Você está na página 1de 24

MARIA EUGENI A

ILUSTRAÇÕES
,,
,
LELÉ. AMENINA LELE

O dia amanhece danado de bonito. A manhã borda com linha


clara os contornos do dia e parece que tudo vai dar certo. O padei-
ro fez o pão, o jornaleiro abre a sua banca, as sombras descansam
sob as árvores, e logo, logo todas as lojas do quarteirão vão mos-
trando a sua cara de ven1 que ten1.
N a escola, a gritaria de sempre. Mochilas trombando em lan-
cheiras, gente copiando o dever do colega com aquela letra de dar
dó. Que a pressa é inimiga da perfeição. Mas perder ponto por uma
bobagem dessa, ah, nem pensar.
Na ponta do pátio alguém grita:
- Gente, gente, faltan1 só dezoito dias. Não vejo a hora!
Só podia ser ela. Quando vai chegando o aniversário de Lelé. que
na verdade tem um non1e até bonito - Letícia-, a escola e a casa dela
parccen1 desabar. A agenda dela é um ai-nos-acuda de tanto rabisco
con1 a contage1n regressiva. Os calendários todos da casa sentem na
pele o passar das horas. Nen1 aqueles que traze1n os números peque-
nininhos feito cagadinhos de mosquito são perdoados.
Lclé movimenta todo mundo por causa da festa que se aproxi-
n1a. Corncça a mandar recado, escreve bilhete, e-mail, carta perfuma-
da para os xodozinhos ... Felizmente ou infeliz1nente, na casa dela, as
contas de telefone são mais vigiadas que vitrine de joalheria!
f;_;~i?t'
~~- . ',f .' A , :.
~ .. ~.: ·i~~ ., . ' ; ; ' ' '

:,;.. . ·:e :/fl:\.: ..
-~~~~~!.:( .< ·.· ' :,~

fá-?}~l?ªi',qu':, chégou .logo depois, caiu na gargalhada. De nervoso.


::f:~o ~~:isod.~:.~spctadô CQlllO O de l\111 porco-espinho, C ele gaguejando: j

~f~i:~· . . ,\!.Ag9-gora o rcmé-di-di-o é remediar!


.. . .·:Ê.pOis 11
t'it·.f~çe{hi?,11~~1 jºlll' a m;1lhcr umas coisas
na cozi~ha e saiu lá
t~,:::-at~.H:'t"!'1ttd?·
;t,,. :·, . . ·, •' 1
p~l~,~ l?~rt~r p.9s
t, ..C -;,, · ' /• C\
fundos, con1 duas sacolas de feira. Saiu à
~\i lj!:g.~'tii-k}}Q.~,,JJQJ1Jb'p(1s, doces, pães, salsichas, refrigerantes, o diabo a
0

:>)J;,tl\ &· t:;, -\ , ·"'" (!r1,· :. .:.. ,... ·· ,


1
i ·

" "··- §~~•;8 i i9~}CJJS?isª ;iniv_ersariávcl. ..


l1~~~~)-~s!ft~1j~~.~\1c}uRn,t.ó_o pessoal dançava un1 roquezinho be-
1

: ' ·lêzilâ W.-:.


ã.·~ .'.t t.·~ç.f.~.~.-1t~~'i º.z.Ínha con1 n1olhos e patês! Ufa!
• .!.. -~•• ;i.. ·0"'.., ··'fi3l<-- ~.. ._ ,. ·, · ',.
. .;~lljê~t~ f~t'.5' hêi?~ ;com o arsenal de guloseimas e com 0
. bi ·~ ·· ,~ !, ·-·- }_~g.iâ~fe~.na s1:1a for1na original.
. -.:,c....,~..,. ·... ~1.'~~1/ j '•( ~-

.xig(Qal\_. foi a festa n1ais engraçada do bair-


:r~- ;-. -~ . iQ.. -~-- :

ro. ,ciciªQ,~ ç_riadora dos pais, que há muito não


~e \ilt;}tté~da improvisação. Ultin1an1ente eles
1j < .l_ '.

~~).i f1z~ndo contas pra lá e pra cá, pisando


"-. ·1- • , ""
~t,, '.t· '" '
1~Pt9·• .dç ·gastos.
13.~{,- ·:~ :':~~-- . . .· ·t
.: ~;,~.~fá delíçia em pratinhos de vidro, qua-
·r;. ·-~--
Ni&t;;lform • eítt\ :- co1n ameixa, bombons variados en1
Jk,t.~-. ,:
IJi,iim •s ·.jdjp.aquele ar festivo, refrigerantes a rodo,
·.· t' .

