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Geopolítica, Geoeconomia e paisagens da infraestrutura do petróleo na região costeira do Sudeste do Brasil View project
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Cláudio Zanotelli
Professor doutor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo
homicídios e a fragmentação/segregação Explicitados os propósitos iniciais gos- *Esse texto é uma versão expandida
urbana. Tentaremos demonstrar por meio taríamos de tecer algumas considerações do trabalho apresentado no VI
dos dados cartografados dos homicídios preliminares quanto aos dados coletados Congresso Brasileiro de Geógrafos
realizado em Goiânia entre os dias
por bairros que há uma inscrição espacial e seu tratamento. Colhidos por bairros os
18 e 23 de julho de 2004
diferenciada do fenômeno. O estudo se dados podem apresentar algum tipo de
baseia em dados colhidos pelos boletins distorção na origem, pois os boletins de
1
A Região Metropolitana de Vitória
de ocorrência da Polícia Militar (PM) no ocorrência sobre os quais eles se baseiam é constituída de 7 municípios (Ca-
ano de 2000 para os municípios de Vitó- riacica, Fundão, Guarapari, Serra,
podem ter sido preenchidos em algumas
Viana, Vila Velha e Vitória),
ria, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana ocasiões de forma errada. A “notificação
nosso estudo se limita aos cinco
(Aglomeração de Vitória1) e nos dados da incompleta” (Cano, 2001) é um dos pro- municípios citados em função dos
população do Censo do IBGE de 2000. blemas enfrentados pela nossa pesquisa. dados disponíveis sobre a violência por
Pretendemos indicar algumas pistas pre- A falta de informações dos órgãos admi- bairro organizados por nós a partir de
liminares que deverão ser confrontadas nistrativos2 é uma das características da informações da Polícia Militar.
mais tarde ao resultado do aprofunda- notificação incompleta que também pode 2
Vale ressaltar, que por apresentar
mento dos estudos. Nas próximas etapas ser observada nos dados do CPOM - Co- problemas nas fontes dos dados,
da pesquisa iremos correlacionar os dados mando de Policiamento Ostensivo Metro- municípios como Cariacica e Viana
da criminalidade grave com os dados só- politano da Polícia Militar, no qual alguns apresentam um considerável número
cio-econômicos, bem como realizar pes- bairros não apresentam informações dos de notificação incompleta. Assim, a
quisas qualitativas em certo conjunto de tipos de criminalidade violenta. Além dis- representação da falta de dados, nesse
so, existe a diferenciação da nomenclatura e nos outros municípios, é feita, em
bairros onde a criminalidade violenta é nossa cartografia, como a classe de
significativa. dos bairros. Ora os habitantes dão uma
determinada apelação e em outras oca- legenda “sem informação”.
Esse é um artigo de etapa no contexto siões as prefeituras e o IBGE (Instituto
da pesquisa citada, portanto constitui um Brasileiro de Geografia e Estatística) ele-
resultado parcial e provisório que levanta gem nomes díspares para os mesmos bair- GEOGRAFARES, nº 5, 2006 • 35
mais questões do que certezas e está sujei- ros. Questões como essas poderiam ser
resolvidas por uma lei de bairros votada área dos bairros no setor censitário. Isso
pela municipalidade e uma harmonização pode levantar várias interrogações meto-
entre o que é estabelecido pelo IBGE e as dológicas e práticas a propósito das taxas
prefeituras. Dois municípios se encontram que serão produto da relação homicídios/
mais ou menos bem organizados a esse população, no entanto toda adaptação de
propósito (Vitória e Serra). Mas mesmo dados pressupõe certas imprecisões. De-
com esse aspecto resolvido os policiais vemos, portanto, levar em consideração
muitas vezes designam uma ocorrência os resultados muito mais pela ordem de
em determinado local que não é compu- grandeza que eles trazem do que pela re-
tado como um bairro, daí a necessidade presentação de uma verdade indiscutível e
de adaptações permanentes. Para tal pro- irrefutável. Nosso propósito foi de bus-
blema elaboramos uma metodologia de car medir o fenômeno mesmo com todas
adaptação das informações colhidas pela as imperfeições possíveis, tentando cor-
PM para os bairros da aglomeração urba- rigi-las com outras fontes e observações,
na de Vitória, estabelecendo uma base co- pois do contrário deixaríamos o campo li-
mum dos bairros entre nossa base digital e vre para toda sorte de fantasmas e delírios
as informações da Polícia Militar. Em fim, sobre os números dos homicídios.
as informações dizem respeito às ocor-
Em efeito, buscar desmistificar os núme-
rências e não ao número de homicídios
ros não significa necessariamente aban-
por ocorrência, se houve mais de um ho-
donar qualquer tentativa de organizá-los,
micídio em uma ocorrência ele somente
pois assim abdicaríamos de uma medida
será computado como uma ocorrência, o
global qualquer do fenômeno no período
que apresenta distorções significativas em
estudado.
relação ao número de homicídios.
