dos sólidos do solo como filmes
presos a ela, pelo chamado processo de adsorção. Três são os mecanismos principais propostos para
explicar esta adsorção da água sobre as superficies sólidas, os quais passamos a explicar,
resumidamente, a seguir.
1. A superficie dos minerais de argila é coberta com átomos de oxigênio e gmpos oxidrilas
negativamente carregados devido à subStitlÜção isomorfa de cátions. Desse modo, cria-se ao
redor das partículas desses minerais wn campo elétrico cuja intensidade deoresce com a distância
da superficie da partícula. Devido à natureza dipolar das moléculas de água (ver capítulo lI), elas
se orientam neste campo elétrico e experimentam uma força na direção da superficie da partícula,
a qual decresce graduahnente com a distância desta superfície, até se tomar nula lllun ponto em
que não há mais influência do campo.
2. Os pares de elétrons não compartilhados do átomo de oxigênio das moléculas de água podem ser
eletricamente atraídos a cátions trocáveis que podem estar adsorvidos sobre a superfície da argila,
ou seja, os cátions que são retidos à superfície negativamente carregada de argila (a concentração
iônica é crescente na direção da superfície sólida) ocasionam também a adsorção das moléculas
de água.
3. Finahllente, as moléculas de água podem ainda ser atraídas às superfícies sólidas pelas forças de
London-van der Waals que, como já vimos, são forças de curto alcance que decrescem
rapidamente com a distância da superfície, de modo que uma camada muito fina é adsorvida
desta maneira ao redor das partículas do solo.
É importante reforçar que, também no caso da adsorção, essa película de água adsorvida às
superfícies dos sólidos do solo possui, como resultado destas forças de adsorção, wna energia
potencial extra, wna vez que, se afastarmos uma detenllinada porção dessa película a uma distância
dentro do raio de ação destas forças e a abandonannos, ela volta à posição original realizando um
2. CÁLCULO DA ÁGUA NO SOLO
Imaginemos uma dada porção de solo não saturado no campo. Imaginemos, ainda, que a
forma desta porção seja a de um paralelepípedo, com uma de suas faces coincidindo com a superfície
do solo, como mostra a Figura 3.2.
Chamando o volume dessa porção de volume do solo V = XYZ (Figura 3.2), o volume dos
sólidos dessa porção de volume dos sólidos do solo V" e o volume do espaço poroso dessa porção de
volume do espaço poroso ou poros do solo Vp, evidentemente

(1)

Como o espaço poroso está sempre preenchido por água e/ou ar, chamando de Va o volume de água
e de Varo volume de ar existentes no espaço poroso, num detem1inado momento, então,

(2)

sólidos
+
água
z +
ar

Figura 3.2 Volume de solo no campo.

Num solo de estrutura rígida, Vp = constante e, portanto, quando Va aumenta (ou diminui), Var
diminui (ou aumenta) do mesmo valor.
Igualmente, chamando a massa dos sólidos da porção de massa dos sólidos do solo llIe. a
massa de água na porção, num dado instante, de massa de água no solo m , e a massa de a _ 2
porção, no mesmo instante, de massa de ar no solo mar então a massa da porçã~ de solo não saTh--a'0
ou massa do solo não saturado m, no referido instante, valerá:
44 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

m=ms +ma + mar . (3)

Evidentemente, se o solo estiver saturado, mar = O, e então, pela equação (3),

m=ms +ma· (4)

Por outro lado, em comparação com a magnitude de ms + ma, mar toma-se desprezível, pelo que a
equação (4) pode ser utilizada também para solo não saturado.

Densidade dos Sólidos (p)


A palavra densidade refere-se à massa que o volume de um detenninado corpo possui, isto é,
densidade de um corpo é, por definição, o quociente da massa pelo volume desse corpo. Não
confundir com o tenno massa específica, que se refere à densidade de uma substância pura.
Exemplificando, uma esfera de ferro oca, com volume de 4.10'5 m3 e massa de 0,01 kg, possui uma
densidade igual a 250 kg m,3, ao passo que a massa específica do ferro (da substância pura ferro) é
7800 kg m,3.
Portanto, a densidade dos sólidos de uma amostra de solo é, por definição, a razão entre a
massa total e o volume total dos sólidos da amostra, isto é:
m
(5)
p s = --t
s
(kg m'3) .

o cálculo de Ps de uma amostra de solo, por meio da equação (5), envolve, portanto, a medida
de ms e V,. Detalhes do procedimento e instnunental para a determinação de ps podem ser
encontrados, por exemplo, em Blake e Hartge (1986), Embrapa (1986) e Kiehl (1979).
Um aspecto impOliante a notar é que para os solos minerais comuns, a densidade dos sólidos
de uma amostra de solo é dada por
feldspato 2500 - 2600 kg m,3
111lCa 2700 - 3000 kg m,3
qualizo 2500 - 2800 kg m,3
minerais de argila 2200 - 2600 kg m,3
média 2650 kgm,3.

Portanto, para um solo mineral médio, pode-se, numa primeira aproximação, assumir ps como
sendo igual a 2650 kg m,3. Este valor aumenta quando o solo contém alta porcentagem de minerais
como dióxido de manganês e dióxido de titânio e diminui quando se aumenta o seu teor de matéria
orgânica. A densidade da matéria orgânica varia de 1300 a 1500 kg m·3.
A densidade dos sólidos é também conhecida pelos nomes densidade das partículas do solo e
densidade real do solo.

Exemplo Ilustrativo
Na detem1inação da densidade dos sólidos de uma amostra de solo pelo método do álcool,
foram utilizados um balão volumétrico e uma bureta de 50 x 10,6 m,3. Seguindo o procedimento do
método, o valor da massa de sólidos obtida foi de 5,4 x 10'3 kg e a leitura da bureta foi de 48 x 10,6
m3. Qual o valor da densidade dos sólidos dessa amostra?
equação de definição de P", a equação (5), Há necessidade, portanto, da medida da m,l' e do V, do
solo. Para a medida da m,I', a amostra coletada deve, primeiramente, ser deixada secar ao ar no
laboratório e, a seguir, passada em peneira de malha 2 mm. Esta amostra assim peneirada é,
tradicionalmente, conhecida pelo nome de terra fina seca ao ar. Em seguida, uma alíquota desta
terra fina seca ao ar, que vai ser utilizada para detenninação da Ps> é colocada em estufa a 378 K
durante 24 horas para a retirada da água nela existente, e após este tempo pesada em balança de
precisão adequada; o valor da massa obtida será a ms da amostra. Esta amostra assim peneirada e
assim seca em estufa é, tradicionalmente, conhecida pelo nome de terra fina seca em estufa. Para a
medida do V", utiliza-se um conjunto de uma bureta e um balão volumétrico de capacidades
exatamente iguais, isto é, que quando cheios devem medir exatamente o mesmo volume (Vb),
confonne mostra a figura a seguir. Coloca-se, então, a amostra seca de massa ms no balão
volumétrico, enche-se a bureta com álcool e procede-se à transferência do álcool da bureta para o
balão, conforme mostra a figura, até o completo preenchimento deste. Tenninado o enchimento do
balão, como dentro dele tem-se a amostra de massa ms, evidentemente sobrará álcool nabureta,
porque esta tem exatamente o mesmo volume do balão Vb. Portanto, a leitura L da bureta neste
momento subtraída de Vh fornecerá o valor de V,.

Substituindo os dados do problema:


m, 5,4xlO-J
P" =v:= (50-48)10-6 =2700kgm-J

+-0 o

Bureta cheia Bureta parcialmente


- de álcool .4<- cheia de álcool

+-Vb

+-Vb ~Vb

Balão volumétrico Balão volumétrico com


~ só com os sólidos ~ os sólidos, cheio de
álcool

Sólidos

Densidade do Solo (p)


Na definição anterior da densidade dos sólidos, o espaço poroso entre os sólidos foi excluído.
Quando este espaço é considerado e em vez de se utilizar V" utiliza-se V, o volume do solo, a
46 • Retenção e Cálculo da Àgua no Solo

densidade passa a chamar-se densidade do solo, uma vez que a massa do nosso corpo poroso, o solo,
é igual a ms e seu volume igual a V. Assim,
m
P =-'
V
-7(kg m').
3
(6)

Em solos expansivos, isto é, aqueles em que V varia com a quantidade de água nos poros, o
valor da densidade do solo obtido deve vir acompanhado do valor do conteúdo de água no momento
da amostragem.
Basicamente, estão em uso mais corrente quatro métodos de detenninação de p : método do
anel volumétrico, método do torrão, método da escavação e método da radiação gama. Os três
primeiros (tradicionais) encontram-se descritos, com detaIbe, em BIake e Hartge (I986) e o quarto
(nuclear) em Vose (1980). Uma boa visão sobre oassunto pode também ser encontrada em Erbach
(1987).
Em tennos gerais, a densidade do solo de amostras de solo mineral natural varia de 700 a
2000 kg m'3. Sob condições de estrutura comparáveis, pode-se dizer que quanto mais argiloso o solo,
menor sua densidade. Alguns valores representativos são apresentados a seguir, para amostras de
solo da camada superficial.
solos arenosos: 1300 - 1800 kg m-3
solos argilosos: 1000 - 1400 kg m-3
solos orgânicos: 200 - 600 kg m'3
A densidade do solo é também conhecida pelo nome de densidade global (tradução do termo
inglês bulk density).

Exemplo !lustrativo
Coletou-se uma amostra de solo com estrutura indefonnada de uma dada profundidade, por
meio de amostrador, num anel volumétrico de diâmetro 7,5 . 10,2 m e altura de 7,5 . 10,2 m. Após a
coleta, a amostra de solo não saturado foi colocada numa estufa a 378 K e, após 24 horas, verificou-
se que a sua massa pennaneceu constante e igual a 0,458 kg. Qual o valor da densidade do solo?
Solução:
Esta é a maneira tradicional e direta de se determinar a densidade do solo em solos normais
livres de cascalhos e rochas. O amostrador referido no enunciado do problema é o conhecido
amostrador de Coile (1936) com as modificações feitas por Uhland (1949).
Pelos dados do problema, o volume da amostra vale

V = nd 2 (2)2
x h = 3,147,5.10- x 75.10-2
4 4 '

ou

V = 3,31.10-4m3.
Poros idade do Solo (cx)

É um índice que quantifica a fração do volume do solo ocupada pelos poros, isto é, em
símbolos

a=f=v Va +
V Var -~-7
V -V (m3 m-3 ) , (7)

sendo, evidentemente, Vp = Va + Var = V- Vs = volume dos poros ou volume do espaço poroso. Em


porcentagem:

(8)

Uma expressão também muito utilizada para o cálculo da porosidade do solo é a equação (9) a
segUIr,

(9)

a qual pode ser facilmente deduzida a partir das equações (5), (6) e (8).
Como se pode notar por esta expressão (9), a porosidade do solo está inversamente
relacionada com a densidade do solo, isto é, quanto maior essa densidade, menor a poros idade.
Alguns valores representativos de p e a para as classes de textura argila, franco e areia são
apresentados a seguir.
classe textural p (kg m"3) a(%)
argila 1000 - 1250 61,5 - 52,8
franco 1250 - 1400 52,8 - 47,2
arem 1400 - 1800 47,2 - 32,1

Em Física do Solo, define-se tamanho de poro como o diâmetro da maior esfera inscrita no
interior do espaço ocupado pelo poro. É por esse motivo que os poros do solo são classificados em
tennos de diâmetro de poro. Assim, Koorevaar et aI. (1983) classificam, empiricamente, os poros do
solo em três grupos:
macroporos: poros com diâmetro maior que 100 ).lm. Sua principal função é de aeração da matriz
do solo e condução da água durante o processo de infiltração. Afetam, portanto, a
aeração e a drenagem.
mesoporos: poros com diâmetro entre 30 e 100 ).lm. Sua principal função é a condução da água
durante o processo de redistribuição, quando após a infiltração se esvaziam os
macroporos.

microporos: poros com diâmetro menor que 30 ).lm. São também chamados poros capilares e
atuam na armazenagem da água. Nestes poros, a água se move, mas muito
vagarosamente.
Muitos detalhes mostrando a importância da porosidade do solo no crescimento vegetal, suas
relações com a estrutura, aeração e manejo do solo, seus métodos de avaliação etc. podem ser
encontrados em Baver et aI. (1972) e Taylor e Ashcroft (1972).
48 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

Razão de vazio (e)

É um índice que, à semelhança da porosidade, também quantifica o espaço poroso do solo,


sendo definido como a razão entre o volume dos poros Vp e o volume dos sólidos V;. da amostra:
V
e=-p. (10)
Vs

Verifica-se facilmente a partir das equações (7) e (10) que

a=--e
l+e
(11)

e
a
e=--.
l-a (12)

Porosidade de Aeração (aj


Este é um índice que revela quanto do volume da amostra é ocupado por ar, ou seja:

aa = VaI"
V
-7 (m3m-3). (13)

Em porcentagem:

(14)
aa(%)=(; )00.
A porosidade de aeração, também chamada porosidade livre de água, é muito utilizada em
estudos de drenagem de solos. Nestes estudos, é denominada de porosidade drenável e definida
como o volume de água que é drenado livremente por unidade de volume do solo, pelo
rebaixamento do lençol freático (Cruciani, 1980); a porosidade drenável é a porosidade de aeração
da camada de solo recém drenada.

Exemplo llustrativo
Qual o valor da porosidade e da razão de vazio de uma amostra de solo para a qual p = 1400
kg m,3 e ps = 2660 kg m'3?
Solução:
A partir da equação (9):

a% = (1- 2660 '


1400)100 = 4737%.
A partir da equação (12):

0,4737 = 0,9.
e= 1-0,4737
2.1 Conteúdo de água no solo

o conteúdo de água no solo é o índice mais básico quantificador da água numa dada amostra
de solo e, tradicionalmente, tem sido expresso de duas maneiras:
a) à base de massa (U)
Razão entre a massa de água existente numa amostra de solo num dado instante e a massa de
sólidos da amostra, isto é,

(15)

ou, em porcentagem:

(16)

b) à base de volume (8 )
Fração do volume de uma amostra de so)o ocupada pela água, num detenninado instante, ou
seja,

(17)

ou

(18)

sendo que pa representa a densidade da água ou solução no solo.


Em porcentagem, reescrevem-se as equações (17) e (18) como:

(19)
8% = (r;; )too,
ou

(20)
8%=(m-mSJI00.
PaV

Comparando as expressões (7), (13) e (17), verifica-se facilmente que

(21)

isto é, a porosidade do solo a é a soma da porosidade de aeração e o conteúdo volumétrico de água


no solo. Por esta expressão vê-se claramente que a) quando 8 = O, a= aa (numericamente), solo
completamente seco, e b) quando CXa = O, a= 8., (numericamente), sendo 8., = conteúdo de água de
saturação.
De acordo com Gardner (1986), quando se diz, por exemplo, que o conteúdo de água no solo
é 25%, sem se referir à base de massa, ou de volume, assume-se que seja à base de massa porque,
50 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

nonnalmente, a detenninação envolve inicialmente o valor à base de massa, o qual é, então,


posteriormente convertido à base de volume, como explicado a seguir.
Se dividinnos a equação (17) pela equação (15), verificamos facilmente que

9~(:}~P,U, (22)

em que a razão p/ Pa é tradicionalmente chamada de "densidade aparente" do solo. Consideramos,


porém, que o nome densidade relativa do solo (Pr) seja um tenno mais adequado. Portanto, para se
obter o valor do conteúdo de água volumétrico (8) a partir do valor do conteúdo de água
gravimétrico (U) de uma amostra, basta multiplicar o valor deste último pelo valor da densidade
relativa da amostra.
Expressando os valores da densidade em g cm,J e considerando, para nossos propósitos, que
p,,= 1 g cm'J, pela equação (22) 8= pU (numericamente), ou seja, em tennos práticos, para se obter
e a partir de U basta apenas multiplicar o valor de U pelo valor de p, expresso em g cm'3.
Um trabalho completo, mostrando os diversos métodos de medida da água no solo, suas
vantagens e desvantagens, é o de Gardner (1986), cuja leitura recomendamos àqueles
interessados no detalhamento deste assunto. Recomendamos, igualmente, o trabalho de Erbach
(1987) que também faz uma boa revisão sobre o tema. De qualquer modo, dos diversos métodos
existentes, podemos dizer que três se revestem de importância até a presente data: o método
gravimétrico, o método da moderação de nêutrons e o método da atenuação de raios gama. No
método gravimétrico, que é o mais básico, remove-se a amostra do campo e determinam-se ms e
ma. Para se obter o conteúdo de água à base de volume por este método, é necessário,
evidentemente, conhecer a densidade relativa da amostra. O método da moderação de nêutrons é
de campo e sua grande vantagem em relação ao gravimétrico é o fato de não ser destrutivo e medir
diretamente o conteúdo de água à base de volume. Entretanto, o equipamento de medida é caro,
possui partes eletrônicas delicadas, às vezes de difícil manutenção, necessita de um manuseio
mais cuidadoso, devido à fonte de nêutrons, e cada unidade tem que ser convenientemente
calibrada para cada camada de solo. O princípio de funcionamento do método é, resumidamente,
o seguinte: nêutrons rápidos (10 keV a 20 MeV) emitidos de uma fonte (nonnalmente amerício-
berílio) são tennalizados, isto é, desacelerados ou tomados nêutrons lentos (0,0 I a 0,3 eV) pelos
átomos de hidrogênio no solo, detectados (contador proporcional de BFJ, contador proporcional
de 3He, cristal de cintilação) no interior do solo e registrados num "scaler" à sua superfície.
POIianto, quanto mais átomos de hidrogênio (maior conteúdo de água no solo), maior a
contagem de nêutrons no registrador. Deste modo, com este equipamento, após a elaboração de
uma curva de calibração da contagem versus o conteúdo de água no solo, mede-se
instantaneamente esse conteúdo em qualquer profundidade no campo, de maneira não destrutiva.
Detalhes sobre a teoria, a prática, a calibração, a proteção radiológica etc. destes medidores de
conteúdo de água podem ser vistos em IAEA - Technical Report Series - n. 112 (1970) e no livro
editado por Greacen (1981). O método da atenuação da radiação gama para medida do conteúdo
de água no solo baseia-se na conhecida interação da radiação gama com a matéria. Assim, se um
feixe colimado de raios gama é colocado a atravessar um determinado material, alguns raios
passam sem sofrer qualquer interação, enquanto que outros interagem e são espalhados, isto é,
desviados de sua rota original. Como esta interação se dá com os elétrons orbitais dos átomo
(efeitos Compton e fotoelétrico), a quantidade que se espalha depende da densidade de elétrons
do material que, no caso do solo, é determinada pela sua densidade e o conteúdo de água; assim,
quanto maior a densidade do solo e quanto maior o conteúdo de água no solo, maior o
Dinâmica da Agua no Solo • 51

numa configuração fonte gama-amostra-detector adequada, em condições de laboratório e


também de campo. A grande vantagem deste método é também a não destruição da amostra e a
possibilidade de medir o conteúdo de água no solo, bem como a densidade do solo ao longo de
m dado comprimento, a distâncias tão pequenas como 0,01 m. Maiores infonnações sobre esta
metodologia podem ser encontradas em Davidson et ai. (1963), Vose (1980) e Ferraz (1983),
entre outros.

2.2 Saturação relativa, conteúdo de água efetivo e saturação relativa efetiva.

Tomando como base o volume dos poros de uma amostra de solo, o índice que mede a fração
cheia de água deste volume recebe o nome de saturação relativa SI':

(23)

Em porcentagem:

(24)
81'(%)=( V Va
-Vs J100.

Observe que, tendo em vista as definições (17) e (7) e lembrando que, numericamente, a = 8.,
= conteúdo de água de saturação, as equações (23) e (24) se tomam, respectivamente,

SI' =!!..- -7 (m3 m'3) ou Sr =.!!- -7 (numericamente) (25)


a ~ .
e

(26)
S,(%) ~ (:, }oo
A vantagem de utilizar este índice é que sua amplitude de variação é de O a 100%, isto é, solo
saturado: SI' = 100%; solo completamente seco: SI' = 0%.
A saturação relativa é também conhecida pelo nome de grau de saturação.
O conteúdo de água numa amostra de solo muito seca (por exemplo, o conteúdo de água
numa amostra seca ao ar) é denominado de conteúdo de água residual er. Com base nisso, define-se
o conteúdo de água efetivo (ee) como sendo a diferença entre um dado conteúdo de água medido e o
conteúdo de água residual, isto é,
(27)

Conseqüentemente, a saturação relativa efetiva (Se) é definida como a razão entre o conteúdo de
água efetivo (e- er) e o conteúdo de água de saturação efetivo (es - er), ou seja,

Se =e-er
es -e r ' (28)

ou, em porcentagem,

(29)
8e % = ( 8s8 --81'
81' J 100 .

Observe que o Índice Se, também chamado de grau de saturação efetiva ou simplesmente saturação
efetiva, também varia de O a 1 ou de 0% a 100% como o Sr' Note no entanto que, quando Se varia de
O aI, o conteúdo de água varia de er a es e não de O a es'
52 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

Exemplos llustrativos
1. Coletou-se uma amostra de solo com um anel volumétrico de 2.10-4m3 a uma profundidade de
0,1 m. Obteve-se: m = 0,332 kg e ms = 0,281 kg. Após a coleta, fez-se um teste de compactação
do solo, passando sobre ele um rolo compressor. Nova amostra coletada com o mesmo anel e à
mesma profundidade apresentou m = 0,359 kg e ms = 0,304 kg. Sabendo-se que a densidade dos
sólidos é 2700 kg m3, detennine, antes e depois da compactação p, U e e. Ao fazer os cálculos,
você vai verificar que U é a mesma para os dois casos, mas que e aumenta com a compactação.
Por quê? E com relação à porosidade, o que aconteceu?
Solução:
A partir das equações (6), (15) e (18), isto é,

p=-, U =---
m-
ms ms e 0=---
Llm - ms
V ms pX

respectivamente, tem-se:
Antes da compactação Depois da compactação

= 0,281 =1405 k m·J = 0,304 = 1520 k m'J


p ,
00002 g p ,
00002 g

U=0,332-0,281=0181k k,l U = 0,359-0,304 =0,181 k k ,I


,
0281 ' g g ,
0304 g g
e= 0,332-0,281 e= 0,359-0,304 =0,275 mJ m'J.
1000xO,0002 =0,255 mJ m'J 1000xO,0002
Ao se coletar o mesmo volume de solo obtém-se, no caso do solo compactado, uma quantia maior de
sólidos. Como não se elimina água do sistema neste processo de compactação, obtém-se, na coleta,
também uma quantia proporcionalmente maior de água no solo compactado; daí U ser igual antes e
depois da compactação. Porém, como V é o mesmo e ma maior no solo compactado, então e é maior
depois da compactação.
Com relação à porosidade, tem-se, a partir das equações (6) e (9), que

a=(l- PsV
ms )100.

Com relação à poros idade de aeração, tem-se, a partir da equação (21) que

aa = a-e.
Portanto:
Antes da compactação Depois da compactação

a = (I - 270000,281
x 0,0002 ) 100 = 48% a = (1- 2700 0,304
x 0,0002 )100 = 43,7%
aa = 48,0 - 25,5 = 22,5% aa = 43,7 - 27,5 =16,2%
Dinâmica da /Ígua no Solo • S3

Como ms é maior no solo compactado e Vo mesmo nos dois casos, é claro, pela equação acima, que
a tem que ser menor no solo compactado. Ou seja, logo depois que se compacta um solo, aumenta-
se seu conteúdo de água volumétrico mas diminui-se sua porosidade e sua aeração, a aeração com
muito mais intensidade. No presente exemplo, a compactação diminuiu a porosidade em == 9% e a
porosidade de aeração em 28%.
2. Coletou-se uma amostra de solo não saturado com estrutura indeformada num anel volumétrico
de 5 x 10-2 m de diâmetro por 5 x 10-2 m de altura. Logo em seguida a amostra foi pesada e o
valor da sua massa foi de 0,148 kg. A seguir a amostra foi desestruturada e deixada secar à
sombra por alguns dias. Pesada novamente, forneceu o valor de 0,122 kg. Depois, foi levada a
uma estufa a 378 K por um período de 24 horas, após o que permaneceu com uma massa
constante de 0,120 kg. Qual o valor da saturação relativa, do conteúdo de água efetivo e da
saturação relativa efetiva desta amostra, sabendo-se que o valor da densidade dos seus sólidos é
de 2650 kg m-3 e a densidade da água 1000 kg m-3?
Solução:
A partir das equações (25), (27) e (28), tem-se que
8 S = 8-8,.
S,.=-, 8e =8-8,. e
a e 8s -8,.

Há necessidade, portanto, de para calcular estes Índices conhecer 8, a (ou 8.,) e ~ ..


A partir da equação (18):

0,148 - 0,120

1000x 3,14x(5.1O-2)2 x5.1O-2


4
e

A partir das equações (5) e (9):

a=l-....5:....=l- 0,120 5 -0,538m3m-3.


Ps V 2650 x 9,8.10-

Portanto:

S = 0,286 = ° 531 ou 53 1%
r 0,538' ,

8e = 0,286 - 0,02 = 0,266 m3 m-3

Se = 0,286 - 0,02 = 0,513 ou 51,3%.


0,538 -0,02

2.3 Armazenagem de água


Para bem entendermos o conceito de annazenagem de água, imaginemos que possamos retirar
toda a água existente no volume de solo V = XYZ (Figura 3.2) e colocá-Ia sobre sua face coincidente
com a superficie do solo, conforme a Figura 3.3.
54 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

o volume de água retirado, Va, será:

Va = XY h,

sendo h a altura de água e XY a área da superficie de solo, que é idêntica à área da superficie de água
(Figura 3.3). Portanto:

h = Va
X Y (área de água \ -7 Vn de água)
ou

h = XY v de solo ) -7 [mm 32 de
(aárea de solo
água, - m de agua, numericamente J

sólidos

+
z
ar

Figura 3.3 Separação da água existente em um volume de solo de dimensões X; Y,z.

Lembrando da definição de e (equação 17):

e_ ------
Va _
V
XYh _ h
XYZ Z

e, portanto:

(30)
de solo .
h = ez -7 [m3m2 de água J

Exemplo Ilustrativo
Que altura de água (Pa = 1000 kg m -3) contém um solo até a profmldidade de 1,8 m, se o valor do
conteúdo de água em todo o perfil é de 0,2 kglkg e os valores da densidade do solo das camadas
0- 0,9 III e 0,9 - 1,8 m são 1500 kg m-3 e 1300 kg m-3, respectivamente?
Dinâmica da Agua 110 Solo • 55

Solução:
Substituindo a equação (22) na equação (30) obtém-se:

h=..E-uZ.
Pu

Portanto, na camada O - 0,9 m de profundidade,


1500
ho 09 = --xO,2xO,9 = 0,270m = 270mm
- , 1000
e, na camada 0,9 - 1,8 m de profundidade,
1300
ho 9-1 8 = --xO,2xO,9 = 0,234m = 234mm .
.. 1000
Conseqüentemente, na camada O - 1,8 m tem-se

hO_I,8 = hO-O•9 + hO,9-1,8 = 0,270 + 0,234 = 0,504 m = 504 mm .


Assim, esse perfil de solo no momento em que U = 0,2 kg kg'l desde a sua superficie até a
profundidade de 1,8 m contém 504 mm de água ou 5040 m3 ha'!, uma vez que 1 111111 = 10 m3 ha,l.
Isto é, se fosse possível retirar toda a água de 1 ha deste perfil de solo (O - 1,8 m), no momento em
que U = 20%, obteríamos um volume de ~040 m3 de água.

Para o cálculo da altura de água por meio da expressão (30), consideramos o conteúdo de
água no solo 8 constante com a profundidade; porém, em situações reais, isto normalmente não
acontece. Neste caso, simplesmente dividimos o perfil de solo em incrementos de profundidade e
detenninamos O conteúdo de água em cada incremento, de tal maneira que a altura de água existente
no perfil fica, então, sendo dada pelo somatório

ou

(31 )

em que 8i é o conteúdo de água existente na camada de solo "i", .12; a espessura da camada de solo
"i" e n o número de camadas de solo.
Como se pode notar, o somatório da equação (31) representa a área aproximada (daí o sinal ==

na equação) sob a curva 8em função de Z, conhecida como peifil de conteúdo de água (Figura 3.4).
56 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

superfície do solo e (ni Ini )

~I

z,,=L ~lI~ e"

Z (m)

Figura 3.4 Perfil de conteúdo de água.

Do cálculo integral, vê-se claramente que o limite do somatório da equação (31), quando
n -7 00 ou LlZi-7 O, será:
z

(32)
h=J8(Z)dZ,
z}

sendo 8 (2) a função representativa do perfil de conteúdo de água (8 em função de 2) e dZ a


diferencial da variável independente Z; ~ e Zk são duas profundidades arbitrárias quaisquer, sendo Zk
sempre maior que ~.
Como esta altura de água (dada pela equação 32) representa a água que o solo está
annazenando numa detenninada camada, delimitada pelas profundidades ~ e Zk, é chamada também
de armazenagem de água na mesma camada. A annazenagem de água, portanto, representa
exatamente uma área sob a curva de um gráfico do conteúdo de água volumétrico em função da
profundidade do solo, a qual é igual à quantidade de água, expressa em tennos de uma altura de
água, existente em qualquer camada do perfil de solo.
Consideremos uma situação na qual ~ = O e Zk = L. A equação (32) toma-se, nestas
condições:
L

hL = f 8(Z)dZ,
o
(33)

sendo L, portanto, a profundidade de solo até onde se deseja calcular a armazenagem


(Figura 3.4). Assim, hL representa a armazenagem de água na camada O - L m, ou seja, no perfil
de profundidade L.

2.3.1 Cálculo da armazenagem de água no solo

Como acabamos de ver, o valor verdadeiro da annazenagem de água num perfil de solo até a
profundidade L foi definido pela equação (33) pela qual, portanto, precisamos conhecer a função
8 (2) para calcular hL analiticamente. Entretanto, na maioria das situações, não se consegue qualquer
Dinâmica da JÍgua no Solo • 57

fonna analítica integrável de e (Z), porquanto estimativas de hL só podem ser obtidas por regras de
integração numérica, como as descritas a seguir:

a) Regra do trapézio
Neste processo, assume-se que, entre dois pontos consecutivos de medida, o conteúdo de água
varia linearmente com a profundidade do solo.
e e

e = a + bZ + cZ'

~+2-

(a) (b)

Figura 3.5 Regra do trapézio (a) e regra de Simpson (b) de integração numérica.
Assim, considerando a Figura 3.5a, que mostra dois pontos arbitrários e consecutivos de um
perfil de conteúdo de água ligados por uma linha reta (e = a + bZ), é fácil demonstrar que

(34)

sendo & = 2i+1 - 2i.


Para um perfil de conteúdo de água com n incrementos de profundidade, e n+ 1 pontos de
medida, temos que aplicar, evidentemente, n vezes a regra do trapézio. Se as n+ 1 medidas forem
feitas a intervalos igualmente espaçados de &
desde a superficie (2 = O) até a profundidade de
interesse (2 = L) no perfil (Figura 3.6), obtém-se, imediatamente, a fónnula a seguir:
superticie do solo
n=1
n=2

Z,= nt.Z =

Z(m)

Figura 3.6 Armazenagem de água no solo para n incrementos iguais de profimdidade e n + 1


pontos de medida (regra do trapézio).
58 • Retenção e Cálculo da Àgua no Solo

(35)
t
h, ~ e(Z)dZ," [o, se (Zo)r ~e(z;)ro,se(z,,~óZ.
Evidentemente, cada situação prática de amostragem ou medida no campo eXige uma
adaptação correspondente da equação (35). Consideremos, por exemplo, o caso mostrado na
Figura 3.7a no qual medidas igualmente espaçadas de & foram feitas a partir de Z = Y2& e que,
portanto, como mostra a figura, ZI = Y2L1Z, Z2 = 312&, Z3 = 512&, ... , Z/1 = (n-Y2)&. Como o
interesse é a integração entre O e L m, a primeira e a última camadas de espessura 12 têm que ser &
consideradas à parte, porque não há medida nem em Z = O e nem em Z = L. Se assuminnos, pela
proximidade, que em Z = O o conteúdo de água é o mesmo que em Z = Z1 e em Z = L o mesmo que
em Z = Z/1' deduz-se facilmente que:

~,
~.
i
~['[~.:_=.:.~ ;L-._._._._~.~.~.-
..:=...~.:=-:-~
.. ~,_ ...

::_:::"::1~~:::::.:::·: .._ .

~ = (n-O,5)i1Z

_ [·.__.
"'-. .·._.
·.·._.
._.L
7'_.-.
-.__._.
. -._._.
_._._.- n=
nL1Z-L .-.-._._-_.. _._-_.-'-'-'-'-'-'-'-'-'-'- TI
n=n

(a) (b)
Z (m) Z (m)

Figura 3.7 Armazenagem de água no solo para n incrementos de profitndidade com n pontos de
medida igualmente espaçados de /:;Z a partir daprimeira medida feita em Z = 12 /:;Z: (a)
regra do trapézio normal, (b) curva em degrau.

L •

(36)
hL = fo e(Z)dZ == I,e(z;)/:;Z,
;=1

sendo e (Z) as medidas feitas a intervalos igualmente espaçados de & desde ZI = Y2 & até
Z/1 = L - Y2&.
Observe que a área sob a curva da Figura 3.7a, que é uma estimativa de hL feita por esta
equação (36), é exatamente a mesma que aquela sob a curva em degrau da Figura 3.7b pela qual
assume-se que cada valor medido da função e (Z) representa o conteúdo de água unifonne de cada
camada de espessura &
do perfil.

D\'J\<l\mlCl e m\l\\.\-P\\Can<lCl Cl '1>eg\.\n<lClmemtfCCl <la. eC\\la.çãCl (,36) "ÇlClI1'1 (Eg,\ll'à. 3 .l), temo':-,.

L !e(z;)
hL = f e (Z)dZ
o
== ;=1 n/:;Z
Dinâmica da /Ígua no Solo • 59

ou
L

(37)
hL = Je(Z)dZ:::8L,
°

sendo 8 o conteúdo de água médio do perfil O-L m, isto é, a média arihnética dos valores e(Z,),
e(Z2)' e (Z]), ... , e (Zn) medidos de acordo com o critério mostrado na Figura 3.7; se, por exemplo,
& = 0,1 m e L = 1 m, a aplicação da equação (37) exige que as amostragens ou medidas sejam feitas
às profundidades de 0,05; 0,15; 0,25; 0,35; ... ; 0,95 m.
Observe que ao fazennos da expressão (37) uma igualdade de fato, evidentemente,
L

J e(Z)dZ
8 =_0 L
_ (38)

isto é, o valor verdadeiro do conteúdo de água médio de um peJjiI de conteúdo de água O - L 111 é
dado pela equação (38).
Uma outra situação, que podemos citar como exemplo de adaptação da equação (35), é a do
experimento de Haverkamp et aI. (1984) no qual as medidas de e, feitas com sonda de nêutrons,
foram igualmente espaçadas a partir de Z = &
até Z = L, o interesse sendo o de estimar a
armazenagem de Z = O até Z = L' = L + 12&. Neste caso, seguindo o mesmo raciocínio da situação
anterior, isto é, que o conteúdo de água não registrado em Z = O seja igual àquele medido em Z = Z,'
e o não registrado em Z = L' igual ao medido em Z = L, transfonna-se a equação (35) em

b) Regra de Simpson
Neste método, assume-se que ao longo de três pontos consecutivos igualmente espaçados, o
conteúdo de água varia quadraticamente com Z de acordo com a equação e = a + bZ + cZ2
(Figura 3.5b).
Aplicando o mesmo raciocínio da regra do trapézio também pode-se demonstrar, a partir do
cálculo integral, que
Zj+2 2;+2

J e(Z)dZ:::
21
J(a+bZ
z;
+cZ2)dZ = ~ [e(zJ+4e(Zi+J+e(Zi+2)]. (39)

Para aplicannos, portanto, m vezes a regra de Simpson, o perfil de conteúdo de água deverá
ter 2m + 1 pontos de amostragem (Figura 3.8), isto é, o uso desta regra requer um número Ímpar de
pontos de medida. Aplicando, então, m vezes a fónnula de Simpson ao perfil da Figura 3.8, na qual
todos os pontos são igualmente espaçados de & desde Z = O até Z = L e o seu número é ímpar,
resulta a seguinte fÓlmula composta:
60 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

L !:iZ
hL = f e(Z)dZ=-[e(Zo)+4e(Z,)+2e(Z2)+
o 3
+ 48(Z3)+ 28(Z4)+'" + 28 (Z2111_2
)+ 48 (Z2111_1 )+ 8 (Z2111)] (40)

suoerficie do solo 8(nf I..n1)


n=1
ZI! ~t;Z n=2
m=l
~
m=2

Zi
Zi+1

m=m
Zn = nt;Z = L ' n=n

Z(m)

Figura 3.8 Armazenagem de água no solo para m aplicações da regra de Simpson, com número
impar de pontos de amostragem igualmente espaçados de L1Z.

De modo idêntico à regra do trapézio, a equação (40) também pode ser adaptada em
confonnidade com a apresentação dos resultados de medida. Utilizando a mesma situação do
experimento de Haverkamp et aI. (1984) já comentada, na qual, (a) não há registro de 8 em 2 = O, (b)
as medidas são igualmente espaçadas a partir de Z = L1Z até Z = L, (c) deseja-se estimar a
annazenagem de Z = O até Z = L ' = L + Y2 L1Ze (d) o número de pontos de medida é par, como na
Figura 3.9, inicia-se a aplicação da regra a partir do valor de 8 medido em 2 = 2} = L1Z,e considera-
se separadamente o valor de 8 em Z = O como sendo igual a 8 (2}). Por outro lado, sendo par o
número de medidas, ao se aplicar a regra, a última medida (a mais profunda) fica sobrando e também
tem que ser considerada à parte. Assumindo, como fizeram Haverkamp et aI. (1984), que essa
medida seja representativa da camada entre 2 = 211_} e 2 = 211 + Y2 L1Z = L', verifica-se facilmente
que a equação (40) se modifica para

i 1
hL = f e(Z)dZ= {e(zo)+-[e(zJ+4e(Z2)+2e(ZJ+ ... +
o 3
+ 2e(Z2111_1)+ 4e(Z2111)+ +
e(Z2111+1)] 1,5 e (Z2/1/+2)}!:iZ.
Dinâmica da Agua no Solo • 61

3 3
superficie do solo e(m 1m )

m=1

m=2

m=m
~1-1

Z=
n

Z" +lh~Z =L'

Z (m)

Figura 3.9 Armazenagem de água no solo pela regra de Simpson com número par de pontos de
medida, desde Z = ZI = ~ até Z = Z" + !!z &= L '.

Maiores detalhes sobre este assunto de integração numérica podem ser encontrados, por
exemplo, no livro de Camahan et ai. (1969). O trabalho de Haverkamp et aI. (1984), já citado
anterionnente, é também muito interessante e recomendamos sua consulta, principalmente àqueles
que trabalham com sonda de nêutrons, porque trata da quantificação das diferentes fontes de elTO
induzido na medida de e e no cálculo de hL> com o uso desse equipamento. No caso específico do
cálculo da armazenagem, os autores comparam as regras do trapézio e de Simpson e, pela
quantificação dos erros associados às determinações de e e daqueles associados à técnica numérica
de integração da função e (Z), eles concluíram que, no caso de perfis de conteúdo de água
heterogêneos, é melhor utilizar a regra de Simpson.

2.4 Variação da armazenagem de água no solo


A partir da equação (30), deriva-se uma importante relação, muito utilizada em ilTigação, para
o cálculo da quantidade de água que se deve adicionar a um solo para trazê-Io a um determinado
conteúdo de água de interesse. Imaginemos, então, que um solo de profundidade Z esteja com um
conteúdo de água inicial ei, constante ao longo de Z, e desejamos saber a quantidade de água que se
deve adicionar (M) para trazê-Io a um conteúdo de água final el, também constante ao longo de Z.
Assim:

Conseqüentemente:
M = h{final)- h(inicial) . (41)

Logo:
62 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

Llh = z(ej -eJ (42)

Levando-se em conta a não constância de e com Z (que é o mais real), a equação coneta a ser
aplicada para o cálculo de h, como vimos, é a equação (32). Nestas circunstâncias, Ilh valerá:

M= Íejdz-Íe;dZ, (43)
Zj Zj

ou, no caso em que ~. =O e Zk = L, isto é, uma camada desde a superficie do solo até uma
profundidade L:
L L

(44)
ML = fejdz- fe;dz.
o o

Portanto, se num certo tempo (tD tem-se um determinado perfil de conteúdo de água e, num
tempo posterior (9, um outro perfil (Figura 3.10), a área compreendida entre estes àois perlis (área
hachurada da Figura 3.10) representa, evidentemente, a valiação da annazenagem dada pelas
equações (43) ou (44), isto é, armazenagem no tempo ti (1° termo do 2° membro das equações 43 e
44) menos a annazenagem no tempo ti (2° tenno do 2° membro das equações 43 e 44).
3 3
o e(m 1m )

tr

Z(m)

Figura 3.10 Variação da armazenagem de água no solo.

Se quisermos incluir a variável tempo na fórmula de cálculo de Ilh, teríamos que escrever as
equações (43) e (44) como:
Z.1

(45)
M= J J ~~dtdZ
Zj I;

L '[ ae
(46)
LlhL =f f aidtdZ.
o 'i
Dinâmica da Agua no Solo • 63

Se considerarmos a definição de 8 pela equação (38), evidentemente a equação (44) se


tomará:

(47)

em que (ff e e; são, portanto, o conteúdo de água médio verdadeiro na camada O - L m, nos tempos
Ire ti' respectivamente.

Exemplo 1lustrativo
A tabela a seguir apresenta os valores de 8 em função da profundidade, obtidos nos dias 14/08
e 21/08, num determinado solo no campo. Calcular a annazenagem de água de O a 0,5 m de
profundidade nos dois dias, pelas regras do trapézio e de Simpson e, a seguir, a variação da
annazenagem, na mesma camada, pelas duas regras.

8(nl m-3)
Profundidade Data
(m) 14/08 21/08
0,10 0,27 0,35
0,20 0,25 0,33
0,30 0,21 0,30
0,40 0,18 0,27
0,50 0,20 0,24

Solução:
~ Pela regra do trapézio, temos que, de acordo com a equação (35), no dia 14/08:

h01-05 = --+0,25+0,21+0,18+-- ,10=, 875m= 7,5mm.


" 2
(0,27 2
0,20) ° 00 8
Como não há medida na superfície do solo, vamos considerá-Ia como sendo igual àquela
medida a 0,10 m de profundidade, pelo que:

hO-O,1 =0,27xO,10= 0,027m = 27mm.


Portanto,

hO-O,5 = ho_o•1 + hO•I-O,5

ou

hO-O,5 = 27 + 87,5 = 114,5 mm.

Igualmente, no dia 21/08:

hO-O,5 =0,35xO,10+ (0,35


-2-+0,33+0,3 ° +0,27+-2-0,24) 0,1° =
= 0,1545 m = 154,5 mm.
64 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

~ Pela regra de Simpson, assumindo também que o conteúdo de água em Z = O seja igual ao
conteúdo de água em Z= 0,10 m, temos, aplicando a equação (39), que, no dia 14108

hO-O•5 = 0,27xO,1 0+ O,~0(0,27 + 4 x 0,25 + 0,21) +

+- 0,10 (0,21+4xO,18+0,20 ) = 0,1140 m = 114,0 mm,


3

e, no dia 21/08

hO_O 5 = 0,35xO,10 + 0,10 (0,35 + 4 x 0,33 + 0,30) +


. 3

+ 0,10 (0,30 + 4 x 0,27 + 0,24) = 0,1547 m = 154,7 mm.


3

Finalmente, a variação da armazenagem valerá:


Regra do trapézio: Mo-oos = 154,5 -114,5 = 40,0 mm

Regra de Simpson: l:iho_o.s = 154,7 -114,0 = 40, 7 mm.

3. EXERCÍCIOS
1. Um cilindro de solo não-saturado de 0,1 m de diâmetro e 0,12 m de altura tem uma massa de 1,7
kg, dos quais 0,26 kg são água. Assumindo que o valor da densidade da água Pa = 1000 kg m-J e
o da densidade dos sólidos Ps = 2650 kg m-J, calcular:
a) conteúdo de água % massa e) porosidade
b) conteúdo de água % volume f) porosidade livre de água
c) altura da água g) saturação relativa
d) densidade do solo
2. Coletaram-se 220 kg de um solo não saturado. O valor do conteúdo de água nesta amostra foi de
0,18 kg kg"l. Calcular o valor da massa dos sólidos e o da massa de água.
3. Um solo de 0,8 m de profundidade tem um valor uniforme de 8= 0,13 mJ m"J. Calcular quanta
água deve ser adicionada a este solo para trazer o valor de 8 de 0,13 m3 m-J para 0,30 m3/m3.
4. O valor do conteúdo de água inicial em um solo é 0,10 mJ m"J. A que profundidade uma chuva
de 100 mm umedecerá o solo a um valor de conteúdo de água de 0,30 mJ m"J?
5. No mesmo solo do exerCÍcio anterior, quanta água é necessária para umedecer o solo até a
profundidade de 1,25 m?
6. O que você entende por capacidade de campo e ponto de murchamento pennanente?
7. O valor do conteúdo de água em um solo à capacidade de campo é 0,30 mJ m-J. Os valores do
conteúdo de água inicial no solo (à base de massa) e da densidade do solo variam com a
profundidade e são dados na tabela a seguir. Assumindo que o valor da densidade da água é 1000
kg m"3, calcular o valor da profundidade de penetração de uma chuva de 50 mm.
Dinâmica da JÍgua no Solo • 65

conteúdo de água à base densidade do solo (kgIÍ1I3)


de massa Ik
0,05 1200

0,10 1300

0,15 1400

0,17 1400

8. Uma amostra de solo não saturado com estrutura indefonnada tem um volume de 1,5.10,4 m3 e
uma massa de 0,24 kg. O valor da sua porosidade de aeração é 15%. Sendo o valor da densidade
dos sólidos 2650 kg/m3 e o da densidade da água 1000 kg m,3, calcular:
a) densidade do solo
b) conteúdo de água à base de massa
c) conteúdo de água à base de volume
d) porosidade
9. Um pesquisador necessita de exatamente 0,1 kg de um solo seco e dispõe de uma amostra de solo
não saturado com ()= 0,250 m3 m,3 e de p = 1200 kg m,3. Quanto de solo não saturado deve-se
pesar para obter a massa de solo seco desejada?
10. Dado um solo de 10 hectares de extensão, considerado homogêneo quanto à densidade do solo
(= 1700 kg m'3) da camada O - 0,3 m de profundidade e ao conteúdo de água (=0,2 kg kg") na
mesma camada, pergunta-se: a) quanto de solo seco existe, em toneladas, nesta camada? b)
quantos litros de água esta camada armazena?
11. Deduzir, a partir do cálculo integral, as fórmulas da regra do trapézio (equação 34) e da regra de
Simpson (equação 39).
12. Abriu-se uma trincheira de 1 m de profundidade para estudar o perfil de densidade do solo. As
amostragens foram feitas com anéis volumétricos e torrões e os dados encontram-se dispostos
nas duas tabelas a seguir:

Anéis volumétricos (altura = 35 mm; diâmetro = 47 mm)


massa (kg)
profundidade (m) tara solo com água + anel solo seco + anel + tara anel
+ tara
0,15 0,01101 0,13000 0,11510 0,01140
0,30 0,01131 0,12361 0,10391 0,01083
0,45 0,01059 0,13440 0,11220 0,01138
0,60 0,01090 0,13059 0,10849 0,01153
0,75 0,01071 0,11866 0,09951 0,01254
0,90 0,01104 0,12730 0,10509 0,01163
66 • Retenção e Cálculo da Agua no Solo

Torrões

peso (N)

profill1didade (in) I solo seco (solo seco + parajina*) no ar (solo seco +parajina) na água
0,15 0,5133 0,5343 0,2274
0,30 0,3299 0,3618 0,1176
0,45 0,4525 0,4945 0,1617
0,60 0,4900 0,5266 0,1813
0,75 0,4092 0,4419 0,1401
0,90 0,2842 0,3151 0,0843
* massa específica da parafina: 900 kg m-3
a) detenninar p, U e e para as amostras de anel volumétrico e p para as de torrão.
b) comparar os dados de p das amostras do anel volumétrico e do torrão, fazendo o gráfico de p
versus Z.
13. Com os dados das tabelas a seguir, calcular, levando-se em conta os erros envolvidos (considerar
a propagação de erros):
a) O valor médio do conteúdo de água à base de volume por camada.
b) O valor médio da armazenagem de água até a profundidade de 1,6 m. Aplicar a regra do
trapézio.
c) O valor médio da annazenagem de água nas camadas 0,20 - 0,60 e 0,80 a 1,40 m. Aplicar a
regra do trapézio.
d) O valor do volume (m3) de água existente em um hectare deste solo, até a profundidade de 1,6
m.
210,346
104970,279
13218530,241
1311
60,253
1421
1437
1368
1350
1349
1345
1333
1306
1304
1300
1296
1288
1291
1438
1356
1435
1371
1419
1399
1425
1434
1381
1409
1410
1403
1374
1377
1323
1375
1396
1401
1298
1360
1234
1180
1244
1260
1230
1277
1226
1285
1256
1214
1203
1196
1207
1222
1202
1385
1386
1365
1201
0,304 0 10,251
1315
1376
1388
1405
1395
1313
1253
1177
0,341
0,373
0,356
0,348
0,316
0,310
0,332
0,370
0,318
0,319
0,337
0,301 1298
1372
1353
1348
1356
1129
1402
0,3400,320
0,3340,321
0,331
0,312
0,311
0,300
0,323
0,345
0,328
0,330
0,347
0,309
0,256
0,315
0,363
0,342 0,301
0,3260,301
0,317
0,294
0,333
0,313
0,296
0,273
0,288
0,344
0,334
0,284
0,283
0,268
0,249
0,252
0,277
0,335
0,325
0,299
0,220
0,270 0,341
0,335
0,286
1256 repetições
densidade do solo, p (kg/m3)
Dinâmica da Agua no Solo • 67

14. A solução nas camadas O - 0,20 m e 0,20 - 0,40 m do solo do problema anterior contém 15
ppm de nitrogênio mineral (N03- + NH4\ Quantos quilogramas de N mineral há no volume de
solo considerando uma área de 1 ha da camada O - 0,40 m? Dado: densidade da solução no solo
= 1000 kg m-3•
15. A você é dada a incumbência de fazer um ateno de 200 m3 com um solo no qual o conteúdo de
água medido é de 20% à base de massa. Dispondo de um caminhão que transporte uma carga
de, no máximo, 10 mil kg, qual é o número mínimo de viagens que você deverá fazer com esse
caminhão para que o solo neste ateno adquira uma densidade de 1400 kg m-3 ?
16. Os dados da tabela seguinte são valores médios de e obtidos num solo homogêneo em local
plano, com uma cultura de milho. Todas as leituras foram feitas às 8 horas, a perda de água do
perfil consistiu apenas de evapotranspiração e não houve ascensão capilar.

06/06
03/06
31/05
0,413
0,370
0,370
0,426
0,382
0,405
0,423
0,431
0,477
0,396
0,428
0,415
0,241
0,301
0,343
0,379
0,468
0,396
0,371
0,248
0,432
0,439
0,418
0,421
0,285
0,319
0,331
0,351
0,368
0,393
0,410
0,474
0,484
0,396
0,371 .
0,395 Conteúdo deDatas
Agua Volumétrico 8 (m3/m3)
Profill1didade

a) desenhar em um só gráfico os perfis de conteúdo de água de cada dia;


b) calcular o valor da annazenagem de água em cada dia até a profundidade de 1,2 m utilizando
as regras do trapézio e de Simpson;
c) calcular os valores da variação da annazenagem até a profundidade de 1,2 m entre cada dia
de leitura;
d) sabendo-se que houve apenas uma chuva após a leitura do dia 03/06, calcular o valor da
evapotranspiração da cultura em mm/dia para cada período e para o período de 28/05 a
03/06;
e) no período de 28 a 31/05 calcular a contribuição de cada camada de 0,15 m no valor da
evapotranspiração da cultura;
f) imaginando que o mesmo valor de taxa média de evapotranspiração oconido no período de
28/05 a 03/06 continue no período de 03/06 a 06/06, calcular quanta água foi recebida pelo
solo pela chuva do dia 03/06, que foi de muito curta duração.
17. A tabela a seguir apresenta os valores de e em função da profundidade Z obtidos às 9 horas dos
dias 22/01 e 30/01 num detenninado solo. Calcular a varíação de annazenagem de Z = O a
Z = 0,8 m entre estes dois dias, utilizando a regra de Simpson.

Profill1didade 8 (m%/)
(m) Datas

22/01 30/01
0,00 0,35 0,27
0,10 0,33 0,25
j7to 10m
0['0
09'0
0['0
j7to
017'0
08'0
çto
oL'o
9tO
LtO
8tO
Oç'O
oto (UI)
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e

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IV

TERMODINÂMICA COMO BASE PARA ESTUDOS DE SISTEMAS


BIOLÓGICOS

1. INTRODUÇÃO

Para se entender com profundidade a dinâmica da água em sistemas biológicos e, como


veremos no próximo capítulo, a dinâmica da água no solo, é de extrema importância o
conhecimento do potencial químico de uma substância. Como a derivação desse potencial é feita a
pmtir dos conceitos e definições da tennodinâmica, vamos fazer, de fonna bastante objetiva, revisão
deste ramo da ciência que estuda a energia e as leis que govemam suas fonnas de transferência.
Infonnações mais detalhadas sobre o assunto podem ser encontradas em Callen (1960),
Moore (1962), Babcock (1963), Spanner (1964), Waser (1966), Prigogine (1967), Mahan (1970),
Sales Luiz (1980) e Stumm e Morgan (1981), dentre outros.

2. NOMENCLATURA TERMO DINÂMICA

2.1 Sistema e meio

Em tennodinâmica, é importante que se faça distinção entre sistema e meio (ou exterior).
Sistema é o objeto que está sendo estudado e meio é tudo o que circunda o sistema e que com ele
pode interagir. O sistema pode ser simples, como por exemplo um copo de água, um certo volume
de ar, ou complexo, como por exemplo uma amostra de solo não saturado, uma folha de árvore. O
contorno do sistema pode ser real, como as paredes de um frasco, ou imaginário.
Quando não há transferência de energia sob quaisquer fonnas, através do contorno (paredes)
do sistema, diz-se que o sistema está isolado; em outras palavras, qualquer mudança que ocorra em
um sistema isolado não produzirá qualquer mudança no meio. Por outro lado, sistemas não isolados
podem trocar energia com o meio de muitos modos, que são convenientemente agrupados em duas
categorias chamadas calor e trabalhos, conforme veremos mais adiante no item 3. Fala-se também
em sistema fechado e sistema aberto, o primeiro sendo aquele no qual não há qualquer transferência
de matéria através de suas paredes e o segundo aquele em que esta transferência ocorre.
Os sistemas consistem ainda de uma ou mais partes, chamadas fases. Fase é uma região
química e fisicamente homogênea e mecanicamente separável do sistema.
70 • Termodinâmica

2.2 Estado, funções de estado e equação de estado

Descreve-se o estado de qualquer sistema tennodinâmico especificando os valores numéricos


de um certo número de variáveis pertinentes denominadas fitnções de estado, isto é, que dependem
apenas do estado do sistema e não do modo pelo qual ele é alcançado. Assim, se um sistema sofre
detenninada transfonnação passando de um estado inicial 1 para um estado final 2, a mudança de
estado do sistema depende somente dos valores inicial (1) e final (2) da função de estado que sofreu
a mudança, e não do caminho seguido pelo sistema durante a transfonnação. As funções, variáveis,
ou ainda propriedades de estado que dependem da quantidade de matéria ou extensão do sistema
são denominadas extensivas, e aquelas que independem da extensão do sistema recebem o nome de
intensivas. As primeiras são, portanto, aditivas, enquanto que as segundas não. Assim, temperatura,
concentração, densidade etc. são propriedades intensivas, enquanto massa, volume, energia, área
etc. são propriedades extensivas. Uma expressão matemática que relacione funções de estado é
chamada equação de estado. Um exemplo familiar de equação de estado é a equação dos gases
ideais (gases cujo comportamento é igual àquele de qualquer gás real a pressões muito baixas,
tendendo para zero):

P = P(V,T) ou PV = nRT .

Nesta equação: n = número de moles; R = constante universal dos gases (8,314 J morl K'I);
P = pressão (Pa); V = volume (m3); T= temperatura absoluta (K).
A tennodinâmica trata dos processos reversíveis ou estados de equilíbrio dos sistemas.
Estado de equilíbrio é aquele em que as funções de estado do sistema são bem definidas e não
variam com o tempo. Processo reversível é um conceito ideal cujo significado passamos a descrever
a segmr.

2.3 Processo reversível e processo irreversível

A fim de ilustrar esses conceitos, consideremos que nosso sistema seja um gás no interior de
um cilindro munido de um pistão móvel sem atrito, exercendo pressão sobre o gás (Figura 4.1).
Consideremos também, por facilidade, que no espaço acima do pistão seja feito vácuo, pelo que ele
é mantido em equilíbrio por uma pressão externa Pe resultante do seu próprio peso e do peso de um
certo número de pequenas esferas de massas iguais, no caso da Figura 4.1 a, e apenas do seu próprio
peso, no caso da Figura 4.1b. Nos esquemas da figura, portanto, são mostrados dois estados de
equilíbrio para esse nosso sistema: o estado 1 (Figura 4.1 a) caracterizado pela pressão PI = Pi = Pe,
pelo volume VI, pela temperatura T e pelo número de moles n; e o estado 2 (Figura 4.1 b)
caracterizado pela pressão P2 = Pi = Pe, pelo volume V2, pela mesma temperatura T e pelo mesmo
número de moles n. Nesses dois esquemas, evidentemente, VI < V2, PI > P2 e Pi = pressão interna =
pressão do gás sobre o pistão.
Analisemos, agora, como podem ser conseguidas: a) a expansão do gás do estado 1 para o
estado 2, com Te n constantes, e b) a compressão do gás do estado 2, de volta para o estado 1, com
Te n constantes.
Assim, estando o sistema no estado de equilíbrio 1, ele pode atingir rapidamente o estado de
equilíbrio 2 se retirannos, de uma só vez, todas as bolinhas de sobre o pistão, ou seja, ao se retirar
todas as bolinhas de uma só vez, a pressão externa Pe = PI é drasticamente reduzida ao valor
Pe = P2, e a pressão interna Pi, tomando-se, instantaneamente, bem maior do que Pe, empun-a
rapidamente o pistão para cima expandindo o gás até que Pe e Pi se equilibrem novamente no valor
mais baixo de pressão P2 = Pe = Pi (estado de equilíbrio 2). Num diagrama P-v, esta expansão está
representada pela linha sólida da Figura 4.2a. Na compressão, o processo é exatamente o inverso:
estando o sistema no estado de equilíbrio 2, ele atinge rapidamente o estado de equilíbrio 1 pela
Dinâmica da Agua no Solo· 71

~olo ação de uma só vez de todas as bolinhas que, aumentando drasticamente a pressão externa de
Pe = p] para o valor Pe = PI, comprimem rapidamente o gás ao estado de equilíbrio 1, confom1e a
linha tracejada do diagrama P-V da Figura 4.2a. Note que o caminho seguido pelo sistema nessa
expansão rápida (linha sólida da Figura 4.2a) é bem diferente do caminho por ele seguido no
processo inverso, isto é, na compressão rápida (linha tracejada da Figura 4.2a).

(a) (b)

Esferas de
massas
iguais

Estado de Equilíbrio Estado de Equilíbrio


1 2

Figura 4.1 Estados de equilíbrio de um sistema gasoso: a) estado de equilíbrio 1, caracterizado


por PI = Pe = Pi , VI, n e T, e b) estado de equilíbrio 2, caracterizado por
P2 = Pe = Pi, V2, n e T.

No entanto, esses mesmos processos de expansão e compressão podem ocorrer um


pouco mais lentamente se retirarmos (ou colocannos) não todas as bolinhas de uma só vez mas em
duas etapas, retirando (ou colocando) inicialmente metade das bolinhas e, após o equilíbrio
intennediário (P3 = Pe = P;), retirando (ou colocando) a outra metade e esperando o equilíbrio final.
Com esse procedimento, o diagrama P - V resultante é mostrado na Figura 4.2b. Note que os
caminhos da expansão e compressão com este procedimento de duas etapas (Figura 4.2b) se tomam
mais próximos entre si, em relação ao procedimento anterior de uma etapa única (Figura 4.2a).
Se em vez de duas etapas utilizannos três, retirando (ou colocando) um terço das
bolinhas na primeira, um terço na segunda e um terço na terceira, evidentemente, os processos vão
se tomar mais lentos ainda e as linhas de compressão e expansão mais próximas entre si (Figura
4.2c). Prosseguindo nesse raciocínio, isto é, aumentando o número de etapas, e retirando (ou
colocando), cada vez mais, menos bolinhas, os processos vão se tomando cada vez mais lentos e as
linhas de expansão e compressão cada vez mais próximas entre si (Figura 4.2d). Numa situação em
que o número de etapas tende para o infinito (grande número de bolinhas de massas infinitamente
pequenas retiradas ou colocadas uma a uma), as curvas de expansão e compressão praticamente se
coincidem e, no limite, isto é, num tempo infinito, Pi = Pe ao longo da transformação, ou seja, as
curvas se tomam, teoricamente, idênticas (Figura 4.2e). Somente sob tais circunstâncias é que a
expansão ou a compressão isoténnicas do gás são reversíveis. Portanto, para se aproximar de um
processo reversível, a transformação tem que se dar infinitamente devagar por meio de uma série de
estados de equilíbrio. Pelo exposto, um processo reversível é um conceito ideal que nunca pode ser
obtido na prática, pois levaria, teoricamente, um tempo infinito para ser executado; em tal processo
72 • Termodinâmica

"o sistema permanece em equilíbrio ao longo da transformação". Além disso, seu caminho pode
ser seguido em qualquer direção, e em qualquer ponto a direção pode ser invertida por uma variação
infinitesimal em uma das variáveis do sistema. Portanto, qualquer processo real é irreversível,
como as curvas em degrau das figuras 4.2a a 4.2d.

P, P, ~P =P
r1.,
P,
J ~
-<-------1 ,

PI I············· .... ~~/-:~e-:-~;-------i


,
,
P2=Pe=Pi~
I ............ ~--

,
,
,
li-
:
t r
: a b
,

P2 ~P ~ P :
P, ) L' i~!• r

V V
VI V, VI VJ V,

P, Pc,
Pe=Pj
PI•····. ri
Pe=P;
-""--;
,
-+ p = c d
!,? e Pj
-----~------l ,
,
P('=Pi l'
--.,.,
P, r,

V V
VI V, VI V,
Pe=P;

ri
e

Expansão ou
Compressão
------ Expansão
V- Rcvcrsivcl
-------, Compressão

p, •........

VI V , ·V

Figura 4.2 Seqüência de situações mostrando gráficos P - V de expansão e compressão de um gás


ideal, desde o caso no qual o processo de transformação é extremamente rápido e
irreversivel (Figura 4.2a) até o caso ideal no qual o processo de traniformação é
infinitamente lento e reversível (Figura 4.2e), passando pelos estágios intermediários
irreversíveis (figuras 4.2b a 4.2d).

Pelo que acabamos de ver, as transformações tennodinâmicas, para se aproximarem dos


processos reversíveis, devem ocorrer infinitamente devagar. O inverso, entretanto, não é verdadeiro:
processos tennodinâmicos infinitamente lentos não se aproximam necessariamente de processos
reversíveis. Observe que estamos falando do sistema termo dinâmico e não do sistema mecânico,
Dinâmica da Agua 110 Solo • 73

como um pêndulo, por exemplo. Processos infinitamente lentos são também chamados pro essos
quase estáticos.
De acordo com Spanner (1964), que discute com detalhe o assunto, existem duas maneiras de
reduzir a velocidade de um processo: ou reduzindo o valor da força propulsora dele causadora (no
exemplo, a diferença entre Pe e Pi), ou elevando as forças de oposição (as forças de atrito entre o
pistão e o cilindro). No entanto, um processo só se aproximará da condição reversível se a redução
de sua velocidade for feita pela primeira maneira. Um movimento muito lento, com atrito severo, é
definitivamente irreversível. Entretanto, a existência de atrito não quer dizer ausência de
aproximação à reversibilidade. O que a aproximação à reversibilidade requer não é a ausência de
atrito mas, sim, a ausência de qualquer força não equilibrada: é somente quando esta condição é
encontrada que um processo quase estático se aproxima de um processo reversível.

3. PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

Todo sistema possui uma função de estado extensiva


chamada Energia, cuja variação, quando o sistema sofre
determinada transformação, pode ser medida pela soma
algébrica das diversas formas de transferência de
energia entre o sistema e o meio que causam a
transformação.

Dividindo, por conveniência, as diversas fonnas de transferência de energia entre o sistema e o


meio em duas categorias, calor e trabalho, pode-se expressar, matematicamente, a primeira lei como
111

/)'E = q+ L
n=1
Wn, (1)

sendo E a energia do sistema, L1E a sua variação e q e l:wn o calor e os trabalhos envolvidos durante
a transfonnação, respectivamente.
Evidentemente, está implícita na equação (1) a convenção de que calor e trabalhos são
positivos quando fornecidos pelo meio ao sistema e negativos quando absorvidos pelo meio do
sistema (Figura 4.3). Note também que esta equação define apenas variações de energia e não a
energia absoluta do sistema, a qual não é definida na termodinâmica. De qualquer maneira é
importante ficar claro que essa energia E representa toda a energia do sistema num dado estado e
que, em tennodinâmica, é comum dividi-Ia em três fonnas principais: energia cinética, resultante do
movimento do sistema, energia potencial, resultante da posição do sistema, e energia interna, que
inclui todas as fonnas de energia associadas ao movimento e a posição das moléculas, átomos,
elétrons etc. de que se constitui a matéria do sistema.
74 • Termodinâmica

+q
-1:wn
n=l

melO

111

+L\Vn
Il=J
-q

Figura 4.3 Convenção de sinal para calor e trabalho.


Escrevendo a equação (1) numa forma diferencial, isto é, numa forma aplicável a variações
infinitamente pequenas, tem-se

dE = 8q + f,
11=1
OW", (2)

em que 8q e Owll não são diferenciais de propriedades ou funções de estado do sistema, como o é
dE, como veremos a seguir.
Recomendamos, neste ponto, a leitura do apêndice I, sobre diferenciais totais, aos não
familiarizados com o assunto.
A energia E do sistema sendo uma função de estado, é uma propriedade que depende apenas
do estado atual do sistema, e não depende de sua história, ou seja, de como o sistema chegou a este
estado. Portanto, para encontrar t1E, não precisamos conhecer nada a respeito dos processos, a não
ser a energia do sistema no estado inicial E I e a energia do sistema no estado final E 2'
Matematicamente:
E,

tiE= rE,
dE=Ez -EI•
(3)

Integrandos deste tipo (dE) são denominados diferenciais exatas.


O calor q e os trabalhos wll ' no entanto, são quantidades que dependem da história, isto é, não
é suficiente conhecer os estados inicial e final, senão o caminho exato seguido pelo sistema durante
a variação de estado. Por este motivo, são chamadas integrais de linha (ver equação 7) ou
diferenciais inexatas ou, ainda, diferenciais impeifeitas; por isso, possuem notação diferente
(equação 2).
O interessante a ser notado é que, pela primeira lei, o caminho influencia o calor e os
trabalhos de maneiras exatamente opostas, de tal modo que quando são somados, seus efeitos
desaparecem e o resultado dE é independente do caminho.
Existem muitos tipos de trabalho que podem ser incluídos no somatório da equação (1), tais
como trabalho mecânico ou trabalho pressão-volume, trabalho químico, trabalho elétrico, trabalho
Dinâmica da .lÍgua no Solo • 75

de superfície etc. O caso mais simples de trabalho é a expansão ou contração de um gás, o trabalho
pressão-volume, que passaremos a discutir.

3.1 Trabalho de pressão - volume

Para obtennos a equação que expressa esse tipo de trabalho, consideremos o mesmo alTanjo
descrito no item 2.3: uma substância gasosa contida em um cilindro de secção transversal A, provido
de um pistão móvel e sem atrito, conforme mostra a Figura 4.4. Consideremos ainda, neste caso,
que o peso do pistão seja desprezível.

-"<- -1-
V
secçã Idx
interna
área lctx ~
y

""""

~ Área

= A (área da
o transversal
do cilindro =
do pistão)

Figura 4.4 Trabalho de expansão ou compressão de uma substância gasosa.

Novamente consideremos, como fízemos no item 2.3, que no espaço acima do pistão seja
feito vácuo, pelo que ele é mantido em equilíbrio por uma força extema Fe que pode consistir de
pesos colocados sobre sua face superior.
Em tennodinâmica, sempre que se fala em trabalho, está se referindo a uma variação
detectada no meio, isto é, quando se diz que o sistema executa um trabalho, é sobre o meio que ele
o faz; quando um trabalho é executado sobre o sistema, é o meio que sofre uma destruição de
trabalho.
É por isso, então, que, para o sistema gasoso da Figura 4.4, o trabalho mecânico WIl1 é definido
como o produto da força externa Fe que atua sobre o sistema, pela distância ao longo da qual o
pistão se move. Assim, se o pistão sofre um deslocamento dx (Figura 4.4), o trabalho executado
pelo sistema devido à elevação dos pesos colocados sobre o pistão (expansão), ou o trabalho
executado sobre o sistema devido ao abaixamento dos pesos (compressão) é expresso por

8W,,, =Fe dx. (4)

Assim, tanto na expansão como na compressão, o trabalho mecânico (de pressão-volume) é o


produto da força externa pelo deslocamento.
Dividindo e multiplicando o segundo membro da equação (4) pela área A da secção
transversal do pistão, obtém-se

F,
8W =-' Adx. (5)
111 A
76 • Termodinâmica

Lembrando que força por unidade de área é pressão, então a razão Fe IA que aparece na
equação (5) nada mais é do que a pressão externa Pe causada pela força Fe que atua sobre a face
extema do pistão. Por outro lado, o produto Adx é, como se pode perceber, simplesmente a variação
infinitesimal do volume ocupado pela gás na transformação (dV). Assim, reescrevemos a
equação (5) como

8w", =-p. dV, (6)

sendo que o sinal negativo foi colocado para justificar a convenção de sinais estabelecida para o
trabalho, porque dV é positiva na expansão e negativa na compressão.
No caso do processo ser reversível, como vimos no item 2.3, o sistema permanece em
equilíbrio ao longo da transformação e Pi = Pe = P.
Portanto, toda vez que se escrever a equação (6) utilizando-se P em vez de Pe, ou seja,

8w", = -PdV , (7)

está implícito que está se referindo a um processo reversível.


Quando a variação do volume na transformação for finita, então a cada valor de volume
corresponderá um valor definido de pressão e o trabalho executado quando o volume aumenta (ou
diminui) de um volume inicial VI a um volume final V2 será
v,

w'" =- f VI
PdV
(8)

na transfonnação (expansão ou compressão) reversível, e


V,

w'" =- f v,
P. dV
(9)

na transfomlação (expansão ou compressão) irreversível.


Observe, que, por esta expressão (9), o trabalho mecânico real (irreversível) depende da
pressão extema. A pressão do gás dentro do cilindro, pressão intema (P), pode variar, conforme o
volume varia, mas o trabalho executado é independente dessa variação.
No Cálculo Integral, este trabalho mecânico ou de pressão-volume representa, portanto, a
área sob a curva de um gráfico P - V (Figura 4.2).

Exemplo Ilustrativo
Um moi de um gás ideal, a 298 K e exercendo uma pressão de 250 kPa sobre um pistão,
expande-se irreversível e isotennicamente contra uma pressão extema constante de 100 kPa, até que
sua pressão se tome igual à pressão extema. Qual o valor do trabalho executado pelo gás nessa
expansão? E se essa mesma expansão (a temperatura constante) fosse reversível, qual seria o valor
do trabalho?
Solução:
Pela equação (9), o trabalho executado por um gás numa transformação irreversível é dado
por
Dinâmica da JÍgua no Solo • 77

V,

W1ll =-f PedV.


v,

Como Pe= constante, então,

Observe que este é o caso representado pela Figura 4.2a. Por outro lado, como o gás é ideal, e segue
a equação PV = nRT, tem-se, no estado inicial:

V =nRT1 =lX8,314x298_9914.1O-3m3
I ~ 2,5.105 '

e no estado final:

V = nRT2 = 1x 8,314 x 298 = 2477.10-3 m3


2 P2 1,0.105 '

Portanto:

W1ll =-105(24,77-9,91)1O-3=-1483J.

Numa transformação reversível, no caso expansão reversível isoténnica de um gás ideal, a


pressão externa é sucessivamente reduzida de maneira que ela sempre se equilibra com a pressão
interna, e então

P =p =P= nRT
e, V '

e, portanto (equação 8):

w = -fPdV
111
= -nRTf dV
V = -nRT ln ( V2
~ •
V,
VI v,
VI )

Substituindo os dados do problema:

w," =-lx8 314x298xln 24,77.10-3 =-2270J.


, 9,91.10-3

3.2 Outros trabalhos que não o de pressão-volume

Analisando-se a expressão do trabalho mecânico reversível (equação 7), observa-se que ele é
produto de uma propriedade intensiva (P) pela variação de uma propriedade extensiva (dV). Este
fato é de caráter geral e ocorre em todas as outras fonnas de trabalho que podem ser incluídas no
somatório da equação (1), como os trabalhos elétrico, de superficie, químico etc., descritos, a título
de exemplo, na Tabela 4.1, juntamente com o trabalho de pressão-volume.
78 • Termodinâmica

Tabela 4.1 Expressões para trabalho termodinâmico


Tipo propriedade extensiva
dAdn
elétrica,
área,
volume,
moles,
carga de
variação
dV expressão
intensiva
químico,e fi(J
superficial,
elétrico,
---
potencial matemática
potencial
tensão P
pressão,
mecânico PdV
elétrico

ede
de superficie (JdA

químico fidn

Face ao exposto, a equação do primeiro princípio (equação 2) pode ser escrita de uma fonna
mais detalhada, para processos reversíveis, como
I

dE = Oqrev- PdV + L k~1


AkdBk, (10)

sendo Ak e Bk, respectivamente, as propriedades intensiva e extensiva envolvidas em cada um dos


outros trabalhos que não o de pressão-volume, e 1= m-l, o número destes outros trabalhos.

4. SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA

Do mesmo modo como fizemos para a primeira lei da tennodinâmica, também para a
segunda apresentaremos diretamente seu enunciado na fonna atual do conhecimento, sem nos
preocupannos com o seu desenvolvimento histórico. Basicamente, o que se pretende com essa lei é
fonnular um critério para a reversibilidade de um processo e, como essa reversibilidade está
relacionada com o equilíbrio, em última análise o que ela fornece é um critério para verificar se um
sistema tennodinâmico se encontra ou não em equilíbrio. Além disso, ela estabelece também em
que direção um processo irreversÍvel pode ocorrer. Isto foi possível postulando a existência de uma
função de estado chamada entropia, conforme o enunciado a seguir:

Todo sistema possui uma função de estado extensiva


chamada Entropia, a qual, quando o sistema sofre
determinada transformação, pode variar por dois únicos
motivos:

1º)fluxo de entropia entre o sistema e o meio (OS,), dado por

os -Oq (ll)
m -T'
sendo T a temperatura absoluta do sistema no momento em
que ocorre a transferência infinitesimal de calor (Oq);e
Dinâmica da Agua no Solo • 79

212) produção de entropia no interior do próprio sistema (85),


a qual é igual a zero nas transformações reversíveis e
positiva nas irreversíveis
Portanto, simbolicamente, a segunda lei da tennodinâmica estabelece que
dS=8Sm (12)
(15)
(14)
+8S;
(13)
8Sj
8Sj >=OO(processo
(processoirreversível).
dS= &j +8S.
reversível)

Observe que tanto a produção como o fluxo de entropia não são funções de estado como o é a
entropia do sistema: a produção de entropia, sendo zero no processo reversível e positiva no
irreversível é dependente do caminho; o fluxo de entropia, sendo a razão entre o calor e a
temperatura absoluta também depende do caminho, porque o calor depende do caminho. Assim, se
um sistema sofre uma transfonnação finita, passando de um estado 1 para um estado 2,
s,

r
S,
dS=M=S2 -SI' (16)

mas

(17)

2 2 &j
fI 8Sm = fI T= Sm .
(18)

Decorre imediatamente da segunda lei que, a partir das equações (13) e (14)

dS = &j (processo reversível), (19)


T

e, a partir das equações (13) e (15)

dS > &j (processo irreversível). (20)


T

Para sistemas isolados (sem interações com o meio), evidentemente, 851/l = O. Portanto, para
tais sistemas:

dS = 8Sj (sistema isolado), (21)


80 • Termodinâmica

e, a partir das equações (14) e (15)

dS = O(processos reversíveis, sistemas isolados) (22)


e

dS > O(processos irreversíveis, sistemas isolados), (23)

isto é, a entropia de sistemas isolados nunca pode decrescer.


É importanteobservar que, como em todo processo reversível o sistema pennanece em
equilíbrio ao longo da transfonnação, então, para qualquer sistema em equilíbrio, 8Si = O, e para
qualquer sistema em equilíbrio e isolado, dS=O.
Para melhor visualizar a segunda lei, imaginemos, à semelhança de Prigogine (1967), um
sistema constituído de duas fases fechadas A e B mantidas às temperaturas TA e TE' respectivamente
e inicialmente desconectadas uma da outra e do exterior. Conseqüentemente, por estarem em
equilíbrio, nenhum processo irreversível está ocorrendo no interior de cada uma delas:

OASj =0 (24)

e
OBSj =0. (25)

Sendo a entropia uma função de estado extensiva, seu valor para o sistema inteiro valerá
S = SA + SB e, conseqüentemente:
dS = dS A + dS B , (26)

isto é, a variação da entropia do sistema é igual à soma da variação da entropia de cada uma de suas
partes (ou fases).
Ao se conectar as fases uma a outra e com o exterior, é claro que cada uma delas,
individualmente, pode receber (ceder) calor, tanto da (para a) outra fase como do (para o) meio
exterior, e podemos assim dividir o calor recebido (cedido) pela fase A (OAq) e pela fase B (OBq) em
duas partes:
Para a fase A,

oAq=OAqj+OAqlll' (27)

e, para a fase B,

uS:B q = S:B qj
U + Us:B qlll' (28)

sendo:
OAqi = calor recebido (cedido) pela fase A da (a)fase B
OAqm = calor recebido (cedido) pela fase A do (ao) meio
OBqi = calor recebido (cedido) pela fase B da (a) fase A
OEqm = calor recebido (cedido) pela fase B do (ao) meio.
De acordo com a equação (13), e tendo em conta as equações (24) e (25), que continuam
sendo válidas após o contato das fases entre si e com o meio porque, para cada fase
individualmente, a outra fase também é exterior, é claro que
Dinâmica da Agua no Solo •

(29)

(30)

Substituindo-se as equações (29) e (30) na equação (26):


8A 8A 80 80
dS=~+~+~+~
TA TA To To

ou

(31)

Como

ou seja, internamente (daí o índice "r' para q) o calor ganho pela fase A é igual ao cedido pela fase
B, ou vice-versa, a equação (31) toma-se:

(32)
TA + 8°qm
dS = 8Aqm To +8Aq.(_1
TA __To
1 J. I

Como mostra essa equação, a vanaçao da entropia do sistema consiste, portanto,


concordando com a equação (12), de duas partes. A primeira,

8S = 8Aqm + 8°qm (33)


'li TA T'o

que é devida à troca de calor com o meio; e a segunda,

(34)
I I TA T '
8S. = 8Aq.(_1 __ 18 J

que resulta do fluxo de calor irreversível dentro do sistema.


Esta equação (34) prova o conteúdo das equações (14) e (15), de que a produção de entropia
é sempre positiva ou, no mínimo, igual a zero. Para que 8Si na equação (34) seja positiva, existem
apenas duas possibilidades. Ou

ou

I T T '
8Aq <O e (_1A __ 1o J<o

e é o que realmente acontece, porque:


82 • Termodinâmica

a) Quando (lITA - 11Ts) > O, obrigatoriamente <J4qi > O, isto é, para que entre calor em A a partir
de B (84qi > O), Ts tem que ser maior que TA e, conseqüentemente (lITA - 11Ts) > O.

b) Quando (lITA -1ITs) < O, obrigatoriamente < O, uma vez que a saída de calor de A para
<J4qi

B (<J4qi < O) implica em TA> Ts e, então, (lITA -1ITs) < O.


c) A produção de entropia somente pode ser nula quando equilíbrio é estabelecido entre as duas
fases, ou seja, quando

TA =TB•

Um exemplo simples e concreto desta visualização da segunda lei é o da fusão de 0,00 I kg de


gelo a 273 K. Para fundir o gelo, é preciso colocá-Io em contato com um "reservatório" de calor.
Neste caso, portanto, gelo + "reservatório" constitui nosso sistema fechado, sendo gelo = fase A e
"reservatório" = fase B. Sendo o calor de fusão do gelo a 273 K igual a 334 J/kg e estando as duas
fases à mesma temperatura (TA = Ts = 273 K), pela equação (34):

8 Si = O--7 fusão reversível.

No entanto, é obvio que só vai haver fusão do gelo se houver uma pequena diferença de
temperatura entre o gelo e o "reservatório": não se pode fundir um cubo de gelo mantendo-o em
contato com um grande bloco de gelo a mesma temperatura. Conseqüentemente, para que a ftlsão
ocorra, a temperatura do "reservatório" tem que ser maior que 273 K (digamos, 280 K). Se assim o
for, pela equação (34)

os; = 0,334(_1273 280


1_)= 3,1.10-6 J K1
ou seja

OSi > O --7 fusão irreversÍvel (real).

Evidentemente, se a temperatura do "reservatório" for menor que a temperatura do gelo, o


processo de fusão nunca vai ocorrer, apesar de OSi continuar sendo maior do que zero e, portanto,
ocorrendo um processo possível (irreversÍvel), qual seja o de o "reservatório" roubar calor do gelo.

5. RELAÇÃO FUNDAMENTAL DA TERMODINÂMICA

De acordo com a primeira lei da termodinâmica, sabemos que, para processos reversíveis
I

dE = Oqrev - PdV + L k=1


AkdBk· (10)

Sabemos também que, pela segunda lei (equação 19):

dS = Oqrev (35)
T '
ou que

5\~rev
l.Jf.1 =TdS. (36)

Substituindo, então, a equação (36) na equação (10), tem-se:


Dinâmica da Agua no Solo • 83

dE = TdS -PdV + L
k=1
AkdBk· (37)

Esta equação é, portanto, a combinação da primeira e segunda leis para processos reversíveis,
e daí ser chamada de relação fimdamental da termodinâmica.
Um aspecto importante, ao qual deve ser dado ênfase no momento, é o de que um estado de
equilíbrio é um estado de repouso, em que as propriedades do sistema não variam com o tempo.
Conseqüentemente, de acordo com a equação (37), um sistema tennodinâmico está em completo
equilíbrio quando dE = dS = dV = dBk = O, ou seja, para que um sistema tennodinâmico esteja em
completo equilíbrio, nenhum tipo de transferência de energia (calor + trabalhos) pode OCOlTer
através das suas paredes.
Outro fato importante a ser esclarecido é o de que o valor de dE calculado pela equação (37)
é válido para qualquer caminho. Isto porque sendo E uma função de estado, todos os detalhes do
caminho do processo real (irreversÍvel) são irrelevantes no cálculo da sua variação entre dois
estados especificados. O que se faz para encontrar a variação de energia de um sistema que sofre
uma transfonnação é substituir o caminho irreversÍvel por um caminho reversível que conecte os
dois estados e que seja especificamente inventado (lembre-se que o processo reversível é ideal) para
a conveniente avaliação da variação de energia.
A equação (37), que é portanto a relação fundamental da tennodinâmica dos processos
reversíveis e com a qual se pode avaliar iJ.E para um caminho irreversÍvel, mostra que a energia é,
matematicamente, função da entropia, do volume e de outras variáveis Bk referentes a outros
trabalhos termodinâmicos que não o de pressão-volume, isto é,

E =E(S,v,B1,B2,B3, ••• ,B,),

ou, de uma maneira mais compacta, simplesmente

(38)

sendo k, que como já vimos varia de 1 a I, todos os outros trabalhos tennodinâmicos que não o de
pressão-volume.

6. TRANSFORMAÇÕES DE LEGENDRE À POTENCIAIS TERMODINÂMICOS

A função de estado característica da termodinâmica é a energia (E), a qual, de acordo


com a primeira e segunda leis para processos reversíveis, é função das variáveis fundamentais
entropia (S), ligada ao fluxo de calor, volume (i!), ligado à transferência de trabalho mecânico, e
outras variáveis (Bk), ligadas à transferência dos outros trabalhos termo dinâmicos (ver equação 37).
No entanto, outras funções de estado características podem ser definidas (a partir da energia) em
fimção de outras variáveis fundamentais que não a entropia S, o volume V e as outras variáveis B k '
por meio das chamadas transformações de Legendre. Com isso, obtém-se uma melhor
adequação entre o problema em estudo e a função de estado característica (Callen, 1960).
Por uma questão de simplicidade e clareza de entendimento, vejamos, inicialmente, como se
processa a transfonnação de Legendre de uma função de uma só variável. Assim, seja a função

y= y(x), (39)

cuja derivada
a= dy (40)
dx
84 • Termodinâmica

é também função de x e representa os coeficientes angulares das retas-tangentes a um dado ponto da


curva y(x). Tais retas podem ser representadas pela equação
y=b+ax, (41)

na qual b é o ponto de intersecção das retas com o eixo-y, isto é, seus coeficientes lineares
(Figura 4.5).
y •

y(x)

b k::::""rQ. t@= .Qy[dx = a(x)

x
Figura 4.5 Representação da/unção y(x) pelo conjunto de pontos x,y.

o aspecto básico para o entendimento das transformações de Legendre é que um


determinado ponto de uma curva no plano, como a da Figura 4.5, pode ser descrito não só por dois
números x e y, mas também pelos coeficientes linear e angular da reta-tangente a este ponto. Dessa
fonna, toda curva no plano pode ser representada pelo conjunto de pontos que satisfazem a relação
y = y(x) (Figura 4.5), assim como por um conjunto de tangentes, conforme a Figura 4.6.
Portanto, qualquer equação que nos habilite a construir este conjunto de tangentes detelmina
a curva no plano, do mesmo modo que a relação y = y(x). Conseqüentemente, uma relação
y •

y(x)

Figura 4.6 Representação da/unção y(x) por um conjunto de tangentes.


Dinâmica da Agua no Solo • 85

b =b(a) (42)

é completamente equivalente à relação y = y(x), e é facilmente obtida eliminando-se x e y da


equação (41) a partir das equações (39) e (40).
Ao processo matemático de computar b = b(a) dado y = y(x) chamamos de transformação de
Legendre, e à função b = b(a) de transformada de Legendre de y. Em resumo:

y= y(x) (39)

a= dy =a(x) (40)
dx

b=y-ax (41)

eliminando-se x e y:
b=b(a). (42)

Para fixar idéias, consideremos o seguinte exemplo: dada a função y = x2, calcule sua
transfonnada de Legendre.

y = x2 --j y = y(x)

a = 2x --j a = dy / dx = a (x)

b = y - ax --j equação das retas- tangentes.

Eliminando-se x e y, isto é, como a = 2x, evidentemente x = a/2 e y = (a/2)2. Logo:

ou
a2
b = --
4
-7 b = b(a).

Portanto, b = -a2/4 é a transformada de Legendre de y = x2 e, por meio dela, podemos


também construir a curva y = x2 no plano x-y, traçando retas (tantas quantas necessárias) que passam
pelos pontos (b,O) e tenham inclinações iguais a a(x) em relação ao eixo-x.
Para uma função de duas variáveis

z=z(x,y) (43)

graficamente o que se obtém é uma superficie no espaço, a qual, à semelhança do caso anterior,
pode ser considerada como o conjunto de pontos que satisfazem a equação (43), ou como o
conjunto de planos-tangentes a esta superficie. Portanto, a obtenção de uma relação que nos pennita
construir tal conjunto de planos-tangentes determinará a superficie no espaço da mesma maneira
que a relação z = z(x,y).
86 • Termodinâmica

Como vimos no caso de duas dimensões, as retas-tangentes são dadas pela equação da reta
(equação 41); conseqüentemente, no caso de três dimensões, os planos-tangentes devem ser dados
pela equação do plano (equação 44 abaixo):

z=b+aox+aly· (44)

Nesta equação, b são os valores de z para os quais os planos-tangentes interceptam o eixo-z,


ao os coeficientes angulares dos traços dos planos-tangentes no plano z-x, e aIos coeficientes
angulares dos traços dos planos-tangentes no plano z-y (Figura 4.7).
Assim,

az
(45a)
ao = dx = ao (x, y)
e
az
(45b)
ai = dy = ai (x,y) ,

que indicam a inclinação do plano-tangente num dado ponto da superficie, são também as derivadas
parciais da função z = z (x, y) (equação 43), uma vez que a sua diferencial total é, como sabemos
(ver apêndice I), dada por
az az
dz=-dx+-dy. (46)
az dy

Desta maneira, eliminando-se x, y e z da equação (44) com base nas equações (43) e
(45a e b), obtém-se uma relação

b=b (ao,al), (47)

que é completamente equivalente à relação z = z (x,y).


z.

b
traço ou corte do plano-
tangente no plano z-y

)
traço ou corte do plano-
tangente no plano z-x

~
tg y= oz/Oy = ai

tg ~ = oz/ox = ao
:\-'-
y
.,
y

\
traço ou corte do plano-
tangente no plano x-y

Figura 4.7 Caracterização do plano-tangente.


Dinâmica da Agua no Solo • 87

Em resumo:

z = z (x,y) (43)

(45)

(48)

Eliminando-se x,y e z:

Para mais de três dimensões (mais de duas variáveis independentes) o mesmo raciocínio se
aplica, só que não é possível uma representação gráfica. Para quatro dimensões teríamos três
variáveis independentes e três coeficientes angulares, para cinco dimensões quatro variáveis
independentes e quatro coeficientes e assim sucessivamente.
Portanto, em resumo, para k + 1 dimensões:

U =u(xl,X2,x3,K,xJ (49)

(50)

b =u - L.
j=1
ajxj. (51)

Eliminando-se LI exl, x2' x3' ... , xk:

b = b(a"a2,a3,K,aJ. (52)
88 • Termodinâmica

Neste caso, a equação (49) é dita representar uma hipersuperfície, as equações (50) as
inclinações parciais desta hipersuperfície, a equação (51) a equação dos hiperplanos-tangentes, e b
as intersecções dos hiperplanos-tangentes. ~
Em conclusão, por meio da transformação de Legendre de uma determinada jUnção de
várias variáveis, obtém-se uma nova função, denominada "transformada de Legendre ", a qual
possui o mesmo conteúdo informativo da fimção original, mas cujas variáveis são as derivadas
parciais desta, isto é, para a obtenção da transformada de Legendre da função original, substituem-
se suas variáveis independentes pelas suas derivadas parciais. Entretanto, pode-se substituir uma,
duas, três, todas as variáveis independentes da função original e obter-se tantas transfonnadas de
Legendre quantas possíveis. No caso em que não são substituídas todas as variáveis independentes
da função original, diz-se que a transformada de Legendre é parcial. Exemplificando: se o interesse
for substituir somente x} da equação (49), as equações (50) tomam-se apenas a/=duIOx/, a
equação (51) toma-se b = u - a}x}, e a equação (52), após a eliminação de u e x/, toma-se b = b (a/,
sendo denominada transfonnada parcial de Legendre com substituição de x} por a}
x2' x3' x4, ... ,xk),
como variável independente.
Voltando ao caso de três dimensões, em que graficamente a função z = z (x,y) representa uma
superfície no espaço, a transformada parcial de Legendre de z com substituição apenas de x por
ao = (J zl(J x resulta, portanto, na função b = b (ao, y), completamente equivalente à função original
z = z (x,y). Neste caso, no entanto, reconstrói-se z = z (x,y) não traçando planos tangentes à
superfície no espaço, mas sim linhas, cada uma delas caracterizada por um valor constante de y e
por retas-tangentes de inclinações ao e intersecções b com o eixo-z (Figura 4.8).
Reescrevamos nossa relação fundamental para processos reversíveis, termodinamicamente:

I.
I

dE = TdS-PdV+ AkdBk' (37)


k=1

ou, matematicamente,
E=E(S,v,Bk)· (38)
"Z

tg P = dz/dX = ao

plano y = constante

Figura 4.8 Representação da função z = z(x,y) pelo conjunto de pontos x,y,z, e pelo conjunto de
retas-tangentes para cada valor constante de y.
Dinâmica da JÍgua no Solo • 89

Matematicamente, a diferencial total da função E (equação 38) vale

dE = - dS + - dV + L,; - dBk ,
(53)
dS
(dE) V,B, dV ) S,B,
(dE ~(
k=1 aE
aBk JSoV,-B, .

sendo Bk, como já vimos, a forma compacta de expressar as variáveis BI, B2, BJ, B4,o.. ,B,o O
tem10 -Bk, por outro lado, é a fonna compacta de expressar essas variáveis, eliminando aquela que
está variando; por exemplo, para k = 3 ~ -BJ = BI, B2, B4, B/, o •• ,

A comparação das equações (37) e (53) mostra que

(54)
T=(dE)dS V,B,'

(55)
_p=(dE) dV S,B,'

(56)
Ak . =(~J
dBk S .,V-B k

Das possíveis transformadas de Legendre da equação (38), três são de importância na


tennodinâmica macroscópica e denominadas genericamente de potenciais termodinâmicos,
Vejamo-Ios.

Energia Livre de Helmholtz (F)

É a transfonnada parcial de Legendre de E, na qual se substitui a entropia (S) pela


temperatura absoluta (T) como variável independente, isto é:

E = E(S, V,Bk),

dE
T = - = T(S,V,Bk),
dS

F=E-TS. (57)

Eliminando-se E e S:

F =F(T,V,Bk). (58)

Entalpia (H)

É a transformada parcial de Legendre de E com substituição do volume (V) pela pressão (P)
como variável independente. Portanto:
90 • Termodinâmica

E = E(S, V,Bk),

- (JE = -p(S, V,Bk),


- P - (JV

H=E+PV. (59)

Eliminando-se E e V:

H=H(S,P,BJ. (60)

Energia Livre de Gibbs (G)

É a transfonnada parcial de Legendre de E com substituição simultânea de S por T e de V por


P como variáveis independentes. Neste caso:
E=E(S,v,BJ,

(JE

T= (JS =T(S,v,Bk),

- (JE =-P(S,V,BJ,
-P - (JV

G=E-TS+PV. (61)

Eliminado-se E, S e V:

G=G(T,P,Bk)· (62)

Visto os potenciais tennodinâmicos por meio das transfonnações de Legendre, passemos,


agora, a interpretá-Ios fisicamente.

7. SIGNIFICADO DAS FUNÇÕES ENTALPIA, ENERGIA LIVRE DE HELMHOLTZ E


ENERGIA LIVRE DE GIBBS

7.1 Entalpia (H)

Consideremos a equação do primeiro princípio na sua fonna diferenciada, explicitando o


trabalho mecânico ou de pressão-volume:
I
dE = 8q - PdV + L k=1
8wk•
(63)

Como, conforme definido no item 5,

H=E+PV, (59)

e então,
Dinâmica da Agua no Solo • 91

dH = dE + PdV + VdP . (64)

Resulta, substituindo (63) em (64), que:


I
dH=8q+VdP+ L
k=1
oWk'
(65)

Se a transfonnação se der a pressão constante e com todos os outros trabalhos que não o de
I

pressão-volume iguais a zero (isto é, Lk=!


dWk = O), então:

(66)
ou
(67)

sendo qp o calor envolvido à pressão constante P.


POltanto, t1H é o calor envolvido em um processo particular conduzido a pressão constante,
no qual existe apenas trabalho pressão-volume. Por esse motivo, H é uma função tennodinâmica
que recebeu o nome de entalpia, palavra de origem grega que significa "aquecer".
Note, no entanto, que a entalpia foi definida pela equação (59), a qual não requer imposições
de pressão, temperatura ou volume constantes, nem que oWk = O. A entalpia será, todavia,
considerada mais conveniente para os problemas nos quais a pressão é constante e oWk = O, pois,
neste caso, a sua variação é igual ao calor envolvido no processo. No caso de uma reação química,
por exemplo, t1H será o calor da reação ou, mais corretamente, a variação de entalpia da reação.
Assim, quando t1H for positiva, a reação será endotérmica (absorção de calor), e quando negativa,
será exotérmica (liberação de calor).

7.2 Energia Livre de Helmholtz (F)

Diferenciando-se a equação que define a energia livre de Helmholtz F,


F=E-TS, (57)

obtém-se:
dF=dE-TdS-SdT. (68)

Lembrando que

dE=8q+ I.
11=1
OWII,
(2)

a equação do primeiro princípio, obtém-se, substituindo-se (2) em (68):

dF =8q+ I.
11=1
Owll -:-TdS -SdT.

Se o processo for reversível (8q = TdS) e isotérmico (SdT = O), então, evidentemente:
92 • Termodinâmica

dF= f,
11=1
OWn•
(69)

A variação da energia livre de He1mholtz é então igual aos trabalhos envolvidos num processo
isoténnico ao longo de um caminho reversível. Note, no entanto, que a definição de F dada pela
equação (57) não exige que T seja mantida constante nem que o processo seja reversível, mas é
somente neste caso que i1F representa todos os trabalhos envolvidos.

7.3 Energia Livre de Gibbs (G)

A equação de definição da energia livre de Gibbs é, como sabemos,


G=E-TS+PV, (61)

que, diferenciada, dá:


dG=dE-TdS-SdT+PdV + VdP. (70)

Substituindo a equação (63) do primeiro princípio na equação (70):

dG =8q+ L
k=!
oWk -TdS-SdT+ VdP .

Se o processo, além de reversível (8q = TdS) for também isoténnico (SdT= O) e isobárico
(VdP = O), então:
I

dG= L.
k=1
oWk'
(71)

Portanto, para uma transformação reversível do sistema a pressão e temperatura constantes, a


variação da energia livre de Gibbs é uma medida dos trabalhos envolvidos menos o trabalho
pressão-volume.
Observe que a definição de G pela equação (61) não apresenta qualquer restrição para que P
e T sejam mantidas constantes nem que o processo seja reversível. O importante é notar que G
representa a energia cuja variação, no caso particular em que Pe T são mantidas constantes durante
uma transfonnação reversível, é convertida em trabalho, todos exceto o de pressão-volume.

Exemplo Ilustrativo
Dois moles de um gás ideal sofrem uma expansão reversível passando de uma pressão de 100
kPa para uma pressão de 10 kPa, a temperatura de 323 K, mantida constante. De quanto variou a --
energia, a entalpia, a entropia, a energia livre de Helrnholtz e a energia livre de Gibbs do gás nessa
transformação?
Solução:
Tennodinamicamente, define-se capacidade térmica a volume constante de uma substância
(C,J como a variação da energia dessa substância (dE) causada por uma variação em sua
temperatura (dT), sem variação em seu volume(V= constante). Em símbolos:
Dinâmica da Agua no Solo • 93

C =dE
v dT'

pelo que,

Por esta equação percebe-se facilmente que, numa transfonnação isoténnica (dT= O), que é o
caso presente,
M=O.
A partir da equação (64), verifica-se que, como dE = O, então,
dH=PdV+VdP

e, sendo o gás ideal e T= constante, então, PV= nRT= constante, pelo que

d(PV) = PdV + VdP = d(m RT) = O.

Portanto:
M-I=O.

Para um gás ideal,


dE = TdS - PdV ,

e como, no caso, dE = O e T = constante,


P
dS=-dV'
T '
substituindo P por nRTIV na equação acima e integrando:

nRT dV dV V2 P,
M= fdS=
~
~ ~
frv=nRfv=nRln
~ ~
~ [Jv;- =nRln [JP2 •

Portanto:

M = 2x8,314xln 100 = 38,29J KJ•


10
A partir da equação (69), como só existe trabalho mecânico,

M=wll1 =-VJPdV=-nRTln-1 p, =-2x8,314x323xln-=-12367J


100
I
lê P2 10

e, a partir das equações (70) e (68)


f>.G = M = -12367 J;

visto que PdV+VdP = O.


94 • Termodinâmica

8. POTENCIAL QUÍMICO DE UMA SUBSTÂNCIA

Voltando à equação fundamental para processos reversíveis:


I

dE=TdS-PdV+ L k;1
AkdBk (37)

ou

E=E(S,v,BK), (38)

vemos que, se quisermos levar em consideração a possibilidade de variação na composição do


sistema (sistema aberto), variáveis de composição têm que aparecer como variáveis independentes
na equação (38). Assim, se o sistema é composto de i substâncias (i = 1, 2, 3, .." p) podemos
reescrever a equação (38) como

E=E(S,V,m;,BJII)' (72)

em que mi é a massa de cada uma das substâncias i, 111 (o subscrito de B) = 1,2,3, ..., q e, é claro,
q = 1- p.
Assim, para um sistema aberto, a equação (37) toma-se

dE = TdS - PdV + '!)l;dl11j


i=l
+ I.
11I=1
AmdBm ' (73)

com o aparecimento do termo L,fl,dl11ipara justificar a variação na energia E do sistema, devido à


variação de massa das substâncias i que o compõem. O somatório LAmdBm representa, agora, todas
as outras influências sobre a energia do sistema que não a do trabalho de pressão-volume e as da sua
composição química.
Calculando a diferencial total dE a partir da equação (72), obtém-se:

dE ~ ( : L"" dS + ( ;~ ),""', dV + t(::,Lm". dm, + t(:;,1,,,,-,. dB", (74)

As quantidades -mj e -Bm têm o mesmo significado do -Bk da equação (53).


Tendo em vista este desmembramento do somatório da equação (37) para considerar sistemas
de composição variável, é evidente que as transfonnadas parciais de Legendre de E = E (S, V,mi,BII1)
para obtenção de F, H e G tomam-se, respectivamente:

F=F(T,V,I11"BJ, (75)

H = H(S,P,I11"BJ (76)

e
G = G(T,P,I11"BJII)' (77)

A diferencial total da equação (75), isto é, do potencial tennodinâmico Energia Livre de


Helmholtz resulta em:
dF ~ ( ~; L.,.dT +( : 1....
,.dV + ~ (:; ,. + t(::.t....
t .... dm, dB•. (78)

A diferencial total do potencial termodinâmico Entalpia (equação 76) fomece:

dH. = (dH)
dS P,lI/j,B",
dS + (dH)
dP S,lI/j,B",
dP + !(aH
;~l am; dm; +
JS,P,-lI/j,B", !(
II/~I aBII/
aH JS,P,II/j,-B",
dBII/ (79)

Finalmente, a diferencial total do potencial tennodinâmÍCo Energia Livre de Gibbs (equação


77) resulta:

Por outro lado, diferenciando-se as equações de definição de F, H e G - equações (57), (59) e


(61), respectivamente - e substituindo em cada uma das equações resultantes desta diferenciação a
equação (73), obtém-se, respectivamente:

dF = -SdT - PdV + !f1;dm; + !AlI/dBII/ , (81)


i=1 11/=1

dH = TdS + VdP+ !f1;dm; + !AlI/dBII/ (82)


i=1 111:;::1

dG=-SdT+VdP+ !f1;dm; + !AlI/dBIII, (83)


i=1 /1/=1

A comparação entre os pares de equação (73) e (74), (78) e (81), (79) e (82), (80) e (83)
mostra que

(84)
dS
(dE) V,lIIj,B", dS
=(dH) P,lIIj,B",=T '

(85)
96 • Termodinâmica

(86)
aT
(aF) V,III"8,,, aT
=(aG) P,III"8,,, =-5 '

(87)
ap
(aH) S,lIIi,8", ap
=(aG) T,III"8,,, =v '

- = - = - = - =/l (88)
aE JS,V,-III"8,,,
( a/11; ( a/11i
aF JT,V,-III"8,,, êJn1;JS,P,-III"8,,,
(êJH ( a,ni
aG J T,P,-III,,8", ;'

(::.l,~. ~(:{L.,. ~U:.L..". ~un,


.-,. ..-.. =A.
(89)

o coeficiente f.1i é chamado de potencial químico das substâncias i e representa, como se pode
ver pela equação (88), a energia trazida para dentro do sistema ou dele retirada pelas substâncias i
quando uma unidade de massa destas substâncias é transferida. Em outras palavras, f.1i representa a
variação da energia do sistema com a variação da massa das suas substâncias i.
Um aspecto importante, embora já esteja matematicamente implícito na definição do
potencial químico de uma substância (equação 88), é o fato de que as possíveis variáveis
independentes Em das funções E, F, H e G (equações 72, 75, 76 e 77), mantidas constantes nas
equações (84) a (89), não podem ser dependentes das outras variáveis independentes das equações
(72), (75), (76) e (77). Por exemplo, tomando a função E (S, V, mi, Em)' as Em não podem depender
de 5, V, e mio No caso de existirem outras influências sobre E, F, H ou G definidas por variáveis que
dependem das suas variáveis independentes, as derivadas parciais que aparecem na equação (88)
não mais representarão o potencial químico. O item a seguir esclarece essa situação.

9. INFLUÊNCIA DO CAMPO GRA VITACIONAL TERRESTRE

Todos sabemos da mecânica (ver apêndice IlI) que qualquer corpo, estando dentro do campo
gravitacional terrestre, possui uma energia potencial gravitacional Eg e que

M g =mgh, (90)

sendo m = massa do corpo, g = aceleração da gravidade, h = distância vertical do corpo à referência


gravitacional e L1Eg = diferença entre a energia potencial gravitacional do corpo a distância h da
referência gravitacional e a energia potencial gravitacional do corpo na referência gravitacional.
Nosso sistema, composto de p substâncias, evidentemente também possui essa energia e é
evidente também que, se a massa mi de qualquer uma delas variar, haverá uma variação
correspondente de L1Eg do sistema. Em outras palavras, estando o sistema num dado estado I a uma
distância h da referência gravitacional, portanto com energia EI, e para o qual M g{ = m,gh, se
Drildm/ca ela Agtra /70 Solo • 97

houver uma transferência de massa de uma ou mais de suas substâncias i, ele passará para um
estado II adquirindo uma energia Eu, e para o qual M
gll = m 1/ gh . Dessa maneira,

ou

Como mil -ml = !fun;


i=l
,então,

Mg fi -M g, L
= ~ gh(fun),
;=1
I

ou, em tennos infinitesimais,

d(Mg)= !ghdm;. (91)


i=1

o tenno pj que aparece na equação (73) é o potencial químico das substâncias i e, como
vimos (equação 88), representa a variação parcial da energia do sistema devido apenas a uma
variação de massa da substância i correspondente. Mas como, na presença do campo gravitacional,
essa variação de massa altera a energia E do sistema por meio da alteração da sua f1Eg, essa
influência da gravidade tem que ser considerada quando se varia a massa do sistema. POlianto,
assim como o tenno 2,pjdmj, o tenno Ighdmj também deve se tomar aparente na equação (73), na
presença do campo gravitacional, porque ambos causam variação na energia E do sistema por causa
da variação de massa de suas substâncias i.
Com isso, a equação (73) deve ser escrita, na presença do campo gravitacional, como:

dE = TdS-PdV + !(}1; +gh)dm; + I,AlI/dBII/' (92)


i=1 m=1

Observe que essa influência da gravidade não pôde ser explicitada do somatório V1mdBm da
equação (73) porque as variáveis extensivas Bm dessa equação não podem ser dependentes das suas
outras variáveis extensivas (S, V e mD. É por isso que o subscrito m foi mantido inalterado na
equação (92).
Da equação (92) resulta imediatamente que

(93)
98 • Termodinâmica

a energia parcial específica tj das substâncias i não sendo mais igual ao seu potencial químico
quando gh :;é O. À quantidade gh dá-se o nome de potencial gravitacional. Portanto, todas as
fónnulas desenvolvidas para /.li (equação 88) assim o foram desconsiderando a presença do campo
gravitacional e só serão válidas sob sua influência se gh = O, ou seja, sob a influência do campo,

(94)
/.l, . - omi
(OE JS,V,-m"B",(g- h-O) '

desde que h =O
Com isso, reescrevemos a equação (92), tendo em conta a definição de ti pela equação (93),
como:

dE = TdS - PdV + ~>idmi


i=1
+ I
m=l
AmdBm . (95)

10. EXERCÍCIOS

1. Calcule a transfonnada de Legendre da função y = 4i3, mostrando em gráficos separados a


dependência entre x e y no sistema cartesiano x - y, pelo conjunto de pontos (x,y) e pelo conjunto
de tangentes (b,a). Considere valores de x variando de O a 5.

2. Se a energia E de um detenninado sistema é dada pela relação

E=k~
V'

na qual S e V são a entropia e o volume do sistema, respectivamente, e k uma constante, calcule


as funções entalpia, energia livre de Helmholtz e energia livre de Gibbs correspondentes.

3. Um sistema num estado 1, caracterizado por uma pressão PI = 4 MPa e um volume


VI = 1,25.10-3 m3, passa para um estado 2, caracterizado por P2 = 0,125 MPa e V2 = 0,01 m3, de
tal maneira que, neste processo, a pressão decresce linearmente com o volume. Qual o valor do
trabalho executado pelo sistema e do fluxo de calor para o sistema nesta transfonnação, sabendo-
se que esta mesma mudança de estado conduzida adiabaticamente é regida pela
equação P = KV- 5/3, sendo K = constante?

4. Define-se capacidade térmica Cx como a razão entre o fluxo infinitesimal de calor transferido a
um corpo (Oq) e o conseqüente aumento de sua temperatura, isto é, CT = Oq / dT, sendo x o
caminho ao longo do qual a temperatura varia. Com base nisso e em outras definições
termodinâmicas, demonstre que, para um gás ideal,
a) Cv =dE/dT

b) Cp=dH/dT

c) Cp - Cv = nR
T,

d) M = f (CJT)dT
T,

5. Um mal de um gás ideal num estado 1 (Pj, VI, TI) é expandido reversível e isotennicamente
(caminho A) para um estado 2 (P2, V2 = 2Vj, TI)' Um outro mal do mesmo gás, partindo do
mesmo estado 1, é aquecido reversível e isobaricamente para um estado 3 (PI, V2, T3 = 2TI) e,
logo a seguir, resfriado reversível e isovolumetricamente de volta à temperatura TI, para o
mesmo estado 2 do mal anterior (caminho B). Pede-se: a) calcular M do gás entre os estados 2 e
1, considerando o caminho B, e b) provar, a partir do resultado anterior, que no processo
isotérmico (caminho A), M = O.
6. Define-se capacidade térmica molar ou simplesmente calor molar de um corpo como a razão
entre a capacidade térmica e o número de moles desse corpo. O calor molar a pressão constante
do ar atmosférico é 29,0 J mar' K', e do gás propano (C3Hg) 67,3 J mar' K'. Um mal de ambos
os gases, ocupando, à pressão de 3,2.105 Pa, um volume de 8.10-3 m3 cada um, é expandido
adiabaticamente ao volume de 20.10-3 m3•

a) Calcular, para ambos os gases, o calor molar a volume constante e o valor do coeficiente y
(razão entre o calor molar a pressão constante e o calor molar a volume constante).
b) Qual é a temperatura inicial e final do processo de expansão para ambos os gases?
c) Representar o processo para cada gás no mesmo diagrama PV.
7. Um volume de ar seco é aquecido pela superfície da Terra, a uma altura de 550 m acima do nível
do mar, onde a pressão atmosférica vale 0,94.105 Pa, atingindo uma temperatura de 310 K. O
volume de ar começa então a subir, expandindo-se adiabaticamente, até chegar à altura de
1550 m acima do nível do mar, onde a pressão atmosférica é de 0,84.105 Pa. Calcular a
temperatura do ar ao chegar a essa altitude.
v

POTENCIAIS DA ÁGUA NO SOLO

1. INTRODUÇÃO

Na linguagem comum da Física do Solo, o tenno água no solo refere-se sempre à solução no
solo e não ao componente água da solução aquosa no solo. Entretanto, como salientam Corey e
Klute (1985), quando o interesse for estudar aspectos relacionados à dinâmica, é muito importante e
necessário que haja uma distinção clara de estar se referindo à dinâmica da solução no solo ou à
dinâmica do componente água da solução no solo. É por este motivo que, neste capítulo, vamos
primeiro defInir os potenciais da solução no solo e, a seguir, os potenciais do componente água no
solo. Portanto, daqui para frente, sempre que usarmos o termo componente água, estaremos nos
referindo ao componente água da solução no solo, e sempre que usarmos o termo solução,
estaremos nos referindo à solução como um todo no solo. Numa situação de caráter mais geral,
quando se quer referir iridistintamente a qualquer uma das substâncias (solução ou componente
água) ou quando o contexto não exige que esta distinção seja feita, utilizaremos a palavra água
simplesmente, como vínhamos fazendo até agora.

2. POTENCIAIS DA SOLUÇÃO NO SOLO

As equações (95) e (93) do capítulo anterior são, como vimos, válidas para um sistema aberto
composto de "i" substâncias na presença do campo gravitacional telTestre. Essas duas equações,
como se pode notar, são gerais e devem, portanto, ser convenientemente adaptadas ao sistema
defmido para o ramo do conhecimento em que deverão ser aplicadas. No caso do estudo da solução
no solo, vamos defmir como sistema uma amostra de solo com seu espaço poroso abrigando
solução e/ou ar e denoilliná-lo de sistema sólidos-solução-ar. Para esse sistema, portanto, a equação
(95) do capítulo anterior se transforma na equação (1) abaixo:

(1)

na qual a) msol, ms e mar são as massas e b) ESDI, Es e êor as energias parciais específIcas da solução,
dos sólidos e do ar (substâncias "i") do sistema, respectivamente. As outras grandezas Bm não
aparecem na equação (1) por não serem relevantes ao sistema em estudo. Evidentemente, com base
também no que vimos no capítulo anterior (equação 93), Ewl = f.1,-o/ + gh, E,- = f.1s + gh e
102 • Potenciais da Agua no Solo

Eor = liar + gh, sendo liso!' lis e lior os potenciais químicos da solução, dos sólidos e do ar do
sistema, respectivamente, e gh o potencial gravitacional.
Entretanto, para que possamos definir os potenciais da solução no solo, por meio da teoria
termo dinâmica vista no capítulo IV, há necessidade de adequar um pouco mais nosso sistema,
considerando-o não como um sistema aberto, mas como um sistema isolado, composto de duas
fases abertas mantidas a mesma temperatura, uma delas sendo o sistema aberto recém definido e
denominada fase considerada ou fase sólidos-solução-ar, e a outra denominada fase padrão. A fase
padrão é definida como uma solução idêntica em composição e concentração à solução da fase
considerada, mas que em cuja superficie plana, coincidente com a referência gravitacional, atua a
pressão atmosférica local. Além disso, ambas as fases são confmadas por paredes rígidas, imóveis e
impermeáveis ao fluxo de matéria, com exceção de uma delas, também rígida e imóvel, mas que
deixa passar apenas solução quando as fases são postas em contato por meio dela.
As razões de se considerar a) a mesma temperatura nas duas fases, isto é, condição
isoténnica, e b) a pressão atmosférica local como a pressão externa na fase padrão, são explicadas, a
seguir, nos itens 2.l.la e 2.l.2b, respectivamente. A razão de a solução da fase padrão ser idêntica
em composição e concentração à da fase considerada, é de que, neste caso, a solução está sendo
analisada como um todo, sem qualquer consideração a respeito de seus solutos dissolvidos.
Defmido o sistema, precisamos, agora, saber quais são as condições de equilíbrio e de
movimento da solução. Isto se resume em responder a duas perguntas: Quando as fases
(considerada e padrão) são colocadas em contato, por meio da parede penneável à solução, quando
é que ocorre fluxo desta? Quando é que não ocorre, e há equilíbrio?
Para isso, precisamos explicitar dS da equação (1), que também se aplica ao nosso sistema
isolado com fases abertas, e tomar aparente, na equação resultante, as fases do nosso sistema
bifásico. Isso porque, pelo segundo princípio da tennodinâlnica, para um sistema isolado cujas fases
estão em equilíbrio, dS = O e, para um sistema isolado cujas fases não estão em equilíbrio, dS> o.
Explicitando, então, dS da equação (1),

dS=-dE+-dV
I P E E E
--!!!!....dm ----.!....dm----'!!...-dm (2)
T T T ,01 T ' T ar'

e tomando aparente na equação (2) as fases do nosso sistema, temos que

T ar. I T ar. I T sol T. sol


dS =[~dE
u
+~dE 1
J+[P"o dV + ~ dV. J _[E~OI dmo + E~oldm' J-
I Q J

- '
-dm a +-dm
E, 1 Ear
- -dm o +-dm
Ear I
. (3)
[EO
To ' r.I
1
'J [ To
o
ar T.I
1
ar
J

Nesta equação, as letras com o índice o referem-se à fase padrão e as letras com o índice 1 à fase
sólidos-solução-ar.
Imaginemos, então, que as fases, inicialmente desconectadas, sejam postas em contato via
parede permeável à solução. Como as paredes das fases são rígidas e a de conexão entre elas
permeável somente à solução, é claro que dV] = dVo = dm~ = dm~ = dm~r = dm~r = O . Por outro
lado, pela condição de isolamento do sistema, é também claro que, havendo transformação com
transferência de solução, dEo = -dE] e dm~ol= -dm~ol. Conseqüentemente, por estas considerações,
reescrevemos a equação (3) como:
Dinâmica da Agua no Solo • 103

Se as temperaturas Ti e To das fases forem iguais, Ti = To = T , que é o que já assumimos


nesse estudo, a equação acima se toma

dS = sol - ,'01 m 1 •
(4)
T sol
[EO E1}

Portanto, pela equação (4), para que dS> O, com fases assim em desequilíbrio, existem duas
possibilidades: a) dm:ol > Oe e;ol - e:ol > O, -7 quando Esol da fase o é maior do que Esol da fase 1, a
solução se move da fase o para a fase 1 (entra na fase 1: dm:ol > O); e b) dm:ol <O e Esool - Es10I < O,
-7 quando EsQI da fase 1 é maior do que EsQI da fase o, a solução se move da fase 1 para a fase o (sai
da fase 1: dm:ol < O). Também, pela equação (4), dS = O, isto é, condição de equilíbrio para fluxo de
solução, somente quando E:ol = E:ol . Conclusão: quando as fases são postas em contato, a) a solução
do sistema tende a fluir da fase em que EsQI é alta para a fase em que Esol é mais baixa e b) se Esol

das fases forem iguais, não há movimento de solução entre as fases, havendo equilíbrio.
Feitos estes esclarecimentos, podemos então, passar ao estudo dos potenciais da solução no
solo.

2.1 O potencial total da solução, o potencial da solução e o potencial gravitacional

Acabamos de ver, e esse é o nosso interesse, que as condições para dizer se a solução está em
equilíbrio ou em movimento, em nosso sistema bifásico, são obtidas pela diferença E:ol - E:ol' a
diferença entre a energia parcial específica da solução da fase considerada e a energia parcial
específica da solução da fase padrão. Como, evidentemente,

EOsol =110
fA' sol + gho e E1sol =111
fA"'sol + gh l'
então,
(5)

sendo hl = distância vertical da fase considerada à referência gravitacional e ho = distância vertical


da fase padrão à referência gravitacional.
Mas, pela defmição da fase padrão, ho = O, porque a referência gravitacional coincide com a
superficie plana da solução da fase padrão. Conseqüentemente,

E1sol _Eo sol = li! sol


tA' - 110
sol
t"" + gh I . (6)

À quantidade f1:01 - f1:01 dá-se o nome de potencial da solução no solo c/J:

(7)

À quantidade gh], dá-se o nome, como já vimos, de potencial gravitacional c/Jg:

(8)
104· Potenciais da Agua no Solo

À quantidade 8,101 - 8:0" por ser a soma dos potenciais anteriores, dá-se o nome de potencial
total da solução no solo cjJ,:

th
'fI = 81~iol _80sul (9)

Portanto, pelas equações (6), (7), (8) e (9):

cjJ{ =cjJ+cjJg . (10)

o potencial gravitacional cjJg, como se pode notar, é independente da matéria e tem um valor
único para um dado h. O potencial da solução cjJ, no entanto, sendo a diferença entre o potencial
químico da solução da fase considerada e o potencial químico da solução da fase padrão, envolve
outros potenciais, como veremos a seguir.

2.1.1 Componentes do potencial da solução no solo

Quando estudamos os potenciais tennodinârnicos no capítulo anterior, esclarecemos que


todos são entre si equivalentes, mas que a utilização de um ou de outro iria depender do tipo de
problema em estudo. Assim, por exemplo, se no experimento que estamos conduzindo for mais
conveniente controlar a temperatura, a pressão externa, a composição do sistema etc., o potencial
que melhor se adapta a este problema é a energia livre de Gibbs G (equação 77 do capítulo IV, a
qual reescrevemos aqui como equação 11):

G = G(T,P,mi'Bm) • (11)

No caso específico do nosso sistema, reescrevemos a equação (11), à semelhança do que


fizemos para obter a equação (1), como

G = G(T,P,ms,msopmor) . (12)

Portanto, o potencial termo dinâmico G (energia livre de Gibbs) descreve nosso sistema pelo
controle das variáveis T, P, ms' mso/' e mar' já definidas. Também, o potencial de Groenevelt e
Parlange (1974), que definiremos a seguir, é, de acordo com Sposito (1981), uma alternativa útil
para estudar o comportamento da solução no solo.
O potencial de Groenevelt-Parlange, simbolizado por G*, é simplesmente a transfonnada
parcial de Legendre de G com substituição da massa de ar (mar) pelo potencial químico do ar (Par)
como variável independente.
Desta maneira, confonne foi bem visto no capítulo anterior:

G = G(T,P,ms,msol,moJ (12)

~- = [ a~, L...(,,~, = J.1ar(T, P, ms, Insopmar)' (13)

G* = G - J.1armar. (14)

Eliminando-se G e mar:

G* = G*(T,P,ms,mso"J.1aJ. (15)
Dinâmica da Agua no Solo • 105

Portanto, O potencial G* é uma relação fundamental associada com o conjunto de variáveis


tennodinâmicas T, P, e flor'
ms' mso'

Vejamos agora como o potencial químico da solução pode ser defmido em tennos de G*.
Lembrando que G = E - TS + PV (equação 61 do capítulo IV), é claro que sua substituição na
equação (14) acima resulta:

G* = E - TS + PV - flormar . (16)

Diferenciando-se a equação (16), obtemos:

dG* = dE - TdS - SdT + PdV + VdP - flwdmar - mardflar . (17)

No entanto, a relação fundamental da termodinâmica com epg = O, equação (73) do capítulo IV


(página 94),

dE = TdS - PdV + Í.
i=l
fl;dm; + I.m=\
AmdBm '

toma a seguinte fonna quando expressa para o nosso sistema:

(18)

Substituindo, então, a equação (18) na equação (17), resulta, para dG*:

(19)

Por outro lado, a diferencial total da equação (15) é

dr
dG*=(dG*] P.m,.mwl.J1~ dP Jr.m•.mwl.J1~
dT+(dG*i dP+(dG*)
drns dm s
T.P.mso/.J1o,(gh=O) +

+ am
(dG*lsol ,P,m.f,J1ar (gh:O)
dmso' + a
(dG*l
'J.1ur ,P,m.f,m.wl
dflar .
(20)

A comparação das equações (19) e (20) mostra que, para o nosso sistema:

(21)

(22)

(23)
106· Potenciais da Agua no Solo

(24)
dG' J T,P,m
P,.ol = [ dmsol •• p~(gh=O)

(25)
- m. = [ Z.: L" é·"

Portanto, à semelhança do que vimos no item 7 do capítulo N, o potencial quúnico da


solução no solo, expresso em tennos do potencial de Groenevelt-Parlange, é dado pela
equação (24).

Como esclarecemos anteriormente, nosso interesse é a diferença E:01 - E:ol' e portanto


também a diferença de potencial quúnico da solução entre as fases, pLI - P:ol' Por esse motivo,
mostramos, a seguir, como se obtém, matematicamente, essa diferença ou variação do potencial
quúnico da solução.
A definição do potencial quúnico da solução no solo, de acordo com a equação (24), mostra
por si só que ele é função de T, P, ms' mso/ e flar' pois, a) se T, P, ms e flar não forem mantidos
constantes, causarão variação em flso/' e b) para uma mesma variação de mso/' a variação de G* (e,
conseqüentemente, o valor de flso{) pode ser diferente de acordo com o valor de mso/ (um gráfico de
G* em função de mso/ pode ser não linear). Este fato pode também ser facihnente esclarecido em
tennos matemáticos. Vejamos.
Consideremos wna função qualquer, por exemplo:

z = 5x2 / ~ z = z(x,y) .

Chamando de u a derivada desta função com relação a x, seu valor é, como sabemos do
cálculo diferencial:

u=(: 1=lOx/ -7U=(X,y),

ou seja, u, a derivada, também é função das variáveis independentes x e y, da função prilnitiva z. É


evidente que, dependendo da função z (x,y), sua derivada em relação a x pode resultar nwna função
só de y. Por exemplo, para z = 5 xy3, u = 5y3, isto é, u = u(y). Mas este é wn caso particular: quando,
na equação que define u, se mantém y constante, u também é uma constante e não função só de x,
como é o caso geral.
Assim, atendo-se apenas à definição de flsof> em tennos do potencial de Groenevelt-Parlange
(para as outras defmições de J1,o/, em termos dos potenciais E, F, H e G, o raciocínio é o mesmo), é
claro que, face a estas considerações:

Psol = psol(T,P,ms,msOi'PaJ· (26)

Se quisennos, portanto, saber como flsol varia devido a variações de T, P, ms' mso/ e flar' basta
obtennos a diferencial total da equação (26):

dp sol = (dPsol
dT ) P,m"m.",p" dT + (dPs01
dP ) T,m,.m"",p~ dP +

(27)
dm . s dm ~ d ~
+ [dPsolS J T,P,m.roJ,Jiur dm + [dPso1
sol ] T,P,m$'pur dm +(dPs01
'Jlar J T,P,nt$,ntMJi dll.
Dinâmica da /Ígua no Solo· 107

Esta variação total do potencial químico da solução no solo representa, pois, a soma das
variações parciais de flsol devidas a variações de fatores como a temperatura, a pressão externa e a
composição do sistema (tennos do segundo membro da equação 27)0
Por outro lado, tendo sido a equação (27) desenvolvida para estudar a solução no solo, é
conveniente introduzir o conteúdo de água (solução) no solo U (ver capítulo III) como variável de
composição, de tal maneira que:

f""sol dT dP dU a f""ar ,
d/l = (dfJ-,u/ ) P,Uo/l., dT + (dfJ-su/ ) T,Uo/l~ dP + (dfJ-so/ ) T,P,/l~ dU + (df1w/
'/lar J T,P,U d/l o (28)

à semelhança de Sposito (1981), reunimos o terceiro e o quarto tennos do segundo membro da


equação (27) num único, ou seja:

(29)*
dmsul ]
(dfJ-sul r,P,m.~,J1ur dm sol + (dfJ-sol
dms JT,P,m .•""J1ur dm s dU ) T P ,fI"
= (dfJ-sol I dU
' o

Além disso, o último termo do segundo membro da equação (28) também pode ser
transformado mais convenientemente, lembrando que flor é diretamente proporcional à pressão de ar
no solo (Par)' segundo a expressão:
1
dfJ-ar = -dPar , (30)*
Par

na qual Par é a densidade do aro Como flor difere de Par de um fator constante (= lIPar)' como bem
mostra a equação (30), então obviamente o último termo do segundo membro da equação (28) pode
ser escrito como:

(31)
tA' ar 'P ar
dfJ-ar J ToP,U dll
(dfJ-sol a or J T,P,U
= (dfJ-sol dP,

Isto pennite, portanto, reescrever a equação (28) como:

f""sul dT dP dU dP ar
dll =(dfJ-sol) P,U,P~ dT+(dfJ-sol) T,U,P~ dP+(dfJ-,ol) T,P,P., du+(dfJ-saIJar T,P,U dP (32)

Um aspecto que merece ser realçado é o de que a comparação das equações (27) e (32), tendo
em conta as igualdades (29) e (31), mostra que:

(33)

(34)
dP ) T,lII •• lII,,,.,/l., _ (dfJ-,wl
( dfJ-sol dP ) T,U,P~

* Ver dedução no final deste capítulo.


