Você está na página 1de 326

Ibarê Dantas

HISTÓRIA DE SERGIPE:
REPÚBLICA
(1889-2000)

Rio de Janeiro
2004
Copyright by José Ibarê Costa Dantas

Este livro, ou parte dele, nã o pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaçã o
do autor.

Capa de Clá udio Rosa Cruz

CATALOGAÇÃ O NA FONTE
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

Dantas, Ibarê, 1939-

Histó ria de Sergipe: Repú blica (1889-2000)/ José Ibarê Costa Dantas.- Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2004

ISBN 85-282-0126-0
Bibliografia
Histó ria- Repú blica. Sergipe (Estado).
Histó ria, Política, Economia, Cultura
A
Ancelmo de Oliveira,
Antô nio Carlos Santos e
Itamar Freitas de Oliveira,
companheiros solidá rios.

A Beatriz, minha esposa.


A Ibarê Jú nior e Sílvia, meus filhos.
A Rodrigo e Juliana, meus netos.
SUMÁ RIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 7

1 O ESTADO LIBERAL-OLIGÁRQUICO E O DOMÍNIO DOS SENHORES DO AÇÚCAR


(1889-1930) .................................................................................................................................. 11
1.1 Sergipe no início da Repú blica ..................................................................................................... 11
1.2 O Processo Político-Administrativo (1890-1930).................................................................20
1.3. O Processo Econô mico-social....................................................................................................... 43
1.4 Manifestaçõ es Culturais................................................................................................................... 53
1.5 Resumo (1890-1830)........................................................................................................................ 69

2 O ESTADO INTERVENCIONISTA SOB DOMÍNIO MILITAR (1930-1945)...................72


2.1 A Revoluçã o de 1930 e a Reestruturaçã o Política.................................................................72
2.1.1 A Interventoria de Maynard Gomes (1930-1935)........................................................74
2.1.2 O Governo Eronides de Carvalho e a Reaçã o Conservadora (1935-1937).........80
2.2 As Interventorias no Estado Novo (1937-1945)....................................................................83
2.3 O Processo Econô mico-social........................................................................................................ 93
2.4 Manifestaçõ es Culturais................................................................................................................ 100
2.5 Resumo (1930-1945)..................................................................................................................... 111

3 O ESTADO POPULISTA E O DOMÍNIO DOS PECUARISTAS (1946-1964)................114


3.1 O Processo Político-administrativo.......................................................................................... 114
3.1.1 A queda de Vargas e os Governos Provisó rios.............................................................114
3.1.2 O Domínio da Aliança PSD-PR: José R. Leite e Arnaldo R. Garcez (de 1947 a
1955)........................................................................................................................................................ 117
3.1.3 O Domínio da UDN: Leandro Maciel e Luiz Garcia (1955-1962)..........................124
3.1.4 O Domínio da ASD: Seixas Dó ria e a Derrocada do Estado Populista (1962-
1964)........................................................................................................................................................ 134
3.2 O Processo Econô mico-social...................................................................................................... 142
3.3 Manifestaçõ es Culturais................................................................................................................ 152
3.4 Resumo (1946-1964)..................................................................................................................... 164
4 O ESTADO AUTORITÁRIO E A ASCENSÃO DOS EMPRESÁRIOS URBANOS (1964-
1982).............................................................................................................................................. 167
4.1 A Tutela Militar e o Processo Político-administrativo......................................................167
4.1.1 A Reestruturaçã o do Poder. Celso de Carvalho e Lourival Batista (período
1964-1968)........................................................................................................................................... 167
4.1.2 O AI-5 e o Novo Ciclo Repressivo. De Lourival Batista a Paulo Barreto (1969-
1973)........................................................................................................................................................ 176
4.1.3 A Distensã o Insegura. De Paulo Barreto a José Rolemberg Leite (período 1974-
1978)........................................................................................................................................................ 184
4.1.4 A Transiçã o Política. Augusto Franco e Djenal Queiroz (1979-1982)...............190
4.2 O Processo Econô mico-social...................................................................................................... 195
4.3 Manifestaçõ es Culturais................................................................................................................ 206
4.4 Resumo (1964-1982)..................................................................................................................... 219

5 O ESTADO LIBERAL-DEMOCRÁTICO EM CONSTRUÇÃO (1983-2000)...................221


5.1 A Transiçã o Política e a Instauraçã o da Nova Repú blica.................................................221
5.1.1 Do PDS ao PFL: Joã o Alves (1983-1986)........................................................................223
5.1.2 A Exceçã o do PFL: Valadares (1987-1990)...................................................................228
5.1.3 A Continuidade do PFL: Joã o Alves (1991-1994).......................................................236
5.1.4 O Domínio do PSDB: Albano Franco (1995-2000).....................................................242
5.2 O Processo Econô mico-social...................................................................................................... 251
5.3 Manifestaçõ es culturais................................................................................................................. 269
5.4 Resumo (1983-2000)..................................................................................................................... 288

6 CONCLUSÕES............................................................................................................................ 291

ANEXOS.......................................................................................................................................... 297

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................. 317
7

INTRODUÇÃO

Este livro expressa a tentativa de sintetizar a experiência de 110 anos de


Repú blica, procurando mostrar como os sergipanos conviveram politicamente,
trabalharam, produziram, distribuíram suas riquezas, enriqueceram sua cultura e
contribuíram para a construçã o do Estado1 republicano e da sociedade democrá tica.
A histó ria de um Estado da federaçã o encontra sentido pela capacidade que seus
habitantes manifestam de inventar sua trajetó ria. Por mais que sejam condicionados
pelas tendências do sistema econô mico mundial e dependentes do governo central, as
decisõ es políticas, econô mico-sociais e culturais de â mbito nacional sempre sofrem
reinterpretaçõ es no â mbito local, tornando cada caso uma vivência específica. Neste
sentido, em Sergipe, seus habitantes foram adaptando-se aos diversos momentos
institucionais e à s tendências econô micas, assimilando as invençõ es científicas,
construindo seus movimentos sociais, suas artes e plasmando sua identidade. Nã o
obstante sua Histó ria ter sido marcada por vá rios períodos importantes, foi na fase
republicana que ocorreram as maiores transformaçõ es na vida de seu povo. Sua
populaçã o, que passou três séculos para atingir a casa dos 310 mil, em pouco mais de
cem anos de Repú blica, multiplicou-se por cinco. Maior alteraçã o ocorreu na capital,
onde o nú mero de seus moradores duplicou numerosas vezes. O Estado, que era
predominante rural, urbanizou-se, estruturou-se e construiu sua base industrial, um
grande setor de serviços para atender à s demandas cada vez mais amplas de seus
cidadã os que atravessaram diversos regimes políticos, repercutindo nas relaçõ es sociais.
Enquanto isso, os habitantes de Sergipe foram construindo um acervo de produçõ es
diversificadas e valiosas.
Este estudo acompanha esse processo de mudanças variadas e abrangentes,
ocorridas entre 1890 e 2000. Em meio a um processo competitivo, as transformaçõ es, de
â mbito nacional ou especificamente locais, foram se revelando, atingindo o modo de
vida das comunidades do fim do século XIX, convertendo-as numa sociedade complexa.
Algumas pelejas resultaram em frustraçã o de sonhos, mas outras proporcionaram
1
O termo Estado é grafado sempre com inicial maiú scula utilizado no sentido gramsciano de sociedade política
(momento de coerção), envolvendo governo, administraçã o e ó rgã os coercitivos pú blicos, e também na acepção
jurídica institucional de unidade da federaçã o, incluindo populaçã o e territó rio ou no sentido amplo de sociedade
política mais sociedade civil.
8

avanços significativos em suas instituiçõ es. É certo que a magnitude dessas mudanças
seria melhor avaliada se se partisse do período colonial. E, de fato, alguns historiadores
já o fizeram ao tornar pú blicas suas histó rias de Sergipe. Na ú ltima década do século XIX,
surgiram as obras de Felisbelo Freire (1891) e Laudelino de Oliveira Freire (1898), que
ainda hoje servem de referência.2 Posteriormente, Acrísio Torres (1966) e Pires Wynne
(1972) deram sua contribuiçã o e chegaram a datas mais avançadas. Além dessas
sú mulas, apareceram numerosas monografias. Com a atuaçã o do curso de Histó ria,
iniciado na Faculdade Cató lica de Filosofia (1951) e depois incorporado à Universidade
Federal de Sergipe (1968), foi despontando nova geraçã o de historiadores que muito
concorreu para aprimorar os métodos de escrever histó ria. Muitas monografias,
dissertaçõ es e teses foram escritas e vá rias delas chegaram a ser publicadas em livros,
proporcionando renovaçã o à historiografia local. A professora Maria Thétis Nunes vem
tratando da fase colonial e do início da Província (1978-2000), e Ariosvaldo Figueiredo
divulgou alguns volumes sobre a Província e principalmente sobre a Repú blica (1986-
1996). Nas ú ltimas décadas, apareceram alguns compêndios com características
específicas. Os Textos para História de Sergipe (1991), elaborados por professoras da
UFS, sob a coordenaçã o de Diana Maria de Faro Leal Diniz, apresentaram abordagens
temá ticas sobre a histó ria local. Por esse tempo, surgiram também dois livros didá ticos
destinados ao primeiro grau: o de Maria Gorete Santos, Sergipe História/Geografia
(1994) e o de Lenalda Santos e Terezinha Oliva, Para Conhecer a História de Sergipe
(1998).
Esta síntese está fundamentada em variado elenco de informaçõ es. Apesar de
restrita ao período republicano, apresenta certa abrangência na medida em que focaliza
o processo histó rico sob três aspectos: político-administrativo, econô mico-social e
cultural. Dentro desses setores, o campo da cultura é o mais vasto, diversificado e
marcado por controvérsias. Abordá -lo é uma temeridade. Nã o é por acaso que muitos
historiadores evitam enfocá -lo. Diante, porém, de sua grande importâ ncia, considerei
necessá ria apresentar ao menos alguma notícia, uma amostra ligeira da produçã o local.
Para tanto adotei um conceito amplo, vendo cultura como “sistema de significados,
atitudes e valores partilhados e as formas simbó licas (apresentaçõ es, objetos artesanais)

2
O manual de L. C. Silva Lisboa (Chorographia do Estado de Sergipe, Aracaju: Imprensa Oficial, 1897) nã o chegou a
cobrir o período colonial.
9

em que sã o expressos ou encarnados”.3 Neste sentido, ao falar em manifestaçõ es


culturais, estou envolvendo açõ es pú blicas e privadas, instituiçõ es, padrõ es, artefatos,
produtos artísticos e científicos. Dessa forma, as manifestaçõ es culturais sã o ao mesmo
tempo expressõ es e, pelo menos potencialmente, fontes de cultura. Dentro dessa
concepçã o, tento ver como algumas delas foram se realizando na ambiência do seu
tempo, estimuladas pela sociedade política e pela sociedade civil. Procuro também
perceber algum sentido político, visando entender melhor a complexidade do processo
histó rico em Sergipe.
No que se refere à s fontes, esta obra é tributá ria da bibliografia acessível ao
pesquisador comum. Na esfera política, especialmente nos capítulos dois a quatro, servi-
me basicamente das minhas obras, frutos de trinta anos de pesquisas e aná lises dos
acontecimentos do século XX. Sobre economia, encontrei vá rios estudos que me
ajudaram, embora na fase pó s-1930 muito esteja por ser feito. Quanto ao mundo do
trabalho, incluindo os movimentos dos trabalhadores, a carência é maior, especialmente
no período de 1945-64. Na á rea cultural, consultei artigos e ensaios informativos, mas
me pareceu escassa a produçã o sistemá tica. Há algumas obras de valor no terreno da
literatura e do folclore, mas percebi lacunas no que se refere aos estudos sobre poesia,
teatro, mú sica, cinema e artes plá sticas. Diante das dificuldades, empenhei-me em
fornecer informaçõ es elementares baseadas na fragmentada bibliografia disponível,
esperando que motivem os especialistas à elaboraçã o de estudos mais abalizados.
No conjunto, espero ter oferecido uma visã o dos acontecimentos com a
objetividade que as circunstâ ncias me permitiram. É certo que o tratamento dos fatos
recentes, sem a devida depuraçã o operada pelo tempo, sempre deixa o historiador
vulnerá vel. Consciente disso, empenhei-me em distanciar-me das tendências ideoló gicas
em voga, em captar os acontecimentos mais duradouros e utilizar conceitos
reconhecidos. Nesse sentido, segui os mesmos princípios de meus trabalhos anteriores,
compatibilizando a contribuiçã o gramsciana com a vertente weberiana. Adotando a
conhecida conceituaçã o de sociedade civil e sociedade política, dentro da teoria da
hegemonia, usada de forma discreta, no fundo a questã o democrá tica ocupa papel
central, servindo de eixo para perceber o processo contraditó rio de avanços e recuos,
permitindo um balanço final inteligível.
3
Peter Burke. Cultura Popular na Idade Moderna. Sã o Paulo: Companhia de Letras, 1989, p.15.
10

A divisã o do trabalho obedece aos momentos institucionais mais ou menos


consagrados pela historiografia local e nacional. Embora o político sirva de eixo
condutor, ao trabalhar com os aspectos econô mico, social e cultural, pude sentir como
essa segmentaçã o também a eles se aplica com maior ou menor adequaçã o. Apesar de,
em trabalho anterior, haver tratado o período autoritá rio como um conjunto até 1984,
aqui, para facilitar o entendimento, incluí o biênio 1983-1984 dentro do processo
específico de transiçã o. Com a posse dos governos eleitos pelo voto popular e a
retomada da organizaçã o das centrais sindicais, o momento foi se diferenciando da fase
precedente. De qualquer forma, a parte mais difícil de aná lise me pareceu a ú ltima
década do século, pelas controvérsias e paixõ es que as mudanças recentes provocaram,
tornando as posiçõ es do autor, por certo, nem sempre bem compreendidas. Mas o tempo
tenderá a mostrar com mais clareza a consistência ou nã o das interpretaçõ es.
Enquanto elaborava este trabalho, fui favorecido pela interlocuçã o com amigos e
familiares que, em variadas proporçõ es, me incentivaram. Ao fim, Antô nio Carlos Santos,
Itamar Freitas, Josué Modesto dos Passos Subrinho e o mano Francisco José Costa
Dantas tiveram a gentileza de ler a primeira versã o e apresentar sugestõ es valiosas. A
todos expresso minha gratidã o, extensiva à minha filha Sílvia pela sua leitura parcial do
texto e pelas recomendaçõ es inteligentes. Por fim, destaco a contribuiçã o de Beatriz Gó is
Dantas, esposa querida que, em meio a suas leituras atentas, muito concorreu para
evitar maiores impropriedades. Devo ressaltar, no entanto, que todos esses auxílios
inestimá veis nã o me eximem da exclusiva responsabilidade dos equívocos que ainda
persistem, inclusive os decorrentes de minha teimosia.

Aracaju/Se, dezembro/2003.

José Ibarê Costa Dantas


11

1 O ESTADO LIBERAL-OLIGÁRQUICO E O DOMÍNIO DOS SENHORES DO


AÇÚCAR (1889-1930)

1.1 Sergipe no início da República

Quando a Repú blica foi proclamada no Brasil, em 15.11.1889, em meio à


perplexidade dos monarquistas, os republicanos expressaram, com entusiasmo, um
sentimento de confiança nas transformaçõ es que haveriam de acontecer. Além da nova
forma de governo ser portadora do ideá rio de tornar a coisa pú blica acima dos
interesses privados, seus defensores prometiam maior participaçã o popular,
descentralizaçã o administrativa e moralizaçã o das atividades políticas. Em Sergipe, a
pregaçã o dos republicanos também falava em muitas vantagens, entre as quais maior
compatibilidade da Repú blica com a democracia.4 Mas a materializaçã o desses avanços
tenderia a encontrar fortes resistências diante da realidade subjacente.
Em termos de condiçõ es físicas, Sergipe nã o era dos piores, pois dispunha de um
territó rio de 21.994 km2 regado por seis bacias hidrográ ficas bem distribuídas do sul ao
norte do Estado. Havia comprida faixa litorâ nea da Mata Atlâ ntica, de clima sub-ú mido e
solo fértil, onde se destacava o vale do Cotinguiba com grandes plantaçõ es de cana,
entã o bastante valorizadas. Entretanto, mais de 1/3 de suas terras estava situada no
sertã o, de clima semiá rido e solo pouco espesso, dominado por vegetaçã o da caatinga e
sujeito a estios que dificultavam o cultivo da agricultura. Entre essas duas regiõ es
diferenciadas, ficava o agreste com clima e vegetaçã o de transiçã o e solo variá vel, que
permitiam boas condiçõ es para a lavoura.5
Espalhados nesses espaços, de conformidade com o Censo de 1890, moravam
310.926 habitantes (1890),6 dos quais 48% eram considerados mestiços, 30% brancos,
15% pretos e 7% caboclos, trabalhando em sua grande parte no campo envolvidos em
atividades de subsistência e/ou em economia agroexportadora, na qual o açú car era o
produto predominante, condicionando o viver social. Em linhas gerais, podemos dizer
4
Ver O Laranjeirense (1887) e O Republicano (1888-89), Laranjeiras (SE).
5
Josefina Leite Campos. Geografia de Sergipe. Aracaju: L. Regina, 1967; Adelci Figueiredo Santos e José Augusto
Andrade. Geografia de Sergipe. Aracaju: SEC, 1986.
6
Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: Fundaçã o IBGE, 1967, p. 35-36.
12

que a sociedade era dividida entre senhores proprietá rios, habituados a amplo mando, e
trabalhadores despossuídos. É certo que havia uma camada intermediá ria heterogênea e
em crescimento, mas carente de unidade, de autonomia e de açõ es conjugadas.
Está vamos bem longe de uma ordem que assegurasse igualdade de oportunidades aos
cidadã os.
Com a instauraçã o da Repú blica, algumas alteraçõ es no arcabouço institucional
começaram a ser estabelecidas. Em primeiro lugar, o Poder Executivo passava a ser
ocupado pelos pró prios políticos da terra, com a perspectiva de serem eleitos pelo voto
popular. Era uma alteraçã o que inaugurava um ritual bem diferente dos tempos da
Província, quando o imperador indicava os governantes, geralmente gente de fora,
vinculada à burocracia estatal. Ocorre que para implementar o projeto de governo,
correspondente aos discursos da campanha, era preciso respaldo político e quadros com
alguma experiência e traquejo pú blico, elementos de que os novos administradores
tinham carência.
Nã o obstante ter havido movimento republicano significativo em Laranjeiras
(SE), em combinaçã o com Penedo (AL), as pregaçõ es careceram de maior enraizamento
e abrangência. Os clubes republicanos chegaram a ser criados em apenas cinco
municípios (Estâ ncia, Laranjeiras, Itaporanga, Aracaju e Vila Nova) dos 33. 7 As açõ es
proselitistas encontraram fria receptividade entre as principais forças políticas da
Província. O Partido Republicano, fundado em novembro de 1888, contou com a
simpatia de parte do patronato escravocrata, ressentido com a aboliçã o da escravatura,
mas nas eleiçõ es para o Parlamento Nacional em 1889, ainda em tempos da Monarquia,
o candidato daquela recém-criada agremiaçã o nã o obteve sucesso. É verdade que, uma
vez proclamada a Repú blica, as adesõ es proliferaram, mas os neorrepublicanos nã o
revelavam grande identificaçã o com a ideia de tornar a coisa pú blica objeto de bem
comum.
No â mbito econô mico-social, o momento era bastante desfavorá vel e complexo.
Em 13.05.1888 havia ocorrido a aboliçã o da escravatura que jogou no mercado de
trabalho uma grande massa de ex-escravos. Um ano e meio depois, desorientados e
desassistidos, os libertos tentavam a duras penas adequar-se à s novas formas de

7
Felisbelo Freire. História Constitucional da República dos Estados Unidos do Brasil. Brasília: EUnB, 1983 e Baltasar
Gó is. A República em Sergipe (Apontamentos para a histó ria). Aracaju: Tip. do Correio de Sergipe, 1891.
13

ocupaçã o e superar os preconceitos de que eram vítimas. Do outro lado, estavam os


proprietá rios de engenhos e fazendas, tentando reanimar seus centros produtivos, mas
com dificuldades em encontrar mã o de obra assalariada mesmo com baixa qualificaçã o.
Nã o devemos esquecer também dos indivíduos e das famílias de pouca posse que
tinham no seu escravo a base fundamental de sobrevivência. Depois de séculos de
escravidã o, tanto os senhores como os ex-escravos encontravam-se diante do desafio de
assimilar sua identidade de cidadã os, formalmente iguais em direito. Afinal, tanto uns
como outros precisavam compreender que ser livre nã o era viver sem trabalhar,
conforme concepçã o arraigada na cultura escravocrata.
Ao lado desses aspectos socioculturais, havia problemas econô micos decorrentes
da Lei Á urea: a grande queda nas produçõ es agrícolas. A primeira safra de açú car pó s-
aboliçã o rendeu 29% da média anual exportada no período 1871-88.8 Num Estado que
dependia sobretudo das exportaçõ es da produçã o rural, o impacto foi enorme. O
patronato em grande parte endividou-se ou faliu, os comerciantes entraram em
dificuldades, a arrecadaçã o diminuiu, e o governo passou a atrasar o pagamento dos
funcioná rios pú blicos. A precá ria má quina pú blica se deteriorava.9
Associados aos problemas conjunturais, havia toda uma estrutura social perversa
a ser considerada. Por exemplo, as condiçõ es de trabalho em geral eram bastante
penosas. Embora haja notícias de empresas com preocupaçã o social avançada, a
carência de legislaçã o trabalhista deixava as jornadas de serviços ao arbítrio dos
patrõ es, assim como a assistência em acidentes de trabalho e na velhice. Em face desse
quadro, começavam a surgir as sociedades beneficentes, como a Uniã o Operá ria,
custeada pelos pró prios trabalhadores, mas ainda com alcance bastante limitado. Neste
ponto, os funcioná rios pú blicos gozavam de vantagens quando dispunham dos
benefícios do montepio.
Na á rea administrativa, parecia que tudo estava para se fazer, pois eram grandes
as necessidades da atuaçã o do poder pú blico. Aracaju, nã o obstante ser a capital desde
1855, ainda era pequena cidade de 16.336 habitantes segundo o Censo de 1890. Como
centro político-administrativo, ganhava atençã o através das decisõ es de suas
8
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste
açucareiro, Sergipe 1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000. p. 207.
9
Cf. Documento do Gabinete do Conselho de Estado de 02.10.1889, citando correspondência do presidente de Sergipe
de 15.07.1889, referindo-se a sérias dificuldades do tesouro da Província, in Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
cedido gentilmente pela historiadora Maria Thétis Nunes.
14

autoridades e da importâ ncia decorrente do funcionamento das repartiçõ es pú blicas.


Em seu porto, cerca de 200 navios ancoravam anualmente, trazendo passageiros e
grande variedade de mercadorias que abasteciam o comércio. 10 A indú stria estava em
expansã o, contando com uma grande unidade, a Sergipe Industrial, fá brica de tecidos
onde trabalhavam numerosos operá rios.
A vida cultural era acanhada. Mas circulavam vá rios jornais (pelo menos seis),11 e
havia um pequeno teatro, o Sã o José, onde se apresentavam grupos artísticos, sobretudo
de ambulantes, que saíam pela regiã o costeira do país mostrando suas artes. A capital
dispunha também de uma biblioteca pú blica com acervo rico, mas carente de atençã o, e
possuía a maior estrutura educacional do Estado, composta de 22 cadeiras de ensino, 14
do primeiro grau e seis do segundo grau.12
Um dos pontos mais críticos de Aracaju, em 1890, era a precariedade de sua
infraestrutura. Suas ruas nã o dispunham de calçamento, nem de energia elétrica e as
residências nã o contavam com á gua encanada ou esgoto. A populaçã o se abastecia nas
cacimbas, nos tanques naturais ou artificiais, ingerindo o indispensá vel líquido de
qualidade suspeita. Situada na beira do rio Sergipe, suas casas, em grande parte cobertas
de palha de coqueiro, estavam limitadas entre dunas, mangues ou pâ ntanos,
comportando alto potencial de insalubridade. Com as artérias da cidade situadas em
terrenos baixos, o escoamento das á guas se revelava problemá tico. Nos períodos de
chuva formavam-se grandes lagoas em ruas e praças que se tornavam intransitá veis até
para as carroças. Num momento em que “menos de 5% podiam gozar de assistência
médica”, conforme estimou estudioso do tema,13 as péssimas condiçõ es de salubridade
agravavam mais o quadro. Como se nã o bastassem as epidemias que periodicamente
grassavam o Estado, as febres palustres de Aracaju tornavam mais arriscada a vida de
seus habitantes, mesmo porque os pró prios recursos da medicina de entã o eram
bastante precá rios.
No interior, pelos inícios de 1890, as condiçõ es de salubridade em geral eram
bem melhores. Dentro da organizaçã o administrativa de Sergipe composta de 33 sedes

10
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902, Aracaju: Empresa Do “O Estado de Sergipe”, 1902, p. 22-24.
11
Clodomir Souza e Silva. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
12
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe. Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902.
13
Antô nio Samarone de Santana. As Febres do Aracaju (Dos Miasmas aos Micró bios). Dissertaçã o apresentada ao
Nú cleo de Ciências Sociais da UFS, Aracaju, 1997, p. 91.
15

de município, além da capital, apenas nove povoaçõ es gozavam do estatuto de cidades.14


Com base em dados apresentados pelos historiadores, especialmente Laudelino Freire,
Silva Lisboa, entre outros, podemos lembrar alguns traços dessas povoaçõ es.
Laranjeiras, por exemplo, era um dos centros urbanos mais importantes do
Estado. Situada no vale do Cotinguiba, a 23 km da capital, segundo cá lculos da época, era
a cidade mais pró xima de Aracaju. Com 11.350 habitantes, dispunha de uma economia
só lida e receita elevada, decorrente sobretudo da produçã o de seus 38 engenhos15 que
era exportada a partir de seu porto fluvial onde também chegavam diversos produtos
estrangeiros. O setor de serviços era bastante qualificado. Seus profissionais, entre os
quais advogados, professores e médicos, eram famosos e muito procurados.16 No ensino,
depois de Aracaju era o município com maior nú mero de cadeiras (17). Sua vida cultural
rivalizava com o ambiente da capital. Continuava o cultivo da mú sica, do teatro e da
pintura, dentro de uma tradiçã o respeitá vel. O patrimô nio cultural de suas 13 igrejas,17
inclusive uma evangélica, rivalizava com o de Sã o Cristó vã o, o mais rico do Estado.
Centro irradiador das pregaçõ es republicanas e do movimento abolicionista, foi nos seus
salõ es e em suas ruas que se destacaram muitas das lideranças que iriam governar a
Repú blica.18 Mas tinha carência de á gua potá vel. Grande parte de sua populaçã o se
abastecia na Cacimba do Mato, que nã o recebia tratamento.
Sã o Cristó vã o, com 8.993 habitantes, situada à s margens do rio Paramopama,
pequeno afluente do Vaza Barris, tinha clima saudá vel e á guas apreciadas, atraindo
veranistas para temporadas. Como ex-capital da Província, vivia em fase de decadência,
mas em seu município ainda existiam 12 engenhos e continuava com razoá vel
movimento em seu porto. Na educaçã o, oferecia 12 cadeiras de ensino, nú mero somente
superado por Aracaju e Laranjeiras. Dispondo dos monumentos histó ricos mais
imponentes e significativos do Estado, prosseguia com pequena vida cultural,
preservando festas e tradiçõ es.

14
Laudelino de Oliveira Freire, em obra citada, lista 12 cidades, mas inclui Riachuelo e Simã o Dias, que se tornaram
cidades ao longo do ano de 1890, e Porto da Folha, que somente deixou de ser vila em 1896. Cf. Clodomir Silva. Álbum
de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
15
Laudelino de Oliveira Freire. Ob. cit., 1902.
16
Cf. Manoel Curvelo. Uma phase de Laranjeiras, in Almanak Sergipano para o ano de 1899. Aracaju: Tipografia
Comercial, 1899, apud Terezinha Oliva de Souza. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta Fausto
Cardoso). Rio de Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985, p. 54.
17
L. C. Silva Lisboa. Chorographia do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1897.
18
Ver Philadelplo Jô nathas de Oliveira. História de Laranjeiras Católica. Aracaju: Casa Á vila, 1935.
16

Maruim, em 1890, nã o era insalubre como Aracaju ou Laranjeiras, mas também


nã o se constituía numa urbe das mais saudá veis. Situado no vale do Cotinguiba, a 33 km
da capital, era dos centros econô micos mais importantes. Embora fosse um município
pequeno, com apenas 7.851 habitantes, no meio rural havia 14 engenhos e na cidade a
movimentaçã o de seu porto superava a de Laranjeiras. Seus estabelecimentos
industriais e comerciais contribuíam para que sua receita fosse das mais expressivas do
Estado. Com ruas largas, algumas calçadas, havia vá rias casas que mostravam a pujança
de seus proprietá rios. Embora nã o tivesse rede de serviços profissionais igualá vel à de
Laranjeiras, possuía uma vida cultural estimulante, editando seus jornais e promovendo
eventos. Seu Gabinete de Leitura, que era o mais importante de Sergipe, neste momento,
1890, editava o perió dico Hora Literária.19
Cidade bem agradá vel era Estâ ncia, chamada por D. Pedro II de “Jardim de
Sergipe”. Seu clima era saudá vel e suas á guas de boa qualidade. Com 14.555 habitantes,
seu centro urbano localizado à s margens do rio Piauí e cortado pelo Piauitinga, tinha
uma economia das mais expressivas. No campo funcionavam 19 engenhos. Embora seu
comércio e suas indú strias tenham se ressentido bastante com a crise provocada pela
aboliçã o, prosseguia como a praça mais importante da regiã o sul, possibilitando uma
receita relativamente elevada. Sua primeira fá brica de tecidos começava a ser
organizada. Sua elite, em parte originá ria de Portugal, demonstrava gosto refinado,
conforme se verificava pelos seus sobrados bem acabados. No ensino oferecia 11
cadeiras. Centro precursor da imprensa em Sergipe, a publicaçã o continuada de seus
jornais foi estimulando as letras, as artes e a construçã o de uma opiniã o pú blica. Sua Lira
Carlos Gomes vinha de 1877. Em seu ambiente floresceram poetas e escritores, pintores
e mú sicos, tornando sua populaçã o certamente a mais ilustrada do Estado.
Nesse tempo, Lagarto, situada no agreste, era bem modesta. Embora seu
município fosse relativamente grande, nele habitava uma populaçã o de apenas 10.473
pessoas. No â mbito rural, havia seis engenhos, mas sua gente vivia dispersa, dedicada à
pequena lavoura, numa estrutura de propriedade bastante repartida. Nã o obstante seu
comércio fosse pouco desenvolvido em relaçã o a Maruim, Estâ ncia e Laranjeiras, sua
feira já era muito variada. Concorria para isso, além de oferta de cereais e frutas, seu
artesanato, dando margem à tecelagem e muitos artigos de couro. No ensino oferecia
19
Joel Aguiar. Traços da História de Maruim. Aracaju: Unigrá fica, 1987.
17

apenas seis cadeiras, e tinha uma vida cultural acanhada, salvo suas festas em geral bem
animadas.20
Capela, também localizada no agreste, tinha 11.034 habitantes e em seu territó rio
havia o maior nú mero engenhos (66). Seu comércio era ativo, mas sua indú stria era
rudimentar. Oferecia 12 cadeiras na á rea educacional e, embora nã o se tenha notícia de
jornais, havia gabinete de leitura e algum espaço para o teatro e a mú sica.
Propriá , situado à s margens do baixo Sã o Francisco, que fora município com
enorme extensã o territorial, perdeu grande parte de sua á rea com os desmembramentos
que geraram novos municípios. Em 1859, o imperador visitou a vila que já teria casas
boas, sobrados e fá brica de descascar arroz a vapor.21 Em 1890, o Censo registrou
19.267 habitantes. Dessa época nã o há notícias de engenho em suas terras, mas sua
receita era significativa. Sua populaçã o cultivava algodã o, arroz, criava gado, dedicava-se
à pesca, tinha comércio e atividades industriais relativamente pró speros. Embora
oferecesse apenas oito cadeiras no ensino, tinha uma tradiçã o de imprensa local. Em
1890, editava o jornal União Republicana e havia um certo cultivo da vida intelectual.
Itabaiana, situado no agreste, estendia-se também pelo sertã o. Com 28.272
habitantes, era município de grande á rea e o mais populoso. No campo, o itabaianense
dedicava-se à agricultura e à criaçã o. Mas sua sede comportava cerca de 3.000
moradores, a grande parte residindo em casas de taipa, registrando-se, no entanto, 21
sobrados, compondo uma existência rú stica.22 No entanto, sua feira já era bem
frequentada e mantinha um comércio muito ativo sobretudo com Laranjeiras, que lhe
fornecia produtos importados e escoava seu algodã o e cereais. Apresentava vida cultural
modesta, mas havia uma filarmô nica, e as notícias sobre o nú mero de cadeiras é
controvertido.23
Além desses municípios, havia 24 vilas: Aquidabã , Arauá , Boquim, Campos,
Cristina, Cedro, Carmo, Divina Pastora, Espírito Santo, Gararu, Itabaianinha, Itaporanga,
Japaratuba, N. S. das Dores, Pacatuba, Porto da Folha, Riachã o, Rosá rio, Santa Luzia,
Santo Amaro, Sã o Paulo, Siriri, Socorro e Vila Nova. Nos primeiros meses da Repú blica,
20
Sobre Lagarto, além de Laudelino Freire em obra citada, ver L. C. Silva Lisboa. Chorographia do Estado de Sergipe,
Aracaju: Imprensa Oficial, 1897. Vide também Severiano Cardoso in Almanak Sergipano para o ano de 1899. Aracaju:
Tipografia Comercial, 1899.
21
Cf. Carlos Roberto Britto Aragã o. Propriá 200 anos. Notas e fotos do bicentená rio. Aracaju: Soc. Semear, p. 20.
22
Cf. Vladimir Souza Carvalho. A República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000, p. 32-39.
23
Laudelino de Oliveira Freire atribui oito cadeiras, mas Armindo Guaraná registra 18. Ver Vladimir Souza Carvalho. A
República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000, p. 37.
18

algumas delas deixaram de ser vilas, mesmo porque já dispunham de nível de


desenvolvimento semelhante ao de determinadas cidades.24
Os meios de transportes que ligavam as povoaçõ es entre si eram precá rios. Nos
municípios costeiros, os cidadã os dispunham dos barcos. Mas para quem vivia mais
distanciado do litoral ou dos rios navegá veis, a opçã o era o carro de bois ou o lombo dos
cavalos ou dos burros, num momento em que nossos vizinhos, Bahia e Alagoas, já
dispunham de estrada de ferro.25
Na á rea educacional, somente as cidades dispunham de cursos do segundo grau,
mas há indicaçõ es de que a frequência era bastante reduzida.26 Embora houvesse uma
elite letrada, formada sobretudo pelos bacharéis diplomados fora do Estado, o Censo de
1890 registrou que 89% da populaçã o nã o sabiam ler e escrever.
Esse era o legado do Estado Moná rquico. Aos sergipanos, cabia transformá -lo.
Mas a luta política tenderia a ser longa e difícil. Além das resistências internas, havia os
condicionantes externos. Apesar de tudo, em meio aos embates entre forças com
interesses e capacidade de organizaçã o diferenciados, a Histó ria de Sergipe foi sendo
construída.

24
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe. Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902. Lembramos que o
autor incluiu Porto da Folha entre as cidades e nã o entre as vilas, conforme apresentamos. Ver também Clodomir
Souza e Silva. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.
25
No início da Repú blica apenas os Estados de Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Maranhã o, Piauí e Sergipe não eram
cortados por ferrovias. Cf. Douglas Aprato Tenó rio. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. Maceió : HD Livros, 1996, p. 52.
26
Cf. Laudelino de Oliveira Freire. Ob. cit., 1902, p.72. Sobre o comparecimento ver Mensagens de José Calazans.
19

SERGIPE
VEGETAÇÃ O PRIMITIVA
CIDADES EM 1889
20

1.2 O Processo Político-Administrativo (1890-1930)

Se existiam grandes desafios para a sociedade sergipana, nã o eram menores os


que se apresentavam para a sociedade brasileira. O primeiro era a montagem de um
novo sistema político sem a interferência do imperador, que antes intermediava as
contendas partidá rias. Nascida de um movimento que tinha o predomínio dos senhores
do café, a Repú blica foi instaurada com forte presença militar, situaçã o que permaneceu
com os dois primeiros governantes. Ainda no governo de Deodoro da Fonseca foi
convocada a Assembleia Nacional Constituinte que legou ao país a Constituiçã o
promulgada em 1891. Nã o obstante a influência dos positivistas na propaganda
republicana, os parlamentares formularam uma Carta de conteú do liberal, ampliando a
tendência que provinha do Império. A aboliçã o da escravidã o permitiu que a declaraçã o
de direitos fosse ampliada, e a separaçã o da Igreja Cató lica do Estado delimitou melhor a
especificidade da esfera pú blica de natureza laica. Adotou-se o presidencialismo e a livre
escolha dos ministros pelo presidente. Os poderes da Repú blica ficaram divididos em
três: Executivo, Legislativo e Judiciá rio, desaparecendo assim o Moderador, que era
desempenhado pelo imperador. Adotou-se a federaçã o com descentralizaçã o
administrativa, autonomia para os Estados, enquanto o governo central ficaria voltado
sobretudo para garantir a ordem constitucional. Implantou-se o voto universal para os
maiores de 21 anos, excluindo-se mendigos, analfabetos, praças de pré e religiosos
sujeitos a voto de obediência.27
Em Sergipe, o primeiro mês de Repú blica foi governado por juntas provisó rias
efêmeras, quando seus membros passaram a encontrar dificuldades na montagem de
uma estrutura de poder diferenciada da ordem provincial. Com pequena vivência
política, os republicanos estranharam o jogo de pressõ es e contrapressõ es naturais no
exercício do poder e foram se revezando até quando chegou o médico Felisbelo Freire, o
primeiro indicado para governar o Estado, tendo administrado de 13.12.1889 a
17.08.1890. Intelectual versá til e desenvolto como mú sico, estudioso de nossa histó ria e
jornalista dos mais envolvidos nas campanhas abolicionista e republicana, Felisbelo
Freire, ao assumir o Executivo, encontrou as finanças com grande déficit, serviços
pú blicos precá rios e uma sociedade bastante desigual. Procurando minorar esse quadro,
27
Ver Constituição de 1891, artigo 70.
21

o novo governante encomendou estudos visando à canalizaçã o de á gua para Aracaju.


Tentou também melhorar o serviço de navegaçã o com o Rio de Janeiro e chegou a firmar
contrato para construir alguns trechos de linha de ferro.28 Mas a obra nã o foi
implementada. Reorganizou a Biblioteca Pú blica, cujo acervo parecia descuidado, e
anexou-lhe um museu. Nos oito meses que durou sua administraçã o, enfrentou seca,
surtos de varíola e de paludismo e sobretudo a reaçã o dos seus adversá rios diante de
suas medidas, quer fossem democratizantes, quer autoritá rias. A tentativa de implantar
um projeto de educaçã o de conteú do mais popular despertou alguma oposiçã o. Os
descontentamentos aumentaram quando diminuiu consideravelmente a força policial e
reduziu o corpo do funcionalismo com o fim de equilibrar as contas pú blicas. Entretanto,
maiores reaçõ es ocorreram ao tomar medidas moralizantes, anulando concessõ es,
privilégios fiscais e exploraçõ es monopolistas que beneficiavam empresá rios. A
imprensa desenvolveu contra seu governo campanha vigorosa. Como se isso nã o
bastasse, o fato de haver autorizado a deportaçã o de supostos criminosos contribuiu
para ampliar seu desgaste. Sem grande respaldo junto ao governo central, ao nã o incluir
na chapa para senador o coronel Rosa Jú nior, um político prestigiado por Deodoro da
Fonseca, foi demitido, interrompendo-se assim a primeira administraçã o inovadora do
regime republicano. Situaçã o semelhante ocorreu pouco depois com o coronel Mendes
de Morais que, ao nã o atender ao pedido do marechal presidente para interferir no
pleito para eleger o republicano Vicente Ribeiro, terminou renunciando.
Nã o obstante a Constituiçã o de 1891 haver prescrito a autonomia administrativa
dos Estados, as interferências do presidente da Repú blica foram se revelando
frequentes, contribuindo para aumentar as dificuldades de normalizaçã o da política
estadual. As açõ es de Deodoro da Fonseca na política interna, o golpe fechando o
Congresso em 3.11.1891 e sua renú ncia vinte dias depois, eram atos que provocavam
ascensõ es e quedas, tumultuando o quadro nacional e local. Sendo uma experiência nova
a construçã o de governos locais com a participaçã o dos quadros políticos da terra, o
processo de aprendizagem demandava tempo. Mesmo porque os republicanos nã o
dispunham de muitos nomes e os ex-monarquistas, que aderiram à Repú blica,
continuaram com maior prestígio eleitoral.

28
Sobre a administraçã o de Felisbelo Freire ver Bonifá cio Fortes. Felisbelo Freire, o homem pú blico, o escritor e o
constitucionalista in Revista da Faculdade de Direito de Sergipe, Ano VI, n. 5, Aracaju: 1958.
22

Apó s a mudança da forma de governo, boa parte dos ex-monarquistas aderiu à


Repú blica e, no início, eram chamados de adesistas. No pleito de 1891, políticos que
haviam apoiado a Monarquia concorreram distribuídos em dois partidos políticos: o
Nacional e o Cató lico, que logo depois se fundiram. Do outro lado, apareceu o Democrata,
como ó rgã o dos republicanos. Mas estes foram encontrando dificuldades em se
afirmarem através das eleiçõ es, cedo começaram a brigar entre si, dividiram-se e no
primeiro pleito para a Constituinte foram derrotados. Inconformados e sem muitas
convicçõ es democrá ticas, os republicanos tentaram evitar pela força a ascensã o dos
políticos mais antigos, resultando em mais um período de instabilidade institucional.
Enquanto as juntas e os governos provisó rios se sucediam até meados de 1892, Sergipe
vivera sob a vigência de três constituiçõ es. Depois da primeira, considerada provisó ria,
os 24 deputados da Assembleia elaboraram outra Carta que foi atropelada pelas
divergências grupais. Somente o terceiro documento, promulgado em maio de 1892,
teria vida mais duradoura, mesmo assim passou por numerosas emendas ao longo do
tempo.29
A situaçã o parecia normalizar-se com a posse do capitã o do corpo de engenheiros
José Calazans, bacharel em matemá tica, ciências físicas e naturais, que governaria de
1892 a 1894. Republicano austero, dotado de elevado espírito pú blico, nã o se deixou
abater pelas dificuldades. Isentou de impostos empresas industriais. Enfrentou epidemia
de varíola, quando construiu Lazareto para abrigar os doentes. Como primeiro
presidente constitucional do novo regime, imprimiu orientaçã o moralizadora e
organizadora30. Nesse sentido, mandou edificar o prédio do Tribunal de Relaçã o,
proporcionando aos magistrados uma sede digna, e tentou reformar o ensino. Em sua
gestã o, vá rios ó rgã os pú blicos recebiam regulamentos, regimentos, corrigindo costumes,
racionalizando a má quina administrativa.31 Defensor intransigente da autonomia
estadual, revelava-se por vezes desabusado nas correspondências com as autoridades
federais. Quando desenvolvia seu governo com algum sucesso, passando a arrecadar
mais do que gastava, fato que antes nã o vinha ocorrendo, foi deposto por nã o atender à s

29
Ver Francisco Carneiro Nobre de Lacerda. A Década Republicana em Sergipe. Aracaju: Typ. d’O Estado de Sergipe,
1906.
30
Sobre José Calazans e seu governo, ver José Bonifá cio Fortes Neto. “General Calazans, 1º Presidente Constitucional
de Sergipe”, in Revista da Faculdade de Direito da UFS, ano XV, n. 15, Aracaju, 1971, p. 147-172 e Francisco Carneiro
Nobre de Lacerda. Ob. cit., 1906.
31
Ver José Calazans. Mensagem lida perante a Assembleia Legislativa. Aracaju: Typ. d’ O Republicano, 1892.
23

pressõ es do presidente da Repú blica, Floriano Peixoto, para ajudar o coronel Manuel
Prisciliano de Oliveira Valadã o a eleger-se senador.32 Este militar, nascido em 1849 em
Vila Nova, hoje Neó polis (SE), participou da guerra contra o Paraguai, comandou brigada
policial por ocasiã o da proclamaçã o da Repú blica e ascendeu dentro da hierarquia do
Exército. Ligado a Floriano Peixoto, foi eleito deputado e inscreveu-se como postulante a
senador por Sergipe. Mas sua candidatura foi considerada ilegal e o coronel José
Calazans, zeloso nos deveres do cargo, resistiu aos apelos presidenciais. A campanha
tornou-se mais agitada com a presença de Sílvio Romero, que viera do Rio de Janeiro
para eleger Valadã o. Diante da derrota, aquele conceituado escritor protestou
veementemente e foi um dos responsá veis pelo movimento que encurtou o mandato de
primeiro presidente constitucional do período republicano. Apó s uma eleiçã o marcada
pela violência, o governo de Calazans passou a ser atropelado pelo grupo valadonista.
Inconformados com essa situaçã o, vá rios políticos, inclusive ex-monarquistas, tentaram
resistir. A sede da administraçã o foi transferida para Rosá rio do Catete, gerando
dualidade de poderes. A contenda entre os dois grupos acentuou-se. Os que ficaram nas
areias de Aracaju passaram a ser chamados de Pebas e os que se reuniram na zona dos
engenhos foram denominados de Cabaús.33 Em Aracaju, o médico Joã o Vieira Leite
assumiu o governo no auge da crise. Vinculado aos Pebas e carente de legitimidade, em
sua curta e tumultuada gestã o (11.09.1894 a 24.10.1894), pouco fez além de afastar e
reprimir adversá rios, preparando o campo para seu sucessor.
A administraçã o de Oliveira Valadã o (1894-1896) foi marcada por
arbitrariedades e perseguiçõ es políticas, afastamento de magistrados, brigas
prolongadas com o Judiciá rio, tudo contribuindo para desorganizar a vida institucional
que vinha sendo construída com dificuldades. Para agravar a vida dos cidadã os, os
surtos de varíola no curso dos anos 1895 e 1896 dizimaram numerosas pessoas. Nesse
clima crítico, o coronel Valadã o pouco realizou. Segundo um historiador do seu tempo,
suas obras mais notá veis foram: “alguns regulamentos, reformando o ensino pú blico, o
montepio dos empregados estaduais e outros institutos”; a criaçã o da imprensa oficial,
além da “contribuiçã o de dez contos de réis para a construçã o das linhas telegrá ficas de

32
Sobre Valadã o, ver Joã o Menezes. Traços biographicos do General Oliveira Valladão. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1920.
33
Sobre esse momento político, consulte-se José Ibarê Costa Dantas. Os Partidos Políticos em Sergipe - 1889/1964. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
24

Itabaiana e Vila Nova”.34 Ao deixar o governo, alegando motivo de saú de, o quadro de
incerteza continuou. Seu sucessor, o padre Leonardo Dantas, foi deposto por uma
revolta, depois foi reposto por ordem do presidente da Repú blica, e as crises políticas
pareciam uma constante. Ainda em 1896, foi eleito Martinho Garcez, advogado de
grande prestígio intelectual, ligado aos Pebas, que teve a infeliz iniciativa de extinguir a
Escola Normal.35 Governando num quadro marcado por disputas internas, novas
questõ es foram surgindo com seus afastamentos e as brigas com seus substitutos,
situaçã o que persistiu até 1899, quando o pró prio Garcez firmou acordo com o
monsenhor Olímpio de Souza Campos, do grupo oposto, o Cabaú, entregou o cargo ao
vice-presidente e retornou ao Rio de Janeiro agastado com os seus críticos.36
Ao fim da primeira década, computavam-se cerca de vinte e dois indivíduos que
estiveram no cargo de Executivo, participando de juntas provisó rias ou governando
isoladamente. Foi uma rotatividade elevada, permeada por vá rias questõ es
desgastantes: renú ncias, revoltas, deposiçõ es, substituiçõ es controvertidas e até
duplicidade de Assembleias Legislativas. As tendências autoritá rias de alguns
republicanos, a disputa destes com os ex-monarquistas, as questõ es pessoais e as
interferências externas contribuíram para tornar o quadro bastante instá vel, marcado
pela descontinuidade das administraçõ es que afetava as finanças pú blicas (ver a relaçã o
dos governantes no Anexo I).
Nã o obstante a hegemonia inabalá vel dos senhores do açú car como a grande
força econô mica do Estado, foi um tempo de adaptaçõ es difíceis, quer para o exercício da
administraçã o estadual, quer para a populaçã o em seu conjunto.
Contudo, nã o era apenas Sergipe que custava a construir um pacto político que
permitisse aos administradores concluírem seus mandatos. Nos vá rios Estados também
havia um saldo de grande mutabilidade política. Recordemos que ainda no governo do
marechal Floriano Peixoto, que enfrentou com mã o de ferro vá rias revoltas, foi realizada

34
Francisco Carneiro Nobre de Lacerda. Ob. cit., 1906, p. 140. Ver também Coronel Manoel P. de Oliveira Valladã o.
Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa. Aracaju: Typ. do Diá rio Oficial, 1895.
35
Sobre a Escola Normal, ver Anamaria Gonçalves Bruno de Freitas. “Vestidas de azul e branco”: um estudo sobre as
representaçõ es de ex-normalistas (1920-1950). Sã o Cristó vã o/SE: GEPHE/NPGED, 2003.
36
Com o intuito de homenagear Martinho Garcez e ao mesmo tempo desagravá -lo, em face das críticas dos opositores,
Fausto Cardoso organizou livro laudató rio, com depoimentos de vá rios intelectuais, no qual se destacava sobretudo a
figura do jurista. Ver O Vulto Político de Martinho Garcez. Rio de Janeiro: Casa Mont’Alverne, 1900. Por esse tempo,
Garcez recebeu dos seus patrícios no Rio de Janeiro uma coroa de ouro, cravada de brilhantes e rubis com a
dedicató ria de pacificador da família sergipana. Cf. Manuel Armindo Cordeiro Guaraná . Dicionário Biobibliográfico
Sergipano. Rio de Janeiro: Pongetti & Cia., 1925. p. 224-225.
25

a primeira eleiçã o direta para presidente (1894). Nã o foi por acaso que triunfou
Prudente de Morais, um civil de Sã o Paulo, onde havia o grupo de republicanos mais
organizado e identificado com a expansã o da economia capitalista exportadora, que
tinha no café o seu produto de maior importâ ncia nacional. Apesar do domínio paulista
no Executivo, sintonizado com a pujança de sua economia em expansã o, dentro do
Congresso as bancadas vinham se apresentando por demais dispersas, divididas em
vá rios grupos em competiçã o, sem orientaçã o definida, dificultando o encaminhamento
dos projetos. Quando o segundo paulista, Campos Sales, foi eleito presidente em 1898,
percebendo as dificuldades de governabilidade, em face da carência de uma base política
fiel, articulou-se com os administradores dos Estados e, juntos, formaram um pacto que
ficaria conhecido como política dos governadores. Esse arranjo político consistiu numa
reciprocidade de apoios. Enquanto o presidente da Repú blica passava a contar com o
suporte irrestrito dos parlamentares, os governantes estaduais, por sua vez, adquiriam
respaldo que lhes permitiam dominar o quadro político interno, inclusive fazer seus
sucessores. O controle passaria a ser assegurado graças à determinada alteraçã o na
Comissã o de Verificaçã o dos Poderes, que avaliava a lisura dos pleitos.
Para os governadores, essa mudança trouxe a vantagem de estimular lealdades e
garantir o domínio. Em contrapartida, engessava o sistema político, impedindo
renovaçõ es. No â mbito federal a influência dos paulistas, que já era grande, foi se
consolidando e tornou-se imbatível com a parceria com os mineiros, formando o grupo
do café com leite, que controlou o governo central até 1930. Enquanto isso, os demais
Estados formavam blocos auxiliares ou semi-independentes sem jamais conseguirem
quebrar a sua hegemonia. Nã o foi por acaso que o Estado na Primeira Repú blica foi
qualificado de Liberal-Oligá rquico. Embora a Carta de 1891 estabelecesse o sufrá gio
universal e as eleiçõ es passassem a ser perió dicas, o nú mero elevado de analfabetos
tornava o eleitorado muito reduzido. Por outro lado, a prá tica do voto a descoberto e a
inexistência de Justiça Eleitoral resultaram em pleitos viciados, facilitando o esquema de
dominaçã o que articulava os coronéis com oligarcas, assegurando grande domínio
político e inviabilizando a atuaçã o dos oposicionistas. Sem oportunidade de alternâ ncia
de poder, os divergentes foram se afastando, o pluripartidarismo foi cedendo lugar ao
partido ú nico e a vida política foi-se reduzindo ao ritual situacionista de resultados
26

previstos. Dessa forma, nos vá rios Estados, depois da primeira década de grande
instabilidade institucional, o controle político acentuou-se, a participaçã o política
declinou e a democracia nã o se desenvolveu.
Em Sergipe, depois da primeira década tumultuada, o acordo do presidente
Martinho Garcez com o monsenhor Olímpio Campos, um político remanescente do
quadro monarquista que sabia perseguir com determinaçã o seus objetivos, viabilizou
seu domínio. A partir de entã o, a política de Sergipe viveria um período de estabilidade.
Mas o forte predomínio de um grupo oligá rquico nã o deixou de gerar reaçõ es
crescentes.
No governo, monsenhor Olímpio de Souza Campos administrou o Estado de 1899
a 1902 com energia e algum empenho para a melhoria das condiçõ es de vida na capital e
no interior. Promoveu aterros em praças e começou o calçamento de ruas. Restaurou
alguns prédios pú blicos, inclusive a Escola Normal, que voltou a funcionar, e empenhou-
se em criar o Banco de Sergipe sem consumar seu intento. Reformou o ensino e instituiu
a vacinaçã o nas escolas. Cuidou de reforçar o montepio dos funcioná rios e organizou a
administraçã o dos hospitais de caridade. No interior, tratou da abertura de canais no rio
Japaratuba e investiu em açudes em Aquidabã e Itabaiana.37
Articulado com o presidente Campos Sales e com lideranças no Congresso, em
plena vigência da política dos governadores, controlando internamente o quadro
partidá rio, Olímpio Campos, ao fim do seu governo, pô de indicar para sucessor seu
secretá rio-geral. Tal opçã o contrariou fortes correligioná rios como Coelho e Campos e
Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel, que criaram o jornal O Momento, estabeleceram
dissidência, recorreram a instâ ncias federais e tentaram formar outra Assembleia para
referendar sua chapa. Mas Olímpio Campos, fortalecido por eficiente estrutura que
articulava o nacional com o local, chefiando o Partido Republicano de Sergipe, derrotou-
os irremediavelmente.
Josino Menezes era um farmacêutico que fora ativista do movimento republicano.
Como auxiliar do governo do monsenhor, conhecia a pequena burocracia e sabia como
relacionar-se com os adversá rios e correligioná rios. Leal ao seu chefe, deu continuidade
a obras iniciadas na gestã o anterior e desenvolveu novas açõ es. Prosseguiu as iniciativas

37
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902. Aracaju: Empresa de “O Estado de Sergipe”, 1902.
27

de saneamento e conseguiu implantar o Banco de Sergipe (1905) que passaria a


funcionar regularmente. Empenhou-se em equacionar a questã o dos limites com a Bahia,
reivindicaçã o recorrente dos sergipanos, e promoveu estudos visando à construçã o da
Estrada de Ferro ligando Timbó a Propriá , passando por Aracaju. Construiu ou
continuou obras de açudes em Itabaiana, Porto da Folha, Gararu e Riachã o. Procurou
incentivar o movimento literá rio, garantindo publicaçã o de obras julgadas
importantes.38 A situaçã o mais crítica do seu governo revelou-se na saú de pú blica.
Diante da precariedade das condiçõ es sanitá rias e dos recursos médicos, numa época em
que a medicina ainda engatinhava, ocorreram algumas epidemias. Por esse tempo, era
comum os administradores despenderem recursos e energia sem grandes resultados.
Durante a gestã o de Josino Menezes nã o foi diferente. Nã o obstante os esforços dos
profissionais de saú de, houve surto de peste bubô nica e de varíola, provocando vá rias
mortes, enquanto a tuberculose e outras doenças continuavam ceifando vidas num
percentual significativo.39
Ao fim do seu governo (1902-1905), Josino Menezes, em combinaçã o com o chefe
político do partido situacionista, apresentou como sucessor o nome do desembargador
Guilherme de Souza Campos, ao tempo em que elegia seus aliados para a Câ mara dos
Deputados e ia para o Senado. A indicaçã o do irmã o do monsenhor Olímpio Campos e a
eleiçã o dos correligioná rios evidenciavam o fechamento e a predominâ ncia do grupo
olympista, mas ampliava a indisposiçã o dos seus adversá rios que também procuravam
articular-se, configurando a cisã o da fraçã o dominante. Foi sintomá tico que, ao tentar
fazer Josino Menezes senador, aquele líder político já nã o teve o reconhecimento
esperado. A comissã o que julgava as eleiçõ es manifestou-se contra.
Como presidente, Guilherme Campos (1905-1908), mais discreto e moderado do
que o irmã o, procurou dar continuidade à s obras de seus antecessores, sobretudo
à quelas relacionadas à urbanizaçã o de Aracaju. Construiu o cais beirando o rio Sergipe.
Firmou alguns contratos importantes, entre os quais um para os serviços de á gua
encanada e outro para a implantaçã o dos carris urbanos, que começariam a circular na
administraçã o seguinte (1909).40 A construçã o da estrada de ferro foi iniciada.
38
Cf. Josino Menezes. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em 07.09.1905. Aracaju:
Empresa de “O Estado de Sergipe”, 1905.
39
Ver Antô nio Samarone de Santana. As Febres do Aracaju (Dos Miasmas aos Micró bios). Dissertaçã o apresentada ao
Nú cleo de Ciências Sociais da UFS, Aracaju, 1997.
40
Ver Leis e Decretos, 1900-1908.
28

Organizou a Biblioteca Pú blica, que estava um tanto relegada, e tomou providências para
combater epidemias. Apesar das críticas dos adversá rios que visavam sobretudo a figura
do combativo Olímpio Campos, expressã o maior do domínio político oligá rquico, parecia
que chegaria ao fim do seu mandato sem grande transtornos. Mas quando a chapa
oposicionista, representada por Coelho e Campos para o Senado e Fausto Cardoso para a
Câ mara dos Deputados, facultada por um dispositivo da recente lei eleitoral, foi vitoriosa
em inícios de 1906, o movimento contra os governistas cresceu enormemente. As folhas
oposicionistas, especialmente o Jornal de Sergipe, exercitaram o discurso
antioligá rquico, em campanha apaixonada contra o domínio olympista, conquistando
muitas adesõ es entre os sergipanos. Entusiasmado com esse movimento, Fausto
Cardoso, que vivia na capital federal há 12 anos, decidiu voltar a Sergipe sem esconder
seus propó sitos de pô r fim à quela dominaçã o. Em ambiente marcado por emoçõ es, o
líder oposicionista foi recepcionado por seus admiradores. Nasceu o Partido
Progressista, congregando os divergentes e, pouco depois, o grupo que o apoiava depô s
o presidente do Estado e o vice (10.08.1906).
Desde entã o, tentou-se montar o novo governo e proporcionar-lhe legalidade.
Conseguiram o termo de renú ncia das autoridades depostas, mas houve dificuldades
para encontrar substituto até que o desembargador Loureiro Tavares assumiu o
governo de transiçã o. O movimento ampliou-se pelo interior do Estado e a popularidade
de Fausto Cardoso expandiu-se, assumindo as dimensõ es de grande ídolo. Os revoltosos
foram assegurando o controle da situaçã o em vá rios municípios, arrecadando recursos,
através do “imposto de guerra”, invadindo exatorias e hostilizando adversá rios.
Batalhõ es populares foram organizados para se juntar à s chamadas legiõ es libertadoras
e, em Divina Pastora, chegaram a reunir 1.200 homens em armas, preparando-se para
grandes embates.41
Guilherme de Souza Campos e seu irmã o senador Olímpio de Souza Campos se
homiziaram na casa do comandante da Capitania dos Portos e comunicaram ao governo
federal os fatos acontecidos. A Câ mara dos Deputados passou a discutir o assunto num
momento em que já havia um precedente recente com a deposiçã o e a morte do
governante do Estado de Mato Grosso. O presidente da Repú blica, nã o obstante ser

41
Cf. Terezinha Oliva de Souza. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta Fausto Cardoso). Rio de
Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985, p.190-201.
29

considerado amigo do líder revoltoso de Sergipe, autorizou a intervençã o federal e a


Câ mara dos Deputados, controlada pelo Bloco, aprovou-a. Quando as tropas
provenientes da Bahia chegaram a Aracaju, Fausto Cardoso, nã o conseguindo persuadir
o comandante da legalidade de sua Revolta, foi a Palá cio acompanhado de amigos
manifestar seu protesto, e o grupo foi dispersado a tiros. Ao fim, pelo menos três deles
foram atingidos, dois dos quais fatalmente, inclusive Fausto Cardoso. 42 As tropas do
interior desmobilizaram-se em meio à tristeza generalizada e o sepultamento ocorreu
em ambiente de grande comoçã o. Durara 17 dias o domínio dos revoltosos. Nã o
obstante a heterogeneidade de suas lideranças, nã o deixava de ser um movimento com
propó sitos de renovaçã o da política local.
Finda a Revolta, Guilherme Campos foi reempossado e surgiram apelos ao
presidente da Repú blica pelo esclarecimento do assassinato do tribuno sergipano, mas,
segundo historiadora que estudou o tema, “nada foi feito de concreto para apurar-se a
verdade”.43 Em consequência, meses depois, parentes do parlamentar assassinado
apunhalaram o senador Olímpio Campos numa praça do Rio de Janeiro. Seu corpo foi
trazido para Sergipe e, também, sepultado em ambiente de grande lamentaçã o.
Terminava assim, de forma duplamente trá gica, a tentativa de mudar o quadro
da dominaçã o sergipana. Com sua derrota, o desaparecimento dos dois líderes
adversá rios e o trauma que marcou a sociedade sergipana, a militâ ncia política foi
inibida.
Guilherme de Campos concluiu seu mandato e, nã o obstante algumas mudanças
na Presidência da Repú blica, articulado com Pinheiro Machado, ainda teve condiçõ es de
apoiar um correligioná rio que foi eleito sem concorrente. Era a vez de José Rodrigues da
Costa Dó ria, prestigiado médico, nascido em Propriá (SE), que fora deputado federal por
quatro legislaturas (1898-1908). Professor conceituado da Faculdade de Medicina da
Bahia, foi o derradeiro representante do grupo olympista.
A gestã o de Rodrigues Dó ria (1908-1911) foi abalada por uma questã o com o
vice-presidente Manoel Batista Itajahy, um lagartense que fizera carreira política em
Itabaiana e ganhara fama de violento.44 Era um caso parecido com o que ocorrera com o
42
A segunda vítima fatal foi Nicolau dos Santos, um “industrial salineiro”. O farmacêutico Joã o Marsillac Mota foi
ferido, mas sobreviveu. Cf. J. A. Pereira Barreto et alli. O Caso de Sergipe. Exposição ao Sr. Presidente da República. Rio
de Janeiro: Rodrigues & cia, 1906, p. 17. Ver também Má rio Cabral. Roteiro de Aracaju. Aracaju: L. Regina, 1955.
43
Cf. Terezinha Oliva de Souza. Ob. cit., 1985, p. 225.
44
Vladimir Souza Carvalho. A República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000, p. 300-302.
30

presidente Martinho Garcez em 1897. Dessa vez, quando o presidente adoeceu e viajou,
deixando carta de renú ncia em mã os de um médico “para ser apresentada caso os seus
males piorassem e nã o pudesse voltar”,45 o documento foi levado a pú blico, gerando
grande controvérsia. Instalado no governo, o dr. Itajahy, prometia resistência forte. A
contenda judicial dividiu a Assembleia e envolveu lideranças nacionais até que
Rodrigues Dó ria reassumiu, cerca de quatro meses depois, com o apoio do presidente
Nilo Peçanha, mas sem grande respaldo no quadro do seu partido, a essa altura bastante
dividido.
Apesar desses problemas, Rodrigues Dó ria deu prosseguimento ao projeto de
modernizaçã o do Estado. Pagou dívidas, promoveu aterros, consertou prédios pú blicos,
tomou as medidas mais efetivas para abastecimento de á gua encanada, e procurou
melhorar o ensino que era foco de reclamaçõ es inclusive dos antecessores presidentes
do Estado.46 Neste sentido, o governo ampliou as instalaçõ es do Atheneu, construiu nova
sede da Escola Normal e grupo escolar anexo, uma inovaçã o. Criou a Escola de
Aprendizes Artífices, associada a um projeto do governo federal de incentivar o ensino
técnico47 e contratou competente profissional de Sã o Paulo para operar reforma da
instruçã o pú blica. Com essa orientaçã o, promoveu levantamento estatístico da
populaçã o escolar e sinalizou para o ensino obrigató rio. Um tanto desintegrado do
quadro político local, sobretudo depois da questã o com o vice, dissolveu o corpo policial
e procurou reorganizá -lo ao tempo em que pregava a reorganizaçã o da Justiça,
considerando-a muito envolvida na política. Em sua gestã o, a construçã o da Estrada de
Ferro se intensificou, afetando a vida das comunidades onde os trabalhadores serviam.
Ao fim do seu governo, enfrentou grande epidemia de varíola, ao tempo em que
terminava o ciclo de representantes do grupo olympista (1899-1911). Nã o se pode dizer
que foi um período de grandes realizaçõ es, mas de conformidade com os meios
disponíveis no tempo, houve iniciativas meritó rias, sobretudo em Aracaju.
A essa altura, no início da gestã o do presidente da Repú blica marechal Hermes da
Fonseca (1910-1914), o ambiente político estava agitado com as intervençõ es militares
que tinham a pretensã o de “salvar” o país das oligarquias. Caíam os Accioly no Ceará e os
Malta em Alagoas num processo tumultuado. Em Sergipe, nã o houve quebra da
45
João Rodrigues da Costa Dó ria. Vida e Trabalhos do Professor Dr. José Rodrigues da Costa Dória. Aracaju: 1958, p.17.
46
Ver Mensagens Presidenciais de 1905, 1908 e 1911.
47
Cf. José Augusto Araú jo. As Escolas de Aprendizes Artífices na Primeira Repú blica in Jornal da Cidade, 24.09.2002.
31

legalidade, pois o presidente, em combinaçã o com o líder nacional Pinheiro Machado,


indicou o marechal José Siqueira de Menezes. Os faustistas, que desde 1906 se sentiam
desprestigiados e/ou perseguidos, animaram-se, e o quadro político situacionista local
adaptou-se ao esquema dominante, um tanto impregnado de ranço militarista.48
O novo presidente estadual, eleito sem competidor para o período 1911-1914, já
havia integrado juntas governativas logo depois da proclamaçã o da Repú blica e
participado de vá rias missõ es, inclusive da campanha de Canudos, sendo, portanto, um
militar dos mais condecorados. Sem muito entrosamento com o quadro político
estadual, empenhou-se em governar sem deixar envolver-se com as facçõ es locais,
enquanto seu chefe de Polícia tratava com intolerâ ncia aqueles que nã o se submetiam à
disciplina imposta. De início, enfrentou um surto de varíola violento que, em 1911-12,
afetou sobretudo Laranjeiras, Propriá , Itabaiana, Riachuelo e Aracaju, deixando nos
vá rios municípios 740 ó bitos.49 Como engenheiro experiente em outras empresas,
apresentou-se com programa ambicioso: obras de saneamento (esgoto e drenagem) de
Aracaju, serviços d’á gua e de iluminaçã o elétrica, construçã o de prédios pú blicos e de
pontes, açudes e represas.50 Para realizaçã o desses projetos, contraiu dois empréstimos
(de 6 mil e 4,5 mil contos de réis) em momentos diferentes. Ao fim, nã o realizou tudo o
que planejou, mas inaugurou o trecho da Estrada de Ferro que chegava a Aracaju, assim
como a iluminaçã o elétrica. Os serviços de á gua passavam para o controle do Estado e a
rede de esgoto recebeu o impulso mais efetivo. Editou copiosa legislaçã o dispondo sobre
nova organizaçã o da instruçã o pú blica e concedeu favores por dez anos para exploraçã o
da rede telefô nica.
No campo, uma de suas iniciativas mais lembradas foi o início de demarcaçã o de
lotes, visando à construçã o de Centro Agrícola e a reorganizaçã o do Serviço de Inspeçã o
do Algodã o. Empreendeu ainda obras menores e, como seu mandato se revelou curto
para fazer tudo que planejara, deixou projetos que posteriormente seriam retomados
pelos sucessores, mesmo porque estes disporiam de mais tempo, já que a reforma da
Constituiçã o estadual de 1913 ampliou o mandato do presidente do Estado de três para

48
Sobre a Política das Salvaçõ es no Estado, ver Josevanda Mendonça Franco. A Política das Salvações: Um Estudo de
Caso. UFS, Histó ria I, Trabalho apresentado no Curso de Bacharelado, 1982. (mimeografado).
49
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 119.
50
Cf. General José Siqueira de Menezes. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1912, Aracaju: Empresa de O Estado de Sergipe, 1912, p. 11.
32

quatro anos.51 Ao fim do seu o governo, nã o teve grande ingerência na escolha do seu
sucessor. Por isso, sua administraçã o já foi chamada de interregno salvacionista.
Desde 1911, a vida partidá ria, que já era diminuta, cedeu lugar à predominâ ncia
exclusiva do Partido Republicano Conservador como elemento formalizador das
candidaturas situacionistas. Dentro desse quadro, ascendeu o general Oliveira Valadã o
apoiado por Pinheiro Machado, que continuava gozando de grande influência na política
nacional. Valadã o, atuante na política sergipana desde a primeira década, influindo em
diversos acontecimentos com ou sem mandatos de presidente do Estado (1894-1896),
deputado federal (1903-1904 e 1906-1907) e senador (1907-1914), voltou a governar
Sergipe (1914-1918). Dessa vez, fez as pazes com alguns adversá rios e, numa quadra de
melhoria da arrecadaçã o devido à elevaçã o dos preços do açú car e dos tecidos, deu
continuidade à s obras de seus antecessores. Inaugurou o segundo trecho da ferrovia,
ligando Aracaju a Propriá , prosseguiu açõ es de saneamento e aterro, construiu dois
grupos escolares na capital e um em sua terra natal, Vila Nova. Reformou prédios
pú blicos, inclusive o Palá cio do Governo, investiu na Usina de Eletricidade e fez algumas
reformas do ensino, introduzindo inclusive cursos noturnos destinados aos operá rios.52
Em 1915, assassinaram, no Rio de Janeiro, Pinheiro Machado, muito atacado
como responsá vel pela estrutura de poder vigente. Mas o sistema oligá rquico
prosseguiu. Valadã o, antes de deixar o governo, combinou com o tenente-coronel
Pereira Lobo para candidatar-se ao Senado. Pouco tempo depois, fizeram a permuta.
Lobo renunciou ao mandato de senador e, dentro dos esquemas situacionistas, foi eleito
presidente do Estado. Nascido em Sã o Cristó vã o (SE), em 1864, o novo governante de
Sergipe, casado com uma enteada de Valadã o, era seu aliado leal desde as lutas da
primeira década republicana. Como vice-presidente chegou a assumir a titularidade
(11.10.1897 a 20.03.1898), quando sofreu rumoroso processo de impeachment. Eleito
para governar o Estado de 1918 a 1922, fora o ú ltimo dos militares, durante a Primeira
Repú blica, a administrar com o respaldo do voto popular. Ao todo foram quinze anos de
presença de oficiais do Exército. Nessa ú ltima safra, todos os três oficiais já estavam
reformados e já tinham ocupado o governo na primeira década, quase sempre por
tempo curto. Nessa ú ltima vez, mais experientes e amadurecidos, puderam colher alguns
51
Cf. Leis 603 de 24.08.1912 a 627 de 30.10.1912.
52
Cf. Manuel Priscilino de Oliveira Valadã o. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1918, Aracaju: Imprensa Oficial, 1918.
33

frutos das iniciativas passadas e semear novas obras, facilitadas pelo crescimento das
arrecadaçõ es decorrentes sobretudo da elevaçã o dos preços do açú car, no período
1915-1920.
Pereira Lobo, ainda nas festas da posse, em outubro de 1918, deparou-se com um
problema gravíssimo. Era o surto da gripe espanhola que se espalhava por praticamente
todas as cidades e vilas do Estado, sendo registrados 25.910 casos, resultando em 997
mortes segundo os registros oficiais.53 Tratava-se de mais uma epidemia que deixava
patente a falta de estrutura de saú de para enfrentar tragédias dessa natureza. Em 1920,
quando Sergipe comemorava um século de autonomia política em relaçã o à Bahia, em
meio a vá rios eventos, o presidente do Estado, em Mensagem à Assembleia Legislativa,
lembrava que Aracaju ainda tinha “grandes pâ ntanos”.
Desafiados pelas tragédias epidêmicas, os governantes vinham cuidando do
saneamento e do aperfeiçoamento dos métodos da saú de pú blica. Mas era uma evoluçã o
lenta com pouca ou nenhuma ajuda da esfera federal. Diante da mortandade de 1918,
uma comissã o da Diretoria Geral de Saú de Pú blica veio a Sergipe no ano seguinte e
passou a fornecer orientaçã o mais aprimorada de política sanitá ria.54 Enquanto isso, o
governo estadual ia fazendo novos aterros, drenagens e ampliando serviços de á gua,
esgotos, luz, calçamentos, melhorando principalmente a feiçã o de Aracaju. Novos grupos
escolares foram construídos na capital e no interior, outros prédios pú blicos foram
reformados e a Biblioteca do Estado ganhava casa pró pria. Mas, ao lado desses
melhoramentos, novas demandas iam aparecendo. O presidente, que já reclamava das
dificuldades para manter 89 muares que puxavam os bondes na capital, assumia o
controle da primeira rodovia, ligando Salgado a Estâ ncia, que fora construída por
particulares durante o governo de Valadã o. Intermediou questõ es entre capital e
trabalho, e procurou atender outras demandas como foi o caso da revisã o e atualizaçã o
dos velhos có digos de processo criminal, civil e comercial do Estado. O fato é que aos
poucos o aparato pú blico ia se modificando e a feiçã o das cidades se transformando.
A essa altura, o quadro político foi-se revelando mais inquieto. Recordemos que,
de 1907 a 1921, internamente, o controle político foi estabelecido sem a vigilâ ncia de
partidos oposicionistas. Sobretudo depois de 1911 a sociedade passou a viver entre os

53
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 124.
54
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997, p. 107.
34

elogios fá ceis e a indiferença tá cita. As campanhas civilistas lideradas por Rui Barbosa
em 1910 e 1919 criaram novas expectativas, mas nã o alcançaram êxito eleitoral.
Restaram as mensagens e as aspiraçõ es reprimidas. Mas a situaçã o foi-se modificando.
Embora os partidos fossem estaduais, os movimentos políticos nacionais repercutiam
em Sergipe. O comportamento de alguns jornais foi-se revelando mais crítico, e o
governo Pereira Lobo passou a reagir com medidas truculentas contra os divergentes.55
Por volta de 1922, desencadeou-se novo ciclo de inquietaçõ es com a campanha
da Reaçã o Republicana que dividiu a imprensa local, refletindo o clima de
descontentamento. Ex-presidentes do Estado, como o velho marechal Siqueira de
Menezes e Rodrigues Dó ria, oficiais do Exército e numerosos civis, chefes políticos do
interior e líderes da capital revelaram-se simpatizantes e até entusiastas do movimento
que, em Sergipe, apoiava o aristocrata senador Gonçalo Rolemberg para presidente do
Estado. A atuaçã o combativa dos irmã os Nobre, Manoel e Francisco à frente do Jornal do
Povo, com linguagem por vezes agressiva, resultou em invasã o da folha, prisã o de
jornalistas e ameaças de morte.
Apó s sucessivas eleiçõ es com postulante ú nico, a disputa voltava a agitar a
campanha eleitoral em Sergipe.56 Ao fim, o situacionismo venceu, mas deixou sequelas
represadas num ano particularmente marcado por eventos significativos como a
Semana da Arte Moderna, a fundaçã o do PCB e a criaçã o do Centro D. Vital, que haveria
de desempenhar importante papel no movimento da Igreja Cató lica. Em Sergipe, essa
inquietaçã o cultural e política de algum tempo vinha se gestando com o surgimento do
Centro Socialista Sergipano (1918) e da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, na qual
expressõ es femininas como a farmacêutica Cezartina Régis e a médica Ítala Silva de
Oliveira se engajaram de forma decidida através da imprensa.57
Foi nesse novo momento que ascendeu Maurício Graccho Cardoso (1922-1926).
Filho do conceituado professor Brício Cardoso, o novo governante, depois de viver
alguns anos no Ceará , como jornalista, professor e político vinculado aos Accioly, diante
da derrocada política deste grupo, em momento de dificuldades foi para o Rio de Janeiro,