O que apresentamos aqui é uma perspec-
Devemos alertar, em tempo, para o fato
tiva, dentre muitas outras, sobre a questão
de que muitos desses homicídios podem
da criminalidade e de sua espacialização.
ocorrer nos bairros, mas serem, em parte
pelo menos, função de homicídios de pes- Chamamos atenção para o fato de que
soas não residentes e cometidos também nosso propósito não é o de contribuir de
por não residentes. Alguns lugares, nota- maneira voluntária ou involuntária, cons-
damente na Serra, sobretudo a rodovia ciente ou inconsciente, explicita ou impli-
que liga Laranjeiras à Jacaraípe e a rodovia citamente, para estigmatizar certo con-
que liga Carapina à Carapebus, e em Vila junto de bairros onde se identificaria uma
Velha na região da Barra do Jucú e Ter- relativa concentração em um determinado
ra Vermelha nos abordos da Rodovia do período de tempo dos homicídios. De fato
Sol, bem como a Estrada do Contorno, nosso objetivo é exatamente o contrário,
são bastante ermos e lugares de desem- pela construção mesma do objeto de pes-
baraço freqüente dos corpos das vítimas quisa e pelas interrogações que surgem ao
dos homicídios de grupos de extermínio longo do trabalho de campo e da analise
ou de assaltos. Nós trabalhamos com os (precariedade dos dados, desorganização
lugares onde ocorreram os homicídios e dos mesmos, filtros diversos aplicados aos
não com o lugar de residência das vítimas números que são colhidos de certa ma-
o que pode contribuir para uma distorção neira e supõem na sua própria construção
dos dados. uma determinada visão do real) estamos
elaborando conhecimento sobre a reali-
Quando iniciamos o tratamento das in-
dade desses números e explicitando-as,
formações sócio-econômicas tivemos que
nos colocando numa espécie de inserção
adaptar os Microdados dos Setores Cen-
contraditória na produção provisória da
sitários urbanos do IBGE aos bairros em
verdade (de certa maneira nos erguendo
questão, o que nos demandou muito tem-
contra nós mesmos e corrigindo as traje-
po principalmente nos municípios onde
Criminalidade violenta e fragmentação
tórias a medida que constatamos os erros
urbana na Grande Vitória
os dados censitários englobavam mais de
e deficiências de nossa démarche inicial).
um bairro (Cariacica, Viana e Vila Velha).
Fomos, assim, obrigados nesses muni- A explicitação dos limites dos dados e da
36 • GEOGRAFARES, nº 5, 2006
cípios a definir uma regra de repartição sua validade relativa já é admitir a neces-
dos dados em função da proporção da sidade de construí-los e organizá-los de
outra maneira (isso foi em parte sanado metrias entre classes sociais e as chances
a partir de 2004 onde a partir de um or- desiguais face ao acúmulo do capital eco-
ganismo da Secretaria de Segurança Pú- nômico e cultural, e, portanto, as maio-
blica, o Centro Integrado de Operacional res disposições, sob certas condições, de
de Defesa Social - CIODES se racionali- se ter uma desigualdade entre a vida e a
zou mais a coleta de dados, mas isso não morte (os que morrem são em geral os jo-
nos impede de colocar questões sobre a vens, negros, que moram em certos con-
própria produção dos dados pela ação da juntos de bairros periféricos3). E, de outro
policia que privilegia certos eventos e cer- lado, as formas de classificação, avaliação
tas regiões mais que outras na sua ação e e percepção do mundo onde os assujeita-
conseqüente preenchimento de boletins), dos reproduzem parcial ou totalmente as
bem como de se apontar para outras aná- formas de classificação e percepção ad-
lises que busquem pesquisas qualitativas quiridas ao longo da convivência social e
sobre o fenômeno. internalizam a imagem que os dominantes
se fazem deles.
Pode se argüir que a imprensa amparan-
do-se do tema e dos dados poderá dar Antes de contribuir para reforçar as vi-
uma outra leitura e outra significação aos sões estigmatizantes e deterministas dos
mesmos, tirando-os do contexto. Tal não homicídios a análise busca dar elementos
é o nosso propósito e esse debate deman- para permitir aos sujeitos a apropriação
daria um outro artigo e outras pesquisas de uma verdade outra que pode contribuir
sobre o papel da imprensa nos medos para questionar as “verdades” dominan-
produzidos coletivamente e difundidos tes. Essas últimas são fundadas sobre uma
sem nenhum controle. percepção cientista e impressionista do Cláudio Zanotelli
Eugenia Célia Raizer
mundo e servem à causa da reprodução
Por fim o texto, como já dito, é mais Pablo Silva Lira
do estado de coisas atual, das classifica- Eldon Gramlich Oliveira
um produto descritivo de uma fase da Ana Maria Leite de Barros
ções sociais e do lugar de cada um no es-
pesquisa que algo conclusivo e analitica-
paço social e geográfico.