MOA•· " feJài; np cachorrinho-quente esperto que


ªP.are iJUtP, no· n1eio da ebulição.
1.
ÚLTIMA VEZ. VIU?
À noite, depois que todos se foram, Lelé, n1orta de cansaço,
ouviu o 111aior sennào de sua vida. Sentada, é claro, porque em pé
cansava. O pai, con1 voz baixa e deternunada, con10 ele aprendeu
con1 os psicólogos de un1 progra111a de televisão, falava pelos coto-
velos. Alegava desde a falta de organização, a irresponsabilidade, até
a indelicadeza de não tere111 sido convidados. Logo eles, os pais, tão
en1penhados e con1pro111etidos con1 o ajustan1ento e a felicidade
dos filhos, parará, parará.

~-\ 111Jt\ calada e sonolenta, n1J.is 1norta do que viva. concordav..1


con1 h.1do. fi1zendo n10Yiinentos de cabeça.. :\cho que foi por isso
que no dia seguinte ta111bén1 se queLxava de un1a horrível dor no
pescoço. t.:idinh~.
O p.1po foi 111es1no longo. Nen1 d,1 pr.1 contar aqui. Só sei que
foí un1a história de n1ais ou 111.enos unus du.1s horas. E. resunlindo,
tc!"llU11.lYa J.SSHn:

- i\1inh.1 filhJ. que pJpelào. Cusr~va aY1sar que convidou a n1e-


tade da cid.1de? L.1tinu Ycz~ viu? Que cornportJn1ento execrável
(es,a palil\TJ de aprendeu u1nbén1 naquele progr.1111.1) ..Ano que
\·en1 não \·,li ter nen1 água. ~o n1~1.x11110 unrn pl::: :::,1 ~o pra nós qua-
tr(\ ,c1n cbatnar nen1 padrinho ne111 aYo, rá es,:utando? Agora, vai
dornlir. .. e feliz .:111ivcr,,.1rio.
O , olhos de Lelé . tc10 claros de alegria, ficaran1 e1nbaçados como
fica111 as vidraças no~ dias de chuva. Piscar quase não resolvia. Mas
depois. ao chegar ao seu qua rto, rccobrara111 o antigo brilho.
Eles pousaran1 nos pre"entes en1 cinrn da ca1na. Cada um em-
brulhado en1 papel colorido. laços des111anchados sobre a colcha
no\·a. U1n inundo de 1naravi lhas.
1-la\·ia de tudo. Brincos, ca1nisetas, chinelos, 1neias. Um trevo-
-de-quatro-folha~ dentro de unia agenda con1 capa de vampiro. A
n1aior e1noção! Canetinh as de todos os tipos. Bon1bons, sabonetes,
xa1npus, passadores de cabelo, Cl)s, perfun1es, hidratantes ...
E tlln anel de pedra verde, desse ta1naninho, quase perdido en-
tre os obje tos n1 aiores. "Que111 teria tido a brilhante ideia?", pensa-
va l dé . Não havia cartão ...
O an el piscava dentro da caixinha cor-de-rosa, querendo enfei-
t<H a 111ào da 111enina. Lelé revirou a caixa, o embrulho, na esperança
d~ acha r o no111e da pessoa que lhe deu aquela lindeza. Mas não
havia a 111enor pista.

15
,· .

1@mim ~ ~ ~ ~·~ ~v.íçiados e penetras. E nada.

~ . ~ . al íffln ~ ~ gü_~?~!,
-,.;;-0.:,:... _,1
el~ havia herdado a ten-
dftrntkt~ ~ ~ 1 ] } n Mm~
va,-~t-~·t às coisas de
·f• -}-- . .·
ron1antisn1o:
-
.
~. . .im
inhofd~-ppnto de cruz ...
~OOmn~~íJmmttm.1
~. ~~.·· ...
ue ela ái~v,i1a;viver 1nuito be111 no
......~ ~ fm1i@ (!@ ~ é_noca
-_.' ·:
- êl~~'bondes, hon1ens cava-
t l ~..,,._
..}_: .

~,: .

