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e aqueles elaborados por jornalistas, literatos e cineastas. Peço desculpas aos meus colegas
de mesa e ao público pela ousadia (ou pretensão?) de penetrar em searas alheias, mas
advogo, em minha defesa, que as idéias aqui expostas têm muito mais um caráter de
Por muito tempo a biografia foi vista como o modelo de história tradicional, mais
propensa à apologia do que à análise, mais preocupada com os fatos do que com as grandes
*
Comunicação a ser apresentada na sessão “A abordagem biográfica: meios e fins em diferentes campos de
expressão e saber” do GT “Biografia e memória social” no XXII Encontro Anual da ANPOCS.
Caxambu/MG, outubro de 1998.
**
Professor do Departamento de História do IFCH da UFRGS, doutorando em História Social do Trabalho na
UNICAMP.
2
história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas (...) são na realidade apenas a
expressão mais ou menos clara de lutas entre classes sociais (...)”1. Nesta perspectiva,
disso é que dois dos mais importantes periódicos especializados do país - a “Revista
dedicaram seus números de 1997 ao tema2. Esta transformação implica obviamente uma
revista “Annales”:
salienta que “o objeto da história (...) não são, ou não são mais, as estruturas e os
mecanismos que regulam, fora de qualquer controle subjetivo, as relações sociais, e sim as
1
Segundo o prefácio de F. Engels para a terceira edição alemã de “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. In:
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo, Abril Cultural,
1978. p.p. 327-8.
2
REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA: biografia, biografias. São Paulo, v. 17, n. 33, 1997 e ESTUDOS
HISTÓRICOS: indivíduo, biografia, história. Rio de Janeiro, v. 10, n. 19, 1997.
3
“Histoire et sciences sociales. Un tournant critique? ”. Annales E. S. C. Paris, 2, mars-avril 1988. p. 292.
3
indivíduos”4.
história, não significa simplesmente a retomada de um gênero “velho”, mas está inserido
perceptível em uma passada de olhos pelos títulos dos trabalhos, diz respeito à escolha dos
classes subalternas, pelas pessoas comuns, pela “gente miúda”. Exemplos disto são os
estudos de Carlo Ginzburg sobre o moleiro Menocchio, condenado como herege pela
inquisição no século XVI; o de Eduardo Silva sobre o “tipo de rua” Dom Obá II D’África,
que viveu no Rio de Janeiro nas últimas décadas da escravidão e do Império, e o de Regina
4
CHARTIER, Roger. “A história hoje: dúvidas, desafios, propostas”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.
7, n. 13, 1994. p. 102.
4
Horta Duarte sobre o anarquista mineiro Avelino Fóscolo5. Qual a importância de pesquisas
como estas?
medíocre, destituído de interesse por si mesmo - e justamente por isso representativo - pode
ser pesquisado como se fosse um microcosmo de um estrato social inteiro num determinado
período histórico (...)”6. Na mesma linha, Silva ressalta “o propósito de estudar um homem
5
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. São Paulo, Companhia das Letras, 1987; SILVA, Eduardo. Dom Obá II D’África, o príncipe do
povo: vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor. São Paulo, Companhia das Letras, 1997 e
DUARTE, Regina Horta. A imagem rebelde: a trajetória libertária de Avelino Fóscolo. Campinas,
Pontes/Ed. da UNICAMP, 1991.
6
GINZBURG, C. “O queijo...”, op. cit., p. 27.
7
SILVA, E. “Dom Obá II...”, op. cit., p. 15.
5
busca conhecer sobretudo a vida dos mitos que, mostrados em sua humanidade, com seus
Não estou querendo dizer que indivíduos da elite não possam ser objetos de
Le Goff sobre São Luís10. Da mesma forma, não penso que interesse comercial seja
não por um ranço populista, mas porque estes indivíduos comuns podem permitir outros
positivos ou negativos para os leitores. O historiador gaúcho Aquiles Porto Alegre ilustra
bem esta tendência com a obra “Homens ilustres do Rio Grande do Sul”, publicada
8
LEVI, Giovanni. “Les usages de la biographie”. Annales E. S. C. Paris, 6, nov.-déc. 1989. p.p. 1333-1334.
9
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo, Companhia das
Letras, 1994; CALDEIRA, Jorge. Mauá: empresário do Império. São Paulo, Companhia das Letras, 1995;
YOURCENAR, Marguerite. Memórias de Adriano. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980 e Evita, filme
dirigido por Alan Parker em 1996 (todos os dados sobre os filmes comentados neste texto foram retirados de
Vídeo 1998: o dicionário dos melhores filmes. São Paulo, Nova Cultural, 1998).
10
DUBY, Georges. Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo. Rio de Janeiro, Graal, 1987 e
LE GOFF, Jacques. Saint Louis. Paris, Gallimard, 1996.
