PRIVADO Prof. Dr. Marcelo Garcia Santana 11/08/2021 OBJETIVOS DA AULA:
• Compreender as noções iniciais do DIPRI
• Direito intertemporal e Direito Internacional Privado • Direito uniforme, direito internacional privado e direito comparado DIREITO INTERTEMPORAL E DIPRI
Acima das normas jurídicas materiais destinadas à solução dos
conflitos de interesses, sobrepõem-se as regras sobre o campo da aplicação destas normas. São as regras que compõem o chamado sobredireito (normas indicativas, ou indiretas) que determinam qual a norma competente na hipótese de serem potencialmente aplicáveis duas normas diferentes à mesma situação jurídica. DIREITO INTERTEMPORAL E DIPRI
Esta opção entre duas normas pode ocorrer com relação ao
fator tempo ou ao fator espaço (ou sistema). Na primeira hipótese temos a dúvida entre aplicar a lei antiga ou a lei nova e na segunda, entre a lei do foro ou a lei estranha (conflitos interespaciais), ou então uma dentre duas leis em vigor no mesmo espaço, mas emanadas de sistemas jurídicos diversos (conflitos interpessoais). A primeira é regida pelo Direito Transitório, também denominado Direito Intertemporal, e a segunda pelo Direito Internacional Privado. DIREITO INTERTEMPORAL INTERNACIONAL
O Direito Intertemporal Internacional segue, assim, orientação
idêntica ao Direito Intertemporal comum. Assim, o efeito no tempo da modificação de uma regra de direito internacional privado é determinado pelo sistema ao qual referida regra pertence. DIREITO INTERNACIONAL INTERTEMPORAL
O outro fenômeno - conflito espacial de normas temporais
ocorre quando a regra de DIPRI do foro indica a aplicação de determinado direito estrangeiro e neste vamos encontrar uma alteração temporal no direito interno, isto é, uma lei antiga modificada por lei mais recente, vigendo lá regra de Direito Transitório que manda atender à lei nova sobre fato ocorrido na vigência da lei anterior. Como proceder - aceitar o direito estrangeiro como um todo, inclusive sua regra retroativa, ou aplicar o direito estrangeiro material anterior, em respeito à regra do Direito Intertemporal do foro que determina a aplicação da norma vigente à época da ocorrência do fato? DIREITO INTERNACIONAL INTERTEMPORAL
A resposta da Doutrina é de que deverá ser respeitada a regra
de Direito Intertemporal do sistema jurídico declarado competente, ou seja, o Direito Transitório interno do Estado estrangeiro. O Direito Intertemporal é uma questão interna, devendo-se entender que a opção do DIPRI por um determinado sistema jurídico tem efeitos amplos, incluindo-se nela o direito transitório do sistema jurídico indicado.
Assim, o efeito temporal de uma mudança no direito aplicável é
determinado por este direito. DIREITO INTERNACIONAL INTERTEMPORAL
A Doutrina, tanto estrangeirais como a brasileira ressalvam que
a aplicação integral do direito estrangeiro, inclusive suas regras de Direito Intertemporal, sofre restrição sempre que contiver norma que seja chocante à ordem pública do foro, como na hipótese em que não respeita os direitos adquiridos, que, no sistema jurídico brasileiro, são protegidos por regra constitucional, contida no artigo 5°, XXXVI da CF de 1988. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME ESPONTÂNEO
O Direito Internacional Privado trata basicamente das relações
humanas vinculadas a sistemas jurídicos autônomos e divergentes, mas esta disciplina também há de considerar as hipóteses em que os direitos autônomos não divergem, mas, pelo contrário, coincidem em suas regras. Dá-se aí o fenômeno do Direito Uniforme. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME ESPONTÂNEO
O primeiro aspecto a ser analisado é o do Direito Uniforme
espontâneo, que ocorre quando coincidem os direitos primários de dois ou mais ordenamentos, seja natural e casualmente,' seja porque têm a mesma origem, ou porque sofreram influências idênticas, ou, ainda, quando países adotam sistemas jurídicos clássicos total ou parcialmente. o Brasil observou influências das legislações portuguesa, francesa, alemã e italiana na elaboração do seu Código Civil. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME ESPONTÂNEO
Em termos universais prevalece a diversidade dos sistemas
jurídicos, diversidade esta que decorre da disparidade de condições climáticas, étnicas, físicas, geográficas, econômicas, sociais, religiosas e políticas, como explanado por Montesquieu (Espírito das Leis). DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME ESPONTÂNEO
A diversidade de sistemas jurídicos é um fato natural e
necessário. Natural porque a legislação de cada Estado deve constituir o reflexo exato das necessidades especiais de cada povo, de acordo com o estado atual de sua cultura e o nível de sua civilização. E necessário porque a vida do direito positivo depende de seu progresso, de sua evolução, e esta permanente variação contribui para a heterogeneidade das diferentes legislações. Isto significa que sistemas jurídicos com a mesma origem, criados pela mesma fonte, vão se diversificando. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME DIRIGIDO (UNIFORMIZADO)
Resulta de esforço comum de dois ou mais Estados no sentido