55
Sobre denú ncias contra o governo Lobo, ver Jornal do Povo, 1921 e 1922.
56
Sobre a campanha da Reaçã o Republicana em Sergipe, ver Manoel Dantas. Um Político da “Reação Republicana”.
Salvador: Progresso, s/d.
57
Sobre a participação das mulheres sergipanas nos eventos políticos e sociais, ver Maria Lígia Madureira Pina. A
Mulher na História. Aracaju: s/d e Maria Thetis Nunes. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
35

aproximou-se de figuras influentes, integrou-se no esquema Valadã o/Lobo e, em 1922,


foi eleito presidente do Estado de Sergipe. Pragmá tico, adotado pela oligarquia local,
manifestou-se sempre reverente ao governo federal, mas isso nã o impediu de realizar a
administraçã o mais modernizadora do século XX em Sergipe.
Em sua plataforma de administraçã o, Graccho Cardoso já demonstrava ideias
bastante articuladas com relaçã o a problemas cruciais, entre os quais a regularizaçã o da
propriedade fundiá ria e a saú de. Com recursos pú blicos ampliados com o aumento da
arrecadaçã o e graças à parceria com empresá rios, o governo promoveu diversas obras
importantes. Com o auxílio de técnicos competentes locais e de fora, comandou
empreendimentos que mudaram a face de Aracaju e melhoraram o quadro de diversos
municípios do interior. Providenciou novos aterros e sobretudo calçamentos a
paralelepípedos.58 Reconstruiu a rede de abastecimento de á gua, tornando-a eficiente e
abrangente. A parte dos esgotos, que fora iniciada na gestã o de Siqueira de Menezes, foi
replanejada e executada em grande parte da cidade. Na saú de pú blica, provocou
enormes transformaçõ es. Estabeleceu parceria com a Diretoria de Higiene e Saú de e
montou os serviços sanitá rios do Estado. Reestruturou as açõ es de saneamento rural e
editou Có digo Sanitá rio, regulando as políticas pú blicas dentro dos padrõ es dos centros
mais desenvolvidos do país. Criou o Instituto Parreiras Horta, que facultou recursos
laboratoriais à prá tica médica e contribuiu decisivamente para a construçã o do Hospital
de Cirurgia, que superaria o modelo asilar dos hospitais de caridade, tornando-o
realmente local de cura.59 A esses centros, acrescentou-se o Instituto de Química como
mais um local de fecundas experiências científicas dos profissionais de Sergipe. Em
combinaçã o com o Ministério da Agricultura, foram inauguradas as “primeiras pesquisas
sobre a possibilidade da existência de Petró leo em Sergipe”.60 Na educaçã o, encontrou o
Estado com cinco grupos escolares e deixou com 14.61 O ensino técnico, que até 1922
dispunha apenas da Escola de Aprendizes e Artífices (1910), foi enriquecido com a
Escola de Comércio Conselheiro Orlando (1923), o Lyceu Profissional Coelho e Campos

58
Os calçamentos a paralelepípedos foram iniciados em 1919. Cf. Fernando de Figueiredo Porto. Alguns nomes antigos
de Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2003, p. 101.
59
Cf. Antô nio Samarone de Santana. Ob. cit., 1997.
60
Maurício Graccho Cardoso. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa, em 07.09.1926, Aracaju: Typ. Instituto
Coelho e Campos, 1926, p. 78.
61
Em 1922 havia três grupos na capital, um em Capela e outro em Vila Nova. Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens
apresentadas à Assembleia Legislativa, 1924-1925, Aracaju: Imprensa Oficial.
36

(1923)62 e o referido Instituto de Química Industrial (1926). No ensino superior,


instituiu a Faculdade de Direito Tobias Barreto, que encontrou dificuldades para
funcionar, e a Faculdade de Farmá cia, que legou ao seu sucessor com 22 alunos
matriculados.
Em convênio com empresá rio progressista, promoveu a construçã o de obras
importantes como a imponente Penitenciá ria, o amplo Mercado e o Matadouro, todos
qualificados como modelos. Ademais, criou o Banco Estadual de Sergipe, substituiu os
bondes a traçã o animal por carris elétricos e instituiu regulamento para inspetoria de
veículos.63
No interior, além da edificaçã o de grupos escolares, instalou luz elétrica em
Estâ ncia, Lagarto e N. Sra. das Dores, dinamizou a construçã o de novas estradas.
Contratou conceituado técnico americano especialista no cultivo do algodã o e promoveu
vá rias iniciativas de incentivo à sua produçã o. Preocupou-se também com experiências
industriais e com a classificaçã o do gado. Instituiu o Centro Agrícola e atraiu 22 famílias
de origem alemã para enriquecer com sua experiência nossa agricultura. 64 Enfrentou o
difícil problema da regularizaçã o da propriedade fundiá ria. Interessado na questã o
desde quando deputado, criou a Inspetoria de Terras, Matas e Estradas, e promoveu a
demarcaçã o, inclusive de á reas de comunidades indígenas, a fim de registrar as
propriedades e montar um cadastro territorial, ao tempo em que tentava reaver aquelas
á reas apossadas irregularmente e tributar os terrenos baldios. Mas tais medidas
descontentaram os proprietá rios do campo e sua iniciativa nã o foi avante como se
desejava.65
Apesar da consciência dos problemas, Graccho Cardoso foi percebendo as
dificuldades para efetivar seus projetos, fez concessõ es e nem sempre conseguiu evitar
descontentamentos. Embora tenha se manifestado bastante reverente ao presidente da
Repú blica, inclusive atendendo o seu pedido de eleger senador, Lopes Gonçalves,
cidadã o maranhense sem nenhuma vinculaçã o com o Estado, perdeu apoio dos quadros

62
O Instituto Coelho e Campos fora construído na administraçã o de Pereira Lobo graças à doaçã o de 300 contos de
réis do senador Coelho Campos para este fim. Inicialmente foi oferecido um curso de mecâ nica prá tica. Ver Pereira
Lobo. Mensagens presidenciais, 1920-1922.
63
Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens presidenciais, 1923-26.
64
Ver Maurício Graccho Cardoso. Ibidem.
65
Cf. Maurício Graccho Cardoso. Mensagens apresentadas à Assembleia Legislativa, em 1925 e 1926 e Josué Modesto
dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro, Sergipe
1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000. p. 343-365.
37

políticos dominantes locais. O presidente da Assembleia, Manoel Dantas, mais


identificado com a propriedade rural, passou a examinar o mérito da proposiçã o e
alterou o conteú do do projeto de regularizaçã o fundiá ria. Por ocasiã o da eleiçã o da mesa
da Assembleia, o governo contrariou interesses de Pereira Lobo, que criou uma
dissidência, dividindo as lideranças locais.66 Como se isso nã o bastasse, o movimento
tenentista, que vinha crescendo desde 1922 no plano nacional, repercutiu em Sergipe
através de duas revoltas que lhe trouxeram grandes dificuldades.
Dois anos depois que jovens militares se amotinaram no Forte de Copacabana,
quando os rebeldes estavam sendo processados, um grupo voltou a revoltar-se e tomou
a cidade de Sã o Paulo em 05.07.1924. O governo federal solicitou do presidente do
Estado de Sergipe o envio de contingente armado para ajudar a enfrentar os revoltosos.
Quando o governante sergipano arregimentava forças para enviá -las para o Sudeste,
militares do Amazonas, Mato Grosso e Sergipe se rebelaram em solidariedade à quele
levante.
Em Aracaju, quatro oficiais, entre os quais o tenente Augusto Maynard Gomes,
acompanhados de soldados, saíram da sede do 28o BC na madrugada de 13.07.1924,
investiram contra o Quartel da polícia e o Palá cio, mataram dois sentinelas, prenderam o
presidente do Estado, vá rios de seus auxiliares e formaram uma Junta Governativa. 67
Lançaram proclamaçã o ao povo sergipano e dominaram o Estado por 21 dias. Ao fim,
tropas do 20º BC., 21º BC., 22º BC., comandadas pelo general Marçal Nonato de Faria da
6ª Regiã o Militar, vieram a Sergipe e o movimento desfez-se sem enfrentamentos
sangrentos. Graccho Cardoso foi reempossado e, como representante da ordem vigente,
revelou-se adversá rio dos tenentes.
Os levantes do Amazonas e do Mato Grosso também foram sufocados, mas o
grupo de Sã o Paulo deixou a capital e marchou em direçã o ao Rio Grande do Sul até
encontrar-se com tropas provenientes deste Estado. Nasceu assim a Coluna Prestes, que
percorreu milhares de quilô metros resistindo ao cerco das forças governistas de 1925 a
1927, até quando seus sobreviventes se internaram na Bolívia. Quando essa Coluna, em
66
Por ocasiã o da eleiçã o da mesa da Assembleia (08/1924), Graccho Cardoso e Lobo, que já vinham divergindo, nã o
chegaram a um consenso. Decorrido o pleito, a chapa do primeiro venceu a do ex-presidente por 16 X 7, configurando
o rompimento entre as duas lideranças e enfraquecendo o quadro situacionista.
67
A Junta Governativa era formada pelos seguintes oficiais: cap. Eurípedes Esteves de Lima; 1º ten. Augusto Maynard
Gomes; 1º ten. Joã o Soarino de Melo e Manoel Messias de Mendonça, 2º tenente. Sobre o assunto, ver José Ibarê Costa
Dantas. O Tenentismo em Sergipe (Da Revolta de 1924 à Revolução de 1930). Petró polis, RJ: Vozes, 1974. Há uma
segunda ediçã o da J. Andrade, promovida pela Funcaju, de 1999.
38

1926, passava pelo interior da Bahia, os tenentes sergipanos, nã o obstante estarem


presos, dominaram as sentinelas e voltaram a revoltar-se. Maynard, gozando de grande
popularidade dentro e fora do quartel, com a conivência de militares e civis, conseguiu
sair da prisã o e liderar grande contingente para uma nova aventura de enfrentamento.
Apó s longo tiroteio nas ruas de Aracaju, deixando o saldo de 11 mortos e cerca de duas
dezenas de feridos, os rebeldes foram vencidos. Em consequência dessa revolta, um mês
depois cerca de 100 envolvidos, inclusive suas lideranças, foram desterrados para Ilha
da Trindade, onde viveram em condiçõ es difíceis até início de dezembro de 1926,
quando foram levados para o Rio de Janeiro.
Graccho Cardoso pô de entã o terminar seu mandato em paz, mas nã o conseguiu
indicar seu sucessor nem foi para o Senado, como quase sempre acontecia, conforme se
observa pelo quadro I. A sua presença naquela Casa limitou-se ao pequeno período no
ano de 1922, dentro do esquema de guardar o lugar para Pereira Lobo, que ainda era
presidente do Estado. Num tempo em que o quadro político estadual estava marcado
pelo dissenso, o presidente da Repú blica procurou uma pessoa distanciada da política
local para sucedê-lo. Nesse sentido, indicou Cyro Franklim de Azevedo, um velho e culto
diplomata sergipano que há muito tempo vivia afastado de sua terra. O pleito referendou
o seu nome e, em 06.11.1926, aquele intelectual assumiu o governo criticando a gestã o
passada. Mas governou apenas cerca de dois meses. Anulou algumas iniciativas do
governo Graccho Cardoso, inclusive a recém-criada Faculdade de Farmá cia, alegando
medida de economia, e logo adoeceu. Viajou para o Rio de Janeiro, onde faleceu em 17 de
janeiro de 1927.
Percebendo a sua oportunidade, o deputado Manoel Corrêa Dantas, que entã o
ocupava a Presidência da Assembleia Legislativa, foi à capital do país e voltou candidato
indicado pelo poder central. Nova eleiçã o foi realizada, legitimando sua investidura para
o período 1927-1930. Usineiro de família tradicional do município de Capela (SE), 68
lídimo representante dos interesses dos senhores do açú car, administrou o Estado numa
conjuntura de dificuldades econô micas e políticas. Manteve parte do secretariado
nomeado por Cyro Azevedo e recrutou alguns simpatizantes do movimento tenentista
em Sergipe. Nã o obstante preservar na Secretaria de Obras o jovem engenheiro Leandro
Maynard Maciel, que se foi revelando operoso gestor, seu governo deixou um elenco de
68
Ver Orlando Vieira Dantas. A Vida Patriarcal de Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
39

realizaçõ es aquém do ocorrido nas ú ltimas administraçõ es. Indisposto com o ex-
presidente Graccho Cardoso e premido pelas circunstâ ncias, inclusive dívidas herdadas,
empenhou-se em suprimir repartiçõ es, cargos e cortar despesas. Rescindiu contrato com
o Banco do Estado, criado em 1923, e com o Mercado Modelo, cuja administraçã o passou
para o controle do município da capital. Extinguiu a Inspetoria de Terras Matas e
Estradas, dispensando o pessoal ligado ao setor, agradando a parcela dos proprietá rios
rurais desinteressados na regularizaçã o da propriedade territorial. O Centro Agrícola,
por sua vez, careceu de maior assistência, ao tempo em que a natureza e a economia
manifestavam-se adversas. As secas de 1926 e 1928 afetaram a produçã o, a baixa dos
preços do açú car, que vinha ocorrendo desde 1926, agravou a situaçã o do tesouro do
Estado. A crise de 1929 atingiu o empresariado e as finanças internas, embora em menor
proporçã o do que em outros Estados.69 Como as estradas e as obras de engenharia
herdadas exigiam despesas elevadas com consertos, a conservaçã o nem sempre pô de
ser realizada com a presteza necessá ria. Mesmo assim, procurou-se levar avante o plano
rodoviá rio, construindo outras vias e providenciou-se a desobstruçã o do rio Japaratuba,
cuja navegaçã o estava prejudicada.70 No interior, o banditismo, representado pelo grupo
de Lampiã o, já começava a desafiar as autoridades e incomodar as populaçõ es sobretudo
do sertã o, provocando grande insegurança e migraçõ es.
Enquanto isso, a convivência do governo Manoel Dantas com alguns setores
influentes do Estado e da sociedade sergipana foi-se tornando difícil. A agressã o física
cometida pelos filhos do governante contra o presidente do Tribunal de Relaçã o foi
apenas uma das questõ es que marcaram sua administraçã o. Governando nos tempos de
uma ordem cada vez mais questionada, quando as agitaçõ es políticas se intensificavam,
nã o exercitou a tolerâ ncia com seus adversá rios políticos, incluindo aí alguns oradores
da Aliança Liberal.
No processo de escolha do futuro chefe do Executivo, o quadro político
situacionista dividiu-se, mas Manoel Dantas conseguiu, junto ao presidente da
Repú blica, que fosse indicado o comerciante Francisco de Souza Porto, que foi eleito pelo

69
Cf. Antô nio José Nascimento. O “Crash” de 29 e a Economia Sergipana in Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hansen
(orgs.). Economia Regional e Outros Ensaios. Aracaju: UFS/Fundação Oviêdo Teixeira, 2001.
70
Cf. Manoel Corrêa Dantas. Mensagens apresentadas à Assembleia Legislativa, 1927-1930. Aracaju: Imprensa Oficial,
1927-1930.
40

voto popular dentro dos esquemas tradicionais. Contudo, a eclosã o da Revoluçã o de


1930 impediu sua posse.
Quanto aos revoltosos, depois que saíram da Ilha de Trindade, em dezembro de
1926, os praças foram recambiados para Sergipe, enquanto que os oficiais passaram um
tempo no Rio de Janeiro. Maynard esteve num quartel da capital federal, em prisã o
bastante relaxada, podendo passear, receber amigos e articular-se. Pouco depois, as
lideranças, gozando de popularidade, foram julgadas, mas receberam penas baixas.
Numa ordem política em declínio, alguns participantes do movimento tenentista
passaram a integrar o governo Manoel Dantas, ganhando influência na política estadual
antes mesmo da Revoluçã o de 1930. Mas essa situaçã o criou um certo embaraço para
aqueles ex-revoltosos que já eram governistas e torciam por transformaçõ es na política
nacional. Afinal, o governo local se encontrava bem afinado com a orientaçã o
situacionista sob a chefia do presidente Washington Luiz, que continuava forte. O
postulante oficial, Jú lio Prestes, derrotou Vargas e a situaçã o parecia prosseguir como
antes. Mas, no â mbito nacional, os descontentamentos represados manifestaram-se com
toda a força quando Joã o Pessoa, o candidato a vice-presidente na chapa perdedora, foi
assassinado em Recife. Os â nimos se exaltaram e desencadearam o movimento armado
de outubro de 1930, que tenderia a mudar a política nacional e local.
Em meio a contradiçõ es, pode-se dizer que as repercussõ es do movimento
tenentista em Sergipe foram bastante significativas. Sendo o ú nico Estado do Nordeste
onde houve revoltas expressivas lideradas por militares, os eventos tiveram vá rios
desdobramentos internos. Geraram um líder que permaneceu influente despertando
simpatias e esperanças. Como numerosas pessoas envolveram-se nos episó dios e foram
processadas, surgiram formas de resistência, laços de solidariedade interna e novas
açõ es políticas, alimentando uma cultura oposicionista mais abrangente. Com a vitó ria
de outubro de 1930, esses precedentes tenderiam a favorecer as transformaçõ es que
viriam a ocorrer.
41

QUADRO I
SUCESSÃ O DOS GOVERNANTES DE SERGIPE (1899-1930)

Presidentes do Estado de Sergipe Concorrentes da


Oposiçã o
Período Nome do Profissã o Votaçã o Mandato de Nome Votaçã o
administra- Presidente Senador
tivo
1899-1902 Olímpio Campos Padre 7.555 1903-1906 M. P. Oliveira 390
Valadã o
1902-1905 Josino Menezes Farmacêutico 7.9931 Leandro R. S. 996
Maciel
1905-1908 Guilherme de S. Desembargad 6.154 1909-1917
Campos or
1908-1911 J. Rodrigues Dó ria Médico 5.872
1911-1914 J. Siqueira de Militar 7.199 1915-1923
Menezes
1914-1918 M. P. Oliveira Militar 8.164 1907-1914;
Valadã o 1919-1921
1918-1922 J. J. Pereira Lobo Militar 6.796 1914-1918;
1923-1930
1922-1926 M. Graccho Advogado 8.693 1922 Gonçalo 366
Cardoso Rolemberg
11.1926 a Cyro Azevedo Diplomata 11.659
01.1927
1927-1930 Manoel C. Dantas Usineiro 11.903
1930 Francisco S. Negociante 17.038
Porto2

1
Da votaçã o de 1902, a fonte nã o dispunha do resultado de Santo Amaro.
2
Francisco Porto nã o chegou a tomar posse em face da Revoluçã o de 1930.

2
42

1.3 O Processo Econômico-social

Durante a Primeira Repú blica, a principal fonte de financiamento da economia


nacional era a exportaçã o de produtos primá rios, especialmente o café e o açú car.
Em Sergipe, o açú car e, num segundo plano, o algodã o eram os elementos mais
importantes da economia, integrados no modelo agroexportador, sob a predominâ ncia
do capitalismo mercantil. Mas a pecuá ria juntamente com as culturas de subsistência
também ocupavam espaço relevante, principalmente no agreste e no sertã o.
O açú car era exportado através das barras dos rios, especialmente do porto de
Aracaju. No início do século, saíam de Sergipe cerca de 200 embarcaçõ es com destinos
variados. A maioria dirigia-se para portos nacionais, mas uma pequena parte saía para
Nova York, Liverpool ou Hamburgo.71 A dificuldade crescente de exportaçã o para o
mercado externo, a partir da década de dez, contribuiu para que o comércio se realizasse
sobretudo com os Estados do Sudeste (Rio de Janeiro e Sã o Paulo) e do Sul (Paraná e Rio
Grande do Sul).72
No início dos anos noventa, a questã o da mã o de obra e a carência de
lucratividade na produçã o açucareira resultaram em crise generalizada, afetando vá rios
Estados. No caso específico de Sergipe, as dificuldades em encontrar pessoas para
trabalhar na fabricaçã o de açú car e nas lavouras das fazendas nã o se limitaram à ú ltima
década do século XIX. Nos anos seguintes, o problema continuou com variada
intensidade, estimulado por alguns movimentos. As emigraçõ es para outras regiõ es e o
recrutamento para construir a estrada de ferro foram alguns dos fatos responsá veis pelo
aumento da escassez de mã o de obra.73 Esses acontecimentos, associados com a elevaçã o
dos preços dos produtos de exportaçã o, estimularam os produtores a modernizarem
seus centros industriais. Essa tendência persistiu até pelo menos 1930, alterando o
perfil dos proprietá rios. Tornou-se sinal de prosperidade e prestígio passar de senhor de

71
Cf. Mons. Olímpio de Souza Campos. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em
07.09.1902. Aracaju: Empresa de “O Estado de Sergipe”, 1902. Se incluirmos as embarcaçõ es pequenas, como canoas,
saveiros, jangadas, barcadas, lanchas, patachos, cluper, iates, vapores, balieiras, botes e logares, somente no porto de
Aracaju em 1899 foram matriculadas 661 unidades. Laudelino de Oliveira Freire. Quadro Chorográgico de Sergipe.
Paris: H. Garnier, 2. ed., 1902. p. 67.
72
Ver Josué Modesto dos Passos Subrinho. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no nordeste
açucareiro, Sergipe 1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000. p. 209-210.
73
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. cit. cap. VII.
43

engenho para usineiro. Dentro dessa tendência, o nú mero dos banguês decresceu
bruscamente e o de usinas aumentou, conforme pode ser observado pelo quadro abaixo.

QUADRO II
CENTROS DE PRODUÇÃ O DE AÇÚ CAR (SERGIPE –1903-1930)

ANOS ENGENHOS BANGUÊ S USINAS


1903 1
643 14
19172 329 54
19273 220 86
19304 - 86
Fontes:
1. Josino Menezes. Mensagem à Assembleia Legislativa, em 07.09.1903. Aracaju: Typografia
d’Oeste de Sergipe, 1903, p. 44-5
2. Manoel P. de Oliveira Valadã o. Mensagem à Assembleia Legislativa em 7.9.1917. Aracaju:
Imprensa Oficial, 1917, p. 27.
3. Inspetoria Agrícola do 10o Distrito, Ministério da Agricultura e APES, Pacotilha 936, apud Josué
Modesto dos Passos Subrinho. História Econômica de Sergipe (1850-1930). Aracaju: UFS,
Programa Editorial da UFS, 1987, p 72 e 75.
4. Armando Barreto (org.). Cadastro de Sergipe. Aracaju, 1933, p. 141-2.

Diante do grande declínio da quantidade dos engenhos banguês, parecia que


para os proprietá rios dessas unidades somente restavam duas alternativas:
modernizarem-se ou encerrarem suas atividades de produtores e virarem fornecedores
de cana para as grandes unidades dotadas de maior produtividade. Embora a médio
prazo essas opçõ es terminassem predominando, de imediato ainda havia possibilidade
de resistência, mesmo porque a esmagadora maioria daquelas empresas, que passaram
a ser chamadas de usinas, sofreu pequena transformaçã o tecnoló gica, pois nã o tinha o
porte das que existiam em Pernambuco e Alagoas. Como seus proprietá rios investiam
pouco, passaram a ser qualificadas de “meia-usinas” e mais jocosamente de “banguês
enfeitados”. Daí Sergipe ser considerado a “repú blica das meias usinas”, pois as
“completas”, em 1917, nã o passavam de quatro,74 entre as quais a Usina Central,
conhecida como das mais bem aparelhadas do país.
É certo que as reformas por que passaram, por menor que tenham sido,
contribuíam para ampliar a produtividade, mas os custos por vezes se tornavam mais

74
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob.cit. p. 222.
44

elevados do que os dos engenhos tradicionais. Entretanto, essa modernizaçã o75 nã o foi
suficiente para elevar a produçã o para os níveis do período 1881-1887. De 1891 a 1929,
a média anual nã o passou de 24.629 toneladas, aliá s bem distanciada daquela fase
anterior que fora de 41.590 toneladas.76 Também nã o evitou que Sergipe fosse perdendo
posiçã o diante das demais unidades da federaçã o. Enquanto no período 1890-1900,
nossa produçã o correspondia 8,6% do cô mputo nacional, de 1921 a 1930 ficamos com a
média de 2,6%.77
De qualquer forma, continuavam os seus centros de produçã o açucareira como
a principal fonte de riqueza, em face dos lucros proporcionados aos proprietá rios, dos
impostos arrecadados aos cofres pú blicos e dos empregos que geravam. Pelos idos de
1916, dados fornecidos por 32 usinas e 124 engenhos revelaram que nas primeiras
havia 1.441 operá rios e nos ú ltimos 3.379 trabalhadores.78
Depois do açú car, num segundo plano, vinha o algodã o que era cultivado
sobretudo no agreste e no sertã o pelos pequenos proprietá rios. Daí ser chamado de
cultura de pobre que, no entanto, gerava efeito econô mico significativo, sobretudo nos
municípios onde o cultivo da cana era impró prio. Pelo menos até 1911, o valor da
exportaçã o de algodã o superava a dos tecidos mas, a partir de 1913, a situaçã o inverteu-
se.
A pecuá ria nã o parava de crescer apesar de grande parte das terras ser ocupada
com a plantaçã o de cana e de algodã o. Pelo menos de 1912 para 1920, o aumento
registrado foi expressivo, mesmo numa fase em que os preços do açú car estavam
bastante elevados. Sobretudo a pecuá ria bovina expandia-se com alguma absorçã o de
mã o de obra na formaçã o e na manutençã o das pastagens. Coexistindo com a economia
exportadora e a pecuá ria, havia a produçã o agrícola de subsistência, ocupando vasta
á rea do Estado, mantendo uma populaçã o rural significativa que comercializava o
excedente nas feiras das cidades e das vilas.79 De qualquer forma, o setor rural absorvia
o grosso da força de trabalho da populaçã o sergipana, grande parte da qual ex-escravos
com nível de organizaçã o baixo e, portanto, sem grande poder de reivindicaçã o.
75
O termo modernizaçã o aparece aí como melhoria técnica com consequências sociais.
76
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob.cit. p. 207.
77
Josué Modesto dos Passos Subrinho. História Econômica de Sergipe (1850-1930). Aracaju: UFS, Programa Editorial
da UFS, 1987, p. 67.
78
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. cit., 1987, p. 75.
79
Ver Antô nio José Nascimento. A Economia Sergipana e a Integração do Mercado Nacional (1930-1980). Dissertaçã o
de Mestrado apresentada na UNICAMP, Campinas, 1994, p. 20.
45

Nã o obstante a grande importâ ncia econô mica das atividades rurais, na á rea
urbana progrediam vá rios ramos da indú stria e dos serviços. Entre as exploraçõ es
industriais, aquela que mais ocupava mã o de obra era a fá brica de tecidos. A primeira foi
instalada em Aracaju em 1882, depois outras foram aparecendo. Em 1918 o quadro era
o seguinte.

QUADRO III
FÁ BRICA DE TECIDOS DO ESTADO DE SERGIPE (1918)

Ano de
No de No de
Criação e Nome da Fábrica Firma Social Capital
Teares operários
Município
1882- Sergipe Industrial Cruz, Ferraz e Cia 1.000.000$ 320 702
Aracaju
1918- Fá brica Confiança Ribeiro Chaves & 600.000$ 230 425
Aracaju Cia
1891- Santa Cruz Cia Industrial de 1.250.000$ 300 530
Estâ ncia Estâ ncia
1914- Senhor do Bonfim Silveira, Ribeiro & 800.000$ 186 380
Estâ ncia Cia
1913- Empresa Industrial Brittos, Menezes & 600.000$ 170 400
Propriá de Propriá Cia
1915- Sã o Empresa Industrial Andrade Chaves & 1.000.000$ 220 316
Cristó vã o de S. Cristó vã o Cia
1906-Vila Fá brica de Fiaçã o e Peixoto, Gonçalves 1.000.000$ 250 580
Nova Tecs. de Algodã o & Cia
Vila Nova Empresa Têxtil A. Antunes & Cia 300.000$ 120 330
TOTAL 1.796 3.663

FONTE: Manuel P. de Oliveira Valadã o. Mensagem dirigida à Assembleia Legislativa de Sergipe


pelo Presidente do Estado ao instalar-se a 2ª sessã o ordiná ria da 13ª legislatura, em 15 de julho
de 1918. Aracaju: Imprensa Oficial, 1918.

Distribuída em cinco municípios diferentes, a atividade têxtil foi participando do


mercado nacional e assumindo importâ ncia crescente na economia do Estado. A maioria
das fá bricas utilizava a lenha como combustível, apenas a Senhor do Bomfim e a
Industrial de Propriá usavam petró leo. Em todas elas, o contingente de operá rios era
bastante elevado, notando-se a predominâ ncia do sexo feminino, exceto na de Vila Nova,
onde a quantidade de homens superava a de mulheres.
46

Além das têxteis, outras indú strias de transformaçã o apareciam conforme pode-
se avaliar pelos dados abaixo.

QUADRO IV
ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS E OPERÁ RIOS - SERGIPE (1907-1930)

Empresas/Operá rios 1907 1 1920 2 1930 3


Unidades em Geral 41 237 -
- Operá rios 1.742 5.386 -
Fá bricas Têxteis 04 07 11
- Operá rios 1.288 4.320 -
Fontes:
1. Censo de 1907.
2. Censo de 1920.
3. Armando Barreto (org). Cadastro de Sergipe. Aracaju, 1935. p.101-07.

Como observou o historiador Josué Modesto dos Passos, a economia estadual


continuou com baixo dinamismo, perdeu posiçã o relativa nas exportaçõ es, mas houve
uma recriaçã o das atividades, proporcionando diferenciaçã o produtiva.80
Essa diferenciaçã o era de certo modo facultada pela pequena concorrência dos
produtos de outras localidades, especialmente dos demais Estados. Como o está gio de
integraçã o inter-regional ainda era relativamente diminuto, as iniciativas econô micas
locais passavam a contar com uma demanda relativamente segura, diante do baixo nível
de concorrência. Na conjuntura da Primeira Guerra (1914-18), marcada por restriçõ es
das importaçõ es da Europa, essa tendência ainda mais se acentuou, favorecendo nã o
apenas as indú strias locais, mas também as atividades comerciais internas. Como as
exportaçõ es de nosso principal produto, o açú car, eram destinadas a essa altura para os
Estados do Sudeste ou do Sul, o empresariado pouco se ressentiu dos efeitos daquele
conflito mundial. Talvez nã o seja mera coincidência que, nesse período, alguns grupos
familiares estabeleceram-se na capital, grande parte proveniente do interior com origem
na pecuá ria ou no pró prio comércio.
Segundo informaçã o de um memorialista, o comércio de Aracaju, por volta de
1920, era “o comércio da Rua da Aurora, da Banca de Peixe, dos sobradõ es pesados e

80
Josué Modesto dos Passos Subrinho. Ob. Cit., p. 72-92. Quanto aos estabelecimentos industriais e aos operá rios, este
autor, baseado em outras fontes, encontrou nú meros diferentes.
47

melancó licos” com a presença de italianos e vá rios portugueses.81 Mas, por esse tempo,
já se notava a movimentaçã o crescer, a Associaçã o Comercial animar-se, construindo
nova sede,82 consequências da elevaçã o dos preços dos produtos de exportaçã o
associada à dinâ mica administraçã o de Graccho Cardoso (1922-1926). Nã o foi sem razã o
que vá rios empresá rios transferiram-se do interior para a capital, que se afirmava como
principal nú cleo econô mico. Se A. Fonseca chegou em 1902 e Ribeiro e Cia já estava
instalado desde pelo menos 1906, a maioria veio depois: Jú lio Prado Vasconcelos (1918),
Aguiar e Irmã o e Cia (1922), José Menezes Prudente (1925), J. C. Barreto (1926), P.
Franco e Cia (1928), entre outros. O fato é que o faturamento crescia e dessa
prosperidade beneficiava-se sobretudo a capital em detrimento dos municípios do
interior, especialmente daqueles mais pró ximos, como Laranjeiras e Maruim. Nã o
obstante os problemas que haveriam de deparar-se em face das políticas econô mico-
financeiras do governo federal, estes estabelecimentos foram demonstrando ao longo do
tempo grande capacidade de sobrevivência.
Quanto à s instituiçõ es financeiras, vimos que o governo Josino Menezes criou o
Banco de Sergipe, em 1905, que funcionou com alguma eficá cia até 1918. Com a
ascensã o de Pereira Lobo e sua indisposiçã o com o coronel Francino de Andrade Melo,
um dos seus principais acionistas, tudo indica que a crise que já afetava aquela
instituiçã o acentuou-se e persistiu até 1934 quando o Banco foi liquidado
judicialmente.83 Onze anos depois dessa primeira iniciativa, foi instalada a agência do
Banco do Brasil, em 1916.84 Graccho Cardoso criou o Banco Estadual de Sergipe, em
1923, em situaçã o nã o muito sustentá vel e no ano seguinte aparecia a primeira casa
bancá ria sob controle de particulares, o Banco Mercantil Sergipense, de Gonçalo
Rolemberg do Prado. Em 1925, foi fundado o Banco de Crédito Popular, em Maruim, de
Aureliano Azevedo Barreto e Octá vio de Mello Dantas. Há notícias de que em 1928 o
presidente Manuel Dantas e empresá rios teriam tentado criar o Banco dos Lavradores,
mas nã o chegou a funcionar. Da mesma forma, houve também a pretensã o de organizar
em Aracaju um Banco de Crédito Popular que nã o foi adiante. Além dessas iniciativas, há
81
Má rio Cabral. Espelho do Tempo: memó rias e reflexõ es. Salvador: Artes Grá ficas, 1973.
82
Ver Maria Nely Santos. Associação Comercial de Sergipe. Uma Instituiçã o Centená ria (1873/1993). Aracaju: 1996, p.
22-29.
83
Cf. Josino Menezes. Mensagem Apresentada à Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe em 07.09.1905, Aracaju:
Empresa de O Estado de Sergipe, 1905, p. 40. e Fá bio Maza. As Origens do Sindicato dos Bancá rios de Sergipe in
Cadernos da UFS: História, Sã o Cristó vã o/SE: UFS/EDUFS, 1996, p. 80 .
84
Cf. Alberto Carvalho. Dispersa Memória, Aracaju: Acê, 2001.
48

informaçõ es da existência da Caixa Econô mica, sem falar da Phenix Econô mica, uma
sociedade de crédito popular, que teria funcionado com apoio do padre Solano Dantas
de Menezes voltada para a populaçã o de menor recurso.85
Nã o obstante as açõ es do Estado em vá rios campos administrativos, a sociedade,
através dos seus empresá rios, ocupou bastante espaço nessa fase. A iluminaçã o através
do gá s acetileno, a instalaçã o dos carris urbanos a traçã o animal, a encanaçã o de á gua, a
primeira estrada de rodagem,86 tudo deveu-se à s iniciativas dos grupos privados. Nos
anos vinte, Antô nio do Prado Franco (1880-1939) foi certamente quem mais participou.
Depois de arrecadar a Usina Central no Rio de Janeiro, através de leilã o, e adquirir a
parte dos só cios, progrediu e tomou parte ativa nos empreendimentos do governo
Graccho Cardoso (1922-26). A construçã o do Mercado Municipal e do Matadouro
Modelo, a substituiçã o dos bondes a burros por elétricos, tudo teve a sua participaçã o
ativa, de forma associada a Francino de Andrade Melo ou como só cio majoritá rio da
empresa de Melhoramentos de Aracaju,87 contribuindo assim para a modernizaçã o dos
serviços pú blicos de Sergipe.
O perfil de província monocultora, que marcou o período do Império, foi sendo
modificado com a diversificaçã o de atividades sem precedentes em Sergipe, alterando o
quadro social que adquiria maior densidade. Embora na primeira década republicana as
opçõ es de trabalho estivessem concentradas no campo, nos engenhos ou nas fazendas,
paulatinamente as indú strias e os serviços, inclusive as casas comerciais, foram
proliferando88 no meio urbano e com elas aumentando o contingente de empregados.
Como a Constituiçã o de 1891 estabeleceu a nã o intervençã o do Estado no trabalho, as
relaçõ es entre o patronato e os obreiros dependiam da força de cada parceiro.
Percebendo suas fragilidades, os trabalhadores urbanos foram criando suas
sociedades. Inicialmente eram de cará ter beneficente e de socorros mú tuos, como
tentativas embrioná rias de organizaçã o. Mas o movimento foi crescendo com a ediçã o de
seus jornais perió dicos: O Operário (1891, 1896, 1910-11, 1916) e Voz do Operário

85
Cf. Armando Barreto. Cadastro de Sergipe. 1949/50, n. 3, Aracaju, 1950 e Mensagem apresentada à Assembleia
Legislativa, em 7 de setembro de 1925, ao instalar-se a 3ª sessão ordiná ria da 15ª Legislatura, pelo Dr. Maurício
Graccho Cardoso, Presidente do Estado, Imprensa Oficial, Aracaju: 1925, p. 124.
86
Ver Edilberto Campos. Crônicas da Passagem do Século, volumes 1/6, 1965-1970.
87
Cf. Sílvio Leite Franco. Comentá rios sobre o artigo ‘a usina e o fornecedor’. Jornal da Cidade, 03/1993.
88
Cf. Josué Modesto dos Passos Subrinho. A Indú stria Têxtil em Sergipe: Gênese, crescimento e Limites de uma
Indú stria Periférica. In: Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hanse (Orgs.) Economia Regional & Outros Ensaios. Aracaju:
UFS/Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001, p.199.
49

(1920-25 e 1927-29), divulgando seus problemas, denunciando abusos do patronato e


expressando suas reivindicaçõ es, algumas inclusive de inspiraçã o socialista. Um grande
avanço nesse processo organizativo foi a criaçã o do Centro Operá rio Sergipano em 1910,
como uma tentativa de aglutinar os trabalhadores. O referido Centro era também
frequentado por jovens estudantes, das camadas médias, que muitas vezes faziam uso da
sua tribuna com discursos de tendências variadas. A discussã o ampliou-se com a
propagaçã o do movimento socialista em vá rias partes do mundo e a eclosã o da
revoluçã o dos soviéticos (1917), gerando muitas controvérsias, num momento em que
era difícil avaliar o significado da açã o dos bolcheviques. Um exemplo disso foi a criaçã o
do Centro Socialista Sergipano (1918), que alcançou os grupos intelectualizados. Nã o
obstante o entusiasmo de alguns, provocou desconfianças, começou a demarcar posiçõ es
e encontrar dificuldades para sua expansã o. Apesar disso, a questã o social ganhava
espaço e a presença dos trabalhadores dentro da sociedade crescia. No período 1910-
1913, os ajuntamentos dos trabalhadores da estrada de ferro geraram alguns problemas
policiais e judiciais de certa repercussã o. Com o fim das obras, houve a dispersã o e as
tensõ es desapareceram. Em Aracaju e um pouco nas cidades onde havia fá bricas de
tecidos absorvendo muitos operá rios, a questã o social começou a merecer mais atençã o.
Os conflitos entre capital e trabalho foram adquirindo mais visibilidade e os movimentos
reivindicató rios crescendo, embora de forma um tanto descontínua.
Em Sergipe, há notícias de algumas tentativas de paralisaçã o em Maruim (1891)
e sobretudo em Aracaju (1911, 1915, 1916, 1921, 1927), mas somente as duas ú ltimas
tiveram algum sucesso, mesmo porque as retaliaçõ es dos detentores do capital
costumavam ser bastante fortes. A de 1921, que reivindicava diminuiçã o das horas de
trabalho, provocou reuniã o dos empresá rios do setor, enquanto o presidente
intermediava o litígio. A ú ltima (1927) dos ferroviá rios parou os trens por 19 dias.89
A discussã o sobre a necessidade de regulamentaçã o do trabalho, que vinha se
travando desde o início do século, ganhou dimensã o com as manifestaçõ es de
intelectuais sergipanos. Políticos como Graccho Cardoso, Deodato Maia e Carvalho Neto
empenhavam-se para normatizar as relaçõ es de trabalho. Este ú ltimo conseguiu que
fosse aprovado na Câ mara dos Deputados (1926) seu projeto de emenda à Constituiçã o

89
Sobre essas greves, ver José Ibarê Costa Dantas. Notícias de Greves em Sergipe (1915-30). Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, n. 31, 1992.
50

Federal, permitindo ao Estado legislar sobre as relaçõ es entre o capital e o trabalho. A


ideia de que o Estado nã o deveria imiscuir-se na á rea social chegou à s vésperas dos anos
trinta bastante desgastada.
No conjunto, nos quarenta anos da Primeira Repú blica, o Estado sofreu
sensíveis transformaçõ es. A urbanizaçã o cresceu. Sobretudo em Aracaju as mudanças
foram grandes. O nú mero de habitantes, que era de 16.336 (1890), ampliou-se para
50.564 (1930).90 A cidade inó spita do fim do século passado passou a ser atrativa. Os
pâ ntanos foram substituídos por bonitas praças. As condiçõ es sanitá rias evoluíam. Na
terceira década, a capital foi se impondo como opçã o de morada. Pró speros
proprietá rios do campo e da cidade, sobretudo depois de 1914, foram investindo,
construindo seus palacetes em estilo predominantemente eclético. Nesse processo as
reformas foram expulsando os pobres para a periferia. O bairro Chica Chaves, que
depois seria denominado de industrial, foi-se tornando mais populoso.
As formas de entretenimento, que no início do século XX eram tã o restritas,
foram se diversificando. Além do teatro e do cinema, sobre os quais falaremos adiante,
paulatinamente passaram a ser cultivados os esportes. Por volta de 1907 começaram as
primeiras partidas de futebol na praça da Cadeia, hoje general Valadã o. Depois passaram
para outras praças (Fausto Cardoso e Pinheiro Machado). Os clubes Cotinguiba e Sergipe
(1909) surgiram voltados para as regatas e somente depois se integram à prá tica do
futebol. Com o tempo, outros times foram se estruturando, começaram os campeonatos
(1918), fomentando espaços mais apropriados, fato que se concretizaria com a
construçã o em Aracaju do está dio Adolfo Rolemberg (1920). 91 As fá bricas de tecidos da
capital e do interior, empenhadas em preencher o lazer de seus empregados, foram
também promovendo a formaçã o de times, como o Industrial (1917), e a prá tica dos
esportes foi se firmando no curso da Primeira Repú blica.
Enquanto isso, a infraestrutura da capital foi melhorando e dando oportunidade
a outros há bitos num momento de transformaçõ es nos meios de comunicaçã o. Os
primeiros telefones foram inaugurados em 1911. A chegada do trem em 1913 encurtava
distâ ncias entre determinadas cidades do Estado e entre Sergipe e Bahia. Por esse tempo

90
Quadros Estatísticos de Sergipe, IBGE-Departamento de Estatística Geral e Publicidade. Aracaju: Imprensa Oficial,
1938, p. 8-10.
91
Cf. Fernando de Figueiredo Porto. Alguns nomes antigos de Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2003, p. 123 e 183 e
Francisco Viana Filho. Futebol Sergipano in Memó rias de Sergipe, Correio de Sergipe, 02.11.2003.
51

chegou também o primeiro automó vel, cujo uso como opçã o de transporte se afirmaria a
partir de 1918-1919,92 fomentando as primeiras estradas de rodagem (1917-1918). As
viagens, antes restritas ao carro de boi, ao cavalo ou à s barcas, encontravam nova
alternativa, redefinindo o tempo do homem.
Atrá s do primeiro carro nã o demoraram a chegar outros. Contudo, os veículos
de pneus e motor de explosã o exigiam reparos, rodovias, demandando a partir de entã o
novos serviços. Inicialmente apareciam como demonstraçã o de importâ ncia e riqueza,
mas aos poucos foram sendo encarados também como utilidade. Em 1929 já existiam no
Estado 152 automó veis e cinco caminhõ es. Era um momento em que a importaçã o se
acelerava de forma que, em 1930, já se contavam 346 carros, 51 caminhõ es e 32
ô nibus.93 Os calçamentos que vinham sendo feitos em pedra bruta, passaram a ser
realizados com paralelepípedos.
Numa manhã de sol de 1922, “Aracaju amanheceu alvoroçada. Muita gente na
rua. Os colégios cerraram as portas. O comércio cerrou as portas” e depois de ansiosa
espera apareceu o primeiro aviã o que sobrevoou Aracaju. “Depois, em julho de 1923,
amerissou no Rio Sergipe uma esquadrilha de hidroaviõ es. Espocaram foguetes.
Repicaram sinos. Silvaram os apitos das fá bricas”. A tripulaçã o foi recebida com todas as
honras com discursos e baile no Palá cio.94 Era um novo meio de transporte que
começava a se firmar, modificando costumes estabelecidos.
É verdade que os avanços traziam também custos. A chegada do trem
intensificava a devastaçã o das matas. Primeiro com a extraçã o de madeira para os
dormentes, depois a necessidade de lenha para alimentar as locomotivas incentivou a
derrubada continuada das á rvores. Em seguida, os terrenos viravam roças, plantaçõ es
de algodã o e, afinal, pastagens para a pecuá ria em ascensã o. As estradas de rodagem
foram sendo abertas ano apó s ano a partir de 1917 e, desde entã o, foram contabilizando
novos encargos expressivos.95 O fato é que a sociedade que se modernizava ia
produzindo novas demandas inclusive nas relaçõ es sociais.
A sociabilidade que se processava nos bondes entre as diversas classes foi-se
reduzindo com o transporte individual, segmentando e diferenciando os grupos pela
92
O primeiro carro foi uma fobica (Ford) de Arnon Coelho. Cf. Má rio Cabral. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Livraria
Regina Ltda., 1955, p.25 e Fernando de Figueiredo Porto. Ob. cit., 2003, p. 175.
93
Quadros Estatísticos de Sergipe, IBGE. Aracaju: Imprensa Oficial, 1938, p. 28.
94
Má rio Cabral. Espelho do Tempo. Salvador: Artes Grá ficas, 1973, p. 53-54.
95
Ver Edilberto Campos. Crônicas da Passagem do Século, volume 4, 1969, p. 71-75.
52

capacidade de consumo. Começava a era do automó vel, aumentando a velocidade dos


deslocamentos, redefinindo o tempo, reorientando os investimentos, distanciando as
pessoas entre si e refazendo há bitos da populaçã o.
Nas atividades culturais, também se registraram grandes transformaçõ es,
afetando o ensino, as artes e a ciência.

1.4 Manifestações Culturais

Ao longo da Primeira Repú blica, nã o obstante as limitaçõ es do meio, as açõ es


culturais foram se sucedendo com a participaçã o de indivíduos e grupos, envolvendo
instituiçõ es privadas e pú blicas, num processo de realizaçõ es nem sempre marcado pela
regularidade.
Os estabelecimentos de ensino aparecem como local de aprendizado e também
como fontes de cultura. Ao longo das quatro décadas do período em aná lise, o nú mero
de cadeiras do curso fundamental expandiu-se em maior proporçã o do que o
crescimento da populaçã o.96 A partir de 1910 começaram a ser construídos os grupos
escolares, separando os alunos por séries. No nível médio, além da construçã o dos
prédios novos para abrigar o Atheneu, tradicional colégio pú blico, criado nos anos
setenta do século XIX, e a Escola Normal, destinada à s moças, houve ampliaçã o de vagas.
A demanda foi sendo atendida com a abertura de novas instituiçõ es particulares em
Aracaju: Nossa Senhora de Lourdes (1903), Grêmio Escolar (1906), Tobias Barreto
(1909), Salesiano (1911) e Instituto América (1920).97 No interior, pelo menos duas
congregaçõ es de religiosas criaram colégios exclusivos para meninas do curso primá rio:
o Nossa Senhora das Graças em Propriá (1915) e o Imaculada Conceiçã o em Capela
(1929).98 Na capital, foi de grande importâ ncia o aparecimento de estabelecimentos
voltados para o ensino profissional, fornecendo alternativas para os jovens de menor
poder aquisitivo: Escola de Aprendizes Artífices (1911), Liceu Profissional Coelho e
96
Enquanto a população passara de 310.926 habitantes (1900) para aproximadamente 527.000 (1930), compondo
um índice de crescimento de 69%, o total de matrículas nas escolas pú blicas primá rias do Estado subiu de 5.146 para
16.864, aumentando 269%. Cf. Maria Thetis Nunes. Ob. cit., 1984, p. 264.
97
O Grêmio Escolar foi transferido para Aracaju em 1909 e o Tobias Barreto em 1913. Cf. Ester Fraga Vilas-Boas
Carvalho do Nascimento. A Escola Americana de Aracaju in Revista de Aracaju, Ano LIX, n. 9, 2002, p.63. Há
discordâ ncias sobre a data de criação do Salesiano entre 1909 e 1911.
98
Cf. Maria Thétis Nunes. Ob. cit., 1984, p. 250.
53

Campos (1923), Instituto de Química (1923), Escola de Comércio Conselheiro Orlando


(1926).99
Para quem dispunha de poucos recursos e aspirava ao curso superior, as opçõ es
continuavam restritas e localizadas fora do Estado. De forma gratuita havia apenas as
alternativas das escolas militares (do Exército e da Marinha) e dos seminá rios.
Raríssimos foram aqueles que se beneficiaram do mecenato do governo. Os oficiais do
Exército recebiam formaçã o técnica e humanística, razã o por que quando deixavam a
corporaçã o muitas vezes buscavam no ensino meios de sobrevivência. O exemplo dos
sergipanos que foram desligados da Escola da Praia Vermelha, em face da Revolta de
1904, é emblemá tico. José de Alencar Cardoso (1878-1964), Arthur Fortes (1881-1944)
e Abdias Bezerra (1880-1944), ao regressarem para sua terra, afirmaram-se como
personalidades que proporcionaram grande contribuiçã o à educaçã o e à cultura em
Sergipe.
Para os estudantes de famílias de posse, as opçõ es mais comuns eram as
Faculdades de Direito de Recife, do Rio de Janeiro e de Sã o Paulo ou a Faculdade de
Medicina da Bahia, onde, ao lado das instruçõ es técnicas, também se cultivavam os
estudos humanísticos. Quem provinha de Pernambuco geralmente voltava influenciado
pelas ideias de Tobias Barreto (1839-1889) que, apesar de desaparecido, deixara muitos
discípulos, partícipes da chamada Escola de Recife. Em Sergipe, os bacharéis
reverenciavam sua memó ria, difundiam suas ideias cientificistas, davam continuidade à s
suas reflexõ es filosó ficas e exaltavam suas atitudes de intelectual irreverente e
desafiador dos câ nones vigentes. Aqueles que regressavam da Faculdade de Medicina da
Bahia também chegavam imbuídos das concepçõ es evolucionistas e cientificistas. As
teses exigidas para formatura estimulavam os estudantes a sintonizarem-se com o
espírito científico da época. De volta a Sergipe, muitas vezes integravam-se entre seus
pares e contribuíam para elevar o nível do ambiente, inclusive ajudando a fundar
instituiçõ es como a Sociedade Médica de Sergipe (1910), a Sociedade de Medicina e
Cirurgia de Sergipe (1921), o Instituto Parreiras Horta (1923), a Sociedade Odontoló gica
de Sergipe (1928).100 Essas entidades, além de manifestarem cará ter científico, exerciam
também o papel de organizaçã o profissional. A partir de 1911, a Bahia, que de muito
99
Cf. Cristiane Vitó rio de Souza. A “República das Letras” em Sergipe (1989-1930). Sã o Cristó vã o, UFS, 1998.
Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p. 50.
100
Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998. p. 86-92.
54

tempo ofertava os estudos de Medicina, passou a oferecer também o curso de Direito,


ampliando as alternativas dos sergipanos. E a leva de bacharéis continuou aumentando,
marcando nossa cultura.
As experiências de ensino superior foram iniciadas em Sergipe pela Igreja
Cató lica.101 Apó s a criaçã o da sua Diocese (1910), no ano seguinte assumiu o primeiro
bispo d. José Tomá s Gomes da Silva que instalou o Seminá rio (1913) com os estudos de
filosofia e teologia. Aí foram ordenados vá rios prelados que depois se tornaram
importantes nomes do episcopado nacional.102 Vimos que no governo Graccho Cardoso
(1922-26) foram criadas as Faculdades de Direito e a de Farmá cia e Odontologia, mas
nã o vingaram.
Ligada ao Seminá rio, foi criada a Academia Santo Tomá s de Aquino, como centro
de estudos e debates. Ao tempo em que incentivava a boa formaçã o do clero, d. José
Tomá s animou os meios cató licos com outras iniciativas. Instalou “conferências
eclesiá sticas”, realizou 43 visitas pastorais, percorrendo praticamente todo o Estado,
pregando diante de pú blicos numerosos.103 Fora do circuito da Igreja Cató lica, havia a
atuaçã o da Maçonaria, dos protestantes, batistas e adventistas do sétimo dia, mas sem
oferecerem estudos de nível superior e com influência ainda relativamente pequena.104
Os protestantes ainda tiveram uma certa presença com a organizaçã o de uma Escola
Americana em Laranjeiras (1886), sob a orientaçã o de presbiterianos, que depois
(1898) passaram a ensinar em Aracaju. Mas a experiência foi-se enfraquecendo. Os
missioná rios foram embora e, a partir de 1905, o Colégio reduziu-se à escola paroquial,
oferecendo apenas curso primá rio que provavelmente teria sobrevivido até 1913.105
Paralelamente à s prá ticas de ensino, foram surgindo grupos e instituiçõ es
privadas ou pú blicas, institucionalizados ou nã o, voltados para estimular o
desenvolvimento cultural do meio. No interior do Estado, nasceram alguns centros
culturais, dos quais os mais citados sã o o Gabinete de Leitura de Maruim, o Gabinete de
101
Ver Maria Thétis Nunes. Ob. cit., 1984. Itamar Freitas. A Casa de Sergipe. Historiografia e Identidade na Revista do
Instituto Histórico Geográfico de Sergipe. Dissertaçã o de Mestrado na UFRJ, RJ, 2000.
102
Cf. Jackson da Silva Lima. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995. p. 128-
132. Ver também José Calazans. O desenvolvimento cultural de Sergipe na primeira metade do século XIX. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, n. 26, 1965, p. 123-134.
103
Cf. Péricles Morais de Andrade Jú nior. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Cató lica em Sergipe (1831-1926).
Dissertaçã o de Mestrado no NPPCS, São Cristó vã o/SE, UFS, p. 92-99.
104
Enquanto os evangélicos passaram a atuar em Sergipe em 1884, os batistas chegaram em 1913 e adventistas do
sétimo dia em 1923. Cf. Itamar Freitas. Projeto Aracaju que conheço, Aracaju, 1998, p. 35. (mimeo)
105
Cf. Ester Fraga Vilas-Boas Carvalho do Nascimento. A Escola Americana de Aracaju in Revista de Aracaju, Ano LIX, n.
9, 2002.
55

Leitura de Riachuelo, a Casa do Livro de Capela, Gabinete de Leitura Tobias Barreto.


Propriá , Boquim, Laranjeiras, Estâ ncia e Frei Paulo também dispunham de entidades
culturais.106
Na capital temos registros de: Clube Literá rio 24 de Julho (1898), a Liga
Sergipense contra o Analfabetismo (1916), Centro Pedagó gico Sergipano (1918), Grêmio
Tomaz Cruz (1918), Hora Literá ria Santo Antô nio (1919), Sociedade Ensaios Literá rios e
Horas Literá rias Sílvio Romero, Tobias Barreto, Fausto Cardoso e Gumercindo Bessa, o
Clube Literá rio Tobias Barreto e a Academia Sergipana de Letras (1929), que teria sido
um desdobramento da Hora Literá ria de Aracaju, nascida em 1919. 107 Alguns desses
grupos tiveram vida e atuaçã o efêmeras, mas outros foram congregando intelectuais,
estimulando debates, produçõ es e contribuindo para o desenvolvimento cultural do
Estado. Um dos maiores exemplos foi a criaçã o do Instituto Histó rico e Geográ fico de
Sergipe (1912). A exemplo do que havia já em vá rias regiõ es do país, o Instituto local
tomou o sentido de uma espécie de academia literá ria e científica onde a elite
intelectual passou a discutir os problemas culturais do Estado. Nos primeiros anos, seus
só cios reuniam-se numa sala do prédio do Tribunal de Relaçã o. Os encontros literá rios e
científicos, que se realizavam na casa do general Calazans e/ou no sobrado do coronel
Vicente Ribeiro, com a criaçã o do Instituto passaram a assumir cará ter mais formal e
pú blico. Com suas palestras, debates e sobretudo com a ediçã o de sua revista, o Instituto,
embora ainda sem sede definitiva, tornou-se o principal nú cleo cultivador da memó ria,
das tradiçõ es e da identidade dos sergipanos. A instalaçã o da comissã o para estudar a
questã o dos limites provocou profícuas discussõ es, sobretudo em dois momentos (1904-
1905 e 1918-1919) e rendeu vá rios livros de mérito, contribuindo para o maior
conhecimento de nosso espaço e de nossa histó ria.108 A inauguraçã o do salã o da
Biblioteca Pú blica em 1913-1914 também representou um avanço, pois além de ser local
de estudo e reflexã o, tornou-se também recinto de falas, recitais, conferências para um
pú blico mais diversificado.
Ao lado dessas instituiçõ es, devemos lembrar os perió dicos que tiveram papel
dos mais relevantes. Seguindo uma tradiçã o que vinha dos tempos da província, os
jornais foram aparecendo, expressando interesses diversificados. Nas três primeiras
106
Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998.
107
Cf. Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998, p. 33-37.
108
Sobre o Instituto, ver Itamar Freitas. Ob. cit., 2000.
56

décadas da Repú blica, o interior do Estado teve uma presença expressiva. Pelos
registros que sobreviveram podemos contar o nú mero de títulos que circularam em
cada município: Capela (3), Estâ ncia (10), Lagarto (1), Laranjeiras (4), Maruim (10),
Propriá (10), Rosá rio (2), Santa Luzia (1), Vila Nova (3). 109 Somando com os perió dicos
da capital, ao longo dos quarenta anos da Primeira Repú blica cerca de 150 títulos
apareceram.110 É verdade que muitos nã o passavam de pequenas publicaçõ es de vida
curta, mas, em nenhum outro momento, encontramos notícias de tantos ó rgã os.
Paralelamente foram aparecendo também as revistas. Durante os tempos da
Província já se tem notícias de pelo menos uma, Belo Sexo, que, em 1882, teria editado
três nú meros. Mas foi durante a Repú blica que elas proliferaram (ver Anexo IV). Logo
em 1890 começou a circular a pequena Revista Literária, ó rgã o do Gabinete de Leitura
de Maruim, saindo pelo menos 34 nú meros. Depois surgem outras e, na segunda década
republicana, impressiona a permanência da Revista Agrícola, com boa apresentaçã o
grá fica. Editou, no mínimo, 92 nú meros voltados especialmente para os problemas da
lavoura, difundindo técnicas e inovaçõ es de outros países, analisando os problemas
setoriais da economia, trazendo dados que ainda hoje servem de referências aos
historiadores. Merece destaque também a Forense, especializada na á rea do Direito, da
qual restaram 16 nú meros. Por esse tempo, apareceram modestas publicaçõ es,
expressando discretamente objetivos políticos. A Redenção era de simpatizantes de
Fausto Cardoso e A Trombeta de gente do grupo olympista. Embora os textos e as
poesias nã o explicitassem agressõ es, eram ainda frutos de uma rivalidade política que o
tempo haveria de diluir. Seguiram-se outras pequenas experiências no campo da
literatura, mas o perió dico de melhor conteú do foi a Revista do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe. Começou a sair em 1913 e persistiu até 1929 com boa
regularidade. Ao lado desta, surgiram, em 1928, três publicaçõ es de certo porte, que
sobreviveram por alguns anos, indicando aumento da vitalidade do movimento
intelectual do Estado.111 Por trá s desses ó rgã os estavam editores, alguns dos quais
revelando vocaçã o empreendedora, acreditando no mercado editorial num momento em
que a tecnologia engatinhava. Figuras como Homero de Oliveira, um dos editores da

109
Clodomir Souza Silva. Ob. cit., 1920, p. 102-105.
110
Ver Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998. p. 41.
111
Sobre o tema, ver Jorge Carvalho do Nascimento e Itamar Freitas. A Revista em Sergipe. In: Revista de Aracaju, Ano
LIX, n. 9, 2002, p. 169-187.
57

Revista Agrícola, e sobretudo Armando Barreto estã o a merecer estudos específicos dos
pesquisadores. Este editou almanaques, o perió dico semanal Mercúrio por 119 nú meros
e depois publicaria o Cadastro de Sergipe.
Nas artes plá sticas, pode-se dizer que, no limiar do século XX, os pintores de
Sergipe foram bastante influenciados pela figura de Horá cio Hora (1853-1890). 112 Este
artista, natural de Laranjeiras, embora tenha morado e falecido em Paris, onde estudou
na Escola de Belas Artes, retratou cená rios e figuras locais e manteve ligaçõ es afetivas
com seus conterrâ neos até a morte. Seus quadros Pery e Cecy, A Gruta de Matriana do
acervo do Museu Histó rico de Sergipe, entre outros, foram apreciados e estudados pelos
seus contemporâ neos e ficaram como referências da pintura sergipana. Entre seus
seguidores, alguns foram esquecidos, mas continuou sendo lembrado Oséas Santos
(1865-1947),113 que viveu na Bahia, onde estudou na Escola de Belas Artes e deixou
vasta produçã o, alguns quadros inspirados na obra do mestre. Por esse tempo, começou
a destacar-se também Jordã o de Oliveira (1900-1980), que se vinculou à Escola de Belas
Artes no Rio de Janeiro, onde ministrou cursos por vá rios anos.114 Sem jamais perder os
vínculos com sua terra, permaneceu pintando retratos de sergipanos ilustres e
paisagens, dentro do melhor academicismo.
Um fato que provocou influxo inovador sobre os pintores locais foi a contrataçã o,
nos anos vinte, de artistas italianos para reformar o Palá cio do Governo. Entre os
escultores, uma figura que teve uma presença significativa nesse período foi Corinto
Mendonça, um engenheiro de sensibilidade que também deixou memó ria sobre os
costumes de Aracaju de seu tempo.115
Quanto à mú sica, em fins do século XIX era certamente a arte mais cultivada em
Sergipe, embora de forma diferenciada. Numa aná lise um tanto simplificada e
esquemá tica, podemos dizer que nas igrejas tocavam-se as mú sicas sacras nos ó rgã os,
nas ruas as bandas apresentavam os hinos, dobrados e sinfonias e nos salõ es das casas
grandes ouviam-se polcas, valsas, marchas em pianos, violinos, flautas e bandolins. Entre

112
Cf. Ana Conceiçã o Sobral de Carvalho. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB, BN, 2000.
p. 53-54 e Ana Conceiçã o Sobral de Carvalho e Verô nica Maria Menezes Nunes, Horá cio Hora. Aracaju: SEC, 1982.
113
Ver Oséas Santos. A vida de um pintor. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, n. 26A, v. 22, 1962-
1965.
114
Ver Jordã o de Oliveira. Caminhos Perdidos. Rio de Janeiro: Grá fica Ouvidor, 1975.
115
Ver Corinto Pinto de Mendonça. Tipos populares de Aracaju (sombras que passam). Aracaju: Departamento de
Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe (DCPH), 1974. 77p.; Praça da Matriz. Aracaju: 1955. 71p. e Contribuição ao
centenário do Aracaju. Aracaju: Escola Industrial de Aracaju, 1954. 78p.
58

os grupos dominantes, as interpretaçõ es musicais ocorriam sobretudo nos salõ es, na


maioria das vezes com cançõ es de origem europeia. De outro lado, como dizia Sílvio
Romero, o povo laborioso cantava nos eitos lavrando a terra, nos engenhos moendo
cana,116 nos terreiros e nas ruas, ora com seus cantos melancó licos, ora entoando chibas,
sambas, lundu ou maxixe com seus batuques e as gaitas, cantando suas modinhas. Nas
comemoraçõ es das festas religiosas, apresentavam-se com seus Reisados, Cacumbis,
Cheganças, Taieira, Lambe-Sujo, Sã o Gonçalo, Guerreiro.
Da fusã o das cançõ es europeias com os ritmos africanos, foi-se gestando,
sobretudo no Rio de Janeiro, “a base de uma mú sica popular urbana nos moldes que hoje
conhecemos”.117 Mas, em Sergipe, nã o encontramos repercussõ es significativas, durante
a Primeira Repú blica, desse movimento em processo na capital federal. Isso nã o significa
que sergipanos nã o tenham participado dele, pois a migraçã o de talentos para o Rio de
Janeiro também ocorreu entre os artistas. Especificamente na mú sica, um dos nomes
mais citados é o de Luís Americano Rego (1900- ?), que nasceu em Aracaju e no início
dos anos vinte foi para o Rio, onde participou da “maior experiência revolucioná ria
chorística da época”, compondo, integrando memorá veis trios, convivendo com nomes
como Pixinguinha e exercitando suas criaçõ es enriquecedoras na mú sica popular.118
Em Sergipe, as filarmô nicas ocupavam papel relevante nas manifestaçõ es
musicais. Toda cidade ou vila que se prezava dispunha de seu conjunto, que era uma
verdadeira escola dos artistas de entã o. Nã o era raro existir, num mesmo centro urbano,
mais de uma banda competindo orgulhosamente com suas produçõ es e interpretaçõ es.
Nessas povoaçõ es, vá rios nomes vocacionados davam continuidade aos ensinamentos
de mestres do passado. Em Aracaju, há notícias da Orquestra do Mestre Cula, composta
por 12 mú sicos, incluindo tocadores de flauta, violino e saxofone, e da Filarmô nica Santa
Cecília.119 O ensaísta Prado Sampaio, um dos poucos a tratar das manifestaçõ es artísticas
desse tempo, evoca alguns personagens que se destacaram como compositores,
vocalistas, instrumentalistas, flautistas, violonistas, pianistas e cantores, em que fica
patente a existência de uma tradiçã o musical respeitá vel. De Laranjeiras, cita, por
exemplo, Manoel do Carmo, que improvisava sinfonias em seu antigo trombone; Manoel

116
Cf. Sílvio Romero. Cantos Populares no Brasil. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1954, tomo I, p. 58.
117
Cf. Henrique Cazes. Choro: Do Quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 1999, 2. ed., p.17.
118
Cf. Henrique Cazes. Ob. cit., 1999, p. 65-66.
119
Cf. Ariovaldo Figueiredo. História Política de Sergipe, 1955-62, v. 40, 1991, p. 114.
59

Bahiense e seu discípulo Francisco Avelino; Joã o Belizá rio Junqueira, compositor,
violinista e cantor emérito; Francisco Hora, pianista e flautista, irmã o do pintor Horá cio
Hora. De Sã o Cristó vã o, sã o lembrados, entre outros, Pedro de Barros, compositor e
instrumentista; Antô nio Emydio, inexcedível no violã o; e Waldettre Mello, “componista e
instrumentista exímia, laureada pelo Instituto Nacional de Mú sica”.120 Em Estâ ncia
também sã o citados compositores, como o poeta Severiano Cardoso, o religioso Vitorino
Fontes e a cantora violinista Ismênia Fontes, enaltecida pelos seus contemporâ neos.121 A
prá tica musical, através de valsas, polcas e marchas nos salõ es, mesmo num momento
em que as mulheres tinham tratamento diferenciado, revelou outros talentos femininos
como Adalgisa Barreto, “improvisadora no piano”; Natinha Andrade Cerrone,
“concertista adorá vel”; Maria Josefina de Mendonça, “exímia pianista”, entre outras.122 A
abordagem sumá ria de Prado Sampaio mostra como o tema está a merecer resgate mais
abrangente.
Nã o obstante a segmentaçã o social, aos poucos as diferenças foram diminuindo
nos sincretismos dos ritos, na miscigenaçã o dos ritmos e das cançõ es das três raças num
longo processo de amá lgama. Uma das festas mais equalizadoras eram os carnavais,
conforme sugerem as evocaçõ es dessas comemoraçõ es.123 Os desfiles dos carros
ornamentados, a troca de papéis, as brincadeiras entre blocos heterogêneos, tudo
concorria para superar convençõ es, hierarquias, ensaiando mistura social, sem deixar,
no entanto, de revelar novas diferenças.
No teatro, no fim do século XIX, já havia uma tradiçã o respeitá vel.124 Embora as
informaçõ es de que dispomos sobre as artes cênicas durante a Primeira Repú blica sejam
escassas, há notícias de apresentaçõ es de companhias de fora em algumas cidades como
Aracaju, Laranjeiras e Estâ ncia. Quanto à s produçõ es locais, há indícios de terem sido
um tanto disseminadas, embora mais frequentes em alguns municípios. Laranjeiras,
nesse sentido, destacou-se. Mesmo num momento em que sua vida econô mico-social
declinava, a escola da professora Zizinha Guimarã es contribuía para estimular a
120
Prado Sampaio. Sergipe Artístico, Litterário e Scientífico. Aracaju: Imprensa Oficial, 1928, p. 65-74.
121
Cf. Luiz Antô nio Barreto. Da arte musical em Sergipe in Gazeta de Sergipe, 17-18.02 e 20.02.2003.
122
Prado Sampaio. Ob. cit., 1928, p. 65-74.
123
Sobre essas festas no início do século XX, ver Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p. 46-54 e Paulo Henrique Santos
Araú jo. Arranca e Filho Baccho. Aracajuanos na folia. Sã o Cristó vã o, 1995. Monografia apresentada no Departamento
de Histó ria/UFS. Fernando Lins de Carvalho. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju in Jornal da Cidade, 26-27.01.2003 a 2-
5.03.2003.
124
Ver Geraldo Henrique dos Santos Prata. Teatro Aracajuano: “Um sonho civilizador” (1855-1910), S. Cristó vã o. 1998.
Monografia apresentada no Curso de Histó ria da UFS.
60

produçã o cultural da cidade, de tal forma que nos torneios entre grupos teatrais de
algumas comunidades (de Itaporanga, Lagarto, Barra dos Coqueiros e Laranjeiras) os
desta sempre ficavam em primeiro lugar.125 Nesse clima, vá rios escritores locais
dedicavam-se a escrever suas peças, indicando a presença do teatro na vida cultural
desse período. Mas, na pró pria Laranjeiras, os antigos teatros, tã o movimentados no
século XIX como o Sã o Pedro e o Santo Antô nio, foram-se transformando em ruínas no
curso da Repú blica. O Íris ainda serviu para exibiçã o de filmes e peças teatrais na
primeira metade do século XX, mas também sofreu decadência.126
Nã o obstante a importâ ncia também de Estâ ncia, Maruim e Propriá , Aracaju foi-
se impondo como o centro cultural mais expressivo. A inauguraçã o do Teatro Carlos
Gomes, em 1904, que depois se transformaria em Rio Branco, indicava um avanço em
relaçã o ao pequeno teatro Sã o José, localizado na Praça Olímpio Campos.127
Quanto ao cinema, há uma certa controvérsia sobre a primeira exibiçã o. Má rio
Cabral afirma que ocorreu no Teatro Sã o José em Aracaju, em 1899, mas nã o teria
despertado grande atençã o.128 Outro memorialista diz que “o primeiro espetá culo
realizado teve assistência estupenda! Nã o foi possível se fechar a porta do teatrinho; e,
assim se seguiram outros, porque, de todo o Estado, vinha gente para conhecer o
cinemató grafo”.129 Tudo indica que as primeiras exibiçõ es com alguma regularidade
começaram a acontecer em 1908 ou 1909, descritas como “exposiçã o de quadros do
aparelho cinemató grafo”130 acompanhadas por um gramofone no Teatro Carlos Gomes,
recebendo, entã o o nome de Teatro Sergipe”.131 Eram iniciativas dos exibidores
ambulantes, introduzindo em Sergipe uma nova forma de arte, pela qual “as imagens se
sucedem mais rá pidas do que o pensamento” na expressã o de Walter Benjamin. 132
125
Virgínia Lú cia Menezes. Levantamento das Manifestações teatrais em Laranjeiras-Sergipe, Aracaju:
Fundesc/Sercore, 1986, p.15. Ver também Gilberto Amado. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olímpio,
1975.
126
Cf. Jornal da Cidade, 21.06.1996.
127
Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p. 54. Ver também Ivan Valença. Cine-Teatro Rio Branco. In Memó rias de Sergipe,
Correio de Sergipe, 29.06.2003.
128
Má rio Cabral. Ob. cit., 1955, p.55.
129
Corinto Mendonça. Ob. cit., 1955, p.55
130
Fernando Figueiredo Porto. Anotaçõ es particulares. Arquivo pessoal no IHGSe.
131
Oito anos depois da primeira exibiçã o em Paris, segundo Melvin L. De Fleur. Teorias de Comunicaçã o de Massa. Rio
de Janeiro: Zahar, 1971, p. 62. Outra informaçã o diz: “Realizou-se ontem o espetá culo anunciado pelo nosso patrício
Pedro Silvino Cortes, e com a exibição do Cinemató grafo e gramofone”. Teatro Sã o José, 07.09.1901. Anotaçõ es do
arquivo de Fernando Porto in Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe. O Cine-teatro Rio Branco foi a primeira casa
de cinema e teatro de Sergipe. Ver Má rio Cabral. Ob. cit., 1955.
132
Cf. Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25.06.1992 e Ivan Valença, Jornal da Cidade, 21-22.11.1999. Sobre a
citaçã o de Walter Benjamin ver José Guilherme Merquior. Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 129.
61

Depois de 1918, quando o Cine Teatro Rio Branco passou para a propriedade do
conhecido Juca Barreto, este foi reformando sua casa e acompanhando a evoluçã o dos
espetá culos. Ao lado do irmã o, Paulo, formavam uma dupla dotada de “bom gosto
artístico”,133 incentivando as produçõ es locais e recebendo grandes nomes da mú sica e
da dramaturgia nacional. Ao mesmo tempo, foi popularizando o interesse por filmes, a
partir das crianças que acorriam a participar das novidades.134 Em 1927, uma grande
mudança. Era o filme com som, dispensando o gramofone. Nesse momento já havia
vá rias casas de espetá culo em Aracaju. “Em 1912 foi inaugurado o Elite, denominado
depois de Royal. Nasceu depois o Guarany no fundo do Hotel Internacional. Logo em
seguida vieram o Eden na travessa José de Faro, o Rio Negro na Avenida Simeã o Sobral,
e o Sã o Francisco na Praça Siqueira de Menezes no Bairro Santo Antô nio.135 Além desses,
ainda sã o lembrados o Universal (1918) da Fá brica Confiança, o Arabutan (1923) da
Fá brica de Tecidos Sergipe Industrial, o Tobias Barreto na rua de Vitó ria que funcionou
até 1934, o Popular e o Sã o Joã o.136
No campo da produçã o, o ú nico sergipano de que dispomos de notícias é J. Soares,
um propriaense que vivia em Pernambuco. Ao participar do movimento chamado de
Ciclo de Recife (1924-1930), fez alguns filmes importantes, já como longa metragem,
entre os quais o de maior relevâ ncia foi Aitaré da Praia.137 O fato é que a grande
novidade artística da Primeira Repú blica foi o aparecimento do cinema. Era um novo
tipo de arte que privilegiava a imagem e atingia as massas com efeitos difíceis de serem
exagerados. Começando como uma forma de diversã o, paulatinamente as câ meras
foram desvelando os mistérios do mundo, mostrando seus cená rios e suas contradiçõ es,
num tempo em que as opçõ es de entretenimento eram bastante restritas.
Na poesia, muitos nomes deixaram sua contribuiçã o. Alguns se despedindo como
Severiano Cardoso (1840-1907), outros aparecendo como José Barreto Filho (1908-?),
todos merecedores de tratamento mais apurado. Vá rios deles foram receptivos à s novas
tendências estéticas que apareciam no Sudeste. Neste sentido, como observou Jackson
da Silva Lima, “há experiências simbolistas”, [...] “florescem sementes do
neoparsasianismo” e, nos anos vinte, “vã o surgindo timidamente reflexos da Semana da
133
João Costa apud Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio/1999.
134
Ver Uma vida dedicada ao Cine Teatro Rio Branco. Revista Alvorada, abril/1970, p. 5.
135
Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25/06/1992.
136
Cf. Aldaci de Souza, Jornal da Cidade, 24 e 25.06.1992.
137
Cf. Ivan Valença, informações ao autor, em 02.04.2003.
62

Arte Moderna com a fase pré-modernista”.138 No entanto, os que sobreviveram ao tempo


e ficaram como “grandes expressõ es da lírica” foram algumas personalidades que
produziam indiferentes aos modismos, seguindo os câ nones tradicionais. O primeiro
exemplo é Garcia Rosa (1877-1960). Recluso em sua casa na colina do Santo Antô nio,
dali com serenidade irradiava sua sabedoria de poeta e pensador, firmando-se como das
maiores referências intelectuais de nosso Estado. Outra figura inesquecível foi o
professor Artur Fortes (1881-1944), que, além de fascinar seus discípulos com suas
aulas bem representadas, foi exemplo de homem participativo nas letras e na política,
lutando sempre pelo aprimoramento das instituiçõ es de Sergipe. Um terceiro nome
lembrado na galeria dos mais expressivos foi Joã o Pereira Barreto, autor de versos
admirá veis. No fim dos anos vinte, o movimento modernista começou a reproduzir-se
em Sergipe com as primeiras poesias de José Maria Fontes (1908-1994) 139 e Abelardo
Romero (1907-1979).
Quanto aos prosadores, vá rios deles ganharam grande destaque no Rio de
Janeiro, levando Sergipe a ser chamado retoricamente de “ninho de á guias”, em face da
exportaçã o de talentos. Jamais em outros tempos, tantos sergipanos pontificavam na
capital federal. No início da Repú blica, Sílvio Romero (1851-1914) já era renomado
escritor no Rio de Janeiro e exercia grande influência em Sergipe. Além da divulgaçã o de
suas ideias através de livros, correspondia-se com seus amigos e participava da política,
conforme vimos, de forma apaixonada, gerando controvérsias. Logo depois da
Proclamaçã o, outros sergipanos partiram e foram também se destacando na capital da
Repú blica: Fausto Cardoso (1864-1906) como pensador, deputado e tribuno eloquente;
Felisbelo Freire (1858-1916) como historiador e político; Laudelino Freire (1873-1937)
como dicionarista e historiador; Gilberto Amado (1887-1969) como ensaísta e político;
Hermes Fontes (1888-1930) como poeta; o médico Maximino Maciel (1866-1914) como
gramá tico e crítico literá rio; Joã o Ribeiro (1860-1934) como historiador, folclorista e
filó logo; o médico Manoel Bonfim (1868-1936) como pedagogo e escritor. Esses foram
os mais importantes.
Embora vivessem longe de sua terra, quase todos continuaram mantendo
vínculos com seu Estado e intervindo na sua vida cultural, individualmente ou através da