6
notáveis” visando “a educação cívica dos nossos jovens patrícios, pondo-lhes diante dos
personagens como vias de acesso para a compreensão de questões e/ou contextos mais
amplos. Assim, por exemplo, Eduardo Silva “(...) procura recuperar aspectos do cotidiano,
livres de cor do Brasil do século XIX, através de um estudo de caso da vida e pensamento
do auto-intitulado Dom Obá II d’África (...)”12. Da mesma forma, Maria Elena Bernardes
revelou que sua motivação para escrever sobre a militante comunista Laura Brandão “(...)
não foi somente por aquilo que ela tinha de excepcional na sua experiência de comunista.
Busquei também a possibilidade de, através de sua trajetória pessoal, entender um pouco a
história do tempo em que viveu (...)”13. No âmbito do jornalismo, tal preocupação também
afirma: “um personagem me seduz quando, além de ter tido uma vida rica, interessante,
permite que, por intermédio de sua trajetória, seja possível recontar um pouco da história
não oficial, da história que não nos contaram nos bancos de escola”14.
11
PORTO ALEGRE, Aquiles. Homens ilustres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, ERUS, s/d. p. 13.
12
SILVA, E. “Dom Obá II...”, op. cit., p. 11. Grifo meu.
13
BERNARDES, Maria Elena. Laura Brandão: a invisibilidade feminina na política. Campinas, CPG em
História da UNICAMP, 1995. (dissertação de mestrado). p. 18. Grifo meu.
14
Apud BENCHIMOL, Jaime (org.). “Narrativa documental e literária nas biografias”. Manguinhos:
história, ciência, saúde. Rio de Janeiro, v. II, n. 2, jul.-out. 1995. p. 100.
7
referências históricas servem mais como uma ambientação para as ações e sensações dos
“Boca do inferno”, centra seu foco nas aventuras de Gregório de Matos, perseguido pelo
tirânico governador da Bahia Antonio de Souza Menezes, o Braço de Prata. Porém, não
idealização dos protagonistas, sendo os eventos históricos explicados sobretudo por seus
desejos e qualidades pessoais. Nestas obras, a ênfase recai sobre a coragem e a abnegação
motivo, há um cuidado muito grande com a ambientação das cenas em termos de figurino,
maior parte das biografias, “(...) de que a vida constitui um todo, um conjunto coerente e
15
MIRANDA, Ana. Boca do inferno. São Paulo, Companhia das Letras, 1989. p. 11.
8
orientado, que pode e deve ser apreendido como expressão unitária de uma ‘intenção’
de vida16. Tal concepção parece ter uma origem bem remota: Duby assinala que é comum
compartilham desta idéia, e buscam, na infância e/ou adolescência dos personagens, uma
espécie de predestinação para suas atividades futuras. Morais, por exemplo, ao tratar da
frente ao negócio. Lá, nas palavras do autor, “(...) se deixava hipnotizar pelo trabalho dos
repórteres, redatores e, sobretudo, pela mágica dos gráficos catando os tipos de metal
para compor, letra por letra, o jornal que ia ser lido por milhares de pessoas. Sua
realização não estava entre as peças de chita e caroá empilhadas no atacadista, mas do
magnata da imprensa.
Da mesma forma, a professora de literatura Nádia Gotlib, em seu belo livro sobre
Clarice Lispector, procura mostrar que, “desde pequena”, a escritora tinha uma imaginação
fantasia e o da, por vezes, triste realidade, sob a forma de histórias inventadas, parece que
16
BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica”. In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína
(orgs.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1996. p. 184.
17
DUBY, G. “Guilherme Marechal...”, op. cit.
9
sempre marcou o trajeto da escritora. E ainda numa pré-história da sua arte, quando nem
Ainda nesta linha, Alan Parker, diretor do filme “Evita” (1996), explicou a
ambição da futura primeira-dama da Argentina Eva Perón pela sua infância pobre, marcada
por humilhações devido à sua condição de bastarda em uma sociedade conservadora e com
pretensões aristocráticas.
“(...) seria a apaixonada, enérgica e dominadora mãe que (...) viria a prepará-lo para uma
Nos casos citados, é nítida a preocupação de construir uma identidade estável para
é, previsível ou, no mínimo, inteligível, à maneira de uma história bem construída (por
oposição à história contada por um idiota) (...)”21. Não quero com estes comentários, o que
aí sim seria “idiotice”, negar a importância dos anos de formação no direcionamento das
trajetórias de vida, mas apenas chamar a atenção para as armadilhas de uma coerência
18
MORAIS, F. “Chatô...”, op. cit., p. 49.
19
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. São Paulo, Ática, 1995. p. 83. Grifo meu.