mente acabado. Outros artigos e publica-
ções futuras já em preparação darão uma 3
Em 2002 no Espírito Santo os
perspectiva de conjunto permitindo uma homicídios foram a causa de mais da
leitura crítica da pesquisa e da produção metade das mortes dos jovens entre 15
dos dados. Mas ele indica mesmo na sua Os métodos das
e 24 anos. Os jovens negros tinham
fragilidade que os espaços onde há uma taxas brutas e taxas uma taxa de 97 homicídios por cem
concentração dos homicídios não deve- corrigidas mil habitantes e os jovens brancos de
riam relevar da produção do medo ou da 29,5 por cem mil habitantes. Assim,
invocação da repressão, mas antes como Para realizar uma primeira análise dos da- sobre 439 vítimas, 352 eram negras.
desdobramento último de um sistema e dos reportando-os à população construí- Cf. Wailselfisz. Mapa da violência
de lógicas sociais que fazem eclodir em IV. Os jovens do Brasil. Brasília:
mos as taxas brutas e as taxas corrigidas
Unesco, 2004, p.44
certos lugares um processo que tem sua dos homicídios por bairros da Aglomera-
explicação em uma relação estrutural de ção. 4
Não foram levados em consideração,
desigualdades e de dominação, reprodu- por falta de informações da PM e de
Comumente os dados referentes à crimi- denominações explícitas nos setores
zindo as condições materiais, objetivas e
nalidade são analisados através de taxas censitários do IBGE, os aglomera-
subjetivas que os localiza em um lugar do
(obtidas pela razão entre o número anual dos rurais inscritos no que o IBGE
espaço social e geográfico.
de ocorrências do fenômeno e a popula- chama de Extensões Urbanas e que
Os sujeitos são relativamente determi- ção de uma dada unidade geográfica) que fazem parte das zonas de expansão
nados por uma estrutura e por aspectos são expressas tendo como base grupos de urbana dos municípios considerados
subjetivos: o habitus (espaço social de 100.000 ou 1.000 habitantes. São chama- – alguns contando com habitat sub-
disposições adquiridas e interiorizadas integrado, ou “sub-normal” segundo
das de taxas brutas. A população total dos
a designação do IBGE. O trabalho
e exteriorizadas) que os labora; mas esta municípios da Grande Vitória foi obtida
de campo deverá permitir a correção
determinação é relativamente aberta pelas através da somatória de setores censitários desse aspecto com a identificação desses
adaptações e ajustamentos diversos que do IBGE, que contabilizam apenas as áre- espaços.
os sujeitos realizam na prática entre as es- as consideradas urbanas, sobrepostos aos
truturas objetivas e as estruturas interiori- limites de bairros.4
zadas. Ou seja, há resistências diversas que
Quando as populações são pequenas, GEOGRAFARES, nº 5, 2006 • 37
se inscrevem entre de um lado, a estrutu-
como no caso de alguns bairros, um fato
ra de dominação que reproduz as dessi-
bem conhecido é a grande variabilidade termos de taxas brutas (homicídios por
das taxas assim calculadas, bastando que 1.000 habitantes), além do que os lugares
pequenas mudanças no número de ocor- que têm uma pequena população e um
rências (uma ou duas) acarretem grandes número também pequeno de homicídios
alterações no valor da taxa. Assunção et podem ter uma taxa muita elevada pro-
al. (1998) ilustram bem este problema. vocando uma distorção nas análises. Por
Uma pequena mudança no número de isso mesmo foram elaboradas taxas corri-
ocorrências pode ser puramente aleatória, gidas. Há, dessa forma, a possibilidade de
não estando diretamente vinculada à situ- identificar os pólos dos homicídios que se
ação real do espaço geográfico e, assim, sobressaem no conjunto dos bairros dos
a taxa não reflete apropriadamente o fe- municípios.