Dinâmica da Agua no Solo • 107

Esta variação total do potencial químico da solução no solo representa, pois, a soma das
variações parciais de f1so1 devidas a variações de fatores como a temperatura, a pressão externa e a
composição do sistema (tennos do segundo membro da equação 27).
Por outro lado, tendo sido a equação (27) desenvolvida para estudar a solução no solo, é
conveniente introduzir o conteúdo de água (solução) no solo U (ver capítulo III) como variável de
composição, de tal maneira que:

rsol dT dP dU a rar ,
dll =(dflsOI) P,U,IJ~ dT+(dfl.WI) T,U,IJ~ dP+(dllsol) T,P,IJ., dU+(dllsOIJ
'Jlor T,P,U dll' (28)

à semelhança de Sposito (1981), reunimos o terceiro e o quarto tennos do segw1do membro da


equação (27) num único, ou seja:

(29)*

Além disso, o último termo do segundo membro da equação (28) também pode ser
transfOlmado mais convenientemente, lembrando que f1ar é diretamente proporcional à pressão de ar
no solo (Pa,.), segundo a expressão:

d /-lar =_l_dP ar , (30)*


Par

na qual Par é a densidade do ar. Como f1ar difere de Par de um fator constante (= lIPar)' como bem
mostra a equação (30), então obviamente o último tenno do segundo membro da equação (28) pode
ser escrito como:

(31)
a ror dPar ar
(dllsol
flor J T,P,U dll =(dllsOI J T,P,U dP.

Isto pennite, portanto, reescrever a equação (28) como:

rsal dT dP dU dP ar
dll = (dll,w1 ) P,U,P~ dT+(dllsal) T,U,P~ dP+ (dllwl) T,P,P~ dU + (dllsolar JT,P,U dP (32)

Um aspecto que merece ser realçado é o de que a comparação das equações (27) e (32), tendo
em conta as igualdades (29) e (31), mostra que:

(33)

(34)

* Ver dedução no final deste capítulo.


108 • Potenciais da A.gua no Solo

Finalmente, para que possa ser utilizada, é necessário colocar a equação (32) numa fonna
finita.
Aqui entram em jogo as fases padrão e considerada, visto que a integração da equação (32),
colocando como limites das integrais as características das duas fases, resulta, como é o nosso
interesse, em:
/1"
o _ J.1 sol dT +
f [aaT )
1

JdJ.1sOI= J.1sol- J.1s01


-
I T.
7j P,U,P~
J1.~", ~

+1(~t" d~+ l(~ t,. d~+ 1(~


(35)
Lu dP.,. d

É importante, portanto, reforçannos que, do ponto de vista termodinâmico, está implícito na


equação (35) que o nosso sistema está sendo considerado como um sistema isolado composto de
duas fases: a fase sólidos-solução-ar e a fase padrão, tanto que J.1:ol= potencial químico da solução
da fase sólidos-solução-ar e j1°so1= potencial químico da solução da fase padrão; Ti = temperatura
absoluta da fase sólidos-solução-ar e To = temperatura absoluta da fase padrão; Pi = pressão
externa na fase sólidos-solução-ar e Po= pressão externa na fase padrão, e assim por diante.
Passemos, agora, a estudar os componentes do potencial da solução no solo, inicialmente
apenas em termos matemáticos e depois de uma maneira mais profunda, interpretando-os
fisicamente.

Como </J = J.1L,- J.1:ol' os componentes de </J são, evidentemente, os termos do segundo
membro da equação (35), que passamos a definir em seguida.

Termo (a) - Componente de temperatura ou potencial de temperatura = </J T

Variação parcial do potencial químico da solução, devido apenas à diferença entre a


temperatura da fase sólidos-solução-ar (fase considerada) e a temperatura da fase padrão, ou

</JT =T (/),J.1sol),

sendo iJ.jJ.soI= J.1:ol- j1°soI' A letra T colocada à esquerda e acima dos parênteses de iJ.j1so1é para
indicar que há apenas diferença de temperatura entre as fases.

Termo (b) - Componente de pressão ou potencial de pressão = </Jp

Variação parcial do potencial químico da solução, devido apenas à diferença entre a pressão
externa que atua na fase sólidos-solução-ar (fase considerada) e a pressão externa que atua na fase
padrão, ou
</J p =P (/),J.1sol).

Termo (c) - Componente mátrico ou potencial mátrico = </Jm

O nome mátrico é para representar os efeitos da matriz do solo, isto é, a porção sólida do solo
sobre o potencial da solução. Como estes efeitos dizem respeito aos fenômenos de retenção da
solução pela matriz do solo, dependem fundamentalmente do conteúdo de água nesta, como
evidencia o tenno (c) da equação (35). Portanto, à semelhança dos dois tennos anteriores, o
potencial mátrico representa a variação parcial do potencial químico da solução devido apenas à
Dinâmica da Água no Solo • 109

diferença entre o conteúdo de água da fase sólidos-so1ução-ar (fase considerada) e o "conteúdo de


água" da fase padrão:

Termo (d) - Componente pneumático ou potencial pneumático = </Jn

Variação parcial do potencial químico da solução, devido apenas à diferença de pressão de


ar que atua na fase sólidos-solução-ar (fase considerada) e a pressão de ar que atua na fase padrão:

Nestas condições, podemos reescrever a equação (35) como:

j.11sol _ f.1 o sul - 11J.1 sol -- T (11j.1 sol ) + P (11 J.1 sol ) + u (11j.1 sol ) + p., (11j.1 sol ) , (36)

em que !Jf1so1 pode ser chamada de variação total do potencial químico da solução, uma vez que é
igual à soma de suas variações parciais.
Portanto:
(37)

Após esta visão global dos componentes do potencial da solução no solo, vejamos agora cada
um deles com mais detalhe.

2.1.1aPotencial de temperatura (</JTJ

A partir das equações (35) e (33), vemos que

(38)
</J =f aj.1wl dT .
T 1; (
T" aT ) P,"',,"'wl'l'w

Como

(24)

resulta, substituindo a equação (24) na equação (38) e eliminando, por facilidade, as variáveis que
devem ser mantidas constantes:

q\ = f T" [:T(::' ,01 JildT=


~ f [~. (~~'J~dT,
T"wl ~

Mas

(21)
(aG')
aT P,m,,"'.J'I'., = - S·, entropIa do sIstema,
'
de modo que:

1; a() 1;
(39)
n.
"fr =f ~dT=-f
éJm s sol dT ,
T" sol T"
110 • Potenciais da A.gua no Solo

sendo ssol = oS/omsol a entropia específica parcial da solução no solo. Depreende-se também da
comparação entre as equações (38) e (39) que

(40)
- ssol = (Ofiso,
oT ) P.m,.m." •• f1.,

Portanto, de acordo com a equação (39), para conhecermos cjJT há necessidade de


conhecermos TI, To e a função ssol m. A função ssol (T), como diz a equação (40), pode ser obtida
por meio de medidas de fisol em função de T, mantendo-se constantes P, ms' msol' e fiar
Entretanto, conforme salientam Taylor e Ashcroft (1972), a temperatura tem uma influência
complicada no potencial da solução no solo, e quando se considera o potencial de temperatura no
potencial da solução, muitas equações nas quais o potencial da solução é utilizado não fornecem
resultados quantitativos corretos. Isso porque o critério da diferença EL, - E:01 = fi:o' - fi:o'
(ghJ = O), para indicar equilíbrio ou movimento de solução entre as fases, só é válido (ver equação
4) se TI = To. Portanto, o conceito de potencial é limitado a sistemas isotérmicos, ou
aproximadamente isoténnicos, nos quais a influência da temperatura possa ser desprezada. Com
isso, a fase padrão deve estar sempre à mesma temperatura que a fase considerada, com To = TI.

2.1.1bPotencial depressão (cjJpJ

O potencial de pressão, como já defmimos, é o tenno b da equação (35), o qual, tendo em


vista a equação (34), pode ser escrito como

cjJ= -dfisol dP. (41)


P f (:loP )
P,
P,.
T.IiI •. IiI"".f1",

Substituindo a equação (24) na equação (41):

cjJ = ~ oG dP= _0_ oG dP


P ~.P,[ oP ('J~
êhnso' ~,P,[ omsol (')~ oP .
Como

(22)
oP ) P.m •. IiI"".f1.,
(OG' = V, volume do sistema,
e defmindo

= (42)
Vso1

( oV
amso1 1 ,P,ms.J1ur

como volume específico parcial da solução no solo, resulta:


P,

(43)
cjJp = fp.
Vso( dP .

Para que possamos utilizar corretamente a equação (43), temos que entender claramente as
quantidades Vso/, Po e PI que nela aparecem.
Analisemos, primeiramente, o Vso/, o volume específico parcial da solução no solo.
Iniciando pela comparação das equações (41) e (43), vê-se que:
Dinâmica da .4gua no Solo • 111

(44)

assim que por defmição (equação 42) é igual à tangente à curva Vem função de mso!, mantidos
Vso!,
T, P, e flar constantes, representa também a tangente à curva flso! em função de P, com as
ms
variáveis T, ms, mso!> e flor mantidas constantes.

Além disso, a derivada da equação V = Vs + V,ol + Var com relação a mso/' mantendo-se T, P,
ms e flar constantes, resulta em

(~J
dn7.so1 r,P,ms,Par =(~J êJJnsol T,P,m,I'.J1ar +(av,ol
mnso! JT,P,m"J.lUf a~>r J
+( dn7.so1 T,P,m.f,J1ur

O u ten d o em vIsta
. que av - v (equaçao av so_I = -- 1
- 4)2, __ aVs_ =
e __ O ( V = constante ) , então,
, a;;;-
sal - sol am,,"1 Psol a msal "

1 av
V =_-+-_0_' (45)
sol Psol dn7. sol

Com base na equação (45), verifica-se que (figuras 5.1 e 5.2):


a) No caso de solo saturado, como Var = O, evidentemente

Vso! =--.Psol
(46)

Observe que a equação (46) é válida tanto para solos expansivos (expandem-se ou contraem-se
conforme o conteúdo de água (solução) aumenta ou diminui) como para solos não expansivos,
porque se trata de uma condição de saturação. Note, nas figuras 5. Ia e 5.1b, o paralelismo da reta
v,'o! em função de mso! com a reta tangente à curva no ponto (m;o!' V) para ambos os solos.
b) No caso de solo não saturado e não expansivo, sendo rígido seu esqueleto, isto é, VP' o volume
de poros, sendo invariável, evidentemente, quando solução é adicionada, o aumento de v.so/ é
compensado por uma diminuição de igual valor de Var' ou seja, dVso/ = - dVar, e Vp assim como
V pennanecem constantes. Portanto:

e, então, de acordo com a equação (45) ou (42):

Vso1 = O. (47)

Observe, na Figura 5.la, as retas Vm! e Var em função de mso! de inclinações iguais e smalS
opostos e as retas Vp = constante e V = constante para mso! < m;ol'
112 • Potenciais da Agua no Solo

c) No caso de solo não saturado expansivo, em que, quando se adiciona água (solução), o solo se
expande, e quando se retira solução, há contração do volume de seus poros Vp e, por
conseqüência, do seu volume V, normalmente vso1 tende para zero, conforme msol se aproxima de
zero, e se toma igual a 1/Psol quando se atinge a condição de saturação. Assim, para solos que se
expandem ou se contraem em função de sua quantidade de solução
1
0:Svso1 <--,
Psol
(48)

isto é, como mostra a Figura 5.1b, para qualquer valor de mwl < m;ol' os valores das tangentes à
curva Vem função de mso/ ou vsu/ são sempre menores que o valor constante 1/ P.w/ .

v, ~" Vwl' VaI'


v _ av I
.\'111 - o/n"", =;:; ~, ,./
v, VP' Vw/' VaI' -"

/'/ :

//
v/:~\:/,/ -' '
:

i'\
/ 1

V av _~

av =0
v
.'"'
= dV
dm .m/ <-I P.WJ/ :
i
; ,,//

= d,n •.J
V•••/
I"'" "".- P.
i ,./

;ri//
; ,./ v :
[,./
P I
v""

av.,,=~
dm.,,1 Pmf

Vso1

o m.w! mso{
m,wl m.wl

(a) Solo não-expansivo (b) Solo expansivo

Figura 5.1 Gráficos da dependência dos volumes do solo (V), dos poros do solo (Vp) e de
solução (V.mJ e ar (Vad no solo com a massa de solução (msoJ: a) para solos não-
expansivos e b) para solos expansivos. m;al = massa de solução no solo saturado.

Observe ainda nas curvas das flguras 5.1 e 5.2 (esta última sendo uma união das figuras
5.1 a e 5.1 b numa única, mostrando a dependência apenas entre Ve msol) que o valor da abscissa
no qual o solo passa de não saturado para saturado (msol = m;ol) é maior no solo expansivo;
considerando, conforme essa flguras, o mesmo volume V e a mesma porosidade a quando
msol = O, para os dois tipos de solo (expansivo e não expansivo), há necessidade de mais água
para saturar o solo expansivo.
Dinâmica da Agua no Solo • 113

Ponto de
Saturação
~
'" Solos não-expansivos

o msol

Figura 5.2 Volume do solo V em função da massa de solução (msov que retém, para solo
expansivo e não expansivo, considerando o mesmo Ve a mesma porosidade para
ambos os solos quando msol = O.

Analisemos, agora, as pressões externas Po ePI que aparecem na equação (43).


Como já esclarecemos anteriormente (definição do termo b da equação 35), a pressão PI que
aparece na equação (43) representa a pressão externa aplicada à fase sólidos-solução-ar no ponto em
que se pretende medir 1Jp. Esta pressão PI pode ser devida a uma carga hidráulica atuando no ponto,
no caso de solo saturado ou à overburden ou sobrecarga do solo acima do ponto de medida, no caso
de solo não saturado e expansivo, ou seja, devido à pressão causada pelo material que constitui o
solo expansivo acima do ponto de medida no perfil, como resultado da expansão e contração.
Portanto, voltando a equação (43), temos:
a) No caso de solos saturados, como Vsol = l/psol (equação 46) tanto para os não expansivos como
para os expansivos, o potencial de pressão vale, substituindo a equação (46) na equação (43) e
considerando que Psol= constante:
1
1Jp =: -(~ - P,,) (energia / massa da solução). (49)
Psol

A Figura 5.3 mostra um esquema do nosso sistema (com suas fases) para a defmição de C/Jp
em solo saturado. Nessa figura, como se pode notar, a única diferença entre as fases é a
existência da carga hidráulica hsolna fase considerada.

Como não existe ar no ponto de medida, a pressão atmosférica, como se pode ver na
Figura 5.3, é parte da pressão externa à fase sólidos-solução-ar, de modo que

(50)

isto é, a pressão PI é igual à soma das pressões de líquido (PD e atmosférica (Pa1m) que atuam no
ponto em questão. Conseqüentemente, a substituição da equação (50) na equação (49) resulta
para C/Jp, o potencial de pressão:
114 • Potenciais da Agua no Solo

P,llm

z=o

fase padrão
ponto em
consideração (= fase
considerada)

Figura 5.3 Ilustração da definição do potencial de pressão em solo saturado.

1
lfti>=_(P+P
p I alm -p) (). (51)
Pso/

Se fizermos, para facilitar os cálculos, Po = po/m, isto é, se assuminnos que a pressão na


fase padrão seja igual à pressão atmosférica local, segue imediatamente da equação (51) que

</Jp = JL
P.w!
(energia/massa), (52)

ou seja, o potencial de pressão num detenninado ponto de um solo saturado é igual à pressão de
líquido que atua nesse ponto dividida pela densidade da solução.
Essa escolha Po = Pa1m foi feita com base em dois fatos: 1) num determinado local, a
pressão atmosférica praticamente não varia ao longo do tempo e praticamente é a mesma em
pontos relativamente próximos entre si; 2) em cada local, o interesse é sempre em diferenças de
</Jp entre dois pontos e, ao se calcular essas diferenças, Po sendo constante e a mesma para os
dois pontos, sempre desaparece no cálculo, pelo que ela (Po) pode ter qualquer valor, desde que
seja constante.
Se numa detenmnada localidade, a pressão atmosférica em dois pontos ou fases
consideradas A e B por exemplo, for de fato diferente, então seu valor, em cada um desses
pontos, precisa ser conhecido para se calcular </J: - </J: ' independentemente do valor escolhido
para Po. Assim, a partir da equação (51),

ti> pA =_I_(pA
'f' I +pAalm _p) o (53)
Pso!
e

</JpB =--1 ~
Pso!
(B +PotmB -Po ) , (54)
Dinâmica da .Água no Solo • 115

pelo que

(55)

b) No caso de solos não-saturados e não expansIvos, como Vsol = O (equação 47), temos, pela
equação (43), que

'l'p
ti> =0 ,

independente de qualquer sobrecarga PI.

c) Nos solos não saturados expansivos, como Vsol * O, isto é, Vsol < l/psol (equação 48), então, para
que possa ser calculado pela equação (43), é necessário avaliar a relação de dependência
c/Jp entre
V,.ol e P.

A ilustração do potencial de pressão em solo não saturado expansivo é idêntica à da Figura


5.3, com a diferença de que a pressão externa no ponto em consideração é ~ =P * +Pa1m, sendo
P* a pressão causada pelo solo expansivo não saturado acima do ponto.

2.1.1 c Potencial mátrico (c/JmY

ReafIrmando o que já foi dito por ocasião da defmição matemática deste componente do
potencial da solução no solo (termo c da equação (35)), ele diz respeito às interações entre a matriz
do solo (daí o nome mátrico) e a solução nele retida, incluindo forças associadas com a adsorção e a
capilaridade, responsáveis pela retenção. Portanto, para remover a solução retida no solo por estas
forças e tomá-Ia livre da influência da matriz, é necessário despender energia e, como se sabe, tanto
maior é a energia despendida quanto menor for o conteúdo de água no solo, ou seja, c/Jm é função do
conteúdo de água no solo, c/Jm(U) e, conseqüentemente, a partir da equação (35):
u

(56)
J( a:;;, )
c/JJu) = u.. T.P,P~
dU = ]1~a' - ]1:01'

o conteúdo de água U numa detenninada aI~ostra de solo é, como sabemos, a razão entre a
massa de solução na amostra e a massa dos sólidos da amostra. Se partimos de uma amostra de solo
bem seca e formos gradativaInente colocando água (solução) nesta amostra, o potencial químico da
solução vai aumentando até atingir o ponto de saturação, no qual U = U,., conforme mostra a Figura
5.4a. A partir desse ponto, como também mostra a Figura 5.4a, à medida que formos adicionando
mais solução, U aumenta, mas ]1s01 só pode pennanecer o mesmo e igual ao valor máximo da
saturação. Isto porque, para U > U,., a matriz do solo não atua no processo e o awnento (ou
diminuição) da energia do sistema G * advém exclusivamente da adição (ou remoção) de solução.
Conseqüentemente, nesta situação (U> U,.), G* só pode variar linearmente com msol e, então, f.1soI =
éJG*/éJmsol = constante. Note que Uo corresponde ao valor da razão msolms com ms tendendo para
zero (ou msol tendendo para o infmito), isto é, Uo --7 00.
Voltando à equação (56) é fácil perceber, do cálculo integral, que
116· Potenciais da Agua no Solo

Por outro lado, pela Figura 5.4b, que mostra a curva diferencial da curva da Figura 5.4a,
percebe-se, imediatamente, que a área sob a curva entre V1 e Vo são as integrais que aparecem na
equação (57), e que

(58)
1(
U.
J~;I )
T,P,P~
dV = f.1:01 - f.1:01 = O ,

isto é, a área sob a curva diferencial para V> Vs é nula, porque f.1:01 = f.1:01 (Figura 5.4a).

J.1so1

)1:0/ = Jl;ol

J.1;o/

II
.....----'--+
o
u} Us -..u o U
Figura 5.4a Curva do potencial quúnico da solução no solo em função do conteúdo de água
(solução) no solo.

Ju
(Jf.1S01 1
)-,p ,po.

dU
Ur(dJ.1sol
J 1
lp'po. dU =
UI 1
= J.1;01 - J.1sol

o
...... ~
UI Us ---+uo U
Figura 5.4b Cwva d(ferencial da curva da Figura 5.4a.

Desta maneira, pode-se reescrever a equação (57) como

(59)
'I'm ~
ti> (V) = u. JV
UJ(Jf.1sol )
T,P,?",
dV = t"1/ sol
1 -
sol
f.1 o .

Observe, fInalmente que, como <Pm = f.1~01 - f.1:01 e f.1:01 = constante, a curva da Figura 5.4a
tem exatamente a mesma fonna da curva de retenção da solução no solo que relaciona <Pm com V,
mostrada na Figura 5.5, e também que, como f.1~01 :::; f.1:01' então, <Pm :::; O, isto é, o potencial mátrico é
sempre negativo ou, no máximo, igual a zero, no caso de solo sahlrado.
Dinâmica da Agua no Solo • 117

</Jm

Figura 5.5 Curva de retenção da solução no solo.

A ilustração da defInição do potencial mátrico (as fases considerada e padrão) também é


idêntica à da Figura 5.3, com a diferença de que o solo se encontra não saturado e é subtraída
qualquer sobrecarga de cima do ponto de medida no caso de solo expansivo.
Como veremos no próximo capítulo, o potencial mátrico (conjuntamente com o potencial de
pressão no caso de solo expansivo) pode ser medido diretamente no campo com tensiômetros. No
laboratório, como também será estudado no próximo capítulo, utilizando equipamentos
denominados câmaras de pressão de placa porosa e fUnis de placa porosa, pode-se detenninar a
curva de retenção da solução no solo.

2.1.1d Potencial pneumático (cjJ,J

Quando a pressão de ar no solo no ponto de medida (fase considerada) for diferente da


pressão na fase padrão, origina-se o componente denominado potencial pneumático que, por isso,
representa o efeito das variações da pressão de ar no solo sobre o potencial da solução; de acordo
com a equação (35):

(60)

No entanto, a equação (31),

(31)
a ar dP ar'
( dfl.<o1
'J.1ar ) T.P,U dfl =( dfl sol ) T,P,U
ar dP

tendo em vista a equação (24),

(24)
flsol = dm sol '
( dG' ) T,P,U(gh;O)

tem o coefIciente de dJ1ar transfonnado para

aflar
aflsol = aflar amsO' J
a (aG* = amsOI aflar J .
a (aG*
118 • Potenciais da Agua no Solo

Como

(25)
[ JG*
df.1ar J T,P,U
= -mar'
então

Jflsol =_ amar (61)


Jflor Jmsol

Por outro lado, a equação (45) (página 111) pode ser facilmente transfonnada para

V
sol
=-+--- a'
Psol Par
1 1 msol
[amar J
donde

amar ( 1 ) (62)
-a-=
msol Por Vsol-- Psol .

Substituindo a equação (62) na equação (61), obtém-se:

(63)
~SOI
'flor =-Par(vsal __ P 1_).
sol

Como já deduzido,
1
dflar = -dPor (30)
Par

Portanto, a substituição das equações (63) e (30) no primeiro membro da equação (31)
fornece imediatamente

- Vso1 ,
JPor
[Jflsol J- [_1
Psol - J
transformando, assim, a equação (60) em

c/Jn
- --v
- sol 'Par . (64)
JP1,[
P,. 1
Pso( }

Pela análise da equação (64), vê-se facilmente que:

a) para solo saturado

cfJn = O, (65)

porque, na condição de saturação, como vimos,


1
(46)
Vso! =-P sal ,

o que faz com que o coeficiente de dPar na equação (64) se anule e, conseqüentemente, também
cfJn"
Dinâmica da Agua no Solo • 119

b) para solo não saturado não expansivo

(66)

porque, para esse tipo de solo e na condição de não-saturação, também já vimos que
vso1 =0. (47)

Quando P;,. = Parm, então rjJn = O,porque Po = Parm.

c) para solo não saturado expansivo

- --v
tPn - sol 'Par' (64)
fP:'[
1'" 1
Psol }
e, como

O~vsol <_1_, (48)


Psol

resulta que o coeficiente de dP ar na equação (64) é sempre positivo.


Igualmente, nesse caso, se p.~= Parm então = O,porque Po = Parm, anulando a integral
rjJn

da equação (64).
Portanto, praticamente, no campo, como a pressão de ar (ou pneumática) no solo (fase
considerada) é a pressão atmosférica local, considerada a pressão na fase padrão, o potencial
pneumático é sempre nulo.
Antes de completarmos este item 2.1.1 sobre os componentes do potencial da solução, é
conveniente fazermos um paralelo entre os potenciais de pressão e pneumático para as duas
condições de água no solo (solo saturado e solo não saturado) e os dois tipos de manifestação do
solo de acordo com seu conteúdo de água (solos não expansivos e solos expansivos). Isto é
apresentado na Tabela 5.1, com base nas equações desenvolvidas nos itens 2.l.lb e 2.1.1d.

Tabela 5.1 Potenciais de pressão e pneumático para solos expansivos e não expansivos, sob
condições de saturação e de não saturação.
P.wl
P.wl
1 I p~
p.
(-ff
p,
If
-(~-PJ
p.p~ p. O
-(~ dP
arvwl
p.rjJn
ar-PJ a
+ rjJn
aOrjJp Ps()f I
P.ml
não(- - vwl)dp.,r
vw1dP+
saturado - vwl )dPar
f'
rjJp _I_(p!_I_(p'
_P) _ P)

Analisando-se a última coluna da Tabela 5.1, que mostra a soma destes dois potenciais,
observa-se que, se aplicarmos uma pressão de ar sobre uma amostra de solo e se esta for a única
120 • Potenciais da Agua no Solo

causa da carga, isto é, PI = P,,~, então, independentemente da condição do solo, saturado ou não
saturado:

1 I
Al +Al
'f/p o/n =_(P ar -P)o' (67)
Psul

\:àn\.~1'''1:"à~'5 '5~\~'5nã~ eÃ1'ãD.'51.,,~'5


c,~m\) 'Pala aque\e'5 que '5e ei'..-panuem ou se con\:Iaem conl0nne
têm seu conteúdo de água variado (ver item 3.1 do capítulo VI).
Com base, portanto, no desenvolvimento apresentado para os componentes do potencial da
so(uçro no soro, IJodemos reescrever a ec..uação(35) sob condi..çãoi..sotérmíca\:1aratodas as salas,
independentemente de estarem saturados ou não saturados e, nesta última situação, se expansivas ou
não expansivos, como:

ep = f.l:U1- f.l:al =]
11
P"
vso,áF +]u"U'(o};ç;' T,P,Pw
áCf + JP;'( _J_
Psul
P"
- vsul
r 'Par'
(68)

Após esse entendimento dos componentes do potencial da solução no solo voltando a cjJ,

equação (10) e nela substituindo a equação (68) acima (de definição de com seus componentes) e cjJ

a equação (8) (de defmição do potencial gravitacional cjJg), resulta a equação (69) a seguir para o
potencial total cjJ,.,

(69)
cjJ{ = f
11
P"
vsu,dP + fu, (J :;;' )
u" T,P,p,,,,(h=O)
dU + f P;'
P"
(_1_ -
Psul
vso1)dPur + ghl ,

que é válida para todos os solos, sob condição isotérmica e com qualquer conteúdo de água,
independentemente de serem ou não expansivos.

2.2 Equilíbrio e movimento da solução no solo

Como vimos na defmição do potencial total, ele é igual à variação da energia parcial
específica da solução entre as fases sólidos-solução-ar e padrão, isto é,

'fI
Al -EJ sol
- _EU sol' (9)

Considerando, agora, duas fases sólidos-solução-ar A e B, representadas por dois pontos A e


B no perfil de um solo, e calculando, por meio da expressão (9), a diferença de potencial total entre
elas, obtemos

AlA _Al8
'rI 'fI -_ Esol
A _E8 sul' (70)

ou seja, pelo fato de a fase padrão ser única, E;o' desaparece quando se calcula a diferença de
potencial total entre A e B.
Dessa maneira, pela condição de equilíbrio, ou seja, de igualdade de energia parcial
específica da solução (Eso') entre fases, verifica-se imediatamente, pela equação (70), que, se
E:al = Es~" cjJ{A tem que ser igual a cjJ{8. Em situações de desequilíbrio, a) E:a, < Es~1 (movimento de
A para B), pela equação (70), cjJ{A tem que ser maior do que cjJ{8, e b) E:a, > E:a, (movimento de B
para A), pela equação (70), cjJ{A tem que ser menor do que cjJ{8 .
Dinâmica da .Água no Solo· 121

A conclusão geral, portanto, é a seguinte:

Considerando-se duas (dois) fases (pontos) A e B num


perfil de solo de tal maneira que em cada uma (um) delas
(deles) se meça o potencial total da solução, diz-se que,
sob condição isotérmica:
a) a solução se encontra em equilíbrio sempre que o seu
potencial total for igual em ambas (ambos) as (os) fases
(pontos); e
b) a tendência da solução é de sempre se mover da (do)
fase (ponto) em que o potencial total da solução é
maior, para a (o) fase (ponto) em que o potencial total
da solução é menor.

3. POTENCIAIS DO COMPONENTE ÁGUA NO SOLO

Se quisermos analisar o componente água da solução no solo, podemos utilizar o mesmo


raciocínio empregado no item anterior (item 2). A diferença fundamental é que agora os solutos
dissolvidos têm influência relevante. Por isso, teremos que transfonnar a equação (12) em

(71)

em que as substâncias "i" se tomaram: o componente água no solo de massa mag, os sólidos do solo
de massa mSl o ar no solo de massa mar e todos os solutos presentes na solução de massas m"
Portanto, mr = massa dos r solutos, sendo r = 1,2,3, ....,s.
Se seguirmos todos os passos desenvolvidos no item 2, chegaremos a uma
equação semelhante à equação (69) para o potencial total do componente água no solo, sob
condições isotérmicas, lfIt:

(72)

Agora, no entanto:

a) lfIt =IJI+ IJIg, sendo IJI= J1~g - j10ag o potencial do componente água no solo, ou seja, a diferença
entre o potencial químico do componente água da fase sólidos-solução-ar (fase considerada) e o
potencial químico do componente água da fase padrão e %= potencial gravitacional.
b) A defmição do sistema termodinâmico é a mesma, com a diferença de que a parede de contato
entre as fases considerada e padrão é permeável somente ao componente água e a fase padrão
consiste de água pura (m; = O). Portanto, igualmente ao caso da solução, no caso do
componente água, sob condição isoténnica, ~IJI, = O (equilíbrio) e ~IJI, 'I:- O (movimento),
desde que a parede de contato entre as fases seja permeável somente ao componente água.
122· Potenciais da Agua no Solo

c) vag =a v/a mag = volume específico parcial do componente água no solo.


d) Pag = densidade do componente água no solo.
e) U' = mag / ms = razão entre a massa do componente água da solução no solo e a massa dos
sólidos do solo.
f) Os termos (a), (b), (c) e (d) da equação (72) são os componentes do potencial do componente
água, que chamaremos de potencial de pressão, potencial mátrico, potencial pneumático e
potencial de soluto do componente água no solo, respectivamente, com defmições semelhantes
às dadas para a solução (item 2.1.1).
g) O termo (e) da equação (72), o potencial gravitacional, é independente da matéria e tem a mesma
definição dada anteriormente. A mudança de símbolo de fjJg para ljIg foi feita apenas para indicar
que o estado se refere ao componente água.
h) O termo (d) é a grande diferença entre as equações (69) e (72). Ele representa a influência dos
solutos dissolvidos sobre o potencial do componente água no solo e, por isso, é chamado de
potencial de soluto do componente água no solo. Em palavras, este tenno é o somatório das
variações parciais do potencial químico do componente água devidas apenas à diferença entre a
massa de cada soluto da solução da fase sólidos-solução-ar (fase considerada) e a massa do
respectivo soluto da fase padrão, que é nula:

ljI s _~
- ""'"' m.(~ )1ag ) ,
1'=1

sendo lfIs = potencial de soluto.

4. UNIDADES DE POTENCIAL

Os potenciais da água no solo, tendo sido defmidos a partir do conceito de energia parcial
específica de uma substância, têm como unidade energia por unidade de massa de água (Jlkg).
Entretanto, é muito útil expressá-los em tennos de energia por unidade de volume de água (J/m3),
bastando, para isso, multiplicar o valor expresso em energia/massa pelo valor (considerado
constante) da densidade da água Pa, visto que

Massa de água [ kg
Energia J J X Volume de água
Massa de --;;;; ) = Volume
água (kg de água ( --;;;;
Energia J ).

Assim, se chamamos quaisquer dos potenciais, quando expressos em energia/massa, de ([> M '

e quando expressos em energia/volume, de ([>v , então, evidentemente,

([>V = ([>MPa . (73)

Por outro lado, dímensionalmente,

J
-=-=-=Pa
Nm
3
N
3 2 '
m m m

isto é, a unidade de ([>v é também uma unidade de pressão, pelo que, quando se diz, por exemplo,
([>v = 105 Jm-3 , é o mesmo que dizer ([>v = 105 Pa .
Dinâmica da Agua no Solo • L3

Além de se expressar em Pascal (Pa), é também muito comum e conveniente expressar


qualquer medida de pressão em altura de água ou carga hidráulica. Isso é feito considerando-se a
pressão medida como idêntica àquela de uma altura de água causada pelo campo gravitacional, isto é,

Pressão medida
/P~T Pressão de ha causada pelo
(74)

campo gravitacional

sendo g = aceleração da gravidade e ha = altura de uma coluna de água.


Desse modo, podemos considerar também que iPv seja idêntico à pressão de uma altura de
água causada pelo campo gravitacional, isto é,

(75)

e, pela comparação das equações (73) e (75),

(76)

Conseqüentemente, a partir das equações (75) e (76):

iPv = iPM ==.ha (altura de água). (77)