20
GAY, Peter. Freud: uma vida para o nosso tempo. São Paulo, Companhia das Letras, 1989. p. 28.
21
BOURDIEU, P. “A ilusão...”, op. cit., p. 186.
10
mostrando que todas elas evidenciam um mesmo lado da atriz: a mulher revolucionária que
ousou contestar os padrões morais vigentes em sua época. Tal destino parece delineado
desde a infância. Em uma das obras examinadas, pode-se ler que a personagem “nunca teve
grandes traumas na infância, apesar de seus pais terem se separado quando ainda era
pequena, mas o fato não pareceu influir na sua vida. (...) ela sempre foi de muitas
perguntas e nunca de acomodações, ainda mais na adolescência. (...) sempre foi uma
silêncios nestas narrativas como o afastamento da mãe ainda na infância e o suicídio do pai
das biografias analisadas (...), a vida familiar de Leila Diniz não foi ‘harmônica’,
22
Idem ibidem. p.p. 184-185.
23
A autora refere-se ao livro “Leila Diniz” de Cláudia Cavalcanti. Apud: GOLDENBERG, Mirian. Toda
mulher é meio Leila Diniz. Rio de Janeiro, Record, 1995. p. 45. Grifos meus.
11
compreender o ‘trabalho sobre si’ feito por Leila para encontrar seu lugar no mundo”24.
intimidade, como os diários escritos pela atriz continuamente até sua morte aos 27 anos,
em ordem o vivido”25.
tentativa de resgatar facetas diferenciadas dos personagens e não apenas, como nos
trabalhos tradicionais, sua vida pública e seus feitos notáveis. Assim, emergem nestes
e o cotidiano. Por exemplo, Duby comenta que procurou compreender Guilherme Marechal,
“apanhado nas malhas das obrigações entrelaçadas e não raro contraditórias que
decorriam de seus deveres de pai, senhor, vassalo e súdito (...)”26. Ginzburg, por seu turno,
buscou analisar diversos aspectos da vida de Menocchio: “(...) suas idéias e sentimentos,
fantasias e aspirações. (...) suas atividades econômicas, (...) a vida de seus filhos”27. Na
Laura Brandão, no qual a autora contruiu a personagem: “(...) investigando como viveu suas
percebendo em que medida sua atuação na vida pública influenciou ou alterou sua vida
privada e vice-versa”28.
24
Idem ibidem. p. 101.
25
Idem ibidem. p. 122.
26
DUBY, Georges. A história continua. Rio de Janeiro, Zahar/UFRJ, 1993. p. 139.
27
GINZBURG, C. “O queijo...”, op. cit., 16.
28
BERNARDES, Maria Elena. “Laura Brandão: a invisibilidade feminina na política”. XII Encontro
Regional de História: Cultura-Memória-Poder: Programas e Resumos. Campinas, ANPUH/Núcleo
Regional de São Paulo, 1994. p. 44.
12
outro magnata da imprensa, William Randolph Hearst, avançou no sentido de construir uma
pronunciada pelo protagonista pouco antes de morrer. Para isso, entrevista pessoas a ele
ligadas: um velho amigo, seu tutor econômico e sua segunda mulher, os quais reconstróem
desta narrativa polifônica, no final desvendamos o elemento que confere sentido a toda
trama: Rosebud era o nome do trenó de Kane quando criança, símbolo de uma curta época
de felicidade (a infância, antes de ser separado de seus pais). Como afirmava o próprio
Welles, “talvez Rosebud fosse algo que ele não pôde ter, ou que perdeu, porém não disse
isso a ninguém”29.
Com estes comentários, quero defender a idéia de que os biógrafos não devem se
fixar na busca de uma coerência linear e fechada para a vida de seus personagens, mas que
pessoal ao profissional, e assim por diante, sem tentar reduzir todas os aspectos da biografia
29
Apud OS CLÁSSICOS DO CINEMA 1: Cidadão Kane. Barcelona, Altaya, s/d. p. 13.
30
DE CERTEAU, Michel. The practice of everyday life. Berkeley/Los Angeles/Londres, University of
California Press, 1984. p. xi.
13
espaço da ficção nas biografias históricas. Por muito tempo, e através de diversos
ficção de sua escrita. Hoje, pelo contrário, cada vez mais se fala do papel da invenção no
um rico camponês na França do século XVI, é bastante enfática neste sentido: “o que aqui
ofereço ao leitor é, em parte, uma invenção minha, mas uma invenção construída pela
propício para tal encontro. Caldeira, por exemplo, classifica a biografia como “um híbrido
(...) que exige tanto fontes documentais como interpretação e ficção”32. O jornalista
Alberto Dines, que escreveu as biografias de Stefan Zweig e de Antônio José da Silva, o
“Judeu”, afirma de forma semelhante: “quem se deixa levar pela curiosidade, não deve
temer a invenção (...) a fidelidade aos fatos não é inimiga da criatividade (...). Importante
assinalar que o biógrafo não é um mero colecionador de informações, inéditas ou não, mas
31
DAVIS, Natalie Zemon. O retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. p. 21.