nômeno que se estuda. Procurando con-
tornar a instabilidade de taxas calculadas
sobre unidades de pequena população, As diferentes fontes dos
encontramos na literatura de Estatística dados dos homicídios
Bayesiana várias propostas de cálculo de
taxas corrigidas. Na estimativa da taxa de No geral os dados para a Aglomeração de
uma dada unidade geográfica, os métodos Vitória seguem a mesma tendência quan-
bayesianos utilizam os dados das unidades do os comparamos com os dados forneci-
vizinhas de modo a reduzir a variabilidade dos para os homicídios por outras fontes,
da taxa bruta. Neste trabalho adotamos como os jornais A Gazeta e A Tribuna
a proposta de Marshall (1991), expressa (Banco de Dados sobre a Violência, Mo-
por: Taxa Corrigida (TC) = peso × taxa vimento Nacional dos Direitos Humanos
bruta + (1-peso) × taxa bruta da Grande – BDV/MNDH6), conforme ilustra a Fi-
Vitória, sendo que o peso é um valor entre gura 1 (nessa figura o município de Viana
0 e 1 e é calculado para cada bairro. Quan- não foi considerado por não haver dados
do a população do bairro for relativamen- disponíveis do MNDH para todo o perí-
te grande, o valor do peso é próximo a 1, odo). Mas a diferença entre uma e outra
de modo que a taxa bruta é pouco afetada fonte é considerável ao longo do período,
pela correção. Ressaltamos que uma taxa atingindo um máximo em 1998, ano em
bruta igual a 0 pode se transformar em que o MNDH registrou um número de
uma taxa corrigida maior do que 0. homicídios superior em 23,8% aos dados
da PM (218 a mais). Em 2001 as duas fon-
As taxas são calculadas como uma
Criminalidade violenta e fragmentação
tes convergiram, sendo que a diferença se
urbana na Grande Vitória
média ponderada entre a taxa bruta
situou em 50 homicídios a mais computa-
do bairro e a taxa bruta de toda a Gran-
dos pelo Banco de Dados do MNDH, ou
5
Um exemplo disso é o caso do de Vitória (GV). Além dos problemas
bairro Novo Horizonte (Serra),
seja, 6,1% a mais que os dados da PM.
especificados anteriormente, é necessário
onde constatamos para alguns anos também assinalar a possibilidade de que A propósito dos dados da Polícia Militar
do período 1993-2001 a duplicação os dados de determinados bairros possam é bom reafirmar, conforme já explicitado,
dos dados de homicídio. Estes foram que são registrados os eventos (ocorrên-
estar sobreestimados ou subestimados nas
multiplicados pelos serviços da PM de
informações da PM5. Em função da pro- cias) em que houve homicídio e em um
maneira involuntária, o que nos remeteu
ximidade de um bairro determinado de mesmo evento podemos ter mais de uma
a necessidade de verificação e correção
das tabelas, gráficos e mapas. uma zona onde se cometem comumen- vítima de homicídio. Além disso, há uma
te muitos homicídios e que acaba tendo subnotificação conhecida nas ocorrências
6
Esse Banco está atualmente sob a da Polícia Militar, pelo fato de que uma
computado nele os dados de homicídios
responsabilidade do NEVI - Núcleo
dessa referida zona. Mas o inverso é tam- ocorrência constatada de lesão corporal
de Estudos da Violência, Seguran-
ça Pública e Direitos Humanos da bém possível, pois bairros podem ter cre- pode posteriormente transformar-se em
UFES - por meio de um convênio ditado a eles, pelo fato de se ter ali um homicídio, de outro lado a PM não possui
estabelecido com o Movimento Nacional número importante de homicídios, even- a incumbência legal do registro criminal,
dos Direitos Humanos. CF. REVIS- tos ocorridos em bairros vizinhos. Assim, o que leva em muitos casos ao registro do
TA CIDADÃ, nº 1, 2004 o fenômeno da migração dos homicídios homicídio diretamente pelo Departamen-
entre bairros próximos faz com que uma to Médico Legal da Polícia Civil, a quem
análise puramente estática do fenômeno cabe centralizar esse tipo de registro.
38 • GEOGRAFARES, nº 5, 2006 não seja a melhor maneira de localizar os Quanto aos jornais noticiam em princípio
eventos. Daí os limites de uma análise em todos os homicídios tornados públicos.
1200 1131
1047
982
1000
893 865
815
621 756
600 646
631
536
400
200
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Ano
Figura 1 – Homicídios em Cariacica, Serra, Vila Velha e Vitória de acordo com a PM (♦) e o BDV/
MNDH (■), 1994-2001
Assim, como não temos os homicídios dade, do nosso mundo, portanto não são
identificados por bairro para os dados do espaços de outro mundo ou espaços exclu-
BDV/MNDH por causa do tipo de in- ídos. A razão dualista deve ser substituída
formação e de deficiências do Banco de pela razão dialética da interpenetração dos
Dados, bem como, por enquanto, os da- contrários e do processo de contradição à
dos do SIM-DATASUS7 não estão ainda obra nas sociedades e nos espaços. A abo-
disponíveis por bairros da Aglomeração lição do outro para um espaço excluído é
de Vitória, nos centramos nos dados PM, uma tentativa de ocultação da realidade da
conforme o que já foi dito. nossa sociedade, vontade de reafirmar a
aquarela brasileira: país “cordial”. Os dis-
cursos jornalísticos na repetição eterna da
Espaço do crime ou violência buscam dar da violência – como
violência social disse Marilena Chauí – uma imagem uni-
ficada, querendo inventar um lugar da
O espaço geográfico é um produto social, violência. De um lado estariam os grupos
como diz Lefèbvre (2000). O conceito de portadores de violência, e de outro lado,
espaço religa o mental e o cultural, o so- os grupos impotentes para combatê-la.
cial e o histórico, reconstituindo um pro- Assim, se distingue o “eles” e o “nós”, os
cessus complexo: descoberta (de espaços “civilizados” e os “bárbaros”.