Pag g

Em palavras, a expressão (77) diz que a divisão por Pu g de quaisquer dos potenciais, quando
expressos em energia/volume, e por g, quando expressos em energia/massa, terão como unidade
altura de água ou carga hidráulica.
É importante lembrar que o subíndice a, de água, que aparece em Pa e ha, está se referindo
tanto à solução como ao componente água no solo (ver introdução deste capítulo).
~~~~Jí)~j)'b ~'b 'b'bt:>Th~'b<>;b 'b~Pj,';;,~~'b ~'j)~l1'b':;:,"2>'wrà'b'br ~~Th )::>"6"2>
"t'Y'U"2>}5:>1:>S'S"1;,1;J'15t

P .
iPM =cjJp =-'- (energia/massa),
Pso'
(52)

ou pelo que acabamos de ver (equação 73) e pela defmição de PI

iPv =cjJp =~ =Pso,ghso' (energia/volume), (78)

isto é, o potencial de pressão em energia/volume num dado ponto de um solo saturado é igual à
pressão de uma coluna real de liquido (solução) atuando no ponto, porquanto, pela equação (77)

cjJp = hsol ==. hsol (altura de solução). (79)

Já no caso do potencial gravitacional, o qual, como vimos, vale

iP M = cjJg(ou lfIJ= gh, (energia/massa),

em que hj = distância do ponto considerado à referência gravitacional, pela equação (73)


iPv = cjJg(ou lfI g)= P agh, (energia/volume)
124 • Potenciais da Agua no Solo

e, pela equação (77):

ifJg (ou IfIJ= h, =. h" (altura de água). (80)

Portanto, para se obter o potencial gravitacional na unidade altura de água, basta medir a
distância vertical do ponto considerado em relação à posição da fase padrão (referência
gravitacional), e a unidade do resultado obtido hl será altura de água (ver item 1 do próximo
capítulo).

5. EXERCÍCIOS

1. Sabendo que

E = E(S,V,mS,mSof,mar)'

calcule as transformadas parciais de Legendre de E:


a) com substituição de S
b) com substituição de V
c) com substituição de S e V
d) com substituição de S, Ve mar

2. Com a transfonnada de Legendre obtida na alínea c) acima calcule a transformada de


Legendre com substituição de mar> e compare o resultado com o da alínea d) acima.

6. APÊNDICES

6.1 Prova da veracidade da equação (29)

Vamos, agora, seguindo o procedimento apresentado por Sposito (1981), provar a validade
da equação (29).
Se T, P e flar forem mantidos constantes, como exige o segundo membro da equação (29), a
equação (27) se reduz a

(AI)
J1sof am ms am rnsa/'
d = [OJ1sofS J T,P,m."ú,J1ur d + [OJ1sof JT,P'"'$,Pur
sol d

Comparando as equações (29) e (AI), toma-se evidente que:

(A2)
/""'0/
d/I =(OJ1sa/)
oU T.P,!,., dU.

Portanto, se provannos que a equação (A2) é verdadeira, estaremos, automaticamente,


provando a validade da equação (29), porque duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre
si (basta comparar as equações 29, AI e A2). Por outro lado, matematicamente, a equação (A2) só
será válida se nela o coeficiente de dU, com a condição de que T,P e flar sejam mantidos constantes,
seja função só de U. Conseqüentemente, temos que provar esta dependência única com U do
coeficiente de dU da equação (A2).
Dinâmica da Agua no Solo· 125

Com a mesma condição de manutenção de T, P e Jlal' constantes, também é evidente que, do


ponto de vista matemático, os coeficientes de dms e dmso/ das equações (29) e (Al) são ambos
função de ms e mso/.
Assim, chamando de As (ms' mso/) o coeficiente de dms' de Aso/ (ms' mso/) o coeficiente de
dmso/ e de A(U) o coeficiente de dU, podemos reescrever as equações (29) e (AI) como

(A3)
e
(A4)
respectivamente.
Um aspecto importante a respeito dos coeficientes As e Aso/ é o mostrado a seguir.
Pela equação (A4) é fácil verificar que

S dm sol dm
A = [éJllsol J
S m.",l e A sol J
= [éJllsol 111.•

Conseqüentemente, a derivada parcial de Aso/ com relação a ms' mantendo-se mso/ constante, vale

(A5)

e a derivada parcial de As com relação a mso/' mantendo-se ms constante, vale

(A6)

e, então,

(A7)

porque a ordem de diferenciação não importa e as equações (A5) e (A6) são idênticas.
Agora, se A for verdadeiramente função só de U, isto é, A = A(U), e lembrando que
U = U(mso/' mJ, é claro que as diferenciais totais de A e de U são, respectivamente,

(A8)

e
éJU éJu
(A9)
dU =--dmsol
Jmsol + dm s dm, ..
Substituindo-se a equação (A9) na equação (A8):

dA = dU dm sol dmsof + dm s dms


dA [ éJu éJu J
ou

dA = dA éJU dm + dA éJu dm (AIO)


dU dm sol sol dU dm s s ,
126 • Potenciais da Agua no Solo

donde, para ms = constante, dividindo-se ambos os membros da equação (AIO) por dmsol' resulta

-- ---- (AlI)
(dA
dmsol J m, dU
dA dmsol
dU

Igualmente, para msol = constante, a divisão de ambos os membros da equação (AIO) por dms
a reduz para:
- --- (A12)
dms
(dA] m.w, _ dU
dA dms
dU
Como

U= msol
ms '

então, evidentemente,
dU 1
(A 13)
dmsol ms
e
----
dU U
(A14)
dms ms

A substituição de (A13) em (All) e de (A14) em (A12) modifica as equações (All) e (A12),


respectivamente, para:
---
1m
m dA
U dU
dU
dA dA
s
dmsol dms (A16)
(AIS)
dA

Eliminando-se dA/dU das equações (AIS) e (A16):


dA 1 dA
--:=:--- (A 17)
(J,nsol U dms

Portanto, se A for, de fato, função só de U, a equação (AI?) tem que ser verdadeira (pois ela
foi obtida considerando esse fato) e, conseqüentemente, também a equação (29). Demonstraremos,
então, a veracidade da equação (AI?).
Verifica-se, facilmente, a partir da equação (A3), que para ms = constante, tendo em conta a
equação (A13):

-A - - (A18)
Aso' -
( dm
dUsol Jm, -~ms
e que, para msol = constante, tendo em conta a equação (14):
AU
(A19)
A,=A(:L = ms
Dinâmica da Agua no Solo • 127

Por outro lado, a derivada de Asol da equação (A18), com relação a ms' mantendo-se msol
constante, e a derivada de As da equação (A19), com relação a msol> mantendo-se ms constante, se
tomam:

(A20)

ou, tendo em conta a equação (A13), isto é, substituindo éJU/amsol da equação acima por 1Ims:

éJAs =_ éJA ~_~


2 • (A21)
amso{ amsol ms ms

Tendo em vista a equação (A 7), o membro da direita da equação (A20) é igual ao membro da
direita da equação (A21):
1 éJA A éJA U A

ou
éJA 1 éJA
(A 17)
am,u! -- U am, '

o que comprova o que estávamos procurando, a veracidade da equação (A17). Conclusão: A


veracidade da equação (A17) implica que A = A(U) seja correta; esta dependência funcional entre A
e U implica que a equação (A2) seja correta; e a validade da equação (A2) implica que a
equação (29) seja correta.

6.2. Dedução da equação (30)

Para deduzir a equação (30), recorramos à equação (83) do capítulo anterior, a qual, para um
sistema gasoso (= ar) fechado, se simplifica para

(A22)

Para uma dada temperatura mantida constante, o primeiro tenno do segundo membro da
equação (A22) desaparece, e então:
(A23)

Assumindo que o ar no solo se comporta como um gás ideal, o que é uma boa aproximação, é
claro que, de acordo com a equação de estado de um gás ideal,

(A24)

sendo Mar = massa molecular média do ar.


A substituição da equação (A24) na equação (A23) mostra imediatamente que
128 • Potenciais da Agua no Solo

dG= marRT dP
;:;;-~ ar Par
(A25)

Integrando-se a equação (A25) entre dois estados 1 e 2, resulta:

fG2 dG
G,
= mi:tRT
ar
IP
p
2

~, Par
dPar

ou

G -G = marRT lnP _ marRT lnP .


2 I M ar ar2 M ar arl

Portanto, genericamente, para um dado estado,

G = marRT ln Par (A26)


Mar

Se quisermos saber, agora, como G do sistema (= ar) varia conforme se varia sua massa
(mar)' basta derivarmos G com relação a mar' e então, a Te Par constantes,

(A2?)
Jm
( JGar 1= 'Par RT
Mar lnP
ar
=!!-
mar

Aqui um gIáflCO ue G em funyãl:> ue mar le':>u\'i:àlinum'à \mh'à l~\'à, '\:,\)ffi '\:,\)~f\ü~\\\~'à\\'6\\\'à~ \.'E,\\'à\ 'à
(RT ln Par) ( Mar'
Como, da termodinâmica,

(A28)
( JG
Jmar J T,Po, = f.1ar,
então:
RT
f.1ar= --lnP , (A29)
M ar ar

ou, matematicamente,

-~dPa,., (A30)
df.1ar- Mar?"r
ou ainda, como procurávamos:
d J.1ar _ldP
- -- ar' (30)
Par

uma vez que, da equação (A24), verifica-se facilmente que


V RT
-...!!.!-- =
mar Par MarPar
VI

MEDIDA DOS POTENCIAIS DA ÁGUA NO SOLO

1. POTENCIAL GRA VITACIONAL

Como está esclarecido no apêndice III, para qualquer corpo, em pontos relativamente
próximos entre si no campo gravitacional terrestre:

tiEg = Eg - Ego = mg(r - ro)= mgh ,

sendo m = massa do corpo, g = aceleração da gravidade, Eg = energia potencial gravitacional do


corpo no ponto de medida, a uma distância r do centro da Terra, E gu = energia potencial
gravitacional do corpo num ponto a uma distância arbitrária ro do centro da Terra, no qual se imagina
um plano horizontal denominado referência gravitacional (RO) e h = r - ro, ou seja, distância
vertical entre o ponto de medida e aRO.
Está também esclarecido no apêndice III, que a energia potencial gravitacional sempre
aumenta à medida que o corpo se distancia do centro da Terra e que, portanto, se o ponto de medida
estiver acima da RO, tiEg> O, porque r > ro, e o valor de h é positivo; se o ponto de medida estiver
abaixo da RO, tiEg < O, porque r < ro, e o valor de h é negativo; fmalmente, se o ponto de medida
coincidir com a RO, então, tiEg = O, porque r = ro, e o valor de h é nulo.
No capítulo anterior, considerando o nosso sistema bifásico composto pelas fases sólidos-
solução-ar e padrão, defmimos o potencial gravitacional pela equação

1Jg ou lfIg = ghl (energia/massa), (1)

na qual h] é a distância vertical da fase sólidos-solução-ar, representada por um ponto no perfil do


solo, à superficie plana e coincidente com a referência gravitacional da água da fase padrão.
Dividindo os membros da equação (1) pela aceleração da gravidade (ver equação 77 do
capítulo anterior), obtém-se o potencial gravitacional em altura de água:

1Jg ou lfIg = hj (altura de água). (2)

Portanto, toma-se evidente que, para medirmos o potencial gravitacional num detenninado
ponto (ponto de medida) de um perfil de solo, basta medirmos a distância vertical h] deste ponto à
RO convenientemente escolhida: sempre que ele estiver acima (ponto A) da RO, o potencial
130 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

gravitacional será positivo (+ h] m de água); sempre que ele estiver abaixo (ponto B) da RG, o
potencial gravitacional será negativo (-hl m de água); e sempre que ele coincidir (ponto C) com a
RG, o potencial gravitacional será nulo (O m de água) (Figura 6.1).
A

referência gravitacional
(posição da fase padrão)

(hl = I/Jg
.
ou ClfIg (hl
> O~
- I/Jg ou lfIg _ O)
- \

(-h[ = I/Jg ou lfIg < O)


.-B

Figura 6.1 Medida do potencial gravitacional.

Exemplo llustrativo
Calcular o potencial gravitacional em dois pontos A e B de um perfil de solo, localizados às
profundidades de 0,2 m e 0,4 m, respectivamente. Considere a referência gravitacional em três
posições: superficie do solo, ponto A e ponto B.
Solução:
A figura a seguir mostra os dois pontos A e B com as três posições da referência gravitacional.

(a) (b) (c)


z=O RG z=O z=O

z =0,2 m z=

Pelos dados temos que:


Situação (a) : epg (A) = - 0,20 m água
epg (B) = - 0,40 m água
Situação (b) : epg (A) = 0,00 m água
epg (B) = - 0,20 m água
Situação (c) : epg (A) = 0,20 m água
epg (B) = 0,00 m água

Observe que a mudança da referência gravitacional muda o valor do potencial gravitacional


em cada ponto. Entretanto, se calcularmos a diferença de potencial gravitacional entre os dois
pontos, epg (A) - epg (B), verificaremos que, para as três situações, epg (A) - epg (B) = 0,20 m água. Ou
Dinâmica da /Ígua no Solo • 131

seja, independentemente da posição escolhida para a referência gravitacional, o valor da diferença de


potencial gravitacional é sempre o mesmo. Como o interesse é a diferença de potencial, este fato
mostra, portanto, que a referência gravitacional pode, de fato, ser arbitrária e colocada na posição
que melhor nos convier.

2. POTENCIAL DE PRESSÃO

Referindo-se à Tabela 5.1 do capítulo anterior, observa-se que o potencial de pressão 1Jp
sempre ocorre no caso em que o solo esteja numa condição de saturação e que, no caso de solo não
saturado, ele só ocorre quando o solo for expansivo. Para esta última condição, sugerimos a leitura
do trabalho de Talsma (1977), que apresenta detalhes de três métodos de determinação da
"overburden" em solos expansivos e algumas limitações do seu uso, e dos trabalhos de Philip
(1969a, 1969b, 1970), nos quais o autor se aprofunda na teoria dos potenciais para solos expansivos.
Para a condição de saturação, como mostra a equação (78) do capítulo anterior, o potencial de
pressão 1Jp num ponto do perfil de solo é igual à pressão de líquido nele atuando. Para medir esta
pressão de líquido, basta inserir um manômetro ou, mais especificamente, um piezômetro dentro do
espaço poroso o qual, entrando em contato com a solução no solo, indicará seu valor. Em termos de
carga hidráulica, o potencial de pressão é a distância vertical do ponto em questão no solo à
superficie de solução em um piezômetro a ele conectado (Figura 6.2).

piezâmetro

/ / superfície do solo

Figura 6.2 Tubo piezométrico para medida do potencial de pressão.

Exemplo Ilustrativo
No esquema da Figura 6.2, estando o ponto em questão a uma profundidade de 1,6 m e sendo
de 0,7 m a distância da superficie do solo ao nível do lençol, qual o valor do potencial de pressão no
ponto? São dados pso! = 1000 kg m-3 e g = 9,8 m S·2.
Solução:
O potencial de pressão nesta condição de solo saturado é dado por
132 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

C/J p = P - Pu (energia / volume).

No caso, a pressão P que atua no ponto em questão vale

P = PsoIgh + PUln/'
COlno Pa1m = Po, então,
C/Jp = Psulgh.

Portanto, como h = 1,6 - 0,7 = 0,9 m:

C/Jp = 1000x9,8xO,9 = 8820 Pa = 8,82 kPa.

3. POTENCIAL MÁTRICO

o potencial mátrico descreve a contribuição das forças de retenção da solução no solo


associadas com suas interfaces líquido-ar e sólido-líquido. Está, portanto, relacionado com o
conteúdo de água no solo, sendo tanto menor quanto mais seco ele estiver, isto é, se varia apenas o
conteúdo de água (T,P,Par são mantidos constantes), então a equação (69) do capítulo anterior se
simplifica para

(3)
C/JI = UI(dJ.1sul)
u" dU T.P,P",,(h=O) dU = C/Jn/ •

Experimentalmente, pode-se dizer que há três maneiras diretas principais para medir esta
influência do conteúdo de água no solo sobre o potencial da solução, isto é, o potencial mátrico.
Todas as três utilizam wna placa porosa (cujos poros devem ser mantidos sempre cheios de solução,
para que ela se tome penneável somente à solução) separando uma amostra de solo (fase
considerada) de um recipiente contendo wna solução idêntica em composição e concentração à
solução nesta amostra de solo, e sujeita à pressão atmosférica local (fase padrão). A primeira maneira
utiliza wna câmara submetida a pressões controladas de ar, denominada câmara de pressão com
placa porosa ou câmara de pressão de Richards, que passamos a descrever.

3.1 Câmara de pressão com placa porosa

também chamado câmara de pressão de Richards (Richards, 1941, 1947,


Este instrumento,
1949), é utilizado para a detenninaçãode curvas de retenção de solução no solo (conteúdo de água
em função do potencial mátrico) sob condições de laboratório. Consiste, basicamente, de wna
câmara construída para suportar alta pressão, com uma placa de cerâmica porosa no seu interior
(Figura 6.3).
Dinâmica da Agua no Solo • 133

medidor de
pressão

tubo de saída câmara de pressão


----Palm+p
amostra
p.lm \
de solução B de solo
placa
porosa

-t::TIf~~~
~.. =2

suporte da tela de diafragma de


placa náilon borracha referência gravitacional

Figura 6.3 Câmara de pressão de Richards. Palm = pressão atmosférica.


A placa de cerâmica, como se pode notar pela figura, tem sua face inferior coberta por um
diafragma de borracha, selado em sua borda. Entre a placa e o diafragma é colocada uma tela de
náilon para pennitir o fluxo de solução, impedindo que o tubo de saída de solução seja obstruído
quando da aplicação da pressão P.
Para utilizar o equipamento, uma ou mais amostras de solo são colocadas na superfície da
placa de cerâmica, as quais, juntamente com a placa, são saturadas com água, de preferência
destilada, por um período de 24 horas. Em seguida, o conjunto (tomando-se sempre o cuidado de
verificar o mais perfeito contato entre a amostra de solo e a placa porosa) é colocado no interior da
câmara e a pressão de ar P é aplicada. Isto faz com que a solução se mova do solo para o pequeno
reservatório sob a placa, gotejando no tubo de saída até que, depois de um certo tempo, pára,
atingindo, portanto, uma condição de equilíbrio. Nesta condição de equilíbrio, sabemos que o
potencial total da solução no solo é igual ao potencial total da solução no reservatório sob a placa, ou
seja, considerando dois pontos, um no lado da solução ou fase padrão (ponto A) e outro no lado do
solo não saturado ou fase considerada (ponto B):
(4)

sendo:
(5)

(6)

Lembre-se que se está considerando = Palm' Verifique também que Par no ponto B é igual a Potm +
Po
P (reporte-se à equação 67 do capítulo V). Note ainda que (ponto A) = Oporque o ponto A é a fase
<PI

padrão do nosso sistema, e para a fase padrão, evidentemente, = Co -co =0. Igualando-se as
<PI

equações (5) e (6), com base na equação (4), e explicitando-se <Pm obtém-se:
134 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

cjJ m = - _1_ P (energia / massa de solução) (7)


Psol
ou
cjJm = -P (energia / volume de solução). (8)
Deste modo, para medirmos o potencial mátrico da solução na amostra de solo com um dado
conteúdo de água (solução), por meio da câmara de pressão de Richards, basta esperarmos que o
equilíbrio da solução seja atingido após a aplicação da pressão P e, em seguida, retirarmos a amostra
da câmara para medida do conteúdo de solução nela existente. É evidente que, quanto maior o valor
da pressão P aplicada, mais seco se tomará o solo após o equilíbrio. Portanto, enquanto o tubo de
saída estiver gotejando, o valor de cjJm estará diminuindo, uma vez que o solo estará sendo
dessaturado. Quando parar de gotejar (equilíbrio), o valor de cjJm é tal que compensa a pressão
aplicadaP.
Observe que a placa porosa funciona como uma extensão da amostra de solo (daí a
necessidade do perfeito contato solo/placa) e que, na realidade, é nela que a pressão de ar é aplicada,
ou seja, ao se aplicar a pressão P, é a placa que evita que esta pressão se transfira para o lado da
solução; quando em funcionamento, o ar sob pressão no interior da câmara nunca fluirá através dos
poros da placa de cerâmica: a tensão superficial na interface líquido-gás em cada poro suportará a
pressão. O valor máximo de pressão que uma dada placa saturada pode suportar, sem que o ar passe
através de seus poros, é determinado pelo diâmetro do seu maior poro e será tanto maior quanto
menor for este poro. Vejamos.
Como vimos no capítulo I, o incremento de pressão interna numa interface líquido-gás num
tubo capilar, devido à curvatura esférica da interface, é dado por

P--- - 2(} - 2(}cosa (9)


R r
sendo:
p = incremento da pressão interna devido à curvatura (esférica) da superficie;
()= coeficiente de tensão superficial do líquido;
a= ângulo de contato;
r= raio do tubo capilar;
R = raio de curvatura da superficie esférica.
Imaginemos um poro (= tubo capilar) da placa de cerâmica e analisemos o que acontece com
a curvatura da interface líquido-ar à medida que a pressão de ar aumenta (Figura 6.4). A Figura 6.4a
representa a condição inicial logo após a saturação, quando R -700 ou a= 90° (superficie plana) e,
portanto,p = O, isto é, não há menisco e a pressão atuante é a atmosférica (Patm). Com a aplicação de
uma pressão adicional P, a interface se curva e o raio de curvatura será tanto menor quanto maior o
valor de P, o mesmo acontecendo com o ângulo de contato (figuras 6.4b, 6.4c, 6.4d), ou seja, a
decresce à medida que P aumenta, até se tomar igual a zero e R se tomar igual a r (Figura 6.4d).
Atingida esta condição, um aumento de pressão fará com que a interface perca contato com a·
superficie sólida e ar fluirá através da placa. O valor da pressão de ar no qual isto acontece, a pressão
que quebra o menisco, é chamado de "pressão de borbulhamento" ou "valor de entrada de ar" para
a placa porosa. Portanto, a câmara de pressão de Richards deve sempre ser operada com valores de
pressão de ar menores que a "pressão de borbulhamento" ou "valor de entrada de ar" da placa porosa
que está sendo utilizada.
Dinâmica da Agua no Solo ·135

água no
poro

(a) (b) (c)


tela de placa de
náilon cerâmica

Figura 6.4 Raio de curvatura da interface ar-líquido no poro da placa porosa com a pressão de
ar atuante (Patm<P]<P2<P3)'

o tamanho do poro no qual ocorre o borbulhamento também pode ser facilmente calculado a
partir da equação (9). Vejamos.
Admitamos que a Figura 6.4d represente a situação na qual R = r. Nesta situação, se fizermos
o balanço das pressões atuantes no poro, especificamente no menisco, verifica-se que

p:, + p' - P = ~,tm + p' .

Como P3 = p+ Palm, então, evidentemente,

P + PUtlll + p' - p = ~,tm + p. ,


donde:

p=P, (10)

e daí, pela equação (9):


P= 2C5 ,
r
e conseqüentemente,
r=- 2C5
(11)
p.
Desta maneira, conhecidas a pressão P, medida pelo manômetro da câmara no momento do
borbulhamento, e a tensão superficial da solução, obtém-se facilmente, por meio da equação (11), o
valor do raio r do poro da placa que está permitindo a passagem de ar.
No comércio, encontram-se placas porosas com pressão de borbulhamento de 100, 300,
500 e 1500 kPa. Para valores de pressão de 10 a 400 kPa, utiliza-se uma câmara de pressão
também conhecida pelo nome popular de "panela de pressão", pela semelhança na fOTIna com a
panela de uso doméstico. Para valores de pressão de 500 a 2000 kPa, utiliza-se uma outra
câmara, de constituição mais robusta e fOTIna mais achatada para suportar estes altos valores de
pressão. Para valores maiores que 2000 kPa, utiliza-se uma outra câmara, mais robusta ainda (de
fOTIna ainda mais achatada), na qual se utiliza não uma placa porosa, mas uma membrana
136 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

semelhante ao papel celofane, com uma pressão de borbulhamento bastante alta. Esta terceira
câmara não é utilizada para propósitos agrícolas. Para valores menores que 10 kPa, o sistema de
Richards não é suficientemente sensível. Nesta faixa de potencialmátrico (O a -10 kPa), utiliza-
se o funil de placa porosa.
Antes de passannos, entretanto, a descrever o funcionamento deste funil, um aspecto que
merece ser destacado é o da definição da tensão da solução (r), visto no capítulo r. Como lá vimos,
r = p; portanto, se considerarmos quaisquer das situações da Figura 6.4, é claro que, de modo
semelhante ao que acabamos de ver para a situação (d), p = P (equação 10), e daí que r =P, ou seja,
com a câmara de pressão de Richards mede-se um potencial mátrico de -P MPa ou uma tensão de P
MPa.

3.2 Funil de placa porosa

Antes de mostrarmos a utilização deste instrumento para a medida do potencial mátrico é


necessário reforçannos um aspecto muito importante da teoria da capilaridade visto no final do
capítulo r. De acordo com as fónnulas (20) ou (23) do capítulo I, "a altura da ascensão capilar é
inversamente proporcional ao raio do tubo na região onde se forma o menisco". Isto quer dizer que,
enquanto no tubo capilar A da Figura 6.5 o desnível h se fonna naturalmente, nos tubos B e C desta
figura isso não é possível por causa das suas partes não capilares. No entanto, se preenchennos as
partes não capilares destes tubos, elevando o nível da superficie do líquido na cuba até a altura h', até
que a porção capilar seja atingida, o menisco é formado e a coluna é mantida em h, sem a
necessidade de que o nível na cuba permaneça em h' o qual pode, então, ser rebaixado à posição
original, esgotando-se o líquido através da torneira T (Figura 6.5).

/
Placa porosa

h h
h'l IH

T
A _ 13 c - D

Figura 6.5 Seqüência de situações para explicar o funcionamento do funil de placa porosa.

Outro ponto que merece destaque é o seguinte; imagine que o nível da superficie do líquido na
cuba da Figura 6.5 seja mantido na altura h'. Pelas equações (19) ou (20) do capítulo I, o valor da
ascensão é h, mas, como há um comprimento de tubo igual a H-h', menor do que h acima da
superficie do líquido na cuba, evidentemente, o líquido sobe até o fim deste comprimento e adquire
um menisco mais plano, cujo raio de curvatura deve ser exatamente igual a h/(H-h') vezes aquele
que ele adquiriria normalmente, se houvesse um comprimento minimo h de capilar acima da
Dinâmica da JÍgua no Solo' 137

superficie plana mantida na altura h'. Por exemplo, se H-h '= h/2, o valor do raio de curvatura do
menisco na extremidade do tubo A será o dobro do valor nonnal (ver exercício 3 do capítulo I). Este
fato é depreendido facilmente da equação (19) do capítulo I pela qual, uma vez que 2 (J/(p - Par)g =
constante, o fator de diminuição de h é igual ao fator de aumento de R.
Analisando o tubo C da Figura 6.5, observa-se que há cinco pequenos tubos capilares. Em vez
de cinco, poderia haver dez, vinte, cem, ou muito mais. Uma maneira prática de obter o maior
número possível de capilares como no tubo C consiste em utilizar uma placa porosa (de cerâmica,
por exemplo) confonne o tubo D da mesma figura. Evidentemente, no caso da placa porosa os
diâmetros dos seus capilares não são todos iguais e nem unifom1es como no tubo C, mas sendo
pequena a espessura da placa (da ordem de 5 mm) pode-se considerar que os seus meniscos se
localizam, em média, no seu centro, pelo que se pode dizer que a altura da ascensão capilar do tubo
D é h, como mostra a Figura 6.5.
O tubo D pode ser confeccionado de tal maneira a se tomar um funil de haste prolongada e
flexível, por meio da qual se pode aumentar ou diminuir h pelo abaixamento ou elevação do nível do
líquido, mantido constante em sua extremidade por meio de um dispositivo simples (Figura 6.6).

fu,i1 J r I Tl \ T.J pl.~ po=.

porosa __ _ __ _ __ _
-- - -- -___
placa ~~ ~ _~ _)- _~
~ _~- ~ _~ __- __
~I •

tubo
flexível

- dispositivo para
manter o nível de
(o) (b) água constante

Figura 6.6 Funil de placa porosa adaptado com uma haste flexível: a) placa porosa com a
superficie dos meniscos dos seus poros, plana, e b) placa porosa com a superficie dos
meniscos dos seus poros, côncava, com p = (p - POI) gh.

Por ser wn funil munido de uma placa porosa na parte inferior do seu corpo, recebe a
denominação defunil de placa porosa oufunil de Haines, por ter sido Haines (1930) o primeiro a
utilizar um instrumento desse tipo para fixar valores de potencial mátrico da solução no solo e medir
os conteúdos de água (solução) correspondentes.
Como já vimos, o aumento de h faz com que os raios de curvatura dos meniscos dos capilares
da placa porosa decresçam, isto é, suas interfaces sejam "puxadas" para baixo. Isto, entretanto,
acontece até o limite máximo, quando o raio de curvatura R do menisco do maior poro da placa se
toma igual ao raio r' deste poro. Portanto, a equação (19) do capítulo I se toma:

h = 2(J
max (pp),'
- ar gr
138 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

Um valor maior do que o hmox da placa resultará em rompimento do menisco e passagem de ar


através dela. Portanto, quanto menor r' maior hmox' Entretanto, praticamente, o valor máximo de h
que se consegue é == 8,5 m, mesmo que o valor de r' pennita um hmax maior, devido ao fenômeno da
cavitação (Baver et aI., 1972). Resumidamente, este fenômeno neste caso consiste no seguinte: à
medida que se aumenta a altura h, a pressão interna sob o menisco diminui (lembre-se que a pressão
interna sob o menisco é P' - p e p = (p - Pm) gh); esta diminuição da pressão interna faz com que ar e
vapor do líquido saiam do interior deste ou passem através das paredes da tubulação usada
quebrando a continuidade da coluna de líquido, que se rompe e se desprende da placa, normalmente
quando h == 8,5 m.
Vejamos, agora, como se mede o potencial mátrico por meio do funil de placa porosa. Para
tanto, coloca-se uma amostra de solo na superficie da placa porosa do funil, procede-se a sua
saturação com água, mantendo-se o nível do tubo flexível no topo da amostra por um período de 24
horas, para sua completa saturação, e, em seguida, abaixa-se este nível a uma altura h (Figura 6.7).
P,"m amostra P"m -Por gh

de solo I placa porosa


funil de
placa
porosa

h =h,
Pmm

tubo
A, _
l
flexível

Referência
gravitacional

-&"
-\ dispositivo para
manter o nível de
(a) (b) água constante

Figura 6.7 Procedimento da medida de <p", com o funil de placa porosa: a) saturação do solo, b)
aplicação da tensão h.

Evidentemente, haverá drenagem da água retida nos poros do solo com diâmetro maior do
que o diâmetro correspondente à altura h aplicada, através da pequena saída do dispositivo que
mantém o nível da solução constante na extremidade do tubo flexível, até que, depois de um certo
tempo, atinge-se a condição de equilíbrio (pára o gotejamento através do orificio do dispositivo).
Atingida esta condição de equilíbrio, é claro que o potencial total da solução em qualquer ponto do
lado da solução (ponto A, por exemplo - Figura 6.7b) tem que ser igual ao potencial total da solução
em qualquer ponto da amostra de solo não saturado (ponto B, por exemplo - Figura 6.7b).
Observe que, propositadamente, consideramos o ponto A à mesma altura que o nível da
solução no dispositivo de manutenção do nível de solução (fase padrão), e o ponto B no centro
geométrico da amostra de solo (fase considerada).
Assim, no equilíbrio:

<p, (ponto A) = <P, (ponto B).


Dinâmica da Agua no Solo' 139

Por outro lado, como P = Pa/m emA, P = Palm -Pargh emB ePo = Pa/lm então

(12)

Observe aqui também que ifJ/ (ponto A) = O, por se tratar da fase padrão.
Conseqüentemente, igualando as equações (12) e (13) e explicitando-se ifJlI" obtém-se:

ifJm =-gh+ Par gh. (14)


P,-a/

Portanto:

(15)
ifJm = -(1- Psol
Par }h == -gh (energia / massa de solução)
ou
ifJm = -(Psa/ - Pa,.)gh == -Psalgh (energia / volume de solução), (16)

ou ainda, em termos de carga hidráulica, dividindo a equação (15) por g (aceleração da gravidade):

(17)
ifJm =_(Psa/ Psol
- Par} == -h (m de solução).

O sinal de == que aparece nas equações (15), (16) e (17) deve se ao fato de, como normalmente
se considera Par desprezível em comparação com a magnitude de Psol, nos tennos em que ele (Par)
aparece nestas equações, entra com valor zero.
Desta maneira, selecionando-se vários valores de h e medindo o conteúdo de água (solução)
correspondente para cada valor selecionado depois de atingido o equilíbrio, elabora-se com
facilidade a curva de retenção (conteúdo de água na amostra de solo em função do potencial mátrico
da solução (água) na amostra). Portanto, o funil de Haines também é utilizado para a detenninação
da curva de retenção da solução no solo, típica para cada profundidade de solo. Assim, para valores
de ifJ m na faixa de == -8,5 a O m de solução, repete-se, para diversos valores de h, o procedimento
indicado na Figura 6.7, determinando-se, depois de atingido o equilíbrio com cada valor de h
selecionado, o valor do conteúdo de solução correspondente. Evidentemente, quanto maior h (ou
menor ifJm), menor o conteúdo de água no solo depois do equilíbrio.
Aqui também o aspecto da tensão da solução r =p (capítulo I) merece atenção. Como p, no
esquema da Figura 6.7 de medida de ifJm pelo funil de Haines, é igual a h e ifJm= -h, então, com este
funil mede-se um potencial mátrico de -h m de solução ou uma tensão de h m de solução.

3.3 Curva de retenção e distribuição dos poros


Nos dois itens anteriores (3.1 e 3.2) aprendemos como se detennina, de maneira direta, a
curva de retenção da solução no solo, no laboratório. Mostramos também que o potencial mátrico
140 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

(1J",)ou tensão (-r) da solução relaciona-se à curvatura das interfaces ar-solução no solo não saturado
e que, assumindo que estas interfaces na amostra de solo se acomodam nwn capilar de secção
transversal circular de raio r, suportarão uma tensão de acordo com a equação da ascensão capilar:
20" cosa .
-r = -1J", = --- = Pso,gh ~ [energIa / volume] (18)
r
ou

- 20" cos a=h ~ [altura de água], (19)


-r =-1J", - P sol gr

sendo O" a tensão superficial da solução; a o ângulo de contato entre a solução e o poro do solo: nos
cálculos, asswne-se a sempre igual a zero; g a aceleração da gravidade; gol a densidade da solução; e
h a distância vertical do ponto de medida ao nível de solução no manômetro do funil de placa porosa
(equivalente à pressão P no medidor de pressão da câmara de pressão). O solo, como sabemos, não é
um simples tubo capilar, mas uma composição irregular de poros e canais formados por seus sólidos.
Conseqüentemente, é claro que as interfaces não são iguais em todos os pontos do solo mas, como
vimos, as curvaturas estão todas com o mesmo valor de tensão h, no equilíbrio. Isso nos leva a
concluir que se quisennos obter o valor de r por meio da equação (18), o valor obtido só pode ser
considerado como um "raio equivalente", sem qualquer tentativa de quantificação do raio real do
poro (ver página 47).
A curva de retenção, como também salientamos anteriormente, relaciona a quantidade de
solução no solo em equilíbrio com a tensão aplicada. É oportuno mostrar, agora, que uma vez obtida
a curva de retenção, pode-se calcular a partir dela e da equação (18) ou (19) a distribuição do
tamanho dos poros do solo. Para facilitar a interpretação, é conveniente elaborar a curva diferencial
da curva de retenção (8 em função de "C), isto é, um gráfico de d8/d-r em função de -r. A Figura 6.8
mostra uma curva de retenção de um dado solo, e a Figura 6.9, a curva diferencial dela oriunda.
Pelo gráfico da Figura 6.9, percebe-se, imediatamente, que d8/dTé função de -r, isto é,

_ d8 = 1(-r), (20)
d-r
pelo que
- d8 = 1(r )d-r. (21)

·Integrando-se os dois membros da equação (21), entre 8, e 82 e, correspondentemente, entrer,


e r2 (ver gráfico da Figura 6.8) obtém-se:
8, 't'')

- f d8 = f 1(r }ir (22)


81 TI

ou
r,

- (82 -(1) =f
rI
1 (-r }i-r

ou ainda
r,

81 -82 = 1
f (r}i-r.
rI
(23)
Dinâmica da Agua no Solo • 141

Note que a integral entre os limites r2 e r, da equação (23) está representada pela área
hachurada da Figura 6.9 e é igual à diferença de conteúdo de água 8, - 82 da Figura 6.8.

~ e ----------------
, , I

l
E

ÇD
I
e - - - - - - - - - - - - - - - - -:- - - - -
II
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
I
't, 't2
rem de solução)
Figura 6.8 Curva de retenção da solução no solo.

)f(r)dr=81-82

"' (m de água)

Figura 6.9 Curva diferencial da curva de retenção da Figura 6.8.

Pela equação (18), à tensão r, corresponde o raio equivalente ri> e à tensão r], o raio
equivalente r2; observe que r2 > r" mas r2 < r,. Assim, pela curva de retenção, quando se aplica a
tensão ri> todos os poros de raio maior do que r, são esvaziados, e quando se aplica a tensão r], todos
os poros com raio maior do que r2 são esvaziados. Conseqüentemente, estando o solo à tensão r,
142 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

(portanto, com todos os poros de raio maior do que rI esvaziados), ao se aplicar, subseqüentemente, a
tensão r], serão esvaziados todos os poros de raio menor do que rI e maior do que r2. Logo, o volume
de água liberado do solo ao se aumentar a tensão de rI para r], volume de água este medido pela
diferença de conteúdo de água ere2 (primeiro membro da equação 23), é igual ao volume dos poros
de raio menor do que rI e maior do que r2.
Com base nessas considerações, conclui-se que, para a mesma diferença rrrI, quanto maior
for ere], maior é o número de poros existentes no solo com raios entre os valores r2 e ri> ou seja,
pode-se, de fato, a partir da curva de retenção, detenninar a distribuição do tamanho dos poros no
solo.

A propósito, o pico da curva diferencial da Figura 6.9 nos diz que os poros de raio em
tomo do valor r = / (correspondente a tensão r*) são os mais freqüentes, neste solo. Para fixar
idéias, coloquemos números aos gráficos das figuras 6.8 e 6.9 e as transformemos nas figuras
6.10 e 6.11, respectivamente, substituindo e por 8/es no eixo das ordenadas, sendo es o conteúdo
de água de saturação no solo; calculemos também r por meio da equação (19), considerando (7=
0,072 N.m-I, a= 0°, Pa = 1000kg.m-1 e g = 9,8 m.s-2 e plotemos os valores obtidos também no
eixo das abscissas dessas figuras. Os gráficos das Figuras 6.11 e 6.10 são tradicionalmente
denominados de curva de freqüência e curva de distribuição de frequência do tamanho dos
poros do solo, respectivamente.
Pela Figura 6.10, quando 8/e, = 1, tem-se que e = e" indicando que todos os poros do solo
estão cheios de água, ou seja, que a frequência acumulada de poros cheios é 1,00 ou que 100% dos
poros estão cheios d'água; ao valor eles = e/e, = 0,95 corresponde o valor rI = 1000 IJm, indicando
que a frequência acumulada de poros cheios de água é 0,95 (95% dos poros estão cheios) e que estes
95% de poros cheios são todos menores do que 1000 f1m;ao valor eles = e/es = 0,78 corresponde o
valor r2 = 100 fllll, isto é, a frequência acumulada de poros cheios com r < r2 = 100 fllll é 0,78 ou
78%. Portanto a frequência de poros esvaziados, na faixa de tamanho r2 < r < rI, ou seja menor do
que 1000 fllll e maior do que 100 fllll é e/es-e2/es = 0,95-0,78 = 0,17; em outras palavras, 17% do
volume do espaço poroso deste solo corresponde ao volume dos poros de raios compreendidos na
faixa de 100 a 1000 f1m.Este valor (0,17) corresponde exatamente à área hachurada da Figura 6.11.
Seguindo este mesmo raciocínio, observe, fmalmente, que se considerarmos um valor
constante e relativamente pequeno Llr de intervalo de tamanho de raio de poro e analisannos a área
sob a curva da Figura 6.11 para este valor de Llr, ao longo de toda a curva, as maiores frequências
ocorrem para valores em tomo de 58,4 fllll de raio (o pico da curva) e decrescendo à medida que se
afasta deste valor para mais ou para menos.
Dinâmica da Agua no Solo • 143

r (J.lm)

" ,II ,---------


,I 0.1
J

:;
~
§'"
'"'"
..,
'13 '3:>"
0,8
."8"
I=
J
as
JJ
0,7
0,5
0,6
';( = 1~00
0,4
:::, 0,01 0.3
J
0.1
I
1,0
0,9 0.0
0.1
0,2

1 10 100 1000

-rem de solução)

Figura 6.10 Curva de distribuição de jrequência do tamanho dos poros.

r (IJm)
1000 10 0.1
( I 1~0 rio = 58,4 ,
3,0
I
[0 ~: I
1 o II,
J
2,0 10
2o-5 I"2-
~c
",,,,
cr",
o;
"::2
0.5
1.0
1,5 0.1

d~i
.5 II " 2.5
C
°G ." o~." <;[2"
de solução)
7
-rem
à:i
~
~o,
0.01 0.0

100 1000

Figura 6.11 Curva de .ft-equência do tmnanho dos poros.

3.4 Tensiômetro

Como acabamos de ver, a combinação de um manômetro com uma placa porosa possibilita
medir o potencial mátrico </Jm ou a tensão da solução no solo. Assim, a câmara de pressão de r
Richards e o funil de Haines não deixam de ser um tensiômetro (= medidor de tensão). Este tenno,
entretanto, tomou-se consagrado para illn equipamento de campo de medida de tensão que veremos
a seguIr.
144 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

o princípio de funcionamento do tensiômetro é muito semelhante ao do funil de Haines,


residindo a diferença fundamental no fato de que, no caso do tensiômetro, ao invés de se trazer a
amostra de solo para junto da placa porosa, leva-se a placa porosa para junto da amostra de solo, uma
vez que o objetivo principal do tensiômetro, ao contrário do funil, não é a detenninação da curva de
retenção, e sim a medida de l/J m no local de interesse. Como o material poroso deve ser introduzido
no solo, ele é confeccionado numa fonna cilíndrica, conhecida como cápsula porosa (Figura 6.12).
"'---

±7cm

~t_
±2 cm

Figura 6.12 Cápsula porosa usada para a confecção do tensiômetro.

Esta cápsula deve ser construída para possuir uma pressão de borbulhamento mínima de 0,1
MPa, mas também não muito maior que 0,1 MPa, para não diminuir muito sua condutância, já que,
como veremos mais adiante, o tensiômetro também funciona até um máximo de tensão de
aproximadamente 8,5 m (= 0,085 MPa).
O procedimento do funil de Haines de se trazer o solo à saturação e depois colocá-Io à tensão
de interesse não se faz no caso do tensiômetro. O importante neste, é que o solo esteja o mais
próximo possível da saturação, quando da sua instalação, a fim de que haja o bom contato necessário
entre a cápsula porosa e o solo ou, em outras palavras, para que, através dos poros da parede da
cápsula, a solução do tensiômetro entre em contato hidráulico e se equilibre com a solução no solo.
Após b estabelecimento deste equilíbrio, atinge-se, teoricamente, a mesma situação da Figura 6.7b,
como se pode ver na Figura 6.13, que mostra um tensiômetro com manômetro de solução instalado
no campo, medindo a tensão T = h m de solução no ponto C adjacente à cápsula (note a semelhança
entre as figuras 6.7b e 6.13). Evidentemente, numa condição de saturação, com O nível de um lençol
de solução passando pelo ponto C, a solução no manômetro, coincidente com o nível do lençol,
localizar-se-á em A (Figura 6.13), pelo que h = O m, como na Figura 6.7a. Se o lençol subir para
cima do ponto C, o tensiômetro passará a funcionar como um piezômetro de modo que, como na
Figura 6.2, a altura de solução acima de A representará o potencial de pressão no ponto C.
Voltemos à condição de equilíbrio da Figura 6.13. Nesta condição, o potencial total em
qualquer ponto dentro do manômetro tem que ser igual ao potencial total da solução, em qualquer
ponto do solo próximo à cápsula porosa que esteja em equilíbrio com a solução do manômetro. Isto
é, considerando os pontos B (no manômetro, fase padrão) e C (no solo, fase considerada), é claro
que, no equilíbrio

l/JI (ponto B) = l/JI (ponto C) . (24)


Dinâmica da Agua no Solo • 145

Mas, lembrando sempre que Po= Po1m e que Pa1m é considerada igual nos dois pontos B e c:
ep, (ponto B) = epp
~
+ eplll + epll + ep'-,.-Jg = O
I....,,-' '-.-'
(25)
~o =0 =0 =0

e
P

ep, (ponto C) = f vvo{dP + eplll + ghl


___ + epll
'-o-' .
(26)
~ ~"=O
~"

Superficie do solo

Patm Z

A 1

\C
( 1 h =h,
cápsula
1 porosa

B -
referência gravitacional

água

Figura 6.13 Tensiômetro com manômetro de água instalado no campo.

Analogamente aos casos anteriores, ep, (ponto B) = O por se tratar da fase padrão
(A. _- E,m/
\it', /I _ E,m/
o -- O) •

o tenno epp aparece na equação (26) porque, como estamos considerando condição de campo,
o material sólido acima do ponto de medida no perfil pode causar uma sobrecarga ou pressão
"overburden", no caso de solos expansivos. Assim, a combinação das equações (24), (25) e (26)
resulta em
P

epm (energia / massa de solução) = -gh - f vm,dP (27)


P"
'-----v---'
~"
ou

epm + epp = -gh (energia/massa de solução), (28)

ou, em termos de carga hidráulica:


146 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

cjJm +cjJp =-h(mdesolução). (29)

Portanto, por meio do tensiômetro, mede-se a soma dos potenciais mátrico e de pressão e não apenas
o potencial mátrico, no caso de solos expansivos.
No entanto, se o solo no qual o tensiômetro for instalado é não expansivo, então Vsol = O; neste
caso, cjJp que aparece nas equações (28) e (29) desaparecerá, independentemente do valor da pressão
P (ver equação 27). Portanto, para solos não expansivos, as equações (28) e (29) se reduzem,
respectivamente, a

cjJ m = - gh (energia / massa de solução) (30)

e
cjJm = -h (m de solução). (31)

Devido à impraticabi1idade de utilização do tensiômetro mostrado na Figura 6.13 no campo,


pelo fato de se ter que abrir uma trincheira para que a leitura possa ser feita, substitui-se o
manômetro de água por um manômetro de mercúrio, colocado acima da superficie do solo,
confonne mostra a Figura 6.14.

hB

h
c,
h, ""I

! superficie do solo

z z
atm

A PHg H
p,w!

lençol freático
h

Pall

(a) (b)

Figura 6.14 Tensiômetro com manômetro de mercúrio instalado no campo: a) solo saturado
(h = O); b) solo não saturado (h > O).

Analisemos, primeiramente, a situação da Figura 6.14a, na qual h = O m de solução:


condição idêntica à da Figura 6.7a, isto é, solo saturado. Observe, entretanto, que, nesta
condição, o manômetro de mercúrio indica uma leitura H' e não zero; ele marcaria zero se a
cuba com mercúrio estivesse abaixo da superfície do solo e com o seu nível de mercúrio
coincidente com o centro da cápsula onde se encontra o lençol freático. Imaginemos esta
última situação, em que o nível de mercúrio na cuba esteja coincidindo com o centro da
cápsula. Ao se elevar a cuba de mercúrio para cima da superfície do solo, hc + Z m acima do
centro da cápsula, cria-se um sifão o qual, ao tentar escoar a solução, "puxa" o mercúrio da
cuba até o reestabelecimento do equilíbrio com H'. Evidentemente, quanto maior hc + Z,
maior é H' porque maior se torna a diferença hA - hs que rege o funcionamento do sifão.
Portanto, a pressão causada pela coluna de mercúrio H' é igual à pressão causada pela coluna
de solução hA - hs = H' + hc + Z, porque a pressão líquida que atua sobre a solução no tubo
no sentido ABC é Pa1m - psolg hA, e no sentido CBA, Pa1m - (Psalg hS+PHgg H')*. Como o
sistema está em equilíbrio, então

P"lm - PsolghA = P"lm - (PsolghB + PHggH').


Rearranjando,

ou, (ver Figura 6.14a),

(32)

ou ainda

(33)

donde

H' = Psol (hc + Z). (34)


PHg - Psol

Portanto, independentemente do conteúdo de água no solo, o tensiômetro com manômetro de


mercúrio apresenta uma leitura constante H' cuja magnitude é dada pela equação (34), a qual, como
se vê, é diretamente proporcional a hc + Z
A partir desse valor (H') o aumento da coluna de mercúrio é devido ao secamento do solo ou
aumento da temão h (Figura 6.14b). Portanto, na condição de equilíbrio da Figura 6.14b, que é
idêntica à da Figura 6.7b, tem-se, por raciocínio semelhante, que as pressões líquidas nos sentidos
ABC e CBA são iguais, isto é:
Pa1m-(Psolgh+ psolghJ=Pafm -(PHggH' + PHggH" + PsalghB)' (35)
\ v ' ~ v '
MA Me
e então,

ou (ver Figura 6.14b)

Explicitando Psof:

(36)

* As pressões internas que atuam no interior dos líquidos no tubo, sob as interfaces solução-ar, mercúrio-ar e
solução-mercúrio, cancelam-se.
148 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

Como, de acordo com a equação (33), (PHg- ps) H' = pso/he + Z), resulta que:

= ---- --7 m e solução). (37)


h (PHKPsol
-Pso'f" (d

Portanto, a partir desta equação (37) obtém-se o valor de h pela simples leitura H" do
tensiômetro feita a partir do topo de H'.
Por outro lado, chamando H' + H" de H, a leitura do tensiômetro feita a partir da superficie
do mercúrio na cuba, tem-se, a partir da equação (36) que

h=(PHK Psol
- Psol IR" -hc r -2.
-3 -3
(38)
Como, normalmente, se considera que PH g = 13600 kg m e P so / = 1000 kg m , então, a
substituição destes valores nas equações (37) e (38) transforma h (m de solução) em

h = 12,6H" (39)

h=12,6H -(hc +2), (40)

respectivamente, sendo:
h = membro da direita das equações (29) e (31), expresso em mde solução;
H" = leitura do tensiômetro feita a partir do topo de H', em m de mercúrio;
H = leitura do tensiômetro feita a partir da superficie do mercúrio na cuba, em m de mercúrio;
hc = distância vertical do nível de mercúrio na cuba à superficie do solo no momento da leitura, em
m de solução;
2 = profundidade de instalação da cápsula, em m de solução.
Observe que depreende imediatamente + he + 2 + h = (PH!Psol) H
da equação (38) que H
(Figura 6.l4b) ou, substituindo os valores de PHg e pso/, que H + he + 2 + h = 13,6 H Observe
também que (he + Z) é a distância vertical que vai do nível de mercúrio na cuba ao centro da cápsula
porosa, no momento da leitura. Chamamos a atenção a esse fato porque, notadamente, quando se
trabalha com colunas de solo no laboratório, a cuba de mercúrio nem sempre fica acima da superficie
do solo como no campo. E é fácil perceber que a equação (40) é válida somente quando o nível de
mercúrio na cuba, no momento da leitura, se localizar acima da superficie do solo. Para não causar
confusão, chamemos essa distância vertical entre o nível de mercúrio na cuba e o centro da cápsula,
no momento da leitura, de X Com isso, é fácil demonstrar que, toda vez que o nível de mercúrio na
cuba, no momento da leitura, a) localizar-se acima do centro da cápsula, h = 12,6 H-X; b) localizar-
se abaixo do centro da cápsula, h = 12,6 H + X, e c) coincidir com o centro da cápsula, h = 12,6 H.
Tendo em conta as equações (29) e (31), obtém-se, respectivamente,
a) para solos expansivos

ifJp + ifJm = ~12,6H' (41)

ou
ifJp +ifJm =-12,6H + hc + 2 (42)
b) para solos não-expansivos

ep", = -12,6H" (43)

ou

ep", =-12,6H +hc +Z. (44)

Exemplo Ilustrativo
Considere um tensiômetro de manômetro de mercúrio em vidro, instalado no campo, a uma
determinada profundidade, apresentando uma leitura de 0,25 m Hg. Se em vez de mercúrio,
utilizássemos um outro líquido, de densidade 2500 kg m,3, de quanto seria a leitura do tensiômetro
em metros deste líquido? Em que situação este líquido (se existisse) apresentaria vantagem em
relação ao mercúrio?
Solução:
Pelas fónnulas (31) e (38) tem-se para o mercúrio que:

epm :::: Psol


_(_P_Hg_-_P_S_OI JH + hc + Z .

Evidentemente, para um outro líquido de densidade PI, a fónnula seria:

'rm I c .
r!l :::: _(PI Psol
- PsoI JH +h +Z

Portanto igualando as duas equações, uma vez que epm tem que ser o mesmo, resulta:

Substituindo os valores:

H,:::: ----- 0,25 ::::2,1m do líquido.


2500 -1000
(13600 -1000)

Este líquido apresentaria vantagem em relação ao mercúrio numa situação em que a tensão da
água no solo fosse relativamente baixa e sua variação pequena ao longo do tempo, por exemplo
próximo de um lençol freático.

Quando se utiliza a fórmula (40) para o cálculo de h, é preciso lembrar que para cada leitura H
há um valor de hc correspondente. Isto porque, conforme H aumenta (ou diminui), hc diminui (ou
aumenta), uma vez que o volume de mercúrio utilizado para se obter H é retirado da cuba. Este fato
dificulta o manuseio do tensiômetro quando se utiliza esta fórmula, posto que além de H também hc
tem que ser medida toda vez que se faz a leitura. Entretanto, isto pode ser facilmente contornado da
seguinte maneira:
150 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

a) Preenche-se a cuba com mercúrio e, antes de colocar o manômetro em funcionamento, faz-se


uma marca na cuba na posição em que se encontra a superfície do mercúrio, de tal maneira que
da superfície do solo a essa marca tem-se o valor constante h; (Figura 6.15a).
b) Chamando de D o diâmetro da cuba e de d o diâmetro do tubo de leitura tem-se, num
detenninado instante, após o acionamento do manômetro, o que mostra a Figura 6.15b, de tal
maneIra que

n~(H
4
- H")- nd2
4
(H _ H")= nd2
4
H" . (45)

o membro da esquerda da equação (45) representa o volume de mercúrio retirado da cuba e o da


direita o mesmo volume que deu origem à altura de mercúrio H*. Observe que a quantidade H*
representa a altura de mercúrio medida a partir da marca fíxa feita na cuba antes do acionamento
do manômetro.

*
hc hc

superficie do solo

Figura 6.15 Manômetro de mercúrio do tensiômetro: a) com o tensiômetro desativado; b) com o


tensiômetro funcionando.

c) Por meio de manipulações algébricas simples a partir da equação (45), chega-se à seguinte
equação para H:

H=H+ D d2-d 2H.J"


2 (46)
"'(

Como H - H* = h; - hc então, evidentemente,

(47)
hc =h"c _( D2 d2- d2;'lu" .

d) Portanto, por meio destas equações (46) e (47) obtêm-se, em qualquer instante, a partir apenas da
leitura H*:
1. o valor de H, conhecidos os valores constantes de D e d;
2. o valor de hc, conhecidos os valores constantes de h:, D e d;
que deverão ser substituídos na equação (40) para o cálculo de h.
Depreende-se facilmente das equações (46) e (47) que quanto maior for a diferença entre os
valores de D e d e quanto maior for o conteúdo de água no solo, isto é, quanto menor for H*, tanto
mais H* se aproxima de H e h: de hc e menos significante se toma o tenno de correção
2 H* que deve ser somado a H * e subtraído de
[d 2/(D 2 - d)] hc.* Uma outra maneira, portanto, de
contornar o problema da variação de he com a variação de H é construir o tensiômetro de tal modo
que a diferença entre D e d seja a maior possível, com o que, em termos práticos H* == H e h: == he.

Por exemplo, para D = 26 mm, d = 1 mm e um valor de H* = 700 mm, que pode ser considerado
máximo para o tensiômetro, resulta para o tenno de correção um valor máximo de aproximadamente
1 mm, que está dentro da faixa de erro de leitura do tensiômetro com manômetro de mercúrio.
Quando se utiliza a fónnula (39) para o cálculo de h, evidentemente, de acordo com a
magnitude relativa dos valores de D e d, é possível que H" precise ser corrigido, pelos mesmos
motivos apontados anteriormente; isto é, com a variação de H", há variação de hc com conseqüente
variação da posição do topo de H' (= zero do tensiômetro) que também varia. Essa correção pode ser
feita seguindo raciocinio semelhante ao apresentado para o caso da fórmula (40). Deixamos ao leitor,
como exercício, encontrar o tenno de correção para H" da fórmula (39).
Finalmente, é importante esclarecer que, de acordo com a equação (35), conforme a tensão h
aumenta, a pressão líquida (MA) que atua na água no solo no sentido de empurrá-Ia para dentro do
tensiômetro diminui, fazendo com que a pressão líquida Me atuando na superficie de mercúrio da
cuba no sentido de empurrar o mercúrio para dentro do tubo de leitura, tomando-se maior do que
MA, empurre o mercúrio da cuba para cima no tubo, com conseqüente aumento de H", diminuição
de hB e estabelecimento de novo equilíbrio. Evidentemente isso ocorre enquanto a quantidade
(PHggH' + PHggH" + psolg hB) for menor do que Patm porque quando ela se tomar igual a Patm, Me se
anula e não há mais possibilidade de aumento de H": um aumento de h a partir desse ponto faz com
que a coluna de líquido se rompa. Portanto, a menos que o fenômeno de cavitação explicado
anteriormente ocorra antes, o tensiômetro com manômetro de mercúrio como o da Figura 6.14
funciona até um máximo de leitura H = H'+ H" de (Hatm - hB) metros de mercúrio, sendo Hatm a
altura de mercúrio correspondente à pressão atmosférica. Por exemplo, num local onde a pressão
atmosférica equivale a 10m de solução, um tensiômetro com manômetro de mercúrio no qual
hc = 0,2 m, Z = 1 m e hA - Z = 1 m funciona até um máximo de H == 0,73 m de mercúrio,
correspondendo a um h == 8 m de solução.

4. POTENCIAL DE SOLUTO
Vimos, no capítulo anterior (equação 72), que o potencial de soluto lfIs é dado pela expressão
(48) a seguir:

lfIs = L
r=!
s m,
a
rnJ
~Jmr
(df.1 JT,P,U ' ,-m"Pa,
dmr
(h=O)
~ O . (48)

o símbolo ~ significa que se não houver solutos na água no estado considerado, isto é,
mr = m/, então lf/s = O, uma vez que dmr=O. Se, por outro lado, houver solutos no estado
considerado, então mr > m/ e, conseqüentemente, dmr> O. No entanto, df1aldmr < O, uma vez que a
presença de solutos dissolvidos na água reduz o seu potencial químico e, conseqüentemente, lfIs < O.
152 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

Esta influência dos solutos sobre o potencial do componente água é, nonnalmente,


demonstrada separando um recipiente contendo uma solução (de sais, por exemplo) de um outro
contendo água pura por meio de uma membrana semipenneável ideal, confonne mostra a
Figura 6.16. Uma membrana semipenneável ideal é aquela que é penneável às moléculas de água
mas completamente impermeável a todo e qualquer soluto. A maioria das membranas
semipenneáveis, no entanto, não são ideais, sendo sempre um pouco permeáveis a solutos.
Numa situação como a da Figura 6.16, é fato experimental que moléculas de água se movem
através da membrana do recipiente com a água pura para o recipiente com a solução salina,
indicando que as moléculas de água na água pura têm uma atividade maior e, portanto, um potencial
maior do que as moléculas de água na solução.

'::I:-::
água pura solução +1t
Patll1 --> f·:·:·.:·:·:·.:·:·:·.:~:~/:~:: salina

}!:}

membrana
semi-permeável
ideal

Figura 6.16 Ilustração da medida da pressão osmótica; Pa1m = pressão atmosférica; n = pressão
osmótica.

Se quisennos evitar este movimento das moléculas de água através da membrana, uma
pressão n deve ser exercida no pistão do lado da solução salina para elevar o potencial total do
componente água desta solução e tomá-Io igual ao potencial total da água pura. Nesta condição de
equilíbrio, portanto:

lf/, (água pura) = lf/, (solução). (49)

Nesta situação, quando se considera Po = Po'm,

lf/, (água pura) = lfI",,"--",,'-.,.-J'-v-I"-.r-J~


p + lfI", + lfIll + lfI, + lf/ g = O (50)
=0 =0 =0 =0 =0

por se tratar da fase padrão e, para a fase considerada,

lfI, (solução) = -.!!.- + lfI", + lfIlI + lfI" + lfI, (51)


P ag
'-v---'
':õ' ':õ ':õ
lfIp

Então, igualando as equações (50) e (51), obtém-se que

lfI, = -1 (n) (energia / massa do componente água) (52)


Pag
ou
lfIs = -7r (energia / volume do componente água). (53)

Este fenômeno da passagem de moléculas de água através de uma membrana semi-permeável


que separa água pura de uma solução é conhecido como osmose e a pressão 7r que deve ser aplicada
à solução para evitar a osmose do componente água para ela é chamada de pressão osmótica, daí
chamar-se lfIs também de potencial osmótico do componente água, pelo fato de ser igual à pressão
osmótica com o sinal trocado (equação 53).
Pode-se demonstrar que
RT
7r=--lnN ag' (54)
vag

sendo R = constante universal dos gases, T = temperatura absoluta, vag = volume molar parcial da
água pura e Nag = fração molar da água pura, dada por:

em que nag = número de moles do componente água e nr = número de moles dos solutos r da solução
(r = 1,2,3, ...)
A equação (54) pode ser simplificada para soluções diluídas para
7r =RTC, (55)

sendo C = concentração molar dos solutos (número de moles dos solutos por unidade de volume de
solução).
Conseqüentemente, para soluções diluidas:

lfIs = -RTC , (56)

isto é, para medir o potencial de soluto de soluções diluídas (que é o que nonnalmente ocorre em
solos não salinos), é preciso conhecer a temperatura e a concentração dos solutos na solução.

5. EXERCÍCIOS

1. Quando se obtém o limite máximo de tensão no funil de Haines?

2. O que é curva de retenção da água no solo? Como pode ser detenninada no laboratório? E no
campo?

3. Por que o sistema de Richards pode medir tensões de 1500 kPa ou mais e o funil de Haines e o
tensiômetro até aproximadamente 85 kPa?

4. Qual o valor do potencial mátrico (em metros de solução) no ponto A do perfil de solo da figura a
seguir?
154 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

r superfície do solo

O,2m -

IIg - ~(-/- - - ~- _r,08m

5. Considerando a) macroporos = poros com diâmetro maior do que 100 11m, b) mesoporos = poros
com diâmetro na faixa 30 - 100 11m, c) microporos = poros com diâmetro menor do que 30 11m,
calcule a porcentagem do volume desses poros para dois solos A e B caracterizados pelas curvas
de retenção abaixo.

e(%)
-
- 1,4 0,6
1,2
0,4
0,8
1,0
0,2
,
-
--B . 'C (m)
- -_s~lo1,6
I

---- .•. -
50r----
~ ___
10- ,
20~-

6. Três tensiômetros são instalados num perfil de solo homogêneo, como mostra a figura a seguir.
Pergunta-se
a) Qual o valor do potencial mátrico em A, B e C?
b) Qual o valor do potencial total da solução em A, B e C?
c) Onde o conteúdo de água (solução) é menor: em A, B ou C?
d) Entre B e C, a solução está se movendo para cima ou para baixo?
Dinâmica da Agua no Solo' 155

O,IOm

0,30 m

superficie do solo
nível de referência
0,40m

0,30m

0,30 m

7. Duas parcelas iguais de dois solos A e B, cujas curvas de retenção são mostradas a seguir, são
cultivadas com uma mesma cultura. Assumindo que: a) em ambas as parcelas a
evapotranspiração seja a mesma e constante com o tempo; b) em ambas as parcelas sempre se faz
irrigação quando o solo atinge um valor médio de </J", = -300 kPa, pede-se comparar o conteúdo
de água volumétrico e na camada irrigação dos solos das duas parcelas num mesmo gráfico de e
versus tempo, indicando os tempos de irrigação por flechas.

e (%).
30 - - --
....
....
,
\
\
\
\
\
\
20 - \
\
\
\
\

,,,
" solo A
\

10 ,
............

---

o 0,1 0,2
156 • Medida dos Potenciais da Solução no Solo

8. No esquema da figura abaixo, não está havendo movimento de solução entre os pontos A e B.
Qual é o valor de H se o medidor de vácuo está lendo 30 kPa? (obs.: se o inedidor de vácuo for
desconectado, sua leitura é OkPa)

- , - / de vácuo

r'l --)~ Ir:~


I -1-
°,111
1
2 0,3 m
y
.. medidor
superfície do solo

0,5 m

----- -~-----~WB------
9. Os dados da tabela abaixo representam uma curva de retenção da água em um detenninado solo,
obtidos por meio de funis de placa porosa e câmaras de pressão com placa porosa.

Tensão (m) Umidade


Umidade
150,000
0,384
0,266
0,302
0,299
0,321
50,000
30,000
0,264
10,000
0,253
0,254
0,423
0,408
8,000
5,000
3,000
0,550
2,000
0,484
0,462
0,528
0,252
1,000
Tensão
0,441
0,507
0,544
0,548 (m) (m3.m-3)

a) Plotar estes dados num papel semi-log (8 vs 1m) e ajustar os pontos numa curva.
b). Calcular as tangentes d8/dr e desenhar a curva da frequência de tamanho dos poros (Figura
6.11).
c) Interprete os resultados e elabore uma conclusão sucinta no que respeita à condução, à
redistribuição e à retenção de água neste solo.

10. Até que valor máximo de leitura H funciona o tensiômetro com manômetro de mercúrio instalado
no campo confonne a figura seguinte, sabendo-se que Pa1m = 105 Pa, hB + H + hc= 1,0 m, hc= 0,2
meZ=l,Om?
Dados: psol = 1000 kg m-3 e PHg = 13600 kg m-3
Dinâmica da Agua no Solo • 157

. J
VII

MOVIMENTO DA ÁGUA NO SOLO

1. INTRODUÇÃO
Antes de estudar este capítulo, recomendamos a leitura do apêndice II do livro àqueles não
familiarizados com a análise vetorial, principalmente a parte correspondente aos conceitos de
gradiente de um campo escalar e divergência de um campo vetoria!. Recomendamos também, neste
momento, a leitura do item 1 do apêndice deste capítulo que trata, resumidamente, de aspectos
fundamentais da hidrodinâmica.
Até agora, estudamos a água em equilíbrio e qual sua tendência ao movimento. Para
descrever como ela se movimenta no solo, precisamos utilizar uma equação que quantifique o
processo. Para tanto, para que toda e qualquer influência sobre o movimento possa ser considerada,
é necessária a utilização das chamadas equações jenomenológicas de Onsager, que têm origem na
terrnodinâmica dos processos irreversíveis. Mais tarde, vamos abordar um pouco este assunto.
Antes, porém, vamos descrever duas equações muito importantes que quantificam o movimento da
solução no solo sob condição isoténnica: a equação de Darcy, para solos saturados, e a equação de
Darcy - Buckingham, para solos saturados e não saturados.

2. EQUAÇÃO DE DARCY
No século XIX, no ano de 1856, o engenheiro hidráulico Henry Darcy -realizou uma
experiência sobre infiltração vertical de solução (= água comum) em filtros (colunas) de areia
homogênea sob condições de saturação. A Figura 7.1 mostra o diagrama esquemático do arranjo
experimental por ele utilizado.
Com esse arranjo experimental, após atingida a condição de equilíbrio dinâmico, quando o
valor da vazão Q não variava mais com o tempo, Darcy obteve as seguintes conclusões:
a) A vazão Q, isto é, o volume de solução que atravessa a coluna por unidade de tempo, é
proporcional à área A de sua secção transversal, em símbolos:
Q a A. (1)
160 • Movimento da Agua no Solo

b) A vazão Q é proporcional à diferença entre as cargas piezométricas (h 1 - h2) que ahlam nas
extremidades da coluna:

Q CX (h, - h2 ). (2)

c) A vazão Q é inversamente proporcional ao comprimento L do filtro de areia:


1
Qcx-. (3)
L

Ora, quando uma grandeza é simultaneamente proporcional a várias outras, é também proporcional
ao produto delas. Assim, a combinação das três conclusões de Darcy resulta em:

Qcx A hl -h2 (4)


L

Substituindo, então, o símbolo de proporcionalidade a da equação (4) por uma constante de


proporcional idade K, obtém-se a famosa fónnula ou equação de Darcy, também chamada por
muitos autores de lei de Darcy:

Q=KA h, -h2 (5)


L
z

I
~

,
eI a o
ti tela
tela L
ifiP1 o o medir a vazão Q
a 1 o graduado para
rI
ifig,
j I
I to,;,;""
ZIh-W fc,

y
referência gravitacional

Figura 7.1 Diagrama do arranjo experimental utilizado por Darcy.

Pela equação (5), portanto, K é uma propriedade do meio poroso, que traduz a rapidez com
que determinado líquido atravessa esse meio. Por exemplo, se reproduzinnos a Figura 7.1 para duas
colunas (filtros) idênticas, mas uma com areia grossa e outra com areia bem fina, o valor de K da
primeira deve ser bem maior do que o da segunda, isto é, sob condição de saturação, a areia grossa
deve conduzir mais facilmente o líquido do que a fina. Como, no experimento de Darcy, o líquido
utilizado foi água, ele chamou esta constante de condutividade hidráulica.
Dinâmica da Agua no Solo· 161

2.1 Generalização da equação de Darcy

Vejamos, agora, como se pode generalizar a equação obtida por Darcy em 1856, à luz dos
conhecimentos sobre os potenciais da solução e a análise vetoria!. Para facilitar o entendimento,
vamos subdividir a discussão em itens.
1. É fácil perceber que, para o arranjo experimental da Figura 7.1, a carga piezométrica hj é igual
ao que defmimos no capítulo V como potencial total da solução ep, I (em tennos de altura de
líquido) na extremidade superior do filtro de areia; h2' similannente, é igual ao potencial total da
solução <Pt2 na extremidade inferior do filtro. Como, sob condições de saturação e para a
situação da figura, <Pt =<Pp +<Pg, então, o termo

hl - h2 <P/I - <P'2 _ <P/I - <P/2

L L

pode ser interpretado como o gradiente do potencial total da solução na direção vertical,
variação do escalar com a distância vertical, que, em termos infinitesimais e pelo seu caráter
<Pt

vetorial, deve ser escrito como (J<p;CJz) k. Fisicamente, este gradiente representa a força que
atua na unidade de massa (ou volume) de solução fazendo-a mover (ver item 3.2 adiante).
Observe também (Figura 7.1) que z representa a coordenada vertical de posição.
2. Se dividirmos ambos os membros da equação (5) por A, transfonnamos seu membro da esquerda
numa vazão por unidade de área, isto é, num volume de solução que passa verticalmente para
baixo (se hj > h2) ou para cima (se h2 > hj) pela unidade de área da secção transversal da
coluna, por unidade de tempo. Constitui-se, portanto, num vetar qz de módulo igual a Q/A, que
denominaremos de densidade defluxo.
3. De acordo com o conceito do vetar gradiente de um escalar (apêndice II), no presente caso em
que o escalar é <Pt, seu sentido é o dos <Pt crescentes; no caso da Figura 7.1, se ep'l > <P'2 ' seu
sentido é para cima, e se <Pt2 > <Ptl ' para baixo.

4. Pelas considerações dos itens (2) e (3), os vetores q z e (Jep;CJz) k são colineares (encontram-se
sobre uma mesma reta), mas de sentidos opostos.
5. Considere que o meio com relação a K seja isotrópico, ou seja, que K não dependa da direção
dentro do meio, sendo portanto um escalar.
6. Pelas considerações vistas até o momento, conclui-se que o vetor ij z possui o mesmo módulo, a
mesma direção, mas sentido oposto ao do vetor K (d<PICJz) k , porquanto

- =_K°<Pt k (6)
qz oz'

o sinal negativo justificando, como sabemos, os sentidos opostos dos vetores qz eK (J<PICJz) k .

7. A equação (6), portanto, que é idêntica à equação (5) mas mais bem elaborada matematicamente,
é válida para a quantificação do movimento da solução através de um meio poroso isotrópico,
apenas para um arranjo experimental ou uma situação em que se tenha certeza que a
movimentação se dá na direção vertical (direção z), que é o caso do experimento de Darcy. No
caso mais geral, quando as três dimensões precisam ser consideradas, a equação (6), ainda para
meio isotrópico com relação a K, pode ser generalizada para
162 • Movimento da Agua no Solo

q=-KV'" '1'1 , (7)

sendo que, agora, q é o vetor densidade de fluxo em qualquer direção no espaço e Ve/J, o vetor
resultante dos componentes cartesianos triortogonais do vetor grãd e/JI; de mesma direção e
sentido oposto que o vetor q .

8. Portanto, reenfatizando, para meios isotrópicos com relação a K, os vetores q e Ve/Jr são sempre
colineares, fazendo com que q seja sempre normal às superficies equipotenciais e/Jt = constante.
No caso do movimento na direção vertical, como acontece com o experimento de Darcy
(equação 6), a visualização desta perpendicularidade do vetor q com as superficies
equipotenciais é bastante clara, posto que a superficie da extremidade superior da coluna de areia
é a própria superficie equipotencial e/Jt} = constante, e a superficie da extremidade inferior da
coluna a própria superficie equipotencial e/Jt2 = constante.
9. A equação (7) pode ser generalizada mais ainda, e ser estendida para meios anisotrópicos (ou
aleotrópicos) com relação a K, meios nos quais K varia com a direção no seu interior. Para tais
meios, a direção de q não é normal às superficies equipotenciais. No entanto, este assunto de
anisotropia não será abordado neste livro. Aos mais interessados, recomendamos a leitura do
capítulo 9 e das notas 15 e 16 do livro de Childs (1969), dentre outros.

3. EQUAÇÃO DE DARCY-BUCKINGHAM
A equação de Darcy, como acabamos de ver, foi desenvolvida para quantificar o movimento
de um líquido que satura um meio poroso. A condição mais comum, entretanto, do meio poroso de
nosso interesse, o solo, não é aquela em que seus poros estejam sempre saturados.
O primeiro trabalho de que se tem notícia que apresenta uma equação que quantifica o
movimento da solução, em condição de solo não saturado, é o de Buckingham (1907). A despeito
das falhas e contradições, muito bem levantadas por Corey e Klute (1985) a respeito deste pioneiro
trabalho do início do século XX, seu autor teoriza uma equação a qual seria escrita, na linguagem de
hoje, como

q = -K(e)V e/Jm (e), (8)

em que q é a densidade de fluxo da solução; K( e ) a função condutividade hidráulica; e/Jm( fJ) a


função potencial mátrico, e eo conteúdo da água volumétrico no solo. Portanto, foi Buckingham
(1907) quem introduziu na ciência do solo as funções e/Jm = e/Jm (e) e K=K (e) que, na ocasião, ele
as chamou de "potencial capilar" e "condutividade capilar", respectivamente. A equação de
Buckingham (equação 8), porém, como se vê, é válida apenas para o movimento da solução no solo
na direção horizontal ou para o caso no qual o efeito da gravidade é desprezível.
Foi Richards (1928) quem defmiu um potencial total como sendo igual à soma do potencial
capilar de Buckingham e o potencial gravitacional e/Jg, e escreveu a equação do movimento da
solução como

q =-K(e)Ve/Jr' (9)

De acordo com este autor, portanto, e/Jr = e/Jm + e/Jg para solo não saturado. Sabemos, entretanto, hoje,
que e/JI= e/Jp + e/Jm + e/Jn + e/Jg e que, para solos não-expansíveis em condições normais de medida,
Ve/J,=Ve/Jm+Ve/Jg'
Dinâmica da Agua no Solo· 163

À semelhança da equação (7), verifica-se facilmente que as equações (8) e (9) implicam na
isotropia do solo não saturado com relação a K( fJ). Além disso, a interpretação fisica dos parâmetros
e do sinal negativo destas equações é idêntica à dos parâmetros e do sinal negativo correspondentes
da equação de Darcy, com a diferença de que, agora, o solo é não saturado. A propósito, observe a
semelhança entre as equações (7) e (9). Na realidade, a equação (7) é um caso particular da
equação (9), visto que, quando o movimento da solução é sob condição saturada 8 = 8s (conteúdo de
água de saturação), K( 8s) = Ko (condutividade hidráulica do solo saturado), cjJ, = cjJp +cjJge a
equação (9) se toma idêntica à equação (7).
De acordo com Swartzendruber (1969), o próprio Richards que chegou à equação (9) sugeriu,
no VII Congresso Internacional de Ciência do Solo, realizado em Madison (Wisconsin, EUA) em
1960, que à equação (9) fosse dado o nome de equação de Buckingham, mas que ele,
Swartzendruber, embora concordasse com Richards, gostaria que figurasse também o nome de
Darcy no nome da equação, isto é, que ela fosse chamada de equação de Darcy-Buckingham,
porque com isso dar-se-ia o merecido crédito a Buckingham pela sua grande contribuição à
equação (9) e também refletir-se-ia a prática que se fazia (e ainda se faz) quando esta equação era
citada, com relação à sua analogia com a equação de Darcy. Entretanto, o próprio Swartzendruber
em 1977 pôde verificar (e ainda hoje se verifica) que a maioria dos fisicos do solo não usavam o
nome de Buckingham quando se referiam à equação para fluxo em solo não saturado, e preferiam
dizer apenas que estavam aplicando a equação de Darcy para a condição não saturada. Portanto,
pouco impacto parece ter causado na comunidade científica todo o esforço de Swartzendruber e
também de Richards em recomendar o uso do nome de Buckingham na referência à equação (9).
Este fato, segundo o próprio Swartzendruber (1977), parece ter ocorrido, curiosamente, para
punir Buckingham por não fazer menção alguma sobre qualquer relação entre sua equação (8) e a
lei de Darcy. De qualquer maneira, achamos razoável a ponderação de Swartzendruber pela
relevância indiscutível do trabalho de Buckingham (1907). Por isso, daqui para frente, sempre que
nos referirmos à equação de Darcy-Buckingham (equação 9), estamos considerando tanto a
condição saturada como as não saturadas.
Discutamos, agora, um pouco mais os termos da equação de Darcy-Buckingham.

3.1 Densidade defluxo: q

A densidade de fluxo, como já vimos, representa a vazão de solução por unidade de área de
secção transversal de solo. Dimensionalmente, verifica-se que sua unidade é de velocidade {L.T-l}.
No entanto, ela não representa a velocidade real com que a solução se move nos poros do solo, uma
vez que a secção transversal disponível para o fluxo é representada pela secção transversal de
líquido (Figura 7.2). Assim, enquanto o módulo da densidade defluxo q é dado por

(10)

volume de solução Vsal por unidade de área de solo A e de tempo !, o módulo da velocidade real
média v dentro do solo é dado por

v=--,v,u/

Aso"!
(11)

sendo Asal a área de líquido (parte hachurada mais escura da Figura 7.2). Observe que esta segunda
definição é mais real, wna vez que onde existe partícula sólida e ar não está havendo movimento de
solução. O adjetivo média, por sua vez, está sendo usado devido à heterogeneidade da geometria
164 • Movimento da .4gua no Solo

dos poros que confere em cada ponto (em cada poro, do ponto de vista microscópico) dentro do solo
uma velocidade real diferente.

sólido ar

I
solo saturado
solução
\
solo não saturado

Figura 7.2 Poros idade e conteúdo de água de área.

Outro fato importante a ser considerado é o de que enquanto a densidade de fluxo é


relativamente fácil de ser medida, o mesmo não acontece com a velocidade real média, devido à
dificuldade de se medir Asa/' Na busca de obter v a partir de q, dividamos a equação (10) pela
equação (11). O resultado é o que se segue:

v =----.!l. (12)
A sol IA'

sendo que Asa/A representa a fração da área de solo que é ocupada pelo líquido em movimento e
que chamaremos de porosidade de área para a situação de solo saturado, e de conteúdo de água de
área no caso em que o movimento se dá numa condição não saturada. Por outro lado, se
considerannos um cilindro de solo como o visto de topo na Figura 7.2, cuja área de secção
transversal seja A, mas o comprimento L seja suficientemente pequeno, de tal maneira que seja igual
ao comprimento do caminho seguido pela solução (LsoD, o que necessariamente implica em que Asa!
seja a mesma ao longo de L, então

Asol = VWI (numericamente) (13)


A V '

ou seja, a) no caso de solo saturado, a porosidade de área é numericamente igual à porosidade


volumétrica a, e b) no caso de solo não saturado, o conteúdo de água de área é numericamente igual
ao conteúdo de água volumétrico 8, uma vez que, sob estas condições,

V"" _ A.ml.L.ml
(14)
V A.L

e, como Lso! = L, eles podem ser cancelados na equação (14), resultando a equação (13).
É por isso que se diz que, para fluxo em solo saturado
Dinâmica da Agua no Solo· 165

li =!I (numericamente), (15)


a
enquanto que, para fluxo em solo não saturado

li =!l... (nwnericamente), (16)


e
numericamente porque a unidade correta de v é obtida a partir da equação (12).

3.2 Gradiente de potencial total da solução

Acreditamos que o gradiente de uma grandeza escalar será suficientemente explorado no


apêndice lI, de maneira que vamos, neste item, apenas analisá-lo do ponto de vista da sua análise
dimensional para o caso em que a grandeza escalar é o potencial total da solução 1Jr

Dimensionalmente, quando se expressa o potencial em termos de energia por unidade de


volwne:

gra d.lente = -------


energia I volume força [N m-3],
distância volume

porque energia/distância = força.


Por outro lado, utilizando a unidade de energia por massa para potencial, resulta, para
gradiente, a unidade

gralente
d' força [N k g.-1]
= energia I massa - ---
distância massa

Por este motivo, sendo a unidade do gradiente de potencial total a de força/volume ou


força/massa e também porque o vetor q possui a mesma direção mas sentido oposto do vetor
~
grad 1J1' diz-se que
- ~
F = - grad 1Jt ,

isto é, a força que atua na unidade de massa (ou volwne) de solução fazendo-a mover é de mesmo
~
módulo, mesma direção, mas de sentido exatamente oposto ao do vetor grad 1Jr

Além disso, como vimos no item 4 do capítulo V, especificamente na equação (77), a divisão
da energia/massa pela aceleração da gravidade g resulta nwna altura de solução para 1J/, dando para
~
grad 1J/ e, evidentemente, também para F, um caráter adimensional:

gra d·lente = -------


energia I massa.g = ----
distância [a d'rmenSlOna
. 1].
distância distância

3.3 Condulividade hidráulica

Para bem entender o parâmetro condutividade, achamos indispensável que se tenha alguma
noção a respeito da viscosidade de wn fluido. Isto pode ser obtido pela leitura do item 2 do apêndice
deste capítulo.
166 • Movimento da Agua no Solo

Além disso, devemos esclarecer que, quando se diz condutividade hidráulica de um solo, está
implícito que se está considerando como meio poroso uma amostra de solo e como fluido que nela
se move uma solução aquosa (daí o adjetivo hidráulica). Caso contrário, ou de uma maneira
generalizada, devemos dizer condutividade de um meio poroso para um fluido newtoniano, ou
simplesmente condutividade.
Achamos também importante reafIrmar que a equação (9) pode ser escrita também como
-1
q = -K(8 )grad qJ, (17)

ou

q = -K(8) dqJ, (18)


ds s,
A

sendo s o vetor unitário numa direção qualquer s do vetor gradiente no espaço. Observe que a
diferença entre as equações (9), (17) e (18) é apenas simbológica, uma vez que
-1
grad qJ, = V qJ, = (dqJ, / ds)s:quando se usa V qJ, está implícita a utilização de um sistema de
coordenadas cartesianas (ver o item 13 do apêndice 11).
Passando a discutir a condutividade, iniciemos por analisar o seu signifIcado fIsico. Para
tanto, se considerarmos na equação (18) que dqJ/ds = 1 unidade de força/volume, então, q = K(8),
numericamente. Com isso, podemos dizer que a condutividade é igual (numericamente) ao volume
de um fluido que atravessa, por unidade de tempo, 1 unidade de área de uma amostra de um meio
poroso sob um gradiente de potencial total de 1 unidade de força/volume. Isto nos leva a concluir
que a condutividade é wn coefIciente que expressa a facilidade com que um fluido é transportado
através de um meio poroso e que depende, portanto, tanto das propriedades do meio como das
propriedades do fluido.
Como o meio poroso de nosso interesse é o solo, podemos citar como suas propriedades mais
importantes a distribuição de tamanho e forma de suas partículas, a tortuosidade, a superficie
específIca, a porosidade, enfIm, todas as propriedades que têm reflexo na geometria porosa do solo.
A propriedade relevante do fluido que afeta a condutividade é a viscosidade TJ, e a afeta de
maneira inversa, isto é, para uma mesma matriz porosa, quanto maior TJ, menor a condutividade.
Vejamos. Incluindo TJ na equação de Darcy-Buckingham como um fator separado, é claro que a
equação (9) seria reescrita como
_ k-
q =--\7'" (19)
TJ '1', '

com TJ do fluido no denominador, para mostrar que quando ela aumenta, q deve diminuir para um
mesmo V qJ, , o mesmo acontecendo com a razão klTJ, que é igual a K( 8); ou seja, o aumento de TJ

faz com que K( 8) diminua. O azeite de oliva, por exemplo, à temperatura de 298 K, tem um valor
de TJ que é quase 70 vezes o valor de TJ da água à mesma temperatura, sendo assim é muito mais
viscoso do que a água. Se pusermos estes dois fluidos a moverem-se num solo sob um mesmo V qJ, ,
qual deles se movimenta mais rapidamente? A água, evidentemente, por ter uma viscosidade muito
menor que o azeite. Por outro lado, como a condutividade depende de propriedades do meio e do
fluido e sendo TJ a propriedade referente ao fluido, é evidente que k é a propriedade referente ao
meio. Assim, independentemente do fluido utilizado, a equação (19) mostra que, para um dado
meio, deve-se obter sempre o mesmo valor para k. Por ser uma propriedade inerente do meio, este
Dinâmica da Agua no Solo· 167

fator k tem sido chamado de permeabilidade intrínseca e tem dimensão de área. Isto pode ser
facilmente verificado a partir da análise dimensional da equação (19): expressando cjJt em unidade de
energia por volume, resulta para V cjJ{ a unidade de força por volume [F L-3] e, sendo a dimensão de
fJ [F L-2 TJ e de q [L r-'], só pode resultar para k a dimensão [L2], para que os membros da
equação (19) tenham a mesma dimensão. Deve ser enfatizado, no entanto, que esta unidade de área
para k é, na realidade, [L4] de fluido por [L2], de meio poroso; por isso, se o meio poroso for um
solo e o fluido uma solução aquosa nele em movimento, a unidade de k no Sistema Internacional é
m4 solução/m2 solo. Vejamos o porquê.

m m3 solução
q ----7 - , mas na realidade -----
s (m2 solo)s

V cjJf ----7 ~ ' mas na realidade 3 N


m m solução

1J
Ns ' mas
-7 -2 na rea l'Idade ----- Ns
m m2 solução

Fazendo, novamente, a análise dimensional da equação (19) usando estas "unidades mais
reais", verifica-se, então, que [L2] equivale a m4 solução/m2 solo. Portanto:

k ----7
m4 solução
m 2 solo

ou

-7 m so uçao --2m ---


solo
k 2 I - [m2 SOlUÇãO]

Pela sua unidade, a grandeza k tem que ser, portanto, alguma função de

Ora, Aso' é função direta de 8 e AsolA é numericamente igual a 8 (ver equação 13).
Conseqüentemente, k é também função direta e não linear de 8. Nestas condições, para um mesmo
fluido com fJ constante, é claro que

K=K(8), (20)

estando implícito nesta relação funcional (20) que K é função direta de 8 : quanto maior 8, maior K.
Assim, quando 8= 8s (conteúdo de água de saturação = porosidade do solo), o fluxo é sob condição
saturada e o valor de K é o máximo. À medida que 8 diminui, K diminui de maneira acentuada,
normalmente de forma exponencial. Para fluxo em solo saturado, o valor de K é, portanto, uma
constante (valor máximo de K), simbolizada por Ko.
168 • Movimento da ..4gua no Solo

4. REGRA PRÁTICA PARA DESIGNAR O SENTIDO DOS MOVIMENTOS


HORIZONTAL E VERTICAL DA SOLUÇÃO NO SOLO
Considerando um solo homogêneo de comprimento L, com uma diferença de potencial total
da solução /).if>r entre suas extremidades, pode-se escrever a equação (18) de uma maneira
simplificada (sem a notação vetorial) como

q=_K(e)/).if>r (21)
L .

Escrevendo a equação (21), para a direção horizontal, como

q =-K(e -
)if>,D -if>/ , (22)

sendo if>,D = potencial total da solução na extremidade direita do comprimento L e if>,E = potencial
total da solução na extremidade esquerda do comprimento L; e, para a direção vertical, como

q =_K(e)if>,c -
-if>/ , (23)

sendo if>rc = potencial total da solução na extremidade superior (cima) do comprimento L e if>/ =
potencial total da solução na extremidade inferior (baixo) do comprimento L, utilizaremos a
seguinte convenção de sinal para designannos o sentido do movimento da solução:

q POSItIVO
.. {sentida
sentido do movimento horizontal = paracima
vertical = para a direita

q negatIVO
. {sentida
sentido do movimento vertical = parabaixo
horizontal = para a esquerda

isto é, (a) utilizando a equação (22) - movimento horizontal - se q for positivo, seu sentido será da
esquerda para a direita; se negativo, da direita para esquerda; e (b) utilizando a
equação (23) - movimento vertical- se q for positivo, seu sentido será de baixo para cima; se
negativo, de cima para baixo.

Exemplos Ilustrativos
1. Se o experimento de Darcy fosse desenvolvido posicionando as colunas de areia inclinadas, em
vez de na vertical, suas conclusões seriam diferentes?
Solução:
A figura a seguir é o mesmo diagrama do arranjo experimental de Darcy, porém com a
coluna inclinada. Para meios isotrópicos com relação a K, como vimos, q é sempre nonnal às
superficies equipotenciais if>r = constante. Na figura são mostrados dois piezômetros instalados
Dinâmica da Agua no Solo· 169

nos pontos A e B da extremidade inferior da coluna, os quais mostram diferentes potenciais de


pressão (epPA e eppB), mas idênticos potenciais totais (ep'2 ). Isso ocorre, evidentemente, para todos
os pontos da superficie S2, ou seja, a superfície S2 é uma superfície equipotencial. É fácil
perceber, também, que o mesmo acontece na superfície SI da coluna, e em qualquer ponto dela,
ep, = constante. Portanto, a linha de fluxo só pode ser ao longo do comprimento L da coluna.
I

Conseqüentemente, se Darcy tivesse desenvolvido seu experimento com suas colunas inclinadas,
teria chegado às mesmas conclusões, e obteria a mesma equação (5).

referência gravitacional Y

2. Qual o valor da condutividade hidráulica da amostra de solo homogeneamente acondicionada na


coluna a seguir, sabendo-se que a área interna da secção transversal da coluna é 0,005 m2 e que,
após atingida a condição de equilíbrio dinâmico, a vazão obtida foi de 2,5.10,7 m3 S,I?

Solução:

Em primeiro lugar, como é fácil perceber, o fluxo de água na coluna está se dando numa
condição de saturação. A figura à esquerda é a que mais se aproxima do arranjo experimental no
laboratório (condições reais), e a da direita o esquema mais comumente utilizado de
representação das condições reais. Em ambas as figuras, o pequeno triângulo com um de seus
vértices tocando a superfície do líquido indica que esta superfície está constantemente sendo
mantida na mesma posição durante o experimento.
170 • Movimento da Agua no Solo

PrrF ..
i
0,4m
V'"l 0,8 m
ou
___
L_

---r --r-
0,4m 0,4 m

_L "-'1- -------- JY: __


1 RO


I

Considerando, então, os potenciais nos dois pontos extremos da coluna, no ponto de cima C e
no ponto de baixo B, tem-se, pela figura:
Ponto C: <pg = 0,4 m; <pp = 0,4 m ~ <p, = 0,8 m;
Ponto B: <Pg = 0,0 m; <pp = 0,0 m ~ <p, = 0,0 m;
Seguindo a regra prática para designar o sentido do movimento (item 4), vemos que neste
caso, como <p, (C) > <p, (B), o fluxo é para baixo, pelo que

º= 2,5.10-7
q=-A 0,005 = -5 . 10-5 fi S-I

A partir da equação (23)

_ 5.10-5 = -K o 0,8 - 0,0


0,4

ou

Ko = 2,5. ]0-5 m S-I ou 90 mm HI.

3. Uma amostra de solo é homogeneamente acondicionada numa coluna e montada no laboratório


confonne o esquema a seguir. Qual o valor da condutividade hidráulica se, depois de atingida a
condição de equilíbrio dinâmico, o valor da densidade de fluxo obtida foi de 5.10.6 m S-I?
Dinâmica da Agua no Solo· 171

c
------r-- ~ s - F 0,2m
-- -----------------l---------------r---
s
o -
L-r-
o 0,2 n
0,41m
____ ~
O 'V l --------J--- ou 1
0,4 m J
B t
0,2m
placa porosa -r \l

Solução:
Também neste caso o esquema da direita está representando as condições reais (esquema da
esquerda). Observe que em ambas as extremidades da coluna está se aplicando uma tensão de
água via placa porosa (ver capítulo anterior), pelo que o fluxo de água nesta coluna está se dando
numa condição de não saturação. É importante lembrar também que, para a situação não
saturada ser atingida, a coluna precisa permitir a entrada de ar, precisa ser perfurada.
Pela figura:
Ponto C: = 0,0 m;
<pg <Pm = - 0,2 m ::::} = - 0,2 m;
<p,

Ponto B: = -0,4 m;
<Pg <pm = - 0,2 m ::::} = - 0,6 m;
<p,

Como o sentido do movimento é para baixo,

-5.1O-6=-K(ti> )-O,2-(-O,6) __ K(ti> )


'rm 04, 'rm '

ou, como <Pm = -0,2 m ao longo de toda a coluna,


K(-0,2) = 5 .10-6 m S-I ou 18 mm HI.

5. EQUAÇÕES FENOMENOLÓGICAS DE ONSAGER

Mostremos agora, como dissemos na introdução deste capítulo, o que são as equações
fenomenológicas de Onsager, e a seguir o seu caráter geral.
Para iniciarmos, comecemos com o caso mais simples do movimento da solução num solo
saturado. Sob esta condição, só é válido dizer que a equação de Darcy-Buckingham quantifica o
movimento da solução no solo, e que este movimento se dá em resposta apenas ao gradiente de
potencial total da solução, se a temperatura do sistema for constante. Entretanto, suponha que,
enquanto a solução esteja se movimentando sob seu gradiente de potencial total, se aplique um
gradiente de temperatura no sistema com conseqüente fluxo de calor. Pergunta-se: nesta situação, o
movimento da solução ainda pode ser descrito adequadamente pela equação de Darcy-
Buckingham? Isto é, pode-se considerar que o fluxo da solução em solo saturado é independente do
fluxo de calor? Embora comprovado pela experiência (por exemplo, Cary, 1966), podemos dizer
que, intuitivamente, a resposta a esta pergunta é não. Portanto, sob condições não isoténnicas em
solo saturado, a equação de Darcy-Buckingham deixa de ser adequada e algo mais geral é
necessário.
172 • Movimento da Agua no Solo

Para tanto, utilizando a idéia de Onsager, um fisico norueguês que publicou seu trabalho já há
mais de setenta anos, especificamente em 1931, no caso específico do movimento da solução em
solo saturado sob a influência de wn gradiente de temperatura podemos generalizar a equação de
Darcy-Buckingham como

q =-KoVcjJt -K'VT, (24)

incorporando um novo coeficiente K' de um possívél efeito do gradiente de temperatura (VT) sobre
o fluxo da solução. Evidentemente, deve existir uma outra equação, similar à equação (24), para o
fluxo de calor:

qc =-K(T)VT-K~VcjJl' (25)

em que qc = densidade de fluxo de calor, K(T) = condutividade ténnica, função da temperatura T,


VT = gradiente de temperatura, e K~ = coeficiente de um possível efeito do gradiente de potencial
total da solução sobre o fluxo de calor.
Com o intuito de simplificar e racionalizar a notação, vamos utilizar, com subscritos, uma
única letra J para as densidades de fluxo, wna única letra X para os gradientes e uma única letra L
para os coeficientes de translnissão. Não vamos nos preocupar, também, com a notação vetoria1.
Assim, a equação (24) seria reescrita como a seguir:

J, =L'IX, +L,zXz, (26)

sendo Jj a densidade de fluxo de 1 (= solução); Xj' o gradiente de 1 que promove o movimento de


1; Lu, o coeficiente que descreve como o fluxo de 1 é influenciado pelo gradiente de 1; L12, o
coeficiente que descreve como o fluxo de 1 é influenciado pelo gradiente de 2 (= temperatura); X2,
o gradiente de temperatura.
Igualmente, com esta nova notação, a equação (25) se transforma em

Jz =LZIX1 + LnXz, (27)

sendo J2 = densidade fluxo de calor.


Se o movimento da solução for em solo não saturado, é possível agora que o fluxo da
solução seja influenciado pelo movimento do ar. Com isso, à equação (26) seria acrescido mais um
tenno, isto é,

JI =L'IX1 + L12Xz + L13X3, (28)

sendo L 13 = coeficiente que descreve como o fluxo de solução (1) é influenciado pelo gradiente de
potencial total do ar no solo (3), e X3 = gradiente de potencial total do ar. De maneira idêntica, o
termo L23X3 seria acrescido à equação (27):

JZ =Lz,X, + LnXz + L23X3, (29)

e a equação para o fluxo de ar seria

J3 =L31X1 +L3ZXZ +L33X3, (30)

sendo J3 = densidade de fluxo de ar.


Os coeficientes L, com seus subscritos, é que são chamados coeficientes jenomenológicos de
Onsager. Observe que sempre o primeiro subscrito se refere ao componente que se move e o
segundo ao componente cujo gradiente está sendo considerado.
Dinâmica da .Água no Solo· 173

Se o nosso interesse for, no entanto, estudar o movimento do componente água no solo sob
condição não saturada, mais termos serão necessários, pois é também intuitivo e também
demonstrável experimentalmente que, além do fluxo de calor, os fluxos dos outros componentes da
solução no solo que não a água também devem interferir no seu movimento. Assim, usando o
mesmo raciocínio anterior, se forem considerados os fluxos do componente água (= componente 1)
e de mais outros dois solutos (componentes 2 e 3), além do fluxo de calor (componente 4) e do
fluxo de ar (componente 5), teríamos um sistema com cinco componentes, tal que a densidade de
fluxo J] do componente 1 seria dada por

(31)

em que:
gradiente de potencial total do componente água no solo (= componente 1)
gradiente de potencial total de um dos solutos (= componente 2)
gradiente de potencial total do outro soluto (= componente 3)
gradiente de temperatura (= componente 4)
gradiente de potencial total do ar no solo (= componente 5)
coeficiente que descreve como o fluxo do componente água (componente 1) é influenciado
pelo gradiente de potencial total do próprio componente água (X])
coeficiente que descreve como o fluxo do componente água (1) é influenciado pelo gradiente
de potencial total de um dos solutos (X2)
coeficiente que descreve como o fluxo do componente água (1) é influenciado pelo gradiente
de potencial total do outro soluto (X3)
coeficiente que descreve como o fluxo do componente água (1) é influenciado pelo gradiente
de temperatura (X4)
coeficiente que descreve como o fluxo do componente água (1) é influenciado pelo gradiente
de potencial total do ar (X5).

Igualmente, para os outros componentes:

(32)

Em termos gerais, portanto,


n

Ji = LLijXj, (33)
j=1

sendo:

Ji = densidade de fluxo do componente i


Lij = coeficiente de Onsager, em que i refere-se ao fluxo (do componente i) e j = 1, 2, 3, ..., n ao
gradiente do componente que influi no fluxo de i
~ = gradiente de cada componente j
174· Movimento da Agua no Solo

n = número total de componentes.


Onsager, em seu pioneiro trabalho de 1931, demonstrou, por meio de teoria estatística, que

LU =Lji (34)

recebendo, por este feito, o Prêmio Nobel de Física, em 1959 (Nielsen et al., 1972). Portanto, de
acordo com Onsager, o coeficiente que expressa a influência da força J0 sobre o fluxo de i é igual ao
coeficiente que expressa a influência da força X; sobre o fluxo de j. Por exemplo: no caso do
movimento da solução influenciado pelo gradiente de temperatura ou vice-versa (equações 24 e 25),
pelo teorema de Onsager K' = Ko '.
Não é nossa intenção nos aprofundannos nesta teoria da termo dinâmica dos processos