138
Jackson da Silva Lima. História da Literatura Sergipana. Aracaju: Regina, 1971, v. 1, p. 66.
139
Cf. Gilfrancisco. A poesia de José Maria Fontes. Jornal da Cidade, 03.01.2002.
63

colô nia sergipana do Rio de Janeiro que agia como grupo de pressã o junto aos
governantes para alguns pleitos. Gozando de fama e prestígio, alguns deles (Sílvio
Romero, Fausto Cardoso, Felisbelo Freire, Gilberto Amado, Manoel Bonfim) tornaram-se
parlamentares, honrando a representaçã o de Sergipe. A terra natal também era
promovida quando deixaram pá ginas ontoló gicas evocando o meio marcante e fecundo
onde nasceram, cresceram e receberam os fundamentos de sua formaçã o moral e
intelectual.
Sílvio Romero, ao analisar as expressõ es literá rias do século XIX, teria dito que “a
literatura sergipana era uma literatura de emigrados”.140 Mas, no século XX, além dos
intelectuais que viveram no Rio de Janeiro, vá rios outros permaneceram em sua terra e,
nã o obstante as limitaçõ es do meio, produziram e proporcionaram inestimá vel
contribuiçã o à cultura do Estado. Para mencionar apenas os mais importantes,
lembramos os nomes de Gumercindo Bessa (1859-1913) com seu grande saber jurídico,
atuando na imprensa e no foro, cuja produçã o foi publicada em obra pó stuma (1916); o
professor Balthazar Gó es com sua memó ria sobre A República em Sergipe; o juiz Nobre
de Lacerda que analisou a Primeira Década Republicana (1906); o historiador Francisco
Lima Jú nior (1856-1929) autor de numerosas obras de singular importâ ncia, como o
estudo sobre a Revolta de Santo Amaro e outra sobre o Poder Legislativo nos tempos da
Província. Ivo do Prado publicou uma das mais extensas pesquisas sobre limites, A
Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias (1919), pela argumentaçã o apresentada no texto e
pela copiosa documentaçã o anexada. O ensaísta Oliveira Teles (1859-1935), discípulo de
Tobias Barreto e autor de Sergipenses (1903), teve participaçã o intelectual relevante.
Outro estudioso importante foi Clodomir Silva (1892-1932), que, além do Álbum de
Sergipe (1920), sua obra maior, dedicou-se também ao registro de manifestaçõ es
populares.141 Florentino Menezes (1886-1959), com sua orientaçã o positivista, publicou
artigos, ensaios e livros dentro do campo da sociologia, como Estudo Corográfico e Social
do Brasil (1912) e Escola Social Positiva (1917) e foi importante animador das atividades
culturais. O bió grafo Armindo Guaraná (1858-1924), com seu valioso Dicionário
Bibliográfico (1925), prestou uma das maiores contribuiçõ es à memó ria de nossa elite
intelectual. O ensaísta Prado Sampaio (1865-1932), autor de Sergipe Artístico, Literário e
140
Cf. Epifâ nio Dó ria in Revista da Academia Sergipana de Letras. Aracaju, n. 16, 1952, p. 191.
141
Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos Antropológicos, Etnográficos e Folclóricos em Sergipe. Governo do Estado de
Sergipe, Secretaria de Estado da Educaçã o e Cultura, Subsecretaria de Cultura e Arte, 1984.
64

Científico (1928), desenvolveu estudos em diversos campos, inclusive na á rea de


filosofia, e teve atuaçã o destacada. Epifâ nio Dó ria, (1884-1976), notabilizou-se como
pesquisador e principal zelador do acervo documental da Biblioteca Pú blica e do
Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe.
Os governantes, por sua vez, contribuíam para a melhoria da parte física da
Biblioteca Pú blica e empenharam-se em ampliar seu acervo. No campo das publicaçõ es,
vimos como os governos Josino Menezes (1902-1905), Pereira Lobo (1918-1922) e,
especialmente, Graccho Cardoso (1922-1926) financiaram ediçõ es de grande
importâ ncia para nossa cultura. Este ú ltimo ainda oficializou a existência do Arquivo
Pú blico e posteriormente andou regulamentando o envio de documentos à quela
instituiçã o. Enfim, nã o obstante o acanhamento do ambiente, as manifestaçõ es culturais
prosperavam com produçõ es marcantes. Segundo Cristiane Souza, que estudou o
período de forma mais aprofundada, os homens desse tempo “dedicaram-se à criaçã o de
uma rede institucional vigorosa com o fito de retirar o Estado da posiçã o periférica que
ocupava na vida intelectual do país”.142
Concorreram também para dinamizar o movimento intelectual as pregaçõ es
doutriná rias. Em 1896, o líder obreirista Joã o Ferro, através de seu jornal O Operário,
desenvolveu trabalho proselitista, pregando um socialismo até certo ponto compatível
com a democracia. Mas, pouco tempo depois, aquele ativista foi para Alagoas e
posteriormente para Recife. Em 1911-1912 e 1916, nas folhas de O Operário, alguns de
seus redatores voltaram a mostrar simpatias pelas ideias dos socialistas. Mas eram
manifestaçõ es um tanto esporá dicas. Foi a partir da Revoluçã o Russa (1917) que as
pregaçõ es socialistas passaram a sensibilizar mais os intelectuais. Entre os mais
empolgados, destacou-se Florentino Menezes, que esteve a discutir publicamente a nova
corrente de pensamento e lutou pela criaçã o do Centro Socialista Sergipano (1918).
Este Centro provocou palestras, polêmicas pelos jornais, envolvendo intelectuais
vinculados à imprensa dos trabalhadores urbanos e membros da Igreja Cató lica que se
manifestavam contrá rios à nova doutrina. Tal movimento tenderia a acentuar-se com as
matérias do jornal Voz do Operário na década de 1920, em que já se notava algum
intercâ mbio com ativistas do Sudeste e a influência da vertente leninista. Com a
ascensã o de Stalin em 1924, o movimento socialista foi se afirmando como uma
142
Cristiane Vitó rio de Souza. Ob. cit., 1998, p. 169.
65

proposta de tendência totalitá ria. Nesse momento, os socialistas encontravam pequeno


espaço na imprensa de Sergipe, mas nem por isso aquele ideá rio deixava de fascinar os
grupos que defendiam uma ordem mais igualitá ria.
Antes, porém, que os materialismos dialético e histó rico fossem bem difundidos,
a crença mais comum entre os intelectuais era a do cientificismo, ao afirmar “a
superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensã o humana da
realidade (religiã o, filosofia metafísica etc.).”143 Dentro dessa corrente, predominavam
evolucionistas de vá rias conotaçõ es, inclusive os monistas adeptos do pensamento de
Ernesto Haeckel (1834-1919), filó sofo alemã o que difundiu a ideia da evoluçã o na
ciência natural.144 Seus defensores encontraram pela frente os cató licos, sobretudo os
padres, entre os quais Solano Dantas Menezes, que, professando o espiritualismo cristã o
em sua vertente tradicional, travou polêmicas pela imprensa, no período de 1909 e
1919, condenando os cientificistas, incluindo os socialistas, a maçonaria, os protestantes
e os espíritas.145
A essa altura, quando a Europa começava a recuperar-se da catá strofe da
Primeira Guerra (1914-1918), as ideias autoritá rias passaram a encontrar ressonâ ncia,
em detrimento do liberalismo e da democracia. No Brasil, a derrota das campanhas
civilistas e o engessamento do sistema político com o predomínio das oligarquias,
associadas com o coronelismo, contribuíram para o crescimento de uma vertente de
ideó logos que propunha a reforma do Estado, com parâ metros autoritá rios, na linha do
pensamento de Alberto Torres (1865-1917). Retomando essa tendência, prosperou a
reaçã o dos cató licos liderada por Jackson de Figueiredo (1891-1928). Nascido em
Aracaju, estudou em Salvador e Alagoas, e estabeleceu-se Rio de Janeiro em 1914.
Depois de uma fase de agnó stico e leitor de Nietzsche (1844-1900), converteu-se ao
cristianismo e passou a desenvolver seu apostolado com grande determinaçã o e
destemor, polemizando, desafiando os adversá rios com agressividade e paixã o. Investia
contra o socialismo e o individualismo liberal, pregava o renascimento do catolicismo
através dos princípios da autoridade, da ordem, da tradiçã o e do moralismo. Agitou o
mundo das ideias com sua açã o proselitista na imprensa e nas instituiçõ es que ajudou a
criar, como a revista A Ordem (1921) e o Centro D. Vital (1922). Nã o obstante seu estilo
143
Cf. Antô nio Houaiss. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
144
Ó rris Soares. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1968, p. 212.
145
Cf. Jackson da Silva Lima. Ob. cit., 1995. p. 122-25.
66

arrebatado e suas pregaçõ es reacioná rias, como as qualificou seu discípulo maior, Alceu
Amoroso Lima, a força do seu entusiasmo e de sua fé contagiantes ganharam
repercussõ es enormes.
Em Sergipe, onde a presença do bispo d. José Tomá s, com seu Seminá rio e suas
açõ es pastorais, já vinha conquistando seguidores no meio intelectual, em 1918
começou a ser publicado A Cruzada. Sob orientaçã o da Igreja Cató lica, o jornal passou a
difundir de forma mais sistemá tica seus princípios e suas visualizaçõ es sobre as
questõ es conjunturais. Os religiosos, que antes travavam suas polêmicas pela imprensa
alheia, passavam a dispor de ó rgã o pró prio. Anos depois, na esteira da influência de
Jackson de Figueiredo, um grupo de parentes e amigos de Aracaju, criou, em outubro de
1928, a Revista de Sergipe, sob o influxo das ideias jaquistas. Planejada para sair
quinzenalmente com a contribuiçã o de escritores locais e de fora, entre os quais o
pró prio Jackson, o perió dico tinha como lema: “Deus, Pá tria e Família”, justamente o
mesmo que adotaria o Integralismo alguns anos mais tarde.
Quando o segundo nú mero estava prestes a sair, faleceu afogado, no Rio de
Janeiro, o líder cató lico, provocando grande comoçã o. Apesar do impacto do infausto
acontecimento, a Revista de Sergipe continuou por algum tempo. Esteve a divulgar seu
pensamento e seus feitos e, em 20.04.1929, foi editado o ú ltimo nú mero. Apesar disso, a
influência de Jackson de Figueiredo persistiu por mais tempo, inspirando novos
movimentos.
O fato é que ao fim dos anos vinte, o triunfo do Fascismo na Itá lia (1922) e a
ascensã o de Stalin na Uniã o Soviética (1924) estimulavam as tendências autoritá rias.
Pela direita havia os cató licos da revista A Ordem, sob o influxo das ideias de Jackson de
Figueiredo e, pela esquerda, os simpatizantes do movimento comunista, bem como do
tenentismo.
Nessa conjuntura de ilusõ es pelos atalhos extra-legais foi importante o
aparecimento em 1928 do perió dico Sergipe Judiciário, dirigido por Carvalho Neto, que
circularia pregando a expansã o do Estado de Direito. Mas figuras como essas se
revelavam impotentes para deter a onda autoritá ria que avançava.
67

1.5 Resumo (1890-1830)

Durante a Primeira Repú blica, a construçã o da democracia foi-se revelando


particularmente dificultosa. Depois da primeira década, em si tumultuada, marcada por
instabilidade política, formaram-se os arranjos oligá rquicos que asseguraram
continuidade aos governos, mas impediram que o liberalismo se conjugasse com a
democracia, e a sociedade se tornasse menos desigual. A vida partidá ria careceu de
competiçã o e manifestou-se pouco fecunda. Na maioria dos pleitos o candidato
governista nã o teve concorrente e o nível de participaçã o eleitoral continuou muito
reduzido. O nú mero de votantes para presidente do Estado nunca chegou a 3,5% da
populaçã o. As decisõ es geralmente se processavam sem transparência. A estrutura de
dominaçã o fechada, sob o signo do monopartidarismo, como um ritual monó tono, inibiu
o debate político, a emergência de novos grupos políticos, inviabilizando a alternâ ncia
de poder através de líderes oposicionistas. Mas, quando se olha a experiência de alguns
Estados mais pró ximos, verificamos que a dominaçã o conservadora em Sergipe nã o foi
das mais exacerbadas. Quase todos os governantes do período foram simpatizantes ou
militantes do movimento republicano. No governo, compuseram-se com os grupos
conservadores, inclusive com o patronato rural, participaram do seu ideá rio, mas nem
todos fizeram seus sucessores. Depois da Revolta de 1906, nã o tivemos mais figuras
personalistas dominando a política por largo tempo, a exemplo do que acontecia em
Pernambuco com Rosa e Silva (1896-1911), na Bahia com J. J. Seabra (1922), e na
Paraíba com Epitá cio Pessoa (1915-1930).
É verdade que o domínio das famílias dos senhores do açú car em Sergipe
também se revelava preponderante e, entre nó s, o controle político ampliou-se com
alguma dose de intolerâ ncia na terceira década republicana. Mas nem por isso deixamos
de ter governantes operosos e voltados para o interesse pú blico. No conjunto, pode-se
dizer que o sistema político nã o favorecia a incorporaçã o, por via eleitoral, de novos
atores, mas os oligarcas vá rias vezes apoiaram os quadros mais ilustrados de nossa
intelectualidade para o parlamento.
68

A democratizaçã o e a cidadania avançaram pouco, mas o tenentismo, nã o


obstante sua tendência autoritá ria e voluntarista, concorreu para desgastar o domínio
conservador e contribuir para tornar a Revoluçã o de 1930 mais consequente.
Nã o obstante o pequeno avanço político, Sergipe viveu um período de
modernizaçã o. A economia continuou muito dependente da produçã o açucareira, mas
em certa medida se diversificou. As indú strias têxteis se propagaram e prosperaram,
gerando muitos empregos. Os serviços urbanos melhoraram bastante, graças à parceria
do Estado com os empresá rios. A instalaçã o de á gua encanada e da luz elétrica, os
bondes a traçã o animal e os carris elétricos, a primeira estrada de rodagem, telefone,
mercado, matadouro, tudo contou com a participaçã o dos capitalistas, que construíam
ou implantavam e exploravam os seus serviços por algum tempo.
A vida social animou-se e a sociedade tornou-se mais plural, embora ainda
voltada para a manutençã o dos privilégios dos grupos dominantes e, em menor
proporçã o, dos estratos médios. Os serviços de higiene e saú de melhoraram
consideravelmente. As classes subalternas persistiam discriminadas, mas, especialmente
os trabalhadores urbanos, fizeram greves, editaram seus jornais, criaram seu Centro,
procuraram organizar-se e reivindicar direitos. É certo que a dominaçã o liberal-
oligá rquica nã o proporcionou a devida prioridade ao setor educacional. Houve algumas
iniciativas governamentais meritó rias, a sociedade participou de campanha contra o
analfabetismo, mas o progresso foi pequeno. Basta comparar os nú meros do Censo de
1890 como os de 1920. Enquanto o primeiro mostrou que 89% da populaçã o nã o
sabiam ler nem escrever, o segundo registrou que ainda havia 83% na mesma situaçã o,
continuando praticamente à margem do processo civilizató rio.
As produçõ es culturais ocorreram num momento em que as influências externas
eram relativamente pequenas. Mas nã o devemos superestimar o nível de autonomia
interna, pois além das informaçõ es veiculadas pelas publicaçõ es e pelos viajantes, a
importaçã o de imagens através do cinema afetava valores e padrõ es sociais, embora nã o
fosse suficiente para abalar a sociedade tradicional, sob a hegemonia de grupos
privados, reduzidos em nú mero e expressivos em poder. Alguns governos atuaram de
forma autoritá ria coibindo as manifestaçõ es divergentes na imprensa. Apesar da
predominâ ncia do domínio oligá rquico, o Estado nã o dispunha de política cultural
69

institucionalizada e definida. Quando muito, atuava, esporadicamente, como mecenas,


subsidiando artistas ou estudantes, publicando obras, interferindo relativamente pouco
nas produçõ es culturais. Nã o obstante as açõ es reduzidas do Estado, as iniciativas
individuais multiplicaram-se, animando o ambiente, revelando talentos e obras
marcantes. Embora vá rios intelectuais e/ou artistas tenham emigrado e ganhado
projeçã o nacional, os que ficaram, enfrentando as limitaçõ es do meio, tornaram-se os
principais responsá veis pela construçã o do patrimô nio cultural de Sergipe.
70

2 O ESTADO INTERVENCIONISTA SOB DOMÍNIO MILITAR (1930-1945)

2.1 A Revolução de 1930 e a Reestruturação Política

A Revoluçã o de 1930 operou remodelaçã o da política e do Estado Nacional. Desde


quando foi desencadeada em 3 de outubro, sob a iniciativa dos tenentes com apoio dos
civis, a partir de Recife e Porto Alegre, o movimento foi-se ampliando pelos vá rios
Estados. O presidente Washington Luís foi deposto e a ordem constitucional rompida.
Assumiu o governo Getú lio Vargas num momento difícil para a política e para a
economia brasileira. A crise financeira que se abatera no mundo, a partir de 1929,
deixou patente a inviabilidade do nosso modelo agroexportador. Impunha-se a busca de
novas alternativas econô micas. A opçã o seguida pelo governo brasileiro foi estimular
aqueles setores que dispunham de melhor nível de acumulaçã o de capital através de um
processo de industrializaçã o, que implicava na substituiçã o paulatina das importaçõ es.
Nesse novo contexto, diversos grupos passaram a disputar espaço político sem
que nenhum deles assegurasse predomínio, configurando-se assim uma crise de
hegemonia. Nesse jogo competitivo, o Estado mediava os conflitos e assumia prá tica
intervencionista voltada para a modernizaçã o da má quina político-administrativa e para
a industrializaçã o. Essa tendência foi-se consolidando na medida em que o governo ia se
legitimando, atendendo a demandas populares, especialmente os reclamos dos
trabalhadores urbanos. A orientaçã o liberal-oligá rquica foi substituída pela dominaçã o
populista. O período 1889-1930 passava a ser chamado de Repú blica Velha e o que lhe
seguia denominado de Repú blica Nova. Os derrotados eram identificados como decaídos
e os vencedores autodenominados de revolucioná rios.
Os líderes tenentistas, desde entã o, tentaram implantar no país um projeto
político intervencionista, reformista, nacionalista, voltado à reestruturaçã o
administrativa, a partir do saneamento das finanças pú blicas e, em certa medida,
buscando aproximaçã o com as classes subalternas urbanas.
Em termos regionais, o Nordeste passou a ser tratado como uma á rea específica,
foco de atençã o especial. Inicialmente o líder tenentista Juarez Tá vora, que foi elevado a
71

“general” e comandante em chefe das tropas do Norte, esteve administrando os


problemas da regiã o, tendo sido chamado vice-rei do Norte, mas com o tempo foi
perdendo poder.
Em Sergipe, os sinais mais concretos da Revoluçã o começaram a ser percebidos
com o aparecimento de um aviã o jogando manifestos na capital, na manhã do dia
16.10.30, dando conta do avanço das forças revolucioná rias, provenientes do Norte, em
direçã o à capital. O presidente do Estado fugiu e o tenente-médico Eronides de Carvalho
assumiu como governador provisó rio. Depois de atravessarem o Rio Sã o Francisco, de
Penedo para Neó polis, onde houve alguns incidentes com mortes, as tropas partiram
com destino a Aracaju, aonde chegaram entre a noite do dia 18 e a madrugada do dia
19.10.30, transformando a capital, por um curto período, num Quartel General das
Forças em Operaçõ es no Norte do país. Na manhã do dia 20, já Juarez Tá vora comparecia
ao Palá cio e empossava o general José Calazans que fora o primeiro presidente
constitucional de Sergipe, em 1892, e continuava com a mesma imagem de homem sério
e honesto, zeloso dos bens pú blicos. O novo governante encontrou dívida
correspondente à receita de quase 2 anos146 e passou a preocupar-se com a contençã o
financeira. Mas quinze dias apó s sua posse, o Diá rio Oficial noticiava sua renú ncia e sua
substituiçã o pelo major Marcelino José Jorge. Este era também militar reformado,
identificado com os movimentos liberais da campanha pró Rui Barbosa e com a Aliança
Liberal. O novo governante prosseguiu o plano de contençã o financeira de seu
antecessor. Expediu decretos de exoneraçã o e dissolveu a Assembleia Legislativa cinco
dias antes do decreto presidencial de 11.11.1930, que institucionalizava o Governo
Provisó rio da Repú blica como uma forma de ditadura. 147 Os intendentes foram cassados
e substituídos por outros nomeados para “exercer aí todas as funçõ es executivas e
legislativas”. Ao interventor, nomeado pelo Governo Provisó rio, caberia, entre outras
coisas, exercer em toda plenitude nã o só o Poder Executivo, como também o Legislativo.
Quanto ao Poder Judiciá rio, prescrevia-se que “continuaria a ser exercido de
conformidade com as leis em vigor, com as modificaçõ es que viessem a ser adotadas”... e
mantinha-se o habeas-corpus “em favor dos réus ou acusados em processos de crimes
comuns, salvo os funcioná rios e os de competência de tribunais especiais”.148 Pouco
146
Diário Oficial, 17.10.31.
147
Cf. Diário Oficial, 07.10.30.
148
Edgard Carone. A Segunda República. Sã o Paulo: Difel, 1973, p. 18-19.
72

depois veio novamente a Sergipe o general Juarez Tá vora e persuadiu o general José
Calazans a retornar ao governo, mas, seis dias depois, este entregou a direçã o do
Executivo ao tenente Augusto Maynard Gomes. A partir de entã o, o Estado passaria a ter
uma administraçã o mais duradoura.149

2.1.1 A Interventoria de Maynard Gomes (1930-1935)

Com a deflagraçã o do Movimento de Outubro, o sistema oligá rquico, que havia


predominado durante a Repú blica Velha, recebeu impacto político considerá vel. Em
16.11.1930 o tenente Augusto Maynard Gomes tomou posse do cargo de governador
provisó rio e posteriormente (19.12.1930) tornou-se interventor do Estado, como o líder
revolucioná rio de maior destaque em Sergipe. Tendo tomado parte nas revoltas de 1904
(Rio de Janeiro), 1906, 1922, 1924 e 1926 (Sergipe), acabava de participar da vitó ria de
1930, desempenhando missã o em Minas Gerais, coroando com sucesso seu passado de
rebeldia. Embora proviesse de família de senhor de engenho do município de Rosá rio do
Catete (Sergipe), tinha longa vivência e identificaçã o com a geraçã o dos tenentes
revoltosos, o que, aliá s, era suficiente para inspirar desconfiança à s forças dominantes.
Chegando ao Executivo sem o beneplá cito dos grupos econô mico-financeiros locais,
montou seu governo com a predominâ ncia de elementos dos estratos médios: militares
egressos do movimento tenentista, intelectuais e/ou burocratas civis sintonizados com
os tenentes ou simplesmente aderentes de ú ltima hora e de origem social mais
diversificada. Quanto aos setores dominantes, tais como comerciantes, fazendeiros e
industriais, o interventor procurou agradá -los indicando alguns de seus representantes
para o Conselho Consultivo, ó rgã o até certo ponto decorativo, criado para amenizar o
desaparecimento da Assembleia Legislativa.
Enquanto o Executivo se fortalecia, enfraquecia-se o Judiciá rio. Decretos-leis
foram emitidos diminuindo suas prerrogativas, ao tempo em que se tentava depurá -lo.
Um desembargador e um juiz foram colocados em disponibilidade, outro juiz era
aposentado por incapacidade física, gerando prolongada questã o nos meios judiciais do

149
Para uma versão ampliada desse período, ver José Ibarê Costa Dantas. A Revolução de 1930 em Sergipe: dos tenentes
aos coronéis. Sã o Paulo, Aracaju: Cortez, UFS, 1983.
73

Estado. Enquanto isso, a interventoria criava Comissã o Legislativa, composta por três
membros, encarregada de elaborar os projetos de reforma da legislaçã o processual e de
organizaçã o judiciá ria que chegou a seu termo ainda em 1931.150
Nesses tempos de mudanças, seguindo orientaçõ es nacionais, o ensino passou
por transformaçõ es significativas, seguindo o ideá rio da Escola Nova. Buscou-se também
ampliar a eficiência da administraçã o, criando a Diretoria de Estatística de Sergipe e o
Departamento Estadual de Saú de Pú blica. O Estado era dividido em distritos sanitá rios e
aumentava sua atuaçã o. Adquiria os Serviços de Á gua e Esgoto que, à quela altura, estava
em mã os de sociedade comercial, e assumia o controle acioná rio da Empresa de Energia
Elétrica.151 A presença do Poder Central se ampliava, assim como a açã o do Estado na
á rea de serviços. Alguns atos como abatimento de aluguel, supressã o de gratificaçõ es e
adicionais de funcioná rios do Estado, inclusive de juízes, já indicavam a inserçã o na
tendência populista em alta. Essas inovaçõ es ocorreram sobretudo em 1931, apesar de
viver-se num momento de recessã o. Como se isso nã o bastasse, o governo deparou-se
com a grande seca de 1932, que afetou a arrecadaçã o e provocou débitos sucessivos.
Desde entã o, a administraçã o passou a assumir um ritmo mais rotineiro. Combatia o
banditismo dos grupos de Lampiã o sem sucesso e abria novas estradas. As obras de
maior porte foram a ponte de Pedra Branca e a abertura do canal Santa Maria com o
respaldo do governo federal. Em Aracaju realizava aterros e construía o Jardim de
Infâ ncia, sintonizado com a política nacional de assistência à s crianças. Por esse tempo, a
velha disputa de limites com a Bahia voltou à tona, mas, como sempre, sem êxito. A
questã o que mais embaraçou a interventoria foi a partidá ria.
Recorde-se que as lideranças tenentistas assumiram o governo declarando
aversã o à política partidá ria e aos políticos tradicionais. Mas, como estavam
preocupados em fortalecer-se, foram criando alguns ó rgã os com o objetivo de aglutinar
os grupos identificados com a Revoluçã o. Em Sergipe, Maynard Gomes, professando
superioridade sobre a política partidá ria que, no seu juízo, teria desaparecido em
Sergipe, estimulou ao má ximo a formaçã o da Legiã o de Outubro no Estado. 152 Assinou
manifestos, promoveu encontros, conclamou a adesã o de todas as classes sociais e,

150
Decreto-Lei SE n. 76 de 03.09.1931.
151
Ver Armando Barreto (org). Cadastro Industrial e Comercial e Informativo de Sergipe. Aracaju: Artes Grá ficas da
Escola de Aprendizes de Artífices, 1933, p. 84 e 146.
152
Cf. Diário Oficial, 30.04.1931 e Jornal de Notícias, 14.03.1931.
74

realmente, numerosas figuras representativas de vá rios segmentos do Estado


inscreveram-se na referida entidade, que nã o foi além dessa formalizaçã o do respaldo
político ao governo. Mais tarde, em junho de 1932, a Legiã o foi transformada em Clube 3
de Outubro, apesar das hesitaçõ es do interventor.153 Criado como ó rgã o nacional em
fevereiro de 1931, o Clube 3 de Outubro objetivava agregar e selecionar lideranças
simpatizantes do governo e influir no projeto político transformador, pela via
autoritá ria, com algumas tendências socializantes. Dentro desse espírito, atuaria como
centro de pressã o, organizado no sentido de contrabalançar as investidas dos grupos
conservadores sobre o governo federal. E, realmente, até quando perdurou o regime de
exceçã o, os tenentes organizados em torno do Clube realizaram encontros nacionais,
traçaram diretrizes e influíram de forma patente nas orientaçõ es da política nacional.
Enquanto isso, os grupos políticos que exerceram grande influência na Primeira
Repú blica foram alimentando insatisfaçõ es com a gestã o da interventoria, explicitando
descontentamentos e tentando organizar-se.
Na esfera nacional, o debate principal girava em torno da conveniência ou nã o da
constitucionalizaçã o do país. Os tenentes se posicionaram contra, alegando que as
eleiçõ es trariam a volta das oligarquias. Mas, depois da Revolta promovida pelos
paulistas, em 1932, o presidente Vargas comprometeu-se a convocar a Constituinte. As
eleiçõ es foram marcadas para maio de 1933 e, dois meses antes, os grupos políticos
criaram seus partidos com o fim de concorrerem ao pleito.
O primeiro a ser fundado foi a Uniã o Republicana de Sergipe, representante do
grupo dos usineiros, o setor mais descontente com a nova ordem. A solene fundaçã o
realizou-se na Usina Pedras, do afortunado coronel Gonçalo Rolemberg do Prado, mais
conhecido por Gonçalo das Pedras, e contou com a presença de usineiros, figuras do
patronato rural e também alguns intelectuais vinculados à classe dominante.
A segunda agremiaçã o criada foi o Partido Social Progressista, que tinha no ex-
presidente do Estado Graccho Cardoso sua maior expressã o. Agregava também
seguidores do ex-presidente Pereira Lobo e membros da ex-Aliança Liberal que nã o se
integraram no governo de Maynard nem estavam afinados com a orientaçã o dos
usineiros. Quanto ao grupo de apoio à interventoria, envolvendo aí forte contingente
das classes subalternas urbanas e parcelas significativas do patronato rural, organizou-
153
Cf. Diário Oficial, 25.05.1932.
75

se através da legenda Liberdade e Civismo, que tenderia a polarizar com Uniã o


Republicana de Sergipe.
Durante a curtíssima campanha eleitoral, a Igreja Cató lica também atuou através
da Liga Eleitoral Cató lica (LEC), entidade criada em 1932, tendo como objetivos
principais alistar, organizar e instruir o eleitorado cató lico. A sua principal
peculiaridade, no entanto, era o cará ter suprapartidá rio. Agindo como grupo de pressã o,
sem se atrelar diretamente a nenhum partido, a LEC procedia como força aconselhadora,
selecionando os candidatos mais identificados com seu ideá rio.
Decorrido o pleito para a escolha dos quatro nomes para representar o Estado de
Sergipe na Constituinte, três candidatos foram eleitos pela legenda Liberdade e Civismo
e apenas um pela Uniã o Republicana de Sergipe. O Partido Social Progressista nã o elegeu
ninguém. A vitó ria do grupo situacionista pode ser explicada, de um lado, pela
composiçã o do governo estadual com os governos municipais; de outro, merece mençã o
o apoio de Leandro Maynard Maciel, secretá rio de obras do ex-presidente Manoel
Dantas, que vinha restabelecendo suas bases formadas antes de 1930. Além desses dois
fatores, deve também ter contribuído para a vitó ria de três dos quatro candidatos
situacionistas a popularidade que a interventoria gozava, sobretudo nos meios urbanos.
O resultado foi um revés significativo para os conservadores de Sergipe.
Os constituintes federais confirmaram as tendências dominantes, legando ao país
uma Carta de teor nacionalista e intervencionista. Trazia também vá rias outras
inovaçõ es significativas, entre as quais a Justiça Eleitoral, pluralidade e autonomia dos
sindicatos e o direito do voto a todos os maiores de 18 anos independentemente do
sexo, facultando assim o sufrá gio à mulher. Estabelecia o mandato do chefe do Executivo
até 1938, quando deveria haver eleiçã o direta para presidente. Levantou suspeiçõ es, no
entanto, à inclusã o de artigos referentes à Segurança Nacional.
Enquanto os parlamentares elaboravam a nova Constituiçã o, os políticos em
Sergipe preparavam-se para o pró ximo embate eleitoral, a realizar-se ainda em 1934,
quando seria eleita a bancada de deputados estaduais que haveria de escolher dois
senadores e o governador, revelando-se, assim, um momento dos mais importantes na
definiçã o do quadro dominante internamente. O período que medeia o primeiro pleito
(1933) do outro (1934) seria marcado pela polarizaçã o crescente entre as duas
76

principais forças políticas estaduais: o grupo situacionista, organizado em torno da


interventoria e os conservadores aglutinados na Uniã o Republicana de Sergipe (URS).
Durante esse período, foram criadas mais quatro agremiaçõ es, o que mostra a
intensidade da rearticulaçã o política em curso.
A primeira foi o Partido Social Democrá tico de Sergipe (PSD) sob influência
predominante do conhecido líder político Leandro Maynard Maciel, que antes havia se
aliado à interventoria, mas andava insatisfeito. Pouco depois, as principais lideranças
políticas que apoiavam o interventor fundaram o Partido Republicano de Sergipe,
quando se pregou o “fortalecimento da açã o do Estado como mediadora dos interesses
coletivos”: a defesa dos direitos dos trabalhadores, proteçã o à infâ ncia, assistência
sanitá ria à s populaçõ es pobres.154 Com a estruturaçã o desse partido, sucedâ neo da
legenda Liberdade e Civismo, o grupo situacionista partiria para a campanha, atraindo
outros setores, com vistas a enfrentar os conservadores. Estes, por sua vez, buscavam
também ampliar seu raio de açã o envolvendo, inclusive, os integralistas, que se
organizavam em Sergipe. Se, em fins dos anos vinte, já se tentava divulgar as ideias
fascistas no Brasil, foi nos anos trinta que se propagou o movimento integralista, sob a
liderança do escritor paulista Plínio Salgado. Numa conjuntura de prestígio ascensional
das ideias autoritá rias, o Integralismo aparecia com o lema “Deus, Pá tria, Família”
dentro de uma concepçã o patriarcal da sociedade e atuaria como movimento político
capaz de galvanizar ponderá veis setores da classe média e da classe dominante, de
alguma forma assustados com a expansã o das ideias socialistas. Daí a aceitaçã o ou
simpatia encontrada entre leigos e religiosos que professavam a religiã o cató lica. Como
uma reproduçã o cabocla do fascismo europeu, o Integralismo, criado formalmente com
o lançamento do seu manifesto, em outubro de 1932, difundiu-se rá pido em quase todo
o país. Em 1933 alguns de seus líderes fizeram peregrinaçã o pelas capitais dos Estados,
inclusive no Norte e Nordeste.
Em Sergipe, em inícios de dezembro de 1933, Gustavo Barroso, Miguel Reale e
Má rio Brasil proferiram conferências no Teatro Rio Branco, na Associaçã o Sergipana de
Imprensa e na Associaçã o dos Empregados do Comércio, com grande receptividade
entre a intelectualidade de Aracaju. Fundou-se, entã o, um nú cleo de integralistas em
Sergipe, no qual em sessã o pú blica, intelectuais como Omer Mont’Alegre, Agnaldo
154
Programa e Estatuto do Partido Republicano de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1934.
77

Celestino e José Calazans apareciam como simpatizantes de primeira hora.155 Durante o


ano de 1934, o movimento propagou-se em Sergipe, estendendo-se ao interior. Foi
criado semaná rio O Sigma, dedicado à propagaçã o do movimento, dando impulso ao seu
credo, dentro do sistema hierarquizado da organizaçã o.156
Outra agremiaçã o organizada nesse tempo foi a dos trabalhadores urbanos,
denominada de Aliança Proletá ria de Sergipe, criada em março de 1934, com programa
em certa medida inspirado no ideá rio socialista.
Com as vá rias tendências político-ideoló gicas da sociedade sergipana organizadas
em partidos, a campanha refletiu os interesses e as paixõ es dos diversos grupos sociais,
num nível de participaçã o inédito na Histó ria de Sergipe, de forma que as diversas
correntes políticas puderam, com entusiasmo e, muitas vezes, com excessos, atacar seus
adversá rios e divulgar suas promessas. Apesar dos seis partidos existentes terem
apresentado chapa pró pria, a campanha se desenvolveu dividida em dois grandes
blocos: o situacionista e o grupo dos usineiros.
Entre as alianças ocorridas, a mais surpreendente foi a do PSD com a URS pelas
histó ricas incompatibilidades, inclusive familiares, que permeavam os dois grupos.
Quanto ao Partido Social Progressista de Graccho Cardoso, que havia concorrido em
faixa pró pria em 1933, ligava-se à interventoria, assim como à Aliança Proletá ria de
Sergipe. Os dois blocos ficaram assim constituídos: de um lado, a URS, o PSD e a Açã o
Integralista, com alguma simpatia de setores da Igreja. Do outro lado, figuravam o PRS, o
PSP e a ASP. Em termos ideoló gicos, apesar da heterogeneidade do bloco que apoiava a
chapa oficial, nã o deixava de se diferenciar do outro grupo, de perfil tipicamente
conservador. A primeira coalizã o lançava como candidato a governador, a ser eleito pela
Constituinte, o capitã o e médico Eronides Ferreira de Carvalho. Do outro lado, concorria
o capitã o Augusto Maynard Gomes, que pretendia continuar no Executivo como
governador eleito pela Assembleia Constituinte.
À medida que o pleito se aproximava, o clima da campanha tornava-se tenso e
marcado por conflitos os mais diversos: lutas corporais, tiroteios, prisõ es,
arbitrariedades e violências vá rias. O interventor afastou-se do governo, visando

155
Sergipe Jornal, 04-06.12.1933 e 03.01.1934.
156
Sobre o tema, ver Ademir da Costa Santos. O Integralismo em Sergipe: os intelectuais e a ação da Igreja Cató lica
(1933/1938). Monografia apresentada no bacharelado de Ciências Sociais. Aracaju/SE, 1996.
78

demonstrar distanciamento das ocorrências, mas os conservadores, nã o conformados,


lutaram pela intervençã o federal e conseguiram-na.
O resultado evidenciou a vitó ria dos conservadores, que elegeram três dos quatro
deputados da bancada federal157 e dezesseis dos trinta membros da bancada para a
Assembleia Constituinte do Estado. A vitó ria na Assembleia Estadual, nã o obstante a
exígua maioria, teria maiores consequências. Diante do insucesso, o interventor relutou
em entregar o governo a quem denominava de reacioná rio, passando a articular a
resistência, envolvendo seus grupos de apoio. Travou-se, entã o, uma movimentada
guerra de bastidores, inclusive na á rea do governo central. Mas os conservadores nã o se
deixaram envolver. Sem respaldo legal e sem apoio externo significativo, Maynard
terminou renunciando, em 27.03.1935, para nã o transmitir o cargo aos adversá rios.
Instalada a Assembleia Constituinte Estadual em 1o.04.1935, no dia seguinte
foram realizadas as eleiçõ es para governador e senador. Com maioria, a coalizã o
URS+PSD elegeu todos os seus candidatos, ou seja, Eronides Ferreira de Carvalho para
governador e um senador de cada um dos partidos: Augusto César Leite pela URS e
Leandro Maynard Maciel pelo PSD.

2.1.2 O Governo Eronides de Carvalho e a Reação Conservadora (1935-1937)

A ascensã o do capitã o Eronides Ferreira de Carvalho ao governo de Sergipe,


eleito pela Assembleia Legislativa, em 02.04.1935, significou o triunfo de uma orientaçã o
conservadora em reaçã o à s políticas operadas pela interventoria de Maynard. Num
momento em que o governo federal parecia interessado em golpear os esquerdistas, a
sua vitó ria tornou-se bastante conveniente a Vargas.
Proveniente de família de proprietá rio rural de Canhoba (SE), Eronides de
Carvalho nasceu em 1895, graduou-se em Medicina (1917) e retornou a Sergipe, onde
ocuparia vá rios cargos pú blicos. Crítico do movimento tenentista, permaneceu fiel à s
forças legais durante as revoltas de 1924 e 1926 e por toda a década de vinte. No
entanto, quando a Revoluçã o de 1930 eclodiu, tornou-se o primeiro dos governantes
provisó rios. Durante a interventoria de Maynard (1930-35), permaneceu prestando
serviços profissionais no 28º BC, ao tempo que manifestava sua discordâ ncia com a
157
Foram eleitos Amando Fontes, Barreto Filho e Mesquisedeck Monte pela URS e apenas Deodato Maria pelo PRS.
79

orientaçã o política vigente, aglutinando os descontentes e impondo-se como alternativa


viá vel em termos de liderança. Com sua posiçã o privilegiada de membro do Exército,
num momento de prestígio dos militares, aproximou-se do grupo dos usineiros e
participou ativamente da fundaçã o da Uniã o Republicana de Sergipe. Uma vez
empossado como governador, tratou de desarticular o grupo maynardista e anular
muitos dos seus feitos. No interior, ao tempo em que eram exonerados prefeitos,
membros de Conselhos Consultivos, integrantes de comissõ es de ensino, delegados,
subdelegados e adjuntos de promotoria, eram logo divulgados seus substitutos de
conformidade com os termos do acordo prévio firmado entre os dois grupos.
Simultaneamente foi abolindo regulamentos, anulando decretos, suprimindo cargos e
exonerando servidores. Entretanto, cedo as divergências dentro da aliança partidá ria
governista emergiram. Os pessedistas alegaram que o governador nã o estava honrando
os acertos e cerca de três meses depois houve a cisã o, fortalecendo consideravelmente
os oposicionistas. Os situacionistas ainda conseguiram cooptar alguns deputados, mas a
atuaçã o dos divergentes cresceu e passou a desgastar o governo nos planos nacional e
local.158
Os esquerdistas intensificaram sua mobilizaçã o criando entidades. Apó s a
formaçã o da Uniã o Feminina do Brasil e da Frente Ú nica Antifascista e Antiguerreira de
Sergipe, foi fundada a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Nã o obstante uma certa
receptividade entre alguns segmentos urbanos, segundo estudioso do tema, teria
duraçã o legal de menos de uma semana, em face da extinçã o do ó rgã o no plano
nacional.159 Os direitistas, por sua vez, ampliavam seus nú cleos integralistas, muitas
vezes com o apoio velado ou explícito da Igreja Cató lica que passou a atuar de forma
mais vigorosa. Criou a sucursal da Açã o Cató lica Brasileira em 1935, que atingia os
grupos médios e superiores, bem como o Círculo Operá rio Sergipano, que atuava entre
os trabalhadores urbanos. Sintonizado com esses ó rgã os, havia o jornal A Cruzada,
dando cobertura e ajudando as iniciativas proselitistas.
Com essa pluralidade de entidades disputando espaços ideoló gicos, as lutas
políticas, que já haviam sido bastante renhidas no pleito de 1934, se exacerbaram. A
polarizaçã o foi evoluindo para agressividades mú tuas, enquanto o governo federal ia
158
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
159
Cf. Juarez Ferreira de Oliveira. Pão, Terra e liberdade: A Aliança Nacional Libertadora em Sergipe. Sã o Cristó vã o,
UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p. 64.
80

aumentando seu aparato repressivo, fazendo vista grossa diante das açõ es dos
integralistas e investindo contra os esquerdistas. Em abril de 1935, foi aprovada a Lei de
Segurança Nacional e, em junho do mesmo ano, Vargas mandava fechar todos os nú cleos
da Aliança Nacional Libertadora, o que foi feito no mês seguinte.160 Pouco depois vinha a
ordem para impedir o funcionamento da Uniã o Feminina do Brasil pelo período de seis
meses, considerando que vinha desenvolvendo “atividade subversiva da ordem política
e social”.161 Da mesma forma, era reprimida a Frente Ú nica Antifascista e Antiguerreira
de Sergipe.
Quando os oposicionistas fustigavam o governador Eronides de Carvalho, com
base insuficiente para proporcionar-lhe segurança no parlamento, os comunistas
levantaram-se em novembro de 1935, em Natal, Recife e Rio de Janeiro. O movimento,
que ficou conhecido como Intentona Comunista, levou o governo nacional e o estadual a
intensificarem a repressã o. Em Sergipe dezenas de pessoas foram presas e algumas
bastante maltratadas. Enquanto isso, o interventor mantinha relaçõ es amistosas com
Virgulino Ferreira, dificultava a repressã o ao seu grupo de cangaceiros e fornecia-lhe
muniçã o. Nã o foi por acaso que passou a ser considerado “como o mais importante
aliado e protetor de Lampiã o”.162 Como efeito da repressã o, o movimento dos
trabalhadores urbanos, que vinha crescendo e já contando inclusive com um deputado
classista na Assembleia Legislativa, onde tinha atuaçã o bastante participativa, passou a
ser desarticulado. A partir de 1936 ainda procurou recompor-se, elegendo vereadores,
promovendo encontros no Centro Operá rio, editando jornal, mas seus membros eram
bastante rechaçados pelos integralistas, que chegaram a invadir as oficinas e
danificarem suas má quinas, enquanto a polícia, comandada por simpatizantes dos
camisas verdes, se omitia.
No período de 1936-1937, o governo Eronides de Carvalho passou a divulgar
propaganda de cunho ideoló gico e realizar açõ es repressivas, censurando e fechando
jornais, prendendo estudantes, jornalistas, perseguindo adversá rios políticos no interior
do Estado. Mas os oposicionistas nã o se davam por vencidos. Continuavam criticando os
160
“O pretexto para a promulgaçã o da lei é o extremismo, porém a medida nã o se dirige contra a Açã o Integralista
Brasileira e sim contra o movimento operá rio”. Edgard Carone. A República Nova. Sã o Paulo: Difel, 1974. p. 334.
161
Diário Oficial, 24.07.1935.
162
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros. A Derradeira Gesta. Lampiã o e Nazarennos Guerreando no Sertã o. Rio de
Janeiro: FAPERJ, Mauad, 2000, p. 68. Sobre essa cumplicidade de Eronides de Carvalho com as açõ es de Lampiã o, ver
ainda: Joaquim Gó is. Lampião, o último cangaceiro. Aracaju: Regina, 1966, p.156 e José Anderson Nascimento.
Cangaceiros, Coiteiros e Volantes. São Paulo: Ícone, 1998.
81

atos governamentais pelo Jornal da Tarde e pelo Correio de Aracaju, ataques que eram
respondidos pelo Estado de Sergipe e pelo Diário Oficial. A partir de fins de outubro de
1937, o clima foi-se tornando mais tenso na Assembleia Legislativa com o empenho dos
deputados oposicionistas de votar o impeachment do governador Eronides de Carvalho.
A essa altura, no plano nacional, acirrava-se também a campanha eleitoral para
presidente da Repú blica com a disputa entre dois candidatos. De um lado, concorria o
paraibano José Américo de Almeida, contando com o apoio das forças de esquerda e a
maior parte do eleitorado nordestino. Do outro lado, disputava o paulista Armando Sales
de Oliveira, aglutinando os empresá rios e o grosso da populaçã o do Sudeste. Quando a
naçã o discutia suas opçõ es político-eleitorais, Vargas, com apoio dos militares e dos
integralistas, anunciou o golpe de Estado. Nascia o que foi denominado de Estado Novo.

2.2 As Interventorias no Estado Novo (1937-1945)

O golpe de novembro de 1937 significava o triunfo das ideias antiliberais e


antidemocrá ticas que vinham prosperando de muito, estimuladas inclusive pela
ascensã o dos regimes autoritá rios em vá rios países do Ocidente. O experimento
democrá tico, que começou a ser vivenciado a partir de 1933, encontrava grandes
dificuldades de realizaçã o. Bombardeado pelos grupos de direita e de esquerda, e
fragilizado pela exacerbaçã o das lutas político-ideoló gicas, teve pequena duraçã o. O
governo outorgou uma Constituiçã o autoritá ria inspirada no exemplo polonês. O
Congresso Nacional e todas as demais casas legislativas foram fechados. O princípio
federativo foi anulado. Em 1938, os integralistas insatisfeitos com as promessas nã o
cumpridas se rebelaram, Vargas reprimiu-os e aproveitou para completar a obra do
Estado Unitá rio. Extinguiu a Açã o Integralista, bem como os símbolos estaduais. Sem
ó rgã os de representaçã o, a relaçã o entre o povo e o líder (presidente) era teorizada
como direta, sem necessidade de intermediá rios. O líder tornava-se o ú nico
representante de todo o povo. Dessa forma, nã o se admitiriam manifestaçõ es
divergentes.
82

Em Sergipe, o período 1937-45 foi preenchido pela sucessã o de três


interventores no governo do Estado. Eronides de Carvalho permaneceu até julho de
1941. O capitã o Milton Azevedo o substituiu e esteve dirigindo o Estado até março de
1942, quando se processou a volta de Maynard, que ficou no Executivo até a queda do
regime ditatorial.
Poder-se-ia dizer que esses três interventores corresponderam, em linhas gerais,
a momentos diferentes do período autoritá rio. O primeiro viveu o fastígio do regime,
com a exacerbaçã o doutriná ria beirando as raias do totalitarismo. O segundo
representou o interregno que separa o fastígio do declínio mais ou menos evidente. Esta
fase de descenso foi vivida pela gestã o de Maynard (1942-45).
Dentre as primeiras medidas da interventoria de Eronides de Carvalho (1937-
41), destacou-se o acerto de contas com os adversá rios. Respaldado pela nova
Constituiçã o outorgada, deflagrou a derrubada de todos os chefes de Executivo
municipal, eleitos por outros partidos, que nã o eram de sua confiança. Ao lado disso,
aposentou civis, reformou militares, considerando tais atos de interesse do serviço
pú blico e foi substituindo-os em geral por seus clientes ou correligioná rios, enquanto os
grupos oposicionistas praticamente nada podiam fazer. Entre os mais privilegiados
dessa operaçã o estavam os senhores do açú car. Alguns deles tornaram-se inclusive
prefeitos municipais.
Facultada pelo crescimento, a partir de 1935, das rendas tributá rias, a
interventoria pô de realizar vá rias obras, entre as quais se destacam as ligadas ao setor
de saú de, como o Palá cio Serigy, Hospital Infantil, casa para psicopatas e um centro para
menores abandonados e delinquentes, denotando a preocupaçã o social do momento.163
Ao lado dessas realizaçõ es, ampliou a rede de estradas, construiu escolas e a Biblioteca
Pú blica foi sediada em prédio novo, para ficar apenas nas realizaçõ es mais significativas.
Sem partidos, com o Legislativo interditado, o Judiciá rio debilitado diante de uma
legislaçã o que armava o Executivo de poderes amplos, o circuito do controle parecia
fechado. O ú nico setor que nã o se submetia à interventoria era a guarniçã o do 28º BC,
enquanto esteve sob o comando de Maynard, que permaneceu no posto até setembro de
1939, incomodando o interventor.

163
Cf. Diário Oficial, 04.04.1940, 12.11.1940 e 30.03.1941.
83

Com os principais redutos oposicionistas extintos, apenas dois jornais


sobreviviam sem compactuar de todo com a situaçã o vigente: o Correio de Aracaju e o
Sergipe Jornal. Apesar de submetidos à censura, foram mostrando as contradiçõ es da
administraçã o autoritá ria. Cidadã os insatisfeitos também passaram a escrever para
autoridades ligadas ao governo federal, dando conta de mau uso do dinheiro pú blico.
Depoimentos pessoais de Maynard, que continuava com alguma influência, reforçavam a
veracidade das notícias. Diante de sucessivas acusaçõ es, Vargas designou comissã o
federal que veio a Sergipe e confirmou vá rias irregularidades, entre as quais a falsidade
dos orçamentos, a falta de concorrência em obras pú blicas, o atraso a credores do
Estado de até três anos, bem como o tratamento diferenciado com relaçã o a eles. 164 O
regime autoritá rio, desprovido de fiscalizaçã o efetiva, se tornava campo propício à
corrupçã o e arbítrios. Quando toda a crítica se tornava proibida, ficava a delaçã o como
ú nico canal de informaçã o à s autoridades do poder central.
Convencido de seu prestígio de governante identificado com a ditadura varguista,
Eronides de Carvalho, a princípio, parece nã o ter dado grande importâ ncia à s denú ncias,
mas, quando foi ao Rio de Janeiro prestar contas ao presidente, foi obrigado a renunciar.
No dia 30 de junho de 1941, a imprensa de Aracaju noticiava sua exoneraçã o, bem como
a nomeaçã o do capitã o Milton Pereira de Azevedo.165
A indicaçã o do capitã o Milton Azevedo para interventor (1941-1942) foi uma
soluçã o conciliató ria. Vargas, nã o querendo contrariar de todo seu servidor Eronides de
Carvalho com a nomeaçã o imediata de seu grande adversá rio político, Maynard Gomes,
criou o mandato intermediá rio entre os dois militares que se rivalizavam na arena
política de Sergipe. Figura discreta, o novo governante era natural de Aquidabã , pequena
cidade de Sergipe e, depois de cursar a Escola Militar, esteve lotado na corporaçã o do
28º BC. Apó s a intentona comunista em 1935, sem sintonia com o entã o interventor
Eronides de Carvalho, deixou Sergipe. Instrutor da Polícia do Distrito Federal desde
1937, ao ser nomeado interventor do seu Estado, foi recebido em Aracaju com grande
festa promovida pelos adeptos de Maynard. No governo, montou seu secretariado com
os seguidores daquele líder tenentista. No â mbito dos municípios, depois de
exoneraçõ es de praxe de prefeitos e delegados, voltavam os nomes vinculados ao

164
Cf. Relatório de Sá lvio Oliveira de 24.02.1941, fotocó pia com o autor, gentilmente cedida pelo relator.
165
Correio de Aracaju, 30.06.1941.
84

maynardismo. Contando com o apoio deste grupo, o novo interventor organizou


comissõ es para apurar denú ncias da administraçã o passada e divulgou os relató rios,
dando conta de crise financeira e desordem administrativa. Os jornais, antes censurados,
desforraram-se, realizando autó psia da administraçã o finda. Enquanto isso, o novo
governo revelava maior escrú pulo no trato com o erá rio pú blico, e as relaçõ es da
interventoria com os setores mais ou menos organizados tenderam para entendimentos.
Os senhores do açú car, que apoiavam a administraçã o anterior, procuraram aproximar-
se do novo governo, através do seu líder coronel Gonçalo Prado. O momento era de
dirimir contradiçõ es de interesses. Sendo vedadas as greves ou manifestaçõ es
reivindicató rias dos trabalhadores, o governo obedecia à s instruçõ es dos ó rgã os de
controle, promovendo e disciplinando as comemoraçõ es oficiais, e servindo de
intermediaçã o nas questõ es mais sérias entre o capital e o trabalho. No geral, nã o
conseguia fugir dos condicionamentos do sistema autoritá rio controlador e
desorganizador das massas populares, ao tempo em que contribuía fielmente para
melhorar a feiçã o do regime e de seu presidente.
Passado um período de alguma permissã o para que a imprensa criticasse a
administraçã o anterior, a integraçã o do governo no espírito do autoritarismo
estadonovista foi sendo retomada. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi
recuperando o controle parcialmente perdido no período de transiçã o e a administraçã o
adquirindo segurança. Isso passou a incomodar a alguns adeptos de Maynard, que
torciam pela sua volta ao governo o quanto antes. Mas Vargas sem pressa foi protelando
até março de 1942, quando, certamente acossado por compromissos assumidos,
exonerava o capitã o Milton Pereira de Azevedo e proporcionava a volta de Maynard à
interventoria do Estado de Sergipe.
Sete anos depois de sua renú ncia da interventoria de Sergipe, retornava Augusto
Maynard Gomes a ocupar a direçã o político-administrativa de seu Estado até 1945. O
tenente, que assumiu o governo em 1930, saiu em 1935 como major. Em 1942 voltava
como coronel. Mas a mudança nã o se processava apenas na patente. Depois que,
derrotado e inconformado, deixou o governo, teve o cuidado de sempre se manter
solidá rio à orientaçã o política do presidente Vargas, acompanhando-o em todas as suas
variadas transformaçõ es. Pleiteou entã o, a partir de 1935, o comando do Quartel do 28º
85

BC, sediado em Aracaju e, apesar da reaçã o de Eronides de Carvalho, foi enfim atendido,
em outubro de 1937, com o constrangimento explícito daquele governador. Para
atenuar a situaçã o, Vargas designou-o para missã o no sul da Bahia, onde demitiu e
empossou prefeitos e delegados em municípios daquela regiã o. Regressando a Aracaju
em janeiro de 1938, permaneceu no comando do 28º BC até setembro de 1939,
constituindo-se em incô moda presença para a interventoria de Eronides de Carvalho.
Em janeiro de 1940, foi nomeado Ministro do Tribunal de Segurança Nacional, ó rgã o
maior do sistema repressivo nacional, quando apresentou parecer favorá vel à
condenaçã o de Luiz Carlos Prestes, comprometendo irremediavelmente sua imagem
junto aos simpatizantes daquele líder comunista.
Empossado como interventor em 24 de março de 1942 no Rio de Janeiro,
Maynard chegou a Sergipe no dia 27, quando ocorreu a transferência de cargo.166
Recebido com grande festa e elevadas expectativas, tendeu a governar de forma
diferente, mesmo porque o contexto era outro. No aparelho de Estado, embora
mantivesse seus adeptos que vinham ocupando cargos de confiança desde a
interventoria de Milton Azevedo, incorporou alguns técnicos ou burocratas que haviam
participado da gestã o de Eronides de Carvalho, mostrando já certa atenuaçã o do espírito
partidá rio. Ao lado disso, colocou na Secretaria Geral o jovem advogado Francisco Leite
Neto, que iria imprimir rumos pró prios à administraçã o, coordenando as políticas,
adquirindo autonomia de açã o e formando seu pró prio grupo entre a classe dominante.
Outro fator que iria pesar na segunda interventoria Maynard seria a teia de relaçõ es
familiares. O casamento de uma filha com um Garcez, em 1937, iria contribuir para a
aproximaçã o entre o governo e personalidades da ex-Uniã o Republicana de Sergipe.
Apesar desses condicionamentos de tendência conservadora, no primeiro ano de
governo registrou-se certo empenho no sentido de pautar a administraçã o por maior
racionalidade. Tentou-se, por exemplo, uniformizar as posturas municipais, enquanto o
pessoal do Tesouro do Estado passava a exigir dos seus funcioná rios (exatores) a
prestaçã o de contas mensais, em vez de apó s a aposentadoria, como entã o ocorria.
Quanto ao relacionamento do governo Maynard com os trabalhadores urbanos,
também apresentou diferenciaçã o em face do primeiro período (1930-35). Por ocasiã o

166
Ver Sergipe Jornal, 05 a 28.03.1942, Correio de Aracaju, 28.03.1942. O seu lugar no Tribunal de Segurança seria
ocupado por Eronides Ferreira de Carvalho que mais tarde seria beneficiado com um Cartó rio.
86

de sua posse, as lideranças empenharam-se em tributar-lhe as mais calorosas


homenagens. Ante tais manifestaçõ es, a interventoria empreendeu algumas iniciativas
no sentido de corresponder a um mínimo das expectativas dos trabalhadores. Nesse
sentido, empenhou-se junto ao Ministério do Trabalho, pleiteando a construçã o de casas
populares, mas do plano de construir em torno de uma centena de casas chegaria a
inaugurar, se muito, uma dezena. Enquanto isso, a Prefeitura de Aracaju construía em
bairro popular de Aracaju (Siqueira Campos) a Casa da Criança Operá ria, composta de
escola, creche e parque de diversõ es. Em 1942, autoridade da Delegacia Regional do
Trabalho falava do programa do ministro Marcondes Filho “de legislaçã o social
trabalhista e associativa”, que compreendia reuniõ es quinzenais com todos os
presidentes de sindicatos, envolvendo empregados, autô nomos e empregadores, no
sentido de colaboraçã o entre as partes. No ensejo, o jornal O Nordeste, depois de ouvir
da citada autoridade referências sobre a aceitaçã o do seu trabalho no Estado, estampava
em manchete: “Há em Sergipe a mais perfeita harmonia entre o capital e o trabalho”. 167
Em 1943, com a Consolidaçã o das Leis Trabalhistas, enfim o país passava a ter ampla
legislaçã o social, nã o obstante seu cará ter corporativista. Vargas e seus aliados saíam
prestigiados como grandes protetores dos operá rios.
Diante da Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando o presidente da Repú blica
hesitava se aderia à s potências Aliadas ou à s do Eixo, o torpedeamento de navios na
costa entre Sergipe e Bahia, em agosto de 1942, acabou com as dú vidas de Vargas.168 A
agressã o resultou na morte de vá rias centenas de pessoas que apareceram nas costas
territoriais do Estado, comovendo a populaçã o e afetando o governo de Maynard. As
massas indignadas saíram pelas ruas à cata de colaboradores, os entã o denominados de
“quinta colunas”, realizando depredaçõ es e saques difíceis de serem evitados.169 Nos
portos, o risco de novas tragédias concorreu para a reduçã o do fluxo do comércio
interestadual, comprometendo o escoamento dos produtos de exportaçã o e as finanças

167
O Nordeste, 18.05.1942.
168
Segundo estudioso do tema, de 15 para 16 de agosto de 1942 teriam sido bombardeados os navios Baependi com
270 mortes, Aníbal Benévolo com 150 falecimentos e Araraquara com 131 baixas. Pouco depois, foram atingidos na
costa da Bahia o Itagiba e o Arará com 36 e 20 mortes respectivamente. Em 31.07.43 foi abatido o Bagé em á guas
pró ximas a Sergipe e o Itapagé, em 26.09.1943, no litoral de Alagoas. Cf. Luiz Antô nio Pinto Cruz. Aracaju: Memória de
uma cidade sitiada (1942-1945). Sã o Cristó vã o, UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p.28-
29.
169
Alguns empresá rios foram presos pelo fato de serem italianos, como uma forma de aplacar a revolta da populaçã o.
Ver Osmá rio Santos. Frederico: lenda viva na construção. Jornal da Cidade, 23 e 24.11.2003.
87

pú blicas. Enquanto isso, a lavoura também se ressentia das pragas que atingiam suas
plantaçõ es.
Nã o obstante a arrecadaçã o elevar-se consideravelmente de 1942 a 1945, a
dívida pú blica aumentou, apesar de o elenco de obras ter sido relativamente modesto:
construçã o e conservaçã o de escolas e estradas, apoio à agricultura e à pecuá ria etc.
Empreendimentos maiores, como a edificaçã o de casas populares e aquisiçã o de Usina
Elétrica, eram financiados pelo governo central.170 Ao fim do Estado Novo, o aparato
administrativo havia se ampliado e se tornado menos pessoal. Os serviços de saú de
estavam melhorados. As obras continuavam mudando a face da capital. Os alagados de
Aracaju haviam se reduzido consideravelmente. As ruas ganhavam calçamentos de
paralelepípedos para permitir o fluxo de automó veis e de ô nibus que aumentavam. A
grande maioria das sedes municipais já dispunha de seu motor para geraçã o de energia
elétrica. Em meio à s prá ticas autoritá rias, a administraçã o estadual modernizava-se.
Enquanto isso, à medida que a II Guerra Mundial transcorria, o quadro ideoló gico
justificador do autoritarismo foi sendo corroído de forma progressiva. A expansã o do
nazifascismo e as hesitaçõ es de Vargas preocupavam os setores democrá ticos. Aos
poucos foram sendo criadas entidades que, ao tempo em que se opunham à Guerra, iam
também atingindo a ordem autoritá ria. O reaparecimento da Liga de Defesa Nacional,
propondo o “congraçamento de todas as forças em defesa da nacionalidade”, a Sociedade
dos Amigos da América, a Uniã o dos Estudantes foram encontrando repercussã o até no
seio da sociedade civil e do aparato pú blico desde pelo menos 1942.
Em Sergipe, esses movimentos foram se refletindo em variadas proporçõ es. Os
estudantes, que de muito vinham participando dos eventos políticos, fundaram
associaçõ es, tais como a Liga Estudantil de Defesa Nacional, que tentava realizar
inclusive comícios contra os “inimigos do Brasil”. Enquanto isso, jornais como O
Nordeste se mostravam empenhados em combater “o quinta coluna”. 171 Tais
movimentos, em meio à demonstraçã o de inflamados patriotismos, apresentavam
sentido mobilizador e iam investindo contra as tendências autoritá rias e totalitá rias. O
manifesto dos intelectuais sergipanos de julho de 1942, endossando a declaraçã o de
princípios de personalidades do sul do país, contou com adesõ es até dentro da sociedade

170
Diário Oficial, 22.03.1944.
171
O Nordeste, julho e agosto de 1942. Este ó rgã o era dirigido por Francisco de Araú jo Macedo.
88

política. Os bombardeios dos navios na costa entre Sergipe e Bahia projetou o repú dio
aos nazifascistas com toda a força e, em contrapartida, a defesa dos aliados,
representantes dos ideais democrá ticos.
Internamente, Vargas foi postergando o trâ nsito do autoritarismo para a
democracia. Editou em 28.02.1945 o Ato Adicional nú mero 9, que tratava da
redemocratizaçã o, e concedeu a anistia em 18.04.1945 para crimes políticos. Os exilados
retornaram, mas, diante de um governo que se mantinha há quinze anos com manobras
imprevistas, a desconfiança era grande. Com o retorno dos pracinhas da Força
Expedicioná ria Brasileira, em meio a elevado clima emocional, as contradiçõ es se
acentuaram. Os soldados que lutaram pela democracia encontravam seu país ainda sob
o jugo do Estado autoritá rio. Quando, em fevereiro de 1945, caiu a censura no sul do país
e foram anunciadas eleiçõ es gerais, o processo de mobilizaçã o da sociedade pela
liberalizaçã o ganhou maior vigor. Intensificam-se as campanhas pela Anistia e contra o
Fascismo. Passeatas e manifestos se tornam frequentes, exigindo o fim da ditadura. O
movimento pela reorganizaçã o partidá ria acelerou-se, explicitando a nova configuraçã o
das relaçõ es de forças.172
No realinhamento partidá rio de Sergipe, destacaram-se três grupos políticos. O
primeiro era liderado por Leandro Maynard Maciel, agregando representantes de
famílias expressivas como os Franco, os Diniz, os Rolemberg, jovens advogados dos
estratos médios, fazendeiros de quase todos os municípios. Juntos criaram a Uniã o
Democrá tica Nacional (UDN). O segundo foi formado pelo quadro situacionista da
interventoria, envolvendo os novos aderentes das famílias Leite, Garcez e Sobral, o
pessoal mais identificado com o governo vigente, inclusive funcioná rios e outras
autoridades municipais, entre as quais prestigiosos coronéis. De conformidade com a
orientaçã o nacional, eles fundaram a sucursal do Partido Social Democrá tico (PSD). O
terceiro setor representativo da classe dominante se reunia sob a sigla do Partido
Republicano, sob a direçã o de Jú lio César Leite, aglutinando os remanescentes da ex-
Uniã o Republicana de Sergipe, agremiaçã o dos usineiros que a partir de 1937 foram se
dispersando. Nã o foi por acaso que alguns desses produtores de açú car aderiram à UDN,
parte continuou apoiando o esquema situacionista, incorporando-se ao PSD, enquanto
uma terceira parcela ingressava no Partido Republicano.
172
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
89

Os estratos médios, por sua vez, dispersos em todos os partidos controlados pelas
forças dominantes, encontravam dificuldades em formar uma agremiaçã o com
identidade pró pria. Em situaçã o semelhante se encontravam os trabalhadores urbanos.
Embora Vargas tenha recomendado aos governos a criaçã o do PSD, agrupando a elite
governamental, e reservado o PTB para os trabalhadores, estes careciam de unidade.
Parte ficou solidá ria a Maynard, apoiando o PSD, outra parcela foi sendo arrastada pela
pregaçã o populista do Partido Trabalhista Brasileiro, que seria dirigido por Francisco
Araú jo Macedo, congregando inclusive os “queremistas” (grupo que queria a
Constituiçã o com Vargas), enquanto um setor mais ativo se articulava em torno do
Partido Comunista Brasileiro. Além desses, ainda havia os associados do Círculo
Operá rio, que tendiam a prestar apoio aos candidatos mais conservadores. O Estado
Novo, que consolidou a legislaçã o social, contribuiu para o fracionamento dos
trabalhadores urbanos.
Nesse momento de reorganizaçã o partidá ria, em seu trabalho de proselitismo, a
má quina governista contava com uma emissora de rá dio (Aperipê), dois jornais (Diário
Oficial e Diário de Sergipe), os aparelhos administrativos, incluindo os ó rgã os de
arrecadaçã o, e o aparato coercitivo. Mesmo um governante considerado por muitos de
seus adeptos como bastante tolerante, nã o deixava de provocar inú meras denú ncias
contra seus atos repressivos. Em pleno processo de liberalizaçã o, em março de 1945,
cerca de quinze dias apó s célebre entrevista de José Américo de Almeida ao Correio da
Manhã, a interventoria ainda teimava em manter a censura prévia, motivando o
fechamento dos dois jornais que lhe faziam oposiçã o. Ademais, a prisã o do jornalista
Paulo Costa, proprietá rio do Sergipe Jornal, em fins de agosto de 1945, e denú ncias de
violências no interior, no ensejo dos comícios, foram ajudando a aumentar a polarizaçã o
interna e a corrosã o do regime autoritá rio.173 Na á rea estudantil, o movimento pela
democratizaçã o espraiava-se, encontrando crescente entusiasmo dos jovens. No
Atheneu, o Grêmio Estudantil Clodomir Silva publicava seu jornal Voz do Estudante cada
vez mais animado com o novo amanhã que estava para nascer. Nesse ambiente,
estendiam sua participaçã o política ingressando no Partido Comunista, onde havia
nú cleo político bastante ativo. Mas quando o PCB dividiu-se em duas correntes, uma

173
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
90

alinhada com a oposiçã o ao governo ditatorial e outra que o apoiava, provocou muita
discussã o, entrou em crise e arrefeceu o movimento.174
Na interventoria, Maynard, sempre solidá rio a Vargas, era apontado como o
candidato do PSD a governador, no pleito marcado para 2 de dezembro. O presidente,
que administrava o processo de transiçã o, manobrava para eleger seus aliados e
alimentava o movimento “queremista”, que defendia a sua permanência. Mas os fatos se
precipitaram. Interpretando os reclamos do movimento oposicionista, o general
Cordeiro de Farias, em nome dos seus pares, foi a Palá cio, no dia 29 de outubro de 1945,
levar-lhe um ultimato para que renunciasse. O Exército, que o entronizou, o depô s.
A queda do presidente surpreendeu Maynard em trâ nsito para Sergipe. Foi preso
em Salvador, como medida acautelató ria, já que o interventor permanecia fiel ao ditador
até o fim. Terminava o Estado Novo e, com ele, o primeiro governo Vargas, que perdurou
por quinze anos. Abria-se uma nova pá gina da política nacional e estadual.

174
Cf. Fernando Barreto Nunes. Entrevista ao autor, em 31.05.1982.
91

2.3 O Processo Econômico-social

A crise de 1929 inviabilizou o modelo de financiamento da economia vigente na


Primeira Repú blica, firmado na exportaçã o de produtos primá rios. Diante desse desafio,
o governo Vargas procurou redefinir a forma de acumulaçã o através da criaçã o da
infraestrutura bá sica e de organizaçõ es estatais, estimulando as empresas privadas e
atraindo capital internacional. Num momento de retraçã o dos fluxos comerciais com o
exterior, essa reorientaçã o do crescimento para dentro favoreceu Sã o Paulo, que estava
dotado de melhores condiçõ es financeiras e logísticas. A partir de 1933 foi tomando
corpo um processo de industrializaçã o chamada de “restringida”, que teria bastantes
consequências para o quadro econô mico do país.175
Este modelo de acumulaçã o de capital, o nacional-desenvolvimentismo, teve
bastante sucesso, mas foi sendo reformulado ao longo do tempo. Enquanto isso, o
Nordeste persistia com seus complexos açucareiros e/ou algodoeiros e/ou pecuá rios
como principais fontes de riqueza e ocupaçã o, inclusive na economia sergipana. Se antes
participava do quadro nacional dentro de uma relaçã o de complementaridade, a partir
dos anos trinta passou a sofrer crescente subordinaçã o.
Em Sergipe, o açú car continuou como principal produto de exportaçã o, apesar de
persistir a reduçã o dos engenhos, que passaram de 201 (1934) para 53 unidades
(1940).176 A novidade desse período foi o começo da diminuiçã o das usinas de 84 (1932)
para 62 (1944), inclusive de algumas tradicionais como a Sã o Félix, dos Vieira; a Topo,
dos Rolemberg; e a Itaperoá , dos Bastos; que encerravam suas atividades na primeira
metade dos anos quarenta. Da safra de 1932 à de 1944, esses centros produziram uma
média anual de 673.858 sacos. Na década de trinta, em face das decorrências da crise de
1929 e, logo depois, da seca de 1932, houve ano em que o Estado registrou apenas
298.129 sacos, mas em compensaçã o houve moagem como a de 1943-1944 que chegou
a 978.334 sacos.177

175
Ver Liana Maria Aureliano. No Limiar da Industrialização 1919-37. Sã o Paulo: Brasiliense, 1981.
176
Luiz Rolemberg. In: Anuá rio açucareiro, transcrito pelo O Estado de Sergipe em 1934. p. 141-2 e Censo de 1940, Série
Regional, Parte XI, IBGE, 1952, p. 318-19.
177
Manoel Correia de Andrade. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço - Contribuiçã o à Histó ria das
Usinas de Açú car de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990, p. 28-30.
92

Naquela altura, os dados nã o indicavam claramente quais as opçõ es que os


senhores de engenho iam encontrando para auferir rendimentos de suas terras. Sabe-se
que, no conjunto, os produtos locais passaram a sofrer efeitos da concorrência dos
centros produtivos do Sudeste, mais modernos, de maior proximidade com os mercados
consumidores e mais competitivos. Como forma de atenuar a situaçã o, o governo federal
criou o Instituto do Açú car e do Á lcool (IAA) em junho de 1933, que foi considerado por
um usineiro como “uma das grandes realizaçõ es do governo Getú lio Vargas”.178
Inegavelmente, o sistema de cotas proporcionou maior segurança e estímulo para
proprietá rios e, em extensã o, para empregados. Mas, para alguns estudiosos, tal medida
apenas retardava o declínio.179 De qualquer forma, os incentivos fiscais tornavam-se
regulares em Sergipe.
Ainda no setor rural, em segundo plano, continuaram com alguma importâ ncia a
produçã o de algodã o e arroz e a criaçã o de gado. O algodã o, além de se constituir em
matéria-prima para as fá bricas têxteis existentes no Estado, vinha sendo exportado
tanto em forma de pluma como através de subprodutos, como o farelo de caroço e o
ó leo. Como produto de exportaçã o e de consumo interno, foi duramente afetado pela
seca de 1932, mas já em 1934 retornava em patamar que permitia alto nível de
exportaçã o, superando os encontrados na segunda metade da década de 1920.
Entretanto, a partir de 1934 passou a ser cada vez menos plantado, conforme se pode
ver pelo decréscimo da á rea ocupada, que oscilou de 30.937 hectares (1931) para
12.393 ha (1945). De queda em queda, chegou em 1945 com 1/3 do seu desempenho de
1933, considerado um ano normal.180
Entre os demais produtos agrícolas, o arroz também apresentava contribuiçã o
significativa na receita do Estado. Era cultivado sobretudo à s margens do rio Sã o
Francisco, provavelmente, grande proporçã o em sistema de parceria. Além desses
produtos agrícolas, outros podem ser citados, tais como mandioca, milho e coco. Embora
nã o se destinassem ao mercado externo, desempenhavam destacado papel na economia
interna do Estado. A pecuá ria parecia expandir-se como alternativa para os senhores
que desativavam seus engenhos, embora sobre esse momento, os dados ainda sejam um
tanto contraditó rios. No sertã o e no agreste, durante os anos trinta, as atividades
178
Orlando Vieira Dantas. O Problema Açucareiro de Sergipe. Aracaju: Livraria Regina Ltda., 1944, p. 28.
179
Francisco de Oliveira. Elegia para uma re(li)gião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 61.
180
Sergipe Econômico e Financeiro. Aracaju: IBGE, 1953. p. 153
93

produtivas foram bastante afetadas pelas incursõ es de Lampiã o com o seu bando,
levando muitos proprietá rios a abandonarem suas terras e migrarem para zonas mais
seguras.
Ao passarmos ao mundo urbano, verificamos que do ponto de vista populacional,
o índice de urbanizaçã o permanecia reconhecidamente baixo. Em 1940, o Censo
registraria 69% da populaçã o estabelecida no campo. O centro mais populoso do Estado
continuava sendo de longe a capital, que, de 1920 para 1940, passara de 37.440 para
59.031 habitantes, gerando novas exigências. Era um crescimento significativo,
sobretudo quando nos lembramos de seu porte no início da Repú blica. No Estado, de
1920 para 1940, sua populaçã o crescera de 477.064 para 542.326 habitantes.181
O setor secundá rio prosseguiu em seu perfil do fim dos anos vinte. O nú mero de
estabelecimentos industriais, excluídos usinas e engenhos, continuou subindo, assim
como o nú mero de trabalhadores, que teria duplicado. As indú strias mais significativas
pela quantidade de pessoal empregado continuavam sendo as têxteis. Dispersas através
de sete municípios, no período 1931-45 sua produçã o foi se ampliando e, em 1945,
Sergipe era o quinto Estado do país em nú mero de empresas têxteis e produçã o,
perdendo, na regiã o Nordeste, apenas para Pernambuco.182 Nã o obstante o recuo do
plantio de algodã o no Estado, a produçã o de tecidos representava a principal atividade
econô mica do setor urbano.
No comércio houve alguns avanços. Levantamento efetuado por volta de 1932-
1933 dava conta da existência de 987 estabelecimentos, mas nã o há notícias da
quantidade de empregados.183 O Censo de 1940 registrou 2.023 estabelecimentos
comerciais, contando com pessoal ocupado na ordem de 3.576 indivíduos. Apesar dessa
larga diferenciaçã o, torna-se difícil estabelecer critérios de distinçã o quanto ao tamanho
dos estabelecimentos. Mas o crescimento do giro comercial passou de 1,4 milhõ es
(1936) para 10 milhõ es (1945),184 indicando grande progresso.
Quanto ao movimento do porto, apesar da crise de escoamento dos anos
quarenta, o volume de negó cios representado pelo comércio interestadual,

181
Censo de 1940.
182
Proposta Orçamentária para 1948. Aracaju: Secretaria da Fazenda, Produção e Obras Pú blicas, 1947. p. 48. Ver
quadro in José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1983.
183
Armando Barreto (org). Cadastro Industrial e Comercial e Informativo de Sergipe. Aracaju: Artes Grá ficas da Escola
de Aprendizes Artífices de Sergipe, 1933, p. 456.
184
Proposta Orçamentária para 1948. Secretaria da Fazenda, Produção e Obras Públicas, Aracaju: 1947, v. III, p.53 (dat).
94

especialmente com as praças do Rio de Janeiro e Salvador, para onde se destinava a


grande parte das exportaçõ es do Estado, continuou significativo, como mostra o quadro
abaixo.