novos, desconhecidos, os continentes ou Cláudio Zanotelli
o cosmos) – produção (da organização Não se admite a estrutural e profunda vio- Eugenia Célia Raizer
social própria a cada sociedade) – cria- lência que é aquela de classe. Pablo Silva Lira
Eldon Gramlich Oliveira
Ana Maria Leite de Barros
ção (de obras: a paisagem, a cidade com a A sociedade brasileira é marcada pelo pre-
sua monumentalidade e o seu cenário). Isso domínio do espaço privado sobre o espa- 7
Os dados do SIM-DATASUS
evolutivamente, geneticamente (com uma ço público. Há os espaços dos que man- por local de ocorrência da morte e de
gênese), mas segundo uma lógica: a for- dam e os espaços dos que obedecem. Há residência das vítimas por municípios
ma geral da simultaneidade, pois, todo a criminalização dos espaços, a inculcação do Espírito Santo serão explorados
dispositivo espacial repousa sobre a jus- nos dominados de que eles mesmos são “a em pesquisa posterior. O que nos
taposição dentro da inteligência e sobre o violência”. No entanto, não é “o pobre” permitirá uma comparação ao longo
ajuntamento material de elementos donde que é “o violento”, é a estrutura de domi- do tempo e por municípios com os
se produz a simultaneidade. Desse modo, nação e exploração que engendra violên- dados da PM e do Banco de Dados
analisar o espaço do poder é associá-lo ao cia. A sociedade brasileira busca denegar do MNDH/NEVI/UFES.
espaço do saber e, evidentemente, ao es- o conflito de interesses, as diferenças de
paço social. classes e, portanto, vê a contestação, nor-
Os espaços chamados “segregados” na re- mal em democracia, como ameaça à or- GEOGRAFARES, nº 5, 2006 • 39
alidade fazem parte do conjunto, da totali- dem: ordem ou caos! A culpabilidade dos
estratos dominantes entranhados no habitus Homicídios na
(Bordieu, 1994) de classe, de gostos e de Aglomeração de Vitória
distinção social tenta, pela espetacularização
da violência e pela busca de um ethos para-
A Grande Vitória, que para o presente
disíaco perdido, eliminar o conflito e impor
estudo compreende os municípios de Vi-
um maniqueísmo político-social e espacial:
tória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana
classes laboriosas - classes perigosas.
– ver figura 4 - em 2000 totalizava uma
Desse modo faz-se necessário estudar o população de 1,33 milhão de habitantes,
fenômeno da segregação sócio-espacial e 43,2% da população total do estado do
da correlativa criminalidade violenta com Espírito Santo. Somente quatro muni-
prudência e centrado no pressuposto de cípios da Grande Vitória – Vila Velha,
que a violência da frase urbana é estrutu- Cariacica, Serra e Vitória - em 2002 de-
rante da sociedade e que os fragmentos tinham 74% dos homicídios do Espírito
espaciais são religados material e simbo- Santo (conforme o BDV/MNDH).
licamente por diversas redes. Em função
Na Figura 2, a progressão dos homicídios
do que descrevemos, buscamos conhecer
nos quatro municípios citados mostra uma
a realidade dos homicídios e inscrevê-la
evolução com algumas semelhanças, mas
em uma totalidade sem reificar um termo
que não deixam de configurar compor-
do processo como sendo “o processo” e
tamentos e evoluções próprios para cada
demonstrando a totalidade do fato urba-
município. Os municípios da Serra e de
no e seu desdobramento como homicídio:
Vitória encontram-se em situações opos-
os lugares são definidos socialmente e re-
tas. Na Serra ocorreu o maior número de
cebem os homicídios como conseqüência
homicídios em sete dos nove anos estu-
da posição que ocupam na hierarquia ur-
dados, ao passo que em Vitória ocorre o
bana e conseqüentemente social.
menor número desde 1995. Cariacica e
450
250 281
215 227 264 219
202 253 241 214
200 204 220 213
203 203
162 184
150 157 173 171
139
137 150 147
100 132 134
118
50
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Ano
Figura 2 – Evolução dos homicídios em Cariacica (♦), Serra (■), Vila Velha (×) e
Vitória (▲), 1994 a 2002 (BDV/MNDH).