™~ ~ ~~~ . .' ...., s... io;,~ej se


• 1
falava por ac har

~ 00!1 ~~ runn lhmn gue ,.:;J(;


tafü·'Utnas coisas, e o que
... t ,-
1;;,~~~~ ~ • ~ ca 12or; entender
'j?;.
...
·:"., ~l

~ ~ ::..=A.:l l~ ~ ....,li
tinlia.
L.LLZ.llo.J.11;1 iE!t ·havia gostado de un1
~ .

s grana~}le -q1belo acastanhado,


a1nilm =-~=="""'-' [li) <!Is' • •
n

~ ~ !íítWI~ · • ~ ~ o circo1ff~~- tii1ha ido e111bora há t: - "',;

IDD1 ~ ,...1z1~l:,;·~ ~ ~ (ffiiimm -~


n1eio cor.t idos da cidade. An-
~- .··
©ffim]] • . • • m, ~ • D~ •utra nj}(ória. o ~ ,.: .
que interessa
• • ~ ~ ~ IDIOO ~;ffl-1 ~ ~ '~fl~,·chuvinha de verão,
oomm~ . . lLffin, ~ m n ren1endar corações

. ·~ @iffl) (fuJ~ -1' T "H'I~~· colega da escola não


•~fl.flsl IDil (i'fi1IDE. li . .

t.;
, .,•'

tiçà1nente, ninguém inte-


:J
.•

ffltli"tls · 'ºornt'.I@ ~ 00-, {!q ' ·~títe ' ou era canetinha ou


,;~:.

.-~ • ·dl;~
J . • ,.,.
tL.i
_i-4:. ' /
~i•''
.; f
.• '~1, '
. J,·: ,,.,
1";-• . ....

. ~:~;~r<..
~-· ·'.f, ...

'"Meu Deus. meu Deus, quem adivinhou que eu queria um
anel desses? Nem princesa de como de fadas tem um tão chique
assirn! ,.. pensava Lelé.

Ela colocou no dedo a preciosidade (que serviu co1no un1a


hffa) e foi dormir, pensando nas palavras do pai, até meio arrepen-
dida da besteira que havia feito. Mas logo se distraiu con1 a beleza
do anel. Sob a luz do abajur, ele parecia 1nais bonito ainda.
Sua roupa era bonita ta1nbén1. O vestido que a n1àe deu co1n-
binava con1 o anel.
Afes1110 com os cabelos um pouco desarrumados, da era uma bela.figura.
A1a.s, de repente, o anel estava no nieio da massa de bolo que Pele de .ilsno
fez para o prí11âpe. Que adorou o bolo e quis casar-se com a dona do anel.
Todas as 1110fas líndt1s do reillo vieram experinientar o anel cobirado. Alas
quen1 diz que ele cabia naqueles dedos grossos? Só J1ltat1t1 a coitada d,i
Pele de Asno pa3sar pela proua. Estendendo a sirn mão.fina, o anel eutrou
direiti11lw. Então a _fada tnadri11l1a ...

19
ffl•A\ ii4ii ~ & •in f; ~ Uikiiil'ffl
w@Mllm1 ~ rtlll!!::::ft:'11 1Mi(p4h9t•m ~ • • •
twht,m cnm W•• ~ Dnl •) C!J &GwADe.m •
()Bl.iil@1,Auui4•miilij.tm, [ti)íifO - it, P.ressas. ~
~ ffiib14 rs mm~ Plm tyãii,&W sm tlm!1 • ~
C!!D1 ~ COf"ºtl D ltil lJll!>JGlrüOifd IJffllm f:.H1E ~ •~:.t-s.:

rffim flfflm mim fi,bWn&t,tn t}llllU if&im '11v mm.,... C@ml


115 t4.; &m.~ ~ . . . .,.___.,. . rlhl • - •
íi4& ~~ 111•00 ~ 81 mBJ_ • •
P.ii,hu1111íUut4hM '{Ili@ tt.i@ ~ - titJHl - -
~~ IIH!li] ~ ~ nm (:iiilOii,P~ . -.. . .•. . . . . . . . . . . "--.. . . . .
..,..._~.JJ

rã\ (Jllu~•rm mhm ~ ~o•B,1 ~ [ills -


G; ~ ~ ii4M riffl f:.HIE ~ H,itn DE--~-
[& r!l'1 r.z,, .. ton&rat•~ ~ mbt D1Un11,11, [ffl!> @iiiHHlff!
t!ffiNr tDJ<_,o, IM\ttil 0mi mm Q,N@ Ahtob
r.,,otv,:•rn rn Rhrm tihtia,tn ~ im•lm ~lntifue. ~ ..,. . ,.,. . .,. .,-.
~ u14hmouu ~ ~m• mm• rti>J hhim~ ~
telelffihlt•@ C!liil ~ lfflijpliHru r!1 t@tifilml (ffl)
fll",~§~41111.,ittil? r;pc•ou . oo lk,hiiiiii•mr ihikt&Bc•kf•JJ
--:iri,_;.,@~• ~ ~t11•ti➔,mm&N~rR; oo nl m,Lffim .•. . . -. . ._~=·•
~
.:- .:/•
,;;1 • . . .
'.