Írreversíveis. Demos estas pinceladas no assunto somente no que respeita às equações
fenomenológicas de Onsager porque, por meio deste formalismo, todos os possíveis parâmetros que
influenciam o fluxo de qualquer componente são corretamente considerados. De qualquer forma, o
assunto é de inegável relevância, porquanto recomendamos aos mais interessados a consulta de
livros, como o de Prigogine (1961), assim como de alguns artigos mais diretamente relacionados
com sistemas agrícolas, como por exemplo os trabalhos de Dainty (1963), Letey (1968), Groenevelt
e Bolt (1969) e o último item do capítulo 3 do livro editado por Nielsen et al. (1972).
Como nosso maior interesse é a dinâmica da solução no solo, o componente i da
i
equação (33) tem que ser esta solução e, se i = = n = 1, a equação (33) reduz-se para

J] =L1]X], (35)

que é a própria equação de Darcy-Buckingham, na qual Lll é a condutividade hidráulica (solução


aquosa) do solo, X] é o gradiente de potencial total da solução e J] é a densidade de fluxo da
solução. Observe, portanto, que na equação de Darcy-Buckingham não se considera a influência do
fluxo de calor nem do fluxo de ar ou qualquer outro no fluxo da solução; ao se utilizar esta equação,
está implícito que só o gradiente de potencial total da solução é relevante.
No caso da dinâmica do componente água, mesmo sob condição isoténnica, com nenhuma
influência do movimento de ar, a situação é mais complexa devido ao grande número de
componentes da solução e pelo fato do movimento mais importante ser aquele em que o
componente água é transmitido através de uma membrana.
Basicamente, três situações precisam ser analisadas:

1. Ausência de qualquer tipo de membrana ou existência de uma membrana não-semipermeável,


isto é, totalmente permeável à solução.

Neste caso, defmimos a densidade de fluxo do componente água Fag, em relação a um


sistema de referência fixo à matriz sólida do solo, como a soma vetorial da sua densidade de fluxo
de difusão J ag e sua densidade de fluxo convectivo Cag q:

Fag = J ag + C ag q . (36)

Nesta equação: a) Cag é a concentração de água na solução (m3 água/m3 solução) e q a


densidade de fluxo da solução (dada pela equação de Darcy-Buckingham) em relação a um sistema
de referência também fixo à matriz sólida do solo; b) Jag é a densidade de fluxo do componente
água em relação a um sistema de referência fixo ao baricentro do volume de solução que se move.
Ela advém da equação (33), sendo, portanto, dada por
Dinâmica da Agua no Solo' 175

Jag = LagagXag + 2,LagjXj, (37)


j=2

em que Lag ag é a condutividade do solo para o componente água, Xag é o gradiente de potencial total
do componente água e Lagj são os coeficientes que descrevem como o fluxo do componente água é
influenciado pelos gradientes de potencial total~. de todos os outros componentes da solução que
não o componente água.
-
De acordo- com a equação (36), se o componente água se- move no mesmo sentido que a
-...

solução, Fag = J ag + C ag q, e se em sentido contrário, Fag = -J ag + C ag q . Evidentemente, se o


sentido e a intensidade dos movimentos do componente água e da solução forem idênticos, em
relação ao sistema de referência fixo à matriz do solo, então J ag = O e Fag = Cag q , que é o que, de
fato, ocorre na ausência de membrana semi-penneável.

2. Presença de uma membrana semipermeável ideal, impermeável aos solutos e permeável ao


componente água.
Neste caso, como somente o componente água passa através da membrana, é evidente que
Lagj = O e dentro dela q = O, o que transfonna a equação (36), tendo em conta a equação (37), em:

(38)

Assim, a densidade de fluxo do componente água através de uma membrana semipermeável ideal é
dada por uma equação semelhante à equação de Darcy-Buckingham para o componente água, ou
seja, o produto da condutividade da membrana para o componente água pelo gradiente de potencial
total do componente água entre os dois lados da membrana.

3. Presença de uma membrana semipermeável não-ideal, parcialmente permeável ao componente


água e parcialmente permeável à solução.
As membranas celulares das raízes das plantas estão dentro deste tipo de membranas. Neste
caso, a equação que quantifica o transporte isoténnico do componente água é a própria
equação (36), só que agora, à semelhança do caso anterior, não se trata de uma composição de
movimentos como descrito na primeira situação, mas sim de uma computação do transporte líquido
do componente água através da membrana, via mecanismos de convecção e de fluxo de difusão.
Observe que cada termo das equações (36), (37) e (38) tem dimensão de m3 água m-2 solo S-l.
Observe ainda que a igualdade do potencial total If/r do componente água indica uma condição de
equilíbrio, ou sua diferença wna condição de movimento deste componente de onde If/r é maior para
onde If/r é menor, somente quando o movimento se der através de uma membrana semipermeável
ideal, sob condição isotérrnica. Corey e Klute (1985) fazem uma análise crítica muito boa a respeito
da aplicação do conceito de potencial ao equilíbrio e transporte da água, mostrando as muitas
situações em que ele é utilizado erroneamente. Com relação ao transporte da água através de
membranas selnipermeáveis, recomendamos o livro de Nobel (1983).
Mas voltemos ao transporte global da solução no solo, que é nosso maior interesse neste
livro.
176 • Movimento da Agua no Solo

6. EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE PARA A SOLUÇÃO NO SOLO


Até agora, falamos apenas de situações steady-state. A equação de Darcy-Buckingham é uma
equação para condições de steady-state. Em português, este termo é traduzido como regime
estacionário ou equilíbrio dinâmico. Um fluxo ou wna movimentação de um fluido sob condições
de regime estacionário significa que as características do fluxo não variam com o tempo, embora
possam variar com a posição. A maioria das situações na natureza, entretanto, são não estacionárias,
e para descrever uma situação não estacionária (ou transiente), temos que usar a equação da
continuidade. Matematicamente, a equação da continuidade estabelece que não pode haver nem
criação nem destruição de massa, sendo ela a equação de conservação de massa.
Se nos remetennos ao item 14 do apêndice II, no qual explicamos, com detalhe, o conceito de
divergência de um vetor, percebe-se facilmente que a divergência de uma grandeza vetorial ü é a
própria equação da continuidade. Verifiquemos isto para o caso do fluxo da solução através de um
meio: neste caso, o vetar será a densidade de fluxo q e a superficie fechada elementar da
Figura A2.18 do apêndice II um pequeno paralelepípedo de solo, representado a seguir pela
Figura 7.3.
c

F
B
dz
A

qyJ q'y]

,
, •• _ .1 ••• __ H
" D

A
dy

Figura 7.3 Elemento de volume de solo, através do qual solução estájluindo.

Nestas condições, para a direção-y teríamos, de acordo com as equações (43) e (44) do
apêndice II, que o fluxo elementar do vetor densidade de fluxo que entra no elemento de volwne
seria dado por

dcjJentra,y=-qydx dz. (39)

e o fluxo elementar do vetor que sai do elemento por

dcjJsai,y= ( qy + dqy
oy dy r
kr dz.
(40)

Conseqüentemente (ver equação 38 do apêndice II):

+ dcjJsai,y,
dcjJy= dcjJentra,y (41)

sendo dC/Jy= fluxo elementar total do vetor densidade de fluxo na direção-y que atravessa o elemento
de volume.
Substituindo as equações (39) (40) na equação (41), resulta a equação (42) a seguir
Dinâmica da Agua no Solo' 177

dA> = aqy dV (42)


'I'y ay ,

na qual dV = (dx)(dy)(dz) = volume do elemento de volume de solo.


Observe que o fluxo elementar do vetar que entra no elemento de volume representa a vazão
de solução (m3 S·l) de entrada no elemento, e o fluxo elementar do vetor que sai, a vazão de saída do
lemento. Logo, dc/J representa a taxa de acumulação ou perda de solução no elemento de volume de
solo; na direção-y, portanto:

(43)

sendo dv"ol,y o elemento de volume de solução (no elemento de volume de solo dV) proveniente da
densidade de fluxo na direção-y.
Comparando as equações (42) e (43):

a (dVso',y )
---=--dV.
at
aq y
ay
(44)
Foi colocado o sinal negativo na equação (44), pelo fato de o (dv'ol,y)/ o t e o q/o y terem variações
opostas, isto é, quando o (dv'ol,y)/O t > O, oq/oy < O e, quando o (dv"ol,y)/CJt< O, oq/oy > O, ou seja:
a) quando o (dVso1,y)/ot > O, é indicação de que está havendo acúmulo de solução no elemento de
volume de solo com o tempo e, para que haja esse acúmulo, evidentemente, oq/oy< O; e
b) quando o (dVsol)/o t < O, está havendo perda de solução com o tempo, a qual só ocorre com
oq/oy>O.
Igualmente, para as outras direções, teríamos as taxas de acumulação ou perda de solução

êJ(dVso1,x)__ aq x dV (45)
at ax

a(dVso1,z) =_ aqz dV. (46)


at az

A taxa total de perda ou acumulação, portanto, será dada pela soma dos três termos (equações
44,45,46):

(47)

Como dVso1= 8dV, resulta:

(48)

ou
178 • Movimento da Agua no Solo

de - _
-=-"V.q, (49)
dt

que é chamada de equação da continuidade.

Observação: utilizou-se diferencial parcial de e com relação a t porque o elemento de volume, e


portanto as coordenadas x, y e z, pennanecem fixas no espaço, enquanto t varia.
Para melhor compreendermos a equação da continuidade para o movimento da solução,
consideremos que o movimento se dê em uma coluna de solo de comprimento S posicionada numa
direção qualquer s no espaço (Figura 7.4).
s

Figura 7.4 Coluna de solo de comprimento S subdividida em n/alias de comprimentos Lls1, Lls2, ... ,

Lls;, ... , LlsI1'

Nestas condições, a equação da continuidade (49) seria escrita como:


de dq
(50)
dt =- dS'

ou, de forma [mita, como:

-=-- I1q
l1e
(51)
I1t M
ou

l1eM = -l1q . (52)


I1t

Para uma fatia i de solo (Figura 7.4), escreve-se, evidentemente, a equação (52) como:
Dinâmica da Agua no Solo· 179

(53)

ou

(54)

sendo

L1hi variação de armazenagem de solução numa fatia i de solo de comprimento .18& durante
intervalo de tempo L1t
qi-l densidade de fluxo de solução que entra na fatia i durante o intervalo de tempo L1t
qi densidade de fluxo de solução que sai da fatia i durante o intervalo de tempo L1t.

Durante o intervalo de tempo L1t mas no comprimento de solo S, teríamos:

(55)

sendo L1h" portanto, a variação de armazenagem de solução no comprimento S de solo durante o


intervalo de tempo L1t.
Como

!,(qi -qi-J= qn-qo , (56)


i=!

então

(57)

sendo n, evidentemente, o número de fatias que somam o comprimento S de solo, qo a densidade de


fluxo de solução que entra no comprimento S de solo, durante o intervalo de tempo L1t, e qn a
densidade de fluxo de solução que sai do comprimento S, durante o mesmo intervalo de tempo L1t
(Figura 7.4).
Portanto, de maneira prática, podemos dizer que a equação da continuidade (57) diz que "a
variação da armazenagem de solução que ocorre durante um certo intervalo de tempo, num
determinado comprimento de solo, pode ser determinada pela diferença entre a densidade de fluxo
de solução que sai através de uma das extremidades deste comprimento e a densidade de fluxo de
solução que entra na outra extremidade no intervalo de tempo considerado" ou, de maneira inversa,
que "a diferença entre a densidade de fluxo de solução que sai através de uma das extremidades de
um determinado comprimento de solo e a densidade de fluxo de solução que entra na outra
extremidade, durante um certo intervalo de tempo, pode ser determinada pela variação de
armazenagem de solução neste comprimento de solo, durante o intervalo de tempo considerado".
180 • Movimento da Agua no Solo

Exemplo Ilustrativo
Delimitou-se na superfície de um solo profwldo no campo, uma área circular de 5 m de
diâmetro por meio de folha-de-flandres. Instalou-se, no centro dessa área, um tubo de alumínio para
acesso de uma sonda de neutrons para medida do conteúdo de água no solo. NWll detenllinado dia,
inundou-se essa área até se conseguir os valores máximos de conteúdo de água na camada O - 1 m.
Logo depois que toda água acima da superfície do solo se infiltrou, cobriu-se essa superfície com
uma lona plástica a fim de que, deste momento em diante, o movimento da água se desse apenas por
redistribuição. Imediatamente foram feitas medidas de conteúdo de água com a sonda ao longo da
camada O - 1 m, as quais foram repetidas a cada dois dias durante o período de um mês. A tabela
seguinte apresenta os dados dos dias 3 e 5.

Profundidade Conteúdo de água à base de


2(m) volume e (nl m-3)
Dia] Dia 5
0,20 0,40 0,25
0,40 0,38 0,26
0,60 0,35 0,26
0,80 0,31 0,18
1,00 0,35 0,15

Pergwlta-se: quais os valores da densidade de fluxo nas profundidades 0,3 m, 0,5 m, 0,7 m,
0,9 m e 1,lm durante estes dois dias?
Solução:
A figura a seguir apresenta um esquema do perfil do solo com indicação das densidades de
fluxo nas diversas profwldidades durante o período, e os perfis de conteúdo de água dos dias 3 e 5.
Evidentemente em 2 = O (superfície do solo) a densidade de fluxo qo é nula, porque nessa superfície
tem-se o plástico.

z=o ° 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 S(m3 m3)


:-::-:1:-::-::-::-:

'<::.::~;.:~:,:,}:n =1 ::::::::::::::::::::::::~

0,2
Z = 0,3 n
......... 'díà's ·::n:i;mr:~~! dia 3

°,41- ~:<:~:~:L·~""'"
\. ~:;:~,M
:::i:. )
(.:-:.:-:.:-:.:
0,6 f- i:tl}~:.
•..',","."',.
1:.:-:.:-:.:-:.:

0,8~""""" ~·::~m·~:~"·'
f.·.·.· .

n =5 1,0
Z= 1,1m .'.'~.'.'.','
.'".tIjJ}Jt~;jmlt(t

Z(m)

De acordo com a equação (57) tem-se, para a situação presente:


I1h

I1tt =-(qll -qo)

e, então,
Dinâmica da IÍgua no Solo· 181

a)paraZ=0,3m(n=I): M03 =-'M =-q,-qo


__ ( o )=-ql =-q03m
I1t I1t .

b)paraZ=0,5m(n=2): __
I1ho o 5 =' M + I1h2 =_q)_q
( ) =_q) =_q
I1t I1t - o - 0.5m

c) para Z = O7 m (n = 3): __
Mo o 7 = M I + I1h2 + I1h3 = - (q - q ) = _q =-q
, I1t I1t 3 o 3 0.7m

d) para Z= 0,9 m (n = 4): -- I1h, + I1h2 + I1h3 + I1h4 = - ( q4 - qo ) = -q4 = -qo 9m


I1hO•9 = --------
~ ~ .

e) para Z = 11m (n = 5): __


Mil o = I1hl +M2 +M3 +M4 +M- ) = - (q - q ) = -q =-q
, I1t I1t 5 o 5 1,lm

Calculando as variações de armazenagem até as diversas profundidades, temos:

I1ho,3 = (0,25 - 0,40) 0,30 = -O 0225 m/dia


I1t 2 '

MO•5 = -O 0225 + (0,26 - 0,38) 0,20 = -O 0345 m/dia


I1t' 2 '

MO•7 =-00345+ (0,26-0,35)0,20 =-0 0435 m/dia


I1t' 2 '

I1hO•9 =-00435+ (0,18-0,31)0,20 =-0 0565 m/dia


I1t' 2 '

I1hl•1 = -O 0565 + (0,15 -0,35)0,20 = -O 0765 m/dia


I1t' 2 '
Portanto, os valores da densidade de fluxo são:
Z = 0,30 m ~ qO,3m = 22,5 mm/dia
Z = 0,50 m ~ qO,5m = 34,5 mm/dia
Z = 0,70 m ~ qO,7m = 43,5 mm/dia
Z = 0,90 m ~ QO,9m = 56,5 mm/dia
Z = 1,10 m ~ ql,l m = 76,5 mm/dia

7. EQUAÇÃO DIFERENCIAL GERAL DO MOVIMENTO DA SOLUÇÃO NO SOLO

A equação de Darcy-Buckingham (equação 9), substituída na equação da continuidade


(equação 49), fornece
182 • Movimento da Agua no Solo

de = v.[K(e)v fjJ,]. (58)


dt

A expressão (58) é conhecida pelo nome de equação de Richards e é a equação diferencial


geral que rege o movimento da solução em solos isotrápicos com relação a K(e).
Desdobrando a expressão (58) em seus componentes cartesianos, obtém-se:

- = -f+-j+-R . K(e) -f+-j+-R


dt [ddx
de dy
d dz
d] [ dx
(dfjJr dy
dfjJ, dz
dfjJ,)~ (59)

ou

-=
at
de
-i
ax[d ~
+-j+-k
ay
d ~ az
d~]
. K(B)-i
[ ax ~
dei>,
+K(B)-j+K(B)-k
ay I ~
dei> az I ~]
aep
,

e, conseqüentemente,

-=-
aB
at a [
ax
K(B)-
a<p,
+-a [ K(B)- a<p,
ax ] ay
+-a [ K(B)- a<P1
ay ] az az ]
.

Logicamente, portanto, somente em uma dimensão, a equação (59) reduz-se a:

a) direção-x (horizontal), idêntico para a direção-y:

(60)
dt =~[K(e)dfjJl],
de dX dX

ou, para
aI) solo saturado

(61)
dt dX
des=~[K o dX
dfjJp]=O '

sendo es = conteúdo de água de saturação e Ko = condutividade hidráulica do solo saturado,


ambos constantes com o tempo.

az) solo não saturado não expansivo

(62)
dt =~[K(e)dfjJm].
de dX dX

a3) solo não saturado expansivo

(63)
dt =~[K(e)~(fjJm
de dX dX +fjJp +fjJJ].

É importante lembrar que o fjJgé sempre constante na horizontal, daí ele não aparecer nas
equações (61), (62) e (63).
Dinâmica da Agua no Solo' 183

b) direção-z (vertical)

(64)
az
at =~[K(e)aCPt]
ae az

ou

(65)

Expressando os potenciais em termos de uma altura de liquido e lembrando que z é a


coordenada vertical de posição do ponto em questão, é fácil verificar que um gráfico de epg em nmção
de z resultará sempre numa linha reta com coeficiente angular (2epg/CJz) igual a + 1, independentemente
de onde se coloque a origem do sistema de coordenadas. Entretanto, recomenda-se, por conveniência,
que se coloque esta origem coincidente com a referência gravitacional. Portanto, expressando os
potenciais em tennos de uma altura de líquido tem-se, para:

bl) solo saturado

(66)
at =~[Ko(acpp
aes az az +lJ~=O
~
ou

(67)

b2) solo não saturado não expansivo

(68)
az
at = ~[K(e)
ae az ] + aK(e)
aCPm az .

b3) solo não saturado expansivo

(69)

7.1 Equação de Laplace

Se o fluxo for em solo saturado, a equação (58) se toma

aes =V(K Vth)


at . o ~t ,

sendo, com já vimos, es = conteúdo de água de saturação e Ko= condutividade hidráulica do solo
saturado, as quais são constantes com o tempo e, no caso de solo homogêneo, constantes também
com a distância.
Portanto, para solo saturado e homogêneo:

Ko(V.V}Pt =0,
184 • Movimento da Agua no Solo

e, evidentemente,

V'2C/Jt=0, (70)

porque, em se tratando de um meio poroso, Ko nunca é igual a zero. Desdobrando-se em seus


componentes cartesianos, a equação (70) se toma:

a2C/Jt + a2C/Jt + a2C/Jt =0. (71)


ax2 ay2 az2

A equação diferencial (70) ou (71) é a conhecida equação de Laplace para o fluxo da solução
no solo sob condição saturada.

8. DIFUSIVIDADE DA SOLUÇÃO NO SOLO


A equação de Darcy-Buckingham (equação 9) para fluxo de solução em solo não expansivo e
isotrópico com relação a K(e) pode ser escrita como

q = -K(e )[V C/Jm+ V C/Jg]' (72)

uma vez que VC/J, =VC/Jm +VC/Jg.

Por outro lado, já sabemos que C/Jm= C/Jm(e)(que é a curva de retenção da solução no solo) e
que e= e (x,y,z). Considerando um solo no qual a função C/Jm(8) é única, o termo VC/Jm da
equação (72) pode ser estendido pela regra da cadeia, como se segue:

-1=--1
dCPm ~ dCPm de ~
dx de dx

(73)
dCPm ~ dCPm de ~

dy J = de dyJ

-dCPm kA ---
_ dCPm de kA
dz de dz

uma vez que C/Jm é função de e, e e é função de x,y e z, ou seja:

a) se C/Jm= C/Jm(e)

dtfo = dC/Jmde. (74)


'l'm de

b) se e = e(x,y,z)
ae ae ae
de =-dx+-dy+--dz. (75)
ax ay az

c) então, substituindo a equação (75) na equação (74):


Dinâmica da Agua no Solo· 185

dcjJ'" = de (àe
dcjJ", àx dx+ ày dy+
àe àz dZJ
àe

ou

(76)

Portanto:

= àcjJ", = dcjJ", àe (77)


dx y,z
dcjJ"'l àx de àx'

porque, se y e z são mantidos constantes, então dy = dz = O, e os dois últimos termos do segundo


membro da equação (76) desaparecem. Igualmente, pelo mesmo raciocínio:

àcjJ", = dcjJ", àe (78)


ày de ày
e
àcjJ", _ dcjJ", àe
a;-- de a;' (79)

com o que demonstramos, pela regra da cadeia, como se chegou ao conjunto de equações (73) ou
equações (77), (78) e (79).
Combinando-se a equação (73) com a (72):

(80)
ti =-[ K(e)d~' ve +K(e)VcjJg].
Distingue-se o produto de K( e) por dcjJ,jde como um coeficiente de difusão ou difúsividade
da solução no solo D(e), isto é,

(81)

Há diversos métodos de obtenção da função D(e); um deles seria a partir das curvas de K em
função de e e cjJ",em função de e (curva de retenção), utilizando-se a equação (81).

9. EQUAÇÃO DE DARCY-BUCK.INGHAM E EQUAÇÃO DE RICHARDS USANDO


A DIFUSIVIDADE

Com a defmição da difusividade da solução no solo (equação 81), pode-se reescrever a


equação (80) como:

q = -[D(e )ve + K(e)V <Pg].

Expressando cjJgem tennos de altura de líquido, resulta que dcjJldz = 1 e, então:


186 • Movimento da Agua no Solo

q = -[D(e)Ve + K(e )k], (82)

()cjJ ()cjJ
uma vez que --g = -g- = O.
()x ~
A equação (82) é a equação de Darcy-Buckingham, só válida para solos caracterizados por uma
única curva de retenção, isotrópicos com relação a K (e, conseqüentemente, também com relação a
D) e não-expansivos.
Na direção horizontal (direção-x), a equação (82) fica

qx =_D(e)de ~ (83)
dX I,

e, na vertical, fica igual a

(84)
qz =-[D(e)~~ +K(e)}.

Substituindo a equação de Darcy-Buckingham (82) na equação da continuidade (49), obtemos uma


outra equação diferencial para descrever o movimento da solução no solo, que inclui D(e) e que só é
válida para solo, além de não expansivo (ver capítulo V), caracterizado por uma única função cjJm(e)
e isotrópico com relação a K(e):

de = v.[D(e)v
dt
e + K(e)f]. (85)

Desdobrando-se a equação (85) em seus componentes cartesianos, obtém-se:

(86)
dt =~[D(e)de]+~[D(e)de]+~[D(e)de]+
de dx dx dy dy dz dz dz
dK(e).

Somente em uma dimensão, teríamos:


a) direção-x (horizontal), idêntico para a direção y:

(87)
dt =~[D(e)de].
de dX dX

b) direção-z (vertical):

(88)
dt =~[D(e)de]+
de dZ dz dz
dK(e).

Observação: Deve ser salientado que, na elaboração da curva de retenção, pode ocorrer o fenômeno
de histerese, o qual pode ser explicado, resumidamente, como segue. A relação entre
cjJme e pode ser obtida de duas maneiras: (1) por secagem, iniciando-se com uma
amostra de solo saturado e secando-a gradualmente enquanto se tomam medidas
sucessivas de e e cjJm'e (2) por molhagem, umedecendo gradualmente uma amostra de
solo inicialmente seca e também tomando-se medidas sucessivas de e e cjJm'As curvas
obtidas por estes dois processos (secagem e molhagem) quase nunca são coincidentes,
e a esse fato dá-se o nome de histerese. Para um mesmo valor de cjJm'e é maior na
Dinâmica da Agua no Solo' 187

curva obtida por secagem do que na curva obtida por molhagem. Portanto, em
havendo histerese, deve ficar bem claro que as equações (82) e (85) só podem ser
aplicadas isoladamente ou para um processo de molhagem (infiltração) ou para um
processo de secagem (evaporação, redish'ibuição), ou seja, para cada um destes
processos tem-se uma difusividade diferente, devido à diferença das curvas de
retenção (equação 81).

10. O FRASCO DE MARIOTTE*

Nos estudos sobre movimento da solução no solo, sob condições de laboratório, o frasco de
Mariotte é muito utilizado para a manutenção de uma carga constante de líquido. Ele consiste de um
tubo A imerso dentro do líquido contido em um frasco ou recipiente B, que possui uma saída S
próxima de sua base, munida de uma torneira T, confonne a Figura 7.5.
Mantendo-se a torneira T fechada e a rolha de borracha bem apertada na boca do recipiente
B, observa-se que o líquido dentro do tubo A permanece sempre no mesmo nível nn', bem próximo
da sua extremidade. É evidente que a pressão da coluna de líquido h, isto é, pgh, mais a pressão de
ar Par acima desta coluna no recipiente B, tendem a forçar a entrada de líquido em A, mas são
impedidas pela pressão ahnosférica Patl11' no tubo A, que equilibra estas pressões, Pa/m = pgh + Par'
Havendo um pequeno consumo de líquido, isto é, fazendo-se com que uma pequena gota de líquido
saia através de T, a altura h diminui e POli'" tomando-se maior do que pgh + Par, forçará a entrada de
uma pequena bolha de ar em B que, aumentando Par> compensa a diminuição de h e mantém o nível
do líquido nn' em A inalterado. Este efeito se repete continuamente, até que o nível do líquido em B
atinja a extremidade inferior do tubo A.
~tm

1
Rolha de borracha

Figura 7.5 O frasco de Mariotte.

* Não consideraremos na discussão deste item a pressão interna porque, como dissemos no capítulo I, nas
medidas hidráulicas em situações não capilares (como é o caso), ela é cancelada.
188 • Movimento da /Ígua no Solo

Tendo em vista o que acabamos de expor, em qualquer ponto do nível nn " dentro do líquido
em equilíbrio (torneira T fechada) no recipiente B, é evidente que estará atuando também a pressão
atmosférica (Figma 7.5), ou não haveria equilíbrio.
Por meio de um tubo de borracha flexível (sifão), adaptemos agora a saída do recipiente B a
um outro recipiente C, cheio do mesmo líquido e munido de uma torneira T', como mostra a
Figma 7.6.
P,.tJ1l

1
Rolha de borracha

:.

h q P,.tJ1l

n .l'
~ ~ ·n'
.f-h,
m- -0- - -11- - - ..•..• -m'
T

Recipiente C ~

o
o
o
Figura 7. 6 Manutenção de uma carga de líquido constante.

Com a torneira T aberta e a torneira T' fechada, estando os dois ramos do tubo flexível cheios
de líquido, as pressões exercidas nos pontos p, q e r são iguais, uma vez que estão no mesmo nível e
o líquido está em equilíbrio. Abramos, agora, wn pouco a torneira T', até que o nível do líquido no
recipiente C atinja a posição mm' e, então, fechemo-Ia novamente; imediatamente após o
fechamento da torneira T', com o nível do líquido em mm " a pressão líquida em r é menor do que a
pressão líquida em q de h " o que faz com que o líquido flua na direção de r, acarretando,
conseqüentemente, abaixamento do nível do líquido do recipiente B (princípio de funcionamento do
sifão). Isto faz com que bolhas de ar entrem em B, o nível de A fique sempre constante e o
reservatório C alimentado, até que o nível do líquido no seu interior retome à posição nn "
restabelecendo novamente o equilíbrio estático.
Diante desta explicação, não fica difici1 entender que, se mantivermos a torneira T'
gotejando, o nível do líquido no recipiente C permanecerá interminentemente sempre na posição
nn " com cada gota de líquido perdida através da torneira T' sendo substituída por uma bolha de ar
que entra em B através de A da maneira acima descrita. Se construirmos o frasco de Mariotte
Dinâmica da Agua no Solo· 189

utilizando uma bureta (ou proveta) como o recipiente B, ele passa a chamar-se bureta (ou proveta)
de Mariotie (Figura 7.7).

(a) (b)

Recipiente B
(Bureta)

h
h

Recipiente B

(Proveta) ~_
Tubo A

Figura 7. 7. (a) bureta de Mariotte; (b) proveta de Mariotte.

l1.ASPECTOS IMPORTANTES A RESPEITO DO USO DA EQUAÇÃO DE DARCY-


BUCKlNGHAM
Consideremos o esquema da Figura 7.8 o qual mostra uma amostra de solo não expansivo
homogeneamente acondicionada em uma coluna, com água fluindo sob condições de não saturação
e em regime estacionário (densidade de fluxo q e potencial mátrico r/Jm constantes com o tempo).

_L. y
c
--Á-----------

o L
frasco de
Mariotte o
-L ------------------------
B

h= -<1>",

Figura 7.8 Fluxo de água em regime estacionário em solo não saturado.

Como se pode notar pelas condições de contorno do esquema dessa figura, em z = O m


(superficie do solo), r/Jm = Om de água, e em z = -L m (profundidade L do solo), r/Jm = -h m de água,
190 • Movimento da Agua no Solo

ou seja, confonne z diminui de O a -L m, cjJm diminui de O a -h m de água, havendo uma


dependência entre z e cjJmprevista pela equação de Darcy-Buckingham.
Essa equação, quando se considera apenas a direção vertical, pode ser escrita, praticamente,
como

q=_KdcjJ( (89)
dz '

não considerando a notação vetorial, por facilidade, e usando, para o gradiente, a notação de
diferencial total por se considerar inexistentes fluxos nas direções horizontais.

Para o perfil do solo da Figura 7.8, cjJ(= cjJm + cjJg. Por outro lado, expressando os potenciais
em termos de uma altura de água, sabemos que sempre dcjJldz = 1. Com isso, podemos reescrever a
equação (89) como

(90)
q = _ K( d:;, + 1)-

Desenvolvamos um pouco mais a equação (90), começando por explicitar dz:

d</Jm
dz = (91)
q/K+l

Assumamos, agora, que a dependência funcional entre K e cjJmseja linear, isto é,

K=acjJm+Ko' (92)

sendo a = constante e Ko = condutividade hidráulica do solo quando saturado (= constante)


Substituindo a equação (92) na equação (91):

dz=

q+acjJm
dcjJm+Ko =_[ q+acjJm
acjJm +Ko
+Ko JtcjJ m"
acjJm +Ko

Somando e subtraindo q no numerador do segundo membro da equação acima, obtemos:

(93)
dz=-dcjJm +q ( q+acjJm
dcjJm+Ko ]

A equação (93) acima está convenientemente preparada para ser escrita numa forma fmita,
portanto, ser integrada. Assim fazendo e lembrando que q = constante, resulta:

z = -cjJm + 11n(q + acjJm + KJ + C, (94)*


a

sendo C = constante de integração.

* Lembrar que, do cálculo integral,

J A+Bx
dx = B1 ln(A+Bx)+C.
Dinâmica da Agua no Solo· 191

Como ambos cfJm e z desaparecem juntos (quando z = O, também cfJm = O), como bem mostra a
Figura 7.8, então,

C=-11n(q+KJ.
a
(95)

Conseqüentemente, com a substituição da equação (95) na equação (94):

(96)
a q+Ko
z=-cfJm +~ln(q+acfJm +Ko J.
Para podennos utilizar a equação (96), precisamos conhecer os valores das constantes q, a e
Ko' Os valores de a e Kv deverão ser conhecidos ou assumidos para o solo em questão. O valor de q,
por outro lado, pode ser calculado pela própria equação (96), nela substituindo-se, além dos valores
de a e Ko, um valor de cfJm = -h m de água para um dado z = -L m (Figura 7.8). Com isso, a equação
(96) permite a obtenção de um gráfico de cfJm variando de °a - h m de água e, correspondentemente,
°
z variando de a - L m.

Exemplo Ilustrativo

Assumindo, no arranjo experimental da Figura 7.8, que h = 1 m de água, L = 1 m e que, para


o solo em questão, a = 1,99 dia-1 e Ko = 2 m dia-I, desenhar, a partir da equação (96), a curva de z
em função de cfJm e, no mesmo gráfico, as curvas de z em função de cfJr e z em função de cfJg.

Solução:
Calculemos, primeiramente, o valor da densidade de fluxo q. Para tanto, substituindo os
valores de a = 1,99, Ko = 2, cfJm = -h = -1 e z = -L = -1 na equação (96), obtemos

q = ln(q q+2
_ 3,98 + 0,01).
Por esta equação acima, é impossível explicitar q. Para resolver o problema, precisamos, então,
arranjar uma maneira de encontrar o valor de q para o qual os dois membros da equação dêem o
mesmo valor numérico. Para tanto, temos que "chutar" valores para q, até encontrarmos aquele para
o qual seja satisfeita a igualdade da equação. Observe ainda (Figura 7.8), que, como em z = Orno cfJr
é maior do que o cfJt em z = -m, o valor do gradiente de cfJr é positivo entre estes dois pontos e,
portanto, o valor da densidade de fluxo, em conformidade com a equação (89), tem que ser
negativo. A tabela a seguir mostra este procedimento de encontrar o valor correto de q.
3,98
1,327
1,095
1,421
1,531
1,809
1,579
1,582
2,393
1,582
1,895
1,585
0,995
0,691
1,249
1,462
1,574
1,730
1,592
1,658
3,040
2,032
1,605
1,589
1,788
-4,0
-2,515
-3,0
-2,8
-2,6
-2,52
-2,2
-2,3
-2,4 q
-2,51
-2,5 -2,1 q In(q ;~,~I)
192 • Movimento da Agua no Solo

Podemos agora obter o gráfico de z em função de C/Jm, simplesmente substituindo na equação


(96) os valores de Ka = 2 m dia-I, a = 1,99 dia-1 e q = -2,515 m dia-I, com o que

z=-C/J _1264ln-0,SIS+I,99C/Jm
m' -0,515

Note que, no presente exemplo, os valores de C/Jm podem variar de um máximo de zero na
extremidade superior da coluna (z = O m) a um mínimo de -1 m de água na extremidade inferior
(z = -1 m). Aplicando, então, a equação acima dentro desse intervalo, obtém-se a curva de z em
função de C/Jm mostrada no gráfico da figura a seguir, juntamente com as curvas de z em função de C/JI

e z em função de C/Jg, considerando a referência gravitacional em z = O.

z(m)
-2,00 -1,50
° 1/J,·l/Jm.l/Jg (m de água)

-0,25

-0,50

I/J, -0,75

-1,00

o potencial gravitacional C/Jg, quando expresso em termos de uma altura de água, varia lineannente
com z, sendo unitário o coeficiente angular da reta. Na curva z em função de em todos os pontos, C/J"

portanto, nas condições propostas, = C/Jm + = C/Jm +


C/JI C/Jg Z

O aspecto importante que deve ser enfatizado é que, com este procedimento mostrado, podemos
elaborar um método de estimativa da função K(C/Jm)' Isto é, se munirmos a coluna da Figura 7.8 com
tensiômetros ao longo de todo o seu comprimento e, atingida a condição de regime estacionário,
medirmos q e C/Jm de todos os tensiômetros, podemos descobrir qual deve ser a função K( C/Jm) do solo
que, junto com a q medida, deve ser utilizada para a obtenção da equação (96) que se ajuste aos
dados experimentais.

12. EXERCÍCIOS SOBRE FLUXO DE SOLUÇÃO NO SOLO SOB CONDIÇÕES DE


EQUILÍBRIO DINÂMICO

Considere, também nestes exercícios, que sempre C/J, =C/Jp+ C/Jg (solo saturado); C/J, = C/Jm +C/Jg (solo
não saturado); Po = Patm

1. Qual é o valor da condutividade hidráulica do solo na coluna a seguir, sendo dados:


A = 0,005 m2 = área da secção transversal de solo
Dinâmica da Agua no Solo· 193

v= 10-5 m3= volume de solução que passa através da coluna durante um intervalo de
tempo de 3600 s.

0,20111

o
0,10111 0,10111
o

SOLO x---

L40m

referência gravitacional

2. No arranjo a seguir, quanto vale a densidade de fluxo se o valor da condutividade hidráulica é


0,014 mm/s?

-,,--
o
_10,05 m
o 10,08 m
o
-I---

s
O 0,30m
L
O

-y---------
referência gravitacional
194 • Movimento da Agua no Solo

3. Quanto tempo é necessário para que 15.10-6 m3 de solução flua através da coluna de solo abaixo?
(dados: A = 0,01 m2; K=12 ~m/s).
refer~i!!..,.gravi (acional

0,85 m I o

s
O 0,45 m
L
O

-~

4. Faça os gráficos de z em função de </Jg, z em função de </Jp e z em função de </JI, numa só figure.
para o arranjo abaixo.
z

s
O
1m
L
O

0,30 m

y referência gravitacional

x
Dinâmica da Agua no Solo· 195

-=- ~ ('5 gráficos de z em função de <jJg, z em função de <jJp e z em função de <jJh numa só figura,
_.:=:. z situação que se segue.

ZA

0,80m
s
O
0,50m
L
O

y o referência gravitacional
x o

- 5e:1do K=100 mm/h, pergunta-se: quanto tempo é necessário para se ter 200 mm de solução
::2.Ssando através da coluna abaixo?

s
O
L 1m 1,05 m
O

" "
1 I
o
o
196 • Movimento da Agua no Solo

7. Para o caso da coluna abaixo, pede-se elaborar os gráficos, numa só figura, de z em função de f/Jg,

z em função de f/Jp e z em função de f/J, nas seguintes condições: a) Hj = H2 < L; b) Hj =Oe


H2 = L; c) Hj = O e H2 = 2L; d) Hj = L e H2 = O.
Dizer, em cada situação, qual é o sentido do fluxo.
z
v solução
HI

y referência gravitaciona!
x
s
o
L 1
o
H2

8. Qual o valor da densidade de fluxo da água no solo da coluna abaixo, se K(0,56 m) = 0,1 l1m.s-1
e K (0,65 m) = 0,08 l1m/s?

Obs.: Lembrar que K(0,56 m) é o valor da condutividade hidráulica quando o potencial mátrico
é -0,56 m de água e K(0,65 m) quando f/Jm = -0,65 m de água

0,56m
s
O
0,75 lU
L
O

-x--

0,65
_'o i o
O
Dinâmica da Agua no Solo· 197

9. Elaborar, numa só figura, os gráficos de z em função de z em função de


<jJg, <jJm (ou <jJp) e z em
função de para as colunas abaixo. Que condições de campo elas simulam?
<jJ,

0,25111 s s
o o
0,50111
I 0,50111

o o

1111
- -'i7-

10. Demonstrar, de fonua analítica, a partir da equação de Darcy-Buckingham, que:


a) na coluna 1, a densidade de fluxo é nula
b) na coluna 2, o valor da densidade de fluxo é igual ao valor da condutividade hidráulica Ko.
c) na coluna 3, o valor da densidade de fluxo é o dobro do valor da condutividade hidráulica
para o conteúdo de água médio no solo da coluna.
(I) (2) (3)

s
o
I
o o o

__ \1__ - Á-
198 • Movimento da Agua no Solo

11. Releia com atenção o item 11. Assumindo as mesmas condições de contorno da Figura 7.8,
mas com a relação K( <pm) do solo dada por K = Koeb~", , sendo Ko = 2 m/dia e b = 5,3 m-I,
obtenha a relação z( <Pm), para L = h = 1 fi. A partir desta relação, desenhe a curva de z em
função de A seguir, no mesmo gráfico, desenhe as curvas de z em função de
<pm. <Pg e de z em
função de <Pr Compare o gráfico obtido com o da Figura 7.8.

12. O conjunto experimental esquematizado a seguir é montado em laboratório, e a água está se


movendo com densidade de fluxo constante através da collma composta das três camadas
unifonnes de solo. Sabendo-se que a condutividade hidráulica do solo B é o dobro da
condutividade hidráulica do solo A, pergunta-se:
a) quais os valores do potencial total nas interfaces entre os solos?
b) como seriam os gráficos de z em função de z em função de <pp( ou e z em função de <pg, <Pm)

entre a superfície e o fundo da coluna composta de solo?


<Pr

z'"
-'I
~ Isolo
~_ A O
rejeré':cia --
gravitacional

- y O
o,i,;;r L S2

oJ!-
0,3 m I
0,3 m
I
I
IwloA
ISOlO B

13. Considere uma esponja saturada de água de dimensões 50 mm x 100 nun x 200 mm (figura a
seguir). Imediatamente após sua saturação, ela é colocada sobre seu lado 100 nun x 200 mm
(posição A) para drenar sob a influência da gravidade até a parada completa do gotejamento
com o tempo. A seguir, se a esponja é girada e colocada sobre sua face 50 mm x 200 nun
(posição B), água fluirá novamente até que se estabeleça o equilíbrio hidrostático e, então, pare
o gotejamento. Finalmente, colocando-se a esponja sobre sua face menor 50 mm x 100 mm
(posição C), água gotejará novamente até o estabelecimento de um novo equilíbrio hidrostático.
Demonstre, fisicamente, porque ocorre gotejamento de água em cada uma das três posições.
100mm

.
O O ~ O
O
O
O
O
O
O
telaB
O
O
\
O A
C
o O
100 mm
200 mmll
O 50mm
50mmll 100mm
O
Dinâmica da Agua no Solo' 199

14. Prove que, quando se expressa cjJg em tennos de uma altura de líquido, seu gradiente é sempre
igual a +1.

15. Explique como e porque a compactação do solo alteraria os valores da condutividade


hidráulica.

16. Por que a condutividade hidráulica diminui com a diminuição do conteúdo de água no solo?

17. Analise as afIrmações abaixo; verifIque se são corretas ou falsas e diga o porquê.
a) A água sempre se move de regiões úmidas para regiões mais secas.
b) Steady-state signifIca que a água não está se movendo.
c) A equação da continuidade se aplica para condições transientes.
d) A água se move através de uma camada de solo sem aumentar o conteúdo de água desta
camada.
e) A água líquida se move através de um solo do menor para o maior potencial total.

13. APÊNDICES

13.1. Teorema de Bernoulli

Consideremos o arranjo experimental da Figura 7.9, que mostra um líquido incompressível


fluindo, sob regime estacionário, através de uma tubulação. Conseqüentemente, em qualquer secção
transversal da tubulação, a vazão Q deste líquido é constante ao longo do tempo, isto é,
dV
Q =- = constante. (AI)
dt

Assim, o volume de líquido dV que flui através da tubulação durante o intervalo de tempo dt não
varia com o tempo. Por outro lado, se assumirmos que não haja atrito entre a parede da tubulação e
o líquido em movimento, transformamos a equação (AI), para uma dada secção transversal de área
A da tubulação, em

Q 1 dV = constante
v = - = -- (A2)
A A dt '

ou seja, à medida que o tempo passa, a velocidade v de qualquer partícula de líquido em qualquer
ponto de uma determinada secção transversal da tubulação não varia. No entanto, de uma secção
para outra, ela pode variar em função da área da secção, isto é, da equação (A2)
dV
vA =- = constante, (A3)
dt

pelo que, considerando as secções C e B destacadas na Figura 7.9, de áreas AI e A2, respectivamente:

(A4)

quer dizer, a velocidade VI em C é menor do que a velocidade V2 em B, porque a área AI da secção C


é maior do que a área A2 da secção B.
Por outro lado, depreende-se, imediatamente, da equação (A4) que
200 • Movimento da Agua no Solo

A]v]dt = A2 v2dt = dV = constante (AS)

ou

AI dI, = A2dl2 = dV = constante, (A6)

isto é, durante um intervalo de tempo dt, o líquido em C se move de uma distância dlI = vIdt e em B
de uma distância dI] = vJClt.
A Figura 7.9 mostra também um tubo piezométrico medindo a pressão de líquido ou
manométrica P no centro de uma detenllinada secção transversal da tubulação, sem perturbação do
movimento. Pelo fato de o líquido estar em movimento, é mais correto chamar a pressão P de
pressão dinâmica. Evidentemente, como, no presente caso, o líquido está se movimentando em
regime estacionário, a pressão dinâmica P é constante com o tempo em qualquer secção da coluna.
Assim, chamemos de PIa pressão dinâmica atuando no centro da secção C e de p] a pressão
dinâmica atuando no centro da secção B, ambas também mostradas da Figura 7.9.

Z]

-----------l--
P2

v2

y
~ Referência gravitacional
x
Figura 7.9 Um arranjo experimental para o teOl-ema de Bernoulli.

Pelo princípio da conservação de energia, a energia total, ou seja, a soma da energia potencl''''
total com a energia cinética, do volume de líquido dV = AIdII= A]dl] = ... = Adl, (ver equação ..l,
fluindo pela tubulação, deve ser igual em qualquer secção dela. Ora, no caso presente, em que 115.:
há atrito entre a parede da tubulação e o líquido em movimento, a energia potencial total des:=
volmlle de líquido resulta, quando expressa por W1idadede massa ou volmlle do líquido, na so!:::.
dos nossos conhecidos potenciais de pressão e gravitacional (ver Figura 7.9). Portanto, p-'-
princípio da conservação de energia, tem-se, considerando as secções C e B que:
Dinâmica da Agua no Solo· 201

P. v2 P v2
---l..+gz+_1 =_2 +gz +_2 (A7)
p 1 2 P 2 2'

= _ o;údentemente,

P v2
- + gz + - = constante, (A8)
p 2

=~ o P/p = potencial de pressão (energia/massa); gz = potencial gravitacional (energia/massa);


- _= energia cinética por unidade de massa.
Se dividirmos os termos da equação (A 7) por g, o resultado da unidade desses tennos será,
:COiillO sabemos, o de uma altura de líquido:

P. 2 P 2
_I +z +l=_2 +z +~ (A9)
pg I 2g pg 2 2g

:'':' ~ortanto,

P v2
- + z +- = constante. (AIO)
pg 2g

As equações (A7), (A8), (A9) e (AIO) são conhecidas como equação de Bernoulli.
Um aspecto importante a respeito da equação de Bemoulli, para nossos propósitos, é o que se
segue.
Explicitando a diferença PI - P2 da equação (A9), obtém-se:
2 2

P. -p = p'o(z -z)+ pV2 _ pVJ


12 b2 122

ou

(AlI)

A partir da equação (A4)

ou

V2
2 _
A21
-2 --2' (AI2)
VI A2

Substituindo a equação (AI2) na equação (AlI), resulta

~ -P2 = pg(Z2 -ZI)+--J ~-l . (A 13)


2 (A2
pv2
Ai J
Observe que, se o líquido estiver em repouso (VI = O), a equação (A13) se transforma em
202 • Movimento da Agua no Solo

11-P2 = pg(Z2 -ZI)'

ou, como ZI -Z2 = h (Figura 7.9),


p2-p] = pgh, (A14)

isto é, se o líquido da Figura 7.9 for impedido de fluir, seu nível no piezâmetro que mede a pressão
P2 se eleva e pára na mesma altura que o nível do líquido no piezâmetro que mede PI, de tal
maneira que P2 = PI + pgh, como na lei de Stevin da hidrostática.
Por outro lado, se o líquido estiver em movimento (v] O)mas A]= -:F A2= constante, a equação
(A13) também se transforma na equação de Stevin (equação A14).
Analisemos um pouco mais esta segunda situação. Para tanto, considere o esquema da Figura
7.10 que mostra um tubo longo de diâmetro constante com um pequeno orificio no seu fundo
através do qual o líquido está fluindo em regime estacionário, pelo que a altura H de líquido deve
permanecer constante.
Focalizemos, primeiramente, nossa atenção nos pontos 1 e 2 da coluna. A velocidade em 1,
onde a área da secção transversal do tubo é A], é v] e, em 2, onde a área da secção transversal do
tubo é A2, é V2. A figura também mostra uma linha de fluxo que se estende desde a superficie livre
(ponto 1) até o orificio de saída (ponto 2), ao longo da qual vamos aplicar a equação de Bemoulli
(equação A8).

Z
9 x- -----

Z] 1------------- 00 I 'V U p

"'rl-'t"-~r.~ 1,

~ I ~

1
Z:2 _nnnn_n-1-nnnnnC. ~
2 t.
'i
V2

/ ,
4

Figura 7.10 Teorema de Torricelli e pressões dinâmicas em secções de coluna de mesma área.

A pressão absoluta tanto em 1 como em 2 é a pressão atmosférica, pelo que as pressões


manométricas (ou de líquido) tanto em 1 como em 2 são nulas, p] = P2 = O. Se A] »A2, então a
razão A2IA] pode ser considerada desprezível e, pela equação (A4), também v] pode ser
desconsiderado: se assumirmos que A/A] = O,então, pela equação (A4), v] = O. Conseqüentemente,
pela equação (A9) e Figura 7.10:
Dinâmica da Agua no Solo· 203

e, então,

(AIS)

A equação (AIS) é, como se pode ver, um caso particular da equação de Bemoulli, conhecida
pelo nome de equação de Torricelli.
Focalizando, agora, nossa atenção nos pontos 3 e 4 da coluna, como a secção transversal é
igual (A]= A4) tem-se que, a partir da equação (AI3),
P4 -~ = pg(Z3 -Z4)'
isto é, as pressões de líquido só podem ser aquelas mostradas nos tubos piezométricos da Figura
7.10, ou como na equação (AI4) (equação de Stevin),
P4 -P3 =pg(Z3 -z4)=pgh,

fato este que pode ser facilmente comprovado pela experiência.

13.2 Viscosidade de umjluido

A viscosidade de um fluido refere-se ao atrito entre suas moléculas quando em movimento.


Ela pode ser demonstrada considerando o fluido confinado entre duas placas paralelas de um
material sólido (Figura 7.11).
z
v

z+~z , , _ ~'\1Rr'\"""~''W'~''?'''~\_-~~*'i~~--->
j~ .§&_'W!1.~~~"\."h·'1!iiW!!i!!$i!!i!i!L~_~ _ -,,,. F
! /

! /

I v'
z'+dz
-- -- rd~ -- v'-dv
z' - - - -', - - - ~----
I

z ---

y
x

Figura 7.11 Demonstração da viscosidade de um líquido.

Façamos, então, com que a placa superior se mova com uma velocidade constante v pela
aplicação de uma força F, e a inferior seja mantida fixa. Se a distância h entre as placas for
204 • Movimento da Agua no Solo

suficientemente pequena a fim de que as partículas do fluido se movam em caminhos paralelos


(fluxo laminar), a experiência mostra que:
1. a velocidade do fluido é zero junto à placa inferior e igual a v junto à placa superior, devido à
adesão;
2. entre as placas, a velocidade do fluido aumenta lineannente com a distância a partir da placa
inferior; e
3. a força F por unidade de área da placa superior que deve ser aplicada para manter a velocidade v
é diretamente proporcional a v e inversamente proporcional à distância h entre as placas, isto é,
F v
-(X- (A16)
A h'

sendo A a área da placa superior, e a razão FIA denominada tensão de cizalhamento.


Portanto, a força F aplicada na placa superior mantém o movimento relativo entre as placas a
uma velocidade constante, sendo por isso exatamente igual à força de atrito entre as moléculas do
fluido que resiste ao movimento da placa superior, isto é,

F=Fa, (A17)

sendo Fa a força de atrito entre as moléculas do fluido.


Observe que, na verdade, a equação (A16), tendo em conta a equação (A17), pode também
ser escrita como

Fa
-(X- ~v
(A18)
A &'
uma vez que, confonne pode ser visto na Figura 7.11, Llv = v - O = v e L1z = h.
Com isso, se considerannos o movimento relativo de dois planos paralelos quaisquer no
interior da camada de espessura L1z = h, distantes entre si de dz, conforme mostra a figura, é claro
que, tendo em vista os resultados da experiência para fluxo laminar,

Fa
-(X- dv
(A19)
A dz'

sendo A a área destes dois planos de fluido, idêntica, evidentemente, à área da placa superior.
A eliminação do simbolo de proporcionalidade da equação (A19), transforma-a em

Fa dv
-=7]-
A dz
(A20)

com a constante de proporcionalidade 7] recebendo o nome de coeficiente de viscosidade ou,


simplesmente, viscosidade do fluido.
A análise dimensional da equação (A20) mostra que as dimensões de 7] são
{M.L-l.T-l} = {F.T.L-2}. Fisicamente, observe que para dv=uma unidade de diferença de
velocidade e dz = uma unidade de comprimento, 7] = FIA (numericamente), ou seja, a viscosidade é
numericamente igual à força por unidade de área necessária para manter uma unidade de
diferença de velocidade entre dois planos paralelos de fluido que distam entre si de uma unidade de
comprimento.
A equação (A20) é conhecida como lei de Newton da viscosidade, e os fluidos que a
obedecem (gases e a maioria dos líquidos) são chamados de fluidos newtonianos. Os fluidos que
Dinâmica da Agua no Solo' 205

não se comportam de acordo com ela são chamados fluidos não newtonianos (sangue, borracha
fundida, piche etc.) que para nós não têm interesse e que são estudados num ramo específico da
ciência chamado reologia.
Um aspecto importante a respeito da viscosidade é que, enquanto para os gases ela aumenta
com a temperatura (a não ser para gases a altas pressões), para os líquidos observa-se o contrário, ou
seja, conforme a temperatura aumenta, a viscosidade diminui.
A Tabela 7.1, a seguir, retirada de Bear (1975), mostra valores típicos de viscosidade de
alguns líquidos.

Tabela 7.1 Viscosidade de alguns líquidos em kg m-1 S-1 (= N s m-2 = Pa s).


313 - 0,000286
343
293
283
Substância
0,000649
0,001190
0,000759
0,001450
0,0004070,000902
0,000351
0,000504
0,000653
0,000827
0,000564
0,000626
0,000591
0,000686
0,000234
0,000258
0,000197
0,001310
0,000492
0,000465
0,000450
0,001002 0,000700
0,001787
0,000813
0,001770 Temperatura (K)
273

Face a essas considerações a respeito da lei de Newton da viscosidade, é claro que o teorema
de Bemoulli (equação A8) não funciona para líquidos se movimentando em tubos de secções muito
pequenas. Na realidade, embora tenhamos dito, na dedução do teorema de Bemoulli, que a
velocidade do líquido podia ser considerada constante em todos os pontos de qualquer secção
transversal da tubulação, o que, de fato, tem-se é a situação mostrada na Figura 7.12a. Isto é, num
tubo cilíndrico como o da figura, o líquido situado junto à parede do tubo está, pela lei da
viscosidade de Newton, em repouso devido à adesão e, à medida que se afasta da parede em direção
ao centro do tubo, vão se obtendo superficies cilindricas concêntricas com velocidades crescentes
até o limite máximo v. Somente no caso em que a espessura L1x for pequena em relação ao diâmetro
do tubo é que o teorema de Bemoulli tem validade, e pode ser aplicado. Essa espessura L1x depende,
principalmente, do coeficiente de viscosidade do líquido, mas também de sua densidade e do
comprimento do tubo, como veremos, a seguir, no desenvolvimento da equação de Poiseuille para
fluxo, sob regime estacionário, em tubos capilares.
I
I
~x

.--
I ~x

(a) (b)
Figura 7.12 Distribuição da velocidade de um líquido numa secção transversal de um tubo
cilíndrico a) não-capilar e b) capilar.
206 • Movimento da Agua no Solo

Inicialmente vamos mostrar como se pode calcular a distribuição de velocidade mostrada no


tubo da Figura 7.12b, e depois o cálculo da vazão pelo tubo.
Consideremos, então, um certo líquido fluindo através de um tubo capilar de raio R e
comprimento L sob uma diferença de potencial total tlc/J, = c/J,I - c/J,2 constante (Figura 7.13).

, , ,, ,,I
,
I
L
I
---
~: R
,
! r!
I I i
,
I
,
I

IL
efi" r
(b)

T 1
I I
~ll
I r I I
:( )!
I R
(a)
Figura 7.13 Esquema ilustrativo para a dedução da lei de Poiseuille: a) movimento de um cilindro
de líquido de raio r; b) movimento de um pequeno cilindro oco de líquido de parede
com espessura Llr.

Imaginemos, agora, a movimentação de um cilindro de líquido de raio r concêntrico ao tubo


capilar mostrado na Figura 7.l3a. Evidentemente, à medida que este cilindro se movimenta, sua
superficie curva de área igual a 2n:rL, assim como a superficie interna idêntica do cilindro externo
formado pelo líquido remanescente sofrem a ação da força de atrito Fa (equação A20). Sob
condições de regime estacionário, o cilindro se move a uma taxa constante, sem aceleração, pelo
que a força líquida sobre ele é zero. Para isso, a força Fg do gradiente de potencial total l1c/J/L deve
ser exatamente igual à força de atrito Fa, isto é,

Fg =Fa· (A21)

Analisemos, separadamente, as duas forças Fg e Fa para o caso em questão.


Como o volume do cilindro interno é n?L, a força total resultante que ele experimenta
quando sob a ação do gradiente l1c/J/L é o produto do gradiente pelo seu volume. Lembre-se de que o
gradiente de potencial representa a força experimentada por cada unidade de massa ou volume de
líquido (ver item 3.2). Portanto, expressando l1c/JIL em força / volume:
Dinâmica da Agua no Solo· 207

ou

(A22)

Por outro lado, a força de atrito, neste caso em que a área é cilíndrica, deve ser, de acordo
com a equação (A20), dada por

(A23)

o sinal negativo que aparece na equação (A23) deve-se a dv/dr < O,uma vez que, como se pode ver
pela Figura 7.13 em conjunto com a Figura 7.12, conforme r aumenta, v diminui.
Portanto, substituindo as equações (A22) e (A23) na equação (A21):

ou

dv = _ (tiepl )r dr (A24)
2T]L '

sendo v a velocidade do líquido à distância r do centro do tubo capilar.


Integrando a equação (A24) entre v = O(em r = R) e v = v (em r = r), obtém-se

v !:J.ep r
f dv = __ I f rdr .
O 2TJL R

Conseqüentemente,

(A25)

ou seja, a velocidade do líquido varia com a distância radial do centro do tubo capilar segundo uma
função do segundo grau, com um gráfico de v em função de r, desde r = Oa r = R, sendo assim uma
parábola.
Mostremos, agora, como calcular a vazão Q do tubo capilar, isto é, o volume total de líquido
que o atravessa por unidade de tempo, a partir da equação (A25). Para tanto, imaginemos um
pequeno cilíndro oco de líquido de parede com espessura L1r, concêntrico ao tubo capilar, de raio
médio r e fluindo a velocidade v (Figura 7.13b).Se nos reportarmos à equação (A3), é fácil verificar
que o volume de líquido que flui através da superficie de área (2nr)L1r, por unidade de tempo (L1Q),
é simplesmente o produto da velocidade pela área, isto é,
!:J.Q= 2nr(& )v . (A26)

Note que L1Q é a contribuição do pequeno cilindro oco à vazão total Q.


Substituindo a equação (A25) na equação (A26):
208 • Movimento da Agua no Solo

(A27)
~Q = [n!1f/J1
217L ]r(R2 _ r2 ~r.

No limite, quando L1r se toma infrnitamente pequeno, a equação (A27) pode ser escrita como

dQ = [n!1f/J{
217L ]r(R2 - r2 }Ir,

a qual pode ser integrada entre os dois valores limites de r, isto é, r = O e r = R, para os quais Q = O

e Q = Q, respectivamente:

J dQ
o
=
217L
1
7r~f/J{ r(R2
o
- r2}Ir

ou

Q= 7r~f/JIR4 (A28)
817L

A equação (A28) é conhecida como equação ou lei de Poiseuille.


Observe que, como o fluxo é em regime estacionário,

Q= dV _ V
dt -t'
ou seja, a vazão é simplesmente o quociente entre o volume do líquido e o tempo decorrido para sua
saída através da extremidade inferior do capilar.
Além disso, chamando de A = 7rR2, área da secção transversal do tubo capilar, podemos
reescrever a equação (A28) como:

R2 ~
Q=-A~ (29)
817 L'
a qual, como se pode ver, é muito semelhante à equação de Darcy.
Por meio da equação (A28) ou (A29), pode-se medir 17 conhecidos Q, t1f/JI, R e L. O
equipamento utilizado para isso chama-se viscosímetro, o qual consiste de um simples tubo de raio
R e comprimento L, adequadamente preparado para que se possa aplicar uma diferença de potencial
t1f/J1e medir Vem função de t.

Na detenninação da viscosidade por meio do viscosÍInetro é mais conveniente a medida da


razão entre a viscosidade 17 e a densidade p do fluido, T]/p, a qual tem dimensões de uma grandeza
puramente cinemática (eT1). Por esse motivo, é comum chamar essa razão de coeficiente de
viscosidade cinemática, ou viscosidade cinemática, e chamar 17, para diferenciar, de coeficiente de
viscosidade dinâmica, ou viscosidade dinâmica.
VIII

INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO

Nossa intenção com este capítulo é fornecer; de forma resumida, os aspectos básicos e
tradicionais do processo de infiltração em tennos de uma aplicação da teoria do movimento da
água em solos vista no capítulo anterior. Nesse sentido, sugerimos como leitura complementar,
além dos trabalhos originais de Green e Ampt (1911), Kostiakov (1932), Horton (1940), Philip
(1955) e Philip (1957a,b), o trabalho muito bem elaborado de Swartzendruber (1969) e o
capítulo 13 do livro de Childs (1969). Aos interessados em infonnações mais recentes sobre o
assunto, recomendamos a consulta do livro "Advances in Infiltration" (ASAE, 1983), que é o
resumo da Conferência Nacional sobre Avanços em Infiltração realizada em Chicago (Illinois),
em dezembro de 1983. Outra referência também muito importante é o livro "Methods of Soil
Analysis", parte I, editado por Arnold KIute em 1986, especificamente os capítulos 32, escrito
por Bouwer, 33, escrito por Peterson e Bubenzer, e 34, escrito por Kincaid.

1. INTRODUÇÃO

De[me-se infiltração como a entrada de água no solo através de sua superfície, isto é, através
da interface solo-atmosfera. Assim, durante uma chuva, parte dela pode infiltrar e movimentar-se
para baixo e parte pode escorrer pela superficie do solo (se o terreno apresentar declividade).
Percebe-se, desta maneira, que a infiltração é um processo que separa quanto da precipitação (chuva
e/ou irrigação) flui sobre a superfície do solo e quanto flui abaixo da superfície, esta última tanto
vertical como horizontalmente, dependendo do tipo de solo.
O tenno taxa de infiltração refere-se à quantidade de água que atravessa a unidade de área da
superfície do solo por unidade de tempo. É fato experimental que, durante o processo de infiltração
num perfil de solo homogêneo inicialmente seco, a taxa de infiltração tende a decrescer com o
tempo, atingindo um valor [mal constante. Um gráfico relacionando a taxa de infiltração (eixo das
ordenadas), a partir de uma superfície inundada, com o tempo (eixo das abscissas) é chamado de lei
de infiltração, e o valor [mal constante da taxa de infiltração é conhecido pelo nome de capacidade
de infiltração.
São conhecidas diversas fórmulas (denominadas equações de infiltração) propostas para
expressar a lei da infiltração de água em solos. São equações desenvolvidas empiricamente ou a partir
de considerações fisicas e aplicam-se somente a solos homogêneos e que permanecem homogêneos
210 • Infiltração da Àgua no Solo

durante o processo. Antes porém, de mostrarmos como estas equações foram desenvolvidas, vejamos
como se apresenta o perfil de conteúdo de água durante a infiltração em um solo homogêneo.

2. PERFIL DE CONTEÚDO DE ÁGUA TÍPICO

Num perfil de solo uniforme, a distribuição da água com a profundidade, quando se mantém
uma pequena carga hidráulica na superficie do solo, é, de acordo com Bodman e Coleman (1944),
como a mostrada, de maneira esquemática, na Figura 8.1. A zona de saturação, como o próprio
nome diz, é uma zona em que se presume estar o solo saturado. A seguir, vem a zona de transição,
que é uma região de rápido decréscimo do conteúdo de água. A zona de transmissão, que vem em
seguida, é uma porção do perfil através da qual a água é transmitida com variações muito pequenas
no conteúdo de água. Abaixo da zona de transmissão vem a zona de umedecimento, que é uma
região de variação relativamente rápida de conteúdo de água. Finalmente, a frente de molhamento
compreende uma pequena região na qual o gradiente de conteúdo de água sofre uma variação
bastante abrupta que representa o limite visível da penetração da água.
conteúdo de água
1
Ho~~~~
inicial
conteúdo de água no solo e

conteúdo de água saturação

N zona de saturação
Q)
"O
L
<:<l

:g
"O
:::
c..:l
o
...
o. zona de transmissão

zona de umedecimento

frente de ~ frente de molhamento


molhamento

Figura 8.1 Perfil de conteúdo de água típico durante o processo de infiltração em um perfil de solo
uniforme de acordo com Bodman e Coleman (1944).

3. EQUAÇÃO DE GREEN E AMPT (1911)

Para o desenvolvimento de sua equação de fluxo, estes autores assumiram que, ocorrendo o
processo de infiltração, e mantendo-se uma carga hidráulica Ho constante na superficie do solo, a
frente de molhamento é bem nítida e precisamente definida, atrás da qual o solo se encontra
uniformemente saturado com condutividade hidráulica Ko; por sua vez, o potencial mátrico nesta
frente permanece sempre constante, independente do tempo e posição, e igual ao valor do potencial
mátrico do solo antes da infiltração. A Figura 8.2 ilustra bem estas hipóteses.
Verifica-se, pelas hipóteses adotadas, que o perfil de conteúdo de água apresenta uma curva
em forma de degrau, situação impossível na prática. No entanto, estas suposições simplificam a
equação de fluxo, tomando possível uma solução analítica.
Dinâmica da Agua no Solo • 211

superficie do solo

8 8

frente de
molhamento
z z com epm= -Hf

(a) (b)
Figura 8.2 (a) antes da infiltração: o solo tem um conteúdo de água inicial 8j constante; (b) durante
a infiltração, num certo tempo t: o potencial de pressão na superficie do solo é
constante e igual a Ho e o potencial mátrico na frente de molhamento é constante e
igual a - Hj.

Aplicando a equação de Darcy-Buckingham à coluna saturada de comprimento L, e


considerando o referencial gravitacionallocalizado na frente de molhamento, a densidade de fluxo
será a taxa de infiltração, a qual chamaremos, aqui, de i, ou seja:

. dI Ho+L+Hj
z=-=-Ko . (1)
dt L

sendo I = infiltração acumulada = VAIA, definida logo adiante.


Rearranjado numa fonna conveniente:

dI Ko(Ho+ Hf)
-=-
dt
Ko-------·
L
Chamando
- Ko=A (2)

e
(3)

resulta para a equação (1):


dI B
-=A+-. (4)
dt L

É fácil perceber que a equação (4) satisfaz plenamente os reqmsItos de que a taxa de
infiltração deve ser grande quando L é pequeno (início da infiltração) e decrescer com o tempo,
tendendo a um valor constante Ko depois de um longo tempo, quando L se toma maior.
Calculemos, agora, a infiltração acumulada I, isto é, a quantidade total de água que penetrou
no solo desde o início da infiltração até o tempo t, expressa em termos de uma altura de água,
212· Infiltração da Àgua no Solo

volume de água infiltrado (VA) por unidade de área do solo (A). Isto é obtido pela integração da
equação (4). Vejamos.
Focalizemos nossa atenção na frente de molliamento. Estando ela no tempo t em Z = L,
depois de um intervalo de tempo infinitesimal dt estará em Z = L + dL e uma quantidade
infmitesimal de água dI infiltrou. Tendo em vista a hipótese do problema, é fácil verificar que
dI = ( (),.- ();) dL ,

sendo (),.= conteúdo de água de saturação e ()i = conteúdo de água inicial no solo antes da
infiltração. Chamando (),.- ()i = L1(), evidentemente,
dI = ( jj. () ) dL

dI = ( jj.() ) dL . (5)
dt dt

L1()representando a diferença constante de conteúdo de água no solo antes e depois da passagem da


frente de molhamento.
Comparando-se as equações (4) e (5):

jj.() dL = LA + B
dt L
ou

dt ( jj.() )L
(6)
dL LA+B

Façamos a integração da equação (6). Para tanto, chamemos


LA+B=x, (7)
donde

L=x-B (8)
A
e

dL= dx (9)
A'

Substituindo as equações (7), (8) e (9) na equação (6):

dt (jj.() )(x - B)
dx A2 X

Separando as variáveis e rearranjando convenientemente, resulta:

dt = jj.() (dx _ B dx ). (10)


A2 X

Como, para t = O, L = O e, de acordo com a equação (7), x = B, a integração da equação (10)


de t = O a t = t (e, portanto de x = B a x = LA + B),
Dinâmica da /Ígua no Solo' 213

f dt = ---z f dx - B f - (11)
o
f
A
i18 B
(LA+B B
LA+B X
dx J
nos leva a

ou

t~ ~+_~m(LA;B)] (12)
A

Por outro lado, sabemos também que

I = (i18)L, (13)

daí a equação (12) ser escrita como

t~ !-cm(1+f:J (14)
A

sendo

c= (i18)B . (15)
A

É fácil de perceber que a infiltração acwnulada I


não pode ser resolvida explicitamente a
partir da equação (14). No entanto, detenninando-se os valores das constantes A e B a partir da
equação (4) por meio da regressão linear de i versus l/L e calculando-se ,18 por meio da
detenninação de 8, e de 8i, obtém-se o valor da constante C pela equação (15). Conhecidos os
valores de A e C, fica resolvido o problema de explicitar I da equação (14).

4. EQUAÇÃO DE KOSTIAKOV (1932)

Esta é uma equação inteiramente empírica, da seguinte fonna:

(16)

em que ii é a taxa de infiltração no início da infiltração, em t = O, e a é uma constante. Os valores


destes dois parâmetros podem ser detenninados a partir da regressão linear de log i versus log t.
Lembrando que
. dI
1=-
dt

I
e que (infiltração acwnulada) é igual a zero no tempo zero (início da infiltração) podemos integrar
a equação (16) como
214· Infiltração da Àgua no Solo

f t

f dI = ii f ra dt ,
o o

donde
t (l-a)
(17)
1= ii 1- a .

i
Analisemos um pouco as equações (16) e (17). A fIm de que sempre dinllnua, a constante a
I
na equação (16) deve ter um valor positivo. Por outro lado, uma vez que nunca pode ser negativo,
a quantidade (1 - a) - equação (17) - tem que ser positiva. Disto conclui-se que a deve ser um
número positivo menor que um.
Uma outra consideração é o fato de que, de acordo com a equação (16), tende para zero i
quando t tende para o infInito, o que, como já sabemos, não é verdade, uma vez que quando t -7 00, i
deve ser igual a um valor constante Ko. Podemos, no entanto, calcular quando isto acontece: esta
taxa [mal constante (= Ko) deve ser atingida nwn tempo T dado pela substituição de por Ko na i
equação (16):

Ko=iira

Explicitando T, resulta:

TI.= -'
(
Ko
. )I/a

Pelo que acabamos de ver, deve-se esperar que a equação de Kostiakov seja válida apenas
nos estágios iniciais da infIltração para t < T. Esta equação (equação 16), embora empírica e de
aplicabilidade limitada, é útil em aplicações de irrigação, devido à sua simplicidade e ao fato de,
para curtos intervalos de tempo, ajustar-se razoavelmente bem para uma grande quantidade de
solos.

5. EQUAÇÃO DE HORTON (1940)

Na natureza, ocorrem muitos processos de decaimento que obedecem à lei de que a taxa de
variação de uma determinada grandeza que se aproxima de um valor [mal constante é proporcional
à diferença entre seu valor num determinado tempo e o valor fInal constante. No caso em questão, a
grandeza é a taxa de infiltração i, cujo valor fInal constante vamos chamar de ir- Tendo em vista o
exposto, a taxa de variação da taxa de infiltração, segundo Horton (1940), seria dada por
di .
-dt = - C(I - I) . i (18)

o sinal negativo na expressão acima indica que a taxa de infIltração está decrescendo ao
valor fInal constante.
Chamando de ii a taxa de infIltração no início do experimento, em t = O, podemos, após a
separação das variáveis, integrar a equação (18) como
. I
f'~=-fCdt
. l-li
'; o
Dinâmica da ..4gua no Solo • 215

ou

donde, após algumas passagens algébricas simples, obtém-se a equação (19):

i=ij+C-ij)e-Ct, (19)

conhecida como equação de Horton. A detenllinação dos três parâmetros U;, ir e C ) que aparecem
nesta equação pode ser feita pelo melhor ajuste estatístico dos dados experimentais (valores de i e t).
A aplicabilidade da equação de Horton é muito variada, pois não se baseia em nenhuma
teoria fisica adequada, apenas na intuição.

6. EQUAÇÕES DE PHILIP (1955 e 1957)

A grande vantagem das equações propostas por Philip (1955 e 1957b) para explicar a lei da
infiltração é o fato de ela ser baseada na teoria, e de suas constantes possuírem um significado
fisico. Como veremos, é uma equação deduzida a partir da equação do perfil de conteúdo de água.
Antes, porém, de procedermos ao desenvolvimento teórico de sua obtenção, duas relações
matemáticas envolvendo derivadas parciais precisam ser conhecidas. Vejamos.

6.1 Relações matemáticas

No processo de infJ.1tração, é fácil de perceber que há uma relação entre o conteúdo de água
no solo (8), a distância a partir da superficie inundada (z) e o tempo (t), quer dizer, existe uma
relação funcional entre 8, z e t. Podemos, então, expressar 8 em função de z e t:

8=8(z,t). (20)

A diferencial total d8 será, portanto:

(21)

Por outro lado, podemos também expressar z em função de 8 e t:

z=z(8,t). (22)

Conseqüentemente:

(23)

Substituindo a equação (23) na equação (21), resulta:

ou
216 • Infiltração da Àgua no Solo

d8 ~(~~],( ~; ),d8+[( ~~],( ~; 1+(~)} (24)

Pelas equações (20) e (22) verifica-se facilmente que, das três variáveis, somente duas são
independentes. Vamos escolher e e t como tais (equação 22). Nestas condições, a equação (24) deve
ser verdadeira para todos os conjuntos de valores de de e dto Assim, se dt = O e de 7:- O, resulta:

dz ( (dZ)
(de) de ( =1

ou

(25)
dz ( = (dz/de)(
(de) 1 .

Se, no entanto, de = O e dt 7:- O, toma-se claro, a partir da equação (24) que

dz ) ( (ddtz Je
( de + (dedt J z = O
ou

( ~), = - ( ~ J,( ~~).,


e, tendo em vista a equação (25):

(dz/dt)e

(~~1 (dz / de)(


(26)

As equações (25) e (26) são as relações matemáticas que nos referimos anteriormente e que
serão utilizadas a seguir.

6.2 Infiltração horizontal

Philip considerou dois tipos de infiltração, a horizontal e a vertical, para obter a equação do
perfil de conteúdo de água, e então a equação da lei de infiltração. Neste subitení, vamos tecer
considerações a respeito do primeiro deles (philip 1955), conforme Swartzendruber (1969).
Consideremos, então, o arranjo experimental da Figura 8.3, que ilustra a difusão horizontal da
água numa coluna de solo homogêneo semi-infmita, com um conteúdo de água uniforme 80.
O estado inicial, portanto, é aquele no qual, ao longo de toda a extensão da coluna, o
conteúdo de água é constante e igual a eo.
Num dado momento, considerado como tempo zero da infiltração (t = O), um conteúdo de
água maior e) é imposto e mantido numa das extremidades da coluna escolhida como x = O. Isto
pode ser feito colocando-se em contato com a superficie livre do solo, em t = O, uma placa porosa
conectada a uma bureta de Mariotte, como mostra a Figura 8.3. Obtém-se um conteúdo de água el
próximo à saturação em x = O, mantendo-se a entrada da pressão atmosférica da bureta de Mariotte
(entrada de ar) um pouco abaixo do centro da coluna. Evidentemente, valores menores de ej são
obtidos à medida que a entrada de ar é abaixada em relação ao centro da coluna.
Dinâmica da Agua no Solo' _1

o pro6lema, nessas condIções, resume-se em obter em qualquer tempo subseqüellte o


.:onteúdo de água no solo da coluna com a distância a partir da superficie exposta (x = O).

bureta de Mariotte
J.~.-

- o

c o

placa porosa

solo homogêneo

x=O x = 00

Figura 8.3 Esquema do arranjo experimental para medida da infiltração horizontal da água no
solo

A equação diferencial adequada, cuja solução fornece a informação necessana para este
problema de fluxo horizontal, é a equação de Richards (ver equação 87 do capítulo VII):

(27)
at =~[D(e)ae],
ae ax ax

sujeita às condições:

t > O, x = O, e = eI . (28)
tt>o,x=oo,e=eo
= O, x > O, e = e o }

A solução, portanto, da equação (27), sujeita às condições (28), será do tipo:

e =e(x,t). (29)

Se, em vez da solução e = e (x,t), considerannos a solução


x = x(e,t), (30)

a equação (27) tem que ser, coerentemente, transformada. Para tanto, já sabemos que (ver item 6.1):

-----
ae ax/ê)t
(31 )
ar ax/ê)e
e
218 • Infiltração da Agua no Solo

----
ae 1
(32)
ax ax!de

Substituindo-se as equações (31) e (32) na equação (27), resulta:

(33)
-ai
ax = ae
a ( D ax!de
1) '

e, como sabemos, D é função de e.


O problema de valor de contorno se tomou, portanto, a equação (33), sujeita às
condições (28), cuja solução é do tipo da equação (30).
Vamos, então, obter a solução da equação (33) sujeita à condições (28) por meio da técnica
das variáveis separáveis, assumindo que esta solução possa ser escrita na forma do produto
x = À(e )s(t), (34)

no qual À é função só de e, e s é função só de t. Fazendo-se a derivação parcial da equação (34),


obtém-se:

ax =À ds (35)
at dt
e


-=s-.
ax
ae de
(36)

Substituindo-se as equações (35) e (36) na equação (33), temos:

À dt _ ae
ds a [D s(dJVde)
1 ]
ou

- À dt =--;ld(D)
ds de dJVde .

Separando as variáveis, isto é, colocando as funções de t no membro da esquerda e as funções


de e noda direita, resulta:

(37)
s ds
dt = - Àld(D)
de dJVde .

Ora, como o membro da esquerda é função só de t, o da direita só de e e um é igual ao outro,


não é dificil de imaginar que para isto ser possível cada um deles deverá ser igual a uma constante,
ou seja,
ds
s-=a
dt

e
Dinâmica da Agua no Solo • 219

1 de
-À d D )=a,
( d)jde
sendo a a constante. Rearranjando:
s ds= adt (38)
e

(39)
~ ( d:de )= - aÀ .
A equação diferencial (38) é fácil de ser resolvida. Integremo-Ia:

f ds =fdt.
a
Portanto:
1/
--=t+C)
a 2 '
donde

(40)

sendo C) a constante de integração.


Substituindo-se, então, a equação (40) na equação (34), que é solução de nosso problema,
resulta:

ou

x=À~ ~t+C).

Chamando
À~ =71(e), (41)
tem-se que
x = 71 (e )Jt+C; . (42)

Sendo a equação (42) a solução de nosso problema, ela deve satisfazer às condições (28) do
problema de valor de contorno, isto é:
a) t > O; x = O; e = ej
Portanto:

donde, evidentemente:

(43)

b) t= O; x > O; e = eo
220 • Infiltração da Agua no Solo

Portanto:

X=1](80}JO+Cl

ou
x
(44)
1](8J= fG'
Se C) for [mito e diferente de zero, resulta, pela equação acima, que 80 variaria com x, o
que viola a condição de que 8 = 80 para qualquer x> = O. Portanto, as únicas
O no tempo t
escolhas para C] são 00 ou O. No entanto, C) ---700 resultaria, pela equação (44),1](80) = O, donde,
tendo em vista a equação (43), teríamos o caso estático trivial de que 80 = 81. Portanto, para uma
solução não trivial, C] = O e,

1](80) ---7 00. (45)

c) t > O', x ---700.8


, = Bo
Portanto:

~t + Cl 1](80)---700,

o que, pelas considerações anteriores a respeito de C), resulta, como se deveria esperar,
1]( 80) ---7 00

Portanto, como C] = O, resulta para nossa solução (42):


x=1](8)Ji , (46)

donde
x
(47)
1](8)= Jt'

conhecida como transformação de Boltzmann.


Observe que a solução (46) ainda não está completa, uma vez que 1](8) não foi resolvido
como o foi s(t). Vejamos até onde podemos chegar. Da equação (41), nota-se facihnente que

d1] = fi;; dA . (48)

A substituição das equações (41) e (48) na equação (39) fornece:

d8 d1] =-a~
/d8 ~2'
!!-.-[ fi;;D ] -v.:a

ou, simplificando:

(49)
d8
d( d1]D
/ d8 J =-2
1] .
Dinâmica da Agua no Solo • 221

Portanto, o nosso problema de valor de contorno reduz-se agora à equação (49), sujeita às
condições (43) e (45). Note que a equação (49) tem somente uma variável independente e e a
variável dependente T/. Isto significa que sua solução, se encontrada, é uma curva ou uma expressão
matemática de T/ em função de e. Para este problema, Philip (1955) deu uma solução numérica
rápida. Para tanto, integrou a equação (49) com relação a e, obtendo

f T/(e)de = -2 8(/f8 d (
8
8(/ dT/ ~)
eD / de ]

I
ou

1ry(e}ie = -2[ dry(~/ de = -2[ dry(~/ de - dry(e~)/ de }

d17(e )
Mas, pela condição (45), T/(e o) = 00, pelo que
de
o =- 00 ; donde, portanto

D o -
dT/(e 0)/ de = e, então:
e

f de = - 2D (50)
eo T/ dT/ / de .

Nestas condições, a equação (50) fica sujeita somente à condição (43).


A partir do conhecimento dos valores de eo e ej, e da relação de D em função de e, ou seja,
D(8), a solução numérica de diferenças fmitas da equação (50) sujeita à condição (43), feita por
Philip (1955), será agora vista de maneira resumida. Os interessados em detalhes deverão consultar
o texto original.
Da experiência, temos uma idéia a respeito da forma do gráfico de T/ em função de e. É a
mesma curva de x em função de e para t = 1, porque quando t = 1, T/ = x (ver equação 47). Este
gráfico é mostrado na Figura 8.4.
O que nós sabemos da teoria é que T/ em e = ej, isto é, T/(el) é igual a O, e que T/(eo) ~ 00.

Sabemos que a função D( 8) é conhecida. No entanto, a área sob a curva de T/ em função de e não é
conhecida inicialmente, residindo aí a dificuldade. De qualquer maneira, o processo consiste em
dividir a faixa de conteúdo de água entre eo e e) em um certo número de intervalos iguais a L1e
(Figura 8.4), e escrever a equação (50) na fonua de diferença fmita:

(51)
222· Infiltração da Agua no Solo
71 II
:
~
•..
,'~
E~~:
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V~···.
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:r.::..~..~..: l ~.~.~~«
~iWn:::::::í(::~;'~·~~;~~
//!::::t;;;?;n;;;!
wr&!~tflé f
~"""~f;;":;~:""'{'~:'<
71d8
~"'.~l·,:/.",.·/~/"":/..:
~W~~%~&.®!

~l~ij~.~~~~!
:j'·:/f·:>::··:>:::::::::
t·~·:::-:::·.v~··:>/
....)o.:>~ .....• '.' 80
.. ' ..... ' ......• ./ ... <..::.;»;;;2::;;:/.::
~·::'-:{//~-'l~:J'~:.:%0·:

rrfd~~;;ir:(í;;~t;:il~t<12;;~~?! 8
80 8; -118 8i 81

e _118
I 2

Figura 8.4 Cwva hipotética de 71emfunção do conteúdo de água.

sendo D( 8i - ,18/2) a difusividade no conteúdo de água 8i - ,18/2, assim como 71(8i - ,18) e 71(8i) são
os valores de 71 para os conteúdos de água 8i - ,18 e 8i, respectivllinente (Figura 8.4). A integração
começa em 71( 8a, e o valor da integral da equação (51),

8j~
2

f71d8,
80

é "chutado". Nestas condições, como D(81 - ,18/2), ,18 e 71(81) são conhecidos, a equação de
diferença finita (51) nos penllite calcular 71(~ - ,18), e um segundo ponto sobre o perfil é conhecido.
A área sob o perlil entre 81 -118/2 e 8] -118, isto é,

M
8'-2 8,-11.8
f 1Jd8 - f 1Jd8 ,
80 80

pode ser agora calculada. A partir de seu valor e do "chute" inicial, mede-se

8j-il8

f71d8.
80
Dinâmica da Agua no Solo •

Reinicia-se o processo agora com

que surgiram do passo anterior; encontra-se TJ( 8, - 3L18/2), e um outro ponto é plotado sobre o perfil.
Continua-se com este procedimento até que toda a faixa de conteúdo de água (de 80 a 8J) seja
coberta. Se o "chute" inicial for bom, a área sob a curva será eliminada no último passo, quando o
conteúdo de água 80 é alcançado. Se isto não acontecer, e a área sob a curva no último passo não for
aproximadamente igual a zero, novo "chute" tem que ser feito no início, todo o processo refeito, e
assim sucessivamente.

No entanto, a função TJ( 6), isto é, o gráfico de TJ em função de 8, pode ser obtida a partir de um
dado perfil de conteúdo de água determinado experimentalmente com o arranjo da Figura 8.3.
Consideremos um exemplo para esclarecer. Suponhamos que, para um dado solo, 400 minutos após
a imposição do conteúdo de água 81 em x = O da coluna, tenha-se obtido o perfil de conteúdo de água
mostrado na Figura 8.5, cujos resultados encontram-se na Tabela 8.1 (primeira e segunda colunas).

eli (m3m -1
1
0,1
0,2 ml
t=
0,4
0,3

o 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 x (m)


Figura 8.5 Perfis de conteúdo de água numa infiltração horizontal.

Aplicando-se a equação (47) para os valores de x da Tabela 8.1, obtém-se facilmente os


valores de TJ correspondentes aos valores de 8 mostrados (lembrem-se que Yt = 20 minJ12). Os
resultados encontram-se dispostos na terceira coluna da mesma tabela. Observe ainda, pela
equação (47), que, para t = 1, TJ = x (numericamente), porquanto o gráfico de 8 em função de TJ
representa o perfil de conteúdo de água para t = 1 (no caso presente, 1 minuto), o qual também está
desenhado na Figura 8.5 a partir dos dados da segunda e terceira colunas da Tabela 8.1. Uma vez
obtida a função TJ( 6), pode-se desenhar os perfis de conteúdo de água para qualquer tempo; basta
aplicar a equação (46). A Figura 8.5 apresenta os perfis de conteúdo de água para t = 100 e para
t = 256 minutos, obtidos desta maneira, isto é, a partir de TJ( 6).
224 • Infiltração da Agua no Solo

Tabela 8.1 Cálculo de T]para os diversos valores de e do perfil de conteúdo de água e (x) obtido
experimentalmente em t = 400 minutos.

x(m) e(m3.m'3) I . ,//2)


T]\m.mzn
0,0 0,40 0,00000
0,ü70 0,38 0,00350
0,095 0,35 0,00475
0,112 0,30 0,00560
0,123 0,25 0,00615
0,131 0,20 0,00655
0,138 0,15 0,00690
0,143 0,10 0,00715
0,150 0,05 0,00750

Vejamos, agora, como se calcula a taxa de infiltração e a infiltração acumulada em função do


tempo, a partir do perfil de conteúdo de água obtido num detenninado tempo por meio do arranjo
experimental da Figura 8.1. Com base em nosso conhecimento a respeito da armazenagem de água
num perfil de solo, é fácil verificar que a infiltração acumulada I, na direção horizontal, é dada por
8,
(52)
I = fXde.
8"

Observe que a integral da equação (52) é a annazenagem de água num determinado tempo de
infiltração considerando e (e não x) como variável independente. Isto foi feito porque, pela teoria, a
solução do nosso problema de valor de contorno é x( e, t) e não e (x, t), tanto que, como x = T]Vt
(equação 46), resulta, por substituição:
8,
8, (53)
I = ffT]Jide
=I .Jt T]de
8" ,

isto é, colocando O termo Vt fora do sinal de integração, porque ela se dá num determinado tempo t
(constante). A integral da equação (53) é uma constante, pois representa a área sob a curva do
gráfico de T] em função de e, o qual é único para determinado solo (ver Figura 8.4 e 8.5 para t = 1).
Assim, podemos escrever a equação (53) como

I=CJi, (54)
sendo
8,

C = fT]de.
8"

Portanto, a infiltração horizontal acumulada é proporcional à raiz quadrada do tempo. A taxa


de infiltração i será

dI -~cJi
i = dt - dt
Dinâmica da Agua no Solo • 225

ou
. C
[=-- (55)
2Ji'
que é a equação de Philip para a infiltração horizontal.

6.3 Infiltração vertical descendente

Consideremos o mesmo arranjo experimental da Figura 8.3, com a única diferença de que
a coluna de solo seja colocada na posição vertical, conforme mostra a Figura 8.6. As condições
de contorno deste problema são, portanto, as mesmas da infiltração horizontal, porém a equação
diferencial que rege o fluxo de água na direção vertical em solo homogêneo é, como vimos, a
equação (88) do capítulo VII.

~ bureta de Mariotte

. '

, ,z=O;8=8j(emt=O)
y

x
'. ô .
'.õ.
',::r
" o "'
.' a
'o '
'''''
. (ti)'
"::l
',(ll .
'
"o

z =--00; 8 = fb(em t > O)

Figura 8.6 Esquema do arranjo experimental para medida da infiltração vertical da água no solo

Nestas condições, o problema de valor de contorno para o arranjo da figura é

(56)
dt =~(D
de dz dz
de)+ dz
dK

t>o,z=o, 8=8~ ' (57)


t>o,z=-oo,
t=O,z<O, e=e}
e=80

cuja solução deve ser


8 =8(z,t) , (58)
226 • Infiltração da Agua no Solo

Igualmente ao que se viu para a infiltração horizontal, se considerarmos a solução


z=z(e,t) (59)

em vez da solução (58), a equação (56) se transforma, tendo em vista os teoremas matemáticos
representados pelas equações (25) e (26), em

(60)
-a;=
dZ de
d ( dzlde
D ) + dK
de'

o nosso problema de valor de contorno se tomou então, agora, a equação (60), sujeita às
condições (57), cuja solução é a função representada pela equação (59). Vamos examinar duas
situações para este problema: a primeira para um tempo de infiltração t bem pequeno e a segunda
para um tempo t não pequeno.
Primeira situação (t pequeno)
A equação (60) pode ser reescrita na fonna

(61)
-a;=
dZ de
d (DdZ/de +K ) .

Tendo em vista a forma da curva z em função de e, é fácil verificar que, à medida que o
tempo diminui, a quantidade êJz/Je (tangente à curva z em função de (J) vai se tomando muito
pequena, sendo, teoricamente, igual a zero para t = O. Por esse motivo, a magnitude de D/(J8IêJz) é
muito maior do que K, isto é,
D
(62)
az/ae »K

para t pequeno, porquanto a equação (61) pode ser escrita como

(63)
_ dZ=~(D
dt de dZ/de'
1 )

Assim, K pode ser desprezado para t pequeno.


Observe que a equação (63) é idêntica à equação (33) para o fluxo horizontal. Portanto, a não
consideração de K na equação (61) nos leva a concluir que sua solução se toma igual àquela para
infiltração horizontal, isto é,

z =T/ tl/2 . (64)

Note que, no caso da equação (64), como Z ~ O, então também T/ ~ O.

Segunda situação (t não pequeno)

Neste caso, para encontrar a solução da equação (60), sujeita às condições (57), a técnica
de variáveis separáveis não contorna o problema, isto é, um produto como na equação (34) não
separa as variáveis.
No entanto, wna formulação alternativa que pode ser tentada e que tem muitos antecedentes
na solução de equações diferenciais é asswnÍr uma solução em fonna de série, na qual cada termo
seja o produto de duas grandezas, uma função só de e e a outra função só de t:
Dinâmica da Agua no Solo • 227

=
Z=JOI' + Jlt
I' m + f 2t 2m + f 3t 3m + ... + J/I' im + ... + ... = .t..JJ/
" I' im , (65)
i=O

sendo m uma constante positiva, pelo que j; é função só de 8 e im é função só de t.


Pelo exposto na primeira situação, a equação (65) deve se reduzir à equação (64) para tempos
pequenos. Para que isto aconteça, a equação (65) tem que ser escrita como

(66)

donde, pela comparação das equações (64) e (66), resulta que.fo = O em = 1/2, de modo que uma
forma mais específica da solução proposta seria
=
-f
z-}t 1/2 + f 2t+ f 3t 3/2 + f 4t 2 + ... + f J i/2 + ... -- .t..JJ/
"
i=1
I' i/2 . (67)

No item 6.2 deste capítulo já vimos como se obtém, numericamente, a função !I = 1]. Resta-
nos, então, saber como se obtêm as outras funções j; para i~
2 . Este problema foi resolvido por
Philip (1957a), também por solução numérica, a partir da integração da equação (60). Nesta
solução, tanto D(8) como K(8) devem ser conhecidos ou assumidos e 1](8), primeiro termo do
segundo membro da equação (67), avaliado primeiro pela solução da equação (50), sujeita à
condição (43), como visto anteriormente. Por se tratar, simplesmente, de um método numérico de
diferenças fmitas, cujo mecanismo já foi explicado de maneira resumida para o caso da infiltração
horizontal, não vamos aqui apresentar o método numérico de Philip (l957a) para o caso da
infiltração vertical.

Z (m)

6 (mJnrJ)

z=-L -------

Figura 8. 7 Gráfico da coordenada vertical de posição z versus o conteúdo de água volumétrico 8


obtido num tempo t, com o arranjo experimental da Figura 8.6.

Passemos, agora, à obtenção da equação de Philip (1 957b ) para explicar a lei da infiltração.
Num determinado tempo, o gráfico de z em função de 8 obtido com o arranjo experimental da
Figura 8.6 tem, como sabemos, a forma mostrada na Figura 8.7. Sabemos, também, que a
quantidade de água armazenada no perfilou a armazenagem hL desde a superficie onde 8 = 81 até a
profundidade L localizada na zona de conteúdo de água uniforme 80, para a qual a frente de
molhamento ainda não penetrou, vale:
228 • Infiltração da Agua no Solo

8, 8, 8,
(68)
hL= fZd8=-fzd8=L80- fZd8
o o ~

(lembre-se que -z = Z = profundidade do solo).


Substituindo a equação (67) na equação (68), temos:
8,

hL = L80 - f &//2 + f2t + f3t3/2 + f4t2 + 00 .)d8


8"

ou
~ ~ ~ ~
hL =L80 _tl/2 f !Jd8 -t f f2d8 _t3/2 f f3d8 _t2 f f4d8 -00'
(69)
~ ~ ~ ~

Por outro lado, a taxa de aumento de água armazenada ou a taxa de aumento da


annazenagem hL será, portanto:

(70)
d:t =_~rl/2 f !Jd8 - f f2d8 _%tl/2
~ ~
f f3d8 -2tf
~ ~
f4d8 -00'

uma vez que as quantidades representadas pelas integrais são funções apenas de 8e independentes
do tempo t.
Além disso, pela equação da continuidade (ver equação 57 do capítulo VII), tem-se que

dhL dI
(71)
dt = dt -qs'

em que dI/dt é a taxa de infiltração, de entrada, em Z = O, e qs a taxa de saída de água em Z = -L = -


00. Portanto, a taxa de variação de armazenagem representa a taxa da infiltração menos a densidade
de fluxo de água no limite inferior L = _00, onde o conteúdo de água é 80.

Um outro ponto a considerar é que, para tempos suficientemente pequenos de infiltração,


todos os termos do segundo membro da equação (70), exceto os dois primeiros, podem ser
desprezados, uma vez que, para t pequeno, (a) potências crescentes de t operam para diminuir estes
termos, e (b) os valores absolutos dos coeficientes 12, h,.fi, ... tomam-se progressivamente menores.
Nestas condições, a equação (70) pode ser simplificada para

8 8,

dhL =_~rl/2 J!Jd8- ff2d8. (72)


dt 2 8" 80

Comparando as equações (71) e (72), obtém-se a equação abaixo,

8 8,

dI =qs _~r1l2 J !Jd8 - f f2d8,


dt 2 80 8"
Dinâmica da .4gua no Solo • 229

que pode ser escrita como

dI 1
_=_0-112 +F (73)
dt 2

sendo,

e
8,

F=-ff2d8+qs'
8"

A equação (73) satisfaz as condições de que, para tempos pequenos, a taxa de infiltração
i = dI/dt é grande e de que, para tempos relativamente longos, tende a um valor constante F.
A integração da equação (73) fomece a taxa de infiltração acumulada I:
1= 0112 + Ft (74)

Deve ser enfatizado que as equações (73) e (74) não são aplicáveis para tempos muito
grandes de infiltração, porque, para valores de t muito grandes não prevalecem as situações (a) e (b)
comentadas anterionnente para t pequeno e o valor absoluto do primeiro termo do segundo membro
da equação (70) se toma extremamente pequeno em comparação com os valores absolutos dos
outros, os quais, com exceção do segundo, se tomam extremamente grandes. Portanto, as equações
(73) e (74) são válidas somente para os primeiros estágios de infiltração para t relativamente
pequenos.
A constante C das equações (73) e (74) é um parâmetro do solo chamado sortividade,
indicando a capacidade de um solo homogêneo absorver água em relação ao seu conteúdo de água
inicial, enquanto que a constante F está relacionada com a contribuição da gravidade para o
movimento da água.
Como vimos, os valores das constantes C e F podem ser calculados a partir de equações
i
teóricas. Entretanto, podem ser determinados a partir da regressão linear de em função de (1/2.
IX

MÉTODOS DE MEDIDA DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA


DOS SOLOS

1. INTRODUÇÃO

Os métodos de determinação direta da condutividade hidráulica dos solos podem ser


classificados em métodos de laboratório e métodos de campo. Nos métodos de laboratório, podem
ser utilizadas amostras com estrutura defonnada ou amostras com estrutura indeformada. Nos
métodos de campo, como o próprio nome diz, as medidas são executadas no próprio campo e a
perturbação do solo deve ser a mínima possível. Além disso, há outros métodos nos quais muitos
pesquisadores, por causa de certas dificuldades envolvidas na medida direta da condutividade
hidráulica, têm procurado calculá-Ia teoricamente, a partir de outras propriedades do meio poroso de
mais fácil medida.
Como informação complementar, sugerimos, aos que vão trabalhar diretamente com o
assunto, o estudo dos capítulos 28, 29, 30 e 31 do livro editado por KIute (1986), a leitura do
trabalho de revisão feito por KIute (1972), além da consulta da referência original de cada método
citado.

2. MÉTODOS DE LABORATÓRIO

Utilizando-se tanto amostras com estrutura indeformada como amostras com estrutura
deformada, os métodos de laboratório são subdivididos para condições de saturação e não saturação.
Vamos, inicialmente, estudar os métodos de medida da condutividade hidráulica de amostras
saturadas, por meio de aparelhos simples, denominados permeâmetros, e, em seguida, os métodos de
medida deste parâmetro sob condições não saturadas.
232 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

2.1 Condutividade hidráulica de solo saturado

2.1.1 Permeâmetro de carga constante

Este aparelho, cujo esquema de funcionamento pode ser visto na Figura 9.1, é mais adequado
para amostras de solo cujos valores de Ko sejam maiores que 2.10.3 mm S·I.
O método é a própria experiência de Darcy e deve ser executado, quando se utilizam amostras
com estrutura indefonnada, seguindo-se as seguintes etapas:
1. Cobrir uma das extremidades da amostra com uma peça circular de pano convenientemente presa
ao local.
2. Conectar um cilindro vazio adicional na outra extremidade por meio de uma fita adesiva à prova
d'água.
3. Colocar a amostra com esta parte coberta para baixo numa bandeja com água, de maneira que o
nível de água na bandeja, o qual deve ser vagarosamente elevado, fique um pouco abaixo do topo
da amostra.
4. Deixar assim por um período de 24 horas ou mais, até que a amostra se tome completamente
saturada.
5. Colocar uma rodela de papel de filtro no topo da amostra e, vagarosamente, colocar água no
cilindro superior até 3/4 de seu volume.
6. Rapidamente, transferir a amostra para um suporte e ativar a bureta de Mariotte (Figura 9.1).

bureta de
~ Mariotre
z

cilindro
adicional

cilindro de.
lJhland
::::{sol,,::::::::11 L

'--:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:

y gravitacional
referência \' \
x tela para
LJ· suportar o solo

proveta com o

/ percolado

Figura 9.1 Diagrama do sistema de carga constante para medida da condutividade hidráulica em
solo saturado.
Atingida a condição de regime estacionário, aplicar a equação de Darcy-Buckingham,
lembrando que o gradiente de potencial total, no presente caso, é positivo e vale (h + L)/L, donde
K=~
o (h+L)IL'
Dinâmica da Agua no Solo • 233

v
ou, como q o = - ----.i.. , porque o sinal do gradiente é o contrário do sinal da densidade de fluxo,
At
então,

(1)

sendo:
VA= volume de água coletado na proveta (ou medido pela bureta de Mariotte) durante o tempo t;
A = área da secção transversal da amostra;
L = comprimento da amostra;
h = potencial de pressão (= carga hidráulica) no topo da amostra;
qo = de:;sidade de fluxo em solo saturado.
Quando se utiliza amostra com estrutura defonnada, o procedimento é o mesmo,
evidentemente com algumas pequenas modificações que o bom senso recomenda.
Outro aspecto interessante que merece ser comentado é o seguinte. A partir da equação de
Laplace,
(2)

que, na direção vertical, se toma

êiifJt =0 (3)
àz2 '

é fácil verificar que a primitiva da equação diferencial (3) pode ser a equação de uma linha reta
ifJ,=a+bz, (4)

porque a derivada segunda de uma equação de reta é igual a zero, isto é, derivando-se a equação (4)
duas vezes,

àifJt =b e à2ifJt =0
àz àz2'

reproduz-se a equação (3).


Para encontrar os valores das constantes a e b da equação (4), precisamos de dois pares de
valores de ifJ, e z. Segundo o arranjo experimental da Figura 9.1, temos que
a) no topo: paraz = L -7 ifJ, = h + L donde, de acordo com a equação (4):
h+L=a+bL. (5)

b) na base: para z = 0-7 ifJt= O donde, de acordo com a equação (4):


O=a+b.O
ou
a=O
(6)
A partir das equações (5) e (6), obtemos:

b=h+L. C
L

A substituição das equações (6) e (7) na equação (4) fornece, portanto, a sol ào da ~-..2...~
de Laplace para o presente caso:
234 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

(8)
~I =[h:L}.
A derivada primeira da equação (8) nos dá:

a~l=h+L (9)
az L

Lembrando da equação de Darcy-Buckingham para solo saturado que, praticamente, na


direção vertical, pode ser escrita como

a~1
(10)
qo = - Ko az '

e segundo a qual o sinal de qo é o contrário do sinal de a~, / az, temos que, combinando as
equações (9) e (10):

(11)
q~=_K{h:L )-

Note que, pelo arranjo experimental da Figura 9.1, o gradiente de potencial total (h + L)/L que
aparece na equação (11) é wn número positivo, pelo que a densidade de fluxo qo wn número
negativo, que indica o sentido do movimento da água para baixo. Note, também, que, pela equação
(11), qo é uma função linear de h, isto é,

_
qo ---h-K
Ko

ou

qo=A
tr h +B

sendo, evidentemente, A = -KjL o coeficiente angular da reta q em função de h, e B = -Ko o seu


coeficiente linear. Assim, um gráfico de qo (valores negativos) versus h deverá resultar nwna linha
reta cujos valores de ambos os coeficientes (angular A e linear B) serão wn número negativo. A
partir do valor (negativo) de A ou de B, obtém-se imediatamente o valor de Ko procurado.
Deve ser lembrado que, quando se for desenvolver esta metodologia, na prática deve-se
sempre, para a medida de qo, esperar que se atinja a condição de regime estacionário quando se varia
a altura h.

2.1.2 Permeâmetro de carga decrescente

Este aparelho é mais adequado para solos de Ko baIXO (Ko < 2.10-3 mm sol). Seu esquema em
funcionamento é mostrado na Figura 9.2 e o procedimento de saturação da amostra é o mesmo
descrito para o caso do penneâmetro de carga constante. A única diferença é que, em vez de se
Dinâmica da Agua no Solo •

conectar um cilindro adicional no topo da amostra, conecta-se um funil de haste longa de Yidro
transparente, como visto na Figura 9.2.

tubo de
vidro ~
h

-----------------
cilindro de :-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-:-
UhIand ~ :~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~:~
L
~~~~~~~~i~~ii~~~~~~~~~~:
referência
gravitacional