Criminalidade violenta e fragmentação Vila Velha apresentam semelhanças entre as cifras se equiparam às quantidades ele-
urbana na Grande Vitória
1994 e 1999. Ao contrário dos outros três vadas de 1998. Os quatro municípios têm
municípios, que tiveram valores elevados uma alta taxa de homicídios, situando-se
em 1998, Vitória passou por esse fato em entre as principais cidades brasileiras, con-
40 • GEOGRAFARES, nº 5, 2006
1999. Na Serra e em Cariacica, após de- forme o Mapa da Violência III publicado
clínio entre 1998 e 2001, no ano de 2002 a partir de dados do SIM/DATASUS do
Ministério da Saúde. A cidade de Vitória administrativos e uma parte considerá-
sempre se situou nos últimos anos entre vel do comércio superior e as sedes das
as primeiras cidades do Brasil onde houve principais empresas do Espírito Santo, o
mais homicídios proporcionalmente a sua segundo, Serra, por concentrar o principal
população (ocupou o segundo lugar em pólo industrial do estado – o pólo de Tu-
1991 e em 2000). barão. A expansão urbana do município
da Serra e o crescimento de sua população
Os municípios de Vitória e Serra se locali-
foram fenomenais nos últimos 20 anos. O
zam respectivamente no centro-leste e ao
crescimento de Vitória, assim como o de
norte da aglomeração urbana. Municípios
Cariacica e de Vila Velha, foi muito menos
importantes, o primeiro por ser a capital
espetacular que o da Serra (Figura 3).
e concentrar a maior parte dos serviços
400000
350000
300000
250000
População
1980
200000 1991
2000
150000
100000
50000
0
Cariacica Serra V.Velha Vitória
Além de constatar a evolução da popula- dados dos homicídios por bairro na Aglo-
ção nesses municípios - os principais da meração de Vitória.
Região Metropolitana - não se pode inferir
nenhuma particularidade específica para
que as taxas de homicídios sejam maio- Os mapas de Taxas Brutas
res em um município do que nos outros. (TB) e Taxas Corrigidas
Existe, sim, um conjunto de fatores e de (TC) da Grande Vitória
possíveis explicações associadas à situação
sócio-econômica e à situação sócio-espa- Teceremos adiante considerações baseadas
cial de alguns bairros desses municípios, em duas cartas de distribuição dos homi-
bem como a ausência dos serviços básicos cídios nos bairros da Grande Vitória: uma
e equipamentos do Estado. No entanto, carta com as Taxas Brutas (Figura 5) e a
essas explicações são ainda muito genéri- outra com as Taxas Estimadas ou Corrigi-
cas. Desse modo, para melhor entender o das (Figura 6).
homicídio enquanto fato social pretende-
Em Vitória, com 112 homicídios no ano
se mapeá-lo, juntamente com os diversos
de 2000 (dados da Polícia Militar), pode- Cláudio Zanotelli
outros tipos de criminalidade violenta,
mos constatar que os bairros mais popu- Eugenia Célia Raizer
por bairro e colocá-los na perspectiva de Pablo Silva Lira
losos e de habitat predominante das clas-
eventos sócio-espaciais dos lugares da Eldon Gramlich Oliveira
ses dominantes e médias não são aqueles Ana Maria Leite de Barros
aglomeração. Etapa que será tratada em
que têm maior número de homicídios. O
outra fase da pesquisa. Nesse texto ex-
que se percebe é que em alguns bairros
ploraremos de maneira preliminar, apon-
populares se concentra o maior número GEOGRAFARES, nº 5, 2006 • 41
tando algumas possíveis explicações, na
de homicídios. No entanto em uma im-
espera de estudos mais aprofundados, os
portante quantidade de bairros populares Vitória – conforme figura 6 - manifestam
não houve homicídios em 2000. Em efei- uma diminuição das situações acentuadas
to, na metade dos bairros estudados (150 em certos bairros, havendo uma distribui-
sobre 300 bairros), as taxas de homicídios ção mais equilibrada dos homicídios entre
eram inferiores à 0,5 homicídio por mil os bairros, formando verdadeiros conjun-
habitantes e na maior parte deles não hou- tos que vão do leste da ilha em direção
ve homicídios em 2000. A maioria desses do seu centro, mas que continuam sen-
bairros é popular! do barradas ao meio pelo conjunto dos
bairros do entorno de Bairro da Penha e
De fato mais de 2/3 dos bairros da Gran-
São Benedito e pelos morros no entorno
de Vitória (218 bairros) podem ser classi-
do Centro (Forte de São João, Morro do
ficados como bairros populares ou lugar
Moscoso) e, finalmente, por Santo Antô-
de residência das classes dominadas onde
nio e São Pedro no Oeste da ilha. Esses
a renda média dos responsáveis de domi-
pólos se distinguem claramente no con-
cílio é inferior a 3 salários mínimos.
junto dos bairros do município.
Nos bairros das classes dominantes pou-
Conforme o IBGE (2000) a Serra tem
quíssimos ou nenhum homicídio é cons-
uma população (321.181) superior aque-
tatado. Assim, no centro da ilha de Vitó-
la de Vitória (292.304) e uma área bem
ria verifica-se que os bairros Fradinhos
maior do que a desse município, uma boa
(habitat de privilegiados), Santa Cecília,
parte dela é constituída de espaços rurais.