--r_.,-. '

r.:
·;.(

~:~r. ;.
.•. \ ,
·.·

.·' . ,!
.• ~

\
'
..

. .
4

-~--A.·Tia- Lila havia dado


..

:,tiren•. d.'a, e ,a ,a\ro' pr·o 1neteu levar


-
.

u111a catniseta branca bordada


no dorningo
COlll fita C

./.:·1 i•·. .'.,1 ' o presente , seguinte. To-


1

.
, ' '
• ·~/!
-:1,' . ,. .~
,_· __
.,i ,../_, '~ --
'--
.i' .:~?"\i.\~d;~Js-colegas escreverarn cartão ou escreveran1 no próprio e1nbru-
.Íj1R6.tpra.adiantar º expediente. Descobrir º galante prest'nteador é
'·;,'>,,~-.\-----' .

,ç .;~'-\)i:g:~1'. se"poderia chan1ar de nüssào ünpossível.


~r,:;r:-·l~t~ 1. • • "' • ,...,

,~Q;~~ seguinte ela cont1nuana as 111,~esngaçoes~ porque nu.tiros


"'.:_\· .. ',~~ '

n1entn~t :i1ão .'estavai11 presentes no recreio. Eles resoh~1~un ficar na


g_uadrift~~Q~tl1dar a aula de Educação Física com o recreio, por causa
do treifiô/ n~ra ,.o- fu.tebol. Menino só pensa e111 catnpeonatojogo disso
ou daguil ;~qu~l? gritaria ... Por qualquer coisa cngrossmn a n:ia do
'.) ... .,:.L_-.âf. J.

Bescoço.íTuiç\ PJ?r ·causa de un1a bola. Fica1n parecendo uns galinhos


garnisés, sui !?:·do~l1tos, vermelhos de tanto correr e xingar :1 mãe
do JUIZ, o r.eqi.ª ;:~e,_ pau do atacante, o frangueiro do goldro.
i-,..i.: ..~{ ._l '-. - .•

Lelé nà~~~ \:~isti~ assitn tão faciln1ente. A curiosidade era sen


fort_e. Ela sénp/e_ sabia d.ar un1 jeitinho para descobrir as coisas. Al-
~•O• as colegas;_f.~'i~\Jam que ela exagerava, mas bt:m qut'. gostariam
~- ser assün atan1bé111.
~'.·-~:J, ·; 1 ....

E foi n f'tc(· .d - ·d·d l


~ra .;~ _: f ~ci i a que Le é, n1al raiou o dia, saiu a Pt'r-
rsoH,nr r.ara ~-:_·P::~1}?lic_o n1asculino sobre o inistt"rioso adnürador do
ane 1 de nedra~vei·d "Q.
•.c.!x~- \ t.;. . uen1 sa l)e lllll grande estudioso da ~aga de
' t::í.

F,ernao D1as--Paês -Le111 ~ e d d E . _


. - ?~i~/)'.; . . e, o <1(<7 or as . . s111cmld,1~. Essa palavra. S<l._\!a!
est,1va fresqu-1!}~~: Í1Q'repertório de Ldé. -
Hr,\>~ ~.
:,t ..
i~:: ·.
A RAINHA DO EGITO OU
DO AGiro, •

Ela foi perguntando e andando con1 aquele seu jeitinho de


urubu n1alandro. O cabdinho do Ceroula, seu colega de lado, nem
se interessa\·a e111 ajudá-la a de,cobrir. Ficava quieto num canto,
olhando pra ela con1 aquele olhar de peixe n1orto. Coisa mais sem-
-sal. Que esquisitice. I\ la, ajudar que é 60111, nada.
- Encào. Ceroula. Yocê não sabe de alguém que tenha compra-
do un1 anel pra n1e dar de presente? Foi o Guilherme?
i\1as a professora fincava os olhos nos dois, exigindo silêncio.
Ceroula desviou os olhos de Lelé e botou a cara na página do ca-
derno. Não sei se estava estudando, porque a folha estava limpinha.
O Ceroula até que era mais ou menos bonito. Mas o Guilher-
me era dez vezes mais. Tinha mais presença. Ria alto, tamborilava
na carteira, quando não sabia responder, falava o que queria. E,
muitas vezes, ouvia o que não queria, mas ria também. Por essas e
outras, era o representante da turma.
O Ceroula usava óculos, tinha cabelo louro, era bem magrinho.
Gostava de morder a ponta do lápis, principalmente na aula de
Geografia. Mania n1ais boba!