QUADRO V
Fluxo de Embarcaçõ es no Porto de Aracaju (Média Anual –1927-1945)
Períodos Embarcaçõ es a vapor Embarcaçõ es a vela
1927-29 (1) 132 201
1930-35 (2) 155 224
1936-39 (3) 230 249
1940-45 (4) 125 165

Fontes:
1. Manoel Corrêa Dantas. Mensagem à Assembleia Legislativa em 07.09.28. Aracaju: Imprensa
Oficial, 1928. p. 11; id., ibid, 1929, p. 97; id., ibid., 1930, p. 11.
2, 3 e 4. Sergipe Econômico e Financeiro. Aracaju: IBGE, 1953. p. 193.

Em relaçã o ao período anterior a 1930, registrou-se aumento até 1939. Mas, com
a eclosã o da Guerra, verificou-se violento declínio que jamais seria recuperado, em face
das transformaçõ es no sistema de transportes no período pó s-1945. Além do
escoamento das mercadorias pela Barra do Rio Sergipe, correspondente ao porto de
Aracaju, havia também movimento através das barras dos rios Piauí e Sã o Francisco, em
menores proporçõ es, sobre o qual nã o dispomos de dados.
Outro aspecto que ilustrava o crescimento comercial era o movimento bancá rio.
Enquanto o volume de depó sitos ascendia de 22.170 (1931) para 199.522 (1945), os
empréstimos passavam de 18.000 (1931) para 283.551 (1945). 185 Esse aumento pode
ainda ser observado pelas alteraçõ es no nú mero de estabelecimentos, que teria evoluído
de três (Mercantil Sergipense, Banco de Crédito Popular e Banco do Brasil) em 1930
para quatro empresas e sete agências em 1940,186 indicando a diversificaçã o dos
investimentos. Portanto, embora o perfil da economia de exportaçã o se mantivesse de
uma década a outra, houve perda relativa do setor exportador e variaçã o dos

185
Até 1935 em contos de réis, de 1939 em diante em mil cruzeiros. Cf. Quadro Estatístico de Sergipe. Aracaju, 1938, p.
30 e Sergipe Econômico e Financeiro. Aracaju: IBGE, 1953, p. 195-6.
186
Armando Barreto (org). Ob. cit. p. 181; Censo de 1940 e Proposta Orçamentária para 1948, p. 51. Ernani Freire criou
a Casa Bancá ria Dantas Freire (1933), vendeu-a em 1944 e fundou a Freire Silveira. Cf. Manoel Cabral Machado. Brava
Gente Sergipana e Outros Bravos. Aracaju: UFS/BICEN, 1998, p.125-127.
95

investimentos no setor comercial. No conjunto o quadro sofreu algumas alteraçõ es. O


açú car continuou perdendo posiçã o, o plantio de algodã o caiu, a produçã o de tecidos
cresceu, assim como a pecuá ria, enquanto paulatinamente a economia diversificava-se.
No Nordeste, incluindo Sergipe, o problema mais grave era, portanto, a
permanência do perfil agrá rio-exportador. Os municípios aproximavam-se pelo
desenvolvimento dos transportes, mas a economia estadual tornava-se ainda mais
distanciada e dependente do Sudeste, que progredia com outro padrã o tecnoló gico.
Durante essa fase, alguns empresá rios de maior projeçã o nos anos vinte
continuavam pontificando, como Antô nio Franco e Gonçalo Rolemberg do Prado,
enquanto outros ascendiam, entre os quais os quatro irmã os Franco (José, Walter,
Augusto e Flá vio). Estes criaram em 1939 o Banco Comércio e Indú stria de Sergipe,
fundaram em 1941, sob a proteçã o da interventoria, a Cia Industrial S. Gonçalo S/A, na
cidade S. Cristó vã o, e ainda no início dos anos quarenta, Walter do Prado Franco
conseguiu a direçã o do Sindicato da Indú stria do Açú car de Sergipe, o ó rgã o de classe
mais poderoso do Estado.
Na esfera social, as políticas do governo central tiveram enormes repercussõ es
internas. Num primeiro momento (1930-35), as relaçõ es dos trabalhadores com a
interventoria, nã o obstante alguns problemas com os intermediá rios, foi proveitosa.
Marginalizados do processo político durante a Primeira Repú blica, com a Revoluçã o de
1930 passaram a organizar-se em sindicatos respaldados pela interventoria, que além
de prestigiar suas cerimô nias, estimulava a sindicalizaçã o e pressionava o patronato
para que a legislaçã o fosse cumprida. Com esse estímulo, o movimento tomou novo
impulso, inclusive com a realizaçã o de greves. De conformidade com a legislaçã o em
vigor, foi indicado um delegado do Trabalho que estimulava e encaminhava o processo
de criaçã o das associaçõ es. É verdade que surgiram queixas sobre o comportamento
ambíguo dessa autoridade, mas, apesar disso, os trabalhadores urbanos, em 1934, já
dispunham de 21 sindicatos, uma federaçã o, além do Centro Operá rio. Entre todos eles,
o maior contingente era o dos tecelõ es.
A partir de 1932, a imprensa ligada a esses grupos desenvolveu-se, chegando, em
1934, a editar simultaneamente três folhas. É dentro desse movimento geral de
organizaçã o da classe e de seu fortalecimento que os trabalhadores urbanos decidiram
96

ampliar sua participaçã o na política estadual, através da fundaçã o de um partido político


pró prio. A ideia foi concretizada na criaçã o da Aliança Proletá ria de Sergipe em março de
1934. Em abril do mesmo ano, o Diário Oficial publicava seu programa com tendência
moderadamente socializante. Aceitando o sistema representativo, os trabalhadores
pleiteavam a proteçã o à infâ ncia desvalida e aos invá lidos, a ampliaçã o da educaçã o aos
operá rios, a extinçã o lenta e progressiva dos latifú ndios, a tributaçã o ao capital
imobilizado, a fiscalizaçã o das leis sociais, e tudo isso sem dispensar a ampla liberdade
da imprensa e da palavra em pú blico.187 Nã o obstante esses traços revelarem um ideá rio
mais pró ximo do socialismo democrá tico, nem por isso o jornal A Luta, ó rgã o específico
do partido, deixava de ser influenciado pela corrente “leninista” divulgada pelos adeptos
do Partido Comunista do Brasil. Em Sergipe, algumas das lideranças que militavam no
movimento operá rio dessa época já se encontravam vinculadas ao PCB188.
Enquanto isso, o poder central editava novas leis: instituiu a justiça trabalhista,
regulamentou as relaçõ es de trabalho, fixou a jornada diá ria em oito horas. As mulheres
e os menores passaram a ter direitos específicos. Foi criada a carteira de trabalho
(1932), elevando o estatuto social do trabalhador. As Caixas, que remuneravam algumas
poucas categorias de inativos, cederam lugar aos Institutos de Aposentadoria e Pensã o,
estipulando tempo limitado de trabalho. A Constituiçã o de 1934 assegurou a regulaçã o
do trabalho pelo Estado.
Com a ascensã o do novo governante em 1935, as relaçõ es tornaram-se difíceis.
Como Eronides Carvalho estava mais afinado com os integralistas e grande parte dos
trabalhadores inclinava-se para o socialismo, estes passaram a ser objeto de maior
atençã o. A Igreja Cató lica tentou atraí-los, criando o Círculo Operá rio Cató lico de
Sergipe, propondo a harmonizaçã o entre o capital e o trabalho, apresentando-se como
alternativa de açã o. Mas o governador procurou dissuadi-los com a repressã o. Diante da
eclosã o do movimento comunista em Natal, Recife e Rio de Janeiro (11/1935), cerca de
duas dezenas de militantes das classes subalternas foram presos e maltratados. Ao longo
dos cinco anos subsequentes, o governador procurou desarticular o movimento dos
trabalhadores mediante força policial. A partir do golpe de 1937 e da centralizaçã o
política que se seguiu, tentou cooptá -los como representante da política varguista. O fato

187
Diário Oficial do Estado de Sergipe, 06.04.1934.
188
Cf. José Nunes da Silva, entrevista ao autor, em 25.01.1978.
97

é que o movimento foi-se enfraquecendo e perdendo autonomia. Desmobilizados, os


trabalhadores foram internalizando o discurso paternalista de Vargas, abdicando dos
valores democrá ticos e se conformando com a nova legislaçã o no ambiente autoritá rio.
Em Sergipe, as disputas permaneciam personalizadas nas figuras dos dois militares, de
forma que a saída de Eronides Carvalho em 1941 foi bastante comemorada pelas classes
subalternas que continuavam reverenciando Maynard. Quando este retornou (1942),
empenhou-se em manifestar seu apreço com a causa dos trabalhadores urbanos, mas,
como representante de um sistema autoritá rio declinante, pouco realizou. As grandes
inovaçõ es vinham do governo central. Em 1940, instituiu-se o salá rio mínimo e, em
1943, reunindo legislaçã o elaborada ao longo do tempo, saiu a Consolidaçã o das Leis do
Trabalho (CLT). O Estado passava a intermediar as relaçõ es entre capital e trabalho, ao
tempo em que criava instrumentos, como o imposto sindical, que facilitariam a
sobrevivência das associaçõ es, mas também alimentariam vícios da burocracia.
A CLT coroava a grande transformaçã o social desse tempo. Ficavam de fora os
trabalhadores rurais e, no mundo urbano, os autô nomos e os empregados domésticos.
Sobre os rurais, ainda houve estudos, discussõ es, mas nã o tiveram prosseguimento
efetivo. Como afirma um estudioso da cidadania no Brasil, o período 1930 a 1945 foi a
era dos direitos sociais.189
No campo das comunicaçõ es, as mudanças maiores ocorreram na radiofonia. A
instalaçã o da Rá dio Aperipê (1939) atingiu o cotidiano das pessoas. Se antes alguns já
sintonizavam a Rá dio Nacional, a programaçã o tomou sentido mais ligado à vida do
Estado. Embora o nú mero de receptores fosse relativamente pequeno, um mesmo
aparelho era escutado por grande nú mero de pessoas, homogeneizando informaçõ es e
servindo desde cedo à manipulaçã o dos governados.
Os cinemas continuaram disseminando-se, chegando em 1940 a 13
estabelecimentos. A prá tica do esporte, sobretudo do futebol, generalizou-se mais do
que antes. Cotinguiba, Vasco, Palestra, Sergipe, Riachuelo e Atlético eram alguns dos
clubes que disputavam a simpatia dos torcedores.190 Nos bares, tornaram-se comuns os
bilhares, onde sobretudo os moços exercitavam suas habilidades.

189
José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2001, p.123.
190
Sobre os costumes desse tempo em Aracaju, ver Dilton Maynard. Em tempo de guerra: Aspectos do cotidiano em
Sergipe durante a II Guerra mundial (1939/45), Caderno do Estudante, Sã o Cristó vã o, UFS/Cimpe, v. 2, 1999.
98

O movimento espacial das pessoas aumentou, aproximando formas de


comportamento e modos de viver. Com a construçã o de novas estradas de rodagem em
piçarra, quase todas as cidades do Estado ficaram ligadas entre si, através dos
automó veis, das marinetes e dos caminhõ es. Nasciam as linhas de transporte coletivo,
ligando os municípios do interior à cidade de Aracaju, que foi se impondo como grande
centro comercial, administrativo, cultural e tornando-se mais acessível para os
moradores dos lugares mais distantes. Numerosos domicílios passaram a contar com
instalaçã o elétrica e á gua encanada. Somente no meio urbano, o Censo de 1940
registrava em Sergipe 5.828 residências com instalaçã o elétrica e 4.655 com á gua
encanada.191 Com essas inovaçõ es, a vida cotidiana dos sergipanos incorporava novos
há bitos.

2.4 Manifestações Culturais

O período 1931-45 foi marcado pela presença exorbitante do Estado sobre a


sociedade. Essa situaçã o afetou de forma variada as manifestaçõ es culturais. Num
primeiro momento, que podemos estender até 1937, os governos desenvolveram
algumas açõ es culturais, mas a política sistemá tica revelou-se a partir do golpe de
novembro daquele ano, quando se instaurou o Estado Novo.
Na á rea do ensino, a tendência renovadora, que vinha ocorrendo antes de 1930,
prosperou. Intelectuais de Sã o Paulo e do Rio de Janeiro, defensores da Escola Nova,
desenvolveram movimento pregando a nacionalizaçã o, a laicizaçã o e a universalizaçã o
da educaçã o no país, empenhados em operar grandes reformulaçõ es no sistema de
ensino nacional. A Igreja Cató lica reagiu com pronunciamentos, artigos e gestõ es de
figuras mais eminentes do clero e do laicato, defendendo o ensino religioso sem a
interferência do Estado, mas o movimento prosseguiu reformulando a organizaçã o
educacional. Alguns professores de Sergipe, que desde o governo de Rodrigues Dó ria
vinham tentando reformar a educaçã o pú blica, incorporaram-se à iniciativa. A

191
O Censo de 1940 registrou a existência em Sergipe de 1.398 domicílios com rá dios, 308 com telefones e 192 com
automó veis.
99

interventoria de Maynard enviou três mestres192 ao Sudeste que participaram da


discussã o no Rio de Janeiro e na capital paulista, estudaram os novos métodos
pedagó gicos, visitaram instituiçõ es culturais e, de volta, tentaram difundir as inovaçõ es
nas escolas, reformulando a estrutura do ensino e a sua pedagogia. Dentro dessa nova
filosofia, o governo promoveu a construçã o do Jardim de Infâ ncia Augusto Maynard
(1932), que proporcionaria a oportunidade de adotar “o modelo de educação infantil mais
moderno da época”.193 As despesas da União com o ensino e a cultura em Sergipe mais que
duplicaram de 1932 para 1935, e o nú mero de escolas primárias passou de 432 (1933) para
635 (1943).194
O Estado passava a assumir maiores responsabilidades sobre a organizaçã o e a
gestã o do sistema educacional brasileiro. Essa tendência foi consagrada pela
Constituiçã o de 1934 que atribuiu à “Uniã o a competência privativa de traçar as
diretrizes da educaçã o nacional e de fixar o plano nacional de educaçã o. [...] Aos Estados
competiriam organizar e manter os seus sistemas educacionais, respeitadas as diretrizes
da Uniã o” (cap. I, art. 5o).195
O ensino superior ganhou dimensã o com a instalaçã o da Universidade do Brasil
em julho de 1937. Com o golpe, a campanha pela renovaçã o do ensino declinou, mas a
constituiçã o outorgada valorizou mais o ensino técnico e aprofundou a orientaçã o
centralizadora, proporcionando maiores obrigaçõ es do Estado na execuçã o da política
educacional. Em 1942 saiu a Lei Orgâ nica do Ensino Secundá rio, como parte da reforma
Capanema, cujas diretrizes perdurariam por décadas.196
Apesar desses esforços, a universalizaçã o nã o progrediu como seria de esperar,
pois, em 1940, o Censo revelou que o índice de pessoas que nã o sabiam ler e escrever
era de 72,6%, um tanto menor do que em 1920, mas ainda escandalosamente elevado.
As açõ es do Estado autoritá rio na á rea educacional careceram de maior eficiência.

192
Sobre a discussã o da época, ver Helvécio Andrade. A Escola e a Nacionalidade. Aracaju: Typ. D’O Lutador, 1931. Os
professores que estiveram no Rio de Janeiro e Sã o Paulo foram José Augusto de Rocha Lima, Franco Freire e Penélope
Magalhã es. Cf. Jorge Carvalho. Cinform, 01.07.2002.
193
Jorge Carvalho do Nascimento, citando Ester Vilas-Boas, in Visõ es da Modernidade. Pedagogos sergipanos em São
Paulo. Informe UFS, 04.09.2001.
194
Cf. Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro, IBGE, 2003, p. 294 e José Antonio Nunes Mendonça. A Educação em
Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958, p. 172.
195
Fernando de Azevedo. A Cultura Brasileira. Sã o Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 683.
196
A atençã o ao ensino técnico materializou-se na criaçã o do SENAI (1942) e na ediçã o da Lei Orgâ nica do Ensino
Industrial (1942) e na Lei Orgâ nica do Ensino Comercial em 1943. Ver Murilo Badaró . Gustavo Capanema. A Revolução
na Cultura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
100

Enquanto isso, a orientaçã o modernizadora ampliava sua abrangência. Quando,


em 1934, Gustavo Capanema assumiu o Ministério da Educaçã o e Saú de Pú blica, cercou-
se de intelectuais talentosos, criativos197 e passou a tomar providências audaciosas,
operando uma revoluçã o cultural voltada para a afirmaçã o da nacionalidade. Desde
1934, já atuava o Departamento de Propaganda e Difusã o Cultural, cuja denominaçã o já
expressava sua finalidade política intervencionista. Pouco depois (1937), nasceram o
Serviço Nacional do Teatro, o Serviço de Radiodifusã o Educativo, o Instituto Nacional do
Livro e o Serviço de Patrimô nio Histó rico e Artístico Nacional (SPHAN), um marco nas
decisõ es administrativas, na medida em que o Estado nacional assumia a tarefa de
responsabilizar-se pelo destino dos monumentos de valor histó rico e artístico.
Importantes museus foram instalados e a Biblioteca Nacional foi remodelada.198 A
valorizaçã o da histó ria do povo brasileiro era considerada fundamental para o
conhecimento da realidade nacional. Neste contexto, “o patrimô nio histó rico e artístico é
concebido como um documento de identidade da naçã o brasileira”.199 Com a instauraçã o
do Estado Novo, a ideologia nacionalista de cunho autoritá rio foi reforçada e o projeto
intervencionista de formaçã o das mentalidades adquiriu maior amplitude. A ditadura de
Vargas produziu o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha como
objetivo difundir a mensagem do novo regime e abafar os pensamentos contrá rios. Essa
agência ideoló gica, criada em 1939, foi dirigida, até 1942, pelo sergipano Lourival Fontes
(1898-1967), que acumulava também a direçã o do Conselho Nacional da Imprensa,
ó rgã o destinado a fiscalizar as publicaçõ es em todo territó rio nacional.200 Por esse
tempo, a revista Cultura Política do Rio de Janeiro passou a publicar artigos de mérito de
intelectuais de vá rias conotaçõ es ideoló gicas, difundindo para o país as novas
concepçõ es da cultura brasileira.
Essas açõ es empreendidas pelo governo Vargas provocaram repercussõ es
indeléveis nas manifestaçõ es culturais dos Estados. No que se refere à imprensa, pode-
se dizer que Sergipe vivenciou duas fases diferenciadas. Vimos que, até 1934, nã o
obstante viver-se num período autoritá rio, nã o encontramos casos evidentes de
197
Entre os intelectuais que assessoravam o ministro Gustavo Capanema, sã o citados Rodrigo Melo Franco, Má rio de
Andrade e Carlos Drummond de Andrade. Alceu Amoroso Lima também era muito ouvido. Ver Murilo Badaró . Ob. cit.,
2000.
198
Foram instalados o Museu da Inconfidência, o Imperial de Petró polis e o de Belas Artes no Rio de Janeiro. Outra
obra inovadora foi o prédio do Ministério da Educaçã o. Ver Murilo Badaró . Ob. cit., 2000.
199
José Reginaldo Santos Gonçalves. A Retórica da Perda. Rio de Janeiro: UFRJ/MINC-IPHAN, 1996, p. 45.
200
Cf. Â ngela de Castro Gomes. História e historiadores. Rio de Janeiro: FGV, 1996, p. 126.
101

atentados contra jornais, censuras sistemá ticas ou fechamentos de algum ó rgã o por
iniciativa da interventoria. A sociedade estava bem demarcada por divisõ es político-
ideoló gicas, mas havia uma convivência mais ou menos respeitosa entre os grupos
sociais e políticos. Cada um foi criando e/ou mantendo seu jornal, defendendo seu
projeto, desde os governistas até seus adversá rios. Entre os setores mais atuantes
estavam os militantes da Igreja Cató lica, pregando seus princípios dentro de uma visã o
conservadora. Além da proliferaçã o de pequenas folhas catequéticas,201 o semaná rio A
Cruzada, que esteve alguns anos desativado, foi reaberto em 1935 como parte do esforço
candente de nã o perder espaço em face das transformaçõ es em marcha. Nã o foi por
acaso que o movimento integralista desenvolveu-se recrutando boa parte dos seus
quadros entre os cató licos. Do outro lado, vinham os jornais ligados aos trabalhadores
urbanos, quase todos identificados com o ideá rio socialista e empenhados em lutar pelas
mudanças. O entusiasmo desse segmento vinha inclusive dos estudantes do Atheneu
Sergipense. Com a organizaçã o da Aliança Nacional Libertadora, que se ligara ao Partido
Comunista do Brasil, vá rios jovens passaram a emprestar sua vitalidade a esse
movimento.
A partir de 1935, o acirramento das disputas entre integralistas X socialistas
aumentou e o debate foi-se tornando tumultuado. Com a eclosã o do levante comunista
em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro, o novo interventor, que já vinha se manifestando
conivente com as transgressõ es dos integralistas, intensificou suas coaçõ es sobre a
imprensa dos esquerdistas ligados aos trabalhadores urbanos. Essas disputas
ideoló gicas, pouco civilizadas, nã o se manifestaram profícuas para o movimento
cultural.
No Estado Novo, as publicaçõ es passaram por grande controle político com a
fundaçã o de uma sucursal do já referido DIP, no caso, o Departamento de Imprensa e
Propaganda Estadual (DIPE), que patrocinava as atividades locais e as vigiava. A
propaganda política ganhou dimensã o jamais vista. Diante das restriçõ es, o nú mero de
jornais diminuiu e a imprensa estadual ficou restrita a poucas folhas, a maioria oficial ou
oficiosa. O Correio de Aracaju e o Sergipe Jornal foram os principais ó rgã os a resistir ao
conjunto das coaçõ es pró prias dos regimes autoritá rios.
201
Entre os jornais catequéticos são registrados: Boletim Paroquial (1931), A Ordem (1931), Monitor Cristão (1931), A
Boa Nova (1931-1933), Lírio Mariano (1933), Boletim Vitalista (1933-1946). Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos
Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 131-133.
102

Essa política de controle político influenciou também o mercado de revistas.


Inicialmente, a publicaçã o desses perió dicos, em relaçã o aos ú ltimos anos da década de
vinte, sofreu certo refluxo. O Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe, que vinha
editando com regularidade seu perió dico, nã o conseguiu lançar nenhum nú mero.202 As
novidades do momento foram o surgimento do perió dico da Academia Sergipana de
Letras e a revista Renovação. A dos acadêmicos passou a publicar trabalhos literá rios,
procurando distanciar-se das querelas político-ideoló gicas, embora sem artigos de
grande destaque. Quanto à Renovação, apareceu em 01.01.1931 e esteve a circular
quinzenalmente sob a direçã o da advogada combativa Maria Rita Soares Andrade, como
expressã o das importantes inovaçõ es daqueles anos. Defendendo a emancipaçã o social
da mulher, aglutinando algumas moças intelectualizadas, explicando o significado da
campanha feminista, divulgando matérias de nível no campo do ensino, pregando
reformas educacionais, em meio a poesias e artigos diversos, contribuiu para elevar o
debate no Estado sobretudo até 1932. A ocorrência da revolta constitucionalista em Sã o
Paulo abalou sua trajetó ria. Os colaboradores diminuíram, enquanto a direçã o revelava-
se preocupada. Renovação mudou de formato, perdeu a regularidade, reduziu a
qualidade dos textos e, embora persistisse, até 1934, adepta do governo Maynard, que
provavelmente a financiava, jamais alcançou a densidade dos 28 primeiros nú meros.
Depois surgiu Renascença, sob a direçã o de Á lvaro Passos, que circulou de 1934 a 1936,
mas sem orientaçã o definida.
Com a emergência do Estado Novo, o referido Departamento Estadual de
Imprensa e Propaganda possivelmente ajudou no reaparecimento da Revista do Instituto
Histórico, que editou quatro nú meros entre 1939 a 1944. Nessa conjuntura, a Prefeitura
da capital criou seu perió dico pró prio, Revista de Aracaju, em 1943, trazendo ao lado de
matérias de prestaçã o de contas de governo, ensaios de bom nível analítico. O segundo
nú mero saiu no ano seguinte.
Contudo, no setor de imprensa, a grande inovaçã o desse período foi o
aparecimento do rá dio. Integrado nesse movimento nacional, que criou o Serviço de
Radiodifusã o Educativo, o governo Eronides de Carvalho inaugurou a Rá dio Aperipê
(1939). Dentro da orientaçã o oficial, o uso de imagens, de símbolos e a exploraçã o do

202
Ver Itamar Freitas. A Casa de Sergipe. São Cristó vã o/SE: Ed.UFS, F. Oviêdo Teixeira, 2003.
103

civismo no imaginá rio social foram instrumentalizados para ampliar a legitimidade do


Estado autoritá rio.
Boletins oficiais foram expedidos, sobretudo a partir de fevereiro de 1939, com a
criaçã o do Departamento de Propaganda e Divulgaçã o do Estado de Sergipe, que, em
junho de 1941, era transformado em Departamento de Imprensa e Propaganda, de
conformidade com as ordens nacionais. Ao lado das pregaçõ es doutriná rias,
desenvolvia-se o trabalho de cooptaçã o no sentido de envolver elementos da sociedade
civil nos movimentos promovidos pelo Estado: passeatas cívicas com trabalhadores em
homenagem a Vargas e ao interventor, palestras, geralmente em torno de temas ligados
a figuras das Forças Armadas, comemoraçõ es de datas histó ricas, considerando-as como
atos de civismo. Em fins de março e início de abril de 1939, foi realizada a chamada
“Semana Eronides de Carvalho”, quando cerca de quinze oradores, representantes de
vá rios setores da sociedade, apresentaram seus discursos ao microfone da PYD-2,
enaltecendo os governantes. Houve inauguraçõ es de obras e o encerramento ocorreu no
Palá cio com o banquete para os simpatizantes. Enquanto isso, no empenho de unificaçã o
cultural, sobretudo no Nordeste, inclusive em Sergipe, a política governamental assumia
forma repressiva contra os terreiros de cultos afro-brasileiros.203
Quando Maynard assumiu pela segunda vez (1942), este interventor prosseguiu
valorizando os trabalhos da Aperipê com uso político. As tendências apologéticas
continuaram, sob os auspícios do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda,
incluindo “palestras educativas”, irradiadas pela difusora, exaltando o patriotismo,
especialmente nas datas consideradas cívicas.204
A orientaçã o nacional da política patrimonial também chegou até Sergipe. O
interventor Eronides Carvalho passou a desenvolver iniciativas voltadas para a
valorizaçã o do patrimô nio histó rico. Um pequeno grupo de intelectuais cuidou da
questã o, elaborou relató rio sobre a situaçã o dos prédios antigos, resultando no decreto-
lei que elevava a cidade de Sã o Cristó vã o à categoria de monumento histó rico.205

203
Ver Beatriz Gó is Dantas. Vovó Nagô e Papai Branco: Usos e abusos da Á frica no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1988 e
"De Feiticeiros a Comunistas - Acusações sobre o Candomblé". Comunicaçã o apresentada na XXXIV Reuniã o da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, UNICAMP, 1982.
204
Ver Dilton Câ ndido Santos Maynard. Microfones e Bastidores: aspectos da radiodifusã o e da propaganda política em
Sergipe durante o Estado Novo. Sã o Cristó vã o, UFS, 2000. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS.
205
Cf. Diário Oficial do Estado de Sergipe, 23.06.1938.
104

A essa altura, algumas edificaçõ es na capital iam marcando sua feiçã o. A


aprovaçã o do novo Có digo de Posturas (1938), dividindo o município em zonas, era uma
indicaçã o de que o poder pú blico ampliava seu raio de atuaçã o, num momento de
mudanças, entre as quais se podia notar o estilo das construçõ es. Conforme escreveu
pesquisador do assunto, “o Art Déco, aliado à utilizaçã o do concreto armado, permitiu
uma consequente transformaçã o plá stica da cidade” [...] favorecendo “a adaptaçã o da
arquitetura aracajuana à s novas formas.” A edificaçã o do Instituto Histó rico Geográ fico
de Sergipe, da Biblioteca Pú blica do Estado, do Corpo de Bombeiros, do Palá cio Serigy,
da Associaçã o Atlética de Sergipe e de algumas casas espalhadas em diversas ruas, sã o
exemplos expressivos dessas inovaçõ es arquitetô nicas.206
Entre 1941 e 1944, o governo Vargas tombou cerca de dez construçõ es em
Sergipe, considerando-as como obras de valor cultural. Em 1945, Maynard Gomes,
também por meio de decreto lei, recriou o Arquivo Pú blico do Estado e estabeleceu o seu
regulamento.
Nas artes plá sticas, o controle da política oficial parece ter sido menor. Na
pintura, nã o nos consta que os quadros de Oséas Santos e Jordã o de Oliveira tenham tido
influência marcante dessa política oficial. Remanescentes da fase anterior, continuaram
figurando como ícones distantes, morando em Salvador e Rio de Janeiro,
respectivamente, mas servindo de referência aos artistas locais. Nesse período,
apareceram J. Iná cio, nascido em 1911, e os irmã os Florival Santos (1911-1999) e Á lvaro
Santos (1920-1963) de Propriá . Este passou um período na Escola de Belas Artes, no Rio
de Janeiro, e teve uma presença muito forte na vida cultural de Sergipe, colaborando em
perió dicos e executando obras clá ssicas de nossa arte plá stica, entre as quais O
Torpedeamento e Cena do Porto. Florival Santos, embora autodidata, foi um mestre de
vá rias geraçõ es. Além de retratos expressivos, alguns dos quais integrados à pinacoteca
do IHGSE, deixou cenas dos trabalhadores do mar, dos mangues e retirantes. J. Iná cio,
apó s curta passagem pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, começou a expor em
Aracaju, mas sua marca na histó ria da pintura de Sergipe acentuou-se a partir dos anos
50, quando passou a residir definitivamente em sua terra. Enquanto isso, a ideia de que
nã o havia necessidade de representar objetos de forma regular ia ganhando força.207
206
Waldefrankly Rolim de Almeida Santos. “Fragmentos de uma Modernidade”: Art Déco na Paisagem Urbana de
Aracaju: 1930-1945. Monografia apresentada no Departamento de Histó ria da UFS, São Cristó vã o, Se, 2002, p. 40-44.
207
Ver José Inácio. Aracaju: Sec. de Turismo, J. Andrade, 2001
105

Durante essa fase (1931-1945), é prová vel que tenha ocorrido maior avanço da
mú sica popular do que no período precedente. É verdade que os dobrados continuaram
despertando o sentimento patrió tico. Composiçõ es de sergipanos como Os Quatro
Tenentes, Sílvio Romero e Antônio Franco adquiriram grande popularidade e
“transpuseram a nossa fronteira”.208 No interior do Estado, as filarmô nicas continuaram
ativas. Em Capela foi criada a Sociedade Lítero Musical com uma banda, uma orquestra
de salã o e coral artístico, que funcionariam até os anos cinquenta. Por outro lado, houve
iniciativas visando propagar os clá ssicos, dentro do movimento nacional liderado por
Villa Lobos no Sudeste. Em Sergipe, em 1936, foi instituído o ensino de canto orfeô nico
sob a direçã o de Genaro Plech. Em 1945 foi inaugurado o Instituto de Mú sica e Canto
Orfeô nico, incorporando inclusive professoras formadas pela Escola Nacional de Mú sica
da Universidade do Brasil.209 Açõ es como essas contribuíam para estimular vocaçõ es
sem as dificuldades do autodidatismo, enquanto as cançõ es populares iam se
generalizando. Nesse ponto, a instalaçã o da Rá dio Aperipê (1939) representou um
marco. Apesar de criada como veículo de propaganda do Estado Novo, nã o deixava de
preencher a sua programaçã o com atividades musicais, tocando discos de compositores
nacionais e cedendo espaço para as apresentaçõ es pú blicas dos cantores locais. As
mú sicas populares brasileiras expandiram-se com mais vigor do que o gênero erudito.
Os chorinhos tornam-se cada vez mais aceitos, tocados nos gramofones e repetidos em
interpretaçõ es vá rias. Nos idos de 1939, num tempo de improvisaçõ es, foi importante a
presença de Sílvio Caldas por dois meses em Aracaju, convivendo com os amantes da
mú sica, bebendo, jogando, cantando e revelando suas experiências aos jovens artistas
que começavam a usar os microfones.210 Embora o rá dio fosse pouco difundido ainda em
Sergipe, a Aperipê tornou-se um veículo estimulante para o comércio, com seus
anú ncios e sobretudo para a expansã o da mú sica popular. Quanto aos carnavais de rua,
entre 1942-45, reduziram-se muito. Houve anos em que nã o houve apresentaçã o em
face dos bombardeios dos navios que enlutaram os sergipanos.
No â mbito das artes cênicas, tudo indica que a presença forte do cinema
contribuiu para inibir as suas manifestaçõ es. Mesmo assim, há notícia da “prá tica de um
teatro profissional com o aparecimento de companhias dramá ticas na cidade,
208
Leozírio F. Guimarã es. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens, Aracaju, Jovreu, Ano 4, n. 20, 1970, p. 16.
209
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Ob. cit., 1970, p. 17.
210
Cf. João Mello, depoimento ao autor, em 02.10.2001. Dilton Câ ndido Santos Maynard. Ob. cit., 2000.
106

destacando-se a Clodomir Silva, surgida em 1940, que montou peças argumentadas


inclusive, por Tobias Barreto, além de preservar o modelo de teatro português”.211
Os cinemas continuaram com grande frequência. Durante esse período, pelo
menos duas importantes casas de projeçã o foram inauguradas, ambas na zona central da
cidade: o Rex (1936) e o Vitó ria (1944),212 a maior de todas. Os filmes mudos foram
substituídos pelos falados. No início, temeu-se pelo seu sucesso, vez que os principais
centros produtores de películas tinham língua diversa. Em face do problema, houve
algumas experiências de filmagens no Sudeste, mas poucas tiveram sucesso. Mesmo
porque o aparecimento das legendas proporcionou novo impulso aos filmes
estrangeiros, especialmente os norte-americanos que, através de suas criaçõ es,
difundiam sua mú sica, seus costumes, sua visã o de mundo, imprimindo forte influência
em nossa cultura.
Na poesia, José Maria Fontes (1908-1994) e Abelardo Romero (1907-1979)
continuaram divulgando seus poemas, adotando os câ nones modernistas, enquanto
apareciam J. Passos Cabral e J. Freire Ribeiro (1911-1975) publicando seus livros,
virando referências. Todavia, quem mais chamou atençã o foi José Sampaio (1913-1956),
explorando a temá tica social, sensibilizando seus leitores com os dramas humanos. 213
Quem também demonstrava grande vocaçã o poética era Enoch Santiago Filho (1919-
1945), morto prematuramente em Salvador, antes da publicaçã o de Poemas (1946), que
continuou a merecer elogios.214
Na prosa, na á rea do romance, a maior expressã o do período foi Amando Fontes
(1899-1967). Embora nascido em Santos, viveu a infâ ncia e a mocidade em Aracaju, que
serviu de experiência para suas produçõ es. A publicaçã o no Sudeste de Os Corumbas
(1933), romance inspirado na greve dos trabalhadores fabris de 1921 em Aracaju,
alcançou grande repercussã o local e nacional.215 O segundo livro, Rua de Siriri, saiu em
1937, confirmando sua sensibilidade com os problemas sociais e seu talento de
romancista.

211
Virgínia Lú cia Menezes. Levantamento das Manifestações teatrais em Laranjeiras-Sergipe. Aracaju:
Fundesc/Sercore, 1986, p. 15.
212
Cf. Ivan Valença, declaração ao autor, em 26.09.2001.
213
Ver José Sampaio. Poesia & Prosa. Aracaju: Soc. Editorial de Sergipe, 1992.
214
Ver Gilfrancisco. O poeta Enoch Santiago Filho. Jornal da Cidade, 30 e 31.10.2001.
215
Amando Fontes nasceu em Santos (SP). Aos cinco anos, veio para Aracaju onde viveu até 1930, passando a ser
considerado sergipano. Depois, passou a morar no Rio de Janeiro, onde escreveu seus dois livros, frutos da vivência
em Sergipe.
107

Enquanto isso, no meio intelectual, ia se registrando o desaparecimento da


geraçã o dos sergipanos mais destacados. Faleceram Clodomir Silva e Prado Sampaio em
1932, Joã o Ribeiro em 1934, Oliveira Teles em 1935, Manoel Bomfim em 1936 e
Laudelino Freire no ano seguinte. Dos mais famosos que residiam em Aracaju,
continuavam vivos o soció logo Florentino Menezes, ensinando e publicando seu Tratado
de Sociologia (1931), os poetas Arthur Fortes e Garcia Rosa, este sempre recluso na
colina do Santo Antô nio. Entre os que moravam fora, aquela galeria de nomes
exponenciais diminuiu bastante, apesar de numerosos outros continuarem com certo
destaque em outros Estados.216 De qualquer forma, no conjunto, a safra de produçõ es do
período 1931-1937 foi menor do que seria de esperar. Deve ter contribuído para inibir
as produçõ es literá rias as disputas político-ideoló gicas apaixonadas desse tempo. Uma
exceçã o foi Omer Mont’alegre (1913-1989) que, em 1937, foi para o Rio de Janeiro e
publicou o seu romance Vila de Santa Luzia, retratando o ambiente daquela povoaçã o
espremida entre a influência de duas usinas, o Castelo e o Sã o Félix.
Em Sergipe, depois da instauraçã o do Estado Novo, passaram-se cerca de dois
anos com raras publicaçõ es, até que as produçõ es passaram a fluir, indicando um novo
momento cultural. A maioria dos intelectuais foi se afastando do ativismo político e
passou a cuidar de seus trabalhos específicos, de alguma forma influenciados pelo
espírito do tempo: maior preocupaçã o com a realidade brasileira e local. Em 1938, um
grupo criou o Centro Cultural de Sergipe e perdurou por cerca de dois anos estimulando
produçõ es. Deixando de lado as questõ es político-ideoló gicas, reuniam-se em casas
alternadas para discutir assuntos literá rios, filosó ficos e afins. Foi-se gestando entã o
uma nova intelectualidade que se foi revelando com ensaios de mérito: José Calazans
(1915-2001) era um dos expoentes do momento. Sua tese da cadeira de Histó ria do
Brasil na Escola Normal tratando de Aracaju (1942) foi muito bem recebida. Fernando
Porto divulgou A Cidade do Aracaju (1855-1865), em 1945, um marco nos ensaios sobre
a capital. Felte Bezerra (1908-1990), já participando de congressos nacionais, passava a
ser reconhecido como sério estudioso no campo da geografia e antropologia; Orlando
Dantas, um jornalista inquieto, angariou prestígio com o livro O Problema Açucareiro de
Sergipe (1944); Garcia Moreno publicou saboroso livro de crô nicas, Temas da Província

216
Sobre os intelectuais de Sergipe que emigraram, ver Luiz Antonio Barreto. Singularidades Sergipanas (Final) in
Gazeta de Sergipe, 12.07.2001.
108

(1944), mostrando seu talento. Má rio Cabral (1914-2009) afirmava-se como poeta e
crítico literá rio; Epifâ nio Dó rea revelava sua acuidade na pesquisa e sua dedicaçã o em
cuidar dos acervos documentais; Joel Silveira (1918-2007) já mostrava sua grande
habilidade com as reportagens jornalísticas; Joã o Carlos de Almeida divulgou obra muito
informativa, Sergipe e seus Municípios (1944), patrocinada pelo IBGE; José Cruz produziu
trabalhos ligados à economia e à estatística, construindo importante base empírica para
os estudos sociais. Carvalho Neto, desde a fase anterior, divulgava seus ensaios,
sobretudo no campo jurídico. Nessa nova conjuntura, escreveu seu romance Vidas
Perdidas. Além desses escritos, a obrigaçã o das teses, para ingresso de professores no
Colégio Atheneu D. Pedro II, induzia os candidatos à pesquisa e os obrigavam a elaborar
trabalhos de bom nível. Era uma nova geraçã o que despontava, dando continuidade aos
estudos locais, enriquecendo a literatura e as ciências humanas.
Nã o obstante essa série de publicaçõ es nos tempos do Estado Novo,
desconhecemos estudos de valor que fizeram apologia explicitada do regime autoritá rio.
Há ensaios biográ ficos, discursos e outras peças elogiosas, mas de pequena importâ ncia
literá ria ou científica. Em geral, os intelectuais conviviam com o sistema discricioná rio,
vá rios deles serviram-no, mas, à medida que a impopularidade do regime foi
aumentando, as pessoas foram se afastando, tornando-se reticentes. Quando o
movimento em prol da democracia foi crescendo em outros centros, vá rios literatos,
jornalistas e estudantes se incorporaram à corrente, participando de atos pú blicos e
encontros. Em 1944 um grupo de estudiosos fundou o Centro de Estudos Econô micos e
Sociais de Sergipe, promovendo conferências, pesquisando e publicando, contribuindo
para uma visualizaçã o mais amadurecida dos estudos econô micos e sociais. 217 Em meio a
essa movimentaçã o intelectual, foi instalado no ano seguinte, em Aracaju, o Centro
Democrá tico Arthur Fortes, enfatizando “a luta pela alfabetizaçã o das massas
populares”.218 O I Congresso Brasileiro de Escritores, acontecido em janeiro de 1945 no
Teatro Municipal de Sã o Paulo, apresentou sentido político bem evidente. Sergipe se fez
representar com uma delegaçã o, enquanto internamente os gestos de contestaçã o à
ordem vigente também cresciam. O declínio das forças nazifascistas no plano mundial e
o desgaste do governo autoritá rio no â mbito local concorriam para expandir o

217
Ver Jackson da Silva Lima. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 139.
218
Luiz Antô nio Barreto. Centro democrá tico Artur Fortes in Gazeta de Sergipe, 21.08.2003.
109

movimento pela democratizaçã o da sociedade e muitos dos novos escritores animaram-


se esperançosos diante das perspectivas políticas e culturais.

2.5 Resumo (1930-1945)

A Revoluçã o de 1930 proporcionou o aparecimento de novas forças no campo


político e ampliou o papel do Estado, mas essa interferência crescente foi se
contrapondo à institucionalizaçã o da ordem democrá tica. O presidente Vargas violentou
o sistema representativo e, sobretudo a partir de 1937, instaurou regime autoritá rio
marcado pela coerçã o. Durante esse tempo, os problemas do Nordeste ganharam mais
identidade como unidade regional.
Em Sergipe, viveram-se três momentos mais ou menos diferenciados. Numa
primeira fase (1930-35), o governo ampliou a má quina administrativa e reformulou a
estrutura de poder preexistente, proporcionando desgaste à s oligarquias e ao
coronelismo coercitivo. Simultaneamente ocorria a sindicalizaçã o de diversas categorias
profissionais com o respaldo da interventoria. A partir de 1933, vá rios grupos sociais
participam da reorganizaçã o partidá ria, dentro de um novo quadro institucional que
comportava justiça eleitoral, voto secreto e voto feminino, dando início (1933) ao
processo de institucionalizaçã o de uma ordem democrá tica proporcionando grande
animaçã o à sociedade. Mas a partir de 1935, os grupos conservadores e/ou direitistas se
fortaleceram, a polarizaçã o ideoló gica acentuou-se entre direitistas e esquerdistas e,
com a deflagraçã o da Intentona Comunista em outros Estados, a repressã o recrudesceu.
Depois, ainda surgiram surtos de mobilizaçã o em torno da campanha para presidente da
Repú blica, mas tudo terminou com o golpe de Estado de 1937, tutelando a sociedade
dentro de Estado unitá rio, poderoso, intervencionista e pastoral. A partir de entã o, a
desarticulaçã o e a desmobilizaçã o da sociedade civil se acentuaram, enquanto os
interventores, que foram se sucedendo, atendendo orientaçã o nacional, promoviam
propagandas apologéticas do Estado Novo autoritá rio, com exploraçã o do civismo.
Ao longo dos quinze anos, os governantes prosseguiram na modernizaçã o dos
serviços pú blicos e demonstravam maior preocupaçã o com o social, mas a participaçã o
110

dos empresá rios foi inibida pela política nacional intervencionista. É verdade que
durante o período da Segunda Guerra (1939-45) alguns agentes econô micos
prosperaram, mas a quebra das barreiras interestaduais, ao tempo em que contribuía
para a integraçã o econô mica, erodia a relativa autonomia do mercado interno. Enquanto
os Estados do Sudeste recebiam grande estímulo para a industrializaçã o, o governo
nacional criava cotas para o setor açucareiro do Nordeste, proporcionando sobrevida ao
modelo agroexportador que, protegido, passaria a descuidar do aperfeiçoamento
tecnoló gico.
Nesta situaçã o, os trabalhadores, depois de uma fase de participaçã o, criando
sindicatos e outros ó rgã os de representaçã o, foram reprimidos em 1935 e
desmobilizados durante o Estado Novo. Em compensaçã o, a CLT foi editada,
consagrando direitos importantes. Quando, no trâ nsito institucional, a reorganizaçã o
partidá ria foi desencadeada em 1945, nã o obstante o quadro político encontrar-se mais
disperso, abriram-se novas perspectivas para a sociedade. Apesar da predominâ ncia do
autoritarismo no período, ficavam os feitos modernizadores e as experiências a serem
lembradas no novo tempo de aprendizado de reconstruçã o da democracia.
Do ponto de vista das manifestaçõ es culturais, num primeiro momento o debate
apaixonado entre socialistas e integralistas prejudicou parcialmente a produtividade dos
artistas. Num segundo momento, sobretudo nas ciências humanas, as pesquisas e as
reflexõ es avançaram com maior preocupaçã o com a objetividade e com a
fundamentaçã o empírica. Mas a principal característica de todo o período foi a grande
interferência do Estado, assumindo responsabilidades mais decididas no setor
educacional, revelando preocupaçõ es sociais ao tempo em que inibia a açã o do mercado.
Os governos, inseridos numa ideologia de construçã o do Estado Nacional, promoveram
reorientaçã o do ensino e estiveram a subsidiar perió dicos. Numa segunda fase mais
explicitamente autoritá ria, passaram a implementar política cultural voltada para a
valorizaçã o da histó ria, preservaçã o do patrimô nio histó rico e maior controle das
informaçõ es no sentido de justificar o Estado Novo, que, mesmo assim, foi perdendo
legitimidade, diante dos movimentos de resistência. No conjunto, nã o foi das fases mais
profícuas em criaçõ es e produçõ es individuais. Mas despontava nova geraçã o de
111

escritores demonstrando vocaçã o e potencialidades capazes de enriquecer a cultura


sergipana.
112

3 O ESTADO POPULISTA E O DOMÍNIO DOS PECUARISTAS (1946-1964)

3.1 O Processo Político-administrativo

3.1.1 A queda de Vargas e os Governos Provisórios

Desde quando Getú lio Vargas foi deposto da Presidência da Repú blica (1945), o
país passou por uma fase de transiçã o até a montagem de uma nova ordem institucional.
O entã o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, assumiu o governo com
a missã o de administrar o cumprimento do calendá rio eleitoral e transmitir o cargo ao
novo eleito. De início, o novo presidente tomou duas medidas de grande repercussã o: a
extinçã o do Tribunal de Segurança Nacional, ó rgã o má ximo da repressã o do Estado
Novo, e a revogaçã o da data da eleiçã o de governadores que estava estabelecida para 02
de dezembro, simultaneamente ao pleito que elegeria o presidente da Repú blica e os
parlamentares da Constituinte. Com essa medida, os oposicionistas de todo o país
ganhavam mais tempo para articular-se.
A campanha foi relativamente curta. A UDN lançou um dos principais líderes da
revolta de 1922, o brigadeiro Eduardo Gomes, enquanto o PSD concorria com o general
Eurico Gaspar Dutra. O PCB, como partido legalizado, lançou Luiz Carlos Prestes para o
Senado e Iêdo Fiú za, ex-prefeito de Petró polis, para a Presidência da Repú blica.
Decorrido o pleito, o general Dutra, contando com o apoio de Vargas, em carta divulgada
na ú ltima hora, saiu vitorioso.
O novo presidente, embora eleito com o respaldo de Vargas, pautou-se por uma
política inibidora do processo de industrializaçã o e de contençã o do movimento popular.
Os constituintes elaboraram uma Carta, em 1946, que avançava em alguns pontos, entre
os quais no capítulo sobre os direitos e garantias individuais, mas nã o criava condiçõ es
para a fundaçã o de uma cidadania que se efetivasse amplamente. Os direitos sociais
praticamente restringiram-se à incorporaçã o da legislaçã o corporativa estabelecida
durante o Estado Novo, coexistindo, contraditoriamente, com a inspiraçã o liberal. De
qualquer forma, era um aperfeiçoamento em relaçã o à s constituiçõ es anteriores.
113

O maior problema político provinha do quadro internacional, através da


denominada Guerra Fria, a disputa entre o bloco capitalista e o comunista. Embora
unificados na luta para derrotar o eixo, depois da vitó ria dos aliados as divergências
entre Estados Unidos e Uniã o Soviética foram se explicitando, através de embates
ideoló gicos que tenderiam a repercutir na política interna de diversos países, inclusive o
Brasil.
Em Sergipe, a organizaçã o partidá ria que foi delineada nos ú ltimos meses do
Estado Novo tenderia, em grande parte, a compor o perfil do novo momento
institucional. Para cumprimento do calendá rio eleitoral, foram se sucedendo os
governantes provisó rios. Francisco Leite Neto, que substituía Maynard, em 05.11.45
passou o cargo ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Hunald Santaflor
Cardoso, que haveria de governar até o fim de março do ano seguinte. O novo
governante compô s um secretariado misto, incluindo oposicionistas e governistas, entre
os quais alguns componentes da administraçã o anterior.219
No processo eleitoral de 1945 em Sergipe, a UDN aliou-se com o PR e elegeram os
dois postulantes ao Senado. Para Câ mara dos Deputados, a UDN levaria dois; o PSD, dois;
e o PR, um. Uma das surpresas foi a votaçã o do candidato a presidente do Partido
Comunista. Venceu em Aracaju, apesar de a esquerda nã o eleger nenhum nome.
Eleitos o presidente da Repú blica e os membros da Constituinte, o passo seguinte
para a transiçã o seria a eleiçã o para governador, a complementaçã o das vagas do
Senado e a escolha dos constituintes estaduais. Antes, no entanto, procedeu-se a
substituiçã o do interventor. Para o cargo foi indicado o coronel Antô nio Freitas Brandã o,
que foi empossado em 31.03.46, e tentou realizar uma gestã o voltada para a conciliaçã o
entre os grupos influentes. Formou um secretariado similar ao do seu antecessor e
esmerou-se em nã o contrariar os interesses dominantes, preservando, inclusive, a
má quina política montada no Estado Novo pela interventoria de Maynard.
A essa altura, meados de 1946, iam-se esboçando as tendências do novo quadro
político. O regime autoritá rio era substituído pelo liberal-democrá tico. O governo central
diminuía o nível de ingerência na política interna. O índice de votantes aumentava
consideravelmente. As massas urbanas passavam a influir de forma mais decisiva no

219
Para versã o ampliada desse período, ver José Ibarê Costa Dantas. Os Partidos Políticos em Sergipe -1889/1964. Rio
de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1989.
114

processo eleitoral. Num momento em que o nú mero de senhores do açú car já se achava
bastante reduzido, os pecuaristas ascendiam com muito â nimo ocupando o cená rio,
influindo na vida partidá ria. O pluripartidarismo, que se ensaiou nos anos 1933-35,
voltava com mais vigor. A dominaçã o interna, mais do que nunca, passava a ser definida
pela competiçã o partidá ria local.
Diante do novo pleito marcado para 19.01.1947, as articulaçõ es políticas
confirmaram o eixo competitivo que havia se delineado nas eleiçõ es anteriores, qual
seja, a disputa entre PSD X UDN. O primeiro tinha como liderança maior Francisco Leite
Neto, com a experiência adquirida como secretá rio geral da interventoria dos tempos de
Maynard. Na UDN, pontificava Leandro Maynard Maciel, homem já vivido na política,
desde quando fora secretá rio de obras na gestã o de Manoel Dantas, o ú ltimo governante
da Repú blica Velha.
A novidade da campanha de 1946-47 foi ver o PR, que antes havia se aliado à
UDN, coligado com o PSD, situaçã o que tenderia a persistir nos pleitos subsequentes.
Outro acontecimento surpreendente naquele momento foi a aliança do PCB com a UDN,
tentando eleger o advogado Luiz Garcia. Enquanto isso, a Esquerda Democrá tica, com
seu projeto de socialismo democrá tico, desligava-se da UDN e concorria aos cargos
eletivos com candidatos pró prios, inclusive para governador, através do usineiro
Orlando Dantas. Além dessas siglas, ainda surgiram o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), em fase de estruturaçã o, que ficaria sob o controle do líder populista Francisco de
Araú jo Macedo, e o pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN). Na campanha bastante
agitada como todas do período, a LEC desenvolveu forte movimento contra a chapa
aliada aos comunistas e a coalizã o PSD+PR elegeu José Rolemberg Leite governador,
bem como o senador e a grande maioria dos deputados.
Concluídos os trabalhos do pleito, o governante interino, coronel Antô nio Freitas
Brandã o, deu por encerrada a sua funçã o e passou o cargo ao industrial Joaquim Sabino
Ribeiro em 30.01.1947. Dois meses depois, este empresá rio transmitia-o ao novo
governador eleito.

3.1.2 O Domínio da Aliança PSD-PR: José R. Leite e Arnaldo R. Garcez (1947-1955)


115

Quando o jovem engenheiro José Rolemberg Leite (1947-1951) tomou posse, as


disputas entre direita e esquerda estavam bastante acentuadas, como decorrência do
quadro externo. Eleito por uma coalizã o conservadora, através de uma campanha
radicalizada, com o apoio da Igreja Cató lica em ostensiva propaganda anticomunista, o
novo governador escolheu secretariado dentro de sua base política, tentando atender os
interesses por vezes contraditó rios entre pessedistas e perrepistas.
Além da natureza do seu secretariado, havia o peso da influência familiar. Como
membro de uma numerosa e tradicional família sergipana, José Rolemberg Leite tinha,
na má quina administrativa, uma vasta parentela, que tornava seu governo, nã o apenas
continuador de uma estrutura de poder que se montara no Estado Novo, mas também
como a mais destacada estrela da constelaçã o das famílias Leite e Rolemberg. O controle
sobre a má quina político-administrativa ficou mais transparente com a eleiçã o
municipal. Apesar de a UDN, como partido isolado, apresentar-se, pelo conjunto de seus
quadros, como o de maior dimensã o, o PSD mais o PR elegeram a grande maioria dos
prefeitos e vereadores no pleito de outubro de 1947.220
Apesar das pressõ es intensas dos correligioná rios no sentido de subordinar as
políticas pú blicas à s prá ticas particularistas, nem por isso a administraçã o de José
Rolemberg Leite deixou de ser, em certos aspectos, criteriosa. Homem só brio, discreto
no falar e no agir, manifestou-se austero nos gastos, sem deixar de imprimir melhoria
em alguns serviços essenciais da capital e do interior. Atacou os problemas de á gua e luz,
que se encontravam em estado precá rio, e, dentro de um programa do governo federal,
ampliou consideravelmente a rede escolar no setor rural, chegando a inaugurar 218
escolas, além de deixar vinte outras em construçã o, todas dentro de um modelo
padronizado e distribuídas em numerosos povoados dos diversos municípios do
Estado.221 Para suprir a demanda, procurou-se preparar professores para atender as
diversas comunidades. Além do mais, criou as faculdades de Economia e Química que
haveriam de prosperar e permanecer atuando, ao contrá rio daquelas da década de vinte,
que nã o vingaram.

220
Ver Diário da Justiça, 19.03.1947.
221
Cf. José Rolemberg Leite. Mensagem que apresentou, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1950, à
Assembleia Legislativa Estadual. Aracaju: Imprensa Oficial, 1950.
116

Ampliou a malha rodoviá ria em mais 206 km e manifestou-se zeloso no equilíbrio


das contas pú blicas, resistindo à s pressõ es incô modas sobretudo do Judiciá rio.222 Apesar
desses e de outros melhoramentos, seu governo revelou-se pouco tolerante com os
movimentos populares, sobretudo com o movimento comunista.
Desde 1946 o Partido Comunista do Brasil vinha ampliando sua influência sobre
a política sergipana, sobretudo no seio do operariado de Aracaju, de Sã o Cristó vã o e, em
menor proporçã o, de Propriá e Estâ ncia. Com sede pró pria, apó s a vitó ria em Aracaju no
pleito de 1945, o partido foi superestimado, inclusive por seus adversá rios. Em janeiro
de 1947, elegera um deputado estadual e, em outubro do mesmo ano, um vereador para
a Câ mara de Aracaju. Com o desencadeamento da campanha anticomunista de â mbito
nacional, no segundo semestre de 1946, as atividades do partido passaram a ser
minuciosamente investigadas e o Tribunal Superior Eleitoral terminou cancelando seu
registro (07.05.47). Seguiu-se a intervençã o nos sindicatos e, em janeiro de 1948,
ocorreu a cassaçã o dos parlamentares.223
Em Sergipe, onde o partido já contava com uma influência ponderá vel, as reaçõ es
se desencadearam na Assembleia e nas ruas. Mas a orientaçã o do governo Dutra,
pressionado pelos grupos de direita, era de reprimir a qualquer custo as manifestaçõ es
populares. Seguindo essa diretriz, o governo da coalizã o PSD/PR proibiu em Aracaju,
inclusive, um comício pacífico. Quando os comunistas combativos tentaram realizá -lo, o
esquadrã o de Cavalaria investiu contra a massa no sentido de dispersá -la e um tiro
atingiu um militante comunista, Anísio Dá rio, que logo faleceu, enquanto vá rios dos seus
correligioná rios eram presos. Os numerosos filhos do militante morto perdiam o pai, os
comunistas ganhavam um má rtir e o governo ficaria marcado pela intolerâ ncia, apesar
das tentativas de culpar terceiros pela tragédia.224
Com o Partido Comunista jogado na ilegalidade, o movimento popular tenderia
a declinar, embora nã o desaparecesse. Sindicalistas, militantes, comunistas ou nã o,
persistiram adversamente cavando espaços sociais e, por vezes, sendo vítimas de
repressã o. A legenda estava proibida de concorrer, mas suas lideranças continuaram
atuantes com reuniõ es perió dicas, editando seus jornais (A Verdade, Folha Popular) em

222
Ver José Rolemberg Leite. Ob.cit., 1950.
223
Cf. Leô ncio Basbaum. História Sincera da República (1930/60). Sã o Paulo, Alfa ô mega, 1976, p. 188-192.
224
Cf. José Rosa de Oliveira. Depoimento ao autor em 19.08.1985 e Pires Wynne. História de Sergipe, 1930-1972. Rio de
Janeiro: Pongetti, 1973, p. 172-3.
117

momentos diferentes e, nos pleitos eleitorais, persistiram influindo, votando em seus


candidatos abrigados em outras siglas. Dessa forma, a maioria dos seus simpatizantes
migrava para o PTB de Macedo, que se declarava principal representante do varguismo
no Estado, ou votava na UDN. O PSB, por sua vez, defendia o socialismo com liberdade,
através da Gazeta Socialista sob a liderança de Orlando Dantas, mas nã o encontrava
grande receptividade entre os trabalhadores.
Dentro do quadro da elite dominante, a maior oposiçã o ao governo partia dos
udenistas, atuantes na Assembleia e articulados pelo interior do Estado, acompanhando
de forma bastante crítica a gestã o da aliança PSD/PR através do Correio de Aracaju.
Como se isso nã o bastasse, havia as rivalidades internas da coalizã o na indicaçã o dos
delegados, nas demandas dos prefeitos, que se acentuavam por ocasiã o da campanha
sucessó ria. A escolha do candidato para a eleiçã o de 1950 deixou marcas internas
indeléveis e gerou também fatos surpreendentes, sobretudo a saída de Maynard do
partido e sua aliança com Eronides de Carvalho, seu mais ferrenho adversá rio de 1930-
45. No plano nacional, o pleito marcou o retorno de Vargas, dessa vez através do voto
popular.
Em Sergipe, firmavam-se, entã o, três candidaturas ao governo do Estado:
Arnaldo Rolemberg Garcez (PSD-PR), Leandro Maciel (UDN) e Francisco de Araú jo
Macedo (PTB). A campanha foi apaixonada, renhida e o pleito marcado por fraudes. A
apuraçã o transcorreu difícil, demorada, cheia de batalhas judiciais e até “explosã o” de
uma urna. O resultado demorou tanto que no dia da posse do novo governador a
pendência continuava, tendo assumido o governo o presidente do Tribunal de Justiça,
Joã o Dantas Martins dos Reis. Este, dias depois, passaria o cargo ao candidato da aliança
PSD/PR que terminou sendo considerado vitorioso por pequena margem de votos.
Apesar da derrota da UDN a partir de um resultado bastante questionado, os udenistas
mostraram mais do que antes a sua grande força eleitoral e o prestígio dos seus quadros.
O segundo governo do PSD-PR, que abrange o quatriênio 1951-1955, coincidiu
com a ampliaçã o da política populista de Vargas, incorporando as massas urbanas,
dentro de um projeto econô mico industrializante e nacionalista. Essa orientaçã o
encontrou reaçõ es da burguesia comercial importadora e de grupos vinculados ao
118

capital estrangeiro, que se associaram com setores da cú pula das Forças Armadas,
exacerbando a luta política contra o governo.225
Embora esse debate fosse inibido pela orientaçã o conservadora da aliança
PSD+PR e por sua disputa com a UDN, nem por isso o Estado ficou alheio à s
repercussõ es das lutas ideoló gicas nacionais.
Quando Arnaldo Rolemberg Garcez assumiu o governo do Estado, em
12.03.1951, já dispunha de experiência na vida pú blica.226 Foi um dos fundadores do PSD
e, em 1946, cotado para a interventoria do Estado, apoiado por Maynard, que renunciou
à presidência do PSD em face de Dutra nã o haver atendido sua reivindicaçã o. Em 1951 o
novo governante assumia com imagem um pouco desgastada por uma campanha difícil,
desde a escolha de seu nome até o resultado eleitoral questionado nos tribunais. No
começo tentou imprimir uma orientaçã o pró pria à sua administraçã o, escolhendo um
secretariado mais agradá vel ao PR, provocando descontentamentos dentro do pró prio
PSD. Apesar disso, mostrou uma certa sensibilidade na á rea da educaçã o, apoiando a
criaçã o da Escola de Serviço Social e indicando pessoas criteriosas para dirigir
instituiçõ es oficiais. Realizou obras de dragagem na capital e fez açudes no interior.
Atendendo ao anseio dos agropecuaristas, construiu o Parque Joã o Cleofas, um centro
para exposiçã o de gado bovino. Voltado para a questã o econô mica, criou por decreto, em
1952, a Comissã o de Desenvolvimento Econô mico do Estado de Estado de Sergipe
(CDE), ó rgã o consultivo do governo e de assistência à s iniciativas de desenvolvimento.227
Na á rea social, levantou o primeiro conjunto habitacional de cunho popular, atendendo a
uma demanda de residência para as classes subalternas. Entretanto, o nível de
intolerâ ncia com relaçã o à s manifestaçõ es dos ativistas, comunistas ou nã o, continuava
semelhante ao de seu antecessor, evitando manifestaçõ es dos sindicalistas. Já no dia 1º
de maio de 1951, segundo denunciou A Verdade, tentou impedir a programaçã o
organizada pela Uniã o Geral dos Trabalhadores (UGTS) e outras organizaçõ es sindicais,
prendendo cidadã os, ao tempo em que cercava com a polícia a praça general Valadã o,
onde seria realizada a concentraçã o. Apesar desses impedimentos, os militantes
225
Ver Décio Saes. Classe Média e Sistema Político no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1985.
226
Arnaldo Rolemberg Garcez nasceu em 1911 em Itaporanga d’Ajuda (SE). Proprietá rio rural com trâ nsito na política,
foi eleito deputado à constituinte estadual, atuou na Assembleia até novembro de 1937, quando ocorreu o golpe.
Posteriormente, como ex-membro da União Republicana de Sergipe (URS), e ligado ao interventor Eronildes Ferreira
de Carvalho, integrou, em 1940, o Conselho Administrativo do Estado por cerca de um ano.
227
Cf. Dilson Menezes Barreto. A Construção do Desenvolvimento de Sergipe e o Papel do CONDESE (1964-1982).
Dissertaçã o de mestrado apresentada ao DCS da UFS. São Cristó vã o, 2003, (digitada), p. 69.
119

teimaram, a todo custo, em realizá -la com comícios relâ mpagos, pintando muros e
distribuindo volantes.
Contudo, o maior complicador de sua administraçã o foi a operaçã o repressiva
contra os comunistas, realizada pelo setor antivarguista do Exército. A vitó ria dos
nacionalistas dentro do Clube Militar, com sede no Rio de Janeiro, exacerbou os â nimos
da corrente anticomunista, que passou a desenvolver açõ es em alguns Estados com o fim
de desmoralizar as bases militares nacionalistas de Vargas.228 Foi dentro desse
movimento que oficiais, com anuência do governador, instalaram-se em Sergipe e
realizaram a famosa sindicâ ncia de 1952. Depois de inquirir oficiais do pró prio 28º BC e
da Polícia, investiram contra a sociedade civil e prenderam mais de 50 pessoas, entre as
quais toda a direçã o estadual do Partido Comunista que, entã o, atuava na
clandestinidade. No curso do processo, os presos foram submetidos a longos
depoimentos, entremeados nã o raras vezes de tortura. Além dos atos de violência e a
imposiçã o de constrangimentos aos prisioneiros, oficiais do Exército encarregados da
operaçã o estenderam seus abusos até o comércio de Aracaju, realizando compras que
jamais seriam saldadas.229
Líderes anticomunistas vieram a Aracaju e pelo menos uma conferência foi
pronunciada, alardeando sobre o suposto perigo que a sociedade sergipana havia
passado com a existência desse movimento comunista. Enquanto isso, políticos locais
em geral manifestaram-se flexíveis, quando nã o submissos. Raros foram aqueles que se
pronunciaram na tribuna da Câ mara dos Deputados e, posteriormente, em comício em
Aracaju.230 O vice-governador e o governador somente intervieram quando as
investigaçõ es começaram a ameaçar alguns dos seus pró prios auxiliares.
Depois de meses de prisã o, os suspeitos foram liberados e o processo
permaneceu inconcluso. A partir de entã o, Vargas tenderia a encontrar maiores
dificuldades em implementar seu projeto político, enquanto o governo Arnaldo Garcez,
diminuído, assistia ao envolvimento dos correligioná rios em prá ticas partidá rias
desabonadoras, entre as quais sequestro de um deputado para evitar quorum na
Assembleia e a exacerbaçã o da violência.
228
Cf. Nelson Werneck Sodré. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 1965, p. 304-326.
229
Ver Mauro do Carmo Alves. Na Mira do Exército. Monografia apresentada ao Departamento de Histó ria da UFS. Sã o
Cristó vã o (SE), (Digitada), 2002.
230
Cf. José Rosa de Oliveira Neto, declaração ao autor, em 19.08.1985. O deputado Orlando Dantas pronunciou-se
contra as prisõ es.
120

A prá tica da truculência no processo político de Sergipe, embora tenha sido uma
constante em sua histó ria, variou de intensidade durante a Repú blica. A partir de 1945,
quando a competiçã o entre os pró prios subgrupos da classe dominante se acentuou,
dentro de certa autonomia estadual, os embates se tornaram mais renhidos, resultando
muitas vezes em atos de arbitrariedade.
Desde a primeira eleiçã o, em dezembro de 1945, que se registraram queixas
contra autoridades policiais, gerando animosidade com os oposicionistas. Enquanto isso,
os udenistas iam demonstrando agressividade, acentuando as tensõ es grupais. Em todos
ou quase todos os municípios, foram-se formando grupos rivais, cada vez mais
irreconciliá veis. Os situacionistas, com o aparato coercitivo, empreendiam perseguiçõ es,
enquanto os udenistas resistiam, fortalecendo-se e também provocando e investindo.
Com a vitó ria de Arnaldo Garcez, depois de uma eleiçã o plena de violência e de
um processo de apuraçõ es particularmente tumultuado, ocorreram as vinditas em
vá rios municípios com prisõ es e até mortes. Nesse clima de animosidade, estimulado
pela imprensa de ambos os lados, as acusaçõ es se repetiam, chegando os udenistas a
denunciarem os governistas em jornais e na Câ mara dos Deputados. Caravanas de
parlamentares visitaram cidades do interior e apresentaram relató rio que foi explorado
pelos oposicionistas.231
Esse quadro foi-se agravando pela parcialidade de juízes e desembargadores
que se deixavam envolver pelo partidarismo. Embora a democracia fosse enraizando-se
nos costumes, através da pluralidade de partidos, das eleiçõ es perió dicas e da liberdade
de manifestaçã o do pensamento, faltava a impessoalidade, o distanciamento de
instituiçõ es como o Judiciá rio e o Exército. As varas e os tribunais tornaram-se ó rgã os
meramente políticos. O partido que tivesse mais simpatizantes nos tribunais tenderia a
vencer os pleitos. Com o Judiciá rio partidá rio, a sua autoridade e a sua legitimidade
foram-se esgarçando, e os grupos políticos apelaram cada vez mais para a força. Como
soluçã o ocasional, declarava-se intervençã o e o Exército era convocado. Mas os pró prios
militares também se deixavam envolver e por vezes tornavam-se cú mplices de
irregularidades.
Preocupado com a escalada da violência política, um grupo de intelectuais,
composto por pessoas de diferentes partidos, criou, em Aracaju, o Centro de Açã o
231
Ver Correio de Aracaju, 27.06.1953.
121

Democrá tica, divulgando mensagem aos sergipanos.232 Em meio a uma orientaçã o


doutriná ria de teor nacionalista, com preocupaçã o social, falando inclusive de reforma
agrá ria, inspirava-os a vontade de “criar um campo de entendimento entre os partidos a
fim de amortecer os crimes”.233
Enquanto isso, o quadro federal também se agravava. A derrota da ala
nacionalista do Exército, no ano de 1952, facilitou o desenvolvimento das reaçõ es à
política de Vargas. A nomeaçã o de Joã o Goulart para o Ministério do Trabalho e o
aumento do salá rio mínimo ampliaram os descontentamentos de variados setores
urbanos. Fustigado pelas campanhas da imprensa, em geral associadas aos udenistas, o
governo contra-atacou, assumindo posiçõ es nacionalistas. Em contraposiçã o, militares e
civis anticomunistas se aglutinaram criando organizaçõ es de direita, visceralmente
antigetulistas, pregando o impeachment do presidente, enquanto sua base partidá ria
minguava. O PSD e o PSP foram assumindo posturas de independência e o PCB, na
clandestinidade, considerava Vargas “agente do imperialismo”.234 O atentado contra
Carlos Lacerda, principal líder udenista, fortaleceu a corrente dos adversá rios que
postulavam sua deposiçã o. No meio do embate, Vargas preferiu o sacrifício pessoal,
através do suicídio, provocando grandes manifestaçõ es populares.
Em Aracaju, a carta testamento de Vargas foi lida dramaticamente na Rá dio
Difusora, acompanhada de comentá rios sensacionalistas, apontando os udenistas como
responsá veis pela tragédia. As massas indignadas acorreram à s ruas contra os supostos
opositores de Vargas. Um popular foi assassinado na Praça Fausto Cardoso. Casas de
udenistas e a sede do jornal Correio de Aracaju foram depredados. Forças do Exército
intervieram e evitaram a invasã o da Rá dio Liberdade, veículo da UDN, e da residência de
Leandro Maciel.
Estando os udenistas acusados de coresponsá veis pela morte de Vargas, quando
faltava pouco mais de um mês para as eleiçõ es, a vitó ria do seu candidato Leandro
Maciel parecia impossível. Mas como o partido vinha, nos ú ltimos anos, ampliando seu
raio de influência no Estado e na sociedade, desde o Judiciá rio até os setores populares,
com o desenrolar dos acordos e das pregaçõ es da campanha, as animosidades foram
amenizadas e o candidato da UDN saiu vitorioso com pequena margem de votos. Nã o
232
Cf. Correio de Aracaju, 19.01.1954.
233
José Silvério Leite Fontes, entrevista ao autor, em 24.06.1985.
234
Leô ncio Basbaum. Ob. cit., p. 207.
122

obstante os questionamentos do resultado, apó s outra batalha judicial, o representante


do PSD, Edésio Vieira de Melo, ficou em segundo lugar e, por ú ltimo, figurou Francisco
de Araú jo Macedo do PTB. A UDN também saiu favorecida nos nomes que apoiou para o
Senado, Câ mara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Prefeituras.

3.1.3 O Domínio da UDN: Leandro Maciel e Luiz Garcia (1955-1962)

Depois da morte de Vargas, o vice-presidente Café Filho assumiu, mas nã o


demorou o país a viver novo momento de instabilidade com golpes, contragolpes e
revoltas até no início do governo de Juscelino Kubitschek, que tomou posse em
30.01.1956. Em Sergipe, a vitó ria dos udenistas significava alternâ ncia de poder na
política local que passava a viver sob o signo do leandrismo. Personalidade forte,
liderança maior da UDN, Leandro Maynard Maciel ingressou na vida pú blica durante a
Primeira Repú blica e, conforme já vimos, teve atuaçã o destacada nos pleitos de 1933-
1935. Embora o golpe de 1937 o tenha jogado no ostracismo, durante o Estado Novo ele
alimentou como pô de a continuidade do seu grupo político e, quando o processo de
liberalizaçã o foi desencadeado, incorporou-se ao movimento democrá tico, participando
da formaçã o da UDN. Em 1945 compô s com o PR, elegeu-se constituinte de 1946 e, em
1947, fez acordo com os comunistas. Em meio à s hostilidades da má quina política estatal
e à s derrotas eleitorais da UDN em 1947 e em 1950, administrou o crescimento do
partido, demonstrando capacidade de decisã o, agressividade e astú cia. Pragmá tico,
estivesse no Senado ou na Câ mara dos Deputados, defendia uma política de
desenvolvimento para o Estado através da industrializaçã o e aproximava-se de políticos
de diversos partidos, a fim de obter o apoio para seus projetos e para pleitos de verbas
destinadas a instituiçõ es de Sergipe.235 Mas, internamente, era sobretudo uma grande
liderança partidá ria, “amigo dos amigos”, que despertava ó dio dos adversá rios e paixã o
dos correligioná rios pela forma decisiva como lhes demonstrava solidariedade na paz e
nas lutas lícitas ou ilícitas.