Bairro de Lourdes e Jucutuquara (habitat
A Serra é um município de expansão mais
de camadas médias) não tiveram homicí-
recente e onde ocorreu uma boa parte
dios. Isto é ainda mais flagrante quando se
dos conjuntos habitacionais construídos
olha em direção a uma das áreas de habitat
na Região Metropolitana de Vitória nos
mais rico da ilha de Vitória (Praia do Can-
últimos 25 anos.
to, Barro Vermelho, Santa Lúcia, Enseada
do Suá, Ilha do Boi e Ilha do Frade). O número de homicídios na Serra (253
segundo a PM e 275 segundo o BDV/
Quando analisamos a situação da par-
MNDH) foi bem superior ao de Vitó-
te continental nordeste do município
ria (112 segundo a PM e 134 segundo o
de Vitória, constatamos que os homicí-
BDV/MNDH) em 2000. Constatamos
dios seguem o padrão de uma boa parte
aqui, além da diferença entre os municí-
dos bairros da ilha, inclusive nos bairros
pios, as diferenças já anunciadas entre as
considerados de habitat de classes do-
duas fontes.
minantes como Jardim da Penha, Mata
da Praia e Jardim Camburi que tiveram O bairro Novo Horizonte se destacou
cada um entre um e dois homicídios. É com um número de 17 homicídios, com
evidente que as densidades populacionais 9.907 habitantes. Esse bairro apesar de
desses bairros, que estão entre os mais um número elevado de homicídios – ter-
populosos do município, vão permitir fa- ceiro maior do município – é responsável
zer uma leitura diferente, pois suas taxas pela quinta maior taxa bruta de homicídio
brutas (homicídios por 1.000 habitantes) do município (1,71 por 1.000 habitantes).
– conforme figura 5 - estarão posiciona- Castelândia com apenas 555 habitantes e
das entre as menores da municipalidade. quatro homicídios foi na realidade o bair-
Jardim da Penha, por exemplo, tinha uma ro com maior taxa bruta (7,20 por 1.000
população em 2000 de 25.615 habitantes habitantes). Campinho da Serra teve seis
(8,7% da população de Vitória), portanto homicídios, mas como tem uma popula-
o bairro mais populoso do município con- ção de 2.207 habitantes, a taxa bruta foi
tando com dois homicídios somente. Um bastante elevada e Central Carapina com
fato a destacar no norte do município é o uma população de 5.630 habitantes, teve
caso de Jabour, que com uma população 16 homicídios e uma taxa bruta de 2,84
Criminalidade violenta e fragmentação
urbana na Grande Vitória de apenas 1056 habitantes teve dois ho- homicídios por mil habitantes.
micídios (1,89 por 1.000 habitantes) o que
Bairros como Planalto Serrano (14.498
o colocou entre as quatro maiores taxas
habitantes e 19 homicídios), Vila Nova de
brutas do município.
42 • GEOGRAFARES, nº 5, 2006
Colares (13.925 habitantes e 18 homicí-
As taxas corrigidas para o município de dios) e Feu Rosa (17.827 habitantes e 12
homicídios), têm um número elevado de Dentro dessa perspectiva, tem-se para o
homicídios, no entanto como têm uma ano de 2000, 275 homicídios em Vila Ve-
população importante as taxas brutas são lha, que se concentraram, sobretudo, em
minoradas: 1,31, 1,29 e 0,72, respectiva- alguns pólos de bairros populares. Desta-
mente. cam-se três principais bairros com altos
números de homicídios: Santa Rita (13),
Quando analisamos a carta das taxas
região de Terra Vermelha (37) e Glória
corrigidas (figura 6) por bairro podemos
(11). A região de Terra Vermelha conside-
constatar, como para Vitória, uma maior
rada aqui é composta de 13 bairros com
equiparação entre conjuntos de bairros e
uma população de 31 mil habitantes.
uma minoração nas taxas, mas com pó-
los bem desenhados no entorno de Novo O bairro Santa Rita, ao norte do municí-
Horizonte e do conjunto de Central Ca- pio, iniciou sua ocupação ainda nos anos
rapina, bem como do pólo Vila Nova de 70, com um pequeno adensamento em
Colares - Feu Rosa – Castelândia e do precárias condições habitacionais que se
pólo Planalto Serrano - Campinho da Ser- expandiu. Nos últimos anos este bairro
ra e Serra Sede. passou por um processo de estruturação
urbana, onde houve a substituição de mui-
Os bairros de moradia de classes domi-
tas das habitações precárias por casas de
nantes, como Manguinhos (1.259 habi-
alvenaria, situação que reflete também a
tantes e três homicídios) são mais visíveis
realidade dos bairros vizinhos (como Pri-
nos cálculos da taxa bruta, pois tem uma
meiro de Maio e Ilha da Conceição). San-
pequena população e um número signifi-
ta Rita com o número de 13 homicídios
cativo de homicídios.