25
St'H apehdl) 'inh.1 dcsdl' o prin1eíro ano n d
. .. . .. ' "Juan o a turma foi
L1. t l un1.1 t',curs.10 nuu1·1 f:1zc11ch Na ho l
• • • l C • ra e e entrar na água pra
pe~.lr g1n th.1. todos con1 roupa de banho O se 1 ..
, , . , , . u ca çao samba-
-c111,-..1 L1 te? o 1na1or sucesso: cabia uns quatro nien· d
1nos entro.
Un1.1 l-'t'rüub tnnanho fo1uília. No entanto, ele · nem se perturbava
Cútn o (1pelido. Achava legal ser cha1nado assitn. Era fechado e
n1\.~iü JtP,c-nte. d.1queles que não fedcn1 nen1 cheiran1, sabe?
Estava na hora do recreio. A hora ideal para Lelé. As colegas
disseran1:
- Lclé. va111os brincar de passar anel?
- C 0111 ineu anel novo, ne111 pensar. N en1 que a vaca tussa! Só
se a gente usar u111a bolinha de papel ou coisa parecida.
- Jvlas. Lelé. passar anel con1 anel de verdade é que é emocio-
nante. fica .legal, coisa e tal!
~

- Quern tàz ritna sen1 querer é bobo sem saber, sabia? -


retruca Lelé.
- Credo, menina, como você tá metida! Parecendo a Rainha

do Egito.
~ 1 · h 'doEgi(ô.
- Pois é. Van1os fi1zer de conta que eu sou essa ta z1n aai
• ..J_ .J"'"'
t o anel mas cutcuuv•
llespeito é 60111 e cu gosto. Eu en1 pres O '
A br111t:Jde1ra lOrna annnada. Vinham merunas de outra sala
, ,pc ir .1 t.ur11, louc.1s para part1c1par também. De repente, o anel caa
n.,, 1n:io, dr Lelc Ela sente algo estranho e dá o grito:
( AI )l A PEI >llA VElllJE, que pode ser a~ esmeralda wr-
tildcu 1~ Sohou' Qucbnn1? Minha Santa! Eu quero o meu anel
pelft•tt1nho de ,oh.a' Pelo a111or de-deus, me ajudem!
1e.li \Hll ,1lvon._'>\o, Procura daqui, procura ali, revira a dobra do um.-
to11nc., 1,l ulh 1 o chao, scnta. l~vanta. Lclé aprontou o maior beneito,
,o 1ntt rn,n1p1do pelo snul que anunaava o fim da brincadeira.
N io l'r.t ,o o recreio que acabava. Um sonho cheio de fadas~
pnnl l'' is t prínopcs tcrnunava também. O anel entortado e sem
l pedr.1 toa guJrd.ado no estoJo, assim com o resto das lágrimas que
11 H> puderan1 1na1s cair.
Ah h, e horar dentais faz a gente encher a cara de "l(PS, consola-
, .1,111.1 l 11.l, coda vez que o berreiro ameaçava se piolonpr e vim
de Noé.
un1 thlu\ 10. feito aquele enfrentado pela arca
Mas nada tàz1a a menina se conformar. Sonho desfeito 6 ...._
1 u1n1. E c-01110 un1 passarinho morto ainda reluzindo at pen•.-111t1
ron1 o bico ernbaçado de dor. O conserto do
(~uJse preço de um novo. O pai já balançava a cabep -
anel ia fiar~-~
e\nlo '·ne1n pensar". Melhor deixar pra lá.

,
SUBINDO OS DEGUUC

{) tr:n1po fiu p;u,~ndo e o fim do ano cN91a;