235
Cf. Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu (coords). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, 1930-1983. Rio de
Janeiro: Forense Universitá ria: FGV/CPDOC; FINEP, 1984, v. 1, p. 415.
123

No discurso da posse, ocorrida em 31.01.1955, prometeu governar para todos,


mas logo foi mudando o quadro dos funcioná rios de confiança, vá rios dos quais
provinham do Estado Novo, montando uma administraçã o eminentemente partidá ria. A
seguir, foi ao Rio de Janeiro em busca de recursos e, em Sergipe, revelou-se executivo
dinâ mico, operoso, através de realizaçõ es que na época eram consideradas as mais
fundamentais para o desenvolvimento do Estado.
Considerando que o crescimento estava estrangulado por três fatores – porto,
energia e aeroporto –, com determinaçã o procurou superar os problemas. Empenhou-se
como ninguém para a conclusã o dos trabalhos do novo aeroporto, cujas obras haviam
sido iniciadas há 17 anos, e terminou inaugurando-o. A draga, vista entã o como soluçã o
para o problema do porto, foi recebida em festa, e executou a desobstruçã o da barra de
Aracaju. Ampliou a rede elétrica na capital e instalou em alguns municípios a energia
gerada na Usina de Paulo Afonso. Além disso, renovou boa parte da rede d’á gua,
construiu pontes, cerca de 300 km de estradas e pavimentou os primeiros 16 km,
conforme revelou em relató rio. Incentivou a agricultura e a pecuá ria. Promoveu a
realizaçã o, em diversos municípios, de pequenos açudes. Em Aracaju, demoliu o morro
do Bonfim, facilitando a circulaçã o na á rea. Prédios pú blicos foram levantados. Enfim,
proporcionou novo impulso ao processo de modernizaçã o da capital.236 Na educaçã o
melhorou os salá rios dos professores, construiu novas escolas e o Instituto de Educaçã o
Rui Barbosa, mas nã o provocou inovaçõ es como os dois governos antecessores,
especialmente José Leite.
Apesar desses e outros feitos, o governo Leandro Maciel embaraçou-se na
questã o da violência. Se, ao assumir a direçã o da sociedade política, já pesava sobre o
cidadã o Leandro Maciel acusaçõ es de atos truculentos,237 a imagem de violento e cruel
foi-se firmando a partir do momento em que operou a substituiçã o da direçã o da
má quina burocrá tica pessedista para udenista. Com o fim de enfraquecer os adversá rios,
penalizava numerosos funcioná rios subalternos através de sucessivas transferências,
retomando os mesmos métodos aplicados pelos pessedistas, sobretudo no governo de
Arnaldo Garcez. Quando o acerto de contas era encetado, foi assassinado em
Ribeiró polis o prefeito Josué Modesto dos Passos. Para os udenistas, esse crime soou
236
Ver Leandro Maciel. Mensagem apresentada por ocasião da abertura da sessão ordinária de 1958. s/d.; Prestaçã o de
Contas. Diário Oficial do Estado de Sergipe, 30.01.59; Correio de Aracaju, 1955-58.
237
Cf. Correio de Aracaju, 21.05.1955.
124

como provocaçã o brutal. Até entã o as vítimas fatais tinham sido figuras de menor
prestígio político-social, mas quando a UDN ascendia ao governo do Estado, dez anos
depois de sua fundaçã o, era golpeada com a morte de um ex-deputado estadual. Chefe
político daquele município, o governante estava no quarto mês de gestã o. Era um
desdobramento de lutas locais entre duas famílias que se rivalizavam: a dos “Ceará ” e a
dos Passos. A primeira, vinculada ao PSD, a segunda à UDN.
Diante da indignaçã o geral dos udenistas, o governo desencadeou a busca aos
supostos criminosos numa perseguiçã o desenfreada e, por si, arbitrá ria. Sob açã o de
uma polícia despreparada, ocupou o município de forma abusiva, estabelecendo
insegurança entre os pessedistas. Em contraposiçã o, os adversá rios desenvolveram seus
esquemas de denú ncias contra o governo Leandro Maciel, levando Ribeiró polis a viver
sob intervençã o do Exército de março de 1957 até o fim da gestã o daquele governante.
A imagem de administraçã o violenta acentuou-se na medida em que chefes
políticos de outros municípios também abusavam do respaldo do governador para
penalizar adversá rios. Como a Justiça se manifestava em regra conivente ou impotente, a
força continuava sendo o recurso mais eficiente para a resoluçã o de embates. A situaçã o
local agravou-se com o assassinato, em Aracaju, do prestigioso médico Carlos Firpo,
vinculado à UDN. Nã o obstante as controvérsias sobre os motivos do fato, o rumoroso
processo de apuraçã o nã o deixou de tumultuar o ambiente. Falou-se muito em
insegurança, mas nã o encontramos registros de atos contra o pessoal da imprensa,
apesar das denú ncias mais gritantes e das campanhas mais apaixonadas desenvolvidas
pelos ó rgã os de oposiçã o, entre os quais o Diário de Sergipe, jornal do PSD, e a Gazeta
Socialista, ó rgã o do PSB. Criada em 1948, a Gazeta Socialista entrou em recesso em 1951
e somente reapareceu cinco anos depois, ou seja, em janeiro de 1956, contando com uma
plêiade de jovens intelectuais, a maioria de tendência nacionalista e alguns
simpatizantes do socialismo. Na chefia, Orlando Dantas imprimiu orientaçã o de aná lises
e denú ncias contundentes, especialmente das prá ticas dos udenistas, dos quais nã o
aceitava nem divulgar suas versõ es.
Quanto à relaçã o do primeiro governo Leandro Maciel com as classes
subalternas, há dois lados a considerar. Primeiro, nã o se pode negar que, no processo de
competiçã o política conflituoso, os mais penalizados foram realmente os setores
125

populares, sobretudo aqueles mais envolvidos na militâ ncia partidá ria da aliança
PSD+PR. Por outro lado, os trabalhadores urbanos, ao contrá rio do ocorrido nos dois
governos anteriores, nã o foram molestados em seus movimentos sindicais, quaisquer
que fossem suas tendências ideoló gicas. Exerceu relacionamento amistoso com as
lideranças dos diversos grupos de culto afro-brasileiro e facilitou o acesso de homens do
“povo” ao Palá cio, muitas vezes sem hora determinada nem protocolo para recebê-los.
No que se refere aos trabalhadores urbanos, o governo manteve-os como aliados,
prestigiando o Centro Operá rio Sergipano, auxiliando sindicatos, assegurando-lhes
conquistas238 e proporcionando-lhes liberdade de atuaçã o. Nã o foi por acaso que o
Centro Operá rio tributou a Leandro Maciel uma homenagem, considerando-o “credor do
apoio dos operá rios sergipanos”.239
Integrando os trabalhadores urbanos ao processo político, os udenistas
preparavam-se para a sucessã o governamental. Para essa empreitada, a UDN dispunha
de vá rios quadros habilitados. A escolha pessoal de Luiz Garcia deixou
descontentamentos e sequelas nas relaçõ es com alguns correligioná rios. Na seara do
PSD, como nome de consenso relançaram José Rolemberg Leite. Os dois principais
partidos se defrontavam com os mesmos candidatos que concorreram em 1947.
Enquanto isso, o PTB de Francisco de Araú jo Macedo apresentava-o pela segunda vez
num momento de declínio. O PCB, embora ainda na ilegalidade, a exemplo do que
ocorrera em outras oportunidades, apoiou o candidato udenista. Abertas as urnas, deu-
se a desforra de 1947. O controle do aparato administrativo estadual, envolvendo a
maior parte das Prefeituras e parcela do Judiciá rio, facilitava o resultado favorá vel em
quase todos os níveis. Nas Prefeituras, entã o, o recuo dos pessedistas foi grande.
Quando Luiz Garcia assumiu o governo do Estado de Sergipe, para o mandato de
quase quatro anos (31.01.1959 a 06.06.1962), pelas mã os do seu chefe político, Leandro
Maciel, o pacto populista no â mbito nacional, firmado na aliança PSD-PTB, começava a
ingressar em nova fase de dificuldades. Depois da crise de 1954, que levou Vargas ao
suicídio, a UDN, associada a oficiais da ESG, tentou implementar um novo projeto
político, que foi interrompido com o afastamento definitivo de Café Filho da Presidência
da Repú blica em novembro de 1955. A eleiçã o da chapa Juscelino-Jango e, sobretudo, a

238
. Cf. Seixas Dó ria. Eu, réu sem crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d, p. 93.
239
Cf. Correio de Aracaju, 11.04.1959.
126

posse assegurada pelo general Lott, em 31 de janeiro de 1956, recuperou o domínio da


aliança PSD-PTB. O projeto populista foi retomado, mas sob a inspiraçã o do modelo do
nacional-desenvolvimentismo. Dentro dessa nova orientaçã o, o governo JK promoveu
um Programa de Metas, que resultou no reforço do papel do Estado e na redefiniçã o do
conceito de nacionalismo, enquanto passou a ser compreendido como fortalecimento
nacional, através de uma política de desenvolvimento inclinada a uma maior integraçã o
com o sistema internacional.240 Os êxitos do Programa de Metas foram inegá veis, como
atestam os altos índices de crescimento do PIB. O país ingressou na fase da
industrializaçã o pesada, quando se completaram as bases técnicas necessá rias à
autodeterminaçã o do capital.241 Mas esse progresso contribuiu também para acentuar as
contradiçõ es estruturais.
Quando começou o segundo governo da UDN em Sergipe, em janeiro de 1959, o
quadro político nacional estava agitado. O debate ideoló gico intensificava-se, a aliança
PSD-PTB perdia terreno, os partidos, divididos em blocos suprapartidá rios, careciam de
unidade de comando, enquanto, no Nordeste, os movimentos sociais avançavam na
mobilizaçã o. O governo Luiz Garcia,242 embora tendesse a seguir a orientaçã o do
primeiro domínio udenista, apresentou algumas diferenciaçõ es significativas, tanto pelo
seu estilo pessoal quanto pelas repercussõ es da conjuntura política nacional e regional.
Tendo participado do movimento pela fundaçã o da UDN, foi seu primeiro candidato a
governador (1947), quando perdeu para José Rolemberg Leite. Em 1950, elegeu-se
deputado federal e foi reeleito em 1954. Quatro anos depois, foi indicado por Leandro
Maciel como seu sucessor e o partido homologou seu nome. Embora seus irmã os, Carlos
e Robério, se tornassem militantes comunistas; e Antô nio, defensor do socialismo com
liberdade; Luiz Garcia amoldou-se ao capitalismo, adotando um liberalismo moderado,
distanciando-se tanto das prá ticas entreguistas quanto do combate faná tico ao
comunismo. De Leandro Maciel, seu mestre e companheiro, assimilou o pragmatismo, a
valorizaçã o do clientelismo e, em menor proporçã o, a subestimaçã o das questõ es

240
Ver Míriam Limoeiro Cardoso. Ideologia do Desenvolvimento no Brasil: JK-JQ. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p.
157-8.
241
Cf. João Manuel Cardoso de Melo e Luís Gonzaga de Melo Beluzzo. Reflexã o sobre a crise atual in Escrita Ensaio.
SAFA LTDA, Ano I, n. 2, 1977, p. 19.
242
Nascido em 1910, filho de um tabeliã o do município de Rosá rio do Catete (SE), Luiz Garcia vinha de uma família de
classe média. Ascendeu auxiliado por Leandro Maciel e fez carreira política como seu aliado leal. Em 1934, participou
da fundação do PSD de Sergipe e, neste mesmo ano, foi eleito deputado à constituinte estadual. Durante o Estado Novo
esteve à frente do Correio de Aracaju.
127

ideoló gicas. Nã o dispunha da engenhosidade, da astú cia e da capacidade de liderança do


seu chefe, em contrapartida era uma figura mais civilizada nos seus métodos políticos.
Em sua longa carreira política, manifestou-se pragmá tico, oscilando entre o
conservadorismo e a modernizaçã o social.243 Conveniente diante das forças políticas
dominantes, preferiu sempre a prudência em vez da audá cia.
Já encontrando a má quina político-administrativa estruturada, sob o
predomínio de seus correligioná rios udenistas, manteve-a, mas imprimiu a sua feiçã o
pessoal ao governo, a começar pela formaçã o do seu secretariado, com forte presença
familiar, com alguma tendência ao nepotismo. Apesar disso, revelou-se modernizador e,
preocupado com uma política de desenvolvimento em debate na época, criou ó rgã os de
grande importâ ncia para superar o quadro vigente. Fundou o Conselho de
Desenvolvimento de Sergipe (Condese) em março de 1959, o Banco do Fomento
Econô mico de Sergipe, a Energipe e o Centro de Reabilitaçã o. A fim de proporcionar uma
melhor infraestrutura aos serviços da capital, promoveu a construçã o de hotel amplo e
moderno (Palace), assim como a Rodoviá ria, estruturou o Instituto de Previdência do
Estado de Sergipe (IPES), destinado aos servidores estaduais, ampliou o aeroporto,
apoiou decisivamente a criaçã o da Faculdade de Medicina, ajudou na ampliaçã o da rede
escolar, criou a secretaria da Educaçã o, Cultura e Saú de e incentivou escritores e
artistas, contribuindo para o enriquecimento do movimento cultural. Deu continuidade à
ampliaçã o das rodovias, dos serviços hidrá ulicos e de energia. O Condese, recém-criado,
promoveu a formaçã o de grupos de trabalho, animando políticos e, sobretudo,
empresá rios. Renovavam-se as esperanças de exploraçã o do sal-gema, anunciava-se a
descoberta de petró leo em Pacatuba e a chegada a Sergipe da fá brica de cimento.
Entretanto, de suas metas – “Petró leo, Cimento, Sal-Gema” – somente a produçã o de
cimento ocorreria durante a sua gestã o.
De qualquer forma, o governo Luiz Garcia foi-se inclinando para a orientaçã o
desenvolvimentista, ao tempo em que reafirmava o relacionamento amistoso do seu
antecessor com os trabalhadores urbanos, configurado inclusive por apoio material aos
ó rgã os de classe. Em reconhecimento, o Centro Operá rio Sergipano atribuiu à sua escola

243
O termo modernizaçã o aparece aí como processo de transformaçã o, compreendido por mobilizaçã o social,
diferenciaçã o e laicizaçã o, afetando costumes e modificando valores. Cf. Lia Pinheiro Machado. Alcance e limites das
teorias da modernização in José Carlos Garcia Durand e Lia Pinheiro Machado. Sociologia do Desenvolvimento II. Rio de
Janeiro: Zahar, 1975.
128

o nome de sua esposa, Emília Pinto Garcia, e posteriormente tributou ao governador


nova homenagem, indicando que os laços dos udenistas com os trabalhadores se
estreitavam num momento de expansã o do domínio populista.244
Tais manifestaçõ es indicavam, por parte do governo, uma postura pragmá tica
que via, no relacionamento amistoso com os trabalhadores, uma forma mais adequada
de convivência política, na medida em que ajudava a construir sua legitimidade e
facilitava alguma forma de controle. Apesar disso, no transcurso do segundo governo da
UDN, o partido situacionista tendeu a perder popularidade na capital. Embora o PSD
tenha abdicado do seu ó rgã o oficial, o Diário de Sergipe, alienando-o, a Gazeta de Sergipe
firmou-se como o jornal mais combativo e corajoso, exercendo grande influência,
concorrendo para o desgaste do domínio da UDN. O partido situacionista tinha a seu
favor o Diário Oficial, o Correio de Aracaju e a Folha Popular, sendo este de tendência
comunista. Entretanto, os três juntos nã o conseguiram superar a influência da Gazeta.
Além disso, a coligaçã o PSD-PR dispunha da Rá dio Jornal, que levava ao ar um programa
extremamente irreverente, denominado Risolâ ndia, no qual criticava e ridicularizava
todo o grupo governista, inclusive autoridades policiais. Em reaçã o a essas críticas,
ocorreu a agressã o a jornalista, trazendo mais problemas ao governo, já em dificuldades
diante do relacionamento crítico com o prefeito da capital. Líder populista agressivo,
José Conrado de Araú jo, gozando de popularidade junto à s classes subalternas da
periferia de Aracaju, em mais de uma ocasiã o, tentou desafiar a autoridade do
governador, criando-lhe situaçõ es embaraçosas e desgastantes. Enquanto isso, formava-
se na Assembleia um Bloco de Açã o Parlamentar adverso, constituído pelas bancadas do
PSD, do PR, e por um dissidente do PTB e outro da UDN.
Contudo, o eixo competitivo PSD x UDN, que até entã o balizava o
posicionamento das forças políticas locais, começou a embaralhar na campanha para
presidente da Repú blica, em 1960, quando Jâ nio da Silva Quadros disputava com o
marechal Henrique Teixeira Lott. Este candidato se comunicava precariamente com as
massas. Todavia, pelo seu passado de nacionalista firme e enérgico, inclusive contra os
conservadores da UDN, despertou, em Sergipe, ponderá vel movimento de apoio à sua

244
João Nunes da Silva afirmou: “O Centro Operá rio Sergipano sente-se honrado em homenagear um governador
democrá tico, humano e justo”. A seguir enumerou entre suas realizaçõ es: a) liberdade de açã o dos trabalhadores, b)
criaçã o de escolas de corte, costura e bordados. Por fim, concluiu: “Os trabalhadores sergipanos reconhecem em Luiz
Garcia um seu verdadeiro amigo”. Correio de Aracaju, 02.05.1962.
129

candidatura. Formou-se entã o um leque de partidos de respaldo ao seu nome,


envolvendo PSD + PR + PSB + PTB + PRP + PCB, estimulado inclusive pela campanha da
Gazeta de Sergipe, que sempre enaltecia as iniciativas consideradas nacionalistas. O PSD
e o PR, embora marcados pelo conservadorismo, acompanharam o candidato Lott,
enquanto a UDN ficou praticamente isolada, pois os minú sculos partidos que a
acompanhavam tinham restrita significaçã o eleitoral. Daí o resultado adverso para o
candidato Jâ nio Quadros, que perdeu em Aracaju e no Estado de Sergipe.
Jâ nio Quadros, que fora eleito com projeto moralizador, revelou-se incapaz de
administrar os problemas nacionais. Suas medidas contraditó rias, oscilando em cortejar
simultaneamente a esquerda (com a política externa e a liberdade cambial) e o centro
(com a moralizaçã o administrativa), agravaram as contradiçõ es. Encontrando
dificuldades em ampliar seus poderes para realizar um governo francamente
autoritá rio, renunciou nove meses apó s a posse, deixando o eleitorado perplexo e a UDN
frustrada.
A recusa dos militares em dar posse ao vice, Joã o Goulart, resultou na criaçã o do
movimento de resistência, formando-se a Cadeia da Legalidade, por iniciativa do
governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, com o apoio do general Machado
Lopes, comandante do III Exército. Diante dessa divisã o de forças nos vá rios Estados, os
diversos grupos político-sociais passaram a expressar suas posiçõ es.
Em Sergipe, formou-se amplo movimento pelo cumprimento dos preceitos
constitucionais, favorá vel, portanto, à posse do substituto legal. Mas esse
posicionamento colidiu com as pretensõ es de autoridades do Exército que serviam em
Aracaju. A Uniã o Estadual dos Estudantes de Sergipe (UEES), ó rgã o dos estudantes do
terceiro grau, lançou manifesto condenando os que levaram o presidente à renú ncia e
conclamando as entidades de classe a se pronunciarem contra a violaçã o da
Constituiçã o. Reuniõ es sucederam-se entre vá rios ó rgã os, greves foram ensaiadas,
chegando os estudantes secundá rios a realizar manifestaçõ es pú blicas. Comércio,
bancos e escolas fecharam, enquanto a Assembleia Legislativa declarou-se em sessã o
permanente, solidarizando-se com a Cadeia da Legalidade. As principais autoridades
constituídas do Estado (governador, arcebispo, presidente da Assembleia, líderes de
130

diversas correntes partidá rias) reuniram-se no Palá cio do Governo e emitiram nota na
qual manifestavam esperanças na obediência à Constituiçã o.245
Enfim, as manifestaçõ es de vá rios setores da sociedade sergipana pelo respeito
à Constituiçã o, se por um lado expressavam aspiraçã o por um projeto democratizante,
por outro acentuaram o fosso com oficiais do Exército. A superaçã o do impasse político,
através da emenda constitucional, instaurando a forma de governo parlamentarista,
aparentemente superou a crise, mas alimentou indisposiçõ es das Forças Armadas,
sobretudo com o movimento popular. Formalmente, aceitaram o acordo, recolhendo-se
aos quartéis, mas uma ala considerá vel passou a preparar-se para uma açã o mais efetiva.
Com Joã o Goulart no governo, a polarizaçã o entre as forças sociais de direita e esquerda,
que vinha crescendo de há muito, acelerou-se, refletindo-se inclusive na sucessã o
governamental.
O primeiro nome da UDN a ser aventado como candidato foi o de Leandro
Maciel, cujo prestígio continuava elevado no seio da agremiaçã o situacionista. Inquieto,
astuto e bem articulado, ao deixar o governo, continuou mantendo contatos com as
lideranças do partido, no â mbito nacional, participando de encontros e dos
entendimentos com vista à sucessã o presidencial. Desses contatos nasceu o chamado
“Encontro de Aracaju”, reunindo lideranças expressivas da UDN.246 Era uma tentativa de
estabelecer um entendimento sobre o candidato à sucessã o presidencial. Justamente
nessa reuniã o de líderes, Leandro Maciel teve seu nome lançado como candidato a vice-
presidente e, na convençã o nacional, concorreu com Fernando Ferrari, homem dinâ mico
do Rio Grande do Sul, fundador do Partido Trabalhista Renovador (PTR). Mas o político
sergipano venceu-o por um voto, enquanto Jâ nio Quadros derrotava Juraci Magalhã es
em disputa acirrada.
Iniciada a campanha, num momento em que as divisõ es internas no partido
continuavam acentuadas, alguns correligioná rios passaram a fazer restriçõ es ao nome
de Leandro Maciel. Entre os mais insatisfeitos estava o pró prio Jâ nio Quadros que,
pressionado a iniciar os comícios ao seu lado no Acre, renunciou subitamente à
candidatura e desapareceu, provocando grande rebuliço nas hostes udenistas. Uma vez
245
Sobre esses episó dios, ver José Lopes Bragança. Sergipe por um óculo. Belo Horizonte: Carneiro e Cia, s/d.
246
Participaram das discussõ es: Leandro Maciel, presidente da UDN de Sergipe e os governadores Luiz Garcia (SE), Cid
Sampaio (PE), Dinarte Mariz (RN), Juracy Magalhã es (BA), Magalhã es Pinto (MG), entã o presidente nacional da UDN, o
presidente da UDN da Bahia, Albérico Fraga e Jâ nio Quadros. Ver foto dos participantes na Revista da Associação
Sergipana de Imprensa, Aracaju, 31.12.60, n. 3, p. 92.
131

localizado, Jâ nio foi persuadido a reconsiderar seu gesto e Carlos Lacerda encarregou-se
de bombardear a candidatura do político sergipano. Carente de respaldo, Leandro
Maciel renunciou (abril de 1960) e foi substituído pelo conceituado político mineiro
Milton Campos. Em 1960, o governador Luiz Garcia nomeou-o presidente da Energipe,
mas logo depois o presidente Jâ nio Quadros indicou-o para presidente do Instituto de
Açú car e do Á lcool e aí permaneceu até setembro de 1961. Com seu nome projetado,
voltou a candidatar-se à sucessã o governamental naquele ano. Ocorre que, a essa altura,
suas decisõ es já nã o encontravam o acatamento de outrora. Entre aqueles
correligioná rios que consideravam inoportuna a sua postulaçã o e almejavam
candidatar-se, estava o deputado Joã o Seixas Dó ria, que muito se destacara na
Assembleia, no Congresso e na campanha de Jâ nio Quadros à Presidência. Foi nesse
momento que o grupo da Gazeta de Sergipe mobilizou-se, articulou-se com lideranças do
PSD, do PR e, juntos, costuraram uma ampla coalizã o partidá ria, entã o denominada de
“Esquema”, somando forças de oposiçã o e da situaçã o. PSD e UDN, as duas maiores
agremiaçõ es, que vinham se rivalizando desde 1945, dividiram-se e formaram duas
coalizõ es heterogêneas. De um lado, a Aliança Nacional Trabalhista (ANT), envolvendo a
UDN, o PTB, o PST, parte do PSP e a dissidência do PSD. Do outro lado, a denominada
Aliança Social Democrata (ASD), formada pelo PSD, PR, PRT, PSB, PDC, e, por fim, pela
dissidência da UDN, liderada por Seixas Dó ria, candidato a governador, que terminou
vitorioso.
Em resumo, durante o domínio udenista em Sergipe (1955-63), o Estado
Populista transitou de uma crise (sucessã o de Vargas) a outra (sucessã o de Jâ nio
Quadros). Neste período, a cú pula da UDN frustrou-se em dois momentos: quando
tentou implementar um projeto político alternativo liberalizante via Café Filho e Carlos
Luz, e depois, quando fez de Jâ nio Quadros seu presidente. Enquanto isso, os governos
estaduais foram enquadrando-se nos padrõ es de dominaçã o populista. Em Sergipe, a
atuaçã o da UDN, de certo modo, correspondeu a uma atualizaçã o ou a uma tentativa de
adequaçã o do projeto político da classe dominante local aos padrõ es nacionais, na
medida em que reproduziam as tendências populistas. De um lado, na valorizaçã o do
ideá rio desenvolvimentista e, de outro, na aproximaçã o com os trabalhadores urbanos.
Durante esse tempo, a violência acentuou-se num primeiro momento para depois
132

diminuir. O debate político ideologizou-se mais, o partidarismo contaminou todas as


instituiçõ es, firmado no clientelismo vigoroso, sobretudo no interior, com a política de
carta branca aos coronéis. Enfim, a UDN, que atualizara o projeto político dentro dos
parâ metros populistas, nã o foi capaz de continuar adequando-se ao projeto reformista
em expansã o em â mbito nacional. Mas um dissidente tentaria incorporar-se a esse
ideá rio.

3.1.4 O Domínio da ASD: Seixas Dória e a Derrocada do Estado Populista (1962-1964)

A crise de hegemonia, que marcou o domínio populista no â mbito nacional,


acentuou-se, no início dos anos sessenta, de forma irremediá vel. Quando Joã o Belchior
Marques Goulart assumiu a Presidência, com poderes restringidos pela alternativa
parlamentarista, recebia uma herança de difícil administraçã o. Primeiramente, tinha
contra si as indisposiçõ es dos conservadores (militares e civis), que abominavam sua
atuaçã o de líder populista controlador da má quina previdenciá ria. Sua gestã o no
Ministério do Trabalho, de onde saíra, aliá s, sob pressõ es, figurava como referencial
sempre lembrado. Na esfera econô mica, apó s o boom desenvolvimentista do governo JK,
restou a pressã o inflacioná ria de difícil contençã o. No campo político, respaldava o
governo uma base partidá ria precá ria. Os partidos conservadores se enfraqueciam no
Congresso. A aliança PSD-PTB já nã o dispunha da consistência de outrora. Além dos
grupos suprapartidá rios que inibiam as orientaçõ es das lideranças, a polarizaçã o
ideoló gica se acentuava, aumentando o fosso entre esquerda e direita, tornando as
negociaçõ es mais difíceis e as contradiçõ es mais visíveis.
Por esse tempo, a ideologia do nacionalismo, que já era antiga entre nó s, passou
a ser retrabalhada e ganhou força e maior sentido com sua associaçã o com
desenvolvimento, através do processo de industrializaçã o, no qual as empresas estatais
desempenhavam papel fundamental. Em contraposiçã o à ideia de naçã o, surgia à de
antinaçã o, identificada com o imperialismo e seus aliados, fator da dependência. Para
superá -la, fazia-se necessá rio a atuaçã o das classes dentro de uma política que levasse o
Estado a fortalecer o mercado interno, substituir as importaçõ es e conquistar a
133

emancipaçã o. A grosso modo, esse era o modelo nacional-desenvolvimentista que


apresentava variaçõ es conforme a corrente política e o momento. Com a criaçã o do
Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), no Rio de Janeiro em 1955, um grupo
de intelectuais passou a discutir em conjunto os problemas nacionais e muitos livros
foram editados com as versõ es desse projeto, alcançando grande repercussã o em todo
territó rio nacional. Em Sergipe, muitas pessoas acompanhavam as publicaçõ es e, de
modo geral, passaram a repetir seus enunciados. Os jornais, entre eles o Correio de
Aracaju, e, mais especialmente a Gazeta de Sergipe, estavam integrados nessa corrente
de pensamento.
As maiores discordâ ncias radicavam na forma de romper com as amarras do
subdesenvolvimento. Alguns acreditavam na via pacífica, outros na violenta. Em um
ponto parecia haver acordo: a necessidade de educar o povo para a grande
transformaçã o. Esse processo de instruçã o envolvia também a conscientizaçã o como
superaçã o do está gio de alienaçã o, termo muito usado nesse momento.
Diante desse quadro, Joã o Goulart, ao assumir a Presidência em setembro de
1961, passou a perseguir dois objetivos: realizar um projeto político que respondesse à s
demandas sociais e restaurar os plenos poderes do presidencialismo.247 O plebiscito de
01/1963 restituiu o presidencialismo, mas o projeto reformista encontrou dificuldades
na sua implementaçã o.
Em Sergipe, o governador Joã o de Seixas Dó ria tentou integrar-se nessa política
reformista.248 Antes havia participado da Frente Parlamentar Nacionalista, onde atuou
com audá cia, tomando iniciativas que encontravam repercussã o, despertando a simpatia
dos jornalistas do Congresso. Incorporou-se à campanha para eleiçã o de Jâ nio Quadros,
servindo para amenizar os ataques da esquerda nacionalista engajada na campanha do
marechal Lott, e ampliou seu prestígio.
Ao chegar ao governo, Seixas Dó ria encontrou o Estado em situaçã o financeira
difícil.249 Apó s substituir o aparato administrativo, que por oito anos estivera sob o
247
Cf. Wanderley Guilherme dos Santos. Sessenta e quatro: Anatomia da Crise. Sã o Paulo: Vértice, 1986, p. 62.
248
Nascido no município de Propriá , em 1917, Seixas Dó ria como estudante foi simpatizante do integralismo. Formou-
se em direito, ocupou a Secretaria da administraçã o financeira da Prefeitura durante a interventoria do coronel
Freitas Brandã o, logo apó s o Estado Novo. Eleito deputado estadual por duas legislaturas consecutivas, (1947/1951),
foi líder da UDN na Assembleia por um quatriênio e dirigiu o Correio de Aracaju durante oito anos. Destacando-se
como parlamentar e jornalista atuante, candidatou-se a deputado federal em 1954. Na Câ mara dos Deputados,
prosseguiu em sua carreira ascensional, combinando o dinamismo ao engajamento na campanha nacionalista em
expansã o.
249
Sobre essa questã o, consultar Gazeta de Sergipe, 19.2.1963 e 30.3.1963.
134

controle da UDN, o governo dedicou-se à melhoria da situaçã o financeira. Inicialmente,


dentro de uma orientaçã o de austeridade e moralizaçã o administrativa, demitiu os
funcioná rios contratados a partir de setembro de 1962, nomeou comissõ es (de
tombamento e de inquérito administrativo), estabeleceu medidas contra o jogo e exigiu
dos promotores e juízes a fixaçã o de residência nas comarcas.250 Apesar do escrú pulo no
uso do dinheiro pú blico, associado à s medidas de austeridade, as dificuldades
econô mico-financeiras persistiam, agravadas pela seca que grassava no Estado. Para
minorar a situaçã o, o chefe do Executivo sergipano recorreu ao governo federal, ao
tempo em que procurava demonstrar sua identificaçã o com o projeto reformista.
Internamente, quando discursava, nã o perdia oportunidade de exercitar sua retó rica,
por vezes permeada com frases de efeito sensacionalista. Na Assembleia Legislativa,
anunciou um governo revolucioná rio, capaz de sacudir velhos métodos e preconceitos.
Em outra oportunidade, advertiu sobre o perigo das massas famintas. Posteriormente,
no ensejo da inauguraçã o do Banco de Fomento do Estado de Sergipe, falou de seus
planos de “retalhamento do latifú ndio está tico”, obrigando “o dinâ mico a pagar salá rios
justos”.251 Nos discursos proferidos fora do Estado, sua retó rica se apresentava mais
incandescente, fosse em Belo Horizonte, em Recife ou Salvador. Contudo, seu
pronunciamento de maior repercussã o foi no famoso comício de 13 de março, no Rio de
Janeiro, quando anunciou bombasticamente que, ao retornar a Sergipe, iria fazer a
reforma agrá ria. Além das falas, algumas medidas efetivas vinham sendo encetadas,
inclusive por algumas secretarias, entre as quais se destacava a de Educaçã o e Cultura,
que refletiu os tempos excitantes do entusiasmo nas mudanças. Seu secretá rio de
Educaçã o juntou-se ao movimento de mobilizaçã o, de forma a acelerar o processo de
alfabetizaçã o e educar as massas, sem perda de tempo. Utilizando-se de verbas de
convênios com a USAID e do governo federal, incentivou e/ou incorporou-se à s
campanhas de educaçã o popular, desde as experiências preliminares do método Paulo
Freire até as atividades do Centro Popular de Cultura (CPC), que percorreu vá rios
municípios, encenando suas peças com a inflamada participaçã o estudantil. Visando a
uma maior frequência escolar das crianças do meio rural, alterou o calendá rio escolar de
forma que a oferta de aulas coincidisse com as entressafras. Além disso, criou o Conselho

250
Ver J. Pires Wynne. História de Sergipe (1930- 1972). Rio de Janeiro: Pongetti, 1973, p. 267.
251
Gazeta de Sergipe, 02.03. 1963, 27.04.1963, 05.01.1964.
135

Estadual de Educaçã o, bem como uma comissã o objetivando a criaçã o da Universidade


Federal de Sergipe.252
Em relaçã o à pacificaçã o do Estado, o governo Seixas Dó ria nã o foi bem-
sucedido. Depois de fazer sua campanha a partir do slogan “Paz e Prosperidade”,
começou o governo declarando “paz a qualquer preço”, mas, no mesmo dia da
declaraçã o, era assassinado o chefe político da UDN do município de Malhada dos
Bois.253 Embora a grande parte dos udenistas nã o lhe criassem problemas na fase inicial,
o chefe político de Itabaiana resistia a seu modo. Arbitrá rio, continuou a ameaçar juízes
e a ignorar leis como fizera no governo findo. Perdendo o controle da força policial do
município, criou uma guarda municipal, gerando naquela cidade dualidade de poder. A
rivalidade entre as duas forças policiais resultou em choque e na morte do comandante
da força policial que servia naquele município. A corporaçã o ressentiu-se e julgou-se
mais agravada quando a Justiça concedeu habeas-corpus aos acusados da guarda
municipal. Esta foi dissolvida, o contingente policial de Itabaiana foi reforçado e, por
ocasiã o de uma passeata, a força policial metralhou o poderoso chefe político de
Itabaiana Euclides Paes Mendonça, entã o deputado federal, e seu filho, deputado
estadual Antô nio de Oliveira Mendonça, que tiveram morte instantâ nea. O líder da UDN,
deputado Gilton Garcia, responsabilizou o governador pelos acontecimentos trá gicos.254
O Diário de Aracaju, jornal do grupo udenista, insistiu na puniçã o dos culpados. Uma
comissã o do Congresso veio a Sergipe investigar o acontecimento. Foi instaurado
processo, mas ninguém foi condenado.255
A maior fonte de inquietaçã o, porém, veio da mobilizaçã o nacional a partir do
projeto das reformas de base, proposto pelo governo federal. Entre essas reformas, a
agrá ria era a que provocava maiores discó rdias, envolvendo a Igreja Cató lica e todos os
grupos de esquerda, PCB (Partido Comunista Brasileiro), PC do B (Partido Comunista do
Brasil), uma dissidência do PCB surgida em 1962 alinhada ao estalinismo, a Política
Operá ria (POLOP) inspirada no trotskismo, a Açã o Popular (AP) buscando uma terceira
via, dentro de um processo de atualizaçã o histó rica. A açã o esquerdista ganhou maior
autoconfiança com a açã o da Frente de Mobilizaçã o Popular (FMP), que nasceu em 1962,

252
Cf. Luís Rabelo Leite, depoimento ao autor, em 26.06.1988.
253
Cf. Gazeta de Sergipe, 06.2.1963.
254
Cf. Gazeta de Sergipe, 13.8.1963.
255
Ver José Ibarê Costa Dantas. Coronelismo e Dominação. Aracaju: Diplomata/UFS, 1987.
136

aglutinando vá rias entidades de esquerda (CGT, PUA, UNE), proporcionando mais força
ao chamado bloco popular, acirrando a luta de classes, cada um propondo a sua pró pria
Revoluçã o. No conjunto, segundo Eduardo Viola, havia três propostas bá sicas de
transformaçã o da sociedade brasileira, a partir das lideranças mais expressivas: uma
reformista limitada, encabeçada por Goulart, que tendia a conciliar-se com o sistema de
dominaçã o estabelecido; outra, reformista profunda, encabeçada por Arraes, que
abarcava toda a camada de esquerda e se propunha a uma longa guerra de posiçõ es no
caminho para uma sociedade socialista. A terceira era encabeçada por Brizola, com forte
peso do movimento estudantil, acreditando na iminência de uma revoluçã o radical do
tipo da cubana.256
Em Sergipe, a partir de 1963, Seixas Dó ria era a principal liderança que
galvanizava as transformaçõ es do movimento popular. Respaldado pela coalizã o que o
elegeu, tinha também o apoio crítico do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Se, no entanto, antes eram vistos como perigosos vermelhos revolucioná rios, em
1963 e início de 1964 os adeptos do PCB passaram a ser taxados de reformistas
ultrapassados e “reboquistas” pelas novas siglas que surgiam, entre as quais a AP, que,
desde o ano de 1962, começou a irradiar-se, sobretudo entre o movimento estudantil,
com propostas radicais. Infiltrou-se no MEB e, junto a ele, atuou como grupo de
vanguarda, influenciando nos textos radiofô nicos e atuando nos sindicatos rurais
criados com o apoio da Igreja. Apesar de iniciante no movimento popular, o grupo da AP
tornou-se o mais agressivo de todos quantos atuaram em 1963 e início de 1964,
contribuindo muito para excitar os â nimos e alimentar a fé na vitó ria das forças
populares. Menor influência teve em Sergipe a POLOP. Nos ú ltimos meses de 1963,
passou a atuar no movimento estudantil, difundindo seu ideá rio através de seu jornal
Política Operária. Foi também em fins de 1963 que os primeiros militantes do PC do B
começaram a atuar em Sergipe, propagando seu ideá rio, distribuindo jornais, discutindo
com certa agressividade e pregando a revoluçã o, tida como iminente.
Em início de 1964, o acompanhamento dos acontecimentos nacionais
aumentou. Entre os programas de maior audiência, liderava o de Brizola, em suas
pregaçõ es desafiadoras pela Rá dio Mayrink Veiga, servindo de tema de conversa no dia

256
Eduardo J. Viola, Formas de Estado e Formas de Regime no Capitalismo Periférico. Dissertaçã o de Mestrado.
Campinas, S. Paulo, UNICAMP, 1978 (mimeografada), p. 244.
137

seguinte. O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) figurava entre as entidades de


maior atençã o, pela sua capacidade de deflagrar as greves nacionais. Em Sergipe,
constituiu-se também seu Conselho Diretor Estadual, começando a atuar nos
movimentos grevistas que ocorriam no Estado, especialmente no setor terciá rio. Alguns
de cunho nacional, como a greve dos bancá rios, mas outros, embora estimulados pelo
clima político externo, tinham motivaçõ es locais. Destes, o de maior dimensã o foi a greve
dos professores da rede pú blica do Estado, que teve o apoio tanto de setores da Igreja
Cató lica quanto de lideranças do Partido Comunista. A partir desse suporte, os
professores dos estabelecimentos particulares, os funcioná rios pú blicos e os ferroviá rios
solidarizam-se, paralisando suas atividades.257 Apesar das proporçõ es que assumiu, o
movimento nã o chegou a perdurar mais de uma semana. Houve acordo entre as partes e
os serviços voltaram ao normal, com atendimento de algumas reivindicaçõ es. Na
verdade, a agitaçã o do meio urbano, especialmente entre os trabalhadores do setor de
serviços, geralmente se diluía com o atendimento de reivindicaçõ es na medida em que
persistia alguma margem de manobras a ser explorada.
A questã o realmente explosiva, o ponto de discó rdia, estava no campo, e a terra
era o objeto da principal luta política. Em Sergipe, em meio aos discursos, o governador
mandou projeto à Assembleia Legislativa, sob o título de “Colonizaçã o”, que
regulamentava indenizaçõ es e manifestou-se tolerante com relaçã o à invasã o da fazenda
Bica.258 Por outro lado, havendo um movimento de conscientizaçã o precedente, sob o
influxo do MEB, os sindicatos rurais em Sergipe, entre fins de 1963 e início de 1964,
emergiam com certo vigor, animando a mobilizaçã o que avançava estimulada,
sobretudo, pelos eventos nacionais. O comício de 13 de março, no Rio de Janeiro,
marcado pela assinatura do decreto de desapropriaçã o das terras à s margens das
rodovias, bem como as promessas enfá ticas do governador Seixas Dó ria na imprensa e
na tribuna, trouxeram grande animaçã o à s forças reformistas e revolucioná rias.
“Ninguém segura esse processo”, asseveravam as lideranças mais triunfalistas. Na
esteira desses acontecimentos, a opçã o pela invasã o das propriedades, a exemplo do que
já vinha ocorrendo em outros Estados do Nordeste, fortaleceu-se. Algumas tentativas

257
Cf. José Silvério Leite Fontes, depoimento ao autor, 01.06.1988.
258
Sobre o projeto de Colonizaçã o, ver Gazeta de Sergipe, 14.01.64. Quanto à questã o da Fazenda Bica, consultar:
Seixas Dó ria. Eu, Réu sem Crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d., p. 92-93 e Gazeta de Sergipe, 10.1.1964 e 21.1.1964.
138

foram realizadas, inclusive no Quissamã , uma fazenda experimental da Escola Agrícola,


vinculada ao governo federal, mas o êxito do caso da Bica nã o se repetiu.259
Enquanto isso, os proprietá rios rurais, assustados com os discursos do
governador e com suas expressõ es de tolerâ ncia com o movimento popular que
questionava a propriedade e fazia da reforma agrá ria sua bandeira de luta, procuraram
se organizar. A partir de reuniã o na Federaçã o de Associaçõ es Rurais de Sergipe,
decidiram criar o seu sindicato. Num encontro na sede da Associaçã o Comercial, houve
grande comparecimento de fazendeiros, sobretudo da UDN e do PSD, unidos, acima das
diferenças partidá rias, identificados pelos interesses maiores: a propriedade da terra. O
evento contou até com o secretá rio da Agricultura do governo reformista da Aliança
Social Democrá tica (ASD), que fez críticas ao governador. Vá rias propostas foram
aventadas, entre as quais a criaçã o de rá dio e jornal em defesa da propriedade.
Finalmente, os proprietá rios decidiram enviar um memorial ao governo do Estado, que
seria examinado na pró xima reuniã o marcada para três dias depois. Cerca de duas
semanas apó s, realizou-se, na cidade de Lagarto, um comício, promovido pela sociedade
dos criadores, transmitido pelas rá dios Liberdade (UDN) e Jornal (PSD), e aberto pelo
secretá rio da agricultura, considerando-se demissioná rio, onde a tô nica dominante foi o
ataque nominal à s figuras envolvidas com as reformas. O governador, o bispo D. José
Tá vora, entre vá rios líderes menores, eram todos acusados de comunistas, subversivos,
merecedores de reprimendas.260 A essa altura, o clima era de movimentaçõ es tensas.
Concentraçõ es de trabalhadores, tentativas de invasõ es de propriedades, conflitos
dentro de usinas. Acreditava-se numa situaçã o pré-revolucioná ria. Enquanto isso, os
proprietá rios rurais preparavam-se, adquirindo armas. Até os jornais comentavam
sobre a compra “de metralhadoras portá teis e armas curtas”.261
Dos representantes de Sergipe na Câ mara dos Deputados, Lourival Batista era o
mais identificado com o movimento de direita e o ú nico vinculado ao grupo
suprapartidá rio Açã o Democrá tica Parlamentar, ó rgã o que mantinha interconexã o com
o Instituto Brasileiro de Açã o Democrá tica (IBAD), entidade criada para combater o

259
Ver José Onias de Carvalho. Memórias de um Matuto Sertanejo. Recife: Inojosa, s/d, p. 57/58.
260
Gazeta de Sergipe, 17.03.1964.
261
Gazeta de Sergipe, 29.02.1964.
139

comunismo e fechada em 1963, acusada de “exercer atividade ilícita e contrá ria à


segurança do Estado e da coletividade”.262
No Sudeste, as articulaçõ es golpistas aceleravam-se. Pelo menos desde março de
1963, a estratégia política do governo Goulart vinha revelando-se desastrosa. As reaçõ es
da maioria dos congressistas, impedindo a institucionalizaçã o das reformas, levou-o a
buscar o apoio de determinados grupos mobilizados da sociedade civil (CGT, FMP, UNE),
que, aliá s, desconfiavam de suas açõ es, exigindo, inclusive, definiçõ es prévias.
Promovendo greves sucessivas, nem sempre justificá veis, discursos triunfantes e/ou
insolentes, as lideranças mais açodadas proporcionavam pretextos para que as forças de
direita desenvolvessem a luta ideoló gica, falassem de guerra revolucioná ria e
acelerassem as conspiraçõ es. A ideia de comícios monstros ainda mais atemorizou os
conservadores (civis e militares), levando-os a articulaçõ es cada dia mais amplas. Velhos
políticos, com projetos divergentes, como Ademar de Barros e Carlos Lacerda, juntaram-
se com o fim do que denominavam de combater o caos. As bases políticas governistas
tornaram-se mais precá rias do que nunca com o afastamento do PSD, tradicional fiador
do projeto populista. Na sociedade civil, classistas patronais, grupos femininos (CAMDE),
parte da Igreja Cató lica, imprensa, associaçõ es diversas, todos foram formando a grande
corrente de reaçã o, sob a coordenaçã o maior do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais
(IPES), soldando os setores militares e civis e acoplando-se aos interesses do grande
capital interno e externo. As revoltas dos sargentos e dos marinheiros, de um lado,
levavam alguns ao devaneio de estabelecer analogia com a Revoluçã o Russa e, por outro,
indispunham decisivamente as Forças Armadas com o movimento popular, diante da
quebra de hierarquia.
Confiante num sistema de informaçã o e de segurança ineptos e ineficazes, o
governo, isolado e debilitado, nã o se dispô s a enfrentar as forças de reaçã o. Num ú ltimo
discurso provocante, Goulart apressou a deflagraçã o do movimento militar
contrarrevolucioná rio, que contou com o apoio expressivo de parte da sociedade civil,
identificada na defesa da ordem e da propriedade. Quando as tropas do Exército,
sediadas no Estado de Minas Gerais, começaram a descer para o Rio de Janeiro, o

262
Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu (coords). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, 1930-1983. Rio de Janeiro:
Forense Universitá ria, FGV/CPDOC, FINEP, 1984, v. 2, p. 1.604. Sobre a Açã o Democrá tica Parlamentar e seu
representante em Sergipe, ver René Armand Dreifuss. 1964: A Conquista do Estado - Ação Política, Poder e Golpe de
Classe. Petró polis, RJ: Vozes, 1981, p. 319-322.
140

governador de Sergipe, ainda entrou em contato com seu correligioná rio, o governador
Magalhã es Pinto, o qual teria admitido negociaçõ es, mas desde que houvesse proposta
concreta por parte de Jango. Contudo, o ainda presidente da Repú blica “recusou-se a
tomar iniciativa”.263
No dia 1º de abril, Seixas Dó ria retornou a Sergipe. À noite, leu mensagem em
rá dio a favor da legalidade e, na madrugada seguinte, foi preso e levado a Salvador. Um
jornal local publicava em manchete: “IV Exército controla o Nordeste”.264 Nã o era
somente o Nordeste: as Forças Armadas controlavam a sociedade política do Brasil.

3.2 O Processo Econômico-social

No período 1946-1964, a defasagem entre o Sudeste e o Nordeste acentuou-se


consideravelmente. O processo de desenvolvimento nacional desencadeado nos anos 30,
através da substituiçã o das importaçõ es, foi-se ampliando e ingressou em outro patamar
nos anos de JK. Com o Plano de Metas, que rearticulou a empresa privada nacional com a
estrangeira e as estatais, implementou-se a industrializaçã o pesada que apresentou
crescimento médio de 9,26% entre 1957 e 1961. Fabricando produtos industrializados
com superior nível de produtividade, quando as barreiras comerciais entre os Estados já
haviam sido quebradas, as empresas do Sudeste foram inundando o mercado nacional
com seus artigos, conquistando supremacia econô mica. Enquanto isso, o Nordeste,
especialmente Sergipe, ainda continuava com seu perfil agroexportador retardado.
Na atividade açucareira, o nú mero de usinas decrescia de 59 (1946) para 18
(1963) e a produçã o permanecia estacioná ria em relaçã o à fase de 1932 a 1944. 265 Basta
lembrar que enquanto a média das safras do período anterior fora de 673.858 sacos, de
1946 a 1964 foi exatamente 671.827 sacos.266
O fato de a diminuiçã o do nú mero das usinas nã o haver afetado a produçã o
pode ser indicaçã o da tendência à concentraçã o das empresas. Os senhores do açú car ao

263
Seixas Dó ria. Ob. cit., p. 48.
264
Gazeta de Sergipe, 02.04.1964.
265
Cf. Antô nio José Nascimento. A Economia Sergipana e a Integração do Mercado Nacional (1930/1980). Dissertaçã o
de Mestrado apresentada na UNICAMP, Campinas, 1994, quadro 9.
266
Manoel Correia de Andrade. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço - Contribuição à História das
Usinas de açúcar de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990, p. 28-30.
141

longo do tempo minguavam, vivenciando declínio inexorá vel. Cada vez mais raros eram
os que sobreviviam. Um exemplo ilustrativo foi o crescimento da Usina Sã o José, que foi
ocupando o espaço das decadentes e, a partir do fim dos anos quarenta, ultrapassou o
desempenho da Usina Central, antes a maior unidade produtiva. No seu conjunto, a
produçã o açucareira de Sergipe estacionava, mas continuava perdendo posiçã o nã o
apenas em relaçã o aos demais Estados produtores do Nordeste, mas sobretudo diante
das unidades do Sudeste.
Em relaçã o ao algodã o, a situaçã o foi ainda pior. A á rea de plantio foi reduzida
consideravelmente, levando a produçã o a diminuir, nã o obstante a permanência, no
início dos anos sessenta, de cerca de 20 fá bricas de beneficiamento do produto.267
No campo, a grande atividade desse período foi a agropecuá ria que, de 1950 a
1960, chegou a atingir um crescimento da ordem de 31,5%. 268 Além da criaçã o de gado,
continuou com bastante sucesso, em Sergipe, a engorda de boiadas adquiridas em Minas
Gerais ou no sul da Bahia que, posteriormente, eram exportadas para outros Estados do
Nordeste. Essa prosperidade dos agropecuaristas, que vinha crescendo desde pelo
menos os anos quarenta, contribuía para fazê-la a fraçã o dominante mais importante do
Estado, pelas proporçõ es do grupo e pelas influências políticas. Na segunda fase do
domínio populista (1946-64), aquele grupo pontificava com grande desenvoltura na
política e nos negó cios.269
O Estado nã o tinha uma política planejada para os agropecuaristas, mas nem por
isso deixou de beneficiá -los, estimulando-os por meios de iniciativas como as exposiçõ es
agropecuá rias, que se constituíam em verdadeiras festas lucrativas. Por outro lado, os
créditos bancá rios e as dispensas dos empréstimos pelo governo federal, em
determinadas ocasiõ es, contribuíam para a capitalizaçã o da categoria. Essa
prosperidade certamente ajuda a entender o crescimento do setor primá rio de 1950
para 1960, conforme quadro abaixo.

267
Cf. Antonio José Nascimento. Ob. cit., 1994, quadro 17.
268
Cf. Bonifá cio Fortes. Democracia de Poucos. Aracaju: Regina, 1963, p. 20.
269
Por ocasiã o da XIV Exposiçã o Agro-Pecuá ria, alguns nomes foram citados como pioneiros. Além de Felisberto
Freire, que vinha criando gado desde o século XIX e comemorava-se o seu centená rio, foram lembrados: Dr. Antonio
Militã o T. Bragança (Laranjeiras), José do Prado Franco (Laranjeiras), Silvio Garcez (Itaporanga) e Bento Aguiar
(Neó polis). Mas, por esse tempo, outros também pontificavam como Acrísio d’ Á vila Garcez (Lagarto), Thomé Dantas
da Costa (Tobias Barreto), José Dó ria de Almeida (Simã o Dias), Edmundo Freire (Riachão do Dantas), Antô nio Torres
Neto (Canhoba), Martinho Almeida (Lagarto), Jacomildes Barreto (Boquim), os Garcez e os Sobral (Itaporanga,) os
Calumby Barreto e Murilo Dantas em outros municípios.
142

QUADRO VI
PARTICIPAÇÃ O DA RENDA INTERNA (1950-1960)

Anos Setor primá rio Setor secundá rio Setor terciá rio
1950 35,9% 18,6% 45,5%
1960 42,8% 10,8% 46,4%

FONTE: Governo do Estado de Sergipe. I Plano de Desenvolvimento Econômico e Social


(1976/1979). Conselho do Desenvolvimento de Sergipe - CONDESE.

Outro dado que chama atençã o nesse quadro é a queda do setor secundá rio.
Enquanto o país vivia numa fase de grande crescimento, atingindo índices
extremamente elevados, especialmente durante o Plano de Metas, em Sergipe o
desempenho das indú strias decrescia. A queda mais acentuada ocorria justamente no
setor têxtil, conforme quadro abaixo.
QUADRO VII
INDÚ STRIAS DE SERGIPE (1940-1960)

NÚ MERO DE ESTABELECIMENTOS PESSOAL OCUPADO


Gêneros Gêneros
CENSOS Gênero Gênero
Estado Produtos Estado Produtos
INDUSTRIAIS Têxtil Têxtil
Alimentares Alimentares
1940 743 40 160 13.681 6.472 4.252
1950 1.377 61 355 16.608 8.189 3.524
1960 1.886 39 620 14.286 5.973 3.993

Fonte: Fundaçã o IBGE, apud Aluízio Capdeville Duarte. Aracaju e Sua Região. Rio de Janeiro:
IBGE, 1971 p. 20.

O conjunto das indú strias de transformaçã o de Sergipe perdia terreno dentro do


Nordeste, sobretudo na década de 1950-60, baixando sua participaçã o de 5,1% (1949)
para 3,2% (1959).270 A situaçã o agravou-se no setor têxtil, seu ramo mais significativo.
Enquanto a parte de alimentos recuperava-se um pouco, algumas fá bricas de tecidos
fechavam, a produçã o caía 3,1%, ao tempo em que o pessoal ocupado decrescia.
Dispondo de matéria-prima de baixa qualidade e tecnologia obsoleta, a indú stria têxtil
perdia competitividade e declinava. Era um quadro de crise num tempo em que o fluxo

270
Cf. Antô nio José Nascimento. Ob. cit., 1994, p. 192.
143

portuá rio de Aracaju diminuía radicalmente com o assoreamento de sua barra. Diante
desses problemas, a sociedade passou a discutir a questã o a partir da imprensa, e o
Estado passou a intervir de forma mais efetiva.
Vimos como os governos vinham dando passos, tentando estimular o processo de
desenvolvimento. Arnaldo Garcez criou o Conselho de Desenvolvimento Econô mico,
Leandro Maciel tentou superar os pontos considerados de estrangulamento do
crescimento e Luiz Garcia ainda mais ampliou os investimentos em obras na indú stria e
nos serviços, dentro do ideá rio desenvolvimentista do governo JK, que se expandia
criando expectativas em torno da industrializaçã o do Estado. Tudo isso gerava um clima
de otimismo, porém algumas dificuldades persistiam.
A SUDENE, criada em fevereiro de 1959, passou a liberar recursos para
modernizar as indú strias têxteis do Estado, mas os efeitos nã o se revelariam
animadores, uma vez que as necessidades eram maiores do que as mudanças operadas.
O que animava era a expansã o da rede elétrica da Companhia Hidroelétrica do Sã o
Francisco (CHESF) que chegara a Sergipe por volta de 1954. Oito anos depois, apenas
dez municípios ainda nã o contavam com energia instalada. Somente Aracaju, que
começou com 3.200 Kw, já havia solicitado aumento para 10.000 Kw. 271
Por esse tempo, a populaçã o do Estado que, em 1940, era da ordem de 542.236,
vinte anos depois passara para 760.273 habitantes, enquanto Aracaju chegara a 115.713
residentes, segundo o Censo de 1960. Ao longo das duas décadas, nã o obstante os
problemas nas indú strias, os serviços tiveram melhor desempenho. O nú mero de casas
comerciais atingia 1.817 unidades,272 enquanto os estabelecimentos bancá rios somavam
24, envolvendo 7 matrizes e 17 sucursais, filiais e agências. 273 Mas, em relaçã o ao volume
de capitais e de depó sitos, o movimento era bem inferior nã o apenas ao dos Estados de
Bahia e Pernambuco, mas também ao de Alagoas.
No setor das comunicaçõ es, vinham ocorrendo mudanças expressivas. Em 1957
foi inaugurado o serviço automá tico da telefonia com 2.000 linhas e 1.500 aparelhos em
funcionamento. A construçã o da estrada Rio/Bahia operava grandes transformaçõ es na
economia do Nordeste. Em Sergipe, o fluxo comercial de produtos do Sudeste,

271
Em 1955 Sergipe dispunha apenas de um potencial instalado de 8.890 Kw. Problemas de Base do Estado de Sergipe.
Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, Vol. II, p. 300-302.
272
Censo de 1960.
273
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 300-302.
144

especialmente paulistas, ampliou-se consideravelmente inviabilizando muitas iniciativas


locais. O transporte de mercadorias pela via marítima praticamente desaparecia,
enquanto o ferroviá rio declinava. Diagnó stico da situaçã o das ferrovias no início dos
anos sessenta falava de trilhos desgastados, dormentes apodrecidos, traçados
impró prios e viagens demoradas, estimulando a opçã o pelo transporte rodoviá rio. Pelos
idos de 1964, Sergipe já contava com 3.733 km de rodovias, das quais 256 km eram
federais, 1.288 km estaduais e 2.189 municipais. Estas ú ltimas nã o dispunham nem de
revestimentos primá rios. No todo havia apenas 19 km pavimentados. 274 A essa altura, já
estavam registrados 2.221 automó veis, 500 ô nibus e micro ô nibus e 1.413 caminhõ es.275
Aracaju, que era vista com importante funçã o portuá ria, afirmava-se entã o apenas
como centro político-administrativo e comercial.276 A expansã o das estradas de rodagem
permitia ampliar sua influência nos serviços, ramificando-se nã o apenas pelos
municípios do interior, mas também pelas comunidades circunvizinhas dos Estados de
Alagoas e Bahia.
Enfim, foi um tempo de mudanças, marcadas sobretudo pelo crescimento da
dependência do Sudeste. Como afirmou um estudioso da economia nordestina: “O
conjunto de investimentos em bens de capital e durá veis concentrados em Sã o Paulo, ao
tempo em que bloquearia a possibilidade de industrializaçõ es autô nomas nas regiõ es,
induziria as estruturas produtivas regionais a assumirem um papel complementar e
dependente. A integraçã o que daí decorreria aprofundou as relaçõ es interregionais”.277
Dentro desse contexto, a produçã o de açú car estava estagnada, o algodã o
declinando e as indú strias têxteis em situaçã o crítica. Somente nos serviços e na
agropecuá ria houve melhoria e crescimento, impedindo que a crise se tornasse
generalizada. Apesar desse quadro, a descoberta de petró leo em Riachuelo (1961) e,
sobretudo, em Carmó polis (1963) abria novas perspectivas para o desenvolvimento de
Sergipe.

274
O percurso de Aracaju a Propriá era feito em cinco horas e trinta minutos. Para Pedra Azul em Minas Gerais (1.300
km) chegava a levar 90 dias. Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p.270.
275
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 283.
276
Ver Neuza Maria Gó is Ribeiro. Transformações do Espaço Urbano: o Caso de Aracaju. Recife: FUNDAJ/Massangana,
1989 e Vera Lú cia Alves França. Aracaju: estado e metropolização. Sã o Cristó vã o/SE: Editora da UFS/ Aracaju:
Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 1999.
277
Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e Renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar
Sergipe, São Cristó vã o/SE: UFS, 2000, v. II, p. 24.
145

Quanto aos trabalhadores urbanos, que no período 1930-1945 haviam


conseguido numerosos direitos, passaram a ampliar seu espaço na sociedade com o
processo de democratizaçã o. Nã o obstante saírem do Estado Novo relativamente
desarticulados e divididos em alguns grupos, cedo foram tentando organizar-se,
formando e/ou fortalecendo seus ó rgã os de classe. Uma das categorias mais
reivindicativas era a dos portuá rios, apesar de viverem momento de declínio de suas
atividades. Os funcioná rios pú blicos também manifestaram-se bastante ativos. Criaram
em 1946 a Associaçã o dos Servidores Pú blicos em Sergipe (ASPES), voltada para a
defesa dos interesses da categoria. Suas lideranças envolveram-se nas atividades
partidá rias, especialmente do Partido Comunista Brasileiro. Mas o cancelamento do
registro do PCB, a cassaçã o dos parlamentares, a proibiçã o de atos pú blicos e a
intervençã o em sindicatos levaram a um refluxo do movimento. Na ilegalidade, os
comunistas procuraram manter viva a chama de sua mensagem através da ediçã o de
seus sucessivos ó rgã os partidá rios, especialmente A Verdade e Jornal do Povo. Pelos idos
de 1949, o Partido Socialista também procurou interpretar os interesses dos
trabalhadores rurais e urbanos, denunciando através da Gazeta Socialista as condiçõ es
de trabalho e de vida dos empregados de usinas e fá bricas de tecidos, gerando mal estar
entre seus proprietá rios. Enquanto isso, os militantes partidá rios tentavam levar à s
massas a discussã o dos problemas conjunturais, nacionais e internacionais. Mas as
comemoraçõ es de 1o de maio, como os atos da Uniã o Geral dos Trabalhadores de
Sergipe, eram hostilizados pelas forças policiais. A situaçã o tornou-se bastante adversa
com a intervençã o do Exército em Sergipe em 1952.
Conforme já observamos, a luta político-ideoló gica entre grupos direitistas e
nacionalistas, dentro do Clube Militar no Rio de Janeiro, transbordou para o pequeno
Estado, através de sindicâ ncia interna, marcada por prisõ es e torturas de militares e
civis, trazendo estrago no seio da militâ ncia comunista. Com a vitó ria da UDN em
Sergipe (1954), os trabalhadores urbanos tiveram maior liberdade de manifestaçã o,
entretanto as dificuldades das indú strias tornavam os empregos difíceis. O fluxo
migrató rio do campo para a cidade aumentava, conforme se pode observar pela série
dos Censos, concorrendo para acelerar o êxodo para o Sudeste, sobretudo para Sã o
Paulo.
146

Em 1960 Sergipe ainda era um Estado predominantemente rural, com um


percentual de 61,8% dos seus habitantes vivendo no campo ou em aglomerados
considerados nã o urbanos. A partir de 1950, suas cidades passaram a duplicar a
populaçã o a cada vinte anos, enquanto no â mbito nacional o processo de mobilizaçã o
política crescia. Em 1956 tanto lideranças dos funcioná rios pú blicos quanto dos
trabalhadores rurais de Sergipe participaram de encontros interestaduais. A aceitaçã o
da legislaçã o trabalhista se tornava prá tica comum, norteando os direitos e deveres dos
operá rios fabris e dos funcioná rios do setor de serviços, mas havia sempre novos pleitos
a conquistar. Para tanto, as categorias foram criando suas associaçõ es e participando do
movimento de mobilizaçã o que haveria de acentuar-se. No início dos anos sessenta,
contavam-se em Sergipe três federaçõ es, sendo duas de empregadores e uma de
empregados, e 49 sindicatos, dos quais 18 eram de empregadores, 29 dos empregados e
2 de profissõ es liberais.278
No campo persistiam duas queixas. De um lado, reclamava-se da concentraçã o da
propriedade. De outro, faltava legislaçã o que estendesse os direitos sociais ao
trabalhador rural. No que se refere ao primeiro problema, começou-se a buscar
alternativas para minorá -lo. “Entre 1945 e 1954 foram implantadas pelo governo
estadual cinco colô nias agrícolas, com á rea total de 11.169 hectares e 1.706 pessoas
assentadas, além de uma outra de iniciativa particular, chamada Colô nia em Riachã o do
Dantas, com 260 hectares, envolvendo 80 famílias”.279 Mas foram experiências que nã o
prosperaram. Apesar disso, houve alguma tendência distributiva, pois o nú mero de
propriedades de 1950 para 1960 cresceu 53%, sendo parte desse aumento devido à
expansã o da á rea ocupada (24,6%).280 Por outro lado, foram surgindo experiências
comunitá rias com algum sucesso. O nú mero de associaçõ es rurais cresceu de forma que,
em 1961, já existiam em Sergipe 54 dessas instituiçõ es com 3.176 membros. O setor do
cooperativismo vivia uma fase de animaçã o, chegando a funcionar 40 entidades, das
quais 10 eram de consumo e 30 de produçã o, nú meros bem superiores à s existentes no
vizinho Estado de Alagoas.281 É verdade que parte dessas cooperativas estava situada no

278
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 510.
279
Rosemiro Magno da Silva e Eliano Sérgio Azevedo Lopes. Conflitos de Terra e Reforma Agrária em Sergipe. Aracaju:
UFS/EDUFS, Secretaria do Estado da Irrigaçã o e Açã o Fundiá ria, 1996, p. 97.
280
O nú mero de propriedades agrícolas passou de 42.769 (1950) para 65.491 (1960) unidades agrícolas. Problemas
de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 461.
281
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 510.
147

meio urbano, mas as rurais gozavam de maior visibilidade pelo bom desempenho de
algumas, especialmente a Colô nia 13 no município de Lagarto.
Nã o obstante as iniciativas buscando formas de convivência alternativas à
tradicional relaçã o capital x trabalho, elas eram consideradas insuficientes sobretudo
para os grupos de esquerda. Por volta de meados dos anos cinquenta, foi lançada a
campanha pela reforma agrá ria que alcançou maior densidade com a criaçã o do
Movimento de Educaçã o de Base-MEB (1961). As relaçõ es de dominaçã o e dependência
pessoal passaram a sofrer grande erosã o. Embora a maior parte dos trabalhadores
continuasse subordinado ao patronato, as pregaçõ es dos líderes populistas e/ou
esquerdistas e os programas radiofô nicos do MEB abalavam a tradicional visã o de
mundo dos assalariados que lidavam diuturnamente com a terra. O exemplo das Ligas
Camponesas, criadas em 1955 por Francisco Juliã o em Pernambuco, despertava
apreensõ es desencontradas. Inspirado no exemplo de Cuba, a aposta na alternativa
socialista ganhou força no início dos anos sessenta dentro do movimento popular
nacional.
O governo federal tomou algumas medidas efetivas que encaminhavam o problema
agrá rio, visando nã o perder o controle da situaçã o. Regulamentou-se a legislaçã o que
permitia o reconhecimento dos sindicatos rurais e foi criada a Superintendência da
Política Agrícola (SUPRA) em 1962, objetivando formular e executar uma política
agrá ria para o país. Dentro desse processo, foram organizados em Sergipe os sindicatos
rurais com o apoio da SUPRA, da Igreja Cató lica e dos partidos de esquerda,
especialmente da Açã o Popular (AP). Em grandes concentraçõ es, celebravam-se a
fundaçã o de suas entidades de classe, passando os trabalhadores rurais a dispor de
representaçã o sindical em alguns municípios, entre os quais Maroim, Riachuelo,
Laranjeiras, Divina Pastora, Malhador. Ao final do ano de 1963, já havia em Sergipe uma
federaçã o e nove sindicatos reconhecidos. Outros nove aguardavam reconhecimento.282
“Apó s a fundaçã o e reconhecimento legal dos primeiros sindicatos, foi instalada, em
1963, a Federaçã o dos Trabalhadores da Agricultura de Sergipe – FETASE”. 283 Nesse

282
Cf. Gazeta de Sergipe, 20.02.1964 e Octá vio Iani. O Colapso do Populismo no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o
Brasileira, 1968, p. 82.
283
Ver Gilvâ nia da Conceiçã o Santos. Organização Sindical dos Trabalhadores Rurais em Sergipe (1962/1964).
Monografia apresentada no Departamento de Histó ria da UFS, Aracaju, 1997, p. 32.
148

clima de mobilizaçã o, no mesmo ano foi promulgado pelo governo federal o Estatuto do
Trabalhador Rural, levando ao campo a legislaçã o social e sindical para todo o Brasil.
Desencadeado o processo de transformaçã o, alimentado pela normatizaçã o dos
direitos e pela organizaçã o dos trabalhadores, o passo seguinte foi a reforma agrá ria,
que significava transferir as terras para os camponeses. Essa operaçã o começou com a
invasã o da Fazenda Bica, uma propriedade semiabandonada no município de
Itabaianinha. Apesar do êxito dessa iniciativa, outras tentativas, inclusive na capital 284
foram-se revelando mais problemá ticas.
Nas cidades, intensificava-se o trabalho de organizaçã o e conscientizaçã o. As
articulaçõ es no campo sindical e partidá rio ampliavam-se com a atuaçã o do Partido
Comunista Brasileiro, influente entre os comerciá rios, ferroviá rios, estivadores e
trabalhadores da construçã o civil. Na ilegalidade desde 1947, nem por isso deixou de
estar presente nos principais movimentos populares do período populista. Em 1950,
seus membros participaram ativamente da greve dos ferroviá rios, num tempo em que
seu jornal, A Verdade, associava-se à apologia a Stalin, considerando-o “o maior gênio
dos dias atuais, [...] mestre, pai e amigo de todos os oprimidos”. 285 Sofrendo repressã o
até 1953, o PCB continuou a atuar em diversas campanhas. Algumas eram orientadas
pela direçã o nacional, tais como a do “Petró leo é Nosso”, “contra a participaçã o do Brasil
na guerra da Coreia”, “Pela Paz”, mas também participava de movimentos sobre
questõ es locais, entre os quais aquele que reivindicava instalaçã o da rede de á gua nos
bairros. No início dos anos sessenta, o partidã o persistiu atuante, participando das lutas
políticas e sindicais, controlando a ASPES, associaçã o dos funcioná rios, a Sociedade
Uniã o dos Operá rios Ferroviá rios (SUOF), o Sindicato da Construçã o Civil e o Centro
Operá rio Sergipano.286 Somando-se a essas entidades, foi organizada a seçã o estadual do
Comando Geral dos Trabalhadores em Sergipe (CGT-SE), que, sob a hegemonia do PCB,
passou a desempenhar papel importante na coordenaçã o da mobilizaçã o nacional. Neste
momento, suas lideranças desfrutavam de grande visibilidade,287 mas na luta política a

284
Gazeta de Sergipe, 25.02.1964.
285
A Verdade, 23.12.1950.
286
Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju,
Dissertaçã o de Mestrado em Ciências Sociais da UFS, 1999, p. 75-76.
287
Entre esses líderes, destacaram-se: Manoel Vicente do Nascimento, Manoel Francisco de Oliveira, presidente do
Sindicato dos Estivadores, Manoel Franco Freire, Manuel Messias dos Santos, presidente do CGT em Sergipe, José
Nunes da Silva, presidente do Centro Operá rio Sergipano, Agonaldo Pacheco, presidente da ASPES.
149

competiçã o interna foi-se tornando cada vez mais forte entre facçõ es dos líderes
trabalhistas.
Apesar dessa influência grande sobre os trabalhadores urbanos, o PCB foi
perdendo terreno. Embora participasse de movimentos grevistas, passeatas, seminá rios
de politizaçã o e de todas as lutas, diante do processo de radicalizaçã o do início dos anos
sessenta, especialmente no meio estudantil, o partido passou a ser confrontado com a
presença da Açã o Popular (AP). Os militantes dessa nova entidade, originá rios da
Juventude Operá ria Cató lica (JOC) e da Juventude Universitá ria Cató lica (JUC)
infiltraram-se no Movimento de Educaçã o de Base, criado em 1961, e passaram a gozar
de simpatia crescente, sobretudo no meio rural. Em 1963, o PC do B e a POLOP
começaram também a atuar em Sergipe, falando em nome dos trabalhadores, quando já
havia sido criada no Rio de Janeiro, em 1962, a Frente de Mobilizaçã o Popular, visando
aglutinar vá rias entidades de esquerda e proporcionar novo impulso ao movimento. A
essa altura, o eixo das discussõ es já havia deixado de ser a ampliaçã o dos direitos dos
trabalhadores. A questã o nesse momento era como fazer a revoluçã o.
Apesar de um certo clima de tensã o nos anos sessenta, as formas de lazer
cresciam, diversificavam-se e continuavam sendo vivenciadas. As praias se
popularizaram. A Atalaia ganhou acesso fá cil e fluxo crescente. A vida urbana de Aracaju
transformava-se. Em meados dos anos cinquenta, os bondes deixaram de circular,
cedendo lugar à s kombis e marinetes, que expandiram suas redes pelos diversos bairros
da capital. O futebol começou a profissionalizar-se (1960). Novos está dios foram
construídos na capital e no interior do Estado. As fá bricas de tecidos, tais como a
Confiança e sobretudo a Passagem, investiram em campos modernos. Os clubes
ganharam vida e maior importâ ncia com seus grupos de associados específicos, de certa
forma recriando a segmentaçã o social. Se antes havia a Associaçã o Atlética de Sergipe, o
Cotinguiba, o Vasco, o Sergipe, e o Confiança, a estes veio acrescentar-se o Iate Clube,
agregando elite local mais sofisticada. Em 1960 estavam registradas nada menos de 52
associaçõ es desportivo-recreativas, das quais 21 eram sediadas em Aracaju.288

288
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II, p. 512.
150

3.3 Manifestações Culturais

As manifestaçõ es culturais do período 1945-64 revelaram-se muito mais


variadas e ricas do que na fase anterior. A contribuiçã o do poder pú blico em vá rios
setores foi grande e, em algumas á reas, crescente. Por outro lado, a sociedade adquiria
maior autonomia de açã o.
Na á rea educacional, durante a gestã o do presidente Dutra, houve o programa
meritó rio das escolas rurais no governo de José Rolemberg Leite (1947-51), quando
também começaram a aparecer efetivamente as faculdades, pois o curso de filosofia do
Seminá rio, criado em 1913, seria extinto por ordem da Santa Sé (1934).289 Vimos
também nos anos vinte a fundaçã o das faculdades: de Direito, Farmá cia e Odontologia,
que nã o vingaram. Foi a partir de 1948 que as faculdades estaduais chegaram para
permanecer sob os auspícios do governo estadual. Primeiro foi a de Economia,290
seguida pouco depois pela de Química.291 Esta incorporou em seus quadros mestres de
grande competência que aqui viviam expatriados, e o curso tornou-se referência
nacional. Em 1951 a Igreja Cató lica fundou a Faculdade de Filosofia, enquanto uma
sociedade mantenedora criava a de Direito com juristas ligados sobretudo ao Partido
Social Democrá tico. Eram obras da sociedade civil, mas ajudadas com recursos pú blicos,
sobretudo no que se refere à escola dos bacharéis. É verdade que os subsídios estatais
eram insuficientes, motivo pelo qual essas entidades passaram a sobreviver devido à
abnegaçã o dos professores que recebiam salá rios simbó licos. Nã o obstante as
dificuldades, em 1954 apareceu a Faculdade de Serviço Social, também ligada à Igreja
Cató lica. Fechando o ciclo, em 1961 nascia a Faculdade de Ciências Médicas com aporte
significativo do Estado. O fato é que no início dos anos sessenta já eram computados 12
cursos de graduaçã o com 156 professores e 336 alunos.292 Era uma mudança qualitativa
na vida cultural sergipana. Primeiro formava-se um corpo de profissionais cada vez mais
amplo e capacitado. Segundo, fazer curso superior foi deixando de ser privilégio das

289
Jackson da Silva Lima. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995, p. 95.
290
A Faculdade de Ciências Econô micas foi criada pela Lei 73 de 12.11.48 e começou a ensinar em 1950. Cf. José
Rolemberg Leite. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa. Aracaju, 1949, p. XV.
291
A Escola Superior de Química foi criada pela Lei 26 de 25.11.48. Cf. José Rolemberg Leite. Mensagem apresentada à
Assembleia Legislativa. Aracaju, 1949, p. XV.
292
Por esse tempo 2/3 das matrículas do ensino fundamental estavam localizadas nos colégios particulares, num total
de 7.037, enquanto as federais eram de 507 e as estaduais de 3.138 alunos. As Municipais cobriam apenas 208.
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 410-411.
151

famílias abastadas. A mobilidade social ampliou-se. Numerosos jovens de origem das


classes subalternas puderam receber seus diplomas, realizar-se como profissional,
ascender socialmente e influir politicamente. Uma massa crítica se formava com efeitos
multiplicadores no destino da sociedade e do Estado.
Tempos depois de o governo José Rolemberg Leite se destacar por suas obras no
terreno da educaçã o, a administraçã o de Luiz Garcia (1959-1962), além de promover a
organizaçã o da Faculdade de Medicina e desenvolver outras iniciativas na á rea do
ensino, revelou-se mais inovadora no terreno cultural propriamente dito. Agregou o
termo Cultura à Secretaria de Educaçã o e Saú de e, contando com a colaboraçã o de
intelectuais com sensibilidade artística, promoveu vá rias obras voltadas para a cultura,
como a instalaçã o do Museu Histó rico de Sã o Cristó vã o no antigo Palá cio Provincial,
reunindo peças representativas do patrimô nio do Estado. Criou o Nú cleo de Artes
Plá sticas em Aracaju e instituiu os Cadernos de Cultura sob o patrocínio da Secretaria de
Educaçã o, Cultura e Saú de. Estimulou escritores, publicando obras, e incentivou artistas,
financiando a pintura de painéis bem como adquirindo quadros para o Palá cio Olímpio
Campos, atuando como mecenas.293
É verdade que, a essa altura, o movimento cultural já vinha apresentando maior
maturidade. As publicaçõ es das revistas já apresentavam melhoria de qualidade. Além
da continuaçã o do perió dico do Instituto Histó rico e da Academia Sergipana de Letras,
apareceram outras de bom nível, como a da Associaçã o Sergipana de Imprensa, da
Faculdade de Direito, bem como Economia e Finanças, vinculada à Secretaria da
Fazenda, contando com a contribuiçã o dos professores da Faculdade de Ciências
Econô micas. Eram veículos que revelavam interesse pela pesquisa e ajudavam a refletir
mais seriamente sobre os problemas do Estado e da sociedade de modo geral.
A produçã o de livros expressava maior diversidade das temá ticas de estudo,
dentro de um pluralismo em que a preocupaçã o com o social ampliava-se, formando
como que um projeto que se contrapunha à forma de dominaçã o vigente. A tradiçã o
bacharelesca que valorizava o saber ornamental e tratava as questõ es geralmente de
forma genérica, foi cedendo lugar à especializaçã o. É verdade que alguns escritores
ainda se manifestam polivalentes, como Bonifá cio Fortes, que escrevia sobre geografia,
histó ria, direito, política eleitoral e cinema. Outros, desde a década de dez, já se
293
Ver Luiz Garcia. Mensagem à Assembleia Legislativa. Aracaju: Imprensa Oficial, 1962.
152

dedicavam a determinada á rea, como era o caso de Florentino Menezes, que vinha de
muito publicando suas reflexõ es na á rea de sociologia. Também José Cruz, desde fins dos
anos trinta, vinha divulgando estatísticas, permitindo avançar no conhecimento do
quadro social. Mas, foi depois de 1945, que a questã o do desenvolvimento entrou na
pauta das discussõ es e Aloísio de Campos, junto com outros economistas, passaram a
estudar de forma mais científica as questõ es econô mico-financeiras. Felte Bezerra
enveredou para a á rea da Antropologia com estudo marcante sobre as Etnias Sergipanas
(1950), Nunes Mendonça publicou livro sobre A Educação em Sergipe (1958),
aproveitando pesquisa promovida pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagó gicos
(INEP). D. Luciano Duarte defendeu tese de doutorado na Sorbone sobre a Filosofia de
Santo Tomá s e Hume, José Silvério Leite Fontes (1924-2005), desde o estudo sobre
Jackson Figueiredo: sentido de sua obra (1952), revelou-se também um cultor da filosofia.
Jorge de Oliveira Neto (1914-1980) publicou Sergipe e o Problema da Seca (1955). No
campo da Histó ria, nã o tivemos nomes do porte de Felisbello Freire (1858-1916) nem
de Lima Jú nior (1856-1929), mas Sebrã o Sobrinho publicou Laudas da História de
Aracaju (1955), entre outras obras, mostrando bastante conhecimento das fontes
primá rias. No campo do Direito, destacaram-se vá rios juristas, entre os quais Gonçalo
Rolemberg Leite e Manuel Cabral Machado, embora com produçã o pequenina. Desde a
década de vinte, foi Carvalho Neto o maior nome do Direito pelo conjunto da obra, além
da atuaçã o na política e no foro. Na crô nica, Garcia Moreno (1910-1976), com Cajueiro
dos Papagaios, entre outros, deixou pá ginas saborosas sobre nossos costumes. No conto,
Renato Mazze Lucas (1919-1985) estreou com Anum Branco e outros contos (1961). Os
estudos de Folclore tiveram continuidade com vá rias contribuiçõ es, entre as quais a de
Má rio Cabral (1914- 2009), que continuou explorando também a crítica literá ria e
versejando. Aliá s, na poesia, nã o obstante a influência dos modernistas vir
manifestando-se desde o fim dos anos vinte, foi a partir de 1945 que essa forma se
tornou predominante. Além dos poetas já conhecidos, como Freire Ribeiro (1911-1975),
apareceram Alberto Carvalho (1932-2003), Nú bia Marques (1927-1999), Carmelita
Fontes (1933-), Giselda Morais (1939-2015), revelando suas experimentaçõ es. A
atuaçã o desses intelectuais, indicava certa efervescência que motivou a criaçã o do Clube
de Poesia (1955) e a publicaçã o da importante obra de Austragésilo Santana Porto, O
153

Realismo Social na Poesia em Sergipe (1960),294 analisando as produçõ es recentes dentro


da referida temá tica. Mas foram José Sampaio (1913-1956), Santo Souza (1917-2014) e
José Maria Fontes (1908-1994) que se firmaram como nomes mais expressivos. O
primeiro continuou a explorar os motivos sociais e o segundo exercitou linguagem
simbolista de cará ter universal. O terceiro, pela ediçã o dos seus poemas densos, operou
repercussõ es significativas nos meios artísticos.
Afora os que se dedicavam à prosa e à poesia, deve ser lembrado José Augusto
Garcez (1918-1992) como animador das letras e da ciência, na medida em que se
preocupou em reunir artefatos arqueoló gicos e histó ricos e promoveu diversas
publicaçõ es, através do denominado Movimento Cultural de Sergipe (1953).295 Merecem
registro ainda os comerciantes livreiros José Apó stolo e Antô nio Monteiro. Ambos foram
sensíveis, generosos e dispensavam atençã o aos artistas da terra. O primeiro, dono da
Editora e Livraria Regina, publicou vá rios trabalhos de escritores locais, ao tempo em
que adquiria as produçõ es recentes, atraindo leitores de vá rios gostos e especialidades.
Ambos fizeram de suas casas comerciais espaços acolhedores, onde intelectuais se
encontravam, trocavam ideias e se atualizavam com as novidades editoriais
provenientes sobretudo do Sudeste. Mas as bibliotecas careciam de maior expansã o.
Levantamento do IBGE, em 1956, constatou que apenas treze municípios dispunham de
algum tipo de biblioteca. Além disso, iam se registrando perdas. Enquanto uns
empenhavam-se internamente pelo progresso das letras em Sergipe, numerosos outros
intelectuais mudavam-se para outras plagas na busca de ascensã o profissional.296 Dos
jovens colaboradores da revista Época, que surgiu em 1948, vá rios deles transferiram-se
para outros Estados. Mais tarde, alguns já conceituados escritores, como José Calazans,
Felte Bezerra, Má rio Cabral, também se foram. Entretanto, longe dos amigos, sem aura
de que gozavam em sua terra, nem todos se revelaram satisfeitos em haver deixado
Sergipe. Apesar desses desfalques, pode-se dizer entã o que, a partir de 1950, as
manifestaçõ es culturais foram aflorando em vá rias á reas.
Na fase de 1945-64, as artes plá sticas de Sergipe foram bastante enriquecidas
com as presenças de J. Iná cio (1911-)297 e dos irmã os Á lvaro Santos (1920-1963) e
294
Austragésilo Santana Porto. O Realismo Social na Poesia em Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1960.
295
Segundo autora que estudou o tema, o movimento chegou a publicar 43 obras. Cf. Verô nica dos Reis Mariano Souza.
O Movimento Cultural de Sergipe. In: Cinform, Cultura & Variedades, 19 a 25.08.2002, p. 7.
296
Ver Luiz Antonio Barreto. Singularidades Sergipanas (Final). Gazeta de Sergipe, 12.07.2001.
297
Ver José Inácio. Aracaju: SECT/J. Andrade, 2001.
154

Florival Santos (1911-1999) 298 que haviam despontado na fase anterior. Enquanto isso,
outros talentos foram aparecendo, como José de Dome (1921-1982), Jenner Augusto
(1924-2003), Antô nio Maia (1940-) e Celso Oliva (1914-1963). 299 José de Dome, de
origem humilde, iniciou suas experiências em Estâ ncia, pintando santos, corujas,
marinhas e foi descoberto por artistas e empresá rios do Sudeste, tendo deixado Sergipe,
em 1965, para morrer reconhecido em Nova Iguaçu. Jenner Augusto estudou Belas Artes
e depois de nos legar bonitas aquarelas foi para a Bahia, em 1947, onde continuou
bastante produtivo, ganhando grande e merecida projeçã o. Apesar de passar a morar no
Estado vizinho, nã o se desvinculou de sua terra. Além do ambiente de sua infâ ncia
permanecer como fonte de inspiraçã o, continuou visitando Aracaju, expondo seus
trabalhos, decorando ambientes, pintando painéis, retratando sua cultura e derramando
sua influência sobre os artistas locais. Para estudiosa da histó ria das artes plá sticas em
Sergipe, Jenner Augusto foi a figura mais renovadora da pintura sergipana do século
XX.300
Outro personagem importante foi Antô nio Maia. Natural de Carmó polis, dedicou-
se inicialmente à cerâ mica, interessou-se pela pintura e ganhou o mundo com seu
talento excepcional. J. Iná cio pintou bananeiras, casebres e homens do campo com
colorido forte.301 Nã o obstante sua inquietude, chegou ao início do século XXI firme,
preservando seu estilo caracterizado de tropicalista e ecoló gico.302 Celso Oliva pintava
natureza morta, retratos e paisagens inspiradas nos clá ssicos. Mas, quando animava o
meio cultural com seu entusiasmo contagiante, adoeceu e repentinamente faleceu.
A fotografia passou a ser cultivada com feiçõ es artísticas, empolgando muita
gente. Em 1950 um grupo de cultores de fotos criou a Sociedade Sergipana de
Fotografia. Alguns deles expuseram seus trabalhos fora do Estado e foram premiados.
Entretanto, as dificuldades de manutençã o da sociedade foram inibindo seus
participantes e o entusiasmo dos primeiros tempos foi esmorecendo, pelo menos para
alguns amadores.
Na mú sica erudita, ao tempo em que o funcionamento do Instituto de Mú sica e
Canto Orfeô nico despertava para estudos sistemá ticos, a criaçã o da Sociedade de Cultura
298
Florival Santos. Texto de Alberto Carvalho. Aracaju: Habitacional Construçõ es, 1995.
299
Ver Clara Angélica Porto e Paulo Lobo (orgs). Pintores Sergipanos, Aracaju: Funcaju, s/d.
300
Cf. Verô nica Nunes, declarações ao autor, em 18.09.2001.
301
Cf. Clara Angélica Porto e Paulo Lobo (orgs). Pintores Sergipanos. Aracaju: Funcaju, s/d.
302
Cf. Luiz Antô nio Barreto in Brasil/Arte do Nordeste/Art of the Northeast. Rio de Janeiro: Impinta/Spala/CNI, s/d.
155

Artística de Sergipe (SCAS), em 1951, por um grupo de intelectuais de Aracaju,


concorreu para despertar ainda mais o gosto pela boa mú sica. 303 A SCAS firmou convênio
com entidade da Bahia e, desde entã o, os conjuntos que lá chegavam passaram a
estender sua turnê pela capital de Sergipe.304 Famosos pianistas, violinistas e
violoncelistas, corais e quartetos, grandes orquestras, cantores líricos e grupos de teatro,
de dança e de canto de vá rios países do mundo encantaram o pú blico de Aracaju, graças
à iniciativa de intelectuais e ao apoio de políticos e do MEC. Nos primeiros tempos, as
exibiçõ es aconteciam ou no Rio Branco, um ambiente pequeno, ou no salã o do Instituto
Histó rico e Geográ fico de Sergipe, sem a acú stica adequada. Diante dessa carência, o
governo do Estado promoveu a construçã o do auditó rio do Colégio Atheneu, inaugurado
em 1954, que haveria de figurar como a principal casa de espetá culos do Estado até
depois do ano 2000. Além de trazer para Sergipe nomes de expressividade mundial e
grupos artísticos nacionais consagrados, a SCAS mantinha intercâ mbio com vá rios
Estados e estimulava outras artes, entre as quais o teatro, que ganhou vida nova nos
anos 50. Ao grupo intitulado Teatro Universal, seguiu-se o Teatro de Amadores de
Sergipe (TAS), criado em 1956, que, por sua vez, foi sucedido pelo Teatro Universitá rio
de Sergipe (TUS), ambos representando vá rias peças.305 A SCAS contribuiu também para
a formaçã o e manutençã o do Teatro Cultura Artística (TECA), que encenou alguns textos,
tais como Chuva, Dias Felizes e Natal na Praça, revelando o nível elevado das
apresentaçõ es e o talento dos artistas sergipanos.306.
Ao lado desse grande incentivo à mú sica e ao teatro, a Sociedade de Cultura
Artística promovia publicaçõ es de livros e contribuía para ampliar a educaçã o artística
da elite. Dentro desse movimento sem precedentes em Sergipe, essa associaçã o chegou a
possuir cerca de 1.200 só cios,307 apresentando espetá culos refinados, despertando
vocaçõ es e criando novas demandas.