e uma população de 4.443 hab. resultou
De fato, bairros como Manguinhos, a em uma taxa bruta de 2,92 homicídios por
zona das praias à exceção de Jacaraípe e 1.000 habitantes (conforme figura 5). O
Nova Almeida não sofrem tanto com o bairro Primeiro de Maio com 3953 hab,
fenômeno dos homicídios, assim como teve 5 homicídios e uma taxa bruta de 1,26
Parque Residencial Laranjeiras com dois homicídios por 1000 hab. Porém observa-
homicídios – bairro de habitat das cama- mos que Ilha da Conceição (3834 hab.),
das médias – e Eurico Salles, Hélio Ferraz um bairro com características infra-estru-
e Bairro de Fátima, próximos de Vitória, turais e populacionais semelhantes à Santa
lugares de habitação das classes médias Rita e Primeiro de Maio, apresenta apenas
que não tem nenhum homicídio ou um 2 homicídios, com uma taxa bruta de 0,52
homicídio no máximo, apesar do fato que homicídios por 1000 hab. Diante desta es-
a população destes três bairros ultrapasse trutura tem-se uma variação nos respecti-
10 mil habitantes. Á exemplo de Vitória, vos valores atribuídos às taxas corrigidas
mais uma vez aqui se confirma a diferen- destes bairros, visto que, para Santa Rita,
ciação dos lugares dos homicídios. Primeiro de Maio e Ilha da Conceição,
O município de Vila Velha possui a maior temos: 2,55; 1,13 e 0,55 homicídios por
população da Região Metropolitana da 1000 hab. Valores que representam uma
Grande Vitória (344.625 habitantes em ponderação das variações ocasionadas na
2000, segundo dados do IBGE). Caracte- taxa bruta.
rizado por antigas áreas de povoamento, Ainda na zona norte do município onde
a partir dos anos 70 teve um considerável ocorreu à ocupação mais antiga, perce-
aumento populacional. Esse rápido cres- be-se no bairro Glória (10364 habitantes)
cimento foi acompanhado pelo apareci- um relevante número de homicídios (11),
mento de ocupações desordenadas com apresenta uma taxa bruta de 1,06 homicí-
ausência de infra-estrutura e serviços ur- dios por 1000 habitantes. Lugar de mo- Cláudio Zanotelli
banos. Algumas destas áreas tiveram sua radia de parcelas das chamadas classes
Eugenia Célia Raizer
Pablo Silva Lira
origem em programas governamentais médias possui um importante pólo co- Eldon Gramlich Oliveira
que não prosperaram, o que propiciou o mercial. Um dos fatores que pode explicar Ana Maria Leite de Barros
Ipanema (3 homicídios), que apresentam onde em função de condições históricas e Eldon Gramlich Oliveira
Ana Maria Leite de Barros
praticamente o mesmo comportamento sociais precisas (lugar de desova, ponto de
em relação ao número de homicídios no tráfico, violência policial e violência políti-
ano de 2000. Dessa maneira, percebe-se ca localizada ou crimes interpessoais, etc.)
GEOGRAFARES, nº 5, 2006 • 45
um “alinhamento espacial” entre Marcílio acontecem os homicídios.
de Noronha, Canaã, Industrial, Universal
Na realidade há uma concentração e uma maneira indireta e pelos comentários de
seletividade em centros conhecidos de testemunhas privilegiadas (presidentes de
bairros populares dos homicídios (como associações de moradores, comerciantes,
por exemplo, Planalto Serrano, Flexal, habitantes antigos dos bairros, policiais)
Terra Vermelha, São Pedro e Vila Betâ- bem como pela imprensa - que cometem
nia). Assim, no período de 1993 a 2003 em os crimes graves cotidianos.
15 bairros ou conjuntos de bairros temos
Esses sujeitos agentes e também as ví-
26% dos homicídios e 21% das tentativas
timas da violência, no entanto, não são
de homicídios ocorridos na aglomeração
“monstros” ou pessoas de outro mundo,
de Vitória. Eles somente representavam
mas homens que se reproduzem e vivem
10,7% da população em 2000 da Grande
ou não nos quarteirões populares. Querer
Vitória!
desumanizá-los faz parte da prática de di-
Mesmo que certas condições socioeconô- fusão do medo e da insegurança tão co-
micas possam ser explicativas e coincidi- locada em evidência por certos homens
rem em certos lugares com os homicídios, políticos e pela imprensa em geral, conhe-
não é o sujeito considerado pobre que é cê-los melhor - assim que suas histórias de
o autor tipo do delito ou a pobreza ou vida e a vida cotidiana dos bairros - nos
o morador do bairro, mas alguns sujei- ajudará a melhor entender as condições de
tos (morando ou não nos bairros) - que produção de parte da criminalidade grave
conhecemos por enquanto somente de e as estruturas que a reproduzem.
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Figura 5
Cláudio Zanotelli
Eugenia Célia Raizer
Pablo Silva Lira
Eldon Gramlich Oliveira
Ana Maria Leite de Barros
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Figura 6
48 • GEOGRAFARES, nº 5, 2006
Bibliografia Resumo
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