recipiente com o
percolado

Figura 9.2 Diagrama do sistema de carga decrescente para medida da condutividade hidráulica
em solo saturado.

Note-se, pelo arranjo dessa figura, que no tempo tI, o potencial total no topo da amostra é HI,
e no tempo t], H].
Vejamos, então, como podemos deduzir a fónnula da condutividade hidráulica do solo
saturado por este método, no qual a carga hidráulica no topo da coluna decresce. Num detenninado
instante t, em que o potencial total no topo da amostra é H, a densidade de fluxo qo através da
amostra de solo de espessura L será, de acordo com a equação de Darcy-Buckingham,

(12)

porque o potencial total na base da amostra vale zero. Portanto, H é a diferença de potencial total
entre as extremidades da coluna.
No caso do arrm~o da Figura 9.2, a densidade de fluxo instmltânea é definida como:

dVA
(13)
qo = A dt'

isto é, a vazão de água dVA/dt, por unidade de área de solo (A = área da secção trmlsversal da coluna
de solo através da qual a água passa; dt = intervalo de tempo durmlte o qual o volume de água dV.!.
passa através deA).
Observe que de acordo com o funcionmuento do arrmljo experimental da figura, a quan . - n~

dVA/dt é negativa, resultmldo valores negativos para qo como exige a equação (12).
236 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Comparando as equações (12) e (13):

dVA H
--=-KoA-. (14)
dt L

Por outro lado, é fácil perceber que dVA é igual a a.dH, sendo a a área da secção transversal do
tubo de vidro e dH a variação de altura de líquido. Conseqüentemente,

dVA = adH (15)


dt dt

Comparando as equações (14) e (15), obtém-se:


adH H
--=-KoA-.
dt L

Note, agora, que, à semelhança do que foi dito para dVA /dt, a quantidade dH/dt é que é negativa.
Rearranjando de fonna mais conveniente os tennos da equação acima:

KoAdt=_dH. (16)
aL H

A integração da equação (16) entre dois tempos, tj, no qual H = Hj, e t], no qual H = H2 (ver
Figura 9.2), resulta:
t? H.,

KaL
oA f" d t=- f" dH
H '
fi H,

KoA
aL [t12
I
=-[lnH]Z~

ou

KoA (tz -tj)=ln H/-lnH2,


aL

ou ainda:

(17)
Ko--~ln(HIJ,
A(tlt) H2

sendo L1t = t2- tI o intervalo de tempo para a diferença de potencial total entre os extremos da
amostra diminuir de HI para H2; A = área da secção transversal da coluna de solo; L = comprimento
da amostra de solo; a = área da secção transversal do tubo de vidro (haste do funil) onde se mede H.

2.2 Condutividade hidráulica de solo não saturado

A função K(e) pode ser medida no laboratório, tanto sob condição de regime estacionário
como sob condições transientes.
Dinâmica da Agua no Solo

2.2.1 Métodos sob condição de regime estacionário

Para se obter a função K(B), isto é, a condutividade hidráulica K em função do conteúdo de


água B sob condição de regime estacionário, tanto numa amostra de solo com estrutura defonnada
como numa com estrutura indefonnada, basta desenvolver a experiência de Darcy sob diversas
condições de não-saturação, aplicando-se gradientes de potencial total constantes ao longo da
amostra e medindo-se as densidades de fluxo de água resultantes. O problema é trazer a am05 c.e
solo a uma condição de não saturação. Nesta busca, desenvolveram-se dois tipos de método: o que
utiliza colunas grandes de solo (0,5 - 2 m), e aquele que utiliza colunas pequenas (não maiores que
0,15 m de comprimento).

1. Colunas grandes
Neste método, a coluna é colocada na posição vertical, em contato com um lençol de água na
sua extremidade inferior, mantido constante por meio de um dispositivo especial. Saturando-se a
coluna e adicionando-se, em seguida, através da sua extremidade superior, água a uma taxa
constante, porém menor que a densidade de fluxo na condição de saturação, observa-se, depois de
certo tempo, quando se atinge a condição de regime estacionário, que, numa porção apreciável da
coluna (desconsiderando-se uma pequena distância logo abaixo da superficie e outra logo acima do
fundo), o potencial mátrico <Pm pennanece praticamente constante durante o fluxo. Essa constância de
<Pm é verificada pela leitura de tensiômetros instalados a intervalos convenientes ao longo da coluna.
Com isso, o gradiente de potencial total, expresso na unidade "metro de água", será unitário em
qualquer parte desta porção, porque ele se toma igual ao gradiente de potencial gravitacional, o qual,
nesta unidade de medida, é sempre igual a 1; conseqüentemente a taxa de fluxo de água medida
como o valor constante de <Pm conseguido será numericamente igual à condutividade hidráulica para
este <Pm. Para se obter, portanto, a função K( <Pm), inicia-se na saturação e procede-se a uma série de
taxas de fluxo estacionário progressivamente decrescentes através da coluna.
Por estas considerações, percebe-se que este método se adapta melhor quando se utiliza o solo
homogeneamente acondicionado na coluna e, portanto, com estrutura defonnada. Além disso, ele é
limitado à faixa de maior conteúdo de água no solo porque, no caso de menor conteúdo (baixa taxa
de aplicação de água), é dificil controlar os fluxos.

2. Colunas pequenas
Neste caso, o que se faz para dessaturar o solo é manusear convenientemente o arranjo
experimental esquematizado na Figura 9.1. Neste arranjo, as placas porosas PI e P2 em cada
extremidade da amostra de solo servem para fornecer ou remover água a valores constantes de H] e
H4. Essas placas não são utilizadas para se obter o gradiente de potencial total na amostra, e sim os
tensiômetros TI e T2, por causa das perdas duvidosas de carga através delas e da possibilidade de
uma condutância de contato variável nas suas interfaces com o solo à medida que a água se move. O
fluxo de água é mantido sempre no sentido descendente, desde que H4 > H].
238 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Câmara de burctade
Pressão Mariottc

pressão
atmosférica

h, ;

pressão
h2

H2
H3
I_I
Ii IH:--' constante de ar

Figura 9.3 Diagrama do aparelho para medida da condutividade hidráulica de solo não saturado.

A amostra de solo pode ser trazida a uma condição de não saturação das seguintes maneiras:
(a) mantendo a câmara de pressão e, conseqüentemente, a pressão do ar no solo, à pressão
ahuosférica e retirando água da amostra pela diminuição de H3 e H4, awuentando a tensão nos
extremos da coluna; (b) elevando a pressão do ar no solo a valores constantes acima da pressão
atmosférica, pela elevação da pressão na câmara de pressão; e (c) procedendo-se às duas operações
anteriores concomitantemente. Da experiência, sabe-se que o procedimento (a) só é praticável para a
faixa de tensão da água no solo de Oa 2 m de água, enquanto que com o procedimento (b) pode-se
chegar a até 8,5 m de água. Neste último caso, é evidente também que é mais prático que o
manômetro do tensiômetro seja de mercúrio.
Para que esses processos de dessaturação possam ocorrer, há necessidade da entrada de ar na
amostra, portanto o cilindro que a sustenta deve ser convenientemente perfurado. As saídas S] e S2
são para a eliminação das bolhas de ar que se fonuam nas câmaras de água acima das placas porosas
p] e P;i, que podem causar erro na medida do volume de percolado. Estas bolhas se fonuam devido à
difusão do ar, vindo da ahuosfera ou do compressor, na solução. Com isso, também nos
tensiômetros, pode haver acumulação de ar, pelo que devem ser escorvados sempre que necessário.
Deve ser lembrado também que a pressão de borbulhamento das placas p] e P2 e das cápsulas
porosas dos tensiômetros T] e T2 deve ser maior do que o mais alto valor de pressão de ar a ser
aplicado na câmara de pressão.
Aplicando-se a equação de Darcy-Buckingham (ver capítulo VII), para uma situação de
regime estacionário do arranjo da Figura 9.3, verifica-se que:
V IAt
A , (18)
K(h) = (H]-H2)IL

sendo VA = volume de água que passa através da amostra de área de secção transversal A, no tempo t;
H] e H2 = potenciais totais medidos nos pontos de instalação das cápsulas dos tensiômetros T] e T2,
respectivamente; L = distância entre as cápsulas, e
Dinâmica da Agua no Solo • 239

h = h] + h2
2 '
quer dizer, o valor de K obtido corresponde à tensão média, média aritmética das tensões utilizadas.
As medidas devem ser sempre iniciadas na saturação ou perto dela, fIxando-se uma série de
fluxos em regime estacionário com valores progressivamente mais e mais negativos de cjJm (ou seja,
valores crescentes da tensão h; lembre-se que cjJm = -h), a fIm de se obter um conjunto de pares de
valores de K e h.
Mantendo-se um registro completo dos valores de volume de água de entrada, medidos pela
bureta de Mariotte, dos volumes de saída, medidos pela proveta (Figura 9.3) e dos volumes de água
envolvidos nas variações das leituras
- dos tensiômetros, e determinando-se, no fInal, depois da -
-
obtenção do último par de K e- h , o valor do conteúdo de água volmnétrico médio
- e da amostra,
pode-se calcular facilmente o e correspondente a cada h e, então, a função K(e ).

2.2.2 Métodos sob condições transientes

Não é nossa intenção neste capítulo entrar nos detalhes destes métodos, que estão muito bem
descritos e comentados em Klute (1972) e Klute e Dirksen (1986).
Vamos aqui citar apenas o método proposto por Reichardt et aI. (1975), que não é comentado
nas referências acima. Neste método, é preciso conhecer apenas o conteúdo de água no solo saturado
Q., o conteúdo de água no solo seco ao ar e; e o coefIciente angular m da reta obtida pelo gráfIco da
distância da fonte de água à frente de molhamento em função da raiz quadrada do tempo, em
experimentos de infIltração horizontal (ver capítulo VIII).
A partir disso, obtém-se imediatamente a relação funcional entre a condutividade hidráulica e
o conteúdo de água no solo, pela substituição destes valores de e" ei e m na equação desenvolvida
por estes autores pela técnica do "scaling". A equação é a seguinte:

K(e) = 1,942 .10.12 m4l12,235ú/+28,06IúJ) (19)

na qual K(e) é expressa em cm S·l, m em cm S'1I2 , e 0), a saturação efetiva, é adimensional e dada
por (ver capítulo III):
e-e
0)= __ 1.
e1-ei

o conteúdo de água no solo seco ao ar e; é o conteúdo de água volumétrico inicial no solo, constante
ao longo da coluna, antes do início da infIltração e o conteúdo de água vo1umétrico e) é o conteúdo
de água volumétrico em x = O após o início da infIltração, o qual deve ser muito próximo do
conteúdo de água de saturação.

3. MÉTODOS DE CAMPO

Dentro deste item, separam-se os métodos nos quais a medida da condutividade hidráulica é
feita abaixo do lençol freático (portanto sob condição de saturação) e aqueles nos quais a medida é
feita acima do lençol (condições não saturadas).
240 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

3.1 Medidas abaixo do lençol freático

Muitos são os métodos existentes para determinação da condutividade hidráulica no campo na


presença de um lençol freático. Apresentamos aqui o mais simples deles, conhecido pelo nome de
método do furo do trado, para solo homogêneo. Este método consiste em:
a) fazer wn orificio no perfil de solo com trado até uma certa profundidade abaixo do lençol freático;
b) permitir que o orificio se encha com água;
c) bombear a água para fora do orificio várias vezes, até que se elimine todo o barro formado durante
a tradagem, devido à água subterrânea;
d) medir a elevação do lençol freático, pennitindo que a superficie da água no orificio se iguale com
a do lençol;
e) bombear novamente a água para fora do orificio, de tal maneira que o nível da água no seu interior
fique numa posição abaixo do nível do lençol; e
f) medir a taxa de elevação do nível de água no orifício e, a partir disso, calcular a condutividade
hidráulica pela fónnula (27), que desenvolveremos a seguir.
A Figura 9.4 mostra a situação descrita no item f acima, quando o nível de água no orifício
está se elevando.

- - --
- Y) i 2R superfície do solo
==-- Y2
1
Dlh 6.y em 6.t lençol freático

camada impermeável

Figura 9.4 Método do jitro de trado para medida da condutividade hidráulica em solo homogêneo
saturado.

Nestas condições, é fácil verificar que o nível de água no orifício vai se elevar, devido à água
que flui através de sua parede e de seu fundo.
Assumindo que o fluxo de água pela parede do orifício seja horizontal, verifica-se facilmente
que a taxa de elevação de água no interior do orifício, dy/dt, devido a este fluxo horizontal, é:
1. Diretamente proporcional à condutividade hidráulica do solo, ou seja:

dy ocKo. (20)
dt

2. Diretamente proporcional à área da parede do orificio até o nível do lençol:

dy oc 21rRD. (21)
dt
Dinâmica da Agua no Solo • 241

3. Diretamente proporcional à diferença de altura entre o nível de água no lençol freático e o nível de
água no orificio no momento da medida:

dy oc y. (22)
dt

4. Inversamente proporcional à área da secção transversal do orificio:

dy
-oc-- 1
(23)
dt nR2'

Portanto, a taxa de elevação de água no orificio devida ao fluxo através de sua parede será a
combinação das equações (20) a (23) acima, isto é,

dY=_AKo2nRDy
dt n R2
ou

dy 2Dy
-=
dt
-AKo--·
R
(24)

o sinal negativo da equação acima é devido a, à medida que o tempo passa, y diminui,
resultando um valor negativo para a tangente dy/dt. O símbolo de proporcionalidade oc foi
substituído pela constante A, cuja dimensão é a de inverso do comprimento (basta explicitá-la da
equação (24) e fazer sua análise dimensional). Logo teremos maiores considerações a respeito desta
constante.

A taxa de elevação da água no orificio, devida à contribuição do fluxo através de seu fundo é
considerada igual a

dy
(25)
dt =- AKoY,

isto é, proporcional à condutividade hidráulica do solo e à diferença de altura entre a superfície


do lençol e a superfície de água no orifício no momento da medida, sendo a constante de
proporcionalidade A assumida ser a mesma que a da equação (24).
A soma das equações (24) e (25) fornece a taxa de elevação de água no orificio devida à água
que entra tanto pela parede como pelo fundo do orificio, isto é,

ou, separando as variáveis:

(26)
y=-AKo
dy R+I dt.
(2D)

Integrando a equação (26) entre os limitesy = YI ay = Y2 e t = tI a t = t2, obtemos:


242 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

m(;}AKf: +1)(lrl'),
donde, explicitando Ko, resulta:

ln(y/y) , (27)

K,~ A[2: +1)t.1


sendo Llt = t2 - ti.
Quando o orificio termina sobre uma camada impermeável, o fluxo através de seu fundo se
iguala a zero e a equação (27) se toma, evidentemente, igual a

R ln( y/ Y2)
(28)
Ko= 2ADI1t

A constante A é um fator geométrico que depende de R, D, h e s (ver Figura 9.4) e,


normalmente, é determinada por um nomograma relacionando VA no eixo das ordenadas e RlD no
eixo das abcissas, para valores da razão s/D variando desde zero até infinito, e as medidas feitas antes
do nível da água subir a uma elevação em que h/D = 0,2.

3.2 Medidas acima do lençolfreático

Abordaremos aqui o Método do Perfil Instantâneo, o qual se aplica para situações em que o
lençol freático está ausente (ou bem profundo, de tal maneira a não afetar o fluxo de água), e o perfil
de solo pode ser heterogêneo.
Para aplicar este método no campo deve-se escolher uma parcela de solo de área
suficientemente grande, de tal maneira que os processos em seu centro não sejam afetados pelos seus
limites. Esta área deve ser convenientemente instrumentada para medida do conteúdo de água no
solo e do potencial mátrico, ao longó do perfil, até a profundidade de interesse. A superficie do solo
é, então, mantida com uma lâmina de água, de tal modo que o perfil, até a profundidade de interesse,
se tome tão úmido quanto possível. Atingida esta condição, a qual pode ser percebida pela variação
praticamente nula do conteúdo de água e do potencial mátrico com o tempo de infiltração ao longo
do perfil, interrompe-se a infiltração e cobre-se a superficie do solo com uma capa plástica, para
evitar a evaporação e a entrada de água através da superficie. A água contida no perfil redistribui-se,
então, pelo processo de drenagem interna e, à medida que este processo ocorre, medidas periódicas
de conteúdo de água e de potencial mátrico são feitas.
Durante este processo de redistribuição, procura-se com esse método uma solução para a
equação de Richards na direção vertical. Para tanto, após o umedecimento do perfil de solo e
prevenção do fluxo de água através de sua superficie da maneira acima descrita, as seguintes
condições inicial e de contorno podem ser utilizadas durante o processo:
zK(8)acfJt
=0
<O ou80(Z)
ZZ=0>0
,, =z=-oo
80 ou Z=O =00,
8=8i •(29)
(30) 243
Dinâmica da A.gua no Solo
az (31)

sendo t = tempo de redistribuição, Z = profundidade do solo, 8 = conteúdo de água no solo, função


de Z e de t, 80 = conteúdo de água no solo no tempo zero de redistribuição (colocação da capa
plástica), 8i = conteúdo de água inicial no solo (antes do umedecimento), K = condutividade
hidráulica do solo, função de 8 , cfJt=potencial total da água no solo e z = coordenada vertical de
posição cujo eixo, escolhido positivo para cima, tem' sua origem coincidente com a superficie do
solo.
A equação de Richards, para a situação em estudo (na qual o movimento se dá só na direção
vertical) pode ser escrita como

(32)
a t =~[K(8)~].
a8 dz az

Assim, integrando a equação (32) acima com relação à profundidade Z, isto é, multiplicando ambos
os seus membros por dZ e integrando, obtém-se:

zI~Z=
1 at z1~[K(8)acfJt}z.
1 dz az

Como dZ = -dz (lembre-se que Z = profundidade do solo, aumenta para baixo, e z = coordenada
vertical de posição, aumenta para cima), então

_la8at
~
dZ =K(8~1 az z -K(8~1 az z 1

Para ZI = O m, isto é, a superficie do solo, a equação acima se simplifica, pela condição (31),
para:

(33)
_la8
o at dZ=K(8~1· az z

Rearranjando a equação (33):


z

- fa8 dZ
I - o at (34)
cfJt
K(8) z - aaz Iz

Nestas condições, por meio de medidas simultâneas do conteúdo de água e do potencial total
ao longo do perfil de solo durante o tempo de redistribuição da água, determinam-se,
respectivamente, a integral e o gradiente de cfJtque aparecem na equação (34) e, então, a função K(8).
244 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

É importante reafirmar que, embora não explicitado nas equações acima, o 8 que nelas
aparece é função de Z (ou z) e de t, isto é, 8 (Z, t) ou 8 (z, t), solução da equação de Richards.
Buscando simplificar a utilização da equação (34) para a obtenção da função K(8), Hillel et
aI. (1972) apresentaram um procedimento que consiste basicamente na elaboração de duas tabelas: a
primeira para detenninação da densidade de fluxo de água no solo nas diversas profundidades e para
diversos tempos a partir da integral da equação (34), aproximando a integral por um somatório e
medindo (J8/éJt graficamente em pontos particulares no tempo nas curvas 8 em função de t; a segunda
para o cálculo da condutividade hidráulica em cada profundidade e para diferentes conteúdos de
água, dividindo os fluxos apresentados na primeira tabela pelos gradientes de potencial total também
obtidos graficamente a partir dos gráficos de em função de z (potencial total em função da
C/J,

coordenada vertical de posição) para os diversos tempos (ver exercício no fmal deste capítulo).
É oportuno infonnar, neste instante, que, para se obter, por diferenças fmitas, a tangente num
dado ponto de uma surva y = y(x), selecionam-se na curva, próximos o suficiente entre si e um de
cada lado dó ponto no qual se quer a tangente, dois outros pontos, ponto 1 ou (XI, YI) e ponto 2 ou
(X2, Y2), e divide-se a diferença (y2 - YI) pela diferença (X2 - XI) ou a diferença (yI - Y2) pela diferença
(XI - X2), quer dizer, a tangente no ponto considerado entre os pontos 1 e 2 pode ser estimada por
,1y/Llx = (y2-YI)/C};2 - XI) = (yI - Y2)/(XI - X2)'

Um ponto importante a ser considerado é o de que se a função 8 (Z,t) for contínua e derivável
(ou seja, for um função suave), então, do estudo da diferenciação de integrais,

!!..Í 8(Z, t )dZ = Í êl8(Z, t) dZ .


dt o o êlt

Como (ver equação 33 do capítulo III):


z

hz = f 8dZ,
o

então, a equação (34) pode também ser escrita

dhz
dt
(35)

K(8t = êlz
êlC/J, Iz '

em que hz é a armazenagem de água no solo até a profundidade Z num detenninado tempo. Portanto,
o procedimento de Hillel et aI. (1972), para o cálculo da integral da equação (34), pode ser
substituído por um modo aparentemente mais fácil de calcular esta integral, pela medida da variação
da armazenagem com o tempo de redistribuição. No fmal deste capítulo apresentamos também um
roteiro para utilização da equação (35).
Antes de passarmos ao próximo item, é importante esclarecer que qualquer método não
destrutivo de medida do conteúdo de água no solo facilita muito o trabalho de condução desse
método. Quando isto não é possível, entretanto, a maneira tradicional de medida do conteúdo de
água por gravimetria pode ser perfeitamente utilizada. Além disso, se forem elaboradas curvas de
retenção representativas de todo o perfil de solo de interesse, o uso apenas de tensiômetros para as
Dinâmica da JÍgua no Solo • 245

medidas diretas de potencial mátrico e indiretas, via curva de retenção, do conteúdo de água, é um
procedimento bem funcional.