303
Participavam desse grupo: Felte Bezerra, Alberto Carvalho, Bonifá cio Fortes, José Carlos Teixeira, Joã o Costa, entre
outros.
304
Sobre a atuação da SCAS, ver Joã o Costa. A Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS), Revista de Aracaju.
Aracaju: Sercore/ Prefeitura de Aracaju, ano 43, 1985, n. 8, 1985, p. 25-27.
305
Ver Joã o Costa. O Teatro em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do
Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p. 48 e Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35,
maio/1999.
306
Cf. José Melchíades. José Carlos Teixeira e a SCAS. Revista de Aracaju, Aracaju: Sercore/Prefeitura de Aracaju, ano
43, n. 8, 1985, p.131-132.
307
Cf. José Carlos Teixeira, Jornal da Cidade, 16.06.2001.
156

Por esse tempo, o rá dio ampliava seu prestígio. Embora já existisse a Rá dio
Aperipê (1939), que passou a se chamar Difusora, seu estatuto de rede oficial sempre
limitou seu raio de açã o. Mas o aparecimento da Rá dio Liberdade (1953), dotada de
maior potência, inicialmente como ó rgã o da oposiçã o ao governo, empenhada em
ganhar ouvintes, representou um marco para os meios de comunicaçã o de Sergipe,
afetando os há bitos do sergipano. À s 12h30 começava o Informativo Cinzano da
Liberdade, sob a direçã o de Silva Lima, com seu jeito peculiar de narrar os fatos. À s 20
horas entrava no ar o programa Calendá rio, apresentado por Santos Mendonça, que,
com competência jornalística e uma certa inclinaçã o pelo sensacionalismo, conquistava
grande audiência. Em contrapartida, em 1958, um grupo do PSD-PR, entã o na oposiçã o,
criou a Rá dio Jornal e seu programa Risolâ ndia fez sucesso, especialmente nas críticas ao
governo de Luiz Garcia. Enquanto isso, os programas de auditó rio, sobretudo da
Difusora, revelavam artistas locais, embora raros chegassem a lançar disco. 308 Em 1959
surgia outra rá dio, a Cultura, que embora ligada à Diocese, tinha uma orientaçã o
bastante secularizada.
Através das rá dios, as mú sicas se propagam. Os programas de calouro e as
ofertas de brindes musicais aos aniversariantes ampliavam o pú blico ouvinte,
familiarizando-o com letras e ritmos de choro, samba, bolero, baiã o, entre outros.
Cantores locais como Guaracy Leite França, Neuza Paes, Bissextino, Joã o Melo, Dã o e
Joã o Ribeiro sã o lembrados como os mais expressivos desse tempo.309 Nã o obstante
todos esses fatores contribuíssem para o avanço da mú sica popular, os apreciadores da
mú sica erudita foram bastante favorecidos pelo aparecimento do LP, substituindo os
discos pesados de 78 rotaçõ es, permitindo assim maior acesso aos clá ssicos.
Nos clubes, nas boates, nos bares, nas ruas, intérpretes da mú sica popular
animavam as noites de Sergipe. Em Aracaju, dois conjuntos se destacavam. O Regional
de Carnera310 e a Rá dio Orquestra de Pinduca. Esta, composta de cerca de uma dú zia de
artistas trajados a cará ter, tocava tanto cançõ es brasileiras quanto estrangeiras,
inclusive americanas (swings, blues e jazz), que iam se tornando populares no país em
face da influência dos filmes produzidos em Hollywood (EUA).311
308
Um dos poucos que conseguiu gravar foi João Melo, facilitado por sua estada no Rio de Janeiro.
309
Cf. Murilo Melins. Aracaju romântica que vi e vivi. Aracaju: UNIT, 2000, p. 92.
310
O Regional de Carnera era composto de dois violõ es, um cavaquinho, um clarinete e um pandeirista. Cf. Joã o Mello,
depoimento ao autor, em 02.10.2001.
311
Cf. Murilo Melins. Aracaju romântica que vi e vivi. Aracaju: UNIT, 2000, p. 96.
157

O Conservató rio de Mú sica de Sergipe, que fora inaugurado em 28.11.1945, 312


formando geraçõ es sucessivas, ficaria necessitando de sede mais ampla, o que seria
alcançado nos anos setenta.
No cinema, neste período houve algumas tentativas no terreno da produçã o. É
verdade que eram experiências de iniciantes amadores, mas foi uma novidade. As
primeiras notícias de filmagens em Sergipe remetem a Estâ ncia. Nesse município,
Clemente de Freitas (1899-1974) teria documentado “festas populares, festas cívicas,
aspectos paisagísticos” e “enchentes do Rio Piauitinga”. Outro nome lembrado é Evaldo
Costa, que registrou cenas do cotidiano.313 Mas ninguém conseguiu tanto como o
maroinense Wilson Silva, que foi para o Rio de Janeiro e produziu películas memorá veis
sem perder contato com sua terra. Neste período, produziu Eles não Voltaram e Nordeste
Sangrento, este ú ltimo filmado em Sergipe.314 Por esse tempo, destacava-se como ator no
Rio de Janeiro o sergipano Carlos Aquino. Enquanto isso, em Aracaju, o interesse pelo
estudo do cinema crescia. Foi criado o Clube de Cinema de Aracaju (Cicla), que teria
perdurado de 1952 a 1956, incentivado pela SCAS. Esta sociedade criou um
departamento dedicado à sétima arte e “lançava praticamente a cada semana um novo
título em exibiçã o no Cinema de Arte”.315 Apó s as projeçõ es, geralmente aconteciam
debates, por vezes acalorados e sempre instrutivos. Concorreu também para motivar os
jovens estudantes uma série de palestras do professor Bonifá cio Fortes (1953),
posteriormente resumidas em opú sculo. Por ocasiã o do centená rio da mudança da
capital, cinegrafista sergipano radicado em Sã o Paulo realizou filmagem, sob os
auspícios da Prefeitura, sobre a Procissã o dos Navegantes. Ainda na década de
cinquenta, durante o governo de Leandro Maciel (1955-1958), Walmir Almeida (1930-)
começou a filmar eventos oficiais em 16 mm.316 Nos anos sessenta, seus documentá rios
prosseguiram e passaram a ser exibidos nos cinemas antes da película principal. No
conjunto, acumulou acervo rico para a memó ria do período.
Quanto aos prédios dos cinemas, algumas casas iam acompanhando os
progressos. O Rio Branco introduzia o cinemascope (1955) e, no ano seguinte, Aracaju

312
Cf. Correio de Sergipe, 22.07.2001.
313
Djaldino Mota Moreno. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: Banese, 1988, p. 19.
314
Cf. Ivan Valença. Informações ao autor, em 02.04.2003.
315
Ilma Fontes. Memó ria do cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dezembro/2000. Os maiores entusiastas da
sétima arte, segundo a autora, eram José Carlos Teixeira, Ivan Valença e José Carlos Monteiro.
316
Cf. Walmir Almeida, informações ao autor, em 27.11.2001.
158

ganhava novo espaço, o Palace, distinguindo-se dos demais pelas instalaçõ es


confortá veis e modernas. Mas outros, situados em bairros, como o Guarany, no Cirurgia,
e o Tupi, localizado no bairro Santo Antô nio, foram fechando suas portas. Por esse
tempo, funcionava também o Vera Cruz no bairro Siqueira Campos, como cinema ligado
à Igreja Cató lica.317 Ao todo, chegamos aos anos sessenta com 45 casas de exibiçã o de
filmes, a maioria das quais situadas no interior do Estado. 318 Era um nú mero bem
inferior ao dos templos religiosos e dos terreiros.
Os cultos afro-brasileiros, depois de serem fichados na polícia e bastante
perseguidos até 1954, passaram a gozar de liberdade de manifestaçã o e foram
valorizados pelos udenistas, atentos ao seu potencial eleitoral. Assim, em 1960, havia
nada menos do que 60 terreiros registrados na Secretaria de Segurança Pú blica em
Aracaju. No interior, nã o obstante a presença reconhecida notadamente em Laranjeiras,
Japaratuba e Sã o Cristó vã o, funcionavam registrados apenas os de Maruim e
Itabaiana.319
Quanto aos demais grupos religiosos, pode-se dizer que os cató licos persistiram
hegemô nicos, mas os protestantes avançavam bastante. Enquanto em 1960 havia 98
igrejas cató licas (excluídas as capelas), os protestantes já dispunham de 46 templos. Os
espíritas, por sua vez, já contavam com 13 centros pelos idos de 1961.320 No interior as
rivalidades entre protestantes e cató licos continuavam, mas em termos menos
agressivos do que as de outrora.
Na verdade, a essa altura os movimentos culturais imbricavam-se cada vez mais
com as questõ es sociais e políticas. Essa tendência acelerou-se com o nascimento, em
1961, do Movimento de Educaçã o de Base (MEB), tendo em D. José Vicente Tá vora seu
grande criador e principal dirigente. Recorde-se que depois do longo bispado de D. José
Tomá s (1911-1948), quando os cató licos se envolveram bastante em política, a atuaçã o
de D. Fernando Gomes (1948-1957) orientou-se no sentido de distanciar seu rebanho
das querelas partidá rias. Essa postura nã o significava alheamento ao social, como
mostram suas obras voltadas para os necessitados, entre as quais o Serviço de

317
Sueli Bispo da Silva. “O fim do sonho”: A morte do cine Vera Cruz e a crise do cinema de bairro em Aracaju (dos anos
45 aos 90). Sã o Cristó vã o, Monografia orientada por Antô nio Fernando de A. Sá , apresentada ao Departamento de
Histó ria, UFS, 2000.
318
Cf. Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, v. II, 1965.
319
Cf. Revista da Associação Sergipana de Imprensa, n. 3, Aracaju, 31.12.1960, p. 116.
320
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, v. II, 1965, p. 511.
159

Assistência a Mendicâ ncia (SAME), criado em 1949 para atender os grupos mais
carentes no mundo urbano, especialmente os velhos desamparados e/ou os mendigos
de Aracaju, envolvendo governo e sociedade numa açã o engenhosa.
Por esse tempo, as atividades da Açã o Cató lica estavam em franco progresso
integrando leigos nas iniciativas de cará ter religioso. Atuando em nú cleos específicos,
como a Juventude Universitá ria Cató lica (JUC) e a Juventude Operá ria Cató lica (JOC), a
preocupaçã o com o social foi ocupando o espaço do espiritual, gerando tensõ es internas
crescentes. Quando esse processo começava a acentuar-se, D. Fernando Gomes foi
transferido para Goiâ nia (GO), sendo substituído por D. Tá vora em 1958. Este procurou
conviver bem com as diversas correntes políticas, mas passou a engajar-se na luta social
pela promoçã o do homem, sobretudo dos grupos mais carentes. Concorreu
decisivamente para a criaçã o do MEB, que contou com o apoio dos governos federal e
estadual, e incorporou numerosas pessoas em atividades particularmente criativas,
inclusive jovens universitá rios sequiosos de mudanças, e permaneceu como sua
principal autoridade.321 Atingindo milhares de pessoas, nenhum movimento, até entã o
em Sergipe, teve tanta influência, no sentido de proporcionar uma nova consciência aos
trabalhadores rurais.
Além do MEB, nasceu a Campanha Nacional de Educandá rios Gratuitos. Em
Sergipe a CNEG contou com o apoio do governo estadual, através de convênios,322 e a
dedicaçã o de professores e jovens intelectuais, todos empenhados na expansã o
educacional. No fundo, estava em curso a construçã o de um novo bloco hegemô nico,
voltado para os interesses das classes subalternas, dentro de um projeto que tinha por
horizonte o socialismo. É verdade que havia discrepâ ncias sobre a natureza do modelo,
mas isso nã o impedia que vá rios setores da sociedade participassem, entre os quais os
estudantes. Era um momento de atividades febris, parecendo viver-se em clima pré-
revoluçã o entre o entusiasmo triunfalista e a ansiosa preparaçã o para a grande ruptura.
Concorreu para tanto o Movimento de Cultura Popular (MCP) criado no Rio de Janeiro,
que se expandiu por vá rios Estados, difundindo um modelo alternativo de política
cultural denominada nacional-popular. A orientaçã o tanto do Partido Comunista
321
Calcula-se que o MEB atingiu “cerca de 12.000 pessoas, em perto de 460 localidades e 57 municípios” e contou
“com quase 550 monitores orientados por 19 supervisores”. FIES/Condese. Problemas de Educação de Base, p. 409.
Ver também Maria Aparecida Farias. Movimento de educação da base em Sergipe – MEB – 1964/1970. São Cristó vã o,
1996. Monografia (Licenciatura em Histó ria) – Departamento de Histó ria, Universidade Federal de Sergipe.
322
Ver Luiz Garcia. Mensagem à Assembleia Legislativa. Aracaju: Imprensa Oficial, 1962.
160

Brasileiro (PCB) quanto da Açã o Popular (AP) era conscientizar a populaçã o com
discursos e prá ticas, inclusive representaçõ es pú blicas. A cultura popular virou mote
para as açõ es engajadas. “Intelectuais e artistas”, imbuídos do “espírito de catequese, se
colocam na qualidade de missioná rios que devem ‘converter’ o povo e a naçã o à sua
verdade oculta”. Neste sentido, “a tarefa política é construir o Estado Nacional por meio
de uma aliança ou cooperaçã o de classes” para a “tomada de poder”. 323
Em Sergipe atuaram os grupos da Uniã o Nacional dos Estudantes (UNE), da
Uniã o Estadual dos Estudantes de Sergipe (UEES) e do Centro Acadêmico Sílvio Romero
(CASR). Dentro da política de intercâ mbio, representaçõ es de outros Estados, como
Bahia e Pernambuco, estiveram também em Sergipe animando os espaços.324 Na Rá dio
Cultura, era apresentado o Teatro Gato de Botas sob a direçã o de Aglaé Fontes. Esta,
junto com outros atores locais, encenaram com sucesso a peça Eles não usam black-tie,
dirigida por Wilson Maux, demonstrando de forma eloquente a boa qualidade dos atores
da terra.325 A pró pria Secretaria de Educaçã o e Cultura, respaldada pelo MEC,
incorporou-se ao movimento pela educaçã o popular e passou a estimular suas
iniciativas que se estendiam pelo interior do Estado. Entre seus patrocínios, um dos mais
significativos foi a vinda a Sergipe do educador Paulo Freire, que ministrou curso,
explicando seu famoso método de alfabetizaçã o de adultos, visando à preparaçã o de
coordenadores. A secretaria ainda selecionou 440 candidatos, entre 700 inscritos, a fim
de atuarem no programa de alfabetizaçã o, mas este nã o chegou a iniciar-se antes da
intervençã o militar de 01/04/1964. Nesse contexto, ocorreram também os seminá rios
eminentemente políticos de conscientizaçã o como parte da preparaçã o para um novo
tempo. Tanto em Aracaju como no interior do Estado, inclusive em Lagarto, pregaçõ es,
debates interminá veis agitavam os ambientes. Nã o obstante a excessiva politizaçã o,
jamais havia ocorrido experiência educacional tã o rica no país e em Sergipe.
Ao tempo em que os sergipanos iam participando de iniciativas locais,
acompanhavam a produçã o de ideias provenientes sobretudo do Sudeste. As
publicaçõ es do ISEB e da Editora Civilizaçã o Brasileira, do Rio de Janeiro, enfocando
questõ es políticas de modo simplificado como os Cadernos do Povo, uma série de livros
323
Marilena Chauí. Seminários. São Paulo, Brasiliense, 1983, p. 95/96.
324
Sobre o assunto, ver José Vieira da Cruz, O engajamento político-cultural dos estudantes sergipanos no início dos
anos 60, Caderno do Estudante. Sã o Cristó vã o, UFS/Cimpe, v. 2, 1999.
325
Ver Joã o Costa. Aspectos do Teatro em Sergipe. Palestra patrocinado pelo FUNDESC no Centro de Criatividade, em
24.08.1992. Có pia datilografada.
161

pequenos com grandes tiragens, influíam principalmente no ideá rio da mocidade


estudantil. Com menos intensidade, repercutiam em Sergipe as iniciativas da direita
como a revista do Instituto Brasileiro de Açã o Democrá tica (IBAD) e as publicaçõ es do
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), ó rgã o criado em 1962, aglutinando
homens de negó cios e intelectuais de vá rios Estados, como uma reaçã o ao movimento
popular.
Eram indicativos do clima da época, marcado pelas disputas político-ideoló gicas
que geravam intensos debates e dividiam a populaçã o de modo simplista entre
revolucioná rios e reacioná rios, deixando a questã o democrá tica na sombra.

3.4 Resumo (1946-1964)

Na segunda fase do domínio populista, o país viveu, até entã o, a maior


experiência democratizante. A vida política adquiriu maior dinamismo com crescente
margem de atuaçã o das forças internas. O jogo partidá rio ganhou autonomia e
funcionalidade; o grau de competiçã o se ampliou. É certo que a cassaçã o do registro do
Partido Comunista comprometeu a ampla liberdade de atuaçã o política. Apesar disso,
grande parte dos proscritos continuou atuando politicamente em outras siglas e,
geralmente, apoiando a UDN, que nã o se engajou na campanha anticomunista como
ocorreu em outros Estados (RJ, PB e AL).
A alternâ ncia de poder foi exercitada com boa regularidade. PSD e UDN se
revezaram no governo apó s dois mandatos consecutivos. Os governos foram se
manifestando paulatinamente mais sensíveis à s demandas sociais. Os setores mais
representativos do conservadorismo desgastaram-se diante das tendências voltadas
para a democratizaçã o da sociedade. No processo sucessó rio de 1962, aquelas
agremiaçõ es cindiram-se, indicando crise de hegemonia.
As intervençõ es das forças armadas, especialmente do Exército, e o
exacerbamento do partidarismo que passou a instrumentalizar vá rias instituiçõ es
pú blicas, dentro de orientaçã o clientelista, concorreram para dificultar o processo de
democratizaçã o. Essa partidarizaçã o impregnou o aparelho policial e o Judiciá rio, que,
162

sem o distanciamento constitucional esperado, comprometia a sua legitimidade e a


pró pria natureza do processo democrá tico. Como efeito, em determinados momentos, a
impunidade aumentou e com ela a violência política.
Na economia, a defasagem entre o Sudeste e o Nordeste cresceu
consideravelmente e as dificuldades aumentaram. O modelo agroexportador revelou-se
vulnerá vel diante da ampliaçã o do padrã o de acumulaçã o industrial. As empresas têxteis
de Sergipe mostraram-se incapazes de enfrentar a competiçã o e declinaram. O comércio
expandiu-se, mas os ramos tradicionais se ressentiram da competiçã o de novos grupos
ligados ao setor monopolista do Sudeste. Da mesma forma, os serviços ampliaram-se em
grande parte sob a mesma influência da dependência regional. Apenas a agropecuá ria
vivia seu grande momento. Apesar disso, o Estado passou a investir na construçã o da
infraestrutura bá sica e na montagem de estratégia para o desenvolvimento estadual.
Apesar disso, a sociedade civil expandiu sua á rea de atuaçã o e manifestou-se
dinâ mica. O sindicalismo fortaleceu-se e acompanhou a mobilizaçã o política,
empunhando bandeiras reformistas. As manifestaçõ es culturais, permeadas de
iniciativas profícuas por parte dos grupos privados, revelaram-se muito mais variadas e
ricas do que na fase precedente. Isso acontecia sem que o Estado deixasse de assumir
papel importante. Sem as orientaçõ es autoritá rias do período anterior, atuou no ensino
fundamental, criou instituiçõ es de ensino superior e entidades culturais, além de
subsidiar artistas e escritores, ao tempo em que crescia a preocupaçã o com a questã o
social.
De conformidade com as influências nacionais, foi-se fortalecendo o projeto
nacional-popular, envolvendo intelectuais e artistas imbuídos da tarefa de construir o
Estado Nacional com vista à tomada do poder. À medida que as tendências populistas se
acentuavam, o movimento foi contando com o apoio dos aparelhos estatais, tanto do
governo federal quanto do estadual. Mas a incorporaçã o do poder pú blico a esse projeto
nã o foi suficiente para sua realizaçã o efetiva. Num momento de inflaçã o ascendente, o
Estado foi-se revelando incapaz de atender as demandas populares. Diante das pressõ es
de vá rios grupos sociais, a economia passou a apresentar problemas que exigiam
medidas corretivas, inclusive contençã o de gastos. Mas as tendências populistas nã o
admitiam sacrifícios sociais e o projeto nacional-desenvolvimentista foi sendo
163

atropelado pela mobilizaçã o política nacional. A politizaçã o exacerbou-se e as propostas


de mudanças se radicalizaram, questionando a propriedade privada dos meios de
produçã o, apontando para o socialismo. Sem bases de sustentaçã o amplas e
consistentes, o governo foi perdendo a luta político-ideoló gica e o projeto nacional-
popular foi atropelado por uma coalizã o civil-militar que interveio, levando ao seu termo
o domínio populista, interrompendo o processo democrá tico.
164

4 O ESTADO AUTORITÁRIO E A ASCENSÃO DOS EMPRESÁRIOS


URBANOS (1964-1982)

4.1 A Tutela Militar e o Processo Político-administrativo

4.1.1 A Reestruturação do Poder. Celso de Carvalho e Lourival Batista (1964-1968)

Quando o presidente da Repú blica Joã o Goulart foi deposto pelos militares, o país
passou a ser governado, de fato, pelos titulares das três Armas: Exército, Marinha e
Aeroná utica. Este triunvirato formou o “Comando Supremo da Revoluçã o”, que lançou
um Ato Institucional apresentando as primeiras diretrizes da nova ordem. Por esse
tempo, foi escolhido o novo chefe do Executivo, o marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, que tomou posse no dia 15.04.1964.
Nos diversos Estados, os comandantes da corporaçã o do Exército passavam a
atuar como poderosas autoridades, sobrepondo-se muitas vezes aos pró prios
governadores. Começava o período da tutela militar com o objetivo de combater a
subversã o e reorientar a política nacional. Neste sentido, a primeira preocupaçã o dos
oficiais que mandavam era de desmontar a estrutura de poder vigente, reprimindo os
grupos envolvidos com o governo deposto.326
Em Sergipe, o governador Joã o Seixas Dó ria, que estava afinado com o projeto
reformista do presidente Goulart, foi preso, levado para o quartel da 6a Regiã o Militar,
sediada em Salvador. O vice, Sebastiã o Celso de Carvalho (PSD), foi empossado sem
protocolo e poucos dias depois o governante deposto era cassado e transferido para a
ilha de Fernando de Noronha, onde passaria 117 dias ao lado do ex-governador de
Pernambuco, Miguel Arraes.327 A Assembleia Legislativa, pressionada por militares,
cassava o mandato do seu governante, entã o prisioneiro, e de quatro deputados.328 A
essa altura, o movimento repressivo estava em plena atividade, prendendo e cassando
prefeitos, enquanto sindicalistas, estudantes, intelectuais, trabalhadores rurais e
urbanos eram levados para o quartel do 28o BC sem mandato judicial, sem culpa
326
Para uma versã o ampliada deste capítulo, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe - 1964/1984.
(Partidos e Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
327
Ver Seixas Dó ria. Eu, Réu Sem Crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d.
328
Os deputados cassados foram Cleto Maia (PRT), Viana de Assis (PR), Nivaldo Santos (PR) e Balthazar Santos (PSD).
165

formada, todos sob o arbítrio das autoridades castrenses, cuja responsabilidade se


tornava difícil estabelecer. Como a corporaçã o militar em Sergipe estava subordinada à
6a Regiã o Militar, sediada em Salvador/BA, geralmente nã o se sabia quem autorizara a
prisã o. Em situaçã o de incerteza, cerca de uma centena de cidadã os permaneceram por
três meses prisioneiros no quartel do Exército, situado no alto da Colina, enquanto na
cidade os meios de comunicaçõ es ficavam sob controle dos militares. Os que tiveram um
mínimo de participaçã o política e nã o eram presos passavam a viver na insegurança,
sujeitos, a qualquer momento, a serem alvos da sanha dos delatores que proliferaram
em todos os setores.
Na á rea da política partidá ria, embora o momento fosse de certa retraçã o, a
competiçã o continuava renhida nos bastidores. Lembremo-nos de que, em Sergipe,
embora o PSD ocupasse os cargos do Executivo, nã o dispunha de maioria no Legislativo.
A Assembleia Legislativa eleita em 1962 era composta de 32 deputados, sendo 13 da
UDN, cinco do PSD, sete do PR, dois do PTB, quatro do PRT e um do PST. Durante o
governo de Seixas Dó ria, o bloco partidá rio que lhe deu sustentaçã o era composto da
coalizã o PR + PSD + PRT, formada de 16 deputados. Como geralmente os governistas
conseguiam a adesã o de algum nome de outros partidos, dependendo das
circunstâ ncias, a precá ria maioria ia sendo alcançada. Apó s as cassaçõ es dos quatro
parlamentares (dois do PR, um do PSD e um do PRT), a superioridade dos leandristas
ficou patente. Sendo o presidente da Repú blica e alguns dos seus assessores bastante
identificados com a UDN, Leandro Maciel, com o apoio do chefe do Estado Maior da 6 ª
Regiã o Militar, andou tramando a substituiçã o de Celso de Carvalho, mas a operaçã o nã o
se concretizou em face da resistência do comando daquela Regiã o.329
Na esfera nacional, essa primeira fase do Estado Autoritá rio transcorria marcada
de tensõ es pelas disputas entre duas alas que dividiam o Exército: os “sorbonistas” e os
“duros”. Enquanto o primeiro grupo controlava o Executivo federal, através da
tecnocracia civil-militar e tentava implementar as reformas, o dos “duros”, vinculado ao
Ministério da Guerra, pressionava por açõ es mais radicais, com processos de
intimidaçã o e métodos violentos.330 Quando, em 1965, os candidatos apoiados pelos
militares foram derrotados nas eleiçõ es de governador em alguns Estados, os “duros”
329
Cf. Sebastiã o Celso de Carvalho. O Destino Acontece. Aracaju: Livraria Regina, s/d.
330
General Gustavo Moraes Rego. Depoimento in Maria Celina D'Araujo- et ali... (Introduçã o e Organizaçã o). Visões do
Golpe. A memó ria militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará , 1994, p.54.
166

insatisfeitos ameaçaram impedir a posse dos vencedores e a continuidade do mandato


do marechal presidente. Diante dessas reaçõ es, a soluçã o encontrada pelo governo foi
editar o Ato Institucional nú mero dois (AI-2) em outubro de 1965, extinguindo o sistema
partidá rio no sentido de adquirir maior controle sobre o quadro político.
A ediçã o do Ato Institucional nº 2 indicava uma grande intervençã o nas
instituiçõ es políticas nacionais. Além da extinçã o do pluripartidarismo, o governo
impunha a eleiçã o indireta para presidente e vice-presidente. Seguia-se uma enxurrada
de leis, regulamentando a formaçã o dos partidos e disciplinando a realizaçã o das
eleiçõ es sem qualquer participaçã o efetiva do Congresso. Posteriormente, em 1967, foi
editado o Ato Complementar nº 4 que exigia um mínimo de 120 deputados e 20
senadores para formaçã o de cada partido a ser devidamente registrado. Nú meros
elevados, especialmente para os cidadã os que desejavam continuar participando do
processo político na oposiçã o, sujeitos a todos os tipos de adversidades. Dentro dessas
perspectivas, enquanto na Aliança Renovadora Nacional (ARENA), a agremiaçã o
governista, o problema maior era acomodar a diversidade dos pretendentes, no
Movimento Democrá tico Brasileiro (MDB), desde o início uma espécie de frente
oposicionista, a grande dificuldade era encontrar quadros para atender à s mínimas
exigências da nova legislaçã o.
Em Sergipe, a opçã o pelo situacionismo foi ainda mais acentuada. Na Assembleia
Legislativa, todos optaram pela ARENA, fato raro, senã o ú nico, na federaçã o. Apenas
entre os deputados federais, o bloco que inicialmente optou pelo MDB foi relativamente
elevado. Dos sete parlamentares da representaçã o de Sergipe na Câ mara dos Deputados,
quatro aderiram à ARENA e três ao MDB.331
A exemplo do que ocorria no â mbito nacional, a obrigaçã o da convivência de
tradicionais políticos rivais, dentro de uma mesma agremiaçã o, se tornava plena de
dificuldades. No interior, a situaçã o parecia caminhar para o impasse, pois todos
queriam ir para a ARENA. Em vá rios municípios, os líderes que buscavam a agremiaçã o
governista eram inimigos irreconciliá veis. Apesar disso, raríssimos foram os que
optaram pelo partido oposicionista, pois a maioria esmagadora, dotada de maior
praticismo mercantil, entre o distanciamento do poder longe dos desafetos e as benesses
com os adversá rios, escolheu a segunda alternativa. No dia 20 de janeiro de 1966, altas
331
Ver Diário da Justiça Eleitoral, 26.05.1966.
167

lideranças dos principais partidos, recentemente extintos, tiveram uma primeira


discussã o, mas nã o houve entendimento.332 Somente em outro encontro chegaram a um
acordo sobre a formaçã o do Diretó rio da ARENA.
Enquanto o partido situacionista se instalava aglutinando a esmagadora maioria
dos quadros de representaçã o da classe dominante de Sergipe, os organizadores do MDB
continuavam encontrando dificuldades, especialmente pela carência de nomes.333 Apesar
das resistências, um grupo de cidadã os, de origem social diversificada, concordou em
participar do diretó rio. Inicialmente formou-se uma Comissã o Diretora Regional e a
partir desses nomes estabeleceu-se a primeira Diretoria do MDB.334
Criados os dois partidos, restava estruturar as comissõ es interventoras
municipais que haveriam de transformar-se em diretó rios. Enquanto o MDB conseguia
organizá -las apenas em 33 municípios, a ARENA com facilidade estruturava-se em todos
os 73 que compunham o Estado, sinal evidente da desproporcionalidade entre as duas
agremiaçõ es. Mas, antes da realizaçã o do pleito de l5 de novembro de 1966, que haveria
de eleger os novos deputados e senadores, uma questã o maior absorveu as atençõ es dos
diversos grupos políticos do Estado, a escolha do novo governador de Sergipe. Seguindo
o calendá rio eleitoral, 11 governadores foram eleitos em 1965, restando outros 11 a
serem escolhidos em 1966. Mas em fevereiro deste ano, foi editado o AI-3 determinando
que a eleiçã o para governador e vice-governador seria feita pela maioria absoluta da
Assembleia Legislativa, em sessã o pú blica e votaçã o nominal.335 O processo de escolha
deveria passar por dois momentos: num primeiro, a Assembleia Legislativa apresentaria
uma lista tríplice; num segundo momento, o presidente da Repú blica escolheria um dos
nomes. Na votaçã o realizada em fins de maio, 45 convencionais indicaram Leandro
Maynard Maciel em primeiro lugar.336 Mas o governador Celso de Carvalho, que já havia
tratado do assunto com o presidente Castello Branco antes da votaçã o, ao levar-lhe a
lista tríplice o persuadiu da inconveniência da escolha de Leandro Maciel. Em meio à

332
Participaram da discussã o: Leandro Maynard Maciel, Heribaldo Dantas Vieira e Lourival Batista (ex-UDN), Jú lio
Cézar Leite e Godofredo Gonçalves Diniz (ex-PR), José Rollemberg Leite e Sebastiã o Celso de Carvalho (ex-PSD).
333
Empenharam-se em organizar o MDB: José Carlos Teixeira, Walter Batista, Ariosto Amado, Otá vio Penalva, entre
outros.
334
A Diretoria incluiu José Carlos Teixeira como presidente, Walter Batista como vice, na 1 ª vice-presidência Ariosto
Mesquita Amado e na 2ª vice-presidência Eraldo Machado Lemos. Antô nio Tavares ficou na Secretaria geral e Umberto
Mandarino como tesoureiro. Cf. Diário da Justiça Eleitoral, 26.05.1966.
335
O AI-3 prescrevia que os prefeitos das capitais seriam indicados pelo governador.
336
Na votaçã o, Leandro Maciel saiu em primeiro lugar com 26 votos, seguido de Augusto do Prado Franco com 22
votos e, por fim, no terceiro lugar, Arnaldo Rolemberg Garcez com 19 votos.
168

guerra de bastidores, o deputado federal Lourival Batista, médico baiano de nascimento,


cercava com agrados o marechal Castello Branco, e Luís Viana Filho, entã o chefe da Casa
Civil da Presidência da Repú blica, terminou sendo indicado para governar o Estado.337
Ao fim, Arnaldo Rolemberg Garcez abdicou de suas pretensõ es, a Leandro
Maynard Maciel foi-lhe concedida a candidatura para o Senado, enquanto Augusto do
Prado Franco concorreria para a Câ mara dos Deputados nas eleiçõ es marcadas para
15.11.1966. Nem as regras que o marechal Castello Branco traçara para a escolha dos
candidatos situacionistas eram respeitadas pelo pró prio presidente.
Dessa forma, em junho de 1966 a indicaçã o foi divulgada e, no mês seguinte, a
convençã o da ARENA homologou a chapa, tendo como candidatos Lourival Batista para
governador e Manuel Cabral Machado para vice-governador. Em início de setembro, a
Assembleia Legislativa ratificou-a por unanimidade de seus membros: 31 votos.
Decidido o nome do governador, a ARENA tratou de escolher seus candidatos
para o pleito de 15 de novembro de 1966. Enquanto no partido governista havia
abundâ ncia de candidatos, no MDB o problema era a escassez de quadros.
Disputando o voto de um eleitorado de 148.617 pessoas, 8,8% acima do de 1962,
a campanha foi relativamente curta, mas tensa, dentro de um quadro nacional de
exacerbaçã o do conflito entre o Executivo e o Legislativo. Além da decretaçã o sucessiva
de normas casuísticas, ou seja, dispositivos voltados sobretudo para atender a casos
particulares do momento, o marechal Castello Branco, que havia prometido à s
lideranças do Congresso nã o mais cassar, voltou a fazê-lo pressionado pela linha dura do
Exército. Diante das reaçõ es do Congresso, mandou as tropas fechá -lo a menos de um
mês do pleito.
Entre os membros da ARENA, a tô nica da campanha foi a competiçã o exacerbada
dos candidatos entre si, marcada pela compra de votos e outros procedimentos nada
abonadores. Decorrida a eleiçã o, notou-se a continuidade da competiçã o partidá ria
entre UDN x PSD+PR dentro da ARENA, com vantagem para os candidatos que antes
pertenceram à primeira agremiaçã o. No conjunto, o partido oficial elegia o senador, seis
deputados federais e 26 estaduais, enquanto o MDB obtinha a vitó ria de um deputado
federal e apenas cinco estaduais.338
337
Versã o muito corrente na época e confirmada pelo ex-governador Celso de Carvalho. Cf. Depoimento ao autor em
12.12.1990.
338
Bonifá cio Fortes. Democracia de Raros in Revista Brasileira de Estudos Políticos. Belo Horizonte/MG, UFMG, 1968.
169

Com maioria nas duas casas legislativas, o presidente Castello Branco levou
adiante seu projeto de completar a institucionalizaçã o do novo regime com uma Carta
Constitucional mais condizente com as concepçõ es do grupo “sorbonista”. Em 7 de
dezembro, o governo baixou o AI-4, convocando o Legislativo Federal para discussã o,
votaçã o e promulgaçã o de um projeto constitucional encomendado a uma comissã o de
juristas. Trabalhando sob a limitaçã o de prazos reduzidos, o Congresso promulgou a
nova Constituiçã o em 24.01.1967, ou seja, pouco mais de um mês apó s a convocaçã o.
Apesar da manutençã o dos direitos individuais, dentro da tradiçã o liberal, a nova Carta
no fundo legalizava medidas excepcionais enquanto ampliava as atribuiçõ es do
Executivo federal, retirava do Congresso o direito de legislar sobre segurança e finanças
pú blicas e coibia poderes do Judiciá rio. Aliá s, o destaque dado à questã o da segurança
nacional foi expressivo. Ampliava-a para o â mbito interno e estendia a sua
responsabilidade para todos (art. 89). Além de tudo, mantinha as eleiçõ es indiretas para
presidente da Repú blica e governadores.
A essa altura, o governo de Celso de Carvalho ultimava os preparativos para
passar o cargo ao seu sucessor. Depois de assumir a titularidade do Executivo Estadual,
em abril de 1964, com a situaçã o econô mico-financeira do Estado difícil, com ajuda do
governo central e de recursos da USAID, num tempo de baixa das medidas populistas e
de queda da inflaçã o, o saneamento financeiro foi se tornando possível. A arrecadaçã o
passou de 7,7 bilhõ es em 1965 para 12,2 bilhõ es em 1966, permitindo assim algum
saldo para investimento. Neste contexto, foram criadas algumas instituiçõ es como a
Companhia Agrícola de Sergipe (COMASE) e a Companhia de Habitaçã o Popular
(COHAB), que construiu cem casas populares. Apoiou ampla reestruturaçã o do
CONDESE e reformas no DESO e na ENERGIPE.339
Enfim, a situaçã o do Estado parecia encaminhar-se para um está gio de
estabilidade sem grandes turbulências à vista. Com a economia em recuperaçã o, as
finanças pú blicas sendo saneadas, os grupos políticos representantes dos interesses
dominantes em fase de acomodaçã o dentro do partido oficial, a ARENA, e os
descontentes enfraquecidos no MDB, tudo isso ajudava a reestruturaçã o de um pacto de
dominaçã o, sob a tutela militar, com perspectiva de continuidade. Contudo, no â mbito

339
Cf. Sebastiã o Celso de Carvalho. O Destino Acontece. Aracaju: Livraria Regina, s/d.
170

federal as contradiçõ es político-militares alimentavam um processo de polarizaçã o


crescente, apontando para o enfrentamento.
Dentro do novo quadro partidá rio, marcado pelo bipartidarismo, novos
governadores tomavam posse, um marechal substituía outro na Presidência da
Repú blica e parecia que o sistema político se encaminhava para algum tipo de
institucionalizaçã o. Mas os problemas político-sociais legados pelo governo anterior, o
fortalecimento dos “duros” e a impotência dos partidos legalizados para intermediar as
questõ es emergentes iriam estimular a reorganizaçã o das agremiaçõ es ilegais e a
radicalizaçã o.
Em Sergipe, em inícios de 1967, podia-se dizer que a estrutura do autoritarismo
encontrava-se implantada. As instituiçõ es viviam sob o acompanhamento dos ó rgã os de
informaçã o, as relaçõ es pessoais predominando de modo mais acentuado, as formas de
participaçã o sendo substituídas pelos métodos de cooptaçã o, as forças intermediá rias
enfraquecidas. Enfim, a sociedade civil revelava-se mais debilitada diante da tutela
militar que também manietava a sociedade política. Embora o quadro partidá rio
estivesse agora marcado por uma nova divisã o (ARENA X MDB), na agremiaçã o
governista a coexistência de antigos adversá rios numa mesma sigla resultava em
tensõ es continuadas. Do outro lado, apesar da extrema limitaçã o dos espaços de atuaçã o
para os oposicionistas ao regime, alguns grupos se movimentavam.
Nesse contexto, Lourival Batista tomou posse em 31.01.1967. Depois de vinte
anos com governadores eleitos pelo povo, Sergipe voltava a ser administrado por figuras
indicadas pelo presidente da Repú blica como nos tempos do Estado Novo. Naquela
época, os representantes dos ditadores eram chamados de interventores, mas, dessa vez,
o discurso da “Revoluçã o” nã o admitia tal denominaçã o. Nessa nova fase de
autoritarismo, diziam-se governadores, considerando, inclusive, o funcionamento do
sistema representativo, embora Lourival Batista tenha tomado posse e governado quase
metade do seu mandato com a Assembleia fechada. Sinais indicativos da nova ordem
política.
O novo governante do Estado, nascido e criado na Bahia, fez carreira política em
Sergipe. Contemporâ neo de Augusto do Prado Franco na Faculdade de Medicina (BA), foi
convidado a atuar como médico nas fá bricas de tecidos, em Sã o Cristó vã o (SE), e aí
171

começou a preparar sua base política, tendo sido prefeito daquela cidade, deputado
estadual e deputado federal.
Na política interna, sua posiçã o nã o era das mais confortá veis. Escolheu
secretariado abrangente, contemplando vá rias forças políticas do momento, mas havia
tanto as inconformidades do senador Leandro Maciel e do deputado Augusto Franco,
que se sentiam preteridos por suas espertezas, quanto as desconfianças das facçõ es do
ex-PR e do ex-PSD, que ainda o identificavam como udenista pouco confiá vel. Nã o
obstante esse clima um tanto adverso, o novo governador, desde cedo, começou a
sinalizar para suas pretensõ es de controlar o quadro político. Antes mesmo de tomar
posse, recorreu a casuísmos jurídicos e nas eleiçõ es municipais de 1967 contribuiu para
que a ARENA elegesse 68 prefeitos. O MDB conseguia vencer apenas em Estâ ncia, um
dos maiores centros urbanos do interior, e no inexpressivo município de Pedra Mole. Em
Aracaju, onde houve eleiçã o apenas para a Câ mara Municipal, a ARENA elegeu 11
vereadores e o MDB conseguiu sete. “Em 32 municípios a ARENA disputou sem
adversá rios”.340
Três dias depois daquele pleito, ou seja, em 15.03.1967, assumiu a Presidência da
Repú blica o marechal Artur da Costa e Silva, porta-voz da ala dos “duros”. Todavia, a sua
ascensã o nã o foi suficiente para aplacar as ambiçõ es dos militares da linha dura. Antes
facilitou as suas investidas. É verdade que a mudança de governo inicialmente trouxe
uma renovaçã o do discurso oficial. Falou-se recorrentemente em humanismo, em
desenvolvimento com participaçã o e promoçã o social e, na política externa, voltou-se
para uma orientaçã o mais sintonizada com os países do Terceiro Mundo, substituindo o
alinhamento incondicional com os Estados Unidos. Envolvida por essa retó rica, a Naçã o,
depois de três anos de crescente polarizaçã o, parecia que caminhava para uma fase de
contemporizaçã o e desarmamento dos espíritos. Contudo, além dos problemas herdados
do governo anterior, o novo presidente, cercado de elementos da linha dura, inclusive
em ministérios, e pressionado por radicais nos quartéis, tenderia a encontrar crescentes
dificuldades para concretizar suas anunciadas intençõ es de abertura.
O contencioso dos militares com o movimento estudantil acentuou-se, alimentado
por outras questõ es, tais como a dos vestibulandos excedentes, a renovaçã o do acordo
MEC-USAID e a nova invasã o da Universidade de Brasília (abril de 1967), aumentando a
340
Bonifá cio Fortes. Ob.cit., 1968, p.114.
172

indisposiçã o entre as partes. O governo proibiu a UNE de efetuar seus congressos, mas,
em 1967, os estudantes realizaram-no com a colaboraçã o de setores da Igreja Cató lica,
que terminaram hostilizados pelas forças da repressã o. Promoveu-se uma reforma
universitá ria, mas o clima de animosidade tornou-a mal recebida, apesar de atender a
algumas reivindicaçõ es passadas do mundo acadêmico.341 Em meio a tensõ es
continuadas, a morte do estudante Edson Luís, em confronto com os policiais do Rio de
Janeiro, acendeu as paixõ es, alimentando o processo de mobilizaçã o estudantil que
cresceu ao longo dos meses, tornando a situaçã o bastante conflituosa.
Por outro lado, se as relaçõ es dos militares com os políticos oposicionistas já
eram difíceis, pioraram a partir da morte do marechal Castelo Branco (julho de 67) e da
formaçã o da “Frente Ampla”, liderada por Carlos Lacerda, buscando o apoio de Jango e
Kubitscheck. O anú ncio do Pacto de Montevidéu (setembro de 1967), unindo os três
principais líderes partidá rios nacionais, antes adversá rios, numa proposta alternativa ao
domínio militar, galvanizou as atençõ es dos políticos de todos os partidos e de todas as
facçõ es. A maioria esmagadora dos parlamentares do MDB optou pelo apoio ao novo
movimento.
Em Sergipe, a “Frente Ampla” foi usada em vá rios sentidos. Alguns deputados
estaduais da ARENA utilizaram-na como uma espécie de chantagem diante do
governador, para conseguir maior atençã o. Em 04.04.1968, o governo federal proibiu a
referida “Frente”, e as forças que apoiavam seus líderes nã o se manifestaram. O
pretensioso movimento caiu como um castelo de cartas. Com os partidos legais sem
capacidade de intermediar as grandes questõ es nacionais, os ilegais se apresentaram
como alternativa. Alguns segmentos sociais acreditaram em suas propostas, e a ideia de
luta armada ganhou adesã o de expressiva parte da esquerda. Em Sergipe, o movimento
estudantil, sob a hegemonia do PCB, desenvolvia açõ es mais moderadas do que em
outros Estados. O “partidã o” ameaçava a legalidade, apenas, quando promovia
treinamentos de algumas lideranças voltados para a luta armada.
Do lado do governo, o problema maior vinha da atuaçã o dos setores da linha
dura. Divididos em vá rios subgrupos, ganhavam terreno, impacientes, pressionando as
autoridades com manifestos, ameaças e até açõ es de rebeldes nas ruas e nos quartéis. A

341
Ver José Willington Germano. Estado Militar e Educação no Brasil (1964/1985). São Paulo: Cortez/UNICAMP, 1992,
p.106-156.
173

situaçã o começou a ficar ameaçadora depois que o deputado Má rcio Moreira Alves fez
um discurso ofensivo à s Forças Armadas e os militares pediram sua cassaçã o. O
processo evoluiu até que na noite de 12.12.1968, o Congresso, por 216 x 141 votos,
negou a licença para cassá -lo. No dia seguinte o marechal Costa e Silva, apó s a reuniã o
com o Conselho de Segurança Nacional, sob a pressã o das Forças Armadas,
especialmente da sua linha dura, editou o AI-5, marcando o início de nova fase do Estado
Autoritá rio.

4.1.2 O AI-5 e o Novo Ciclo Repressivo. De Lourival Batista a Paulo Barreto (1969-1973)

O quinto Ato Institucional significava a vitó ria da linha dura sobre os moderados,
proporcionando nova fase do Estado Autoritá rio. Com esse instrumento normativo, o
Executivo tornou-se autorizado a fechar as diversas casas legislativas, intervir nos
Estados e municípios, cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos, remover e
aposentar ou reformar funcioná rios, decretar estado de sítio e confisco de bens,
suspender garantias constitucionais e estabelecer censura à imprensa. As garantias dos
magistrados foram suspensas assim como o habeas corpus para variados casos. Era a
legalizaçã o mais explicitada do arbítrio do governo da Repú blica. Sob a predominâ ncia
dos “duros”, a tutela militar acentuava-se com a ampliaçã o das operaçõ es coercitivas
tanto sobre o Legislativo e o Judiciá rio quanto sobre a sociedade civil.
Em Sergipe, no dia seguinte à ediçã o do quinto Ato Institucional, recomeçaram as
prisõ es dos estudantes que haviam participado do congresso da UNE em Ibiú na (SP),
acrescidos de mais sete ou oito pessoas. Vá rios outros cidadã os que haviam sido presos
nos primeiros meses do movimento voltaram a ser convocados para depor. Três
conceituados professores foram intimados a comparecer ao 28º BC, onde também foram
inquiridos. Quanto aos estudantes, apó s trinta dias foram liberados e, já indiciados,
passaram a responder processo junto à Justiça Militar da 6a Regiã o Militar na capital da
Bahia.
A recém-criada Universidade Federal de Sergipe, que já sofria pressã o, a partir de
entã o passou a viver sob fogo cruzado dos ó rgã os repressivos: da 6ª Regiã o Militar, do
174

Departamento de Polícia Federal, da Diretoria da Divisã o de Segurança e Informaçõ es do


MEC e do 28º BC. A situaçã o agravou-se quando o reitor Joã o Cardoso do Nascimento
Jú nior recebeu ofício da 6ª Regiã o Militar, trazendo anexa a relaçã o de 32 alunos da UFS
para serem desligados dessa instituiçã o. Depois chegou outra lista com o nome de mais
cinco estudantes. Mas o reitor afastou-os da representaçã o política, protelou a decisã o e
nã o os expulsou, passando a ser mal visto pelas autoridades militares. Enquanto isso, em
outros Estados, entre maio de 1969 a março de 1970, pelo menos 192 estudantes
ficavam impedidos de estudar com base no decreto lei n. 477.342
Por esse tempo, alguns processos, iniciados em 1964, foram reativados e julgados
pela Justiça Militar em Salvador, abrangendo estudantes, sindicalistas e políticos. Em
Aracaju, as investigaçõ es prosseguiam atingindo as diversas esferas da sociedade
política. No Judiciá rio, vá rios dos seus membros, inclusive juízes e promotores, foram
convidados a depor, em meio a uma luta interna bastante pronunciada. Afinal, três juízes
foram colocados em disponibilidade pelo pró prio Tribunal de Justiça e um foi incluído
em lista de cassaçã o de â mbito nacional. Quanto aos desembargadores, os militares
formaram alguns processos, mas encontraram dificuldades em levá -los ao seu termo.
Enquanto as operaçõ es no Judiciá rio constituíam-se sobretudo numa guerra de
bastidores que a imprensa nã o desvelava, entre os políticos a operaçã o repressiva era
noticiada amplamente, envolvendo sobretudo o Legislativo. Quatro deputados foram
presos no 28º BC, depois cassados e pelo menos outros três foram convidados a depor.
Em fins de janeiro, o governador Lourival Batista, cumprindo determinaçã o do
Ministério da Justiça, instituiu a Comissã o Geral de Investigaçã o (CGI) para apurar
corrupçã o em todo o Estado. Era uma forma de obter informaçõ es mais seguras para
respaldar os atos punitivos que prosseguiam. Poucos dias apó s, em 08.02.1969, o
governo federal decretava o recesso, por tempo indeterminado, das Assembleias
Legislativas dos seguintes Estados: Guanabara, Rio de Janeiro, Sã o Paulo, Pernambuco e
Sergipe. A inclusã o da casa legislativa do pequeno Estado foi recebida com
manifestaçõ es de aprovaçã o pela imprensa, crente na operaçã o de limpeza. Os ex-
deputados Chico de Miguel e Durval Militã o depois de cassados foram enviados para a
Penitenciá ria. Mas o primeiro continuou controlando a política de Itabaiana, indicando

342
Sobre a relaçã o dos punidos e para mais informaçõ es, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe -
1964/1984 (Partidos e Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 100-103.
175

candidatos e contribuindo para torná -los vitoriosos. A ú ltima lista de cassaçõ es atingiu
mais dois deputados estaduais e um federal.343
No decorrer do ano de 1969, os trabalhos da Comissã o Geral de Investigaçã o
(CGI), que funcionava na Capitania dos Portos, prosseguiram, apurando denú ncias
recebidas, notificando vá rias personalidades a apresentar sua defesa por escrito em
poucos dias e montando peças visando evidenciar atos ilícitos. Nessa época, um ex-
prefeito de Estâ ncia foi condenado na capital da Bahia, por processo iniciado em 1964 e
cumpriu pena na Casa de Detençã o Santo Antô nio, em Salvador, por cerca de oito meses,
até que foi absolvido.344 Situaçã o semelhante ocorreu com um grupo de operá rios
vinculados à Leste Brasileiro. Por esse tempo (agosto de 1970), saiu também a sentença
final dos réus arrolados em outro processo, onde foram indiciados 34 pessoas. Ao fim,
quase todos foram absolvidos. Três líderes receberam sentença de dois anos de
reclusã o, entretanto por razõ es diversas ninguém cumpriu a pena.345 Os estudantes
também terminaram nã o sendo incriminados. Os que deixaram o Estado para cumprir
missõ es clandestinas dos seus partidos tiveram destino mais cruel. Entre os ligados ao
PCB, alguns foram para a URSS. Os que retornaram, ainda na primeira metade da década
de setenta, foram presos, torturados e alguns sofreram sérios riscos de morte. Os
vinculados a AP viveram situaçã o similar. Enquanto isso os políticos da ARENA e do
MDB permaneciam obedecendo à s regras estabelecidas pelo sistema militar,
alimentando esperanças de mudança no quadro institucional.
Mas as pressõ es dos generais em postos chaves se acentuaram depois que o
marechal Costa e Silva encomendou ao vice-presidente Pedro Aleixo projeto
constitucional para “restituir a normalidade democrá tica”, segundo a expressã o da
época. Quando o velho presidente teimava em legar ao país uma Constituiçã o reformada
e extirpada dos dispositivos coercitivos do AI-5, adoeceu em 28.08.1969, perdeu o
controle da administraçã o e faleceu, em 17.12.1969, sem conseguir realizar seu intento.
Morria também a primeira tentativa de abertura política.
O vice-presidente, Pedro Aleixo, foi impedido de assumir. Em 31.08.1969 formou-
se o Triunvirato, composto pelos comandantes das três armas, quatro dias depois
343
Os novos cassados, por razõ es diversas, foram os deputados estaduais Rozendo Ribeiro Filho e Jayme Araú jo de
Andrade, bem como o deputado federal Joã o Machado Rolemberg.
344
Cf. Manoel Pascoal Nabuco D’Á vila. Entrevista a Osmá rio Santos, Jornal da Cidade, 07.10.1991.
345
Ver Processo 59/67 da Auditoria da 6a Circunscriçã o Judiciá ria Militar. Arquivo do DOPS, dossiê 747 in Arquivo
Pú blico do Estado de Sergipe (APES).
176

realizou-se o sequestro do embaixador norte-americano, o primeiro de iniciativa dos


movimentos guerrilheiros, açã o conjunta da ALN e MR-8. Pouco depois, em 18 de
setembro, era aprovada nova Lei de Segurança Nacional ainda mais rigorosa. As
divergências entre os grupos dentro das Forças Armadas, que vinham se acentuando no
curso de 1969, transbordaram dos quartéis, pondo em risco a unidade sobretudo do
Exército. Premido pelas circunstâ ncias, a cú pula militar chegou a um acordo, escolhendo
o general Médici, ex-ministro do SNI, figura de pouco destaque, semidistanciada das
grandes querelas internas.346 O Alto Comando o indicou e o Congresso, em recesso desde
13.12.68, foi convocado para referendar o nome do escolhido, tomando posse cinco dias
depois, ou seja, em 30.10.69.
O governo do general Emílio Garrastazu Médici significava a concretizaçã o da
aliança contraditó ria entre os “castelistas” e os “duros”, expressando mais do que nunca
a predominâ ncia do sistema, como entidade impessoal, onipotente, onipresente e
irresponsá vel perante os direitos civis mais elementares. No topo da hierarquia, o
general Médici representava a chefia do todo poderoso Executivo, delegando a Delfim
Neto o comando da economia, a Orlando Geisel o Exército e a Leitã o de Abreu a
coordenaçã o política. Enquanto isso, algumas instituiçõ es liberais persistem na forma.
Os partidos lançam candidatos, as eleiçõ es continuam sendo realizadas segundo
calendá rios preestabelecidos e o Congresso funciona sem soluçã o de continuidade.347
Foi dentro desse padrã o autoritá rio que transcorreu o processo de sucessã o
governamental em Sergipe. Em meados de fevereiro de 1970, o presidente nacional da
ARENA, Rondon Pacheco, veio a Aracaju, como delegado do sistema, para ouvir os
pretendentes e viajou com a lista composta de oito nomes.348 O governador Lourival
Batista foi recebido pelo presidente da Repú blica, manteve contatos junto a generais e
terminou o engenheiro Paulo Barreto de Menezes sendo indicado. Diretor do
Departamento de Estrada de Rodagem, recém-filiado ao partido do governo, era o ú nico
da lista dos oito sem prévia militâ ncia política. Anunciada a escolha em 08.05.70,
divulgou-se que o general Médici teria dito: “quero um técnico no governo”. A Executiva
346
Sobre as açõ es dos militares, ver Elio Gaspari. A ditadura envergonhada. Sã o Paulo: Companhia de Letras, 2002.
347
Ver Fernando Henrique Cardoso. Os Impasses do Regime Autoritário: o caso brasileiro. Petró polis, RJ: Vozes, 1980,
Estudos Cebrap, n. 26. Thomas Skidmore. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964/1985. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
348
Os nomes eram os seguintes: Paulo Barreto de Menezes, senador Jú lio César Leite, Manoel Conde Sobral, Augusto
do Prado Franco, José Passos Porto, Raimundo Menezes Diniz, Murilo Dantas e Djenal Tavares de Queiroz. Leandro
Maciel declarou que abdicou de concorrer em face de compromissos com Manoel Conde Sobral. Cf. Diário de Aracaju,
15-16.02.1970.
177

da ARENA aprovou-o por unanimidade349 e, posteriormente (03.10.1970), a Assembleia,


através de seus 19 deputados da ARENA, elegeu Paulo Barreto de Menezes como
governador e Adalberto Moura, ex-funcioná rio do Banco do Brasil, como vice-
governador. Fechada desde 09.02.69, a Assembleia Legislativa de Sergipe, apó s 404 dias
de recesso forçado, foi reaberta no início de maio de 1970, a partir da necessidade de
cumprir seu papel institucional na formalizaçã o do ritual sucessó rio. Elegeu nova Mesa e
passou a desenvolver seus trabalhos desfalcada dos ex-deputados cassados.
Na esfera do Executivo, o entã o governador Lourival Batista renunciou
(14.05.1970) a fim de poder concorrer a uma cadeira no Senado na eleiçã o de
15.11.1970. Terminava assim seu mandato como um administrador operoso e
conciliador, embora nã o tanto quanto esteve a propagar no seu slogan “Pacificaçã o e
Desenvolvimento”.
É certo que, atuando como “soldado da Revoluçã o” e tentando ampliar o leque de
forças de sustentaçã o fora dos quadros da ex-UDN, concorreu para desgastar a
influência de Leandro Maciel e Augusto Franco e inibir a competiçã o tradicional entre
UDN e PSD. Embora as rivalidades entre os partidos extintos tendessem a ser diluídas
pela vigência do bipartidarismo, Lourival Batista passou a propagar a imagem de
pacificador da política sergipana, desconsiderando que a diminuiçã o da violência já
vinha se processando desde o governo de Luiz Garcia. Se a reduçã o das mortes
prosseguiu no governo Lourival Batista deveu-se também à s prá ticas coercitivas dos
militares, embora nã o tenham evitado que no primeiro ano de sua administraçã o fossem
assassinados dois influentes líderes políticos.350
Quanto à sua política econô mica, esteve sempre marcada pelo signo da
ostentaçã o, estimulada pelo aumento vertiginoso da receita, decorrente sobretudo da
mudança da legislaçã o tributá ria. Favorecido por tantos recursos, o governo estadual
realizou numerosas construçõ es: está dio de futebol, edifício de 28 andares numa cidade
de construçõ es baixas, grupos escolares, colégios, postos de saú de, rodovias e conjunto
habitacional. Além do mais, houve investimentos em saneamento, ampliou-se a rede
elétrica pelo interior em cerca de 32%, implantou o Distrito Industrial e empenhou-se
pela criaçã o da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Governando grande parte do
349
Diário de Aracaju, 12.05.1970.
350
Foram assassinados o líder do ex-PSD de Itabaiana, José Teles de Mendonça (08.1967), e o deputado estadual da
ex-UDN, entã o na ARENA, Antô nio Tô rres Jú nior (12.1967).
178

tempo com a Assembleia fechada e sem ó rgã o fiscalizador efetivo, diversas construçõ es
foram realizadas sem abertura de concorrência e, aparentemente, sem a devida
adequaçã o com a definiçã o de prioridades, subestimando a estratégia de planejamento
do CONDESE. Isso, porém, nã o era suficiente para abalar seu prestígio solidificado numa
era de intransparência, facilidade de recursos e fortalecimento da má quina pú blica.
Dentro desse quadro, antes de deixar o governo criou o Tribunal de Contas do Estado e
nomeou como conselheiros boa parte de seus auxiliares, prolongando sua influência
sobre a política sergipana.
Quando Lourival Batista renunciou, em 14.05.1970, seis meses antes das eleiçõ es
para candidatar-se ao Senado, criou um problema institucional para o governo federal
resolver. Como o vice-governador, Manuel Cabral Machado, preferiu o Tribunal de
Contas ao governo de nove meses e a posse de Paulo Barreto de Menezes estava
estabelecida para 15.03.71, tornou-se necessá rio escolher um novo sucessor. Neste
interstício, inicialmente assumiu interinamente a chefia do Executivo o entã o presidente
da Assembleia Legislativa Wolney Leal de Melo, de 14.05.1970 a 04.6.1970, quando foi
substituído por Joã o Andrade Garcez para cumprir o mandato “tampã o” que haveria de
prolongar-se até meado de março do ano seguinte.
A indicaçã o do novo governante sergipano seguiu o mesmo ritual da política do
regime autoritá rio. Em meio a muita divergência interna entre os principais chefes
políticos locais, a Presidência arbitrou, concedendo o prazo de 72 horas para a executiva
arenista apresentar a lista tríplice. Desta relaçã o, o general Médici escolheu Joã o
Andrade Garcez, tendo como vice Manoel Prado Vasconcelos. Dois dias depois, a
Assembleia homologou-os e, apó s mais dois dias, empossou-os.351
O novo chefe do Poder Executivo sergipano era um cirurgiã o dentista voltado
sobretudo para o exercício da profissã o, atuando inclusive junto ao Instituto de
Aposentadoria e Pensõ es dos Comerciá rios (IAPC). Homem só brio e discreto, inscreveu-
se na ARENA em face da informaçã o de que todo servidor federal era obrigado a filiar-se
no partido do governo sob pena de nã o receber os proventos.352 Apesar da pequena
duraçã o de seu mandato, Joã o Andrade Garcez fez questã o de escolher seu pró prio
351
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995. Sobre a lista tríplice, ver Diário de Aracaju,
30.05.1970, 02.06.1970, 05.06.1970.
352
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995. Sobre seu currículo, ver Gazeta de Sergipe,
30.05.1970. Seu vice Manoel do Prado Vasconcelos era comerciante de Riachuelo, mais conhecido por Reizinho e
também sem militâ ncia político-partidá ria.
179

secretariado com experiência, o que o ajudou a vencer as dificuldades, entre as quais as


maiores foram as pressõ es do general de brigada Abdon Sena para punir vá rios
políticos, o reitor e desembargadores.
Em meio a esses problemas, Joã o Andrade Garcez iniciou reforma administrativa,
construçã o de adutoras para o sertã o, mas considerava como grandes feitos de seu
governo as obras de preparaçã o para o Porto, a liberaçã o da TV e sobretudo ter
conseguido que a unidade da Petrobras nã o fosse transferida para Salvador como queria
o entã o presidente da referida estatal, general Geisel. Em todos esses três
empreendimentos, julgava decisiva a interferência do presidente Médici a quem atribuía
grandes benefícios proporcionados a Sergipe.353 Além disso, em seu governo tentou-se
renovar o setor educacional e desenvolveu açã o cultural, voltada sobretudo para
preservaçã o da documentaçã o do Arquivo Pú blico e dos monumentos tombados pelo
Patrimô nio Histó rico, tudo sob a liderança dinâ mica do seu secretá rio de Educaçã o.
A influência no processo eleitoral, que marcaria o ú ltimo trimestre de 1970, ficou
a cargo de Paulo Barreto de Menezes, que, como candidato indicado, tornara-se
delegado da “Revoluçã o” para empenhar-se pela eleiçã o dos seus correligioná rios da
ARENA, dirimindo os problemas que eventualmente emergiam. A campanha foi marcada
pela desproporcionalidade de condiçõ es na competiçã o eleitoral. Tratando-se de
eleiçõ es gerais para o Senado, Câ mara dos Deputados, Assembleia Legislativa, Câ maras
Municipais e Prefeituras das capitais, o seu resultado tornou-se importante para ambos
os lados. Enquanto a ARENA estava presente em todos os municípios, o MDB conseguira
organizar-se em apenas 17.354 Mesmo assim, lançou manifesto onde postulava “pronto
restabelecimento das instituiçõ es democrá ticas, garantia da pessoa humana”.355 Por esse
momento nascia a Ala Jovem do MDB, que decidiu marcar sua presença com seu
primeiro comício na Praça Camerino em Aracaju. Mas a imprensa escrita procurou
reduzir a importâ ncia do ato pú blico.
O Departamento de Polícia Federal gravava os discursos, enquanto agentes de
segurança, ligados inclusive ao SNI, acompanhavam os passos dos candidatos da
oposiçã o. O governador indicado, Paulo Barreto de Menezes, convocou todos os

353
Cf. João Andrade Garcez, depoimento ao autor em 30.11.1995.
354
Cf. José Carlos Teixeira, depoimento ao autor em 13.12. 1977.
355
Diário de Aracaju, 18.08.1970.
180

sergipanos a votar nos candidatos da “Revoluçã o”.356 O resultado foi o triunfo do


situacionismo. A ARENA elegeu os dois senadores, os cinco deputados federais e 12 dos
16 estaduais. Mas o nú mero de votos brancos e nulos foi o mais elevado do período. Sob
o signo do autoritarismo e da repressã o, o partido situacionista pontificava, tutelado
pelos militares.
Em Sergipe, com a ascensã o de Paulo Barreto de Menezes em 15 de março de
1971, o Estado viveu o á pice do ideá rio autoritá rio. O novo governador cercou-se de um
secretariado visto como basicamente de técnicos, embora quase todos com suas
vinculaçõ es com grupos políticos, que ainda lembravam a influência da ex-UDN e do ex-
PSD.
Sem vivência político-partidá ria, o engenheiro civil Paulo Barreto de Menezes
tentou governar muito empenhado em fazer obras e corresponder à confiança do
presidente Médici. Convencido da capacitaçã o de seus auxiliares, proporcionou-lhes
espaço, especialmente aos técnicos do Conselho de Desenvolvimento de Sergipe
(CONDESE), que estiveram a elaborar planos e realizá -los. Dentro desse clima favorá vel
à s novas iniciativas, o governo promoveu a primeira grande reforma administrativa do
Estado. Começou a implantar o Distrito Industrial de Aracaju. Os investimentos
provenientes do Banco Nacional de Habitaçã o prosseguiam. A energia pelo interior
expandiu-se ao tempo em que está dios de futebol eram construídos. Foi criada a
Telergipe, implantando novo sistema de telefones. No campo, o FUNRURAL ampliava o
sistema de aposentadoria, favorecendo o homem do campo e as prá ticas clientelistas.357
Num tempo em que a produçã o de petró leo estava em pleno crescimento, foram
reveladas importantes descobertas dos recursos minerais do Estado com ampla
repercussã o na imprensa do país. Era um tempo de otimismo e muita confiança no
desenvolvimento do Estado.
Mas as opçõ es dos técnicos nem sempre se revelaram as mais acertadas. Na
discussã o sobre a exploraçã o dos minérios, o projeto que mais fascinava era o da
montagem de um complexo industrial de base abrangente.358 A entrada do Grupo Lume,

356
Idem, 10.11. 1970.
357
Idem, 08 a 10.12. 1973.
358
Compartilhavam dessa ideia vá rios técnicos da esfera federal e local, bem como economistas de projeçã o nacional.
Ver Rô mulo de Almeida. Perspectiva de um Complexo de Indústria de Base em Sergipe. In: Governo do Estado de
Sergipe, CONDESE, Palestra no 1o Ciclo de Estudos sobre o Aproveitamento dos Recurso Minerais de Sergipe, Aracaju:
J. Andrade, 1972.
181

representado pela Kalium Mineraçã o, logo se revelou sem capacidade técnica e


financeira, retardando os trabalhos de exploraçã o.
No campo político, predominava a intolerâ ncia, mas, a partir de 1974, os
discursos do presidente da Repú blica passaram a alimentar as esperanças de abertura.