r,1111 1, kri 1c. < rain\;a, eorrrndo alcgret como
d UI\ .ts lit> C\t.l\ .10. Pr;a\as ehe1as. p1poque11oa
No .ino ~-~,untt". tudo novo. Uruíorme, 111124
Pnlh-,,on.~ tJ111hc.·1n ( ·on1C"çar caderno novo aa
qut· 1dt· n1J1s gtl\t.lv.l Usar rstoJo novotamWm
\: t."7 (lUl" clJ v1.1 o .1nd quebrado no velho estoJo.
plJquanllJ qut· elJ fo1 AQUI JAZ , sentia 111111
( or.l\ Jo, n1J\ pnl< urava esquecer, porque lnb I • ~
l dl" ruo l'tUend1a d1~1to e ficava pensando qae
N.10 <onhcn.a v111nh.1 nem parente com eae
Jlgunu .irust~ de novc)-1 ou de cinema que at6 j6
cr.1 se confonnar. c·horar o leite derramado alo
A sua tunna era qua.\C a mesma. Que ti ·
( olc-~as Juntos, novan1cntc, desde o pruneho ano.A:
C~l'ografia era nov.1 na escola. Chamava-se Vm.
fr·rh.uiJ. parece que chupou hmào.A turma pera•
nuva V1rgi1ua, n1as era Advíncula.
Lelé procurou não dar atenção para o cletllhe
co. porque as aparências enganam. Estava pepn Ir
fan.1t1cl por diudos e expl'CSWCS populares.
91

res das OUtta tnarftW Ja a•i:aa ... i 1 f 1 ;,


a•11 5 \_..
u con UDl ~-istw difiseotc OOlluii
+ •ld
... , 1 ..a..
..s
fi u bom dmws A turma rkr a - • +
d prof~T('S ada bon nw, :la,.._
~1 11m11111ar ■
b~nte. e o Cnoub) Mxa..dn ala • p
-- t·

N- 111 n1m c-lc nio volta mas


1\: r u ..
(.l p 1 d e ~rrmJOU um trabalho m 1 • • - 1 •~ rf I L~
t mnsferenaa
1 1, \< mm 'l uc .1 r .1rtr1 r.1 onde ele se senuv;i fui ticando
ljU 1 .101 rod mdo rnnio um.1 borracha. quicando no chio at6
1)c po1, d1\,o. d 1 101 fü:ando 111r10 sem graça, sentindo 6-
llll'ntnn ou do \eu olhar de apro,açào. Ele sen1prc na da.,
:1 "I dd ,. quando Jco11te( 1.1 dt.. ele ahnr a boca ... ou dizer:
Apehdo 111 u, legal e'\~e. A Ldé é mesn10 lclé, dizia ele
nho. qu ,e pJrcl ~1 ntt"~mo.

A '11 dt. . Jub J~or,l t'rJ n1t.. nor. F1cava no terceiro


'-

nh.1 que ~ub1r un1 n1011tt: dt. . dcguus. A turma chegava à sala
t th.io o e or. \ ~"1 pda bor.1. Sem contar o peso da mochila,
d1 n1 1, pt•,3d .
Qu lqut r hora \'OU ( ontar tom quantos d~us se &z uma
pt'rgt 1 uc t' conknr meu\ qmhnhos na balança - rcsmungna
11 pl n f Se eu enugreccr, vou vender a minha ideia.Ma&
todo , 1 ~r o nu1or sucesso~ ,uu produ-
zir u 11 ndc.:o Sou g nul nt~~ croços
Jt n od n11dJde.
_ P,m _ ordc nou \! 1, 1. - Já falei
nu \t:Zt~ p ra subiren1 e111 silêncio.
E is,o n1esn10. Manda quem
pode. obedece quen1 ce111 juízo.
Lelé Jchou rnelhor calar a boca e
d ·1x.1r os seuCi planos para uma hora
e do
nu1S adeq
uJd.1 ·
Foi subindo e pensan
, .
t<11nbé111 no unto de gente autoritaria que
. ,. .
rogresso das c1enoas.
nnpede ou atrasa o p . rando
()u ;;;era, q ue ela andava lendo e nustu
denu1~ .is n1.uchas?
CONFORME O FIGUIUNO

A profo~,ora nova. d Vivi . ~t' l'Sf<.11\·.1va par.1 conquist.ir a turrna,


n1as ?.qudc1s rl..',upa, t:sr u1-.1,. o so rriso duro e o pigarro não estavain
co111binando rr,n1 o di111a dt' k vcz,1 que havia nas outras aulas,
principal1nente 1u d<-3 J\ LHen1.ític1. en1 quL' ,1 Maria Geralda trans-
fonn,n·a t) bicho-papão dos cálculo, e n1 Jdorá\·eis rnonstrinhos.
A ~ ·ia (con1 i 1neqno). de P()rtuguê, e Literatura, continuava
falando alto e pronunciando bcu1 os efrs L' erres. Até Ciências, con1
o Ca1nilo. haYia ficado 1nelhor. Ap render .sc111 1nedo é que é 60111.