Exemplo Ilustrativo
Sendo j(x,y) = xl + l uma função suave, prove que

!!- f j(x, y)dy = f oj(x, y )dy .


dx o o ox

Solução
Se resolvennos, separadamente, cada um dos membros da equação acima e obtivermos o
mesmo resultado para ambos, fica provado o que se pede. Vejamos.
PMembro 2i!. Membro

f oj(x,y) dy =
o ox

Como [Oj)
OX y :::;2x , então,
I
= f 2xdy =
o

=2xf dy=
o

= 2x(y)~ =
= ;[x2 +1)=
=2x =2x

3.2.2 Método do conteúdo de água desenvolvido por Libardi et a!. (1980)

Como se sabe da literatura, o movimento da água dentro de um perfil de solo no sentido


descendente, após uma chuva ou irrigação, recebe o nome de drenagem interna. Como vimos na
descrição do método do perfil instantâneo, caso em que, após cessado o processo de infiltração num
solo sem vegetação, previne-se o fluxo de água através de sua superficie, o conteúdo de água ao
longo do perfil até a profundidade de penetração da água deve decrescer sempre com o tempo.
Imaginemos, então, um solo com um perfil de conteúdo de água inicial qualquer. Se, depois
de um detenTIinadotempo de redistribuição, o novo perfil for paralelo ao inicial, tem-se:
8(Z,t)=80(Z)+ f3(t), (36)
246 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

sendo (Jo(Z) o perfil inicial, 8 (Z, t) o perfil depois de determinado tempo e f3 um fator que depende
só do tempo (t).
Calculando o conteúdo de água médio no perfil, de acordo com a expressão (ver equação 38
do capítulo I1I)
z

8 =i f 8(Z,t)dZ, (37)
Zo
que defme o conteúdo de água médio verdadeiro no perfil até a profundidade Z, obtém-se:
8(Z,t)=80(Z)+ f3(t). (38)

Substituindo o valor de f3(t) da equação (36) na equação (38), resulta:

8 (Z,t) = 8(Z,t) +~(Z) - 80(Z),


ou chamando
80(Z) - 80(Z) =b(Z),
então
8 (Z,t) =8(Z,t) + b(Z). (39)

Por esta equação (39) percebe-se que, se o conteúdo de água inicial numa dada profundidade
80(Z) for igual ao conteúdo de água inicial médio até esta profundidade 80 (Z), isto é, b = O, então o
mesmo fenômeno acontece para qualquer outra condição que não a inicial naquela profundidade, ou
seja, 8 (Z, t) = 8 (Z, t).
Como já foi dito, este raciocínio só é válido para os casos em que os perfis de conteúdo de
água sofrem uma translação paralela com o tempo em relação ao perfil inicial.
Para o caso mais geral de perfis de conteúdo de água cuja translação com o tempo não é
paralela em relação ao perfil inicial, deve existir um fator a independente do tempo que, introduzido
na equação (39), a toma válida para esta condição:

8 (Z,t) = a(Z)8(Z,t) + b(Z). (40)

Nesta equação, a e b dependem apenas da profundidade Z. A partir da equação (35), é claro


qUé

_ d hz =K(8) ocp( . (41)


dt oz

A partir da equação (37), temos que:


z

f8(Z,t)dZ =8Z=hz· (42)


o

Substituindo a equação (42) na equação (41):

_ d(8Z) =K(8) ocp( . (43)


dt oz
Dinâmica da Agua no Solo • 247

Como e é o valor médio de e ao longo do perfil até a profundidade Z, então, para um


determinado Z, isto é, para Z = constante:
- d
_ de Z = K(e)---.!t
dt dz
ou, mais corretamente,
- d
_ de (Z,t) Z = K(e)---.!t . (44)
dt dz

Por outro lado, se derivarmos a equação (40) com relação ao tempo:

de (Z,t) -a(Z) de(Z,t). (45)


dt dt

A substituição da equação (45) na equação (44) fornece

-a(Z)Z de(Z,t) =K(e)dcjJ{ . (46)


dt dz

Expressando cjJlem termos de carga hidráulica, uma hipótese bastante válida para a drenagem
= + 1), principalmente
de um perfil é a de se considerar o gradiente de potencial total unitário (<JcjJ;êJz
a grandes profundidades.
Considerando esta hipótese e assumindo ainda que a condutividade hidráulica seja uma
função exponencial do conteúdo de água no solo da forma

(47)

sendo yuma constante e Ko e eo os valores iniciais de K e e, correspondentes ao tempo zero (t = O)


de redistribuição, a equação (46) se toma:

-a(Z)Z de(Z,t) - K er(B-Bo). (48)


dt o

A utilização de uma relação exponencial entre a condutividade hidráulica e o conteúdo de


água no solo (equação 47) também é válida, visto que, para a faixa de conteúdo de água na qual se
trabalha sob condições de campo, ela quase sempre se verifica com um alto coeficiente de
correlação.
Rearranjando a equação (48), tem-se que:

de er(B-e.)
-=-Ko--.
dt aZ
(49)
Separando-se as variáveis da equação (49):

e-r(B-Bo)de=_ Ko dt. (50)


aZ

Integrando a equação (50) de eo a e e de O a t,


248 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

e f

~
f e-y(e-eu) d8 = - ~; fo dt ,

e lembrando, do Cálculo Integral, que

f eOx dx = ~ eCLf + c,
obtém-se

8 = 80 - ~Y aZo t),
ln (1 + yK (51)
que é a equação que nos possibilita verificar como o conteúdo de água no solo varia com o tempo
em cada profundidade, em experimentos de redistribuição de água no solo nos quais se previne a
evaporação e a entrada de água através da superficie. Observe que nessa equação (51) y, 80, a e Ko
são parâmetros que se referem a cada profundidade, com isso tendo-se uma equação (51) para cada
profundidade.
Explicitando 8 da equação (40) e substituindo na equação (51) verifica-se facilmente que

(52)
e = e" - ~y ln (1 + fKZ'o t)
e também que
a=I (53)
y
Para tempos longos, a equação (51) se reduz a

8 -8=~lnt+~ln %0 (54)
o y yaZ'
e a equação (52) a
-
8 -8
- =-lnt+-ln--o
1 1 yK . (55)
o y y Z
Portanto, para tempos longos, tanto 80 - 8 como 8a - e são linearmente relacionados com lnt, para
cada profundidade Z.
O coeficiente angular da reta 80 - 8 em função de ln t é o inverso do valor de ye o coeficiente
linear, uma medida de Ko, desde que a seja conhecido. No entanto, a partir do valor dos coeficientes
angular e linear da equação (55), o valor de Ko para cada profundidade pode ser obtido sem
conhecer-se explicitamente o valor de a. Observe também que tais estimativas de ye Ko podem ser
usadas na equação (51), a fim de que se obtenha urna expressão analítica válida para todos os
tempos.
Conhecidos os valores de Ko e y de cada profundidade, obtém-se diretamente a equação que
relaciona a condutividade hidráulica com o conteúdo de água,

K(8) = Ko ey(e-eu) (47)

para a profundidade em questão.


Portanto, para o estabelecimento de função K( 8), numa dada profundidade Z, o seguinte
procedimento é sugerido:
Dinâmica da Agua no Solo • 249

1. Delinutar uma área de 5 m x 5 m.


2. Colocar água para que se umedeça ao máximo o perfil até a profundidade Z.
3. Parar a aplicação de água, cobrir a superficie do solo com uma capa plástica e, logo em seguida,
medir o conteúdo de água no solo desde a superficie até a profundidade Z. Este é considerado o
tempo t = O de redistribuição (note que, quando se dispõe de uma sonda de nêutrons, a medida de
eo pode ser feita durante a infiltração constante).
4. Medir e desde a superficie do solo até a profundidade Z, durante aproximadamente vinte dias.
5. Fazer o gráfico de eo - e em função de lnt de cada profundidade Z para t> 1 dia. O coeficiente
angular desta curva é, de acordo com a equação (54), igual a l/r
6. Fazer o gráfico de eo - e em função de lnt também para t> 1 dia e calcular Ko a partir dos
coeficientes angular e linear da equação (55). (Lembre-se que eo e e representam o conteúdo de
água médio até cada profundidade Z, nos tempos zero e t de redistribuição, respectivamente).
7. Com valores de eo, ye Ko de cada profundidade a relação K(fJ) pode ser automaticamente escrita,
de acordo com a equação (47).

3.2.2 Método do fluxo desenvolvido por Libardi et alo (1980)

A equação (48) representa o fluxo de água no solo na profundidade Z. Tirando o logaritmo


natural de ambos os membros desta equação, obtém-se, para um detern1inado Z:

dt
lnlaz d.ej=lnK o -y(e o -e). (56)

Os coeficientes angular e linear de um gráfico semi-Iog do valor absoluto de aZde/dt em


função de eo - e fornece medidas diretas de ye Ko, respectivamente. Ao contrário da equação (54), a
equação (56) acima permanece válida para todos os tempos, mas tem a desvantagem de conter de/dt
em vez de e, o que pode acarretar mais erros em dados espalhados de campo. Também neste caso, o
valor de a não precisa ser explicitamente avaliado, uma vez que a equação (56), tendo em conta a
equação (45) para um detenmnado Z, pode ser escrita como
-
de
ln Z - = ln K o - y(e o - e) . (57)
dt

Para profundidades de solo maiores, os valores de e são menos erráticos do que os de e, e,


conseqüentemente, os valores de de /dt são mais fáceis de serem obtidos do que os de de /dt
requeridos na equação (56).

4. OUTROS MÉTODOS

Como acabamos de ver, os métodos para detenninar diretamente a condutividade hidráulica


em solo não saturado normahnente consomem tempo, são caros e, algumas vezes, sujeitos a
hipóteses simplificadoras. Uma alternativa à medida direta é o cálculo teórico da condutividade
hidráulica, a partir de dados de retenção da água no solo, mais facilmente medidos no campo ou no
laboratório. Childs & Collis-George (1950), por exemplo, obtiveram uma relação baseada num
modelo que considera as variações na distribuição do tamanho dos poros do solo, o qual sofreu
várias modificações e refinamentos apresentados por Burdine (1953), Marshall (1958) e Millington
& Quirk (1961). Bem mais tarde, um modelo análogo foi introduzido por Mualem (1976). Estes
métodos acima citados, e que são baseados em teorias para predizer a função K( fJ), necessitam, para
250 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

tanto, de equações que ajustem da melhor maneira possível a curva de retenção da água no solo.
Muitos trabalhos apresentam equações para este ajuste. Por exemplo, van Genuchten (1980)
apresenta a seguinte equação:

8s -8r
(58)
8-8+
- r [1 + la<Pm I n ]m'

na qual er e es são os conteúdos de água volumétricos residual e de saturação, respectivamente, cjJm é


o potencial mátrico, e a, nem são constantes empíricas. Conforme salientam van Genuchten e
Nielsen (1985), na prática, er e es também podem ser considerados empíricos.
Usando uma simplificação de que m = 1 - l/n, van Genuchten (1980) combinou a
equação (58) com o modelo de Mualem (1976) para previsão deK(ej, obtendo a seguinte expressão:

na qual
K(e)~ K)'{ { - (j)~ )1 (59)

e-e
cu= r (60)
es -er
é a saturação efetiva, Ko a condutividade hidráulica do solo saturado e I! um parâmetro empírico que
foi estimado por Mualem (1976) como sendo aproximadamente igual a 0,5 para a maioria dos solos.
Esta equação (59) para a previsão da função K(e) parece se ajustar melhor aos solos de textura média
a arenosa.

5. EXERCÍCIO ILUSTRATIVO

Com base nas infonnações dos itens anteriores, apresentamos, a seguir, um roteiro na forma
de um exercício para aplicação do procedimento de Hillel et aI. (1972), do procedimento utilizando a
equação (35), dos métodos do conteúdo de água e do fluxo desenvolvidos por Libardi et aI. (1980) e
da equação de van Genuchten (1980), para obtenção da função K(e).
Dados fornecidos:
a) curvas de retenção para as diversas profundidades (2) do perfil de um solo de textura média
(Tabela 9.1);
b) valores das leituras dos tensiômetros com manômetro de mercúrio (H, mm Hg) instalados às
mesmas profundidades do solo, para as quais foram determinadas as curvas de retenção, nos
diferentes tempos de redistribuição (Tabela 9.2).
Procedimento:
1. Desenhar em papel semi-Iog as curvas de retenção cujos dados encontram-se na Tabela 9.1.
2. Transformar os dados de leitura dos tensiômetros (mm Hg) da Tabela 9.2 em m água,
construindo uma nova tabela: Tabela 9.3. A distância entre o nível de mercúrio na cuba do
tensiômetro e a superficie do solo, isto é, hc> para todos os tensiômetros e todos os tempos é 0,2
m.
3. Com os dados da Tabela 9.3 e as curvas de e em função de cjJm, obtidas de acordo com o item (1),
obter os dados de conteúdo de água volumétrico e para as diversas profundidades, nos diferentes
tempos, elaborando a Tabela 9.4.
Dinâmica da Agua no Solo • 251

Tabela 9.1 Conteúdo de água volumétrico (m3 m-3) para os diversos potenciais mátricos (</JIIl' m
água), nas diversas profundidades (2, m) do solo em estudo.
0,45
0,75
0,60
0,90
0,18
0,17
0,19
0,30
0,41
0,40
0,14
0,24
0,21
0,28
0,31
0,43
0,30
0,22
0,25
1,05
0,13
0,16
0,26
0,22
0,29
0,34
0,35
0,15
0,20
0,23
0,25
0,38
0,15
0,17
0,180,15
0,10
0,20
0,29
0,11
0,12
0,11
0,09
-1Jm Z(m) de redistribuição,
o em estudo.
empos (t, h)

t 202
119
203
190
143
179
167
187
131
115
147
139
127
79
111
67
128
76
94
151
122
69
197
191
155
163
182
159
230
218
199
196
172
198
188
89
138
17990
178
110
104
102
98
75
134
119
95
86
140
161
91
68
152
135
118
169
61
84
82
59
12644
48
0,75
0,60
0,45
0,90
0,30
1,05 115
67
135
163
5860
75
0,1553 Z(m)

Tabela 9.3 Potencial mátrico (m água), nos diversos tempos (t, h) de redistribuição, para as
diversas profundidades (Z, m) do solo em estudo.
t Z(m)
(h) 0,15 0,30 0,45 0,60 0,75 0,90 1,05
1,5
3,0
6,0
12,0
24,0
36,0
48,0
72,0
120,0
240,0
360,0
480,0
252 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Tabela 9.4 Conteúdo de água volwnétrico (m3 m-3) nos diversos tempos de redistribuição (t, h),
para as diversas profundidades (2, m) do solo em estudo.
t Z(m)
02 0,15 0,30 0,45 0,60 0,75 0,90 1,05
1,5
3,0
6,0
12,0
24,0
36,0
48,0
72,0
120,0
240,0
360,0
480,0

5.1 Detenninação dafunção K(e) pela equação (34), utilizando o procedimento de Hillel et aI. (1972).

1. A partir da Tabela 9.4, fazer o gráfico de e em função de t, para cada profundidade.


2. Calcular ae/dt (tangente à curva e em função de t) em cada profundidade, para os tempos
indicados na Tabela 9.5, colocando os valores no local correspondente.
3. Calcular a densidade de fluxo de água (q), através de cada incremento de profundidade,
completando o preenchimento da Tabela 9.5. Considerar que o valor do conteúdo de água a 0,15
m (Tabela 9.4) corresponde ao valor do conteúdo de água na camada O - 0,15 m, o do conteúdo
de água a 0,30 m ao do conteúdo de água na camada 0,15 - 0,30 m, e assim sucessivamente.
4. A partir da Tabela 9.3, fazer o gráfico de cjJmem função de t, para cada profundidade.
5. Calcular, para cada tempo indicado na Tabela 9.5, o potencial total (cjJt), considerando a referência
gravitacional na superficie do solo, e fazer o gráfico de cjJt em função de z para cada um destes
tempos.
6. Passar os resultados da densidade de fluxo (q) obtidos para cada profundidade nos diversos
tempos, da Tabela 9.5 para a Tabela 9.6.
7. CalCular acjJ;dz (tangente à curva cjJt em função de z) para cada profundidade em cada tempo,
colocando os valores obtidos no local correspondente da Tabela 9.6.
8. Calcular a condutividade hidráulica K para cada profundidade e para diferentes e dividindo-se q
(terceira coluna da Tabela 9.6) por acjJ;dz (quarta coluna da Tabela 9.6), preenchendo assim a
quinta coluna da tabela.
9. Completar o preenchimento da Tabela 9.6, colocando na sua última coluna os valores de e de
cada profundidade, correspondentes aos tempos selecionados para o cálculo de q e acjJ/dz.

Evidentemente, isto é facilmente obtido a partir dos gráficos de e em função de t.


1O.Fazer o gráfico de K em função de e de cada profundidade em papel semi-log, colocando K na
escala logarítmica e e na escala métrica.
11. Fazer a análise de regressão linear de ln K em função de e para cada profundidade.
Dinâmica da Agua no Solo • 253

12. Com as equações de regressão obtidas para as diversas profundidades, calcular os valores de Ko
(condutividade hidráulica do solo saturado), utilizando os conteúdos de água de saturação (80) da
Tabela 9.1 (correspondentes a epm= O m).
13.Escrever a equação representativa da função K(8) para cada profundidade na fonua da
equação (47).
Tabela 9.5 Cálculo da densidade dejluxo de água (q, m h-I) no solo, às diversas profundidades (Z,
m) e diversos tempos (t, h), para o solo em estudo, de acordo com o procedimento de
Hillel et aI. (1972).
t Z q=- L(ae/iJt)&
(h) (m) (mh-1)
0,15
0,30
0,45
2,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
5,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
10,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
20,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
30,0 0,60
0,75
0,90
1,05
254 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Tabela 9.5 Continuação

t Z -J8/CJt -(J8/CJt)& q=-L(J8/CJt)&


(h) (m) (lt) (m h-I) em HI)
0,15
0,30
0,45
50,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
80,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
200,0 0,60
0,75
0,90
1,05
0,15
0,30
0,45
400,0 0,60
0,75
0,90
1,05
Dinâmica da Agua no Solo • 255

Tabela 9.6 Cálculo da condutividade hidráulica (K m H1) em função do conteúdo de água (8, m3 m-3),
para o solo em estudo, de acordo com o procedimento de Hillel et aI. (1972).
Z t
(m) (h)
2,0
5,0
10,0
20,0
0,15 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,30 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,45 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,60 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
256 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Tabela 9.6 Continuação


Z t q ()cp/Jz
K e
(7n) (h) (in h-I) (mm-Ij
l!!2..!!2...L.
(m h-I) (m] m-3)
2,0
5,0
10,0
20,0
0,75 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,90 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
1,05 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0

5.2 Determinação da/unção K(8) por meio da equação (35)

1. A partir dos dados da Tabela 9.4, fazer o gráfico de 8 em função de t, para cada profundidade e,
selecionando os tempos indicados na Tabela 9.7, preencher sua sexta coluna.
2. A partir, também, dos dados da Tabela 9.4, calcular a annazenagem hz para cada profundidade
nos diversos tempos e fazer, para cada profundidade, o gráfico de hz em função de t. Considerar
que hO,15= 80,15.0,15, hO,30=[(80,15+80,30)/2] 0,30, e assim sucessivamente.
3. Calcular dhz!dt (tangente à curva hz em função de t) em cada profundidade para os tempos
indicados na Tabela 9.7 e preencher sua terceira coluna.
4. A partir dos dados da Tabela 9.3, fazer o gráfico de </Jmem função de t, para cada profundidade.
5. Calcular, para cada tempo indicado na Tabela 9.7, o potencial total (</JJ, considerando a referência
gravitacional na superficie do solo, e fazer o gráfico de em função de z para cada um destes
</J,

tempos.
6. Calcular J</Jldz (tangente à curva </Jr em função de z) para cada profundidade em cada tempo,
colocando os valores obtidos no local correspondente da Tabela 9.7 (quarta coluna).
Dinâmica da Agua no Solo • 257

7. Calcular a condutividade hidráulica K para cada profundidade e para diferentes e, dividindo


dhz/dt por ocjJ/()z, preenchendo a quinta coluna da Tabela 9.7.
8. Fazer o gráfico de K em função de e de cada profundidade em papel serni-Iog, colocando K na
escala logarítmica e e na escala métrica.
9. Fazer a análise de regressão linear de ln K em função de e para cada profundidade.

Tabela 9.7 Cálculo da condutividade hidráulica (I( m h"1) em função do conteúdo de água
(8, m3m-3), para o solo em estudo, por meio da equação (35).

Z q=-dhzldt
(1n) (h) (m h"1)

2,0
5,0
10,0
20,0
0,15 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,30 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,45 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
258 • Métodos de Medida da Condutividade Hidráulica

Tabela 9.7 Continuação


Z t q=-dhz/dt a</>Iàz K e
(in) (h) (mHI) (mm·l) (m h-I) (m3 m·3)
2,0
5,0
10,0
20,0
0,60 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,75 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
0,90 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0
2,0
5,0
10,0
20,0
1,05 30,0
50,0
80,0
200,0
400,0

10.Com as equações de regressão obtidas para as diversas profundidades, calcular os valores de Ko


(condutividade hidráulica do solo saturado), utilizando os conteúdos de água de saturação (80) da
Tabela 9.1 (valores de 8 correspondentes a epm= Om).
l1.Escrever a equação representativa da função K(8) para cada profundidade, na fonna da
equação (47).
Dinâmica da Agua no Solo • 259

5.3 Método do conteúdo de água desenvolvido por Libardi et aI. (1980)

1. Fazer o gráfico de eo - e em função de ln t de cada profundidade, para t> 24 horas. Usar o eo da


Tabela 9.l.
2. Fazer a análise de regressão linear e obter lIye (l/{j ln (>Kr/aZ), de acordo com a equação (54).
3. Fazer o gráfico de 8a -8em função de ln t para t > 24 horas e obter Y até cada profundidade e,
então, Ko de cada profundidade, a partir dos valores dos coeficientes linear e angular obtidos da
análise de regressão linear de acordo com a equação (55).
4. Com os valores de eo (Tabela 9.1), y(item 2) e Ko (item 3), a relação K(e) é automaticamente
escrita de acordo com a equação (47).

5.4 Método dofluxo desenvolvido por Libardi et aI. (1980)

1. Fazer os gráficos de
-
e e de 8 em função
-
de t, para cada profundidade.
2. Calcular de / dt (tangente à curva e em função de t) em cada profundidade para vários tempos
(usar os indicados na Tabela 9.5, selecionados para o procedimento de HilleI et aI, 1972).
3. Fazer o gráfico de ln I Z d8 /dt I em função de eo - e. Usar para eo os valores da Tabela 9.1 e para
e os valores correspondentes aos tempos selecionados no item 2 via os gráficos de e em função
de t (item 1).
4. Fazer a análise de regressão linear do gráfico do item 3 e obter ye Ko, de acordo com a
equação (57).
5. Com os valores de eo (Tabela 9.1) e ye Ko (item 4), escrever a relação K(e) de acordo com a
equação (47).

5.5 Equação de van Genuchten

Ajustar os dados de e em função de (Tabela 9.1) à equação proposta em van Genuchten


cjJm

(1980) (equação 58). Com os valores do parâmetro m obtidos desse ajuste nas diversas
profundidades, fazer o gráfico da condutividade hidráulica relativa K(e;/Ko em função da saturação
efetiva Q) para cada profundidade (equação 59); considerar t= 0,5 nesta equação (59), para todas as
profundidades. Fazer também os gráficos de ln K(e; em função de e para as diversas profundidades
usando os valores de Ko obtidos em 5.2.
x

BALANÇO HÍDRICO

I. aBALANçO
o balanço híclrico pode ser estudado em várias escalas. Numa escala mundial, ele trata da
circulação da água entre a Terra e a atmosfera, confonne mostra a Figura 10.1. Os valores numéricos
que aparecem nessa figura foram retirados de National Research Council (1986). Por eles, pode-se
ver que a maior quantidade de água (96% do total existente no continente, oceanos e atmosfera) é
representada pelos oceanos. A água do continente representa 4% do total e a da atmosfera 0,001 %. A
água do continente é constituída pelas águas dos lagos, dos rios, da água no solo, da água
subterrânea, das capas de gelo e das geleiras. Do total da precipitação anual (505 mil km3) que pode
se constituir de chuva, neve, granizo, orvalho, cerca de 78,8% (398 mil km3) caem sobre os oceanos
e apenas 21,2% sobre o continente (107 mil km3). Em tennos de evaporação anual total (505
mil km\ 71 mil km3 (14,1 %) evaporam do continente e 434 mil km3 (85,9%), dos oceanos. Por
estes números, observa-se que a evaporação anual total da Terra é igual à precipitação anual total
sobre ela mas que, no entanto, essa circulação de água é muito maior via oceanos do que via
continente: em relação ao continente precipita muito mais água sobre os oceanos, mas também
evapora muito mais água dos oceanos. Além disso, estes números mostram também uma evaporação
anual líquida de 36 mil km3 dos oceanos compensada por uma precipitação anual líquida de mesmo
valor sobre o continente. Este fato sugere wna passagem de água do continente para os oceanos, a
qual se dá por meio do deflúvio superficial (pelos rios, capas de gelo, etc.) e da água subterrânea.
Portanto, 36 mil km3 de água passam do continente para os oceanos. Destes, 95% passam por sobre a
superficie do continente e 5% subterraneamente. Pelo que vimos, então, a água tende a circular
seguindo as flechas do diagrama da Figura 10.1, e o que coloca esse mecanismo em funcionamento,
evidentemente, é a energia solar.
262 • Balanço Hídrico

ATMOSFERA

.....
I
15.500 km 3

r -
107.000 km3 398.000 km3

71.000 km3 434.000 km3

I CONTI~ENTE
59.098.000 km3
J L, 1.400.000.000 lan'

~---- 36.000 km3 ----

Figura 10.1 Balanço hídrico mundial.


Numa escala menor, de uma bacia hidrográfica, por exemplo, poderíamos ter o esquema da
Figura 10.2. Neste caso, já se pode detalhar um pouco mais os processos. Assim é que, quando a
água que alcança a superficie do terreno a partir da precipitação e da neve derretida excede a
capacidade de infiltração do solo, ocorre o deflúvio superficial pela ação da gravidade. Há uma parte
da precipitação que não chega a atingir a superficie do solo, pois é interceptada pela vegetação e
evaporada. Da porção de água que infiltra, parte pennanece nos poros do solo, sendo lá mantida
palas forças mátricas e, sendo absorvida pelas raÍzes das plantas, grande parte é transpirada. O que
sobra percola mais profundamente, alcançando o lençol freático, abaixo do qual os poros do solo são
saturados, sendo daí drenada para o río.

precipitação transpu'ação

evaporação
r interceptação

,7,
"''r:tf?J
/1l'\
.r•.
'j....
. - ! ••••.
;...
J
i---i~ I, "infiltração
drenagem - ',I"f',i,'!"

A~ 1
~ deflúvio superficial

drenagem
l~nç~l.tte~t!c_o _ -------~---------

_ -_ -_ -_ ~gua subterrânea permanente _ -_ -_ -_ -_ -_ -_ -_ -

Figura 10.2 Balanço hídrico numa bacia hidrográfica.


Dinâmica da Agua no Solo • 263

Em partes mais altas do terreno podem haver camadas mais densas que acumulam água
subterrânea elevada, que pode ser drenada para fora do solo criando veios de água e córregos
intermitentes; essa drenagem pode desaparecer completamente durante períodos de seca.
Numa situação em que se deseja avaliar o balanço hídrico no solo com uma cultura agrícola,
teríamos o que mostra a Figura 10.3. Neste caso, defme-se o balanço hídrico no solo com a cultura
como a contabilização das entradas e saídas de água num dado volume de controle de solo, durante
um certo período de tempo. O volume de solo considerado ou volume de controle depende da cultura
em estudo, pois deve englobar seu sistema radicular. Assim é que se considera como limite superior
deste volume a superficie do solo, e como limite inferior a profundidade do sistema radicular da
cultura.

sistema
radicular

Z=L

Figura 10.3 Balanço hídrico no solo com uma cultura agrícola.

Expressando a quantidade de água que entra (Qe) neste volume de solo num período t2 - ti e a
quantidade de água que dele sai (Qs), durante o mesmo período, em altura de água, o saldo de água
no solo no referido volume, durante o período considerado, representa a variação da armazenagem
de água (&2) no perfil. Assim, convencionando Qe como um número positivo e Qs como um número
negativo, então,

M=Qe +Qs' (1)

em que &2 = h2 - h], sendo hi a armazenagem no instante ti (início do período) e h2 a armazenagem


no instante t2 (fim do período).
Assim, se IQel > IQsl, h2> hi e &2 > O; se IQel < [Qsl, h2 < hi e &2 < O; se [Qel = [Qsl, a
annazenagem não varia, isto é, h2 = hi e &2 = O.
A quantidade de água que entra pode consistir da precipitação (P), da irrigação (1), do
dejlúvio superjicial de entrada (Rd, do dejlúvio sub-superjicial de entrada (R:) e da ascensão
capilar (AC). Portanto:
264 • Balanço Hídrico

Qe=P+J+Re +Re +AC. (2)

A quantidade de água que sai pode consistir da drenagem interna (D), da evapotranspiração
(ET), do dejlúvio superjicial de saída (Rs) e do dejlúvio sub-superjicial de saída (Rj Portanto:

Qs=D +ET+Rs +R~. (3)

Substituindo (2) e (3) em (1), temos:

I1h=P+ J + Re + R~ + AC +D+ET +Rs +R~. (4)

A drenagem interna, portanto, representa a perda de água para fora da zona radicular através
do limite inferior do volume de solo considerado. Porém, dependendo das condições, ao invés de
sair, a água pode entrar através desse limite. À essa entrada de água através da superfície inferior do
volume de controle de solo tem sido dado o nome de ascensão capilar (AC). O deflúvio superficial e
o deflúvio sub-superficial, dependendo da posição da área escolhida para o balanço no relevo do
terreno e das condições fisicas do perfil de solo, também podem se constituir, como mostra a
equação (4), de incrementos de água positivos ou negativos, entrando e saindo lateralmente por
sobre e abaixo da superficie do solo (Figura 10.3).
A equação (4) é a representação matemática do balanço hídrico no solo com uma cultura
(Figura 10.3), sendo seus tennos, como já esclarecido, expressos em altura de água (mm, m). É uma
equação integrada. Sua fonna diferenciada seria:

11~~dtdZ
o"
= 1pdt+ 1idt + 1redt + 1r~dt + 1adt + 1qdt+ 1edt + 1rsdt + 1r~dt ;
',',
(5)
'---v-----' ~ '-v--'
t,
~
"
~
"
'----'
"
'----'
"
'-v-' ~ " "
'--v--'
/',h P I R, R~ AC D ET R, R;

sendo que p, i, r", re, a, q, e, rs e rs representam as intensidades de precipitação, irrigação, deflúvio


superficial que entra no volume, deflúvio subsuperficial que entra no volume, ascensão capilar,
drenagem interna, evapotranspiração, deflúvio superficial que sai do volume e deflúvio subsuperficial
que sai do volwne de solo, respectivamente, expressos, portanto, em milímetros por unidade de tempo.
Os tennos do segundo membro da equação (5) são facilmente entendíveis. O primeiro
membro desta equação, a variação de annazenagem, também não é dificil de ser entendido, mas o
seu desdobramento a seguir facilita sua interpretação:

Z', a() Z Z Z
(6)
fo "J 7itdtdZ = fo (()2 -()j)dz =fo ()2dZ - fo ()ldZ = h2 -hl = I1h.

Essas equações podem ser utilizadas em quaisquer das escalas que apresentamos, até para
uma única planta e, teoricamente, todos os elementos podem ser medidos ou estimados. Numa
situação prática, na qual se tenha segurança de que os fluxos laterais possam ser desprezados, a ET
pode ser obtida por diferença, explicitando-a da equação (4) sem os fluxos laterais:
ET = I1h - P - J - D - A C . (7)

Assim, para calcular ET, devemos conhecer os termos do membro da direita da equação (7): P
é facilmente avaliada por meio de pluviômetros; J, pelo controle de irrigação; t1h é calculada a partir
de perfis de conteúdo de água; D e AC, pela equação de Darcy-Buckingham.
Dinâmica da Agua no Solo • 265

É evidente que cada componente do balanço hídrico, individualmente, é de considerável


importância dentro de um detenrunado ramo da ciência no qual pode ser estudado com o nível de
detalhe de interesse. Para propósitos nos quais se pretende obter a evapotranspiração a partir de
1
equação (7), os detalhamentos do estudo individual de P e não são de interesse porque de medida
relativamente fácil. No caso de iJh, D e AC, os de mais dificil medida, os capítulos precedentes
fonnam subsídio suficiente para seu cálculo. Para mostrar os procedimentos para o cálculo da ET por
esse processo, apresentamos a seguir um exemplo ilustrativo bastante simples.

2. EXEMPLO ILUSTRATIVO

Imaginemos que desejamos saber a evapotranspiração de uma cultura instalada num terreno
sem fluxos laterais de água, no período de 22 a 30 de janeiro, durante o qual houve apenas uma
chuva de 30 lllin no dia 23, e não se irrigou (1 = O). Portanto, para o cálculo da ET desta cultura,
neste período, por meio da fónnula (7), precisamos calcular ainda iJh e D (ou A C).

a) Cálculo da variação da Armazenagem iJh

Nos dias 22 e 30 de janeiro, foi medido o conteúdo de água no solo ao longo do perfil até a
profundidade de 0,90 m, cujos resultados encontram-se na Tabela 10.1. Sendo Z = 0,8 m o limite
inferior considerado para o balanço desta cultura, vamos calcular iJhO•8 por meio da regra de Simpson
(ver item 2.3.1b do capítulo I1I).

Tabela 10.1 Conteúdo de água no solo ao longo do perfil nos dias 22 e 30 de janeiro.

Profundidade e, nl mO]
(m) Data
22101 30101
0,10 0,35 0,27
0,20 0,33 0,25
0,30 0,30 0,21
0,40 0,27 0,18
0,50 0,24 0,20
0,60 0,25 0,22
0,70 0,26 0,24
0,80 0,28 0,25
0,90 0,26 0,24

Então, a) aplicando a regra de Simpson (equação 39 do capítulo I1I) aos dados da Tabela 10.1
(Z = 0,1 m a Z = 0,9 m), b) assumindo que o valor do conteúdo de água não registrado em Z = O seja
igual ao medido em Z = 0,10 m e c) calculando a annazenagem da camada 0,8 - 0,9 m pela regra do
trapézio (ver item 2.3.1a do capítulo I1I), temos:

1. Para o perfil do conteúdo de água no dia 30 dejaneiro:

hO,8 = hO,l + hO,1-0,9 - hO,8-0,9

ou
266 • Balanço Hídrico

110,8=0,27 x 0,1 +0,1/3 (0,27 +4 x 0,25 +2 xO,21 +4 x 0,18 + 2 x 0,20+ 4 x 0,22 +


+ 2 x 0,24 + 4 x 0,25 +0,24) - 0,05 (0,25 + 0,24) =
= 0,027 + 0,1803 - 0,0245 = 0,1828 m ou 182,8 mm.

2. Para o perfil do conteúdo de água no dia 22 de janeiro:

110,8 = hO,1 + 110.1-0.9 - hO•8-O•9

ou
110,8= 0,35 x 0,1 + 0,1/3 (0,35 + 4 x 0,33 + 2 x 0,30 + 4 x 0,27 + 2 x 0,24 + 4 x 0,25 +
+ 2 x 0,26 + 4 x 0,28 +0,26) - 0,05 (0,28 + 0,26) =
= 0,035 + 0,2243 - 0,027 = 0,2323 m ou 232,3 mm.

Portanto,
&0,8 = hO,8(em 30/janeiro) - ho,s(em 22/janeiro) = 182,8 -232,3 = - 49,5 mm.
A Figura 10.4 mostra os perfis de conteúdo de água nos dias 22 e 30 de janeiro, destacando a
variação de annazenagelll, no período, pela área achurada entre os perfis.

0,20 0,25 0,30 0.35 8 (m3 m-3)


0,00 I
I
I
I
I
0,10
•,-
I
I -
I
I
I
I
0,20 30/01 ,.

\,.,,,,'
,,
,,•
,,
0,30

I
I
0,40 •\
\
\ -"
\
\
0,50 .+:'7';
\ ".#', ,,I' '

',- $ft'.i
\ -- ,,;

,-#
\
0,60 .-
,
...•..•..

.,#

\
\
,
"
0,70 --'
\
\
\
\
1 i'=~-
---- ------ --- ---------- --- ----.--------
,,
0,80
I
I
I
0,90 •
Z (m)

Figura 10.4 Perfis de conteúdo de água.


Dinâmica da Agua no Solo • 267

b) Cálculo da drenagem interna D e da ascensão capilar AC

o
cálculo da drenagem interna e da ascensão capilar, no limite inferior do volume de solo
considerado (2 = 0,8 m), é feito por meio da equação de Darcy-Buckingham, a qual, como vimos no
capítulo VII, é escrita, na direção vertical, como

sendo:
densidade de fluxo de água no solo na profundidade 2: quantidade de água que atravessa
a unidade de área de solo na profundidade 2 por unidade de tempo;
K(8) condutividade hidráulica do solo: fator de proporcionalidade entre a densidade de fluxo e
o gradiente de potencial total = propriedade do solo em transmitir água; é função do
conteúdo de água no solo &,
gradiente de potencial total: força propulsora que faz a água mover;
potencial total da solução no solo;
z coordenada vertical de posição;
k vetor unitário na direção z.

Assim, para calcularmos a drenagem interna e/ou a ascensão capilar, temos que conhecer K(8)
e (Jep/êfz na profundidade considerada no período do balanço.
Rá diversos métodos de determinação da função K(8) e, como vimos no capítulo anterior,
suponhamos que ela tenha sido determinada pelo método do perfil instantâneo para o nosso solo e,
em 2 = 0,80 m, a seguinte relação exponencial tenha sido obtida:

K(8) = 74 e30(8-0.40) , (mm/dia)

em que 74 mm/dia é a condutividade hidráulica do solo correspondente ao conteúdo de água de


saturação 0,40 m3.m-3
Calculando-se o conteúdo de água médio 8 do período (22 a 30 de janeiro) em Z = 0,8 m e
substituindo o valor obtido na expressão acima, obteremos a condutividade hidráulica para o
conteúdo de água médio do período, isto é:

e = 0,25 +0,28 - 0265 m3 m-3


2 '
e
K(8) = 74 e30(0.265 -0,40)
ou
K(8) = 1,29 mm/dia

Para obtermos (Jep/êfz precisamos saber como ep, varia com z, pois (Jep/êfz é a tangente à curva ep,
em função de z. A partir de tensiômetros instalados ao longo do perfil do solo, obtiveram-se os perfis
de potencial total para os dias 22 e 30 de janeiro (Tabela 10.2).
268 • Balanço Hídrico

Tabela 10.2 Potencial total da água no solo ao longo do perfil nos dias 22 e 30 dejaneiro.
Profundidade -IA (m de água)
(m) Data
22/01 30/01
0,10 4,80 6,85
0,20 4,00 5,80
0,30 3,55 5,05
0,40 3,10 4,25
0,50 2,70 3,60
0,60 2,40 3,10
0,70 2,20 2,65
0,80 2,05 2,45
0,90 2,45 2,80

A Figura 10.5 a seguir é a representação dos dados da Tabela 10.2 num gráfico de z, a
coordenada veliical de posição, em função do potencial total C/J{, considerando a origem do sistema de
coordenadas cartesianas coincidente com a superficie do solo e com o eixo-z positivo para cima.
z (m)

• • i i i
/\,\, \
,,, - ~ ~-2,0
i \ ~, (m)
~ \\ -4,0
-6,0
-- -0,40
~ -0,30-0,20 -0,10
, -8,0
3010\ 1-0,50
-0,90
-0,60
-0,70
-0,80

Figura 10.5 Gráficos da coordenada vertical de posição (z) em/unção do potencial total da água no
solo (C/JJ.
Dinâmica da Agua no Solo • 269

Calculemos, então, o valor de aeplaz em Z = 0,8 m por diferenças fmitas, isto é, subtraindo do
valor de epl em z = - 0,7 m o valor de epl em z = - 0,9 m. Assim, para o dia 22 de janeiro:

d 1>, == - 2,20 - (-2,45) = 1,25m m-I


dZ (-0,7)-(-0,9)

Em 30 de janeiro:

d 1>, _ - 2,65 - ( -2,80) _ O75 mm -I


----------
dZ - (-0,7)-(-0,9) ,

Portanto, o valor médio do gradiente de potencial total, idêntico ao gradiente do potencial


total médio, no período 22-30 de janeiro, à profundidade de 0,8 m, será:

dep, = 1,25 + 0,75 -1 00 m m-I.


dZ 2 '

Então, aplicando-se a equação de Darcy-Buckingham escrita de forma simplificada para a


direção vertical,

então,

QO,8 = -1,29 X 1,00= -1,29 mm/dia.

o sinal negativo indica, como sabemos (ver item 4, capítulo VII), que o sentido da densidade
de fluxo é de cima para baixo, com água saindo do volume de solo considerado para o balanço,
tratando-se, portanto, de drenagem interna. Logo, para o período 22 - 30 de janeiro (8 dias):

D = -1,29x8 = -10,32mm

Substituindo P = 30 mm, 1 = Omm, D =-10,32 mm, A C = Omm e !Jh = - 49,5 mm na equação


do balanço (7), resulta:

ET= - 49,5 -30 -O - (-10,32)- O= - 69,18 mm.

Portanto:

ET = - 69,18 mm (em 8 dias)


ou

q ET = -8,6 mm/dia = fluxo de evapotranspiração.


270 • Balanço Hídrico

Este foi apenas wn exemplo de como se deve proceder para calcular a evapotranspiração de
uma cultura pelo método do balanço hídrico durante somente uma semana, na ausência de fluxos
laterais. Evidentemente, é de interesse estimar a evapotranspiração de uma cultura durante todo seu
ciclo de desenvolvimento. Neste caso, deve-se calcular ET para pequenos intervalos de tempo e,
depois, integrar para todo o período da cultura. Este procedimento é necessário porque, a intervalos
de tempo muito grandes, a estimativa de q pela equação de Darcy-Buckingham se toma muito falha,
pois não se fica conhecendo, no intervalo, como é que e e cjJtvariaram com z, e os valores médios de
e e dcjJ;az, calculados da maneira que acabamos de ver, são mais dificeis de serem aceitáveis. Se
possível, o ideal para obtenção de D e AC é calcular q diariamente, e depois integrar para cada
período de tempo selecionado.

3. EXERCÍCIO - CÁLCULO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE UMA CULTURA DE


MILHO PELA EQUAÇÃO DO BALANÇO HíDRICO NO SOLO
Nwn período de 40 dias (07/12 a 15/01), durante o qual wna cultura de milho se apresentava
em franco desenvolvimento, efetuar o balanço hídrico no solo numa parcela de 10m x 30 m,
deixando a evapotranspiração como incógnita da equação do balanço, sabendo-se que:
a) a profundidade do solo considerada para o balanço é 1,20 m e a parcela implantada nwn local e
para wn solo que permitem desconsiderar possíveis fluxos laterais;
b) dentro da parcela, foram instalados três tensiômetros com manômetro de mercúrio em vidro, à
profundidade de 1,10 m, e três à profundidade de 1,30 m;
c) três tubos de alumínio para acesso de sonda de nêutrons, até a profundidade de 1,20 m, também
foram instalados no interior da parcela experimental;
d) um pluviômetro para estimativa das precipitações pluviais foi instalado próximo à área e
irrigação (quando necessária) era feita por meio de aspersores;
e) a Tabela 10.3 apresenta dados diários de precipitação e irrigação, registrados durante o período
do balanço; a Tabela 10.4 apresenta os dados diários de tensiometria (o nível de mercúrio nas
cubas de todos os tensiômetros encontrava-se a uma altura de 0,20 m da superficie do solo no
momento de todas as leituras); a Tabela 10.5 apresenta os dados diários de contagem com a sonda
de nêutrons em Z = 1,20 m e os dados diários de contagem média do perfilO - 1,20 m;
f) por meio de metodologia adequada, foi determinada a relação K( 8), na profundidade de 1,20 m
para o solo em questão; obteve-se wna relação exponencial cuja equação foi a seguinte:

K = 94,56eI4.n(e-o.48),
sendo K = condutividade hidráulica (mm/dia ) e e = conteúdo de água volwnétrico (m3 m-3);

g) foi também elaborada a curva de calibração para a sonda de nêutrons, tendo-se obtido a seguinte
equação representativa de todo o perfil (O - 1,2 m de profundidade):
e = 0,380CR - 0,230,

sendo CR = contagem relativa (contagem no solo/contagem padrão)


Dividir o período do balanço em dez períodos de quatro dias e calcular os valores dos diversos
processos (P, L D, &z e ET) nestes intervalos; elaborar wn quadro. Para o caso da drenagem interna
De AC fazer os cálculos diariamente; elaborar wn gráfico de q em função do tempo e calcular os
valores de D ou A C p::Ira cada intervalo pela integral da curva.
Dinâmica da Agua no Solo • 271

Tabela 10.3 Precipitações pluviais e irrigações registradas durante o período do balanço.


Data precipitação irrigação
(mm) (mm)
07/12 0,0
08/12 5,0
09/12 3,0
10/12 2,0
11/12 14,0
12/12 8,0
13/12 7,0
14/12 4,0
15/12 0,0
16/12 12,5
17/12 0,0
18/12 0,0 9,0
19/12 0,0
20/12 0,0 9,0
21/12 0,0
22/12 0,0 9,0 "
23/12 0,0
24/12 9,8
25/12 0,0 5,0
26/12 0,0
27/12 10,0
28/12 15,0
29/12 0,0
30/12 0,0
31/12 0,0 6,0
01/01 14,3
02/01 0,0
03/01 0,0
04/01 0,0
05/01 10,0
06/01 2,0
07/01 5,0
08/01 0,0
09/01 0,0
10/01 8,0
11/01 0,0
12/01 0,0
13/01 3,3
14/01 0,0
15/01 0,0
272 • Balanço Hídrico

Tabela 10.4 Leituras médias dos tensiômetros registradas em Z = 1,10 m e Z = 1,30 m de


profundidade, durante o período do balanço.
Data Z=1,10 m Z=1,30m
(mmHg) (mmHg)
07/12 135 167
08/12 131 163
09/12 127 159
10/12 123 155
11/12 125 157
12/12 132 164
13/12 134 166
14/12 135 167
15/12 134 166
16/12 135 167
17/12 254 302
18/12 262 309
19/12 266 313
20/12 270 317
21/12 278 325
22/12 279 327
23/12 264 312
24/12 264 312
25/12 263 310
26/12 276 324
27/12 346 409
28/12 357 421
29/12 452 389
30/12 428 365
31/12 427 364
01/01 419 355
02/01 421 358
03/01 432 369
04/01 286 333
05/01 278 325
06/01 278 325
07/01 277 325
08/01 276 324
09/01 270 317
10/01 251 298
11/01 246 294
12/01 254 301
13101 264 312
14/01 263 310
15/01 262 309
Dinâmica da Agua no Solo • 273

Tabela 10.5 Contagens com sonda de nêutrons registradas durante o período do balanço.
data contagem (cpm) contagem média (cpm)
m m

07/12 18420 19744


08/12 19095 19433

09/12 19433 19069


10/12 19485 18602
11/12 19381 18298
12/12 19069 18161
13/12 18498 18005
14/12 18920 17849
15/12 18524 17667
16/12 18500 17486
17/12 17538 17252

18/12 17356 17044


19/12 17304 16811
20/12 17226 16577

21/12 16941 16369


22/12 16863 16162
23/12 17460 16136
24/12 17462 15694
25/12 17408 15331
26/12 17018 15045
27/12 16110 14760
28/12 15669 14448
29/12 14292 14241
30/12 15331 14085

31/12 15513 13981


01/01 15720 13877
02/01 15669 13825
03/01 15071 13825
04/01 16733 13644
05/01 17018 13306
06/01 17021 12943
07/01 17044 12579
08/01 17096 12190
09/01 17226 11801
10/01 17564 11375
11/01 17615 10926
12/01 17538 10490
13/01 17460 10066
14/01 17408 9661
15/01 17356 9272

contagem padrão = 14 287 cpm


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APÊNDICE I

DIFERENCIAIS TOTAIS

Em tennodinâmica, utiliza-se muito o conceito de diferencial total de uma função de várias


variáveis. É por este motivo que apresentamos este apêndice para servir como base ao estudo dos
capítulos IV e V, principalmente. O assunto será abordado de maneira resumida, porquanto aos mais
interessados recomendamos a consulta de um livro de Análise Matemática.
Por facilidade, iniciemos o estudo com uma função de apenas uma variávely(x).
O gráfico de uma função contínua y = y(x) é uma curva no plano (x,y) e a inclinação da reta a
ela tangente em um dado ponto é, como se pode ver pela Figura A 1.1, dada por

I dy
Y =-=tgcx (1)
dx

Por outro lado, defrne-se, em Cálculo, a derivada de y com relação a x como

dy = lim Lly (2)


dx óx~o Llx '

em que L1y significa uma variação emy correspondente a uma variação L1x emx.

y = y(x)

y +!1y
, reta tangente
y+dy
inclinação: tg a = dy/dx

y -

dx =!1x

o x x+!1x x

Figura A 1.1 Interpretação geométrica da derivada de uma função y(x).


276 • Apêndice I: DiferenciaisTotais

Portanto, o limite da razão L1y/Lixquando Lix tende a zero, ou a derivada de y com relação a x
em um ponto da curvay(x), é igual à inclinação da reta tangente à curva nesse ponto.
Definindo, agora a diferencial da variável independente dx como
dx=!rt , (3)

verifica-se facilmente, pela Figura AI.I, que a dtferencial da variável dependente, dy, a qual, a partir
da equação (1), vale

dy= y' dx, (4)

não é igual a L1yporque, enquanto L1y é a variação em y ao longo da curva, dy é a variação em y ao


longo da reta tangente. Entretanto, também se pode ver na Figura A 1.1 que, quando Lix é pequeno
ou, mais corretamente, quando ele tende a zero, dy é uma boa aproximação para L1y.
Passemos, agora, ao estudo de uma função de duas variáveis z(x,y).
O gráfico da equação z = z(x,y) é uma superficie no espaço (x,y,z) e as derivadas (}zj(lx e (}z!é)y
em um ponto dessa superficie são, como mostra a Figura AI.2, as inclinações das duas retas
tangentes à superfície naquele ponto, nas direções x e y, respectivamente. No caso de uma função de
uma variável, vimos que a variação dy em y, devido a uma variação dx em x, dava-se ao longo da
reta tangente. No caso de uma função de duas variáveis, a variação dz em z, devida a uma variação
dx em x e uma variação dy em y, dá-se ao longo do plano tangente que contém as retas tangentes nas
direções x e y. No caso de uma variável independente, dy é dada pela equação (4); e no caso de duas
variáveis independentes, como se obtém dz? É o que vamos ver agora.

--- ,,

/
/ / ,dx
E' /
------ : /

dy H

PI = HG = 6x = dx
PG = IH = 6y = dy tg ~ = azJax = FI/IP
BH = 6Z ; EH = dz tg Y = azJay = DG/GP

Figura Al.2lnterpretação geométrica da diferencial total de umafitnção de duas variáveis.


Dinâmica da Agua no SoLO • L / /

Na Figura A1.2, PABC é uma superficie no espaço, PDEF é o plano tangente a essa superficie
no ponto P e PGHI é o plano horizontal em P. Desse modo, PCFI é o plano y = constante em P, PC
a curva de intersecção desse plano com a superficie PABC e PF a reta tangente a essa curva no ponto
P, portanto de inclinação (}Z/dx. Conseqüentemente, de modo idêntico ao da Figura Al.l, se PI = dx,
então

FI=HJ=(~: )dX.

Igualmente, PADG é o plano x = constante interceptando a superficie PABC na curva PA,


cuja reta tangente em Pé PD; se PG = dy, então

Pela Figura Al.2, EH = dz e, como HJ + EJ = EH, então

(5)
dz ax ) dx + [az
= (az ay J dy .

Essa variação dz em z dada pela equação (5) é definida em Cálculo como diferencial total de
z, sendo (}z/dx a derivada parcial de z em relação a x, mantendo-se y constante, e (}z/é)y a derivada
parcial de z com relação a y, mantendo-se x constante; essas derivadas, evidentemente, devem ser
funções contínuas.
Portanto, a diferencial total de z é igual à variação em z ao longo do plano tangente quando x
varia de dx e y de dy.
Do mesmo modo que no caso da função y(x), no caso da função z(x,y), dz, dada pela
equação (5), não é igual a L1z porque L1z é a variação em z ao longo da superficie; mas, quando L1x e
LJY forem pequenos, ou, mais corretamente, quando tenderem a zero, dz é uma boa aproximação
para L1z.

Finalmente, devemos dizer que tudo o que dissemos a respeito de funções de duas variáveis
funciona exatamente da mesma fonna para funções de qualquer número de variáveis. Assim, se

u = u(x,y,z, ... ), (6)

então, por defmição,

(7)
du = ( ax
au ) dx + [au
ay J dy + (au
az ) dz + ...

e du é uma boa aproximação para LJU, se as derivadas parciais de u forem contínuas e dx, dy, dz etc.
forem pequenos.
APÊNDICEII

ANÁLISE VETORIAL COMO BASE PARA ESTUDO DA ÁGUA


NO SOLO

1. INTRODUÇÃO

Para quantificar o movimento da água no solo, utilizam-se as chamadas equações de fluxo,


objeto do capítulo VII. Basicamente, estas equações são aquelas para fluxo em regime estacionário,
como a equação de Darcy-Buckingham, por exemplo, e a para fluxo em regime transiente ou
equação da continuidade. Para que essas equações possam ser utilizadas de uma maneira bem
completa, o conhecimento de grandezas como gradiente de um escalar e divergência de um vetor são
indispensáveis. Por esse motivo vamos apresentar de forma resumida, neste apêndice, o estritamente
necessário sobre vetores, para podennos atingir, da maneira como pretendemos, o objetivo do
capítulo VII.

2. CONCEITO DE VETOR

Distinguem-se duas classes de grandezas fisicas: escalares e vetoriais. As grandezas escalares


ficam totalmente caracterizadas por um número e uma unidade de medida, por exemplo, uma massa
-de 10 kg, um volume de 10 litros, uma temperatura de 25°C. Já as grandezas vetoriais necessitam,
para sua completa caracterização, além da simples idéia de número e unidade de medida, também
dos atributos geométricos de direção e sentido. Exemplo de grandezas vetoriais: velocidade, força,
momento, campo elétrico.
O conceito de vetar foi introduzido para descrever o comportamento matemático destas
grandezas que não ficam totalmente caracterizadas por um número e uma unidade de medida. O
número, ou módulo do vetor representa o valor absoluto da intensidade com que a grandeza fisica se
manifesta, enquanto que a direção e o sentido de ação desta grandeza completam a sua
caracterização.

3. REPRESENTAÇÃO DOS VETORES


--->

Representa-se um vetar por um segmento de reta (OP) orientado no espaço. O comprimento


deste segmento é proporcional ao módulo do vetor, sua direção é a da reta r e seu sentido de O a P é
assinalado por meio de uma flecha, como na Figura A2.1.
280 • Apêndice lI: Análise Vetorial

li
o
r
->
Figura A2. 1 Representação do vetar 11 ou DP.
-> ->
A notação deste vetor será DP ou 11 , enquanto que a notação de seu módulo será I DP I ou
I 11 I, ou simplesmente DP ou u.
Um vetor paralelo a 11 , mas de módulo k vezes o módulo de 11 , representa-se por k11 . Se k=-
->
1, o vetor - 11 é igual a 11 , mas de sentido oposto; na Figura A2.l, - 11 = PD. No caso em que k = O,
resultaria O 11 = Õ, denominado vetar zero ou vetar nulo; seu comprimento é O e é representado por
->
um segmento de reta degenerado P P , ou seja, por um ponto.
Denomina-se vetar unitário todo vetar de módulo igual à unidade. Um vetor unitário paralelo
a 11 é representado por ú. Nestas condições, 11 pode ser representado também como o produto do
número u (módulo de 11) pelo vetor unitário ú:
u =uu (1)

e, conseqüentemente, o vetor unitário de um vetor 11 qualquer obtém-se pelo quociente:

~ u
u=-. (2)
u

4. SOMA E SUBTRAÇÃO DE VETORES


Nós estamos acostumados a somar e subtrair quantidades escalares. Assim, se temos 1 kg de
açúcar e somannos mais 1,5 kg de açúcar, o resultado será 2,5 kg de açúcar; se, porém, subtrairmos
deste total 0,7 kg de açúcar, resultará 1,8 kg de açúcar. Devido ao seu caráter direcional, os vetores
não podem ser somados da mesma maneira que os escalares.
A soma de vetares é melhor entendida a partir do resultado familiar da Mecânica Elementar
de que a resultante de duas forças, por exemplo, é obtida como o terceiro lado de um triângulo, cujos
outros dois representam as forças dadas.
Em outras palavras: dados dois vetores 11 e v, obtém-se um vetar 11 + v = w denominado
soma desses dois vetores, construido confonne a Figura A2.2, aplicando-se à extremidade do vetor
11 a origem do vetor v e unindo-se a arigem de 11 com a extremidade de v .
Dinâmica da Água no Solo • 281

A
u
-->

Figura A2.2 Soma de dois vetares.

o vetar soma w pode também ser obtido pela regra do paralelogramo, esquematizada na
Figura A2.3. Como se observa nessa figura, o resultado é idêntico ao da Figura A2.2.
- - - - - - - - - - - C

A "B

Figura A2.3 Regra da paralelogramo para a soma de dois vetares.

A diferença entre dois vetares ii e v , escrita da forma ü - v, é definida como


ii-v=ii+(-v), (3)

ou seja, a diferença entre ii e v é a soma de ii e - v (vetar igual a v, mas de sentido oposto). A


Figura A2.4 ilustra a diferença entre dois vetares.
;1C

C'

Figura A2.4 Diferença entre dois vetares.


282 • Apêndice JI: Análise Vetarial

Listamos, a seguir, as propriedades da soma de vetares:


(k/k2) Ü = k/(k2 ü)
(ki + k2) Ü = k/ ü + k2 Ü

k (ü + v) = kü + kv (lei distributiva)

ü +v =v +ü (lei comutativa)
ü +(v + w)=(ü + v)+ w
ü+O=ü
ü - ü = o.

5. COMPONENTES CARTESIANOS DE UM VETOR

Na Figura A2.3, os vetores ü e v são chamados de componentes do vetor resultante W. Em


muitas circunstâncias, no entanto, é conveniente considerar os componentes do vetar em três
direções mutuamente perpendiculares, Ox, Oy e Oz, que fonnam um sistema cartesiano
tridimensional (Figura A2.5).
z

I
C .~-------------
-------------~1
":

/<L-::::::~-::>,( ,
I
I
1
I
I
I
I
I
I I I I
I I I t
I I I I
I I I I
I I I I
I I -+ I I
::
I I w I:: I
I I I I
I I I I
I ,..., I I
:' kJ. 8z ::
, I
II II ,,
i
,I II ,,
-----------+----'~>----->B y
I I ,
I I '

x
/A! ,~~-
~--
------------------::
:::'D~/
Figura A2.5 Sistema cartesiana triartaganal.

Se defminnos três vetores unitários i, ] e i: sobre Ox, Oye Oz, respectivamente, poderemos
encontrar os pontos A, B e C tais que

w= OAi + OB] + oci:

ou

w=w) +wy]+w), (4)

sendo: OA = wx; OB = wy e OC = Wz as projeções de w sobre os eixos x, y e z, respectivamente.


Como sepode notar pela Figura A2.5,
Dinâmica da Agua no Solo • 283

(5)

sendo que 8x, 8y e 8z são os ângulos fonnados por w com Ox, Oy e Oz, respectivamente, cujos co-
senos são chamados co-senos diretores de w.

Aplicando-se o teorema de Pitágoras na Figura A2.5, temos:

OP2=OA2+ AD2 + Dp2=OA2+OB2+od,

donde:
(6)

Substituindo (5) em (6):


2_ 2 2
W - W cos 8x
+ w2 cos 2 8y + W 2 cos 2 8z

ou

donde

(7)

A equação (7) mostra que os ângulos 8x, 8y e 8z que aparecem nas equações (5) não são
independentes.

Dados dois vetores ü = Ux i + Uy ] + Uz k e v = Vx i + Vy ] + Vz k , sua soma será:

ou

ou seja, a "soma de dois ou mais vetores éfeita somando-se suas projeções segundo cada eixo",
Igualmente, a diferença ü - v será:

ü - v = (ux - vx)i + (Uy - vy)] + (uz - vz)k

e, se u = v, logicamente ü - v = O e, conseqüentemente:

Uy = vy
284 • Apêndice 11: Análise Vetorial

ou seja, "se dois vetores são iguais, suas projeções são iguais".

6. PRODUTO DE VETORES

Assim como a soma de vetores é diferente da soma de grandezas escalares, o mesmo acontece
com o produto de vetares em relação à multiplicação comwn. Dois tipos de produto são defInidos
para as grandezas vetariais: produto escalar e produto vetorial. O produto escalar dá como resultado
wn escalar e o produto vetorial dá como resultado um vetor.