4.1.3 A Distensão Insegura. De Paulo Barreto a José Rolemberg Leite (1974-1978)

Quando o general Ernesto Geisel tomou posse na Presidência da Repú blica


(15.03.1974) tentou realizar a distensã o de forma “lenta, gradual e segura”, cujo ritmo
seria definido pelo jogo político e militar das pressõ es e contrapressõ es, inclusive da
“linha dura” que cedo se revelou o maior obstá culo para o seu prosseguimento. Mas,
apesar das dificuldades, paulatinamente foi se verificando lenta descompressã o do clima
político, favorecida pelos discursos oficiais, apontando para o afrouxamento da
legislaçã o mais voltada para repressã o política.359 Diante de tais pronunciamentos, o
ambiente dos Estados foi também sendo afetado por esse processo de liberalizaçã o.
Em Sergipe, os temas políticos foram ganhando mais espaço, as referências aos
partidos foram se tornando menos negativistas. A Gazeta de Sergipe voltou a publicar a
seçã o “Panorama Político” que havia sido suprimida no período de maior fechamento. Os
editorais foram se tornando mais receptivos à ideia da abertura. O Jornal da Cidade, um
tabloide inaugurado em 1971, criou também coluna específica, intitulada “Confidencial”,
e começou a levantar questõ es mais delicadas, como o controle oligá rquico do partido
governista, denú ncia de utilizaçã o do SESI e da Federaçã o das Indú strias para armar
certos esquemas políticos.360 Em abril de 1974 a Revoluçã o dos Cravos em Portugal
animou os espíritos e despertou comemoraçõ es pelo fim do salazarismo, embalando
esperanças.
Particularmente em Sergipe, concorreu para alentar a política interna a escolha
do novo governador. O senador Petrô nio Portella, um dos principais negociadores da
abertura, esteve em Aracaju, ouviu os pretendentes e saiu com uma lista de 11

359
Sobre o processo de abertura, ver Suzeley Kalil Mathias. Distensão no Brasil: O Projeto Militar (1973-1979).
Campinas/SP: Papirus, 1995, p. 39.
360
Jornal da Cidade, 24 e 25.03.1974.
182

candidatos. Mas o escolhido foi José Rolemberg Leite, que nã o constava da relaçã o. O
indicado para vice-governador foi o também engenheiro Antô nio Ribeiro Soutello.
A escolha daquele velho político do ex-PSD indicava que os ventos da abertura
política tenderiam a ser estimulados em Sergipe. Homem experiente, discreto e
conciliador, avesso a polêmicas, constituiu-se em alternativa de conciliaçã o.
Os indicados foram referendados pela Assembleia Legislativa em 03.10.1974.
Cerca de um mês depois, ocorreriam as eleiçõ es para o Legislativo estadual e federal.
Num ambiente de maior liberdade de manifestaçã o, o MDB colhia melhor resultado. O
médico e professor universitá rio Gilvan Rocha vencia na eleiçã o para o Senado o velho
senador Leandro Maciel. Em todo o país, o MDB preencheu 16 das 22 vagas, enquanto na
Câ mara dos Deputados, o partido oposicionista aumentava sua bancada de 28% para
44%. Desde entã o, “o governo ficou impossibilitado de aprovar emendas constitucionais
no Congresso sem o apoio do MDB”.361 Em Sergipe, além do senador, os oposicionistas
elegeram um dos cinco deputados federais, enquanto que na Assembleia Legislativa a
ARENA contava 11 representantes numa bancada de 15 membros.
Para os setores mais identificados com o sistema autoritá rio, especialmente para
a linha dura, foi um resultado traumá tico, difícil de ser assimilado, sobretudo porque a
eleiçã o do voto majoritá rio (Senado) tomou feiçã o plebiscitá ria, como se expressasse o
julgamento do regime militar. Houve temores de retrocesso, mas o general Geisel
declarou que a distensã o continuaria.
Em Sergipe, José Rolemberg Leite tomou posse em 15 de março de 1975 e passou
a governar com uma equipe predominante de técnicos, mas contemplando de alguma
forma certos grupos dominantes. Com visã o de conjunto sobre a administraçã o estadual,
esteve a coordenar sua equipe, procurando atender os objetivos técnicos voltados para o
desenvolvimento do Estado, sem desprezar as demandas políticas. Arejou a Secretaria
da Justiça, substituiu da direçã o do Banco do Estado um pecuarista que há anos
controlava essa agência de crédito de forma patrimonialista. Diante dos ó rgã os de
segurança, em vá rios momentos resistiu à s suas imposiçõ es. Mais de uma vez venceu
resistências do SNI para fazer indicaçõ es. Nomeou nomes vetados e desconsiderou

361
David Fleischer in Glá ucio Ary Dillon Soares e Maria Celina D'Araujo (orgs); [et al.]. 21 Anos de Regime militar:
Balanços e Perspectivas. Rio de Janeiro: Fundaçã o Getú lio Vargas, 1994, p. 175.
183

ordens para demitir funcioná rios tidos como subversivos.362 A Assembleia Legislativa
voltou a ser palco de debates acalorados com a participaçã o ativa dos parlamentares
oposicionistas. O MDB procurou ampliar sua atuaçã o com a criaçã o do Instituto de
Estudos Políticos e Econô micos Sociais D. José Vicente Tá vora, promovendo palestras de
eminentes personalidades da política nacional. Nesse clima de esperança, a tenra
sociedade civil começou a manifestar-se. Os jornais passavam a conceder mais espaço
aos parlamentares da oposiçã o. Na Universidade, sob controle rígido desde dezembro de
1968, os diretó rios acadêmicos dos diversos Centros voltaram a funcionar, culminando
com a reabertura do Diretó rio Central dos Estudantes (DCE).
Mas havia uma certa insegurança, pois os instrumentos coercitivos continuavam
em vigor e sem data estabelecida para serem revogados. Dentro de açã o de â mbito
nacional, voltada para debilitar o Partido Comunista Brasileiro, realizou-se em Sergipe a
chamada Operaçã o Cajueiro.363 Forças da Polícia Federal, do DOPS e do DOI-CODI, em
fevereiro de 1976, desencadearam a prisã o de cerca de 30 de seus militantes,
inquiriram-nos sob intensas torturas, chegando a cegar um deles. Cinco dias depois
soltaram uma parte, enquanto outros 19 permaneciam por cerca de dois meses sendo
processados e, depois, julgados. Era o exemplo mais candente do clima de ameaças e
incertezas.
Por esse tempo, tanto no â mbito nacional quanto no local, o projeto de distensã o
perdia muito de sua confiabilidade inicial, sobretudo pela permanência do estado de
insegurança. Jornais continuavam discutindo a abertura, mas o governo voltava a cassar
parlamentares. Em junho de 1976 foi aprovada lei eleitoral (Lei Falcã o) restringindo a
propaganda no rá dio e na televisã o.364 Era uma tentativa de evitar que o resultado de
1974 se repetisse. Mas a estratégia do MDB era de continuar batalhando pela
democratizaçã o sem se deixar esmorecer pelas adversidades. Dentro dessa orientaçã o,
realizou-se em Sergipe simpó sio sobre “O Homem e o Problema Social”, contando com a
presença dos mais expressivos nomes do partido. Poucos dias depois, a ARENA realizava

362
Cf. José Rolemberg Leite, depoimentos ao autor em 02.03.94. Everaldo Aragã o Prado, depoimentos ao autor em
13.08.96.
363
Sobre a Operação Cajueiro, ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe - 1964/1984. (Partidos e
Eleiçõ es num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 181-186.
364
Os candidatos podiam apenas mencionar seu nome, o nú mero e um condensado currículo. Na TV podiam ainda
apresentar sua foto.
184

também seu seminá rio tratando do aproveitamento dos recursos minerais, mas sem a
repercussã o das palestras dos oposicionistas.
À s vésperas de mais uma campanha para prefeitos do interior e vereadores de
todo o Estado, o uso da má quina pú blica para fins eleitorais parece que se acentuava.
Conforme denunciava o deputado Leopoldo Souza, políticos da ARENA vinham
fornecendo guias de internamento em hospitais privativos do FUNRURAL.365 Decorrido o
pleito municipal de 1976, o MDB em Sergipe pouco avançou em relaçã o ao ano de 1972,
ano da ú ltima eleiçã o municipal. A exemplo do que ocorrera em 1972, a ARENA elegera
65 prefeitos e o MDB, 8.
Na esfera nacional, ó rgã os de segurança continuavam cometendo arbitrariedades.
Determinados grupos de direita engajados nas açõ es anticomunistas desafiavam todos
ao lançar bombas contra instituiçõ es e bancas de jornais e revistas. 366 A caça aos
comunistas prosseguia, como correu contra o PC do B na Lapa (SP), quando policiais
cercaram casa, simularam combate, mataram três militantes, prenderam os demais e
submeteram-nos a torturas.367
Em 1977 o governo decretou recesso do Congresso e, apó s cerca de quinze dias,
anunciava reforma do Judiciá rio e o estabelecimento da eleiçã o indireta para uma vaga
no Senado (“biô nico”). O governo Geisel alterou também o quó rum para matérias
constitucionais no Congresso, a duraçã o do mandato presidencial para seis anos e a
composiçã o do Colégio Eleitoral. O acesso do MDB aos governos dos Estados ficava mais
difícil. Por esse tempo, a movimentaçã o do general Sílvio Frota para suceder Geisel
tornou-se centro de tensã o interna. A oposiçã o começou a levantar a bandeira da
Assembleia Nacional Constituinte. Os estudantes intensificaram os debates pú blicos pela
revogaçã o da legislaçã o coercitiva, especialmente o Decreto 477. Em Sergipe, a discussã o
de problemas sociais localizados, inclusive no baixo Sã o Francisco, passou a receber
cobertura da imprensa. Em Sã o Paulo, reivindicaçõ es trabalhistas agitavam os centros
industriais, indicando a emergência de um sindicalismo mais combativo, ensejando
novas lideranças, entre as quais se destacava Luís Iná cio da Silva (Lula), que em 1978

365
Cf. Leopoldo Souza in Gazeta de Sergipe, 11.09. 1976.
366
Ver José Amaral Argolo et alii... A Direita Explosiva no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1996.
367
Ver Jornal do Brasil, 17.12.1976.
185

esteve à frente de dois movimentos de grande repercussã o nacional, inclusive a primeira


grande greve operá ria depois de 1968, a despeito das proibiçõ es da legislaçã o vigente.368
Na sucessã o presidencial, o general Geisel formalizou a indicaçã o do general
Figueiredo para cumprir o mandato de seis anos e, por volta de abril de 1978, indicou os
governadores dos Estados, inclusive o de Sergipe, Augusto do Prado Franco, tendo por
vice o general Djenal Tavares de Queiroz. 369 Meses depois, o MDB nacional, como que
buscando atalhos, lançou a candidatura do general Euler Bentes a presidente,
complicando o processo em emaranhada guerra de bastidores.
Em Sergipe, na eleiçã o para o Legislativo federal e estadual, em 1978, Augusto
Franco assumiu a direçã o da campanha eleitoral, investiu forte nos candidatos
situacionistas e debilitou a tendência em alta do MDB. A ARENA, além do senador
“biô nico”, elegia através do voto popular o candidato ao Senado, quatro dos seis
deputados federais e 12 dos 18 estaduais.
Enquanto isso, o governo José Rolemberg Leite apoiava os postulantes de sua
agremiaçã o e procurava completar o elenco de obras que procedeu, entre as quais novos
ó rgã os como a Empresa de Assistência Técnica e Extensã o Rural do Estado de Sergipe
(EMATER-SE), a Companhia de Processamento de Dados de Sergipe (PRODASE), a
Administraçã o Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), assim como a Companhia de
Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe (CODISE), revelando a
preocupaçã o com uma política industrial pelo menos a médio prazo. Ampliou
consideravelmente a rede do ensino pú blico de forma ordenada e sem grandes
ingerências político-partidá rias, iniciou as obras da adutora do Sã o Francisco e tomou
decisõ es marcantes sobre a localizaçã o do porto. Empreendeu a construçã o do Palá cio
da Justiça e da Estaçã o Rodoviá ria, enfim tentou melhorar a infraestrutura bá sica dos
serviços essenciais (á gua, luz, educaçã o, transporte e habitaçã o) dentro do processo de
modernizaçã o do setor pú blico. Dirigiu a coisa pú blica, temperando os pleitos dos
técnicos com as pressõ es dos correligioná rios, sem a ilusã o da tecnocracia e a
instrumentalizaçã o das secretarias pelos políticos. No processo de distensã o em Sergipe,
tudo indica que se manifestou tímido diante da Operaçã o Cajueiro, mas, com pertiná cia e

368
Ver Margaret E. Keek. O “novo sindicalismo” na transiçã o Brasileira. In: Alfredo Stepan (org). Democratizando o
Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
369
Sobre a guerra de bastidores nesse momento, ver Elio Gaspari. A ditadura derrotada. Sã o Paulo: Companhia de
Letras, 2003.
186

determinaçã o, conseguiu limitar as açõ es dos ó rgã os de segurança de forma


significativa.
Em face sobretudo das mudanças nacionais, respirava-se um ar menos poluído de
tensõ es. A imprensa discutia ampla gama de problemas com a prevalência dos temas
políticos. Os sindicatos voltaram a adquirir representatividade e alguma eficiência.
Exemplo eloquente disso foi o crescimento vertiginoso do nú mero dos associados que
passou de 9.407 (1974) para 72.326 (1978). 370 Os ativistas políticos já nã o viviam tã o
sujeitos a prisõ es arbitrá rias. A Comissã o Geral de Investigaçõ es foi perdendo sentido.
Os cursos da ADESG deixavam de ser tã o procurados e caminhavam para sua
desativaçã o. Nas escolas, as discussõ es corriam mais soltas. Os temas sociais ganhavam
espaço. A questã o dos índios Xocó começou a ser divulgada, assim como o problema dos
posseiros, especialmente em Santana dos Frades, pró ximo ao baixo Sã o Francisco. Enfim,
a sociedade começava a acreditar no declínio da ordem autoritá ria.
Chegava-se, assim, ao termo da primeira fase da transiçã o, marcada por um
processo basicamente liberalizante, constituído de um lado pelo afrouxamento de
normas repressivas e, de outro, pela restauraçã o de alguns direitos individuais e
coletivos. Em 1977 a UNE começou a ser reorganizada. A OAB, a ABI e a CNBB, além de
promoverem campanhas pela restauraçã o do habeas corpus, pela revogaçã o do AI-5 e
pela Anistia, tornaram-se interlocutores nas negociaçõ es com o governo pelo fim dos
atos coercitivos e pela normalizaçã o institucional. Em Sergipe, em 1978, a campanha da
“Anistia Geral, Ampla e Irrestrita” começou a ser defendida publicamente por segmentos
organizados da sociedade civil, envolvendo a Igreja, a OAB e representaçõ es
estudantis.371
O general Geisel nã o chegou a editar a lei da Anistia, mas, ao apagar das luzes do
seu mandato, promoveu emenda constitucional limitando o poder do Executivo em
autorizar medidas coercitivas através do AI-5. Afinal, poder-se-ia dizer que havia maior
liberdade de manifestaçã o de pensamento, a vida partidá ria desfrutava de maior
influência e os ó rgã os de segurança dispunham de menor espaço de atuaçã o.

370
Governo do Estado de Sergipe. Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Indicadores
Sociais de Sergipe. Aracaju, v. 3, 1981, p.181.
371
Cf. Jornal da Cidade, 02.03.1978.
187

4.1.4 A Transição Política. Augusto Franco e Djenal Queiroz (1979-1982)

A posse do general Joã o Batista Figueiredo em 15.03.79, reafirmando seus


propó sitos de dar continuidade à abertura política, marcou o início da segunda fase do
processo de transiçã o do regime autoritá rio para o liberal-democrá tico. Se, no primeiro
momento, a distensã o implementada pelo general Geisel tinha sentido liberalizante e foi
sendo graduada, levando em conta sobretudo as reaçõ es dos “duros”, neste segundo
período, a estratégia do governo consistia em ampliar sua base política, enfrentar os
problemas econô micos que se agravavam e liberalizar o regime, preservando o controle
do processo político.372 Os grupos oposicionistas, em meio à s suas diferenças, tentariam
romper com esse controle, desalojando nichos de poder remanescentes da ordem
autoritá ria e ampliando espaços de atuaçã o. Além desses dois setores contrapostos,
ainda subsistiam os chamados bolsõ es radicais de direita com variadas disposiçõ es de
bombardear o projeto de transiçã o. No fundo, estava em causa o processo de
democratizaçã o do Estado. Como o aparato estatal persistia bastante militarizado e com
poder de resistência à s demandas das forças democrá ticas, restava saber qual a
capacidade dos grupos a favor da transiçã o de se fazerem presentes para formularem
propostas, aglutinar forças, tanto da sociedade política quanto da sociedade civil, com o
fim de estabelecer regras com maior sentido de equidade.
Em Sergipe, persistiam diferenças sobre as formas de açã o entre a arquidiocese
de Aracaju e a diocese de Propriá , sob a direçã o de D. José Brandã o de Castro, no trato do
problema político-social. Os estudantes participaram do XXXI Congresso pela
reconstruçã o da UNE, em Salvador, nos ú ltimos dias de maio de 1979 e voltaram
confiantes no processo de liberalizaçã o. A promulgaçã o da Lei da Anistia em agosto de
1979 fortaleceu consideravelmente o clima de distensã o vivido até entã o, indicando o
ingresso em novo momento político. Os militantes de esquerda, em sua maioria
esmagadora, retornavam dispostos a defender suas bandeiras dentro do processo
democrá tico. A opçã o pela luta armada tornara-se alternativa descartada. 373 Na sede do
Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe, fundou-se a Sociedade Sergipana dos
372
Fernando Henrique Cardoso. Os Impasses do Regime Autoritá rio: o caso brasileiro. In: Estudos Cebrap, n. 26. São
Paulo, Brasiliense, 1980, p. 186.
373
Sobre a conversã o da esquerda à democracia e à campanha pela defesa dos direitos humanos, ver Luciano Oliveira.
Imagens da Democracia: Os Direitos Humanos e O pensamento Político de Esquerda no Brasil. Recife: Pindorama,
1995, p. 77-90.
188

Direitos Humanos com a presença de vá rios representantes da sociedade civil. 374 A


confiabilidade no processo de democratizaçã o se fortalecia, ensejando o aparecimento
de novas tendências políticas.
O fim do bipartidarismo foi consumado em dezembro de 1979, mas desde janeiro
as confabulaçõ es com vista ao novo perfil do sistema partidá rio passou a ser tema dos
grupos políticos de todas as coloraçõ es ideoló gicas. Em 1980 a movimentaçã o ainda
mais cresceu com a definiçã o das opçõ es e a formalizaçã o das propostas.
Em Sergipe foram os situacionistas que madrugaram. De conformidade com a
orientaçã o nacional, o Partido Democrá tico Social (PDS) substituía a estigmatizada
ARENA. Enquanto isso, a frente oposicionista até entã o aglutinada no MDB se fracionava.
Parte foi para o Partido Popular, sob a liderança do empresá rio Joã o Alves Filho, a
maioria organizou-se no PMDB, enquanto outros foram para o Partido Democrá tico
Trabalhista (PDT), controlado nacionalmente por Leonel Brizola. Apareceu ainda o
Partido dos Trabalhadores (PT) visto como a maior novidade da reforma partidá ria no
país. No Estado, sua organizaçã o foi-se processando com algumas dificuldades.
Na á rea dos partidos ilegais restava apenas o PCB, envolvido em grande questã o
de â mbito nacional, resultante de antigas divergências internas que se acentuaram apó s
a decretaçã o da anistia. Formaram-se duas alas: uma favorá vel a Luiz Carlos Prestes e
outra, liderada por Giocondo Dias, que se elegia secretá rio geral. Enquanto isso, o PCB
encolhia e perdia influência para o PC do B. Em Aracaju, no meio estudantil, o PC do B foi
aparecendo como alternativa, ao tempo em que se organizava, tendo como reduto inicial
a UFS.
Com o espectro partidá rio formado, em 21.11.1980 foi editado projeto
restabelecendo as eleiçõ es diretas para governador a partir de 1982. Era mais um passo
significativo no processo da transiçã o política, embora na esfera nacional continuassem
havendo problemas com açõ es terroristas de grupos direitistas, alguns ligados ao SNI,
que fizeram explodir bombas em vá rias entidades, gerando problemas políticos
preocupantes.
Em Sergipe, Augusto do Prado Franco tomou posse em 15.03.79, como sexto
mandatá rio do período autoritá rio, tendo por vice o general Djenal Tavares de Queiroz,
ativo militante nas lides políticas desde os tempos do ex-PSD. Desde pelo menos 1965,
374
Cf. Gazeta de Sergipe, 02 e 03. 09.1979.
189

aquele empresá rio empenhava-se em tornar-se governador enquanto seu patrimô nio se
ampliava ramificado no setor açucareiro, no têxtil e nas comunicaçõ es. Esse poderio, se
por um lado despertava má vontade por parte de alguns generais, de outro facilitaria o
controle do quadro interno e o fortalecimento do seu lobby em Brasília. Para governar,
anunciou secretariado mesclado por algumas figuras experientes de respeitabilidade
social, a maioria composta de ex-udenistas e de políticos que tiveram na ARENA sua
escola partidá ria. No período pó s-1964 nenhum governante assumira tal cargo em meio
a tantos prognó sticos otimistas, anunciando nova era desenvolvimentista.375 Entre os
primeiros atos do novo governo estava a transformaçã o do CONDESE em Secretaria de
Planejamento, reduzindo drasticamente as atribuiçõ es daquele ó rgã o.376 As tendências
centralizadoras acentuaram-se dentro da estratégia de evitar que as bases políticas
municipais migrassem para os demais partidos em época de declínio do regime
autoritá rio. A política clientelista foi entã o cultivada como em nenhum governo depois
de 1964. O funcionalismo estadual expandiu-se, admissõ es ocorreram sem concurso,377
tendo por principal condiçã o o pertencimento ao grupo político dominante e/ou à
conivência com suas políticas. Exemplo dessas prá ticas foi a aprovaçã o pela Assembleia
da emenda constitucional 14/81, autorizando o governo a promover contrataçõ es.
Enquanto isso, o espaço de crítica encolhia com o grande controle governamental dos
meios de comunicaçã o. Com apoio das principais lideranças do PDS, do Legislativo, do
Judiciá rio e contando com a generosa compreensã o dos procuradores, o governador foi
administrando com rédeas curtas o processo de transiçã o e realizando diversas obras
significativas. Os serviços de telefonia que existiam em 20 municípios expandiram-se
para todos os demais. Os centros de saú de passaram de 14 para 82. Cerca de 550 salas
de aula foram construídas, permitindo grande ampliaçã o do nú mero de matrículas, 378
mas a Secretaria de Educaçã o, que nos ú ltimos dez anos vinha sendo gerida sem grandes
interferências políticas, a partir de 1979 voltou a ser instrumento de barganha eleitoral,
comportando favoritismo, alterando a estrutura preexistente, afetando bastante o seu
funcionamento.379
375
Ver Gazeta de Sergipe, 01 a 03.1979.
376
Newton Pedro da Silva. Estado e Região: Contribuiçã o ao Estudo da "Modernizaçã o Autoritá ria" do Nordeste
Brasileiro. Aracaju, 1994 - Tese de Doutoramento em Economia, UNICAMP, p. 18-20.
377
Ressalve-se que houve concurso realizado pela Secretaria de Educação.
378
Segundo dados da propaganda do governo, as matrículas teriam se ampliado de 116.756 (1979) para condiçõ es de
oferta de 202.000 (1982). Ver Três Anos que Mudaram o Curso da História. Aracaju, 1982.
379
Cf. Everaldo Aragã o Prado, depoimento ao autor em 13.08.1996 e Gazeta de Sergipe, 27.05.1982.
190

Na á rea habitacional, alguns novos conjuntos foram criados com a construçã o, na


capital e no interior, de cerca de 15 mil unidades residenciais, distribuídas sob controle
do governador, exceto as cotas destinadas aos deputados.380 Gastou-se bastante em
rodovias. Mas os grandes investimentos foram realizados pela Petrobras com o início da
construçã o das fá bricas da Nitrofértil e da Petromisa, além de 40% (18 milhõ es de
dó lares) na Adutora do Sã o Francisco. Por esse tempo, o governador reivindicou
também a construçã o do Porto, que seria realizada posteriormente. No campo, resolveu
litígios de maneira pacífica, embora, em algumas situaçõ es, de forma lesiva ao tesouro
do Estado.381 Depois de receber a má quina pú blica organizada e com bom
funcionamento, a legaria ao seu sucessor bastante ampliada e um tanto modificada. De
qualquer forma, transferia para seu substituto acervo de obras das mais importantes
para o desenvolvimento do Estado.
Na esfera política, Augusto Franco empenhou-se decididamente em enfraquecer a
oposiçã o partidá ria. O empresá rio Joã o Alves Filho, que integrava os quadros do PP e
criticava o governo, nã o suportou as pressõ es e transferiu-se para o PDS. Subordinando-
se ao comando de Augusto Franco, Joã o Alves foi entã o lançado candidato à sua sucessã o
governamental pela agremiaçã o situacionista. Em 14.05.82, o poderoso governador
passava o cargo ao seu vice, general Djenal Tavares de Queiroz, para disputar uma
cadeira de deputado federal, enquanto o filho Albano do Prado Franco, concorreria ao
Senado e o outro, Walter Franco, à Assembleia Legislativa.
No pleito geral de 1982, os situacionistas conseguiriam bom desempenho,
especialmente os representantes da família Franco, eleitos para o Legislativo estadual e
federal. Mas, ao entregar o Executivo estadual para um ex-adversá rio, o controle do
governo estadual ficava inseguro. De qualquer forma, os problemas ficariam para serem
dirimidos dentro do partido oficial, pois nas eleiçõ es de 1982, os oposicionistas foram
fragorosamente derrotados. O PMDB elegeu dois deputados federais numa bancada de
oito. Fez cinco estaduais numa Assembleia de 24 e apenas quatro prefeitos entre 73. Os
demais partidos nã o tiveram nenhuma vitó ria.382

380
Ver Gazeta de Sergipe, 01.12.1981.
381
Cf. Manuela Carneiro da Cunha in Beatriz Gó is Dantas e Dalmo Dallari. Terra dos Índios Xocó. São Paulo: Comissã o
Pró -Índio, 1980.
382
Ver José Ibarê Costa Dantas. Ob. cit., 1997.
191

No plano nacional, Sergipe figurou como o Estado onde o candidato ao Executivo


tivera a maior vitó ria proporcional. Mas os oposicionistas elegeram ao todo dez
governadores, envolvendo os Estados de maior peso político.
Nos dez meses de gestã o do general Djenal Tavares de Queiroz, o governador
mostrou-se sobretudo homem de partido. Mudou alguns auxiliares, exigiu disciplina de
horá rios, deu continuidade à s obras em andamento e administrou o Estado como
solidá rio membro do PDS, ajudando os seus correligioná rios.

4.2 O Processo Econômico-social

A contrarrevoluçã o de 1964 reorientou o Estado nacional-desenvolvimentista,


quebrando a tendência populista e reformando o padrã o de financiamento. Nos três
primeiros anos de gestã o, esse modelo de Estado foi alterado com a implementaçã o do
Plano de Açã o Econô mica do Governo (PAEG), provocando recessã o. Mas a inflaçã o foi
contida e o ajuste fiscal melhorou consideravelmente a situaçã o das contas pú blicas.
Posteriormente, as políticas econô micas encaminharam-se no sentido de reduzir os
desequilíbrios entre o Sudeste e as demais regiõ es, inclusive o Nordeste.
Em Sergipe, os primeiros anos do novo regime foram particularmente difíceis. Ao
assumir a titularidade do Executivo estadual, em abril de 1964, com a situaçã o
econô mico-financeira problemá tica, o governador enviou alarmante memorial à
Presidência da Repú blica, traçando um quadro particularmente pessimista.
Considerando “dramá tica a situaçã o estrutural e a conjuntural desesperadora”, o
documento depois de aludir que Sergipe entre 1950 e 1960 apresentou a menor taxa de
crescimento anual, informa que em 1962 o Estado revelou o menor giro comercial do
Nordeste. A renda per capita, dentre os Estados de á rea nordestina abrangida pela
SUDENE, passou do segundo para o quarto lugar. A situaçã o financeira era de “déficit
crô nico”. No quatriênio 1959-62, a receita de Sergipe apresentava, entre os Estados do
Nordeste, “o maior crescimento negativo da sua posiçã o relativa: -24%.”383 Considerava
a má quina administrativa obsoleta e informava que Sergipe pagava “os vencimentos
mais baixos do país”. Apesar disso, confessava-se impotente para “sequer pagar um
383
Diário Oficial do Estado de Sergipe, 06.08.1964.
192

aumento já autorizado por Lei.” Diante desse quadro de penú ria, o governador solicitava
auxílio de emergência da ordem de doze bilhõ es, duzentos e quarenta milhõ es de
cruzeiros.384 Entretanto, o governo federal liberou apenas um bilhã o de cruzeiros.
Enquanto isso, o quadro foi-se transformando. As finanças pú blicas eram
saneadas, o setor de serviços começava a ser beneficiado pela presença da Petrobras. A
exploraçã o do grande campo de petró leo no município de Carmó polis (SE), descoberto
em 1963, passava a dar bons resultados. Em fevereiro de 1965 saiu o primeiro
carregamento do ó leo negro para a Bahia e os efeitos da presença da empresa estatal em
Sergipe começavam a ser sentidos na economia interna. Com a promulgaçã o da
Constituiçã o de 1967 e as mudanças da legislaçã o tributá ria, entre as quais a que
alterava o Fundo de Participaçã o dos Estados, Sergipe saiu beneficiado. Desde entã o,
raros foram os anos em que o montante de tais transferências nã o ultrapassava 60% do
total da receita.385 Durante o governo de Lourival Batista (1967-70) já se observava
grande disponibilidade de recursos, como atesta o conjunto de obras construídas, entre
as quais está dio, edifícios, estradas, pontes, viadutos etc.
O saneamento das finanças pú blicas, durante a gestã o do marechal Castello
Branco, e a reorientaçã o do padrã o de investimento nacional, com a fundaçã o de
instituiçõ es financeiras de estímulo à poupança e ao mercado de capitais, contribuíram
para melhorar o quadro econô mico. A partir dos anos setenta, o país passou a viver um
elevado ciclo expansivo e tornou-se possível implementar vá rias políticas, envolvendo
subsídios, incentivos fiscais e investimentos em diversos setores, especialmente na
infraestrutura, dentro de uma conjuntura extremamente favorá vel pela ampla
disponibilidade de petrodó lares. Neste contexto, apostou-se nos capitais financeiros e,
de 1970 a 1974, o PIB cresceu a uma média anual de 11,36%, a inflaçã o beirou a média
de 21%, enquanto a dívida externa aumentava de 5,3 para 17,2 bilhõ es de dó lares. Mas
essa expansã o revelou-se com fô lego curto. A partir de 1974 a inflaçã o, antes reprimida,
passou a elevar-se e novos problemas começaram a preocupar. O governo Geisel (1974-
79) apresentou o II PND, tentando fortalecer o parque produtivo nacional diante da
dinâ mica do capitalismo internacional, mas o preço do petró leo disparou no mercado

384
Idem, 06.08.1964.
385
Ver Ildá cio Viana Guimarã es e Neide Santana. Evoluçã o das Finanças Pú blicas do Estado de Sergipe, 1977-1981 in
Governo do Estado de Sergipe - Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Indicadores da
Conjuntura Sergipana. Aracaju, v. 6, 1982, p. 183-201.
193

internacional, os problemas se acentuaram e nos tempos do general Figueiredo, a


economia viveu grandes dificuldades.
Apesar dessas oscilaçõ es, nos 21 anos de Estado autoritá rio, em Sergipe houve
avanços inéditos em certas atividades produtivas. A lavoura mecanizou-se
consideravelmente. Somente em cinco anos (1975-80) o nú mero de tratores cresceu
67%.386 Os investimentos em insumos modernos ampliaram-se. A produçã o das lavouras
temporá rias bá sicas também se desenvolveu bastante entre 1970-82. As usinas de
açú car persistiram no processo de concentraçã o, resultando em melhoria da tecnologia
e em grande aumento da produçã o. As 18 unidades que produziram 668.012 sacos, por
ocasiã o da safra 1963-64, haviam se reduzido a três na safra de 1981-82, mas, em
compensaçã o, fabricaram 1.922.085 sacos de açú car. No período de 1965-82, a média
anual foi de 1.071.437 sacos.387 Enquanto isso, parte das grandes fortunas dos usineiros
ia se reduzindo no longo processo de incorporaçõ es. Nesse período, fechou a imponente
Usina Pedras dos herdeiros de Gonçalo Rolemberg, que foi incorporada pela Oiteirinhos.
Depois, a pró pria Oiteirinhos foi absorvida pela Sã o José do Pinheiro, que passou
também a controlar outras, inclusive a Central dos parentes Franco.
A laranja, antes cultivada sobretudo nos municípios do sul do Estado, passou por
um surto de crescimento expressivo, estimulado pela boa lucratividade, beneficiando
pequenos e médios produtores dos municípios de Boquim, Arauá , Pedrinhas, Riachã o do
Dantas, Itabaianinha e Umbaú ba.388 O algodã o nã o apresentou bom desempenho. Mas
nem por isso impediu que a indú stria têxtil passasse por um processo de modernizaçã o
mais profundo do que aquele vivido nos anos sessenta. Embora, no conjunto, a produçã o
nã o tenha sofrido grande alteraçã o, sua participaçã o diante dos Estados nordestinos
indicou grande melhora na década de 1970-80. No campo, a energia foi chegando,
eletrificando propriedades rurais e aumentando sua produtividade. A pecuá ria ampliou
seu rebanho enquanto a á rea de pastagens artificiais crescia bastante em detrimento das
naturais. Os trabalhadores com mais de 60 anos passaram a receber aposentadoria
através da criaçã o do FUNRURAL, favorecendo o comércio local.
386
Sinopse preliminar do Censo Agropecuário. Fundaçã o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de
Janeiro: IBGE, 1982, p. 68.
387
IAA Apud Manoel Correia de Andrade. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço - Contribuição à
História das Usinas de açúcar de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990,
p. 28-30.
388
Ver Ana Maria dos Santos. Indústria e Agricultura de Cítricos no Brasil. O Caso de Sergipe 1960-1989. Aracaju:
Fundaçã o Augusto Franco, 1990.
194

No setor terciá rio houve também melhoras considerá veis a partir de 1967. A
implantaçã o da Universidade Federal de Sergipe (1968) ampliou o setor de serviços e
passou a injetar boa soma de salá rios no mercado interno, aumentando o contingente da
classe média. No início dos anos setenta, foi realizada reforma administrativa no setor
pú blico, reestruturando todas as secretarias do Estado, adotando métodos modernos de
gestã o. Reformaram-se as empresas estatais encarregadas dos serviços bá sicos: á gua,
energia, transporte e telecomunicaçõ es. Nestas, a expansã o nacional atingiu o menor
Estado da federaçã o que inaugurava a TV Sergipe em novembro de 1971, integrando a
populaçã o de Aracaju e do interior do Estado nesse sistema de comunicaçã o, operando
uma revoluçã o nos costumes provincianos. Em 1972 foi criada a Telergipe, do sistema
Telebrá s, e, no ano seguinte, o governo assinava com a NEC contrato para instalaçã o de
novo equipamento telefô nico em Aracaju. Somente no período de 1976-84 os terminais
telefô nicos passaram de 8.988 para 30.868.389
No setor secundá rio, foi implantado o Distrito Industrial de Aracaju que atraiu
novos empreendimentos, enquanto o setor da construçã o civil viveu grande expansã o.
Em Sergipe, 87% de todas as aplicaçõ es no setor habitacional, em certo período,
provieram do Banco Nacional de Habitaçã o.390 Aracaju, a capital, era o centro
privilegiado com esses investimentos, que se tornaram responsá veis por acentuado
processo de seu crescimento. Enquanto as casas bancá rias fechavam suas portas em
decorrência das mudanças concentracionistas no sistema financeiro, vá rias empresas de
construçã o civil (Atenco, Norcon, Celi, Cosil, Habitacional, entre outras) nasciam e/ou
prosperavam trazendo consequências significativas nã o apenas para a economia, mas
também para a política, inclusive pela influência crescente nos pleitos eleitorais. A
Norcon dos irmã os Teixeira e a Celi de Luciano Barreto aparentemente eram as que mais
cresciam. Entre os grupos empresariais do passado, alguns continuaram influentes como
Constâ ncio Vieira, H. Dantas, Calumby Barreto, os Leite de Estâ ncia, entre outros, mas
nenhum deles prosperou como o grupo comandado por Augusto do Prado Franco.
Quanto à indú stria extrativa, novos poços de petró leo foram sendo descobertos,
projetando Sergipe nacionalmente. As pesquisas sobre minerais revelavam a existência

389
Wanderley Guilherme dos Santos (coord.). Que Brasil é Este? Manual de Indicadores Políticos e Sociais. Rio de
Janeiro, IUPERJ/Vértice, 1990 p. 126-128.
390
Governo do Estado de Sergipe. I Plano de Desenvolvimento Econômico e Social: 1976-79. Salvador: CONDESE
/Bureau Grá fica Editora, s/d, p. 311.
195

no subsolo sergipano de milhõ es de toneladas de vá rias substâ ncias de grande


importâ ncia (potá ssio, salgema, enxofre, carnalita, halita, taquidrita, magnésio, entre
outras).391 Diante da magnitude das reservas do pequeno Estado, a Petrobras transferiu
seu escritó rio de Alagoas para Sergipe, construiu o terminal petrolífero de Tecarmo em
Aracaju, realizando investimentos que tiveram grande impacto na economia local. Em
face desse potencial, o governo Geisel, dentro da filosofia do II PND, autorizou a
implantaçã o de duas grandes plantas industriais em Sergipe: a Petrobras Mineraçã o S/A
(Petromisa) em 1976 e a Fertilizantes Nitrogenados do Nordeste (Nitrofértil) em 1978.
Nesta, que depois seria denominada de FAFEN, a Petrobras teria investido nas décadas
de setenta e oitenta cerca de US$ 250 milhõ es e na construçã o da Mina de Potá ssio um
bilhã o e duzentos milhõ es de dó lares.392 Foi um impacto extraordiná rio na pequena
economia sergipana. Milhares de empregos foram gerados (envolvendo os diretos e
indiretos) com amplas consequências econô micas e sociais.
Especialmente a partir dos anos setenta, o Estado passou por um grande surto de
crescimento, superando o desempenho nacional e o do Nordeste, conforme mostra o
quadro seguinte:

391
Ver Aloísio de Campos. Jornal de Sergipe, 10 e 11.10.1982. Ver também Jornal da Cidade, 19.12.1973.
392
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Contribuição da Petrobras para o Desenvolvimento do Estado de Sergipe.
Palestra no ciclo de conferências Pensar Sergipe III, UFS, novembro/2001.
196

QUADRO VIII
Variaçã o Anual do Produto Interno Bruto (Sergipe, Nordeste e Brasil - 1971-1982)

ANO PIB PIB PIB


SERGIPE 1
NORDESTE 1
BRASIL 2
1971 19,3% 25,4% 11,3%
1972 10,9% 5,9% 12,1%
1973 21,6% 11,3% 14,0%
1974 0,5% 1,6% 9,0%
1975 8,5% 8,5% 5,2%
1976 9,0% 7,0% 9,8%
1977 13,1% 8,9% 4,6%
1978 6,6% 10,5% 4,8%
1979 10,7% 7,2% 7,2%
1980 3,6% 2,9% 9,1%
1981 3,2% -0,7% -3,1%
1982 11,9% 10,5% 1,1%
Média 9,90% 7,5% 7,09%

Fontes:
1. Boletim Conjuntural do Nordeste do Brasil, n. 2, Recife: SUDENE; FUNDAJ, 1994, p. 242.
2. Marcelo de Paiva Abreu (org). A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econô mica
Republicana, 1889/1989. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 408.

Nã o deixou de contribuir para a fase de prosperidade a forma de administrar essa


disponibilidade de recursos. A preexistência do CONDESE com sua burocracia
selecionada, apesar da soberba e das ilusõ es da tecnoburocracia, promoveu estudos
prévios fundamentais e tornou as orientaçõ es econô micas governamentais mais
racionais e continuadas. O fato é que a economia estadual deixava de ser
predominantemente agroexportadora. Em 1985, a participaçã o de Sergipe no PIB do
Nordeste ocupava o quarto lugar, abaixo apenas da Bahia, Pernambuco e Ceará .393
Por esse tempo, as condiçõ es de vida da populaçã o se modificavam com a
ampliaçã o do uso da eletricidade e de outros indicadores de bem-estar. Os domicílios
particulares permanentes com luz elétrica aumentaram de 19,20% (1960) para 51,44%
(1980), o segundo índice mais elevado entre os Estados do Nordeste. Da mesma forma,

393
Cf. Dados elaborados para a pesquisa “Desenvolvimento Capitalista no Nordeste Brasileiro. Estudo Comparativo das
Trajetórias Estaduais” por Ricardo Oliveira Lacerda de Melo, com base em dados do DPG/SUDENE.
197

o nú mero de residências com abastecimento de á gua cresceu de 6,60% (1960) para


40,89% (1980), tornando Sergipe, proporcionalmente, o Estado com maior índice da
Regiã o.394 Enquanto isso, a classe média ia modificando suas formas de comportamento
com a expansã o do consumo, resultando em maior convivência com os bens durá veis.
Somente na década de 1970 para 1980 o nú mero de automó veis foi multiplicado por 4,6,
e o de geladeiras por 3,8.395 Transformaçõ es enormes aconteciam também na á rea de
comunicaçõ es. Além dos telefones, os aparelhos de TV multiplicavam-se ano a ano,
formando opiniõ es, alterando atitudes, influenciando as pessoas em suas crenças e
valores. Novas exigências de consumo foram se incorporando ao cotidiano das classes
média e alta. Era o processo de modernizaçã o que se ampliava na sociedade sergipana,
decorrente do referido ciclo expansivo. A economia prosperava, mas seus frutos nã o se
disseminaram com a abrangência que seria de esperar. A concentraçã o de riqueza
cresceu. A renda dos 10% mais ricos acentuou-se numa proporçã o superior à tendência
nacional. Em contrapartida, os 60% mais pobres de Sergipe, que em 1970 detinham
24,9% da renda, tiveram sua situaçã o proporcionalmente reduzida mais ainda do que a
nacional.396 O modelo de desenvolvimento pelo alto, ou seja, através do Estado, revelou-
se incapaz de distribuir melhor os seus benefícios. Numa sociedade sob controle político
mais acentuado, coincidentemente ou nã o, o fenô meno se manifestava com maior
nitidez.
Outro indicador bastante expressivo dos limites sociais do ciclo expansivo foi a
permanência do analfabetismo. O índice de analfabetos entre as pessoas de cinco anos
ou mais, que em 1970 era de 58%, em 1980 continuava ainda na ordem de 52,88%, ou
seja, excessivamente elevado.397 A campanha de alfabetizaçã o do MOBRAL, tudo indica
que teve eficá cia reduzida. A expansã o do ensino do terceiro grau nã o foi acompanhada
pelo primeiro. Além disso, grande parcela da populaçã o vivia com o salá rio mínimo, o
nível de produtividade das propriedades rurais e as relaçõ es de trabalho deixavam
muito a desejar. Nas cidades, inclusive na capital, Aracaju, as condiçõ es sanitá rias
estavam a merecer melhor atençã o. O percentual de casas com esgoto e fossa séptica
394
Wanderley Guilherme dos Santos (coord.). Que Brasil é este: Manual de Indicadores Políticos e Sociais. Sã o Paulo:
Vértice/ Rev. Tribunais, 1990, p. 106-128.
395
Governo do Estado de Sergipe. Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP). Indicadores
Sociais de Sergipe. Aracaju, v. 3, 1981, p. 152.
396
Cf. J. Ricardo de Santana. Crescimento Econômico e Distribuição de Renda em Sergipe: 1970-88. Aracaju, UFS. Dados
dos Censos Demográ ficos 1970, 1980 e PNAD de 1988.
397
Cf. Censos de 1970 e 1980.
198

continuava bem pequeno, abaixo de vá rios Estados da Regiã o. Eram indicaçõ es de que o
desenvolvimento nã o se estendia como seria de esperar.
No plano nacional, as reformas na economia nã o foram suficientes para resistir à s
oscilaçõ es da economia internacional. A expansã o interna firmada no sistema financeiro
e no endividamento externo ampliou sua vulnerabilidade. Em fins de 1973, quando
surgiu o primeiro choque do Petró leo, quadruplicando seus preços, o governo Médici,
imbuído de ufanismo, ignorou seus efeitos, considerando o Brasil como uma ilha de
prosperidade. O presidente Geisel continuou na mesma tendência, aprofundando a
orientaçã o estatista, mas, com os choques externos, o país entrou em crise e passou a
vivenciar sucessivas dificuldades no tempo do general Figueiredo, que deixou para os
civis um legado problemá tico.
Quanto ao movimento sindical, a vitó ria dos militares, através da
contrarrevoluçã o de 1964, resultou na sua imediata desarticulaçã o. A ideia de que as
centrais sindicais, especialmente o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), seriam
capazes de parar o país e impedir qualquer açã o contra seus interesses nã o se
concretizou.
Como nos demais Estados, em Sergipe a maioria dos líderes foi presa. Aqueles
que conseguiram fugir ingressaram em esquemas de clandestinidade. Mas vá rios deles
terminaram sendo alcançados e responderam a processo. O CGT foi extinto e os
sindicatos deixaram de atuar politicamente. Nos idos de 1964-65 pelo menos quatro
entidades passaram a sofrer intervençã o. A intensa mobilizaçã o política foi estancada.
Era tempo de resistência, quando os sindicalistas procuravam conviver com as
adversidades. Internamente o movimento arrefeceu. Como a vida associativa tornou-se
suspeita, muitos só cios afastaram-se de sua instituiçã o e as atividades sindicais
decaíram. Mas, a partir de meados de 1966, estimulados pelo quadro político nacional de
expressã o de descontentamentos, foi-se retomando alguma tímida animaçã o. Em meio
ao crescimento do movimento estudantil, à atuaçã o de membros da Igreja Cató lica e dos
partidos de esquerda, os protestos foram se generalizando contra as políticas
governamentais, envolvendo cada vez maiores parcelas das classes subalternas. A
situaçã o atingiu o clímax em 1968 com novas agitaçõ es políticas. As greves de Contagem
(MG) e Osasco (SP) apesar de reprimidas, mostraram inovaçõ es no movimento sindical,
199

repercutindo no Estado através de inquietaçõ es tanto nas cidades como no campo. Mas
logo a ediçã o do AI-5 instaurou novo ciclo repressivo. Em Sergipe, pelo menos três
sindicatos voltaram a sofrer intervençõ es e novas prisõ es foram encetadas, inclusive de
trabalhadores. Além do mais, os processos iniciados em 1964 contra as lideranças
sindicais foram agilizados e prolatadas as sentenças. A maioria dos indiciados
permaneceu em liberdade, mas seis deles cumpriram cinco meses de detençã o em
presídio de Salvador (BA).
A partir de 1974, com o desencadeamento do processo de distensã o, entre
avanços e recuos, o clima político começou a mudar. Mas a repressã o ainda demonstrava
vigor. Em Sergipe novas prisõ es de militantes de PCB, acompanhadas de torturas,
voltaram a acontecer no primeiro semestre de 1976, frutos da denominada Operaçã o
Cajueiro. Apesar do ambiente de certa insegurança, no campo e na cidade, a
movimentaçã o foi crescendo.
Por esse tempo, o índice de urbanizaçã o aumentava. Recorde-se que, no curso das
duas décadas, a populaçã o de Sergipe nã o chegou a dobrar, mas aumentou em cerca de
75%. Ocorreu grande deslocamento do setor rural para o urbano de tal forma que os
habitantes das cidades passaram a ser maioria, conforme mostram os dados abaixo.

QUADRO IX
SERGIPE - POPULAÇÃ O RESIDENTE (1960 e 1980)

Ano Rural Urbana Total


No % No % No
1960 462.327 61% 289.929 39% 752.256
1980 522.325 46% 617.796 54% 1.140.121

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: Fundaçã o IBGE, 1984, p. 80.

Em 1960, Sergipe era um Estado de predominâ ncia agrá ria nã o apenas porque
61% dos seus habitantes viviam no meio rural, mas também porque nada menos de
68,53% dos cidadã os economicamente ativos estavam ocupadas no setor primá rio,
enquanto o secundá rio absorvia apenas 8,70%. Vinte anos depois, esta estrutura
produtiva, típica de regiã o subdesenvolvida, havia se modificado consideravelmente. Os
200

que estavam no setor primá rio haviam baixado para 42,35% e os do secundá rio
simplesmente duplicaram, chegando a 17,34%.398 Apesar dessa diminuiçã o de
importâ ncia do setor rural, os descontentamentos persistiam, mesmo porque sobretudo
nos anos setenta verificou-se uma certa concentraçã o da propriedade, pois o aumento
do nú mero de estabelecimentos foi bem menor do que a expansã o da á rea ocupada.399
Embora o regime autoritá rio tenha abafado o movimento pela reforma agrá ria do
início dos anos sessenta, aqui e acolá apareciam sinais de descontentamentos. Pelos idos
de 1968 alguns incidentes sociais levaram setores da Igreja Cató lica, sob a liderança do
seu arcebispo D. Luciano Duarte, a implantar a Promoçã o do Homem do Campo de
Sergipe (PRHOCASE), que, no curso de dez anos (1967-1977), adquiriu fazendas nos
municípios de Maruim, Santa Rosa de Lima, General Maynard, Santo Amaro das Brotas e
Divina Pastora que foram entregues a trabalhadores sem terra.400 Pelos idos de 1978,
começaram a eclodir conflitos em municípios à s margens do Sã o Francisco sob a
jurisdiçã o do bispado de Propriá , onde a Comissã o Pastoral da Terra (CPT) agia atuante.
Tanto a fazenda de Santana dos Frades, reivindicada pelos posseiros, quanto as terras da
Ilha de Sã o Pedro, pleiteadas pelo grupo indígena Xocó , terminaram em
desapropriaçã o.401 Essas lutas vitoriosas estimularam novas iniciativas que haveriam de
prolongar-se por bastante tempo. A essa altura o pró prio crescimento do nú mero de
sindicatos indicava a intensificaçã o da organizaçã o dos trabalhadores rurais como
nenhuma outra categoria.

398
Wanderley Guilherme dos Santos (coord.). Que Brasil é este: Manual de Indicadores Políticos e Sociais. Sã o Paulo:
Vértice/ Revista dos Tribunais, 1990, p. 32 e 34.
399
Ver Censos, 1970 e 1980.
400
Cf. Maria Luisa Souza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In: Movimentos. Aracaju, ano 1, n.
1, julho/1995, p. 10; Rosemiro Magno da Silva e Eliano Sérgio Azevedo Lopes. Ob. Cit., 1996, p. 98; Alexandre Diniz. A
Condição Camponesa em Sergipe. Desigualdade e Persistência da Agricultura Familiar. Aracaju: NPGEO/UFS, 1996, p.
55.
401
Ver Beatriz Gó is Dantas e Dalmo Dallari. Terra dos Índios Xocó. São Paulo: Comissã o Pró -Índio, 1980.
201

QUADRO X
NÚ MERO DE SINDICATOS - SERGIPE

Ano Profissionais Liberais Autô nomos Rurais Total


1974 23 01 04 39 67
1981 23 01 04 65 93

Fonte: ISTOÉ, 26.08.1981, p 71.

Enquanto no campo os trabalhadores se organizavam em sindicatos, sob a


orientaçã o da FETASE, passando de 48.311 (1975) para 81.332 sindicalizados (1980),
no meio urbano através dos setores secundá rios e terciá rios, os registrados em
sindicatos cresciam de 10.280 (1975) para 20.102 (1980). 402 Era um indício salutar do
nível de participaçã o que se ampliava. Nas grandes cidades os grupos políticos mais
ativos mobilizavam-se e criavam nú cleos de açã o, a exemplo do que ocorria em outras
regiõ es. Dessa forma, nasceu o Movimento Feminino pela Anistia no final de 1978 e, no
ano seguinte, a Sociedade Sergipana pelos Direitos Humanos. Era um momento de
retomada das atividades político-sociais. Tendo sido anunciado o fim do bipartidarismo,
as articulaçõ es para formaçã o de novas siglas se intensificaram, agitando o mundo
político. Os estudantes de Sergipe participaram do histó rico congresso da UNE em
Salvador (1979), reorganizando a entidade proscrita pelos militares. Nã o obstante o
clima de tensã o, as atividades foram retomadas em ambiente de muita animaçã o. Na
pró pria UFS, ainda em 1979, surgia a primeira greve.
No campo sindical, o movimento foi adquirindo maior densidade com as açõ es
dos trabalhadores da indú stria extrativa. O Sindipetro SE/AL desencadeou campanhas
salariais orientadas pelo perfil do novo sindicalismo, nascido em Sã o Paulo, valorizando
o trabalho de base. Ao lado da associaçã o dos petroleiros, o funcionamento da Fá brica da
NITROFÉ RTIL (Nitrogenados Fertilizantes do Nordeste Ltda.) a partir de 1982 ensejava
a organizaçã o de novo sindicato forte e combativo que haveria de se manifestar nos anos
subsequentes. É verdade que as atividades sindicais continuavam restritas à situaçã o
profissional, condiçõ es de trabalho e salá rios, mas o Congresso Nacional da Classe

402
Cf. Governo de Sergipe. Seplan/INEP. Indicadores Sociais de Sergipe. 1981. Aracaju, v. 3, 1981, p. 180.
202

Trabalhadora (CONCLAT), realizado em Sã o Paulo em 1981, agrupando diversas


tendências de 17 Estados, foi um grande prenú ncio de que as centrais sindicais estavam
renascendo apó s longos anos proscritas. Como decorrência, nos vá rios Estados os
grupos sindicais ampliaram as discussõ es e tenderam a dividir-se, conforme se verá na
parte V.

4.3 Manifestações Culturais

O período 1964-1982 foi marcado pela predominâ ncia do Estado, em meio a uma
contínua tensã o com a sociedade, inclusive com alguns setores artísticos.
Ao tempo em que os militares tentavam reorientar a política e a economia,
empenhavam-se também em estabelecer novos padrõ es para o setor cultural. Mas esse
processo ocorreu dentro de relacionamento difícil entre Estado e sociedade, sobretudo
pelas desconfianças de setores intelectualizados em relaçã o à s decisõ es que provinham
do governo central. Diante da repressã o, os grupos organizados da sociedade ligados à
esquerda passaram a reagir.
Na á rea educacional, como o movimento estudantil permaneceu insubmisso, o
MEC passou a implementar uma série de normas, visando coibir as atividades
promovidas pelos estudantes. Basta lembrar a intervençã o na Uniã o Estadual dos
Estudantes de Sergipe (UEES), a extinçã o da UNE e a famosa “Lei Suplicy”, nascida com a
pretensã o de despolitizar o movimento estudantil. Foi nesse clima de tensã o que se
desenvolveu a discussã o sobre a criaçã o da Universidade em Sergipe. Como as pessoas
mais ligadas à administraçã o do Estado propunham o modelo de Fundaçã o, segundo a
orientaçã o do MEC, em contraposiçã o, alguns setores de esquerda advogavam a forma
autá rquica, gerando debates por vezes acirrados, até quando foi criada em 28.02.1967,
seguindo a orientaçã o oficial. A instalaçã o festiva ocorreu em 15.05.1968, quando a
representaçã o estudantil nã o teve direito ao uso da palavra.403
Apesar desses problemas iniciais, a chegada da UFS indicava um novo momento
no ensino superior de Sergipe. As faculdades até entã o existentes foram agrupadas
dentro de uma orientaçã o geral, com estrutura de apoio e disponibilidade de recursos.
403
Ver Gazeta de Sergipe, 16.05.1968.
203

Acabou-se a fase heroica. Os professores que lecionavam com proventos simbó licos
passaram a receber salá rios condizentes com a profissã o. As possibilidades de
reciclagem ampliaram-se. Os Centros passaram a organizar seminá rios e cursos com
especialistas de fora. A UFS integrou-se no Programa Nacional de Incentivo à
Capacitaçã o Docente (PICD) em convênio com a CAPES. A partir dos anos setenta, vá rios
professores e alunos recém-formados começaram a deslocar-se para centros maiores a
fim de cursarem mestrado ou doutorado, gerando dissertaçõ es e teses nos vá rios
campos de saber, ampliando o conhecimento teó rico e empírico. Novos cursos foram
criados dentro da filosofia de conjugar o ensino, a pesquisa e a extensã o. Buscou-se a
promoçã o de determinadas comunidades consideradas carentes, incentivando o
aprendizado de artes e ofícios. Os professores, com o apoio do Estado, intervieram nos
arquivos e procuraram retirá -los do abandono, recuperando um patrimô nio cultural dos
mais expressivos. Em 1981 a Universidade Federal transferiu-se para seu campus amplo
e moderno. As matrículas em cursos superiores que eram 336 (1962), vinte anos depois
a maior parte delas estava concentrada na UFS, que inscrevia 5.035 alunos (1982). 404 De
1967 a 1982 a referida instituiçã o graduou 5.860 estudantes de diversos cursos. Enfim,
nã o obstante o clima nebuloso em que o país vivia com a tutela militar, a iniciativa era
importante. Por esse tempo, começam a funcionar também os cursos superiores da rede
particular. Em fevereiro de 1972, apareceu a Faculdade Pio X com o curso de Pedagogia
e em julho do mesmo ano despontava as Faculdades Integradas Tiradentes para ofertar
Administraçã o e Direito.
No ensino médio, grandes colégios foram construídos em diferentes bairros da
capital e em alguns municípios, atendendo à demanda da mocidade que pretendia
prosseguir nos estudos. Para diminuir o analfabetismo dos adultos foi criado o MOBRAL,
com êxito menor do que se esperava. Apesar disso, se tomarmos os anos de 1962 e 1982
como referências, verificamos que a soma das matrículas dos dois primeiros graus
cresceu de 91.148 para 293.829 alunos, ou seja, multiplicou-se por 3,6.405
Na esfera nacional, apesar de submetidos à repressã o, os grupos de esquerda
continuaram mantendo uma certa hegemonia cultural até 1968, quando o divó rcio entre
404
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 407-411 e Dados fornecidos pela
UFS.
405
Problemas de Base do Estado de Sergipe. Aracaju: FIES/CONDESE, 1965, v. II. p. 407-411 e Indicadores Sociais de
Sergipe. Aracaju, v. 7, INEP, 1985, p. 21-23. Observe-se, no entanto, que o contingente do segundo grau nã o chegava a
9% do primeiro grau, indicando como era restrita a formaçã o dos jovens ainda na década de 1980.
204

Estado e a sociedade acentuou-se e a radicalizaçã o das partes levou à ediçã o do AI-5. 406
Foi nesse contexto que nasceram dois projetos do regime autoritá rio. O primeiro era
patrocinado pela Escola Superior de Guerra e o segundo via Conselho Federal de
Cultura.
Estando os partidos em suspeiçã o, sob a vigência do AI-5, a soluçã o encontrada
foi selecionar quadros e aprimorá -los, através de uma orientaçã o considerada sadia,
dentro dos preceitos da Doutrina da Segurança Nacional. Em vá rias unidades
federativas, foram criadas Delegacias da Associaçã o dos Diplomados da Escola Superior
de Guerra (ADESG), que atuavam nos Estados como agências de recrutamento e
formaçã o de pessoal, sob inspiraçã o e influência da Escola Superior de Guerra, de
conformidade com os padrõ es do Estado Autoritá rio, centralizado, controlado pelas
Forças Armadas e administrado pela tecnocracia.
Em Sergipe, a ADESG foi estruturada e contou com participaçã o da grande parte
das autoridades do Estado, passando, a partir de 1971, a promover seus cursos que, nos
primeiros anos, foram muito procurados. Funcioná rios pú blicos, profissionais liberais,
empresá rios de níveis culturais heterogêneos empenharam-se para serem indicados.
Apó s triagem efetuada pelo 28o BC, era exigido dos inscritos frequência à s palestras,
visitas a campo e apresentaçã o de trabalho final. Com esses cursos os militares
esperavam preparar seus quadros para preencher os cargos político-administrativos ao
tempo em que esvaziavam o sistema representativo no qual a seleçã o dos políticos se
processava pelos partidos e pelo eleitorado. Foi desses estudos da Associaçã o dos
diplomados da Escola Superior de Guerra (ESG), como agência ideoló gica da sociedade
política, que nasceu a ideia da introduçã o de Moral e Cívica como disciplina obrigató ria
no segundo grau e Estudos de Problemas Brasileiros no terceiro grau.
O segundo projeto militar voltou-se para oferecer uma política cultural para o
país no sentido de integrar a naçã o no novo processo de desenvolvimento em curso.
Desde a instalaçã o do Conselho Federal de Cultura (CFC), em 1966, composto por
intelectuais de prestígio nacional, começaram as sugestõ es para a elaboraçã o de um
projeto cultural. Alguns conselhos estaduais de cultura foram formalmente criados,
inclusive o de Sergipe em 1970. 407 A exemplo do que ocorrera durante o Estado Novo

406
Cf. Roberto Schwarz. O Pai de Família e outros Estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
407
Ver Governo de Sergipe. Plano Estadual de Educação e Cultura (1971-1974). Aracaju: SEC, 1970.
205

(1937-45), a preocupaçã o com o patrimô nio histó rico nacional entrou na pauta,
associada ao incentivo à s criaçõ es artísticas, inclusive à s tradiçõ es populares, ligadas ao
folclore, de forma a favorecer o turismo.408
Entretanto, o quadro das instituiçõ es ligadas à cultura era precá rio,
especialmente no interior do Estado. Levantamento de 1970 registrou que apenas 16
dos 74 municípios dispunham de bibliotecas. A maioria pertencia a colégios e apenas
quatro eram municipais. Museu somente havia em Sã o Cristó vã o. Jornal somente em
Capela. Nenhum deles dispunha de revista.409 Na verdade, desde os anos trinta as
cidades do interior vinham se esvaziando culturalmente enquanto cresciam as
atividades da capital, onde, segundo levantamento efetuado pelo Departamento de
Cultura e Patrimô nio Histó rico, em 1970, havia nove entidades culturais:
1. Academia Sergipana de Letras (ASL)
2. Academia Sergipana de Poesia (ASP)
3. Associaçã o de Teatro Amador de Sergipe (ATAS)
4. Associaçã o Sergipana de Cultura (ASC)
5. Clube do Cinema de Sergipe (CCS)
6. Clube Estudantil de Geologia Amadorista de Sergipe (CEGAS)
7. Clube Sergipano de Poesia (CSP)
8. Editora Jovens Reunidos (JOVREU)
9. Grupo de Teatro e Arte (CULTURART)

A orientaçã o da política cultural nacional começou a repercutir de forma efetiva


em Sergipe na gestã o de Joã o Andrade Garcez (06.1970 a 15.03.71), quando o
Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico (DCPH)410 e o Conselho de Cultura
passaram a funcionar subordinados à Secretá ria de Educaçã o. Com esse aparato
institucional, algumas providências importantes foram encetadas. O acervo do Arquivo
Pú blico do Estado de Sergipe (APES), que estava amontoado no prédio da velha Escola
Normal em condiçõ es por demais precá rias, foi transferido para uma sede condigna,
passando a ser classificado com orientaçã o de técnico do Arquivo Nacional e a

408
Ver Sérgio Miceli (org). Estado e Cultura no Brasil. Sã o Paulo: Difel, 1984.
409
Cf. levantamento promovido pelo Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe, 1970.
410
O Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico (DCPH) foi criado pelo Decreto-Lei nú mero 405 de 08.04.1970.
Cf. Diário Oficial do Estado de Sergipe, 10.04.1970.
206

cooperaçã o de professores e alunos da UFS. Por esse tempo, os monumentos histó ricos
do Estado foram vistoriados e fotografados, servindo de bases aos relató rios enviados ao
Instituto do Patrimô nio Histó rico Nacional com vista à sua restauraçã o.
A cidade de Laranjeiras foi elevada à condiçã o de Cidade Monumento (1971).
Começou-se a planejar a sua restauraçã o e utilizaçã o com fins turísticos, ideia reforçada
pelo entã o ministro da Educaçã o que, em visita à velha cidade, chamou-a de “Museu a
Céu Aberto”. Depois de tombada, foi incluída no Programa Integrado de Reconstruçã o de
Cidades Histó ricas do Nordeste (1973) e teve vá rios de seus prédios recuperados, ao
lado de algumas Igrejas de outras localidades. No período de 1970-1982, é de ressaltar
que 23 bens culturais foram tombados pelo Estado.411 Na década de 1970 a Biblioteca
Pú blica estadual ganhou nova sede, com vá rias salas para atividades auxiliares, mas
espaço pequeno para o acervo bibliográ fico.
Essa preocupaçã o com o patrimô nio avançou para o campo dos museus. Até
entã o existiam apenas o Museu Histó rico de Sã o Cristó vã o, um pequeno acervo no
Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe e as coleçõ es particulares. Convênio firmado
entre o governo do Estado, a Arquidiocese e a UFS criou o Museu de Arte Sacra de Sã o
Cristó vã o (1973), reunindo peças de grande valor, passando a ser liberado à visitaçã o
pú blica. Nesse mesmo ano, em Laranjeiras, foi inaugurada a Casa de Joã o Ribeiro em
homenagem ao grande historiador filho da terra. Nesta cidade, em 1976 foi criado
oficialmente o Museu Afro-brasileiro, abrigando mobiliá rio, instrumentos de trabalho e
de castigos aplicados aos escravos e uma variedade de outras peças relacionadas com a
presença negra. Em 1978 Laranjeiras ganhou também seu pró prio Museu de Arte Sacra
enquanto o Departamento de Antropologia da UFS organizava seu acervo que funcionou
provisoriamente como Sala de Cultura Popular. Embora com espaço exíguo, os
professores da á rea estiveram a promover diversas exposiçõ es educativas com variadas
temá ticas. Em inícios da década de 1970, o Departamento de Cultura e Patrimô nio
Histó rico (DCPH) promoveu levantamento dos grupos folcló ricos no Estado.412 Pouco
depois, professores do Departamento de Histó ria da UFS, com apoio de magistrados,
começaram a recolher documentos cartoriais em vá rios municípios de Sergipe,

411
Cf. Verô nica Maria Meneses Nunes. Laranjeiras: de cidade histórica a encontro cultural. Busca de elementos para
integraçã o da açã o cultural. Dissertaçã o de Mestrado em Administraçã o de Centros Culturais da Universidade do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro, 1993, anexo 9A, p. 118-122.
412
Ver Terezinha Alves de Oliva (Coord). Manifestações da Lúdica Folclórica em Sergipe. Aracaju: SEC/DCPH, 1975.
207

possibilitando mais tarde (1984) a criaçã o do Arquivo do Judiciá rio. Essa sequência de
atos buscando salvar e organizar o acervo documental, preservar imó veis
representativos de nossa arquitetura do passado, bem como a reuniã o de peças raras em
museus e o levantamento de manifestaçõ es culturais e das tradiçõ es orais, foi possível
pela existência de uma intelectualidade com sensibilidade para aproveitar os recursos
pú blicos, mesmo numa época de obscurantismo político.
A disponibilidade de incentivos serviu também para dinamizar outros setores
culturais. Diante da programaçã o do sesquicentená rio da independência do Brasil
(1972), foi organizado, pela UFS, um Festival de Arte em Sã o Cristó vã o, sob os auspícios
do mecenato da administraçã o federal, incentivando vasto espectro de grupos artísticos:
orquestras, corais, jograis, ballet, teatro, folcló ricos e toda a espécie de apresentaçã o.413
Nã o obstante a atuaçã o da censura bastante ativa, cerceando produçõ es, o
empreendimento provocou também estímulos apreciá veis. Em face dessa iniciativa
revestida de êxito, que passou a repetir-se anualmente por cerca de duas décadas, a
partir de 1976 a Secretaria de Educaçã o, com apoio do Departamento Cultural do
Ministério de Educaçã o, esteve a promover regularmente o Encontro Cultural de
Laranjeiras com a presença de estudiosos da cultura popular de vá rios Estados.
Enfim, os diversos segmentos ligados à cultura, tanto na esfera nacional como na
local, se inseriram na nova orientaçã o cultural, aproveitando os recursos federais. Era
um momento em que a economia encontrava-se em franco crescimento e o Estado
beneficiava-se das políticas oficiais como nunca havia ocorrido em outro período da
Repú blica. Enquanto isso, os militantes de esquerda, cada vez mais debilitados, em face
da repressã o, perdiam espaço. Os divergentes iam diminuindo. Uma das instituiçõ es que,
de alguma forma, mais resistiu foi a Igreja Cató lica, mesmo assim marcada pela divisã o.
Enquanto o arcebispo d. José Tá vora teimava em implementar seus trabalhos voltados
para o social, o bispo auxiliar de Aracaju, d. Luciano Cabral Duarte, cada vez mais
integrado no staff do governo federal, inclusive como membro do Conselho Federal de
Educaçã o, buscava harmonizar a Igreja com a orientaçã o militar. Mas, apó s muitas
divergências internas, o arcebispo faleceu, em abril de 1972, caindo mais uma
resistência à orientaçã o conservadora. Seus auxiliares estrangeiros que trabalhavam em

413
Ver Antô nio Fernando de Araujo Sá . O I FASC e a Política Cultural do Estado Autoritá rio. Cadernos da UFS. História
1. Aracaju, UFS, Dep. de Histó ria/EDUFS, 1995.
208

vá rias paró quias foram-se embora, restando de divergente apenas o bispo de Propriá , d.
José Brandã o de Castro, um tanto afinado com a doutrina da Teologia da Libertaçã o.
De qualquer forma, tanto o aporte de recursos federais quanto a ajuda de ó rgã os
locais, como o BANESE, o governo do Estado, através do DCPH, da EMSETUR e da SEC, e
a Prefeitura da capital incentivaram as iniciativas culturais e artísticas sem precedentes
em nossa histó ria. O Executivo estadual em 1975, através da lei 1962, instituiu o Fundo
de Promoçã o Cultural, mas ficou carecendo de regulamentaçã o e, portanto, sem eficá cia
jurídica. Os benefícios da administraçã o estadual viabilizaram-se através de obras
específicas a partir de demandas circunstanciais, entre as quais a publicaçã o de livros.
A mú sica instrumental e a de câ mara ganharam uma nova sede de sua escola em
1970 com 32 salas, auditó rio, biblioteca e discoteca.414 O nú mero de alunos, que
geralmente era pequeno, cresceu muito, atingindo cerca de 400.415 Organizou-se
orquestra pró pria, tudo contribuindo para os estudos de mú sica prosperarem. É verdade
que a maioria das bandas do interior a essa altura havia fenecido. Em Aracaju, entre
dificuldades continuavam ensaiando e tocando a do 28o BC, do Corpo de Bombeiros, da
Escola Normal e da Assembleia de Deus.416 Por esse tempo a UFS organizou seu pró prio
coral e a Escola Técnica de Sergipe sediou o I Encontro de Corais de Escolas Técnicas.
Vá rios pianistas, violonistas, sopranos ganharam projeçã o e proporcionaram aos seus
ouvintes embevecimento e emoçã o.
Quanto à mú sica popular, prosperou ainda mais. Diante do potencial
preexistente, a realizaçã o dos festivais da Mú sica Popular Brasileira, na TV Record,
alcançou repercussã o extraordiná ria em todo o país.417 Num momento de mobilizaçã o
política, certas letras tornaram-se uma forma de expressã o das mais eficientes na luta
contra o regime autoritá rio. Movidos ou nã o por motivos políticos, os jovens voltavam-
se para mú sica como grande atraçã o. Em Sergipe, uma das mais eloquentes reproduçõ es
desse movimento nacional foi a realizaçã o do I Festival da Cançã o no Colégio Atheneu
em 1969, despertando vocaçõ es e interesses sobretudo por parte dos jovens. Dentro
desse clima propício, os grupos artísticos foram proliferando, em meio à vontade de
414
Cf. Maria de Andrade Gonçalves. O Processo de Formaçã o e as Manifestaçõ es Culturais. In: Diana Maria de Faro Leal
Diniz (coord). Textos para a História de Sergipe. Aracaju: UFS/Banese, 1991, p. 282.
415
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens, Aracaju, Jovreu, Ano IV, n. 20, 1970, p. 19.
416
Cf. Leozírio F. Guimarã es. Ob. cit., 1970, p. 19.
417
A repercussã o assumiu maiores dimensõ es a partir do festival de 1966, quando duas mú sicas de protesto
Disparada e Para Dizer Que Não Falei de Flores ganharam a simpatia do pú blico, mas nã o venceram, gerando debate
generalizado.
209

apresentar-se com o fim de revelarem seus talentos. Nesse sentido, os festivais ou


mostras que se sucediam, promovidos por colégios particulares, escolas pú blicas e
outras entidades, representavam oportunidades favorá veis. Numerosas bandas foram
despontando, a maioria das quais com nomes agressivos: Comanches, Apaches, Águias,
Samurais, Vikings, Los Guaranis, The Thop’s, Brasa 10, realizando intercâ mbio,418 criando
ambiente excitante e fecundo. Como os festivais ocorriam periodicamente, os mú sicos
partiram para as apresentaçõ es de seus pró prios shows, galvanizando um pú blico
crescente. Alguns começaram a criar suas pró prias letras e melodias, enquanto vá rias
interpretaçõ es foram-se afirmando como referências estaduais e regionais. Alguns
discos, LP ou compacto duplo, começaram a ser gravados, entre os quais Retrato de
Aracaju com letra de Hugo Costa e algumas mú sicas de Maria Olívia, interpretadas por
Agildo Alves. Roberto Alves, líder do Conjunto R Som 7, também lançou seu disco. Dois
outros compactos duplos apareceram gravados pelos grupos Bolo de Feira e Meu
Papagaio.419 O forró também se expandiu com o maior reconhecimento da mú sica de
Luiz Gonzaga.
Na dança, algumas casas, dedicadas ao ballet, abriram-se em Aracaju voltadas
sobretudo para jovens, ensinando coreografias ritmadas com técnicas cada vez mais
aprimoradas. No período 1965-1969, funcionou a primeira Escola Sergipana de Ballet,
cultivando especificamente o estilo clá ssico.420 Nos anos setenta, foram fundados o
Studium Danças e a Escola Moema Maynard. Trazendo inovaçõ es, afirmaram-se pela
continuidade e pelo profissionalismo.421
O teatro teve uma presença marcante. Nos anos sessenta, um grupo de
intelectuais sergipanos esteve inquieto, acompanhando os movimentos nacionais e
encenando peças com atores do Sudeste com sentido contestató rio, entre as quais
Recital sem Opus (1967), mostrada no Cine-teatro Rio Branco. Em outras ocasiõ es,
artistas foram chamados a depor. Mas a censura 422 e a repressã o foram servindo de

418
Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a Mú sica Popular Sergipana.
Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000. p.
43-46.
419
Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Ob. cit., p. 43-46.
420
Antes de 1965, a iniciativa registrada no ensino da dança foi o Curso de Desenvolvimento Artístico, criado por
Neyde de Albuquerque Mesquita, que também ministrava aulas de teatro, poesia e mú sica. Cf. Dorinha Teixeira
Machado. Dança em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do
Nordeste do Brasil, 2000, p. 49.
421
Dorinha Teixeira Machado. Ob. cit., p. 49.
422
Ver Arquivos do FASC in Cultart. UFS.
210

desafio e acicate para esses personagens que prosseguiram resistindo, levando arte ao
povo “centrado na temá tica liberdade e justiça”.423
Na década de setenta, fizeram-se presentes nos festivais de Arte de S. Cristó vã o,
que se iniciaram em 1972 e foram-se repetindo anualmente. Os ventos da abertura
política, a partir de 1974, ensejaram a organizaçã o de novos grupos. Aos elencos do
Expressionista da Universidade, dirigido pela professora Aglaé Fontes e Clodoaldo
Alencar, e o Experimental, criado em 1975 e dirigido por Carlos Murtinho, vieram
somar-se outros. Primeiro, Opiniã o de Vieira Neto, depois Raízes (1974), idealizado por
Jorge Lins, que nasceu voltado para o teatro infantil, atuando na periferia da capital, em
cidades do interior do Estado, associando-se ao ensino da educaçã o artística e
mantendo-se dentro do Projeto Escola. Em 1977 nasceu Imbuaça, influenciado pelo
Teatro Livre da Bahia, inspirando-se na literatura de cordel, especializado em teatro de
rua com garra e embasamento técnico, fatores que haveriam de fundamentar sua
trajetó ria de sucesso e reconhecimento.424 Por esse tempo, outros foram surgindo como
Mamulengo do Cheiroso (1978) de Aglaé Fontes de Alencar e o Mambembe (1982) sob a
orientaçã o de Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. O fato é que no período de abertura
política, o teatro retomou o vigor manifestado no período 1965-68 e viveu grande
momento de expansã o em Sergipe. Em 1982 os atores fundaram a Federaçã o do Teatro
Amador, indicando suas preocupaçõ es em superar o amadorismo e estabelecer
estrutura mais profissional.
Quanto ao cinema, o período em aná lise foi o mais ativo em estudos e
experiências de filmagens. Enquanto na Primeira Repú blica houve a exibiçã o das
primeiras películas e a proliferaçã o de salas de projeçã o, no período autoritá rio (1964-
1982) as iniciativas de divulgaçã o do período anterior reproduziram-se. Recorde-se que
no início da década de sessenta, o movimento em prol do Cinema Novo estava em
ebuliçã o, inclusive na Bahia com as produçõ es de Glauber Rocha. Foi dentro desse clima
nacional que, em Sergipe, foi criado o Clube de Cinema em 1966, estimulando filmagens,
envolvendo inclusive jovens estudantes do curso secundá rio que fizeram suas
experiências.425 Alguns profissionais partiram para “tomar de cena” paisagens e eventos

423
Ver Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio/1999.
424
Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 36, junho/1999.
425
Cf. Djaldino Mota Moreno. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: Banese, 1988 e Ilma Fontes. Memó ria do
cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dezembro/2000.
211

pelo interior do Estado, buscando registros significativos. A realizaçã o do Festival


Nacional de Cinema Amador em Sergipe, em 1972, distribuindo prêmios, representou
novo incentivo. Foi-se formando um pú blico interessado e o pequeno curso promovido
pela Escola Técnica Federal de Sergipe foi bastante concorrido. Os estudantes do Colégio
Atheneu fundaram seu Cineclube. Através dos FASCs, promovidos pela UFS, aconteciam
anualmente encontros nacionais de cinema, incentivando cursos e distribuindo prêmios.
Pouco depois, Sergipe participava da I Bienal Internacional de Cinema Amador, onde
algumas fitas de sergipanos foram bem classificadas. A pró pria UFS passou a promover
anualmente Festival de Cinema e concursos de Roteiro Cinematográ fico e Festivais
Nacionais de Cinema Amador (FENACA).426 Jovens estudantes com as facilidades da
Câ mara Super 8 dedicaram-se a filmar. Alguns mais politizados empenharam-se em
registrar açõ es de resistências das classes subalternas. Muitos documentá rios foram
rodados e assim foi-se formando uma memó ria das ideias e dos acontecimentos desse
tempo no montante pró ximo de setenta filmes (Ver anexo VI), enquanto alguns atores
destacaram-se nacionalmente em papéis de grande projeçã o.
No período de 1964-82, cresceu bastante o nú mero de pintores. O potencial e a
motivaçã o dos artistas encontraram vá rios incentivos para progredir. Os festivais anuais
de Sã o Cristó vã o a partir de 1972, os Encontros Culturais de Laranjeiras desde 1976, a
mostra Estadual para a seleçã o da Bienal de 74, o Movimento das Artes,427 a
disponibilidade da Galeria Á lvaro Santos, inaugurada em 1966 e seguida por outras,
como espaço permanente para exposiçõ es, o mecenato pú blico e particular, tudo foi
contribuindo para proporcionar apoio e visibilidade à s manifestaçõ es da pintura em
Sergipe. Por outro lado, com a expansã o da capacidade de consumo de alguns grupos
sociais, nã o apenas os ricos, mas também famílias de classe média, passaram a investir
mais em arte.
Além dos artistas de geraçõ es anteriores, foram se afirmando e formando galeria
honrosa: Adauto Machado (1950- ) nos legou expressivos quadros de cavalos, de
casarios e de marinhas; Anete Sobral (1925- ) mostrou sua versatilidade variando a
temá tica desde a arquitetura colonial, passando por folguedos até procissõ es; François
Hoald (1949-1974) projetou-se mostrando seus painéis; Félix Mendes (1944- ) criou
426
Cf. Djaldino Mota Moreno. Ob. Cit., 1988 e Ilma Fontes. Ob. cit., dezembro/2000.
427
Cf. Ana Conceiçã o Sobral de Carvalho. Artes Plá sticas em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC,
Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p. 53-54.
212

paisagens e folguedos com colorido alegre e marcante; Gervá sio Teixeira (1952-1972)
deixou marinhas, alagados, paisagens e figuras humanas; Hortência Barreto (1954- )
explorou motivos regionais, incluindo o lú dico; Jorge Luiz (1954- ) representou marcas
sutis da realidade humana; Joubert Morais (1952- ) concebeu sugestivas figuras
abstratas, demonstrando bastante sensibilidade mística; Leonardo Alencar (1940-2016)
mostrou grande habilidade com sua produçã o variada, pintando faces humanas, cavalos,
paisagens e cenas eró ticas; Melcíades (1957- ) dedicou-se a traçar painéis e a
representar o homem nordestino, inclusive cangaceiros; Pithiu (1946- ) elaborou figuras
humanas com tom surrealista. Como seria de esperar, alguns artistas tornaram-se mais
reconhecidos do que outros, assim como variados foram os estilos. Alguns marcaram sua
presença com traços mais está veis, outros foram variando, utilizando novos recursos
técnicos, apresentando novas linguagens. A grande maioria procurou distanciar-se do
academicismo, optando pelo impressionismo ou pelo expressionismo, alguns cultivando
em maior ou menor proporçã o o abstracionismo.
Entre os escritores, a produçã o foi promissora já com a participaçã o de trabalhos
de professores da UFS. Alguns intelectuais, que nã o pertenciam aos seus quadros,
também marcaram presença, como o grande pesquisador Jackson da Silva Lima com a
História da Literatura Sergipana (1971) e O folclore em Sergipe I: Romanceiro (1977),
Acrísio Torres (1966) e Pires Wynne (1970 e 1973) com suas Histó ria de Sergipe.
Orlando Dantas editou A Vida Patriarcal em Sergipe (1980) e Carvalho Déda divulgou
Brefáias e burundangas do folclore sergipano (s/d). Por esse tempo, começaram a
aparecer ensaios e monografias de professores da UFS revelando novas investigaçõ es.
Sem incluir as obras de ciências exatas, nem da á rea da saú de, merecem ser lembrados
Alexandre Diniz, que além de estudar a geografia urbana e rural, liderou um grupo de
estudiosos que elaborou grande Atlas de Sergipe. Beatriz Gó is Dantas analisou algumas
danças folcló ricas (1972-1975) (Taieira, Chegança e São Gonçalo), depois se dedicou à
pesquisa das aldeias indígenas, desde a de Á gua Azeda até a dos Xocó (1980). Maria
Thetis Nunes enfocou o início da fase provincial divulgando a História de Sergipe a partir
de 1820 (1978). Ariosvaldo Figueiredo escreveu sobre O Negro e a Violência do Branco
(1977) e Enforcados (1981). Por esse tempo, foi relevante a iniciativa de alguns
departamentos da UFS em lançar cadernos de pequenas monografias mimeografados.
213

Nessa á rea de publicaçõ es de livros, somente a Livraria Editora Regina Ltda


editou 95 títulos entre 1966-1970.428 É verdade que vá rias deles eram folhetos ou
opú sculos de poucas pá ginas, mas era indicativo do movimento editorial local. De 1979 a
1982, a Subsecretaria de Cultura e Arte do Estado editou 24 títulos, 14 dos quais de
crô nicas e poesias, sendo este ú ltimo gênero muito cultivado em Sergipe.429
Na literatura, alguns autores demonstraram bom domínio na construçã o de
contos: Ezequiel Monteiro trazendo Contos de Jornal (1973), Paulo F. T. Morais com seu
Emparedados (1980), Antô nio Carlos Viana, professor da UFS, com Brincar de Manja
(1974) e Em Pleno Castigo (1981), enquanto Petrô nio Gomes destacava-se com seus
livros de Crô nicas (1970, 1971 e 1980). Houve também casos de mestres que
contribuíram para a literatura, extrapolando sua á rea de ensino, como Nú bia Marques
que publicou os romances Berço de Angústia (1967) e O Passo de Stefânia (1980). Nesse
período, o poeta de maior reconhecimento foi Santos Souza. Num segundo plano,
apareceram contribuiçõ es de Hunald Alencar (1942-2016), Má rio Jorge Vieira (1946-
1973), entre outros.
Além dos livros, durante o período em aná lise o nú mero de perió dicos superou o
da fase anterior, o que demonstra que os constrangimentos da censura nã o foram
suficientes para deter a dinâ mica e as potencialidades do meio intelectual em expansã o.
Aquelas revistas vinculadas a instituiçõ es, como Instituto Histó rico, Academia Sergipana
de Letras, Universidade Federal de Sergipe e a Prefeitura de Aracaju saíram com grande
irregularidade. No conjunto faltava ainda maior continuidade e profissionalismo.
Quanto à imprensa, teve um comportamento um tanto diferenciado. Apesar da
presença da censura em vá rios momentos, nã o se pode dizer que o desempenho das
emissoras radiofô nicas e sobretudo dos jornais deveu-se exclusivamente à orientaçã o
dos censores. O Diário de Aracaju, criado em dezembro de 1964, ó rgã o da cadeia dos
Diá rios Associados, pela pró pria orientaçã o nacional trouxe consigo a marca registrada
da sua tendência governista. O Sergipe Jornal, que apareceu em 1965, evitava emitir
juízos sobre os fatos políticos, mesmo assim teve vida curta. A Gazeta de Sergipe,
inicialmente tornou-se o ó rgã o de imprensa mais visado pela censura e durante algum
tempo resistiu. Mas depois seu proprietá rio foi-se integrando à nova ordem e houve um

428
Cf. relaçã o fornecida pela Livraria Regina ao Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico (DCPH).
429
Cf. Em Tela. Galeria José Iná cio, Aracaju, s/d.
214

certo alinhamento com o sistema militar durante o seu fastígio. O Jornal da Cidade,
criado em 1972, preservou alguma distâ ncia, até que foi adquirido por Augusto Franco.
O Jornal de Sergipe reapareceu em 1978 e serviu aos oposicionistas. Mas, terminado o
pleito, foi vendido a um grupo pragmá tico que procurou conviver com a vigilâ ncia
oficial, sem perder a credibilidade.
Durante esse tempo chegou a TV. Em 1967 foi lançada a pedra inicial para
construçã o do prédio e, em 1971, sob o controle de um grupo de empresá rios do Estado,
começaram as programaçõ es em cará ter experimental através do canal 4. Era o início de
uma nova fase nos meios de comunicaçã o com a apresentaçã o de imagens nos
noticiá rios, nas novelas e numerosos programas, homogeneizando informaçõ es para
todas as classes, unificando o mercado, aumentando a influência do Sudeste. Em 1975
surgiu o canal 8, denominado Atalaia, de Augusto Franco, que, poucos anos depois,
compraria também o 4, monopolizando o novo meio de comunicaçã o em Sergipe.
Juntando com um jornal e uma rá dio, ampliava-se a influência desse importante grupo
político-empresarial sobre a sociedade sergipana.
Durante o auge do regime militar, a mídia ajudou a alimentar a ideologia
dominante, divulgando seus projetos de impacto e os slogans de “Brasil potência”,
“Ninguém segura esse país”, mas quando as dificuldades econô micas se pronunciaram e
a inflaçã o voltou a subir junto com a dívida externa, tornou-se mais difícil fabricar
ilusõ es. Quando surgiu a campanha pelas Eleiçõ es Diretas, os rá dios, os jornais e as TVs
também contribuíram para a mobilizaçã o política e para o término do Estado
autoritá rio.