Lelé j.í não bagunçava t.n,to. Se ri ~i rnedo da Vivi ou será que


,encia falta do Ceroula? Que foi e111bora scn1 ao 111enos se despedir...
- Que bobagen1! Aquela 1nosca-111ortd. Olho de chocar jacaré!
Qu,1tro-olho - pensava ~I ro Lelé.
- Quatro-olhos - consertava a Maria do Canno. - Concor-
d,1ncia non1inaL n1inha filh a. Que saudade você deve ter do pri-
1neiro ano. quando tudo era 111ais fácil, aquela n1aré 1nansa.
~ e-;sa hora: Lelé. n1orrendo de rajva, punha a língua pra fora,
.1ssit11 ó. e ficava dur inha na carteira, olhando para o quadro. Havia
colegc1s que andava1n tão mudadas. Será que o ten1po faz isso coni
todo inundo?
A Tia Lila , por exemplo, não 1nuda. Entra ano e sai ano tá do
111esn10 jeito. a111ando história de nan1orado, querendo saber quetn
ficou de n1ào dada. se beijou, se não beijou, tnas foi quase.· ·

33
A 1rml deL.at
unplicante e cbll
Carmo
Le16 wú
mente ela nlo
de olhal c:larol.
uma onça ffll?-à
prplhadlduda■
pelos cornda111.
eawml6
OteDJPOlea'II...
doo s e u ~
Gente,pnlit
Como aemp
IOUdimtinho elft
mandou alpna per
Deve aera rdrj1
omentava a 1Nda
pnnapalmente -
cara de pllirlím.
MIIU,.,pa
festa Aquela

quentaoulNIII
todot Pfl
BERNARDO, QUEM DIIUA ...

'\ t .. r--'t ,'\.\. r: , \ ·lu \) ' l,'nfián. l\-:· ,,,~~ t'Hl ,\)i,h\lf ttm,. nus
.J ,· '"' .:1t-.' ,· num:·ir: '- ":·,1..• . .t , ._• \ iu \ ,.> tt . .lo 1.h.· t:n·pe
:. ,· t~·n, r"t;} o nn b1r(~:
Á\_ ' :\) :-..,,"),..,.l \ l\ 1..·lh\:J d .: ,_. · io fl t)n..:io.. b:u,J cl.u-:~ . nun lUH

i-},, \ ,'tt-1'- ' ~t cur lH ,1ritn,,J.1. ,':\:11...-'rinit·nu '"'lClr o


l) ..'. t" t~·n J nu ur nut~l\1lh"l . Cou10 ti1.·,,u bonita n)tn

·, ..·, \, t , ,,• t···u :1 ,?J. \ \.1, n..iu \ ~ui·,,, ..·x.i~-.--r.ir. qth.~ elJ irah.l ,·i-
- · '..._ ,.) • \. -. , (l l lt , - U\.'hHUl.
\ ,k li \ l\ 1 \ U ,, l
• 1.."' '•''H 121 'llt 1 ,ct1v1 1\1
"' ,,, • IVll I hr 1
\ ttulhrt º"'- b, Hill o t' H l , 1 1llolJ t,
sv11qll,', l' 1111•1 · 1
1\~\l\ ''l'lt l I
. . . \ .,, \} 1 \lllll)
llo., l'll\'l 1
l,
' \ pt1l1C'\\P1i:~ llt.'111 l'l l'U\ l I d li 1)
' • • • ,1\ .1 111 g,, tdl I
)''-~I l}H\lq\l\l Hl\lll\\), \_) 11\\ljl \1\1\ l • íl1 lcll,1\
• ' ~11 IP lllC~lllll )111 •
H \ ,,,c111 bt·n, ' ,lgll\C \l' r,
lt,I

'
1h\ t1 l'l"''lll<\ •• t.1111p,11ult.1 t,,, ,1,1\ e \li ins I l 1 1 ·1'· 1·
t " ,, t , .11g,1 tudo e v·1i
ll.'th l'I \~lll'11\ \{'I 1,\ jq,1\•l,1 lhHd? J\ 1111111 \ 1 \ 1 'f 1 . •
, ' ' , ,1 J,t lt1V1.1 rht·g,,do.
l 1.i ll.hl ._li l\_'\\ll.\ \li\ ljllC' \ ,. U111 1 \ . li
• n111,, '('tlth\" 111:_,; dt· o~·c,111
o ...
\ \111 \ l\\l.11 1)\ lll1'\IS p, UH\\\,. llll' k111h,·i 1
1
1
' • , •
l ~I li ,llllVl'l'S,lfJQ,
"'1,t, \t)u_"- U \ll l' n ... 1\ .. l •1"h' lll,,?