de uniformizar certas instituições jurídicas, geralmente por causa de sua natureza internacional. Seria tecnicamente mais apropriado denominar esta categoria Direito Uniformizado, para distingui-la do Direito Uniforme de caráter espontâneo. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME DIRIGIDO (UNIFORMIZADO)
Pacificou-se a doutrina, que reconhece hoje a impraticabilidade
de direcionar em sentido uniforme as instituições de Direito, dependentes em cada país de antecedentes, tradições, influências e necessidades diversas. Este fenômeno, ou se dá espontaneamente, ou não se verifica. Mesmo que possível fosse uniformizar o Direito, os tribunais nacionais de cada país chegariam a interpretações diversas, como, aliás, ocorre com frequência, no plano interno, onde vemos Tribunais de um país interpretar a mesma lei de forma diversa. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO UNIFORME E DIPRI
O Direito Internacional Privado entra em ação quando não há
Direito Uniforme, quando ocorre um conflito entre normas legais de sistemas jurídicos diversos. Cabe, então, ao D.I.P. encontrar a solução. Segundo esta colocação o Direito Uniforme é a antítese do Direito Internacional Privado: onde há Direito Uniforme inexistem conflitos e, portanto, não há que recorrer-se ao direito internacional privado. Este só é acionado quando, não havendo uniformidade, nem uniformização, ocorrem conflitos de leis. Duas ciências, ou dois métodos diferentes. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO COMPARADO
O Direito Comparado é a ciência (ou o método) que estuda por
meio de contraste, dois ou mais sistemas jurídicos, analisando suas normas positivas, suas fontes, sua história e os variados fatores sociais e políticos que os influenciam. Por meio deste estudo comparativo, deparam-se as convergências e as divergências, descobrem-se semelhanças onde se poderia pensar haver conflitos e outras vezes diagnosticam-se diversidades onde se pensava haver uniformidade. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO COMPARADO
Também se recorre ao Direito Comparado para reformar a
legislação, seguindo exemplos de outros sistemas na solução por eles encontrada para determinados problemas jurídicos, reformas estas que resultam no Direito Uniforme espontâneo. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO COMPARADO
Mesmo admitindo o Direito Comparado como ramo autônomo,
há que se advertir que ele não contém um direito positivo, não formula normas jurídicas, que seu objeto se limita a comparar os sistemas jurídicos, seus institutos, suas normas, sua doutrina, sua jurisprudência, sua filosofia, os fenômenos sociais de toda natureza que motivam e inspiram estas manifestações e que eventualmente ocasionarão sua evolução e sua mudança. Em suma, é um domínio científico ou metodológico, não normativo. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIREITO COMPARADO
O Direito Uniforme como o Direito Internacional Uniformizado,
bem assim o Direito Internacional Privado e o D.I.P. Uniformizado dependem de permanente auxílio do Direito Comparado. O jusinternacionalista privado terá necessariamente que ser um comparativista. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
IMPORTÂNCIA DO DIREITO COMPARADO PARA APLICAÇÃO DO
DIREITO ESTRANGEIRO
Não só o legislador interno e o legislador internacional, como
também o Juiz terá, às vezes, de se dedicar ao estudo comparado das legislações, principalmente quando, em cumprimento ao Direito Internacional Privado do foro, tenha de aplicar direito estrangeiro. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIRPI UNIFORMIZADO
Na elaboração do Direito Internacional Privado Uniformizado
recorrem ao comparativismo jurídico todos os órgãos internacionais que trabalham em prol desta uniformização, como a Conferência de Direito Internacional Privado da Haia, e os órgãos especializados das Nações Unidas, principalmente a UNCITRAL - Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional. DIREITO UNIFORME, DIPRI E DIREITO COMPARADO
DIRPI UNIFORMIZADO
Estas entidades preparam minuciosos questionários dirigidos
aos países membros sobre a matéria que se objetiva regular por meio de uma convenção internacional. As respostas indicam as possibilidades de se conseguir concessões suficientes para formular um projeto de convenção aceitável a todos ou a parte considerável dos países participantes. EXERCÍCIO
Com relação ao objeto do Direito Internacional Privado, assinale a opção correta.
a) O Direito Internacional Privado é ramo do direito privado, por tratar de questões
civis como casamento e herança.
b) O principal sujeito do Direito Internacional Privado é o Estado.
c) O Direito Internacional Privado é primordialmente estruturado por normas de
sobredireito, que estabelecem regras de conexão para a escolha de uma entre as leis em conflito.
d) O conceito de ordem pública não possui relevância para o Direito Internacional
Privado. EXERCÍCIO
Em uma determinada relação jurídica com conexão internacional, cuja competência
para apreciação e julgamento é da justiça brasileira, verificou-se, diante das regras internas de DIPRI que a lei a ser aplicada para solução do caso é a estrangeira.
Observando-se o ordenamento jurídico alienígena, o juiz verificou conflito
intertemporal entre leis do país estrangeiro, sendo certo que a lei nova traz previsão de retroatividade, afetado direito adquirido de uma das partes.