6.1 Produto escalar

Sabe-se que quando se aplica wna força sobre wn corpo livre, este se desloca ao longo de wn
trajeto. O produto numérico da intensidade da força pela intensidade do deslocamento, desde que as
ações de ambos estejam na mesma direção, é a defInição de trabalho em Mecânica. No entanto, a
direção da ação do vetor força nonnalmente não é a mesma que a do vetor deslocamento, daí a
necessidade de se reduzir à mesma direção as ações da força e do deslocamento.
O produto escalar de dois vetores surge deste processo de redução à mesma direção que é
geral e defInido como segue:

"O produto escalar de dois vetores é igual ao produto dos módulos desses
vetores pelo co-seno do ângulo que esses vetores formam entre si. "

li
Figura A2. 6 Produto escalar de dois vetores

Sejam u e li os dois vetares e e o ângulo que fonnam entre si (Figura A2.6).


De acórdo com a defInição:
U.v =u vcose. (8)

Para u.v lê-se "u escalar v", ou seja, o produto escalar é representado por um ponto.
É importante salientar novamente que o produto escalar de dois vetores é, por defInição, um
escalar. Pela própria defInição de produto escalar verifIca-se, facilmente, que:
a) U . li = li . U (lei comutativa)
b) U . (li + w) = U . li + U w (lei distributiva)
c) U . v = u v cos e = o se: u =O
li =O
u=Oev=O
e = 90°
Dinâmica da Agua no Solo • 285

d) ü . u = ü2 = u2
e) Ü . (kv) = (kü). v = k(ü . v), k é um escalar.

Como vimos no item 4:

Portanto:

Como logicamente,

i.i = l] = k.k = 1 e i.] = ].k = t.k = O ; (9)

resulta
ü. v = ux Vx +uyVy +uzvz . (10)

Observação: numa equação do tipo ü .v = ü . w não é pennitido cancelar termos e concluir que
v = w, pois tal equação significa apenas que ü .v - ü . w = ü .(v - w) = O, ou seja,
que ü é perpendicular a v - w.
Como aplicação imediata do produto escalar tem-se o trabalho realizado por uma força que
atua sobre uma partícula, o qual, como já se salientou anterionnente, é definido na dinâmica
elementar como o produto do módulo da força pelo módulo do deslocamento, se ambos atuarem na
mesma direção. Se força e deslocamento, entretanto, não forem paralelos, então o componente da
força perpendicular ao deslocamento não realiza qualquer trabalho. Neste caso, o trabalho é o
módulo do componente da força paralelo ao deslocamento multiplicado pelo módulo do
deslocamento: representando a força por um vetor f ,o deslocamento por um vetor d e sendo 8 o
ângulo entre ambos (Figura A2.7), o trabalho ré escrito como

r =(Fcos8)d
ou
r =Fdcos8,
pelo que

r =F.d.
286 • Apêndice II: Análise Vetorial

A partir deste resultado prova-se que o trabalho de duas forças F; e Fz é igual ao trabalho
realizado pela sua resultante R:

fi; .d + fiz .d = (fi + fi) d = R. d

Figura A2. 7 Trabalho realizado por uma força.

6.2 Produto vetorial

No produto escalar da ação de duas grandezas fisicas de caráter vetorial reduzidas a uma
mesma direção, verifica-se um resultado escalar. No caso do produto vetorial, obtém-se um resultado
de caráter vetorial e que implica na redução de uma das ações à direção normal da outra. Daí definir-
se o produto vetorial de dois vetores como segue:

"O produto vetorial de dois vetares é definido como um vetar perpendicular ao


plano formado pelos dois vetares considerados no espaço, de módulo igual ao
produto dos módulos desses vetares pelo seno do ângulo que esses vetares
formam entre si n.

o vetor ü x v, portanto, produto vetorial de ü por v, é, por definição, o vetor nonnal ao


plano de ü e v e cujo módulo vale u v sen8. Logo:

üxv=uv(sen8)h, (11)

sendo n um vetor unitário perpendicular ao plano de ü e v (Figura A2.8). O sentido do vetor ü x


v é dado pela regra do saca-rolhas, girando do vetor ü para o vetor v (isto é, da esquerda para a
direita). A indicação do sentido do vetor produto é dada pelo movimento longitudinal do eixo do
saca-rolhas. Então, se considerarmos o produto v x ü , seu sentido será inverso e, obviamente,
ÜXv = -vxü. (12)

Portanto, decorre da defmição que o produto vetorial é não comutativo. Além da lei
anticomutativa, o produto vetorial também segue a lei distributiva:

üx(v+w)=üxv+üxw, (13)

desde que se tome o cuidado de manter a ordem correta dos fatores no produto. É evidente também,
da própria definição, que:

u xkV = kuxv = k (u xv) (k = escalar)


Dinâmica da Agua no Solo • 287

e
ÜXü=ô.

Observando-se a Figura A2.8, e a partir da definição (lI), obtêm-se:

I ü Xv 1= u v sen8 = área do paralelogramo GABe,

isto é, o módulo do vetor produto vetorial é a área de um paralelogramo cujos lados adjacentes são
os dois vetores dados.
-~ -)
uxv

-) ~)

vxu

Figura A2.8 Produto vetarial de dois vetares.

Considerando agora os vetores unitários I, j, k (vetores de base), mutuamente


perpendiculares entre si, resulta:
1x1=JxJ=kxk=ô

1xJ=-Jx1=k

JXk= -kxJ = 1

k X 1= -1x k = J .
Em função de seus componentes ortogonais, o produto de dois vetores

ü=u)+UyJ+u)

resulta no detenninante
288 • Apêndice lI: Análise Vetorial

}vy
kuz1,
Vz I
uy
üXv Vx
=Iut (14)

que, desdobrado, resulta:

üXv= ~lyUz -uzvJi + (uzvx -uxvJJ+(utvy -uyvt)k. (15)

Para completar, vejamos ainda os produtos escalar e vetorial triplo e o produto de quatro
vetores.

7. PRODUTO MISTO

Definido pela combinação

ü.(vxw) (16)

que, geometricamente, pode ser interpretado como o volume (V) de um paralelepípedo de arestas ü,
v e w, confonne a Figura A2.9.
Assim, por esta figura,

V =h S = (ü.n)lvxwj = ü.~vxWjn]= ü.(vXiv),

sendo h = altura do paralelepípedo e S = área do paralelogramo ABCD.


Em função dos componentes de cada um dos vetares ü , v e w, pode-se verificar facilmente,
a partir das equações (10) e (15), que

Wz
wy
Uz
Vz
uy Ux
vy
ü.(vxw)=lvx Wx (17)

H G
,.,.
/'
~:
/
/ '1
/ ,1
/
/ , nA

A
}/fl~ ~- - - ~--
v )3

Figura A2. 9 Produto escalar triplo.


Dinâmica da Agua no Solo • 289

8. DUPLO PRODUTO VETORIAL TRlPLO

Definido pela combinação

üx(vxw), (18)

a qual demonstra-se ser idêntica a (ü . w) v - (ü . v) w , isto é,

üx(vxw)= (ü.w)v -(ü.v)w. (19)

9. PRODUTO DE QUATRO VETORES

a) t . [ü x (v x w) ] = (t . v)( ü . w) - (t . w)( ü . v)
b) t x[(ü xCv x w)]=(ü . w)(t x v)-(ü . v)(t x w)
c) (t x Ü ).(v x w) = t . [ü x (v x w)] (reduz-se ao caso "a")

d)( t x ü ) x (v x w) = [( t x ü). w] v - [( t x ü). v] w.

10. DERlV ADA VETORlAL

Quando uma variável escalar y é função de outra variável escalar x, representamos esta
dependência por y = y(x). Igualmente, se um vetor r depende de uma variável t, teremos a função
r = r (t), conhecida como função vetorial.
Para ilustrar o conceito de derivada de um vetor em relação a um escalar, consideremos o fato
de que a posição de uma partícula num instante t pode ser especificada pelo vetor r (t), que vai de
wn ponto fixo O à partícula (Figura Al.l O).

partícula

Figura A2.l O Posição de uma partícula.

Assim, se num tempo t a posição da partícula é P e, depois de um certo intervalo de tempo .1t,
sua posição passa a ser Q, teríamos a situação ilustrada na Figura A2.ll.
290 • Apêndice 11: Análise Vetorial

o
Figura A2.]] Variação de posição de uma partícula.

Pela defInição de subtração de vetores, verifica-se facilmente, pela Figura A2.ll, que

/)'F = F(t + /),t) - F(t )

Por outro lado, a razão L1 F /L1tserá um vetor colinear à corda PQ (Figura A2.l2). Além disso,
quando L1ttende a zero, Q se aproxima de P e a corda PQ tenderá à tangente em P, de tal maneira
que L1F/L1t tenderá ao vetor tangente à curva em P, drldt; assim, quando L1t tende a zero, L1F/L1t
tende a dF /dt.

d!
dt

Figura A2.]2 Vetores L1 F /L1te d F /dt.

Nestas condições, de maneira semelhante às grandezas escalares,

di = lim F(t + /),t)- r(t) (20)


dt !iHO /),t '

sendo que dF /dt recebe o nome de derivada do vetor r em relação à variável escalar t.
No caso específico, como dr /dt é a derivada de F (vetor posição), em relação ao tempo t,
recebe o nome de velocidade (vetor):
di
v = dt .

Observação: evidentemente, pelo fato de dF /dt ser um vetor, a defmição (20) poderá ser aplicada
para defmir derivada de ordem superior, enquanto existirem os limites correspondentes.

11. DERIVADAS DE SOMAS E PRODUTOS

Sendo li , li e w funções vetoriais e y função escalar da variável independente t, temos:


Dinâmicada Agua no Solo • 291

(a) -dt u+v_) dü


d (_ dt
=-+-dVdt
(b) -d (-U.v-) =U.-+-.v
- dV dü_
dt dt dt

( c) -d (ü
uxv/=ux-+-xv
~l - dv dü -
dt dt dt

(d) -d (-)
yu =y-+-u
dü dy_
dt dt dt

e -
dt
u. vxw =u. vx-
dt
+u. -xw
dt _)
+-.
dt
vxw
()d[_ (__ )] _ (_ dW) _(dV dü (__ )

- ux vxw =ux vx- +ux -xw +-x vxw


(f) dt
d [- (- -)] - (- dt
dW) dt -) dü
- (dV dt (- -)

(g) -dü = -dü + -dt (t é fun ção dI)


e outro esca ar x .
dx dt dx

12. COMPONENTES DA DERIVADA DE UM VETOR

Como já vimos, um vetar ü é escrito em função de seus componentes cartesianos como

ü=u) +uy}+u)'{.

Evidentemente,

dü _ dux ~ + -j
---I duy ~+ -duz k' , (21)
dt dt dt dt

pois temos a soma de três vetares e cada um é o produto de uma variável escalar (ux, uy, uz) por um
vetor constante (i, J, k ).
Esta fonna de dü / dt pode ser usada para provar qualquer uma das fórmulas dadas no item
anterior (item 11).

13. GRADIENTE

13.1 Campoescalar
Imaginemos uma fonte de calor e o espaço que a rodeia. Evidentemente, os pontos mais
próximos desta fonte estarão a uma temperatura mais elevada do que os mais distantes, e a cada
ponto do espaço em tomo da fonte está associado um valor bem detenninado da temperatura do ar.
Além disso, também não é dificil imaginar que a temperatura dos pontos pode variar com o tempo.
Como este, existem muitos outros exemplos nos quais uma detenninada grandeza varia de posição
para posição no espaço e/ou de instante a instante no tempo.
292 • Apêndice JI: Análise Vetorial

Por simplicidade, vamos considerar o caso no qual o valor de uma grandeza escalar T varia
apenas com a posição no espaço e não com o tempo. Caso ela varie também com o tempo, vamos
analisá-Ia num instante particular e bem detenmnado. Nestas condições, teremos o que se chama de
função escalar de posição: a cada ponto P do espaço, a função associa um valor T(P) do escalar T.
Matematicamente,

T=T(P). (22)

Note que esta defmição da função escalar de posição não envolveu nenhum sistema de
referência. No entanto, considerando o sistema de referência de coordenadas cartesianas, podemos
escrever a equação (22) como

T = T(x,y,z), (23)

sendo x, y e z as coordenadas cartesianas do ponto genérico P (Figura A2.l3).

o y
y

Figura A2.]3 Localização de um ponto no espaço por meio de um sistema de coordenadas


cartesianas.

Define-se campo escalar como a região do espaço na qual o escalar T existe. Ou, em outras
palavras, a grandeza escalar T é um campo escalar quando depende da posição dos pontos no
espaço.
No caso de nossa preocupação ser apenas o tempo, fixamos a atenção num ponto bem
detenTIinado no espaço e verificamos a variação da grandeza apenas com o tempo, isto é,

T = T(t). (24)
Dinâmica da Agua no Solo • 293

Considerando o caso mais geral, em que T varia simultaneamente no espaço e no tempo,


:..~amos:

T = T(x,y,z,t). (25)

Finalmente, deve ser lembrado que a função T = T(P) pode ser considerada contínua se
~tirmos que passando de um ponto do espaço para outro infrnitamente próximo, a função
=x. erÍmenta uma variação infInitamente pequena .

.":'.2 Conceito de gradiente

Imaginemos uma certa região do espaço com a existência de um campo escalar contínuo
~ = T(P). Os pontos deste campo para os quais o escalar T assume um mesmo valor To = constante
-orrespondem a uma superfIcie no espaço conhecida como superficie de nível ou equipotencial, isto
:? a cada valor To da função T corresponde uma superficie de nível defrnida analiticamente por

T(P)= To ou T(x,y,z)= To' (26)

Desta maneira, podemos perceber que o campo escalar pode ser considerado como uma série
superficies equipotenciais que reúnem, cada uma delas, os pontos do campo correspondentes a
. lores iguais do escalar T. Consideremos, então, duas destas superficies de nível: T = To e
~ = To + L1T(Figura A2.l4).
N

s
!
T=To+ôT

FiguraA2.14 Superficies equipotenciais de um campo escalar.

Situemo-nos, inicialmente, no ponto P da superficie T = To e caminhemos ao longo da direção


geral S de vetar unitário s. Quando atingirmos a superfície To +L1T, teremos percorrido uma
distância M e o escalar T terá sofrido uma variação L1T. Desta maneira podemos, portanto,
estabelecer uma taxa de variação do escalar T ao longo do segmento M, isto é, L1T/M.
294 • Apêndice 11: Análise Vetorial

Se, em vez de caminhannos ao longo da direção geral S, caminhannos ao longo da direção


normal N, de vetor unitário n, a taxa de variação L1T/ f1N será máxima, pois o menor percurso entre
duas superficies de nível é o que se faz ao longo da nonna1.
Pelo que acabamos de ver, a taxa de variação do escalar T com a distância é afetada pela
direção, porquanto podemos dar-lhe um tratamento vetoria1.
Lembrando que o limite de ~T/t.N é dT/dN, defme-se, então, gradiente do escalar Tao vetar
que tem por módulo o valor absoluto da taxa de variação dT/dN, por direção a da normal à superficie
de nível e por sentido o dos T crescentes, isto é,
~
grad T =dT , (27)
dNn.

Para encontrannos dT/dS, a taxa de variação de T com a distância na direção geral S, efetuemos
o produto escalar abaixo:

gra~dT .s=-n.s.
~ dT, ~
dN

Como fI.s = cos e (ver equação 8), resulta:


~ dT
gradT. s=-
dN
cos e.

No limite, quando as superficies de nível da Figma A2.l4 se tomam infmitamente próximas,


cose = dN/dS, porquanto
~
grad T .s= dT (28)
dS .

Ou seja, como dT/dS é a projeção de grad T na direção S (Figura A2.15), grad T ~ dT/dS, ou seja,
grad T é o maior valor que dT/dS pode adquirir. Portanto, pela equação (28), "a taxa de variação de
um escalar com a distância numa direção qualquer é igual à projeção do vetor gradiente deste escalar
na direção considerada".

13.3 Gradiente em coordenadas cartesianas

~ ~
Acabamos de ver (equação 28) que dT/dS é a projeção de grad T na direção S.
~ ~ ~
Conseqüentemente, as projeções de grad T nas direções f, i e k de um sistema cartesiano

triortogonal serão dados por (dT/dx) f, (dT/dy) J e (dT/dz) k , respectivamente.


Dinâmica da A.gua no Solo • 295

T = constante
'\.
---.J

grad T cose = dT
dS

-'>

Figura A2.15 Componente do grad T numa direção qualquer S.

Portanto, com as três projeções assim calculadas, recompomos o vetor gradiente, isto é:
dT dT dT
-'>
gradT=-i
dx
A

+-j+-k
dy dz
A A

(29)

ou, por analogia com as derivadas parciais,


dT dT dT
-'>
gradT=-i
dX
A

+-j+-k,
dY dZ
A A

(30)

que é a fonna analítica do gradiente de urn escalar num sistema de coordenadas cartesianas.
Introduzindo o operador diferencial de natureza vetorial V (que se lê "nabla") tal que
-dAdAdA
\I=-i
dX
+-j+-k
dy dZ'
(31)

então deduz-se da equação (30) que


-'> -'>
gradT = \lT . (32)

13.4 Gradiente de somas e produtos

Sendo T e V funções escalares de posição, e a urna quantidade fIxa, temos:

a) V T= O, se T= constante

b) V aT= aVT
c) V (T + TI) =VT+V V
296 • Apêndice 11:Análise Vetaria!

d) V (TV) = TVV + VVT.

14. DIVERGÊNCIA

14.1 Campo vetaria!


À semelhança do que se viu para campo escalar, define-se campo vetaria! como uma região
do espaço na qual existe associada, para cada um dos seus pontos, uma função vetarial de posição.
Por função vetarial de posição, entende-se aquela que associa a cada ponto P do espaço um
vetar ü , isto é,
ü = ü(p), (33)

ou, num sistema de coordenadas cartesianas,


ü = ü(x,y,z), (34)

sendo x, y e z as coordenadas do ponto genérico P, associado ao vetar ü (Figura A2.l6).


z

z
ti

y
y

Figura A2.16 Localização de um vetor no espaço por meio de um sistema de coordenadas


cartesianas.

No caso geral em que ü varia simultaneamente no espaço e no tempo, teríamos


ü = ü(x,y,z,t). (35)

Além do mais, diz-se que a função vetorial de posição ü = ü (P) é contínua se para uma
variação ínflllitesimal de posição o módulo de ü também experimenta variação ínfrnitamente
pequena.
Como exemplo fisico de campo vetorial, podemos considerar a velocidade do vento de pontos
na atmosfera num dado ínstante. Outros exemplos: campo elétrico, campo magnético, campo
gravitacional e outros.
Dinâmica da Agua no Solo • 297

14.2 Conceito de Divergência

Para podennos compreender o conceito de divergência, precisamos ter conhecimento do que


sejajluxo de uma grandeza vetorial.
O fluxo é uma propriedade de todo campo vetorial e está sempre associado a uma superficie
(hipotética) imersa no seu interior. Consideremos, então, wna superficie de área A, fechada e de
forma arbitrária, imersa num campo vetorial Ü, numa certa região do espaço. Dividamos esta
superficie em pequenos quadrados de área elementar dA, cada um deles (a) associado ao vetar
--7

campo Ü e (b) representado por wn vetor dA de módulo igual à área dA, direção nonnal à
superficie e sentido para fora (figuras A2.l7a e A2.l7b).

Por definição, o jluxo elementar do vetor ü , pela superficie elementar dA, é o produto escalar
--7

de ü por dA , isto é,

dep=ü.dA, (36)
e, portanto,
dep = u dA cos a , (37)

--7

sendo a ângulo entre ü e dA (Figura A2.l7b).

ti

(a) (b)
Figura A2.17 Superficie hipotética imersa num campo vetorial (a); ampliação de um dos elementos
de área desta superficie (b).
--7

Como u e dA são quantidades sempre positivas, quando a < 90°, isto é, quando ü e dA têm
o mesmo sentido, dep será positivo, pois cos a > O para a < 90°. Por outro lado, quando a> 90°,
--7

cos a<O e dep será negativo; note que, neste caso, ü e dA têm sentidos contrários. Quando ü e
298 • Apêndice II: Análise Vetorial

--'>

dA forem perpendiculares entre si, dcjJserá nulo, pois cos 90° = O. Evidentemente, quando Li = O ou
dA = O, dcjJ= O. Além disso, é fácil perceber que a superficie fechada da Figura A2.17a pode ser
dividida em duas partes: uma pela qual o campo vetorial entra na superficie e a outra pela qual o
campo sai (Figura A2.l8).
Com isso, a soma dos fluxos elementares estendida a toda a superficie, quer dizer, o fluxo
total cjJdo vetor Li que atravessa a superficie de área A, toma-se uma integral de superficie, ou seja,

'r (38)
rh=rh'r entra +rh
'f sai =JJüdA .,
A

= fluxo do vetor ü que entra na superficie fechada e cjJsai= fluxo do vetor ü que sai da
sendo cjJenlra
superficie fechada.

Figura A2.18 Fluxo de Li que entra através de AI e fluxo de Li que sai através de A2

Uma vez entendido o conceito de fluxo de uma grandeza vetorial, podemos seguir em frente e
introduzir o conceito de divergência.
Toda superficie fechada encerra, evidentemente, um certo volume de espaço no seu interior.
Imaginemos que o volume delimitado pela superficie fechada da Figura A2.18, irnersa no campo
vetorial ü, seja igual a V, que a área da superficie pela qual o campo vetorial entra em V seja AI e a
área pela qual ele sai de V, A2. O contorno t delimita, portanto, as duas superficies, de entrada e saída
do campo.
Sob estas circunstâncias, imaginemos agora que possamos medir o fluxo de ü que entra por
AI (cjJentra)e o fluxo de Li que sai por A2 (cjJsaJ Pela definição de fluxo (equação 38) ele é uma
grandeza escalar, e será negativo quando o campo vetorial entrar em V e positivo quando sair.
Poderão existir três situações:

+ cjJsai= O ou cjJsai= -cjJelllra


a) cjJentra

Isto nos sugere facilmente que não há variação do campo vetorial Li no interior do volume V,
ou seja, tudo que está entrando em V está saindo, não havendo nem "criação" nem "destruição" de
vetores Li no interior de V.

+ cjJsai< O
b) cjJentra ou cjJsai< -cjJentra

Neste caso, no interior de V está havendo uma "destruição" de vetores Li, uma vez que sai
menos do que entra, isto é, deve existir no interior da superficie fechada um sink ou "sumidouro" de
campo vetoria!.
Dinâmica da Agua no Solo • 299

c) </Jenlra+ </Jsai> O ou </Jsai> -</Jentra

Agora está se gerando vetores u no interior de V; deve, portanto, existir uma source ou
"fonte" de campo vetorial no interior da superficie fechada.
Percebe-se, por estas situações, que o conhecimento da variação do fluxo de um vetor através
de uma superficie fechada nos diz se está existindo ou não uma variação ou divergência do campo
vetorial na região do espaço ocupada por esta superficie.
Se quisennos, portanto, computar esta variação ou divergência do campo vetarial em cada
ponto do espaço, basta dividir a soma do fluxo elementar que entra (d</Jentra) e o fluxo elementar que
sai (d</Jsai), ou seja, d</Jentra+ d</Jsai, através de wna superficie fechada elementar, pelo elemento de
volwne (dV) por ela englobado, isto é,

.IVU=-
d" - d</J (39)
dV'

sendo, evidentemente, d</J = d</Jentra+ d</Jsai e div ü a divergência do vetor ü no ponto considerado
localizado no interior de dV (lembre-se que, como o valor de d</Jentraé sempre negativo, e o de d</Jsai

sempre positivo, a soma d</Jentra+ d</Jsaivai sempre representar a variação do fluxo do vetar em dV).

A partir da equação (39), evidentemente


d</J = divu dV, (40)
donde

'f 'f sai =fffdivudV


n.=n. 'f'entra +n. ' (41)
V

isto é, O fluxo total </J de um campo vetorial u que atravessa uma superficie fechada englobando wn
volume V do espaço no seu interior, é dado também pela integral de volume da equação (41), a soma
dos fluxos elementares estendida a todo o volume V
Nestas condições, igualando as equações (38) e (41), resulta:

f f f divu dV =f f u.dà ,
(42)
v A

que é a expressão do chamado "teorema da divergência".

14.3 Divergência em coordenadas cartesianas

Para determinannos a fonna analítica da div U, em termos de wn sistema de coordenadas


cartesianas, consideremos uma superfície fechada elementar de área dA de um pequeno
paralelepípedo de centro P(x,y,z), orientado segundo os eixos cartesianos, e de arestas dx, dy e dz
(Figura A2.19).
300 • Apêndice II: Análise Vetorial

z
p (x,y,z)
z

dz
~
UyJ Uy]

dy

o y
y

Figura A2.19 Definição de divergência de um vetar num sistema de coordenadas cartesianas.

Esta superfície constitui-se de seis faces iguais e paralelas duas a duas, isto é,
face DCGH = face ABFE, de área igual a dydz
face ABCD = face EFGH, de área igual a dxdz
face ADHE = face BCGF, de área igual a dxdy.

Comecemos, então, por decompor o vetar ü em seus três componentes uxi , uyJ e uJ .
O vetor uxi só contribui para o fluxo pelas faces DCGH e ABFE do elemento de volume
dV = dxdydz, pois seu produto escalar com os demais vetores (de área) é nulo. Igualmente, uy J só
contribui para o fluxo pelas faces ABCD e EFGH, e uzk pelas faces ADHE e BCGF.
Pelo que acabamos de ver no item anterior, o fluxo elementar de Ull~ vetor ü que entra pela
faceABCD é, de acordo com a equação (37), igual a

u y dxdz cos 1800

ou

'fi en/ra,y =- u Y dxdz


drl-. ) (43)

e o fluxo elementar de ü que sai pela face EFGH igual a

U'y dxdz cos 00

ou

d I/J sai,y = U ~ dxdz

ou ainda
Dinâmica da Agua no Solo • 301

(44)
= ( Uy + OUy
d C/JSGi,y oy dy ) dxdz,

uma vez que

(45)

Portanto, a contribuição do componente uy para o fluxo do vetor u será a soma algébrica do


fluxo pelas faces ABCD e EFGH do elemento de volume dV, isto é, a soma das equações (43) e (44):

dC/J =-uydxdz+ uy+-dy dxdz


y ( oy
OUy )

ou
o
dC/J =~dV. (46)
y oy

Igualmente, para os outros dois pares de face:

(47)

d'" = oUz dV . (48)


'I'z OZ

Conseqüentemente, o fluxo elementar de u , pela superficie fechada elementar considerada,


será a soma das contribuições de ux, uye Uz (equações 46, 47 e 48, respectivamente), ou seja:

(48a)
OX
dC/J= (oux oy + oUz
+ oUy oz )dV '

donde

(49)

Como div u = dC/J/dV(ver equação 39), resulta:


Ju Ju Ju
divu = __ x + __ y + __ z . (50)
Jx Jy Jz

Se introduzinnos o operador "nabla" V , verifica-se facilmente que

divu = V.u, (51)

uma vez que


302 • Apêndice lI: Análise Vetorial

V.u= -z+-j+-k v-zxz+uyj+uzk=-+-+-.


- _ (O~ ~ ~O ~ ~O ')f ~ ~ ,) ~
0Ux ~
oUy ~
oUz

15. OUTROS OPERADORES

15.1 Operador laplaciano

Como acabamos de estudar, o operador gradiente atua sobre um campo escalar, dando origem
a um novo campo de natureza vetoria!. Por outro lado, o operador divergência atua sobre um campo
vetorial e dá lugar a um campo escalar. Nestas condições, podemos aplicar o operador divergência
no vetor gradiente de um escalar T, isto é,

divg~d T =V.VT = (V.V}r =V2T ,

sendo, portanto

(52)
ox2 0/
V2=(L+L+LJ oz2

um outro operador, que recebeu o nome de laplaciano; assim:


-->

lapl T = divgrad T = V2T. (53)

15.2 Operador rotacional

o operador rotacional atua sobre um campo vetorial, dando ongem a um novo campo
vetorial, segundo a defInição:

- kuy
jay
a/a
Uz z a -
ax (54)
- V - I a Ux

Além do laplaciano, que é uma combinação entre os operadores divergência e gradiente,


podem ser feitas outras combinações entre os operadores gradiente, divergência e rotacional, como:

rot g~d T ==VX (VT) (57)


(56)
(55)
(58)

t ü ===
otü
divü Vx(Vxü),
V.(V
==V.(V.ü)
X ü)

as quais têm importantes utilizações em estudos de física teórica, mas que, no entanto, para os nossos
propósitos, não necessitam ser detalhadas, uma vez que não serão utilizadas.
APÊNDICE 111

ENERGIA POTENCIAL GRA VITACIONAL

De acordo com a lei de Newton da gravitação "qualquer partícula de matéria no Universo


atrai qualquer outra partícula com uma força diretamente proporcional ao produto das massas
das partículas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas".
Representando porfa força, por mj e m] as massas das duas partículas e por r a distância entre
seus centros, então

ou

f=Gm1m22 ' (1)


r

em que G é uma constante de proporcionalidade cujo valor medido (6,67.10-11 N m2 kg-2)


independe das partículas que são atraídas, sendo denominada, por isso, constante universal da
gravidade.
Considerando que uma das partículas seja a Terra de massa M (suposta estar toda ela
concentrada no centro do planeta) e a outra um corpo qualquer de massa m, a equação (1) se toma:

F=GmM 2 ' (2)


r

sendo que F representa, portanto, a força de atração entre a Terra e o corpo, denominada peso do
corpo. É devido à essa força peso F que todo corpo colocado próximo à superfície da Terra é
atraído e cai em direção ao seu centro. Evidentemente, a Terra também é atraída em direção ao
corpo pela mesma força mas, como sua massa é muito grande (= 5,98.1024 kg), seu movimento é
imperceptível. Por outro lado, de acordo com a segunda lei de Newton da mecânica, temos que:
F=mg, (3)

sendo g a aceleração adquirida pelo corpo devido à força F, por isso denominada aceleração da
gravidade, cujo valor é obtido pela combinação das equações (2) e (3):
304 • Apêndice lI!: Energia Potencial Gravitacional

GM
g=-2-'
r
(4)

Observe, pela equação (4), que o valor de g independe do valor de m, mas varia com o valor
de r. Sendo o raio médio R da Terra igual à 6,38.106 m, de acordo com a equação (4) a aceleração
gravitacional de um corpo, na superficie da Terra, vale:
024
6,67.10-11 x5,98.1 == 9,8 m S·2
g= (6,38.106)

A energia potencial gravitacional de um corpo é oriunda desta força de atração entre sua
massa e a massa da Terra: toda vez que elevamos um corpo a uma determinada altura da Terra e o
abandonamos a si próprio, ele cai e, na queda, adquire energia cinética. Portanto, enquanto o corpo
está sendo elevado, ele vai armazenando uma energia potencial que é convertida em energia cinética
na queda; à medida que o corpo cai ele ganha energia cinética e perde energia potencial. Assim, se
um corpo a uma distância rf do centro da Terra (posição 1), na qual sua energia potencial
gravitacional é Eg (rf) e sua energia cinética Ec (rf), cair para uma distância r2 do centro da Terra
(posição 2), ele perde energia potencial gravitacional, a qual passa a ser Eir2), e ganha energia
cinética, que passa para Elrz), ou seja,

Eg (r2) - E g (ri) = - [Ec (r2) - Ec (ri )], (5)

sendo, portanto, Eg(rz) - Eg(rf) a perda de energia potencial gravitacional e EirzJ - Eirf) o ganho de
energia cinética, daí o sinal negativo que aparece na equação. Observe, também, que estamos
utilizando o índice 2 para a situação fInal e o índice 1 para a situação inicial.
Se, pelo teorema trabalho-energia cinética, segundo o qual "a variação da energia cinética de
uma partícula é igual ao trabalho realizado pela resultante das forças que nela atua",
Ec (r2)- Ec (rj)= W , (6)

então, evidentemente, pelas equações (5) e (6),

E g (r2 ) - E g (rj ) = -W (7)


ou
ri

Eg (r2) - Eg (ri) = - f Fdr .


1'2

Como no caso presente F é o peso do corpo (= força de atração entre o corpo e a Terra), dado
pela equação (2), então
r
IGmM
Eg (r2
) - E g (rj ) = -
1'2
f rr
e, do Cálculo Integral, como G, m e M são constantes,

E, (r,)- E, (r,)= -GmM[( - :, H-:,)]


Dinâmica da Agua no Solo • 305

ou

(8)

Portanto,

E g (rz )=_ GmM ,


rz

e, conseqüentemente, para um raio qualquer r,

(9)

Observe que, à medida que r aumenta, Eg (r) também aumenta (toma-se menos negativa) até
que, para r = 00, Eg (00) = O. Portanto, quando se diz que "Eir) é a energia potencial gravitacional do
corpo a uma distância r do centro da Terra", está implícito que se trata do valor dessa energia nessa
posição em relação ao seu valor (nulo) a uma distância infmita do centro da Terra (basta considerar
ri = 00 e r2 = r na equação 8).
Observe também que, na superficie da Terra, como r = R, então:

Eg(R) =_ GmM . (10)


R

Voltando à equação (8), é fácil verificar que, para r I = r e r2 = r - h:

(11 )

Se, agora, os pontos 1 e 2 estiverem bem próximos entre si e de tal maneira que r» h, pelo
que r-fi == r, a equação (11) pode ser simplificada para

ou, tendo em conta a definição de g (equação 4) e a definição de h = ri - r2, temos que:

Eg (rJ- Eg (rz)= mgh = mg(rl - rz) (12)

e, igualmente, seguindo o mesmo raciocínio, que

E g (rz ) - E g (ri) = -mgh = mg(rz - rI ) . (13)

Observe que na equação (12) a diferença de energia potencial é entre o ponto mais distante do
centro da Terra (ponto de cima) e o ponto menos distante do centro da Terra (ponto de baixo), o
inverso ocorrendo com relação à equação (13), isto é, Eg (baixo) - Eg (cima).
306 • Apêndice 111: Energia Potencial Gravitacional

Note também (equações 12 e 13) que, para se medir a diferença de energia potencial
gravitacional de um corpo entre dois pontos próximos, não há necessidade de se conhecer as
distâncias desses pontos em relação ao centro da Terra (rI e r2), mas apenas a distância vertical entre
eles (h).
Estes fatos levaram à defmição da Referência Gravitacional (RG) como sendo um plano
horizontal arbitrário em relação ao qual se mede a distância vertical h.
Com isso, definindo E go como a energia potencial gravitacional do corpo neste plano de
referência arbitrário (RG), distante ro do centro da Terra, e Eg como a energia potencial gravitacional
do corpo nwn ponto a uma distância r do centro da Terra, tem-se que:
a) se o corpo estiver nwn ponto a uma distância h acima da RG, então
Mg =Eg -Egu =mg(r-rJ=mgh;
b) se o corpo estiver nwn ponto a uma distância h abaixo da RG, então
Mg =Eg -Ego =mg(r-rJ=mg(-h)=-mgh; e

c) se o corpo estiver num ponto coincidente com a RG, então Mg = Eg - Egu = mg(r - ro)= O.
APÊNDICE IV

RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS


CAPÍTULO!

1. Pela equação (20), como cos 90° = O, então h = O. Conseqüentemente, o líquido não subirá nem
descerá no tubo capilar e, pelo mesmo motivo, isto é, a = 90°, a fonua da superfície do líquido no
tubo capilar será plana.
2. 0,293 m.
3. Não esguichará porque, se isso acorresse, estaríamos criando energia, o que não é possível pelo
princípio da conservação de energia. O que ocorre é o seguinte. Pela fórmula de Jurin (equação
20), se h' = hl2, como a; p, g e r não variam, só pode variar cos a, o qual deve ser reduzido pela
metade, cos a' = (cos a)/2. Como no exercício anterior a = 0° e, portanto, cos 0° = 1, então cos
a' = Y2. Conseqüentemente, a' = 60°. Portanto, o ângulo de contato aumenta de 0° para 60°
quando h é reduzido pela metade.
4. 0,118 lU.
5. 63,3.lü·3Nm'l.

6. A fórmula seria h=~ = O'cosa e,portanto,h=0,147m.


pgR pgr
7. É só seguir o procedimento mostrado nas páginas 21 a 23, com a diferença de que na equação
(12), dF = dF]- dF2.

8 V A 'fi ' d d - h 20' 20'cosa


. oce ven lcara na e uçao que = (p - Par )gR = - (P- Par )'gr

9, hmax = 0,734 m.
10. Como a aceleração da gravidade da Lua é seis vezes menor do que a aceleração da gravidade da
Terra, então a altura da ascensão capilar na Lua seria seis vezes maior do que a da Terra. Se o
experimento fosse feito no vácuo, o resultado seria o mesmo, porque na fórmula de Jurin não
aparece Pa1m: o que faz a água subir é a variação da pressão intema quando a superfície do líquido
se encurva (toma-se côncava).
11. a) Enquanto existir água na cuba, evidentemente h é sempre recuperada, para que o equilíbrio
seja restabelecido.
b) A explicação é a mesma, só que no sentido inverso (é claro que, nesse caso, a quantidade
de água na cuba aumenta).
308 • Respostas dos Exercícios

CAPÍTULO JJI
1. a) 18,05%
b) 27,59%
c) 33,111mn
d) 1528 kg m-3
e) 42,34%
f) 14,75%
g) 65,16%.
2. 186,44 kg; 33,56 kg.
3. 136mm.
4.0,5 m.
5.2501mn.
7.0,34m.
8. a) 1205 kg m-3
b) 0,33 kg kg-I
c) 0,39 m3 m-3
d) 0,54 m3 m-3.
9.0,1208 kg.
10. a) 51000 t
b) 1,02.107l.
12.
1583
1541
1608
1579
()1811
1446
0,2568
0,2409
0,2460
0,3656
0,1607
0,2695
0,2511
0,2454
0,3660
0,3154
0,3641
0,3245U
1486
1418
1347
1256
1527
1358
Profundidade p
(m3 p (anel)
(torrão)
(kgkg-I)
m-3) kRm-3

Observe que os valores de p obtidos pelo método do torrão foram sempre superiores (em todas as
profundidades) aos obtidos pelo método do anel volumétrico. Isso, provavelmente, deve ser porque
os torrões consistem de unidades estruturais únicas e os anéis de partes dessas unidades: próximo das
superficies de clivagem p é menor.
13. a) - Calcular, primeiramente, a média e o desvio padrão de p e de U, pelas fónnulas
n

1 n
L.(X1 _X)2
i=1
x=-n L. Xi
e sx =
i=1
n

respectivamente, para cada profundidade.


Dinâmica da Agua no Solo • 309

- e = ~U : trata-se de um produto, pelo que, pela teoria de propagação dos erros:


Pa

e, consequentemente,

3 -3
mm Profundidade se m-3 e
0,393
0,365
0,444
0,486
0,427
0,346
0,025
0,013
0,026
0,016
0,023
0,030
0,420
0,380
m3

b) Aplicando a regra do trapézio: h) 60 = 652,2 mm.


Pela teoria da propagação dos erros: Sh 1,60 = 36,8 mm.

c) h0;20-0.60 = 161;4 mm; S ho ,20-0 ,60


=9.8mm

hO.B0-l,40 =251;4nun; Sh o)m-l AO =10.8mm.

d) Va=6522 m3; SVo = 368 m3.

14.22,44 kg.
15.34 viagens.
16. b)
Data
28/05
31/05
03/06
06/06
c)
Período
28/05 - 31/05
31/05 - 03/06
03/06 - 06/06
d)
Período
28/05 - 31/05
31/05 - 03/06
28/05 - 03/06
310 • Respostas dos Exercícios

e) Pela regra do trapézio:


Camada &11,20 (nm)
0,00 - 0,15 -3,7
0,15 - 0,30 -2,2
0,30 - 0,45 -2,5
0,45 - 0,60 -2,0
0,60 - 0,75 -1,3
0,75 - 0,90 -0,7
0,90 - 1,05 -0,2
1,05 - 1,20 ---º"º-
Total 12,6mm
f) 57, 4 rum,
17,-44 rum.

CAPÍTULO IV

1. b=- -J3a3 ,
9

T2V
2.• F=---
4K

• H = 2S.,fKP
·G=O
3. w= - 18,05 kJ
q = 11,32 kJ,
4. a) Se o volwne de wn sistema gasoso não varia, então, 8W = -PdV = O e, conseqüentemente, pelo

...
pnmeIro "d'E .
pnnCIpIO = '-"1'
Âr.L ogo C v = -dE .
dT

b) Para wna transfonnação isobárica, dH = 8q (páginas 90 e 91) e, portanto, C p = dH


dT .

c) Da defmição de entalpia, H = E + PV, tem-se que


dH = dE +~(PV)
dT dT dT
ou

d
Cp =Cv +-(nRT),
dT
e, então
Cp -Cv +nR.

d) dS = 8q
T'
Dinâmica da Agua no Solo • 311

Mas 8q = CxdT e, então,

dS= CxdT
T '
pelo que
T

M= JCXdT.
T1 T
5. a) f1S=-5,76 Jkl.
b) Calcule L1S pelo caminho A (isotérmico) e verá que, para esse caminho, L1S = - 5,76 J K1 e que,
com esse valor de L1S, L1E tem que ser nula no processo.

6. Chamando de cp o calor molar a pressão constante e de Cv o calor molar a volume constante,


temos que:
a)

CV

GAs:cpCv- =Cvcp= =cp


~ {AR: R=> - CvR==cp
67,3
- R-8,314 8,314J =morl
= 29,0 =- 59,0 20,7 J
K-1 mar I K-1

AR: = cp = 29,0 = 140


Y Cv 20,7 '
y
, c 67,3
GAS:y=---.E..-=-=1,14
Cv 59,0

b) AR:7;=~~ = 3,2.lOsx8.1O-3 -308K


nR 1x8,314

P2V2 P2 X 20.10-3
T2 = -- = -----
nR 1x 8,314
Cálculo de P2

~~y = P2Vl (equação do processo adiabático)

P, ~~(~ J
2' 20.10-3
P =32.lOS( 8.10-3 )1.4

P2 = 0,887.10s Pa

P ortanto T.2 = 0,887.10s x20.1O-3 - 213K


lx8,314
312 • Respostas dos Exercícios

GAS: 7; = -R~ = 3,2.105 x8.1O-3 = 308 K


nR 1x8,314

T2 = P2V2 = P2 X 20.10-3
nR 1x8,314
Cálculo de P2

p'=p,(~J
P =3,2.105 8.10- =1,126.105 Pa
2 20.10-3
[ 3 J1'14

T =1,126.105X20.1O-3 =271K.
2 1x8,314
c)

P(Pa)

3,2.105

\
2,8.105 \
\
\
\
\
\
\
\
\
\
\
2,4.105 \
\
\
\
\
\ \
\ \
\
\ \
\ \'
\ ~
\
\
2,0.105 \
\\
\

,
;:
\
\
\
"
1,6.105
"',
\\ ", "
Ar "',
--
" " ----.308 K
"
1,2.105 ",
271 K
.•.•.•...•.•..•..... -
213 K

8,10-3 10.10-3 12.10-3 14.10-3 16.10-3 18.10-3 20.10-3 V(m3)


Dinâmica da Agua no Solo • 313

7.

P2 = 0,84.105 Pa

T2 =?

1550 m

P2 = 0,94.105 Pa

T2=31OK

p"VJ = P2V2
T., T2

V2 p"T2
- =- (2)
~ ~(~:J (1) VI P2T.,

(2) em (1)

!l
P2 P2TJ
= (P.. T2 JY
I

P P.
2
T = (!l)r
2 P2 T J
J

T,~(~n~f
T,~(~N~)\
T, ~(;: r T,
314 • Respostas dos ExerCÍcios

T?- =(0,94.105
0,84.105 JI:4-1 310

T2 = 1,119-0,286 X 310.

T2 =300,2K

CAPÍTULO V
1.

a) F = F (T, V, ms, msol, maJ


b) H = H (S, P, ms. msol, mar)
c) G = G(T, P, ms, msol, maJ
d) G* = G* (T, P, ms, msof, Par).
2. G* = G* (T, P, ms, msol, PaJ.

CAPÍTULO VI
4. ~m =- 2,6 m de água
5. %de Solo A Solo E
Macroporos 25% 4%
Mesoporos 35% 24%
Microporos 40% 12%

6. a) A ~ ~m =-0,382 m
B~ ~m = - 0,221 m
C~ ~m = 0,040 m= ~p

b) Considerando RG na superficie do solo:


.A ~ ~t=-0,782 m
B ~ ~t = - 0,921 m
C ~ ~t=-0,960 m.
c) em A.
d) Para baixo, de B para C, porque ~r em B (-0,921 m) é maior do que ~I em C (-0,960 m).
8. 0,230 m de Hg.
10. 0,746 m de Hg.

CAPÍTULO VII

1. 5,5.10-7 m S-l.

2. -2,3.10-3 mm S-I (para baixo).


Dinâmica da Agua no Solo • 315

3. 704 s.
4.

z(m)

1,0 --------------------------------

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 <jl(m)

5.

z m)

0,5 _

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 <jl(m)

6. 1,9 h.
(m) <p
(m) z
(q
(w)<j>
(m z
(u
'L
SOPlJ.JéJx:g sop sVlsodséJtI • 91 t
Dinâmica da Agua no Solo • 317

c)

z (m)

(m)

-L

d)

z (m)

L <p (m)

-L

8. 0,1 /-Ull S-I.


318 • Respostas dos Exercícios

9. Considerando a referência gravitacional na base da coluna, tem-se a) para a coluna à esquerda:

z(m)

- -- - -- - --- 5~---------------.--------------
-Õ ~

-0,3 -0,2 -0,1 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 <jl(m)

e, para a coluna à direita:

z(m)

-0,5 0,5 <jl(m)


-1,0
Dinâmica da Agua no Solo • 319

10.

(a) (b) (c)


t1cfJ, Seguindo os mesmos passos dos
q=-Ke ( ) -t1c/J,
& qo =-Ko & casos anteriores, mas assumindo
uma condutividade hidráulica
t1(cfJp + cfJg)
q = -K(e) t1(c/Jm
&+ c/Jg) qo=-Ko----
/),z
para o conteúdo de água médio
da coluna, teríamos

& + t1cfJg
&J
F-K(8{"~" + "':: J o
q = -K o (t1cfJp
Em tennos de carga hidráulica, ou, expressando os potenciais
q = -K(e)( fl~, + I}
&
t1c/J g = e, então, em altura de líquido,
Como pela figura t1~n = 1,
conseqüentemente
q =-K(e{ t11;' + 1) qo ~-K"("':: +1} q= -2K(e) (para baixo).
Como, pela figura, t1c/Jp
Mas, pela figura, -- = O e,
t1c/J .
_,_n = -1 , eVidentemente
&
& então,
q=O. qo =-Ko (movimento no
sentido de cima para baixo).

11. Lembrar que f A+Be


dx c x
=-Ax --luAC1 IA + Be QI + consto

12. a) 0,6 me 0,4 m.

z(m)

1,0

° 0,4 0,8 1,0 <j>(m)


320 • Respostas dos Exercícios

13.1ª Posição
Imaginemos, inicialmente, que a esponja está toda imersa na água, como ilustrado abaixo. Nesta
situação:
+---- 100 111m __ cfJ,A= cfJ; + cfJ:
cfJ,B= cfJ% + cfJ:

cfJ/ = O + 50

____RO cfJ/ =50+0

cfJ,A=50 mm

cfJ,B= 50 mm
Portanto,
cfJ/ = cfJ,B(equilíbrio).
Imediatamente após a retirada da esponja do recipiente com água, os potenciais nos pontos A e B
se tomam:
+---- 100 mm __ cfJ/ =cfJ; +cfJ: =0+50-.7cfJ/ =50mm

cfJ/ =cfJ% +cfJ: =0 + O-.7cfJ/ =Omm

A água então flui no sentido de A para


B, gotejando através da superfície
figura (b) inferior, até novo equilíbrio quando o
gotejamento cessar.
+---- 100 mm __

RO

o O O
o
(novo equilíbrio)
figura (c) figura (d)

Enquanto goteja, cfJ,A>cfJ/ ou cfJ,:' +cfJ: >cfJ% +cfJ:

cfJ,:' + 50> O (gotejando) +O .


Portanto, enquanto estiver gotejando, cfJ,:' > -50 mm. Na situação de equilíbrio, quando pára o
gotejamento, evidentemente cfJ,A= cfJ,B, e como a esponja, agora, está não saturada,

cfJ,:' + cfJ: = cfJ,~+ cfJ:

cfJ,:'+50=cfJ:' +0

ou

cfJ,~= cfJ,:' + 50 ,
Dinâmica da Agua no Solo· 321

isto é, assumindo que a esponja seja homogênea, o conteúdo de água em B (ou, mais
corretamente, em qualquer ponto da superficie horizontal que passa por B) será maior do que em
A (ou em qualquer ponto da superfície horizontal que passa por A) porque, pela expressão acima,
C/J,~ < C/J~. Além disso, percebe-se facilmente que os em qualquer ponto das superficies C/JI/I

horizontais entre A e B são iguais na superfície e aumentam conforme se vai de A para B. Por
exemplo, na situação de equilíbrio da fígura (d), C/J,~ = C/J,~ = C/JI/I em qualquer ponto da superfície
horizontal que contém C e D e C/J,~ < C/J,~(ou C/J:; )< C/J,~.

2ª Posição

Logo que a esponja é colocada nesta posição (fígura e), temos que
50 mm C C C
----) C/JI = C/JI/I + C/Jg

C/JID = C/J,~ + C/J:


C/JID = C/J:; + O

Como neste instante C/J;; = C/J,~ , como acabamos


de demonstrar, então,
figura (e)

ou seja, C/JIC > C/JID : a água então flui no sentido de C para D, gotejando através de D (superfície
que contém D) até novo equilíbrio quando o gotejamento cessa.

3ª Posição
100mm Seguindo o mesmo raciocínio, logo que a esponja é
E colocada nesta posição (figura f), C/J,~ = C/J/: e, então,

j C/J/ - C/JIF = 200 mm ,

200 mm
isto é, como C/J/ > C/JIF, a água flui no sentido de E para F até
atingir novo equilíbrio quando pára de fluir (C/J,E = C/JrF).

j
____________
L.--~_-...!-------------- RG
F

figura (f)

14.Vimos que nesta unidade (altura de líquido) C/Jg =h) = distância do ponto considerado à
referência gravitacional (ver item 4 do capítulo V, equação 80). Portanto, dC/Jg / dh] = 1 ou

dC/Jg = dh). Como dhl = dz (sempre), então dC/Jg = dz e, conseqüentemente, dz = 1.


dC/Jg
ÍNDICE REMISSIVO

A Cavitação, 138 e 151


Coeficiente
Ação molecular, 12
Adesão, 19,20,204,205 de tensão superficial, 17,18,26,32 e 134

Adsorção, 42, 43, 115 de viscosidade, 204, 205 e 208

Água no solo, 11,41,43,49,50-52,55-58,60-62, Coeficientes fenomenológicos de Onsager, 172


69,101,115,119,121-123,129,132,139, Coesão, 12, 13, 19 e 20
147,149,151,153,159,173,180,196,199, Componentes cartesianos de um vetar, 162, 182,
209,212,215,217,225,238,239,242-244, 183,186,282,291 e 294
247-250,261,263,265,267,268 e 279
Componente água, 101, 121-123, 152, 153 e 173-
Análise vetorial, 159,161 e 279 175
Ângulo de contato, 18-21,29,30,32, 134, 140 e Condições transientes, 199,237 e 239
307
Condutividade hidráulica, 162, 163, 165, 166,
Arno solo, 41, 44, 107, 117, 121, 127, 172, 173 169, 17~ 174, 182, 183, 190, 192, 193, 196-
e 238 199,210,231,232,235,237-241,243,244,
Annazenagem de água no solo, 56-58, 60-62 e 247-250,252,253,255,257-259,267,270 e
244 319
variação da, 61, 62 e 263 Contratilidade da superficie dos líquidos, 11
Ascensão capilar, 27, 29, 30, 32, 33, 67, 136, 137, Conteúdo de água,
140,263,264,267 e 307 de área, 164
efetivo, 51 e 53
B no solo, 43, 49-51, 55, 107-109, 111, 115, 119,
120,132,134,139,141,142,147,154,
Balanço hídrico, 261-265 e 270 155,163,180,182,183,197,199,210,
Boltzmann, transformação de, 220 212,215-217,222-224,228,237,239,
Buckingham, equação de, 162 e 163 246-252,264-267,270,315 e 319
Bernoulli, equação de, 201-203 residual, 51
Curva de retenção, 116, 117, 139-142, 144, 153,
c 156,184-186,231 e 250

Calor, 38, 69, 73, 74, 78-83, 91, 98, 99,171-174, D


291,303,311
Camada ativa, 13 Darcy
Câmara de pressão com placa porosa, 132 equação de, 159-163 e 208
Campo lei de, 160 e 163
escalar, 159,291-293,296 e 302 Darcy-Buckingham, equação de, 159, 162, 163,
166,171,172,174,176,181,186,189,197,
vetorial, 159,296-299 e 302
211,232,234,235,238,264,267,269,2 O
Capacidade de infiltração, 209 e 262 e 279
Capilaridade, 27,41, 115 e 136 Deflúvio superficial, 262-264
Cápsula porosa, 144 e 148
332 • Índice Remissivo

subsuperficial, 263, 264 Entalpia, 89, 90-92, 95, 98 e 310


Densidade Entropia, 78-83, 89, 98, 109 e 110
aparente, 50 Equação
de fluxo, 161-164, 170, 172-177, 179, 180, da continuidade, 176, 178, 179, 181, 186, 199,
181,189, 191,193,196-198,211,228, 228 e 279
233-235,237,244,252,253,267 e 269 de Bemoulli, 201,202,203
de fluxo convectivo, 174
de Buckingham, 163
de fluxo de difusão, 174 de Darcy, 159-163 e 208
de fluxo do componente água, 174 e 175 de Darcy-Buchingham, 159, 162, 163, 166,
do solo, 46, 47, 51, 55, 64-66 171,174-176,181,184,186,189,197,
dos sólidos, 44, 45, 52, 64 e 65 211,232,234,235,238,264,267,269,
270 e 279
global, 46
real, 44 de ~an Genuchten, 205 e 259
de Green e Ampt (1911),210
relativa do solo, 50
de Horton (1940), 214 e 215
das pal1Ículas, 44
de Kostiakov (1932),213 e 214
Depressão capilar, 16,27,31-33
Derivada de Laplace, 23, 183, 184, 233 e 234
de Philip (1957), 225 e 227
de uma função, 275
de Poiseuille, 205
vetorial, 289
de Richards, 182, 185,217,242-244
Diferenciais
de Stevin, 202 e 203
exatas, 74
de Torricelli, 203
inexatas, 74
Equações fenomenológicas de Onsager, 159, 171,
totais, 74, 125 e 275
174
Difusividade da solução no solo, 184, 185
Equilíbrio
Dipolo elétrico, 36
solução no solo, 120
Divergência de um campo vetorial, 159,296-299 e
302 dinâmico, 159, 169, 170, 176 e 192
Esfera de ação molecular, 12
Drenagem interna, 242, 245, 264, 267, 269 e 270
Espaço poroso do solo, 41 e 48
Estado,
E
de equilíbrio, 70, 71 e 83
Elemento de volume Estrutura
de solo, 176, 177 da água líquida, 37 e 38
de solução, 177 do gelo, 35, 37-39
Energia, 37, 38, 69, 70, 73, 74, 83, 92, 94, 96-98, do vapor d'água, 35
104, 114, 115, 122, 123, 129, 132, 134, 139,
da água, 35, 38 e 39
140,145,146,153,165,167,200,261 e 307
Evapotranspiração, 67, 155,264,265,269 e 270
cinética, 73, 200, 201 e 304
interna, 73
F
livre de Gibbs, 90, 92, 95, 98 e 104
livre de Helmholtz, 89-92, 94 e 98 Fase, 69, 80-82, 102,103,106,108-110,113,114,
120 e 133
parcial específica, 98,101,103,120 e 122
potencial, 13,42, 73, 200, 304 e 305 padrão, 102-104, 108-110, 114, 117, 119, 120-
124,132,133,138,139,145 e 152
potencial gravitacional, 96, 98, 129,200,201,
303-306
Dinâmica da Agua no Solo • 333

sólidos-solução-ar, 102, 108, 109, 113, 120- Groenevelt - Parlange, potencial de, 104
122 e 129
Fenômenos capilares, 16, 27 e 31 H
Fluido
newtoniano, 166, 204 e 205 Helmholtz, energia livre de, 89-92, 94 e 98
não-newtoniano, 205 Histerese, 186
Fluxo Horton (1940), equação de, 214 e 215

de entropia, 78, 79
densidade de, 161-164, 170, 172-177, 179-181,
1
189,191,193,196-198,211,228,233-235,
Infiltração
235,237,244,252,253,267 e 269
acumulada, 211, 213, 224 e 229
elementar de um vetor, 176, 177,300
capacidade de, 209 e 262
Forças
da água no solo, 209
capilares, 43
horizontal, 216, 217, 223-227 e 239
de adesão, 19 e 20
taxa de, 209, 211, 213, 214, 224, 228 e 229
de adsorção, 42 e 43
veliical descendente, 225
de coesão, 12, 13, 19 e 20
Integração numérica, 57 e 61
deLondon-vanderWaals, 12, 1ge42
Interface, 12, 16,22,23,41,132,134,135,137,
mátricas, 43 e 262
140, 146, 198,209 e 237
moleculares, 12, 13, 19 e 20
Irrigação, 61,155,209,214,245,263,264,
Fórmula de Laplace, 21, 23, 27 e 32 270 e 271
Frasco de Mariotte, 187 e 188
Função J
escalar de posição, 292
Jurin, lei de, 31
vetorial de posição, 296
Funções de estado, 70, 73, 74, 78-80 e 83
K
Funil de placa porosa, 136-138, 140
Kostiakov (1932), equação de, 213, 214
G

Geometria porosa do solo, 166


L
Gibbs, energia livre de, 90, 92, 95, 98 e104 Laplace
Gradiente equação de, 23,183,184,233 e 234
conceito, 159, 161 e 293 fónnula de, 21, 23, 27 e 32
de potencial total da solução, 161, 165, 166, Legendre, transformação de, 83, 85 e 88
171-175,206,232,234,237,244,247,267 Lei
e 269
de Darcy, 160 e 163
de temperatura, 172-174
de Jurin, 31
de um campo escalar, 159 e 291
de Newton da viscosidade, 204 e 205
Grandezas
Ligação de hidrogênio, 27, 29
escalares, 165,279,284,290,292 e 298
Linha de contato, 9
vetoriais, 176,279,284,297 e 298
London - van der Waals, forças de, 12, 19 e 42
Grau de saturação, 51
Grau de saturação efetiva, 52
Green e Ampt (1911), equação de, 210
334 • Índice Remissivo

M drenável, 48
Potenciais
Macroporos, 47 e 154
da solução no solo, 101-104, 109, 110, 115,
Manômetro, 14-16, 131, 135, 140, 143 e 144
120, 122 e 129
de mercúrio, 238, 250 e 270
da água no solo, 101
Mariotte, frasco de, 187, 188
do componente água no solo, 101, 121, 122 e
Massa específica, 44, 66 152
Matriz do solo, 41, 43, 47,108,115 e 175 termodinâmicos, 83, 89,90,94,95,104
Meios Potencial
anisotrópicos, 162 de Groenevelt-Parlange, 104, 106
isotrópicos, 162 de pressão, 108, 110, 113-115, 117, 119, 122,
Membrana semipenneável, 152, 175 123,131,132,144,146,169,201,211,
233 e 237
Mesoporos, 47, 154 e 314
Método de soluto, 122, 151 e 153
do furo de trado, 240 de temperatura, 108-110
do perfil instantâneo, 242, 245, 267 gravitacional, 96, 98, 102-104, 120-124, 129,
130,162,192,201,237,303-306
Microporos, 41, 48,154 e 314
mátrico,43, 108, 115-117, 122, 132, 134, 136,
Movimento da água no solo, 159 e 279 137,139,140,143,146,154,162,189,
196,210,211,242,245,250 e 251
N osmótico, 153
pneumático, 109, 117, 119 e 122
Newton, lei de - da viscosidade, 204 e 205
químico, 69, 78, 94, 96-98,102,104-109,115,
121, 122 e 152
o
total da solução no solo, 103, 104, 121, 133,
267
Onsager
coeficientes fenomenológicos de, 172 total do componente água, 121, 152, 173,175 e
243
equações fenomenológicas de, 159, 171 e 174
Precipitação 209, 261-264, 270 e 271
Osmose, 153
Pressão
absoluta, 14, 15 e 202
p
atmosférica, 13-15,28,29,99, 102, 113, 114,
Perfil de conteúdo de água, 55, 56, 57, 59, 61, 62, 119,132, 133,151,152, 187,202,216e
67,180,210,215,216,223,224,245,246, 238
264 e 266 barométrica, 14, 15 e 31
Permeabilidade intrínseca, 167 de borbulhamento, 134-136, 144 e 238
Permeâmetro, 231, 232, 234 e 235 efetiva, 31 e 32
Philip (1957), equação de, 225, 227 interna, 13, 15, 16,21,23-25,27,28,70, 76,
Poiseuille, equação de, 205 77, 134, 138, 187 e 307
Ponto de contato, 19 manométrica, 14-16 e 25
Poros capilares, 48 osmótica, 152 e 153
Poros idade Processo

de aeração, 48, 50, 52, 53 e 65 irreversível, 70, 72, 78-80, 82, 83,159 e 174
de área, 164 reversível, 70-73, 76, 78-80, 82, 83, 88,91,
92 e 94
do solo, 47, 48,50 e 167
Produção de entropia, 79, 81 e 82
Dinâmica da Agua no Solo • 335

Produto Soma e subtração de vetares, 280


de vetores, 284 Sartividade, 229
escalar, 284-286, 288, 294 e 297 Superficie
vetorial, 284, 286-289 anticlástica, 24
Propriedade côncava, 19,21,24,28,29 e 32
extensiva, 70 e 77 convexa, 19,21,23 e 24
intensiva, 70, 77 e 78 equipotencial, 162, 168, 169 e 293
esférica, 24 e 134
R plana, 13, 19,24,27,28,31,102,103,129,
134 e 137
Raio capilar, 29 sinclástica, 23
Raios principais de curvatura, 21
Referência gravitacional, 96, 102, 103, 123, 124, T
129-131,183,192,252,256,306,315 e 318
Regime estacionário, 176, 189, 192,199,200, Taxa de infiltração, 209, 211, 213, 214, 224, 228 e
202,205,206,208,232,234,237-239 e 279 229
Regra de Simpson, 57, 59-61, 64, 65, 67, 265 e 309 Tensão
Regra do trapézio, 57-60, 63-66 da água, 31, 32 e 238
Reologia, 205 de cizalhamento, 204
Richards, equação de, 182, 185,217,242-244 superficial, 11, 16-18,21,23,25-27,30,32,
78,134, 135 e 140
S Tensiômetro, 117, 143-151,154,156,192,237-
239 e 244
Saldo de água no solo, 263 Termodinânlica,69, 70, 72, 73, 75, 78, 79,82,89,
Saturação 91,98,102, 105,128, 159, 174e275
relativa, 51, 53 e 64 Torricelli, equação de, 203
relativa efetiva, 51, 52, 239, 250 e 259 Trabalho, 69, 73-78, 83, 90-94, 98, 284, 286 e 304
Simpson, regra de, 57, 59-61, 64, 65, 67, 265 e 309 Transformação de Boltzmann, 220
Sistema Transformações de Legendre, 83-85, 88-90, 94 e 98
aberio, 59, 94,101 e 102 Tubos capilares, 27, 31,137 e 205
fechado, 69 e 82
isolado, 69, 79, 80, 102 e 108 v
sólidos-solução-ar, 101
Vácuo, 14-16,33,70,75, 156 e 307
tennodinâmico, 70, 72, 78, 83 e 121
Variação da armazenagem de água, 61, 62 e 263
Solo
Vetor unitário, 166,267,280 e 286
agrícola, 41 Vetores
não saturado, 41, 43, 44,46, 53, 64,65, 111-
soma e subtração de, 280
113,115,119,131,133,138,140,162-165,
172,182,183,189,192,237,238 e 249 Viscosidade de um fluido, 165 e 203
saturado, 41, 43,51,111-114,116,118,119, lei de Newton da , 204 e 205
123,132,146,147,163,164,167,171,
172,182,183,186,192,210,231-235,
237,239,250,253 e 262
Solução no solo, 41, 49, 67,101-104,106-110,
115-117,120,121,131-133,139-141,144,159,
162,168, 171, 174-176,184-187, 192e267
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