< ln,, 1 ug\'ª"'-'l \\U\ po1h,,, pininuvido 11 Bcr-


11\11 k11tcs, l11i

U,\11\u l ,, dt·, ll.ld "-,1\w1n d., h1"trn 1,1 li t ('x,· 11 ,si,) '1 1·17 , J M
' • · • • , l IIU,l. ,IS

l ,HHHtrn, li l\H.' 'ill\J l ,t.,,., tum ~.,lhl.h lcs, l· clnidu p,lr.1 s:ilwr notí-
l 1.t, d.\ hn n,., l' ,u.,, t.uuhcna.
\nu,'- qtH,'1 ·'" nut1u.1" d., lurt11,1 1H1 .,s 111i11h.1, pn111~im?
\~ '\'·'" l.1ltn1 h.u~1nho, <'on 1\1 ,\llt i~ 1,.111H.,; 11tc .

i\\.1, .\'í llHnh.1' t>,t.hi t.H) t'Jllhnl.1 d.h que }'t l' ltru d.1r um tl.'lllpo.
\.unn, h1n1.11 u,n 1d11gn.une. t'th \ll,\111,, re11tn pq.?,.11' o fio d,\ mca-

d.1 No ('111h.lll,11l.Hlle1Ho ,Jc 1,h:i.1s 1.'\1 11:'io 111dhurl'i n.1d.1. Acho até
qut' ,IFWtlt'l\ Ot'l ,l lt'< llh ,l,

i utJu \\ili t·nt1rµ.,1 o 111c11 J'l\'~l'tltl' - dissc. çolol',\lldo a mão


110 bol,u. todo d1..•s.1Jc'1t.1dd. F 111uito "i111pks. Eu tnn1.xe esse pra
, nl t·. p,H\}lll' o qul' eu I<' ,lei tll) .1nu 1u~~.1dn 11.)0 \·.ileu, n:io foi?
<) ,11 wlnnho c1.1 ,:io fi,,._.\ , qu(' 11},l .1g u c 111,,u o tr,\111..: 0. E"pcro que
~thtc. P.n .1lw11' \li,,t\ \ ~. , H"êlll lo ., d.111:1d.1 d., t imidl'z.
'
() l't'11,.uncntc, lk 1 rlt'· .. 1,) , l't \) p1t·sr11tl', dn1 um pinote.
( ',nu bc."tU uo n·c reio cbqueh· di.l ~1n que hrinnw,nu dr pass,1r
Hh'l. Vnt ,<~u olh ..:11 • J
1n.ll"l'}hH>, qu,l'iC u111 11.1c Hl,
•• .. ,
1, e,
•rguntando ao
~eu cor.içao o porquê daquek ar.1bou-sl'-o-que-t•r,\-dore. Viu
tamb~m o ,u1d .1goniz.111tt· no estojo, dt'sm,liado p,lr.1 st.'mprt·. Ou
dormindo cem ,1nos, como n,lqucb .mtig.1 história. At{.• que um.i
\·oz, convidando-a pra d:u1ç1r, \'eio despt.·rt:t- la.
E 11.1 s,1L1 d,ltl(a\·;1111 ,1 prirn:es.1 l.etíri.1 e o príncipt.· Benurdo
(um pouco re~sJbi,Hio, t' \"L'nbde), mas a princcs,1 L'r,1 um riso só.
() "i,lp,Ho 110\'0 lll'tn .lpl'rt.l\',l 111,llS.

O \'t'nto d.1 noüt· sopr-1\",1 ,\ cortm.1 t.'Sn).\,-.ltlte da j.mda com mui-


to jein.\ st'm fazt·r .1qut'b b,1gtm(~l costunwir,1. Aprendeu com ,1 brisa

l
~
\t'r dclr,llHL',
~
COtll() COll\'l'lll ll,lS '~r.u1des OLlSÍÔL'S. • J.í f'll.'llSOU
t St' Lllll'-

br.1-;,e o v,1,0 com tlnrcs do .1p.1r.1dor e que custou uma nota preta?
Ap1\1n'1t.111do .1 mú,ic.1, n fr.1_10!,1 do \'l'nto danr,1va, bordando
monogr.1m.1s IH) ar: L L' D . Enq u,mto isso, .1ssohi,wa baixinho segre-
do, dr~abnKh,1do~:
O anel que tu 111e deste
era vidro e se quebrou.
O a111or que tu I11c tinhas
parece que engrenou ...

Você também pode gostar