A pesquisa feita pela autora serviu como base do roteiro de Jean-Claude Carrière para o filme “Le Retour
de Martin Guerre”, dirigido por Daniel Vigne.
32
Apud BENCHIMOL, J. (org.). “Narrativa documental...”, op. cit., p. 96.
33
Idem ibidem. p. 101.
14
real, a presença da ficção também é marcante. Neste sentido, Sérgio Rezende, diretor das
(1994), assinala: “todos os filmes são inventados, até os que utilizam figuras históricas.
jornalistas, literatos e cineastas valem-se, inclusive, dos mesmos recursos narrativos para
inicia com a doença e os rituais fúnebres do protagonista para depois narrar suas aventuras
na cavalaria nos séculos XII e XIII. O best-seller “Chatô” também começa com a agonia e
morte do personagem central para só então retornar à sua infância. No romance clássico de
narra sua vida pregressa. Tal estrutura mantem-se em filmes como os já citados “Cidadão
Kane” e “Evita”.
34
Entrevista a Roberto Sadovski. Set. São Paulo, Abril, ed. 134, ano 12, n. 8, agosto 1998, p. 44.
35
AGUIAR, Flávio; MEIHY, José Carlos Sebe Bom e VASCONCELOS, Sandra Guardini T. (orgs.).
Gêneros de fronteira: cruzamentos entre o histórico e o literário. São Paulo, Xamã, 1997.
36
LEVI, G. “Les usages...”, op. cit., 1326.
15
Acredito, embora isto possa soar “démodé”, que historiadores e jornalistas, por
dever de ofício, têm um maior compromisso com o “mundo real”, enquanto que cineastas e
literatos podem contar com uma margem muito mais significativa de invenção.
metodológicas recentes, manteve-se fiel à tradição da crítica (interna e externa) das fontes:
quem produziu determinado documento? em que situação? com quais interesses? Afinal,
“talvez”, “pode-se presumir” etc. Natalie Davis, por exemplo, construiu diversas hipóteses
para explicar a partida do camponês Sanxi Daguerre, pai do personagem principal de seu
livro “O retorno de Martin Guerre”, da região basca francesa para uma aldeia do Condado
37
THOMPSON, E. P. Miseria de la teoria. Barcelona, Grijalbo, 1981. p. 74.
38
DAVIS, N. “O retorno...”, op. cit., p. 24.
16
utilizar-se da imaginação, desde que esta seja explicitada ao leitor enquanto tal e balizada
relevante. Fernando Moraes, por exemplo, realizou uma minuciosa investigação para
sobretudo valeu-se de numerosas entrevistas (184 ao todo!!), embora estas fontes não sejam
citadas ao longo do texto, aparecendo apenas no final do livro. Sua preocupação com os
detalhes é notável e transparece ao longo de toda a obra, o que contribui para compor o
“clima” da época em que viveu o personagem. De acordo com o autor, “quanto mais
minuciosa e detalhista tiver sido a pesquisa, tanto mais fácil será a segunda fase do
morrer.
39
GINZBURG, Carlo. “Provas e possibilidades à margem de ‘Il ritorno de Martin Guerre’, de Natalie
Zemon Davis”. In: A micro-história e outros ensaios. Lisboa, Difel, 1989. p. 183. Grifos meus.
40
Apud BENCHIMOL, J. (org.). “Narrativa documental...”, op. cit., p. 100.
17
Nos romances e filmes, o espaço para liberdades poéticas é ainda maior, o que não
significa ausência de pesquisa histórica, ainda que esta seja menos sistemática e
Gregório de Matos e Augusto dos Anjos42, ao comentar sobre seu processo de criação,
aponta para este descompromisso do romancista em relação às fontes, o que, neste gênero,
não chega a se constituir num problema: “a coleta do material não é nada científica,
porque minhas fontes são tudo o que meus sentidos me informam, desde um raio de luz que
incide num botão de madrepérola até a maneira de um sujeito acender seu cigarro na
personagens reais que nunca se encontraram na realidade, como a Evita e o Che Guevara de
Alan Parker.
abordados neste texto não são mais que um convite ao debate, num campo em que a troca
41
MORAIS, F. “Chatô...”, op. cit., p. 13.
42
MIRANDA, Ana. A última quimera. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
43
Apud BENCHIMOL, J. (org.). “Narrativa documental...”, op. cit., p. 100.
18
interdisciplinar torna-se fundamental. Afinal, não é fácil a tarefa de “contar uma vida”, seja