4.4 Resumo (1964-1982)

O autoritarismo foi a grande marca do período 1964-82. A tutela militar


destroçou o domínio populista, facilitando o saneamento financeiro, mas sacrificou a
participaçã o popular. A mudança de regras, adotando a eleiçã o indireta para
governador, contribuiu para o enfraquecimento da porfia interna entre PSD X UDN e
inibiu paixõ es personalistas, mas introduziu a prá tica nociva das indicaçõ es pessoais
que engendrou orientaçõ es tecnocrá ticas. Embora proferissem o discurso da
215

racionalidade, os militares reforçaram o assistencialismo, valorizaram lideranças


decadentes, incidiram na distribuiçã o de benesses partidarizadas, incentivaram o
individualismo e, no â mbito municipal, o clientelismo.
De maior gravidade, porém, foi a marca da repressã o sobre os cidadã os,
degradando o Direito e a Justiça, violando os direitos civis e políticos, configurando um
dos maiores retrocessos político-institucionais de nossa Histó ria. Ao dissolver o sistema
pluripartidá rio que se enraizava na sociedade, os militares desorganizaram a vida
política, estimularam a polarizaçã o política, fomentaram a cultura da subalternidade e
concorreram para o afastamento de quadros expressivos.
Apesar dessa situaçã o, o processo de modernizaçã o recebeu grande impulso. O
modelo agroexportador perdeu a sua predominâ ncia diante da presença da Petrobras
que contribuiu decisivamente para a mudança da estrutura industrial de Sergipe. Por
outro lado, algumas reorientaçõ es das políticas nacionais favoreceram também a
expansã o da economia capitalista interna que ganhou maior dinamismo e
funcionalidade. Cresceu a importâ ncia dos empresá rios urbanos, especialmente da
construçã o civil, que passaram a gozar de maior poder de pressã o sob os pleitos
eleitorais e junto aos projetos governamentais. A burocracia pú blica ampliou-se, e o
papel do Estado como instâ ncia estratégica de desenvolvimento alcançou maior
magnitude.
Diminuiu a influência das classes subalternas e até do patronato rural, embora os
chefes políticos municipais continuassem com grande peso na eleiçã o da representaçã o
estadual. A modernizaçã o socioeconô mica acelerou-se. Mas o modelo de
desenvolvimento pelo alto nã o democratizou seus benefícios como seria de esperar. A
permanência do elevado nú mero de analfabetos, o índice de concentraçã o de renda em
nível superior ao patamar nacional, entre outros indicadores sociais, sã o exemplos
ilustrativos do legado desse tempo.
A sociedade, em seu conjunto, urbanizou-se, diversificou-se, secularizou-se e
passou a assimilar costumes decorrentes dos novos padrõ es tecnoló gicos. As relaçõ es de
produçã o capitalistas ampliaram-se nas cidades e no campo, contribuindo para
desgastar o cará ter pessoal das dominaçõ es. Em Aracaju, o meio universitá rio cresceu
consideravelmente, trazendo repercussõ es ao ambiente sociocultural. Os sindicatos
216

foram cerceados e demoram a recuperar-se. No início dos anos oitenta, grupos da


sociedade civil passaram a mobilizar-se e animaram-se no sentido de ampliar sua á rea
de influência diante das perspectivas do regime democrá tico.
No campo cultural, o Estado voltou a predominar num ambiente de tensã o
contínua. Num primeiro momento, sua política cultural gerou reaçõ es conflituosas com
diversos segmentos ligados ao ensino e à s artes. A partir de 1969, quando a sociedade
foi subjugada e as produçõ es artísticas submetidas à censura, o Estado, na busca de
legitimidade, implementou política mais ampla do que no Estado Novo. Ao tempo em
que promovia a modernizaçã o do desenvolvimento capitalista, adotando padrõ es
tecnoló gicos mais atualizados, o Estado procurou implementar seu projeto cultural
burocrá tico e autoritá rio em sintonia com a ló gica do mercado. Neste sentido, a cultura
ganhou significativos investimentos e foi adquirindo mais visibilidade, contribuindo
inclusive para legitimar a nova ordem. Enquanto no plano nacional uma série de
agências, tais como o SNI, a ESG, a Embratel e o MEC, regulavam ou orientavam
mensagens e prá ticas, a criaçã o de novos ó rgã os locais (escolas, museus, secretarias)
gerava uma rede de agentes voltada para a programaçã o, realizaçã o e divulgaçã o de
eventos culturais sem precedentes. A UFS, os festivais de artes e cultura, as recuperaçõ es
de monumentos histó ricos e os incentivos à s produçõ es artísticas formaram o legado
mais expressivo desse período.

5 O ESTADO LIBERAL-DEMOCRÁTICO EM CONSTRUÇÃO (1983-2000)

5.1 A Transição Política e a Instauração da Nova República

O processo de transiçã o do regime autoritá rio para o democrá tico, que vinha se
gestando, ganhou novo alento com as eleiçõ es de 1982. Sendo o primeiro pleito com
voto popular para governador depois de 1962,430 despertou muita animaçã o na
sociedade. A vitó ria dos candidatos da oposiçã o em dez Estados de grande importâ ncia
política e econô mica fortaleceu os grupos mudancistas e enfraqueceu o domínio militar.
As bases políticas do presidente Figueiredo foram se restringindo à s unidades

430
O pleito de 1965 reduziu-se a poucos Estados.
217

federativas menores, dominadas pelo situacionismo. As bancadas parlamentares foram


se tornando inquietas e arredias, como que se precavendo para mudanças. Foi neste
clima que, em março de 1983, o deputado de Mato Grosso Dante de Oliveira (PMDB)
apresentou emenda à Constituiçã o propondo eleiçõ es diretas para presidente da
Repú blica. Era uma forma de quebrar o nó da sucessã o presidencial, até entã o amarrada
pelas regras do Colégio Eleitoral que favoreciam o partido governista. Nessa situaçã o, a
transiçã o continuaria lenta e insegura, pela possibilidade de ascensã o de seus inimigos.
Diante desse quadro, a iniciativa do deputado oposicionista encontrou receptividade
extraordiná ria na sociedade. Contando com o respaldo dos governadores e da sociedade
civil, as aglomeraçõ es foram se sucedendo em crescimento progressivo, empolgando
multidõ es, que acorriam à s praças, em eventos memorá veis entre novembro de 1983 e
abril de 1984.
Em Aracaju, em 21.01.84, foi lançado no prédio da Assembleia Legislativa o
Comitê Pró -Diretas com a presença de cerca de 500 pessoas, reunindo nomes de todos
os partidos oposicionistas do Estado. O comício de Aracaju ocorreu em 26.02.84 na
Praça Fausto Cardoso e cerca de 30 mil pessoas ouviram por quatro horas 21 oradores,
entre os quais as grandes estrelas nacionais da campanha das Diretas.431 Desde o início
dos anos sessenta, nã o se via em terras de Sergipe comício naquelas proporçõ es. Mas no
Congresso a emenda foi derrotada, passando os oposicionistas a defenderem a
candidatura de Tancredo Neves no colégio eleitoral. Enquanto isso, o PDS entrou em
crise. Sarney renunciou à sua Presidência em meados de junho de 1984 e foi substituído
pelo deputado Augusto do Prado Franco, que assumiu a sua direçã o declarando
pretender “unir o partido”.432 Mas uma parte do PDS deixou a agremiaçã o situacionista,
criou a Frente Liberal e passou a apoiar a candidatura oposicionista, formando a
coalizã o da Aliança Democrá tica, enquanto Augusto Franco deixava a direçã o do PDS,
configurando o fracasso de sua missã o. Enormes multidõ es voltaram a encher as praças
de vá rias cidades, superando em alguns casos as manifestaçõ es das Diretas. Em Aracaju,
um pú blico estimado entre 50 e 60 mil pessoas participou do acontecimento apoteó tico,
quando as expectativas de mudança se exacerbavam.

431
Ver Jornal de Sergipe, 29.02.1984.
432
Ver Jornal do Brasil, 24.06.1984.
218

Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves a


presidente da Repú blica por 480 votos contra 180 para Paulo Maluf. A maioria dos
representantes de Sergipe votou no candidato da oposiçã o. Mesmo assim, o apoio ao ex-
governador de Sã o Paulo foi, proporcionalmente, o quinto maior do país. Apesar da
avalanche de adesõ es à Aliança Democrá tica, o placar de 8 a 7 demonstrava que, no
quadro político estadual, persistia expressiva fidelidade ao situacionismo. 433 Dois meses
depois, concretizou-se, enfim, a alternâ ncia de poder que encerrou o ciclo dos governos
autoritá rios, abrindo uma nova fase da longa transiçã o para a democracia.
O retorno de um político civil à Presidência da Repú blica, ocorrida em 15 de
março de 1985, indicava um novo momento da histó ria nacional. É verdade que o
processo de mudança foi amortecido pela presença dos ex-arenistas no novo governo e
pela influência de sete militares no ministério do novo presidente. Causou frustraçã o
maior a doença de Tancredo Neves na véspera da posse e sua morte apó s 41 dias de
sofrimento. Para administrar a Nova Repú blica, como foi denominada a nova ordem,
assumiu, em meio a desconfianças, o vice-presidente José Sarney, ex-presidente do PDS,
reverente servidor do regime militar.
Apesar das limitaçõ es, o novo governo tomou vá rias iniciativas liberalizantes
durante os primeiros meses, removendo parte do que se chamava “entulho autoritá rio”.
Empreendeu também algumas medidas democratizantes no sentido de completar o ciclo
da transiçã o política: reforma partidá ria, facilitando o registro dos partidos, inclusive
dos considerados clandestinos; extinçã o das sublegendas; convocaçã o da Constituinte;
reconhecimento das centrais sindicais, da autonomia e liberdade sindicais, concessã o da
anistia aos dirigentes sindicais cassados; eleiçõ es diretas para todos os níveis, inclusive
para presidente da Repú blica; legalizaçã o da Uniã o Nacional dos Estudantes (UNE);
criaçã o do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Mulher; projeto de reforma
agrá ria. Na á rea partidá ria, a emenda constitucional nº 25 de 30.05.85, que a originou,
prescrevia para a formaçã o de partido provisó rio 101 assinaturas, colhidas em cinco
Estados e a publicaçã o de manifestos, estatutos e programas. Com essa liberalizaçã o, em
agosto de 1985, o novo sistema partidá rio já estava composto de trinta partidos.

433
Cf. Jornal de Sergipe, 16.01. 1985.
219

5.1.1 Do PDS ao PFL: João Alves (1983-1986)

Em Sergipe o vitorioso pelo voto direto para governador nas eleiçõ es de 1982 foi
o engenheiro e ex-prefeito de Aracaju Joã o Alves Filho434 (PDS). Ao assumir o governo,
em 15.03.83, foi demonstrando autonomia de açã o, afastando-se do grupo Franco, mas
resistia a abrir a sociedade política à participaçã o de novos atores sociais. Alheios à s
demandas do processo democrá tico, os situacionistas provenientes da ARENA
continuavam fechados e predominantes.
Diante dos movimentos nacionais, visando à reconstruçã o da democracia, o novo
governante resistiu o quanto pô de para formar a Aliança Democrá tica. Permaneceu no
PDS, nã o se engajou na campanha das Diretas e estimulou seus aliados a votarem contra.
Com o fortalecimento do movimento da Frente Liberal, tornar-se-ia o ú ltimo governador
a assinar o seu manifesto, assim como fora o derradeiro a aderir à candidatura de
Tancredo Neves, concorrente ao Colégio Eleitoral. Somente em dezembro de 1984
anunciou que iria deixar o PDS e passou a organizar o PFL em março de 1985, já nos
tempos da Nova Repú blica. Essas opçõ es demoradas em parte sã o explicadas pela força
que gozava o ex-governador e deputado federal Augusto do Prado Franco, 435 influente
chefe do partido situacionista e responsá vel pela sua vitó ria.
Ao compor seu secretariado,436 incluiu seis pessoas que lhe haviam servido
quando fora prefeito e concedeu ao grupo Franco duas pastas: Fazenda e Educaçã o. A
partir daí as divergências com o chefe do PDS estadual foram se sucedendo no correr de
1983 e 1984. Com o movimento crescendo em torno de Tancredo Neves, Joã o Alves
recepcionou-o e participou do grande comício de 15 de dezembro. Parecia que o
rompimento com Augusto Franco estava na iminência de concretizar-se, mas o chefe do
Executivo dissimulava: avançava, recuava e assim ia coexistindo numa ambiguidade
exasperante para os peemedebistas que de muito esperavam pela sua saída do PDS.
Faltando uma semana da data marcada para a posse de Tancredo Neves, dizia-se
que o PMDB de Sergipe havia reivindicado 21 dos 57 cargos entã o existentes na á rea
federal.437 Por esse tempo, Joã o Alves começou a formalizar a criaçã o do PFL em Sergipe
434
Sobre Joã o Alves Filho ver José Ibarê Costa Dantas. A Tutela Militar em Sergipe – 1964/1984 (Partidos e Eleiçõ es
num Estado Autoritá rio). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 266.
435
Sobre a administraçã o de Augusto do Prado Franco, ver José Ibarê Costa Dantas, ob. cit., 1997, p. 232-264.
436
Sobre o secretariado do governo Joã o Alves Filho, ver Jornal de Sergipe, 12.03.1983.
437
Ver Jornal de Sergipe, 09.03.1985.
220

e a reivindicar os mesmos postos que os peemedebistas queriam. Com a morte do ex-


governador de Minas Gerais, coube a José Sarney a tarefa de gerenciar a partilha.
Enfim, no dia 19.05.1985, Joã o Alves reuniu-se com o líder do PMDB, José Carlos
Teixeira, em Brasília, e acertaram uma aliança do PFL + PMDB com vistas ao pleito de
1985 que se aproximava. Em face do acordo, Teixeira assumiu a Prefeitura, em 30.05.85,
para governar durante os sete meses que separavam da posse do novo administrador.
Esquerdistas, comunistas, proscritos da política, que estiveram militando na oposiçã o,
integraram o seu secretariado.438
Era uma mudança significativa na política sergipana como nã o se via desde o
início do regime militar, mas de amplitude e profundidade limitadas. Basta observar
como a grande maioria dos cargos da má quina estatal era ocupada pelos pefelistas
procedentes do situacionismo do regime autoritá rio que respaldaram com desenvoltura.
De qualquer forma, era um avanço com perspectiva de as mudanças ampliarem-se com a
eleiçã o da capital, cuja campanha se acelerava.
No pleito de 1985, para prefeito de Aracaju, concorreram Jackson Barreto pela
Aliança Democrá tica, envolvendo PMDB + PFL + PC do B, o ex-deputado Gilton Garcia
pela Frente Democrá tica PDS + PTB, apoiado pelo grupo Franco, Marcelo Déda Chagas
pelo PT e Nelson Araú jo pelo PL, vencendo o primeiro com a maior votaçã o proporcional
do país. Mas a Aliança Democrá tica cindiu-se em 1986. José Carlos Teixeira lançou-se
candidato e o governador apresentou Antô nio Carlos Valadares (PFL), que também foi
apoiado pelo prefeito Jackson Barreto. O líder do PMDB fez aliança com o grupo Franco e
o PT apresentou a professora Tâ nia Magno da Silva.439
Decorrido o pleito, no plano nacional ocorreu a extraordiná ria vitó ria do PMDB
que elegeu quase todos os governadores, a maioria dos deputados federais e dos
senadores. Obtinha assim o controle da Assembleia Nacional Constituinte. Essa
predominâ ncia nã o impediu, contudo, que o PFL também crescesse, pois na Câ mara dos
Deputados sua bancada ascendeu de 70 para 118, enquanto no Senado passava de 12
para 16 membros. Quem mais perdeu foi o PDS. Aquele que foi cantado como o maior
partido do Ocidente e, ainda em 1984, era formado por 235 parlamentares da Câ mara,

438
Ver Jornal de Sergipe, 04.06.1985. Adversá rios do prefeito davam conta que em inícios de agosto de 1985 cerca de
dez comunistas já haviam tomado posse em cargos da Prefeitura. Cf. Jornal da Cidade, 09 e 10.08.1985.
439
Mais informaçõ es sobre este pleito, ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe –1985/2000. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 2002.
221

baixou para 165 com a defecçã o dos que foram fundar o PFL. Em 1986, a nova
representaçã o vitoriosa reduziu-se a 33. No Senado conseguia apenas cinco cadeiras.
A vitó ria do PMDB, na esteira da exploraçã o do plano Cruzado, revelou-se
avassaladora sobretudo nos pleitos estaduais, na medida em que elegeu 22 dos 23
governadores. Sergipe foi a ú nica exceçã o nacional do PFL, graças principalmente ao
empenho de Joã o Alves Filho que deixou de concorrer ao Senado, usou a má quina
pú blica de forma generosa, investiu mais nos prefeitos, sobretudo no sertã o, fez deles
ponta de lança junto à s bases municipais, e evitou a alternâ ncia de poder.
Com a eleiçã o de seu sucessor, ia chegando ao seu termo o mandato de Joã o Alves
Filho (1983-87), que dirigiu o Estado entre o fim do domínio militar e o início da Nova
Repú blica, numa conjuntura agitada e marcada por pressõ es políticas continuadas. De
um lado teve que administrar as demandas do seu partido, o PDS, especialmente do
poderio de Augusto Franco, reclamando maior espaço. De outro, a influência crescente
dos oposicionistas, especialmente do PMDB, respaldado pelas lideranças nacionais.
Apesar dos problemas, foi uma gestã o de sucesso tanto pelas vitó rias políticas, quanto
pelas realizaçõ es materiais. Segundo dados da propaganda oficial, que devem ser vistos
com reservas, tentou superar grandes carências da populaçã o. Nesse sentido, ampliou a
rede de esgoto da capital de 14 para 140 km. Mais que duplicou a quantidade de leitos
da rede hoteleira e construiu mais de 11 mil casas populares. Duplicou a quilometragem
de rodovias pavimentadas, o efetivo militar e mais do que duplicou a extensã o das
adutoras.
No interior, empenhou-se em proporcionar condiçõ es para o sertanejo conviver
com os períodos de seca. Construiu dez mil cisternas, cerca de mil poços artesianos e
promoveu a irrigaçã o pú blica de quatro mil hectares de terra.440 Entretanto, a falta de
avaliaçõ es abalizadas de seus projetos limitou o sucesso. Numerosos poços artesianos e
cisternas inviabilizaram-se.
No setor educacional, o saldo foi modesto, senã o negativo. Negociou a Secretaria
com o grupo Franco e, durante os primeiros dois anos, cerca de oito titulares se
sucederam, alguns dos quais sem qualquer identificaçã o com a á rea, degradando a
má quina burocrá tica e sobretudo o ensino. Somente a partir de março de 1985, um novo

440
Por que João Alves (Livreto de propaganda do governo Joã o Alves, distribuído por ocasiã o das eleiçõ es de 1990).
222

secretá rio conseguiu proporcionar um mínimo de racionalidade ao seu


funcionamento.441 Enquanto isso a parte pedagó gica permanecia caó tica e sem controle.
Na Saú de foi o contrá rio da Educaçã o. Começou com alguma tentativa de
melhoria dos serviços, teria aumentado o nú mero de leitos na rede hospitalar de 288
para 863 e adquirido 70 ambulâ ncias, mas seu empenho terminou um pouco
comprometido pelas concessõ es feitas a grupos de pressã o ligados à á rea.
Na á rea da administraçã o pú blica, optou pela contrataçã o de assessorias de
outros Estados para realizar trabalhos pontuais sem grande preocupaçã o com os seus
efeitos nem com os custos,442 subestimando o corpo de quadros técnicos locais. Ao
tempo em que se descuidava da formaçã o dos servidores, promoveu duas grandes
contrataçõ es em massa de forma explícita e sem critério,443 proporcionando um péssimo
exemplo aos prefeitos que também passaram a admitir com fins eleitoreiros sem
precedentes. Preocupou-se em melhorar a infraestrutura visando incentivar o turismo.
Ampliou consideravelmente a rede hoteleira de forma altamente subsidiada, mas nã o
obteve os resultados esperados. A divulgaçã o do potencial de Sergipe, através de intensa
propaganda, muitas vezes confundia as atraçõ es do Estado com a imagem do
governante.
Para cobrir as despesas com as obras, além das dotaçõ es orçamentá rias, o
governo contou com ajuda do ministro do Interior Má rio Andreaza, com dinheiro a
fundo perdido e com financiamentos do Polo Nordeste. Para aprovar seus projetos, teria
usado de expedientes ilícitos junto a parlamentares.444 Lançou títulos no mercado e
recorreu a empréstimos junto ao Banco Mundial, que teria liberado 31 milhõ es de
dó lares. Governando numa conjuntura marcada por permissividade nos gastos,
endividou o Estado de forma exorbitante, deixando pesado ô nus para seus sucessores.445

441
Cf. João Gomes Cardoso Barreto, depoimento ao autor, em 02.02.1999. Entre os críticos, ver Gazeta de Sergipe, 11 e
12.05.1986.
442
Segundo um economista que estudou o período, Sergipe tornou-se o reino encantado das empresas de consultorias.
Nilton Pedro da Silva. Estado e Região, Contribuição ao Estudo da “Modernização Autoritária” do Nordeste Brasileiro.
Tese de Doutorado em Economia, Aracaju, 1994, p.199.
443
O governo Joã o Alves Filho proporcionou dois “trens da alegria”. Ambos em tempos de campanha eleitoral. O
primeiro em julho de 1985 e o outro em julho 1986. Estima-se que ao todo foram contratados cerca de 8.000
funcioná rios. No Estado de Alagoas teriam sido 10.000 os admitidos pelo governador Suruagy. Cf. Jornal do Brasil,
19.08.1986.
444
Segundo noticiá rio da imprensa, somente para aprovaçã o de um projeto de suplementaçã o de recursos, o governo
teria pago ao deputado José Vieira dois milhõ es de cruzados e para o deputado José Ribeiro três milhõ es de cruzados.
Cf. Jornal da Cidade, 20.08.85 e Jornal de Sergipe, 10.08.1986.
445
Deixou o Estado em situaçã o financeira com dívidas de difícil rolagem em face dos contratos de escalamento até o
ano 2017. Cf. Jornal de Sergipe, 24-25.06.1987. O parecer de conselheiro do Tribunal de Contas, Gilson Cajueiro de
223

No conjunto, Joã o Alves Filho revelou-se um administrador desenvolvimentista, um


tocador de obras. Algumas realizaçõ es revelaram-se meritó rias, mas outras, marcadas
pela improvisaçã o, careceram de estudos criteriosos, manifestaram-se onerosas e de
escassa utilidade.
Afinal, pode-se dizer que contribuiu para modernizar o campo e a capital e
desgastar o grupo Franco, embora nã o tenha se manifestado aberto a novas forças
tendentes a renovar os métodos de operar a política. Antes pelo contrá rio, usou
abertamente a má quina pú blica como instrumento eleitoral, estimulando prá ticas
contrapostas aos princípios republicanos de zelo pelos recursos pú blicos. Apesar disso,
deixou o governo com popularidade em alta, preparado para novas investidas.

5.1.2 A Exceção do PFL: Valadares (1987-1990)

Antô nio Carlos Valadares446 tomou posse, em 15.03.1987, quando o país


vivenciava nova crise econô mica, com o fim do Plano Cruzado e a retomada da inflaçã o.
Apesar da precariedade das finanças pú blicas, nomeou secretariado recorde composto
de 25 nomes, 12 dos quais participantes da administraçã o anterior. Assumindo a direçã o
do Estado sobrecarregado de dívidas e promessas de campanha, o novo governador
tenderia a encontrar bastantes dificuldades administrativas.
Na Assembleia Legislativa, o quadro exigia atençõ es especiais. Compô s com o
PT,447 mas a lealdade da maioria da bancada governista revelou-se duvidosa,
especialmente o grupo alvista. Nas finanças, desde pelo menos 1983, o serviço da dívida
vinha crescendo, reduzindo a capacidade de endividamento do Estado448 e a arrecadaçã o
se manifestava insuficiente para cobrir os gastos. Se no governo de Joã o Alves o
funcionalismo já se queixava da contraçã o do seu poder aquisitivo, com Valadares logo
no primeiro mês os servidores pú blicos reivindicaram reposiçã o salarial da ordem de
240,12%,449 mas longe estiveram de ser atendidos. Como a inflaçã o continuava

446
Holanda, de 07.05.1987, manifestou-se pela rejeição das contas do governo do exercício financeiro de 1986.
Sobre a trajetó ria política de Antô nio Carlos Valadares, ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe – 1985/2000.
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2002.
447
Sobre as relaçõ es políticas do governo Valadares com o PT, ver Marcelo da Silva Ribeiro. PT saudações (um
depoimento para petistas e não petistas). Aracaju: Sercore, 2003.
448
Ver Gazeta de Sergipe, 21.05.1987.
449
Folha de São Paulo, 17.04.1987, p. A-6.
224

aumentando450 e os salá rios ficavam cada vez mais contraídos, essa situaçã o favorecia o
caixa do governo, mas as pressõ es de vá rias categorias se intensificavam. Manifestaçõ es
na Assembleia e nas ruas, críticas acerbas, movimentos do Sem Teto e dos Sem Terra,
greves dos professores, tudo passou a fazer parte do dia a dia do chefe do Executivo
estadual, enquanto a polícia nem sempre exercitava a tolerâ ncia. Para garantir a rotina
da má quina administrativa, através do empenho das chefias, o governador concedeu
aumentos seletivos, favorecendo comissionados, distanciando-os ainda mais da massa
de servidores. O treinamento de pessoal diminuiu, enquanto se desarrumava a estrutura
organizacional de ó rgã os vitais para o acompanhamento da vida econô mica e funcional
do Estado, chegando a desativar alguns deles.451
Como ú nico governador eleito do PFL, empenhou-se para que o presidente José
Sarney nomeasse Joã o Alves para algum ministério como uma forma de transferir
verbas para Sergipe. Seu pleito foi atendido em inícios de agosto de 1987, quando aquele
ex-governador foi indicado para o Ministério do Interior. Com efeito, embora a situaçã o
do Estado nã o melhorasse logo, ao fim do primeiro ano de gestã o, os convênios com o
Ministério de Habitaçã o, Urbanismo e Meio Ambiente estabelecidos para a construçã o
de 6.423 casas populares ajudariam a dinamizar a economia local. Posteriormente os
projetos Campo Verde, Padre Cícero, como primeiros de uma série patrocinada pelo
Ministério do Interior, tenderiam a favorecer a situaçã o financeira do governo estadual.
Por esse tempo, a á rea política agitou-se com as denú ncias de irregularidades na
Prefeitura de Aracaju, veiculadas pela imprensa e por políticos. Nã o obstante realizar
uma administraçã o com grande aceitaçã o popular,452 Jackson Barreto passou a ser
acusado de malversaçã o do dinheiro pú blico. Visando amortecer as críticas, o prefeito
fez algumas demissõ es, mas o Tribunal de Contas persistiu com a apuraçã o e pediu
intervençã o. O governador Antô nio Carlos Valadares acompanhou o processo sem
demonstrar interferências e a Assembleia aprovou-a por 13 x 11, sob o empenho dos
deputados do PT e do PL, contando também com votos do PMDB e talvez do PFL, nã o

450
O índice de inflaçã o nacional passou de 124,3% em 1986 para 415,8% em 1987. Cf. Conjuntura
451
dos trabalhadores, Jornal do Brasil, 27.06.1992.
O IESAP, que era encarregado da coleta de dados e da política de planejamento, reduziu drasticamente suas funçõ es
bá sicas. A Revista Ecos deixou de circular e até o Anuário Estatístico do Estado, editado por 17 anos consecutivos, foi
desativado de 1987 a
452
1992.
Ver anú ncio onde informava tratar-se do prefeito com maior índice de aceitaçã o do país in Jornal da Cidade,
14.08.1988.
225

obstante a presença da multidã o levada por Jackson Barreto para a frente da


Assembleia.
Enquanto transcorria a questã o da Prefeitura, o governador costurava ampla
aliança entre o PFL e PMDB. Em meados de julho era enfim anunciado o “acordã o”
unificando as principais lideranças do Estado, envolvendo toda a bancada federal,
representada por três senadores e oito deputados, além dos deputados estaduais dos
partidos coligados. Nascia assim mais uma coligaçã o denominada Aliança Democrá tica,
agora composta pelas seguintes siglas: PFL + PMDB + PL + PJ.
Os grupos Franco e Teixeira juntavam-se aos governistas e, unidos, lançaram a
candidatura do suplente de deputado federal médico Lauro Maia para prefeito. Quando
Jackson Barreto renunciou, declarou que iria recomeçar tudo de novo, inclusive
candidatando-se a vereador. Execrado pelos adversá rios, acossado por processos,
ameaçado de expulsã o pela executiva municipal do PMDB, transferiu-se com seu grupo
para o PSB e, por essa sigla, lançou o advogado Wellington Paixã o para concorrer à
Prefeitura. Nã o obstante o favoritismo inicial do deputado Marcelo Déda Chagas (PT), o
candidato do PSB terminou vencendo.
No interior do Estado, predominou o PFL ao eleger 40 dos 73 prefeitos. Era a
vitó ria insofismá vel sobretudo do ex-governador Joã o Alves Filho, que ocupava o
Ministério do Interior e continuava como principal chefe do Partido da Frente Liberal.
Por esse tempo, o país já dispunha de nova Constituiçã o, que contou com ampla
participaçã o popular. Promulgada em 1988, assegurava novos direitos individuais,
políticos e sociais, consagrando grandes conquistas, inclusive na definiçã o da cidadania
de minorias. Entre as inovaçõ es figuraram o habeas data, proporcionando acesso a
informaçõ es e o mandado de injunçã o, permitindo “recorrer a Justiça para exigir o
cumprimento de dispositivos constitucionais”.453 Os ganhos sociais foram numerosos,
mas sobrecarregava o Estado de monopó lios e obrigaçõ es, algumas das quais sem
prescrever os meios adequados para atendê-las. Apesar de excessivamente detalhista,
deixou vá rias ambiguidades nas relaçõ es entre a Uniã o, os Estados e os municípios. Por
fim, as disposiçõ es transitó rias incorporaram vá rias medidas de cunho corporativo,
inspirado num regionalismo retró grado. Foi marcado para 1992 o plebiscito para definir
a forma de governo e para 1993 a revisã o constitucional. Promulgada em 05.10.1988,
453
José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2001, p.123.
226

nascia assim a nova Constituiçã o sob o signo da temporalidade. A partir de entã o,


caberia aos Estados elaborarem suas Cartas, subordinadas aos preceitos constitucionais
do país.
Em Sergipe, a Constituinte foi instaurada em 18.10.1988 e contou com a
participaçã o popular como nunca acontecera.454 Apó s intensos debates, instigados
sobretudo pelo desempenho de alguns deputados da oposiçã o, a Carta foi promulgada
em 05.10.1989 como a mais longa das constituiçõ es da histó ria do Estado. Além de ser
composta de 280 artigos do texto central, foram-lhe acrescentados 65 outros das
Disposiçõ es Transitó rias, propondo a criaçã o de 15 novos municípios no Estado com a
mesma tendência de criar encargos.
Quando ainda se discutia a constituiçã o estadual e os novos prefeitos ainda nã o
haviam tomado posse, começaram as movimentaçõ es políticas visando ao primeiro
pleito direto para presidente da Repú blica desde 1960. Depois de campanha acirrada
com a participaçã o de 32 candidatos, Fernando Collor de Melo e Luiz Iná cio da Silva
ficaram para o segundo turno e o primeiro terminou vitorioso. Em Sergipe, Collor
venceu nos dois turnos, fortalecendo o grupo Franco, especialmente o senador Albano
do Prado Franco, que o apoiou de forma decisiva. Em contrapartida, um dos maiores
perdedores do pleito de 1989 foi o ministro Joã o Alves Filho. Depois de afastar-se de seu
candidato do PFL e encampar candidatura de Sílvio Santos, quando esta foi impugnada
ficou sem opçõ es, deixando seus seguidores desnorteados. A vitó ria de Lula em Aracaju
no segundo turno reiterava a tendência oposicionista do eleitorado da capital,
reforçando candidatos de esquerda. Mas, se de um lado, a votaçã o do petista sinalizava
para um potencial oposicionista significativo, por outro indicava as dificuldades de
coalizõ es dos grupos de esquerda em face das rivalidades internas persistentes.
Com a eleiçã o para presidente da Repú blica, completava-se o processo de
transiçã o. Fora uma travessia longa e difícil, inclusive durante o período da Nova
Repú blica. O governo Sarney, depois da fase á urea do Plano Cruzado, foi marcado por
crise endêmica. Divulgou novos planos, mas longe estiveram de alcançar o sucesso do
primeiro. Pode-se dizer que a administraçã o do presidente maranhense decorreu cheia
de dificuldades e chegou ao fim melancolicamente.

454
Ver Marcelo da Silva Ribeiro. PT saudações (um depoimento para petistas e não petistas). Aracaju: Sercore, 2003.
227

Fernando Collor de Melo tomou posse na Presidência em 15 de março de 1990,


carregando um passado político bastante controvertido e encontrando o modelo do
Estado nacional desenvolvimentista praticamente exaurido.455 Tentou derrubar a
inflaçã o, que era superior a 80% ao mês, equacionar a dívida externa e retomar o
desenvolvimento, dentro de um projeto liberalizante ambicioso. Adotou congelamento
de preços e salá rios e a drá stica retençã o de cerca de 70% dos ativos financeiros no bojo
da reforma monetá ria que substituía o cruzado pelo cruzeiro. Como efeito, a dívida
interna reduziu-se, a inflaçã o inicialmente caiu vertiginosamente,456 mas pouco depois
retornou. O governo tomou medidas recessivas, no início do ano seguinte editou novo
pacote, mas nã o obteve grande sucesso.
Como em todo o país, as repercussõ es do Plano Collor em Sergipe foram de
perplexidade e susto sobretudo para a elite política e o empresariado. Um fato particular
que chamou muita atençã o foi o trá fico de influência para liberalizaçã o dos recursos
retidos. Vá rias Prefeituras ficaram com dificuldades de sacar as verbas, porque os seus
prefeitos aplicavam os recursos da Prefeitura no overnight em suas contas pessoais que
foram trancadas.457 A imprensa noticiou o ocorrido, a promotoria andou investigando, a
Assembleia Legislativa aprovou requerimento convocando o presidente do Tribunal de
Contas a prestar esclarecimentos, mas aquela autoridade nã o comparecia. Houve
cobranças na Assembleia, mas a maioria dos parlamentares se omitia. Como o delito
envolvia vá rias figuras influentes do mundo político, seguiu-se o silêncio e a consumaçã o
da impunidade.
Na esfera nacional, foram crescendo os indícios de corrupçã o muito forte em
torno da Presidência.458 O seu pró prio irmã o, Pedro Collor, divulgou dossiê, o
movimento “Fora Collor” ganhou as ruas e o Congresso Nacional empenhou-se pelo seu
afastamento.
Em Sergipe, enquanto ó rgã os governamentais tentavam favorecer parlamentares
do PFL, visando assegurar a lealdade ao presidente,459 a OAB, a Associaçã o Sergipana de

455
Aloísio Mercandante. Revista Teoria e Debate. Sã o Paulo, n. 10, abril a junho de 1990.
456
Para o BTNF a inflaçã o de março teria sido da ordem de 84,32% e a de abril 3,29%. O IBGE calculou a de março em
84,32%, a de abril em 44,80% e a de maio em 7,87%. A Fipe divulgou a inflaçã o de maio em 3,29%.
457
Ver Jornal de Sergipe, 16.05.1990 e Gazeta de Sergipe, 16.05.1990.
458
Ver O Estado de São Paulo em 22.03.1992.
459
Noticiou-se que o presidente do Banco do Brasil, Lafayete Coutinho, teria liberado recursos para determinados
municípios, onde deputados do PFL mantinham influência, visando assegurar o voto contra possível pedido de
impeachment. Cinform, 17-23.08.1992.
228

Imprensa e o DCE da UFS, entre outros ó rgã os, promoviam passeatas, incorporando-se
assim ao movimento nacional que propugnava a saída do governante. O mote dos
oradores era o impeachment de Collor e o fim da corrupçã o.460 Pesquisa realizada pelo
Dataform detectou que 87,5% dos aracajuanos defendiam o imediato afastamento de
Fernando Collor da Presidência.461 À s vésperas da votaçã o no Congresso, Albano Franco
e Joã o Alves, que até entã o professavam lealdade, negaram-lhe apoio. A Câ mara dos
Deputados conseguiu comprovar um ilícito penal para respaldar o impeachment e
aprovou-o em 29.09.1992, resultando no afastamento do presidente da Repú blica no
início do mês seguinte (02.10.1992). Em meio à batalha judicial que se seguiu, quando o
Senado preparava-se para cassar-lhe os direitos políticos, o chefe do Executivo
apresentou sua carta de renú ncia. Era 29.12.92, a sorte de Fernando Collor estava
consumada, mas as controvérsias continuavam.
O governador Antô nio Carlos Valadares, exercitando sua habilidade de
articulador, cedo começou a montar uma chapa consensual com vistas ao pleito de 1990.
O grande problema inicial era a existência de dois postulantes fortes, Albano Franco
(PRN) e Joã o Alves Filho (PFL). Mas o primeiro desistiu, e a campanha tornou-se mais
fá cil, sobretudo porque os oposicionistas participaram desunidos em duas frentes: a
“Uniã o Contra o Acordã o” formada pelo PDT + PCB e a “Frente Sergipe Popular”,
envolvendo PT + PC do B + PSB + PV.462 Concorreu também uma fraca candidatura do
PTR. Decorrido o pleito, Joã o Alves voltou a ser eleito governador apoiado por uma
enorme aliança (PFL + PDS + PMDB + PDC + PL + PCM + PMN + PRN + PRP e PSDB)
enquanto Albano Franco retornava ao Senado.
O resultado satisfazia também Valadares, responsá vel pela montagem do
“acordã o”. Rejubilou-se com sua vitó ria, elegeu um sobrinho para a Câ mara dos
Deputados e outro parente para a Assembleia Legislativa, apó s uma administraçã o de
políticas miú das, sem projeto de desenvolvimento para o Estado, a nã o ser a defesa do
Polo Cloroquímico. De certo modo, ganharam ainda os Teixeira que, mais do que nunca,
viram-se integrados na política situacionista. Enfim, venceram o patronato urbano e
rural e todos os grupos conservadores da classe dominante, associados numa das
maiores coalizõ es políticas da histó ria de Sergipe. Do outro lado, perderam os setores de
460
Ver Gazeta de Sergipe, 27.08.1992.
461
Cinform, 31.08 a 06.09.1992.
462
Ver Jornal de Sergipe, 22.06.1990. Ver Jornal da Cidade, 03.02.1988 e Jornal de Sergipe, 03.02.1988.
229

esquerda que permaneceram fracionados e mais uma vez assistiram, sem grandes
avanços, ao triunfo dos adversá rios. No conjunto, foi um resultado de mudanças
inexpressivas.
Realizadas as eleiçõ es de 1990, foi chegando ao final a gestã o de Antô nio Carlos
Valadares. Depois de passar o primeiro ano premido por dificuldades financeiras,
desfrutou de alguma folga por alguns meses subsequentes, mas os problemas voltaram a
acentuar-se até que o governador, em janeiro de 1989, promoveu reforma no sentido de
diminuir despesas com a má quina administrativa e ampliar seu controle político sobre o
setor pú blico. Extinguiu dez das 25 secretarias de Estado, duas autarquias, duas
empresas e uma fundaçã o.463 A expectativa do governo era de economizar um bilhã o de
cruzados por mês com esse corte. Dos antigos secretá rios, 11 deles foram mantidos e
três foram transferidos para o segundo escalã o.464 Ao tentar adquirir mais autonomia,
estreitou seu círculo de influência e nã o conseguiu sustentar a independência esperada.
É certo que, a curto prazo, tanto o setor do PFL controlado por Joã o Alves Filho, quanto
os peemedebistas, nos quais duas facçõ es disputavam poder,465 perdiam terreno,
provocando insatisfaçõ es na sua base de sustentaçã o. Fortalecido, Joã o Alves Filho
tratava seu aliado como um subalterno e continuou demonstrando insatisfaçã o em face
das atençõ es dispensadas aos seus amigos. Desconfortá vel no PFL466 e carente de apoio
partidá rio, Valadares foi-se contentando com pequenas realizaçõ es nos povoados e
municípios, tentando consolidar sua base política. Deu prioridade à s obras voltadas para
o lazer: giná sios de esportes, incentivos à casa de espetá culos artísticos. Em Aracaju, o
Augustu’s, o forró dromo Gonzagã o e o Parque dos Cajueiros sã o frutos dessa época. No
ú ltimo ano de sua administraçã o, conseguiu recuperar estradas, pavimentar rodovias e
recompor parte das perdas salariais dos servidores estaduais. Mas seu maior feito foi a
construçã o de aproximadamente 25 mil casas populares. No meio rural, atuou
respaldado no Projeto Campo Verde empreendendo pequenas obras.467 Expandiu a
eletrificaçã o rural e levantou 20 estaçõ es rodoviá rias, quase todas em sedes

463
O Instituto de Estatística Social e Pesquisa de Sergipe, IESAP, teria sido transformado na Fundaçã o Estadual de
Estatística e Geografia. Cf. Jornal de Sergipe, 08 e 09.01.1989.
464
Além das secretarias, a má quina do Estado persistiu com “10 autarquias, 10 sociedades de economia mista, sete
fundaçõ es e três empresas pú blicas ligadas à administraçã o estadual.” Jornal de Sergipe, 01.06.1990.
465
As facçõ es que disputavam a hegemonia do PMDB eram comandadas por Antô nio Carlos Franco e José Carlos
Teixeira.
466
Comentou-se que o governador teria pensado em sair do PFL. Ver Gazeta de Sergipe, 19.03.91.
467
Jornal da Cidade, 15.03.1991.
230

municipais.468 O Polo Cloroquímico, pensado e projetado por governos anteriores, teve


inauguraçã o simbó lica pelo presidente Sarney, mas pouco avançou e foi sendo
considerado projeto inviá vel.
Na á rea da cultura, reformou o prédio da Academia Sergipana de Letras, levantou
barracõ es destinados a prá ticas culturais e promoveu a publicaçã o das obras completas
de Tobias Barreto.469 Na educaçã o, em meio à degradaçã o do ensino, inclusive com
greves sucessivas, informou haver construído 400 novas salas e recuperado outras
2.400. Apesar disso, a demanda reprimida era enorme, sobretudo no segundo grau, num
momento em que a arrecadaçã o ampliava-se de quatro para sete milhõ es de dó lares.470
Na saú de, Valadares nomeou profissional que administrou mal os recursos e
tomou vá rias medidas nefastas ao sistema e à populaçã o mais necessitada dos serviços
hospitalares. Nã o obstante os alertas de parlamentares, os protestos dos médicos e de
outros profissionais do setor e as diversas denú ncias da imprensa, o chefe do Executivo
demorou demais em afastá -lo e ainda o transferiu para outra secretaria.471 Apesar disso,
o governo apoiou a organizaçã o do Ministério Pú blico, de conformidade com as normas
da Constituiçã o de 1988. Mas na á rea da segurança pú blica, a OAB, seçã o de Sergipe,
revelou que, de janeiro a novembro de 1990, cerca de 140 menores, incluindo crianças e
adolescentes, foram assassinados em Aracaju.472 Nã o obstante as denú ncias por parte de
políticos, de ó rgã os da sociedade civil e da pressã o da Anistia Internacional, ninguém foi
responsabilizado e a impunidade mais uma vez predominou.473
Governando num novo momento de crise, Valadares fez poucos investimentos e
transferiu para o seu sucessor a má quina pú blica bastante desgastada.474 Contudo,
apesar dos ó bices e do pequeno relevo de sua administraçã o, legou ao seu substituto um
Estado em melhores condiçõ es do que encontrara. Diminuiu a dependência financeira
em relaçã o ao governo federal475 e deixou a dívida externa na casa dos dez milhõ es de
dó lares, com receita mensal de dezoito milhõ es, consumindo cerca de 50% com a folha
468
Cf. Jornal da Cidade, 15.03.1991.
469
Cf. Jornal da Cidade, 15.03.1991.
470
Cf. Jornal da Cidade, 15.03.1991.
471
Sobre a questã o da saú de, ver Gazeta de Sergipe, 04.10.1989 e Jornal de Sergipe, 04.10.1989 e Cinform, 18-
24.03.1991. Marcelo da Silva Ribeiro. PT saudações (um depoimento para petistas e não petistas). Aracaju: Sercore,
2003.
472
Jornal de Sergipe, 20 e 21.11.1990. Ver também Jornal do Brasil, 02.10.1990.
473
Ver Jornal de Sergipe, 07.06.1990, 08.06.1990, 21.11.1990, 06.12.1990 e Jornal do Brasil, 02.12.1990.
474
Cf. diagnó stico de assessores de João Alves Filho. Governo do Estado de Sergipe, Plano Plurianual, 1992-1995, v. I,
administraçã o Joã o Alves Filho, p.23.
475
Cf. Governo do Estado de Sergipe. Plano Plurianual, 1992/1995, v. I, Administraçã o Joã o Alves Filho, p. 12.
231

de pessoal.476 Ao fim, deixou o caixa do Tesouro zerado e com saque a descoberto de


cerca de 500 milhõ es de cruzeiros.477 Era uma despedida desgastante.

5.1.3 A Continuidade do PFL: João Alves (1991-1994)

O engenheiro Joã o Alves Filho retornou ao governo legitimado por votaçã o


consagradora e com experiências acumuladas. Formou seu secretariado
predominantemente com nomes de fiéis servidores de administraçõ es anteriores,
incorporando pouca gente dos aliados. Em seus propó sitos anunciava o combate ao
desemprego como a prioridade nú mero um. Nomeava a educaçã o e a saú de como
elementos fundamentais, mas daria mais atençã o à agricultura irrigada, ao turismo e à
habitaçã o.478 Ou seja, projetos que apresentavam maior visibilidade material.
Ao tomar posse em 15.03.1991, embora se revelasse sempre cheio de planos,
dessa vez esteve falando em austeridade, chegando a anunciar que iria reduzir a
má quina administrativa em quase 30%, extinguindo 710 cargos de confiança.479 Ao
receber o Estado com o “cofre zerado”, seu secretá rio da Fazenda deu grande
publicidade ao fato, gerando ressentimentos de Antô nio Carlos Valadares que
certamente esperava mais discriçã o do novo governo. Em face desse episó dio, os dois
líderes políticos se afastavam politicamente. O ex-governante declarou que Joã o Alves
traíra “sua confiança e o “acordã o”480 e, em outubro de 1991, deixou o PFL para
ingressar no minú sculo PST (Partido Social Trabalhista). Era o desfecho da herança
transmitida ao sucessor.
Apesar de dificuldades do início, ao fim do ano a situaçã o já era bem diferente.
“Além das transferências compulsó rias de recursos feitos a Sergipe – como aquelas do
Fundo de Participaçã o dos Estados e Municípios – o governo federal alocou ao Estado,
adicionalmente, recursos da ordem de Cr$ 7,1 bilhõ es, no período entre janeiro e
setembro de 1991”. Investimentos esses que foram “destinados a melhorar a
476
Cf. informaçõ es do governador Valadares ao Jornal do Brasil, 17.02.1991. O Censo promovido pelo governo do
Estado em 1989 revelou que o funcionalismo estadual era constituído de 45.099 servidores, dos quais 30.838
(66,26%) situados na capital e 16.411 (34,73%) no interior. Constatou-se também que havia 4.387 funcioná rios de
forma irregular. Cf. Jornal da Cidade, 14.07.1989.
477
Cf. Antô nio Manuel de Carvalho Dantas, secretá rio da Fazenda de Joã o Alves, in Jornal da Manhã, 16-17.03.1991 e
Cinform, 18-24.03.1991. Cf. Joã o Alves Filho, Jornal da Manhã, 09.04.1991.
478
Ver Joã o Alves Filho, Folha da Praia, 15-23.03.1991.
479
Jornal de Sergipe, 17.18.03.1991.
480
Gazeta de Sergipe, 11.09.1991.
232

infraestrutura e as condiçõ es sociais do â mbito do governo estadual e dos


municípios”.481
Do ponto de vista político, a situaçã o do governador era relativamente
confortá vel. Dispunha de maioria nas bancadas do Senado, da Câ mara dos Deputados e
da Assembleia Legislativa, mas, nesta ú ltima Casa, nã o contava com apoio irrestrito para
aprovar seus projetos. Quando, em inícios de setembro de 1991, o Executivo
encaminhou emenda à Constituiçã o ampliando as prerrogativas dos secretá rios de
governo, sua proposta foi rejeitada por 14 a 7 votos, constituindo-se numa derrota
expressiva.482
A essa altura, a questã o eleitoral transcorria numa conjuntura de dupla crise de
cará ter nacional. Na á rea econô mica, vivíamos atribulados por elevada inflaçã o que
fechava o ano com 1.157% dentro de um quadro recessivo com PIB negativo (-0,80),
resultando em altos níveis de desemprego. Na á rea política, havia a campanha pelo
afastamento do presidente Collor.
Em Sergipe, depois da derrota fragorosa sofrida no pleito de 1990, os partidos de
esquerda, além de tentarem ampliar o nú mero de diretó rios municipais,483 buscaram
estabelecer coalizõ es com o fim de melhorar o desempenho eleitoral nos pleitos
subsequentes. Nesse sentido, acontecimento de alguma significaçã o foi o pacto
estabelecido entre o PDT de Jackson Barreto e uma ala do PT. O governador lançou o
nome do experimentado deputado estadual Reinaldo Moura numa ampla coalizã o
intitulada “Aracaju o Futuro é Agora” (PFL + PSDB + PMN + PL + PDS + PRP + PSD + PRN
+ PDC), envolvendo os governistas de todas as faces, inclusive os Franco e seus
seguidores. A campanha transcorreu polarizada entre o governador e o candidato
Jackson Barreto, que terminou impondo forte revés ao postulante governista e a todos
seus aderentes.484
No plano nacional, o vice-presidente Itamar Franco assumiu a titularidade do
governo (02.10.1992) com o apoio cooperativo de vá rias agremiaçõ es: PSDB + PFL +
PMDB + PTB + PSB. Ampliou o nú mero de ministros de 11 para 18 e compô s o Ministério
com membros de vá rios partidos, mas se cercou de alguns assessores amigos de sua Juiz
481
Jornal de Sergipe, 25-26.12.1991.
482
Jornal de Sergipe, 05.09.1991.
483
Em novembro de 1991, o PT contava com 30, o PC do B com 20, o PSB com 30 e o PDT já tinha 55 e alimentava
pretensõ es de fechar os 75 em julho de 1992. Cf. O Que, 23-29.11.1991.
484
Ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe –1985/2000. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.
233

de Fora. Apesar disso, o novo presidente inclinou-se um tanto para a esquerda, mas
ampliou a influência militar na sua administraçã o, e governou apoiando-se na caserna.485
No Congresso Nacional, a açã o dos partidos passou a ser orientada pelas
perspectivas eleitorais de 1994, apesar de faltarem ainda dois anos para a nova eleiçã o
presidencial. Um exemplo ilustrativo ocorreu com o plebiscito sobre a forma de governo
que levou alguns chefes partidá rios a mudarem de posiçã o diante da perspectiva de
serem eleitos. Por outro lado, a revisã o constitucional que deveria corrigir os excessos
populistas dos constituintes de 1988 e adequar as leis à nova realidade mundial, foi
inviabilizada pelos partidos de esquerda com o estímulo de setores organizados da
sociedade civil, inclusive OAB, UNE e CNBB. O ú nico ponto aprovado foi a reduçã o do
mandato do presidente da Repú blica de cinco para quatro anos. O processo de
modernizaçã o das instituiçõ es encontrava dificuldades para ampliar-se.
Por esse tempo, o Congresso ainda mais se debilitava com denú ncias de
corrupçã o, especialmente contra o grupo responsá vel pelo orçamento. Foi instaurada
CPI mista e, ao fim, foi proposta a puniçã o de 18 dos seus integrantes, mas apenas cinco
parlamentares foram cassados. Enquanto isso, o governo Itamar Franco transcorria
inseguro, mudando de ministros com frequência e relacionando-se mal com deputados e
governadores sobretudo do PMDB, contribuindo para agravar o quadro. A inflaçã o
atingiu o patamar de 1.157% em 1992 e continuava aumentando. As contas pú blicas
pioravam. Como fó rmula de ir aliviando os compromissos do Estado intervencionista, o
governo fez importantes privatizaçõ es, inclusive da Companhia Siderú rgica Nacional, em
meio à comoçã o dos nacionalistas estatistas e/ou sindicalistas. Mas eram passos
insuficientes para resolver a questã o dos gastos pú blicos que estendia seus efeitos em
vá rios campos, inclusive na política monetá ria em descontrole, com as autoridades se
restringindo praticamente a arbitrar taxas de juros. A administraçã o como um todo
também carecia de controle, na medida em que o governo se revelava incapaz de
combater a corrupçã o, conforme parecer do Tribunal de Contas de Uniã o.486
Em Sergipe, Joã o Alves Filho movimentava-se num quadro mais diversificado e
favorá vel. Apesar dos constrangimentos por ocasiã o do afastamento de Collor (outubro

485
Itamar chegou a ter nove ministros militares, superando os sete dos tempos do governo Sarney. Ver Jorge
Zaverucha. Frágil Democracia. Collor, Itamar, FHC e os Militares 1990-98. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2000, p.
305.
486
Cf. O Estado de São Paulo, 18.04.1993.
234

de 1992), no Nordeste mantinha boa convivência com vá rios correligioná rios


governistas. Internamente também as condiçõ es eram bem melhores. Nenhum dos
principais grupos políticos do Estado lhe fazia oposiçã o. Os Franco, que antes passaram
de aliados a adversá rios, desta vez evitaram hostilizá -lo. Na Assembleia poucos
deputados questionavam seus projetos e suas realizaçõ es.487 Gozando de maioria, o
papel fiscalizador do Legislativo sergipano foi bastante reduzido. No Ministério Pú blico,
embora os promotores de modo geral viessem atuando com certa vigilâ ncia, a relaçã o do
procurador-geral com o governo e de boa parte dos demais procuradores amorteceu a
atuaçã o do ó rgã o, sobretudo quando, atendendo pleitos políticos, deixava de recorrer ao
Superior Tribunal de Justiça. No que concerne ao Tribunal de Contas, o controle que o
governador exercia ainda era maior. Quando um ou outro membro se manifestava
contra a aprovaçã o de suas contas, como ocorreu em 1993, logo o problema seria
contornado pela maioria esmagadora.488 Quanto ao Tribunal de Justiça, quase sempre
atuou como aliado do Executivo, parecendo até um ó rgã o governista, de cará ter político.
O fato é que o governador pô de administrar com tranquilidade, transpondo obstá culos
sem grandes dificuldades. Sua situaçã o nã o era mais confortá vel porque em Aracaju o
eleitorado nã o vinha sendo-lhe muito favorá vel. Concorreu também para turvar sua
imagem as denú ncias incô modas sobre corrupçã o, fato que o levou a depor em CPI no
Congresso Nacional.
No campo administrativo, dedicou-se a preparar a infraestrutura da capital para
o turismo e apostou na irrigaçã o como uma alternativa de desenvolvimento. Empenhou-
se notadamente na modernizaçã o do Aeroporto, inclusive ampliando a pista de pouso e
decolagem e reconstruiu a Orla da praia da Atalaia, tornando-a bela e grandiosa.
Encaminhou as obras do oneroso Centro de Convençõ es, adquiriu catamarã s, lançou o
trem turístico, “um moderno comboio com ar condicionado”, e implantou a Rua 24
horas, inspirado no exemplo de Curitiba. Entre as pequenas obras, foi atento à ampliaçã o
do fornecimento de energia, reformou vá rios centros de cultura (Arquivo Pú blico,
Academia Sergipana de Letras, Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe,
Conservató rio de Mú sica) e estimulou manifestaçõ es culturais.

487
O mais combativo foi o deputado Bosco Mendonça.
488
Em 1993 o conselheiro Tertuliano Azevedo emitiu parecer contrá rio à aprovaçã o das contas do governo Joã o Alves
Filho relativas ao ano de 1992, alegando vá rias irregularidades. Mas a maioria aprovou-as. Ver O Estado de Sergipe, 16
a 22.08.1993.
235

Essas iniciativas foram, em geral, bem recebidas. Mas outras foram criticadas,
entre as quais a forma de encaminhar o projeto de irrigaçã o do Platô de Neó polis.
Situado a uma altura superior a 100 metros do leito do Rio Sã o Francisco, envolvendo
uma á rea de 7.200 hectares, voltado para a produçã o de fruticultura de exportaçã o e
agroindú stria, o empreendimento foi-se revelando controvertido. O clima, o custo
energético da irrigaçã o e a escolha dos parceiros foram algumas das questõ es levantadas
pelos seus opositores. Muito mais problemá tica foi a aposta no Polo Cloroquímico onde
investiu cerca de 20 milhõ es na infraestrutura do projeto489 quando as perspectivas de
viabilizaçã o se tornavam remotas.
Na questã o da á gua, cuidou do abastecimento de algumas cidades do interior do
Estado e assegurou que “Aracaju, a partir de 1994, era a capital brasileira melhor
abastecida de á gua”. Dois anos depois, a capital voltou a sofrer sérias restriçõ es do
precioso líquido. Realizou açõ es eficazes de desfavelamento na capital e, na á rea da
saú de, reformou vá rios centros, ampliou o nú mero de leitos, mas, a exemplo da primeira
administraçã o, fez da secretaria instrumento de clientelismo eleitoral. Situaçã o
semelhante ocorreria com a educaçã o. Reformou prédios, aumentou o conjunto das
matrículas, mas entregou a direçã o da pasta a políticos ou a técnicos pouco credenciados
para a á rea. A exemplo da gestã o anterior, afirmou-se como tocador de obras materiais,
preocupado com a estrutura física, mas faltaram açõ es institucionais que indicassem
crença na importâ ncia da educaçã o como afirmaçã o da cidadania. Na á rea
administrativa, deixou de fazer a reforma prometida no seu Plano Plurianual de
Governo, contribuiu para acentuar a desarticulaçã o entre as pastas e legou ao seu
sucessor um quadro aquém do esperado.490 Na segurança, os índices nã o foram
animadores. Em pesquisa sobre a média de mortes violentas entre 1990 e 1993, Sergipe
figurou no 11º lugar491 no conjunto dos Estados da federaçã o, ao tempo em que medrava
“A Missã o”, grupo criado dentro da Polícia Militar para exterminar o roubo de gado, mas
que teria cometido “bá rbaros crimes”, segundo denú ncia da imprensa.492
A exemplo do primeiro mandato, Joã o Alves Filho deixou o Estado bastante
endividado e com alguns ó rgã os em crise. O Instituto de Previdência (IPES) estava em
489
Cf. Projeto Capital, Principais ações do Governo de Sergipe na Capital. Aracaju, 1994.
490
Ver declaraçõ es do entã o secretá rio de Educaçã o in Cinform, 7 a 13.08.1995, p.7.
491
Sergipe ficou com 22,32 mortes violentas por cada 10 mil habitantes, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa
Econô mica Aplicada (IPEA) divulgada pela Folha de S. Paulo, 19.02.1997 e Jornal da Cidade 22.02.1997, p.B-15.
492
Cinform, 12 a 18.06.2000.
236

situaçã o financeira insustentá vel apó s sofrer abusos e reduçã o da contribuiçã o pú blica.
O Banco do Estado de Sergipe (BANESE) encontrava-se desestruturado e com enormes
dificuldades apó s sua administraçã o mais desastrosa. O chefe do Executivo emitiu letras
financeiras para serem honradas pelo futuro governador e entregou o tesouro estadual
comprometido com alto percentual da receita para pagamento de pessoal.493
Apesar dessas deficiências e de suas apostas voluntariosas em custosas obras,
algumas das quais aparentemente de escassa utilidade, persistiu como um
administrador interessado em abrir perspectivas para o crescimento do Estado, num
momento em que a produçã o extrativa de petró leo diminuía e os setores produtivos
declinavam como indica a queda sucessiva do PIB estadual nos três primeiros anos do
seu governo.
No plano nacional, o presidente Itamar Franco prosseguiu criando insegurança,
com rompantes populistas, falando em renunciar para antecipar eleiçõ es e
demonstrando limitada compreensã o do funcionamento da economia.494 Em menos de
nove meses, três ministros foram substituídos na Fazenda. O quarto titular foi Fernando
Henrique Cardoso, que atraiu um grupo de técnicos competentes e passou a buscar
alternativas. Renegociou a dívida externa, conseguiu a aprovaçã o do Fundo Social de
Emergência mediante a promessa de renegociaçã o da dívida de alguns bancos estaduais
e, em dezembro de 1993, anunciou a existência de novo plano de combate à inflaçã o.
Apesar das incertezas, a implementaçã o do Real foi obtendo sucesso e, ao final de 1994,
o desempenho da economia já dava sinais de alento. Por esse tempo, a dívida externa
continuava elevada, a inflaçã o declinava, o PIB crescia e até o desemprego aberto
diminuía um pouco. Diante desse quadro, a candidatura de Cardoso tornou-se
irreversível, levando ao seu afastamento do Ministério em julho de 1994. Era substituído
por Rubens Recú pero que, em setembro de 1994, deixava o cargo para ser ocupado por
Ciro Gomes. Ao final de seu governo, Itamar Franco elegia seu sucessor e terminava o
mandato como um presidente bem-sucedido.

493
Segundo revelaçã o do deputado Augusto Bezerra, líder do PMDB, na tribuna da Assembleia, a administraçã o Joã o
Alves Filho, entre 1990 e 1994, contraiu empréstimos em valores correspondentes a R$ 283.542.000,00. Gazeta de
Sergipe, 23.02.2000. O total dos empréstimos dos dois mandatos (1983-87 e 1991-95) teria sido de R$
589.100.000,00. Cf. Jornal da Cidade, 23.02.2000, p.A-3.
494
Seu pedido para que o fusquinha voltasse a ser fabricado e suas reaçõ es contra a alta de juros sã o ilustrativos de
sua postura bisonha.
237

Em Sergipe, a eleiçã o para governador ameaçou quebrar o controle dos grupos


que, de muito, vinham dominando o Estado. Jackson Barreto, ainda na Prefeitura, passou
a liderar um bloco oposicionista: através do estabelecimento de alianças com fortes
lideranças do interior do Estado, formou uma frente partidá ria PDT + PT + PMN +PP e
PC do B, e concorreu contra Albano Franco apoiado pela coalizã o PPR + PMDB + PFL +
PSDB sob o slogan Sergipe tem Futuro. No primeiro turno Jackson Barreto venceu, mas,
diante da operaçã o avassaladora dos grupos dominantes, envolvendo a participaçã o de
instituiçõ es pú blicas, foi derrotado no segundo escrutínio. No plano nacional Fernando
Henrique Cardoso era eleito no primeiro turno com a contribuiçã o inclusive do
eleitorado de Sergipe, que lhe deu a maioria dos votos, apesar da derrota na capital.
Nã o obstante a vitó ria de Albano Franco para governador, os oposicionistas
ganharam as duas vagas no Senado e elegeram três dos oito representantes na Câ mara
dos Deputados. Foi um feito sem precedente depois de 1964. Apenas na Assembleia a
presença dos oposicionistas continuou pequena.

5.1.4 O Domínio do PSDB: Albano Franco (1995-2000)

Albano Pimentel do Prado Franco tomou posse como governador do Estado de


Sergipe no 1º de janeiro de 1995, respaldado pelo voto popular, apó s vitó ria
particularmente difícil. Nã o obstante haver explorado, durante a campanha, seu rico
currículo de empresá rio atuante e sua vivência de político situacionista, perdeu no
primeiro escrutínio. Ameaçado da derrota final, apegou-se a todas as forças governistas
e saiu vitorioso no segundo turno amarrado por numerosos compromissos.
Sua gestã o ocorreu no mesmo período da Presidência de Fernando Henrique
Cardoso, que retomou as reformas liberalizantes, iniciadas por Fernando Collor, e
assumiu o governo com duas propostas explícitas: consolidar a estabilidade monetá ria e
mudar o padrã o de acumulaçã o proveniente da era Vargas,495 ou seja, reduzir o papel do
Estado no processo de industrializaçã o e no controle dos meios de produçã o.496

495
Ver Brasilio Sallum Jr. O Brasil sob Cardoso: neoliberalismo e desenvolvimentismo in Tempo Social. Revista de
Sociologia da USP, v. 11, n. 2, 1999, ed. 02-2000, p.41.
496
Sobre a administraçã o do presidente Fernando Henrique Cardoso, ver Bolívar Lamounier, Rubens Figueiredo
(orgs.). FHC: A Era FHC, um balanço. Sã o Paulo: Cultura Editores Associados, 2002.
238

Num momento de expansã o do processo de globalizaçã o, sob a predominâ ncia do


capital financeiro fomentando o aumento da competitividade, Cardoso seguiu uma
orientaçã o liberalizante, propondo reformas voltadas para o mercado, sob o influxo de
ideias do Banco Mundial e do Fundo Monetá rio Internacional (FMI). Numa economia de
baixa poupança interna, o governo empenhou-se em atrair capital externo e o equilíbrio
das contas pú blicas. Mas a abertura comercial e a valorizaçã o do real, consideradas
necessá rias para o controle inflacioná rio, trouxeram dificuldades ao setor produtivo e
déficits recorrentes nas contas pú blicas, além de outros custos. Alguns bancos entraram
em crise e sofreram intervençõ es custosas. Tentando completar sua obra
modernizadora, o presidente conseguiu aprovar a emenda da reeleiçã o que lhe facultou
novo mandato. Entretanto, maiores dificuldades se estabeleceram. Diante das crises
externas “Tigres Asiá ticos” (2º semestre de 1997), Japã o e Rú ssia (2o semestre de 1998),
os capitais migraram, a especulaçã o acentuou-se e o governo mudou o regime cambial,
recorreu ao FMI (1999 e 2002) e elevou enormemente os juros, aumentando a dívida
pú blica. Tais medidas comprometeram o desempenho do PIB que persistiu baixo. As
restriçõ es nos investimentos afetaram a expansã o da geraçã o de energia e dificultou o
atendimento à s demandas sociais. Apesar disso, o governo ampliou muito o nú mero de
assentamentos através do INCRA e implementou algumas políticas compensató rias, mas
os salá rios dos trabalhadores de empresas pú blicas careceram de reajustes, o
desemprego aumentou, a distribuiçã o de renda continuou ruim. Milhõ es de pessoas
continuaram morando mal e a insegurança agravou-se. Diante da estabilidade
monetá ria, surgiram precató rios jamais honrados, correçõ es de planos passados, dívidas
nunca pagas, pendências judiciais, todos esperando compensaçõ es do Estado por erros
em geral antigos.
Apesar desses ó bices, houve significativo impulso modernizador. A agricultura e
a indú stria se tornaram mais competitivas, as privatizaçõ es, embora nem sempre lícitas,
enfraqueceram as corporaçõ es, amenizaram o peso da má quina pú blica e tornaram mais
eficientes vá rias empresas. Na telefonia acabou com a demanda reprimida, mas a
carência de energia complicou o quadro. A extinçã o de ó rgã os assistencialistas, como a
Legiã o Brasileira de Assistência, e novas exigências para liberaçã o de verbas atingiram
quistos clientelistas bastante arraigados. A eliminaçã o de subsídios em determinadas
239

á reas desgostaram grupos privados habituados a privilégios. A abertura comercial


barateou os alimentos e diminuiu o preço das propriedades rurais. Seguindo essa
tendência, o governo construiu portos e abateu custos operacionais. Reduziu o papel do
Estado, quebrando monopó lios e criou as agências reguladoras, visando ao controle de
empresas concessioná rias do serviço pú blico. Na educaçã o, deslocou a ênfase do nível
universitá rio para o ensino bá sico e tentou tornar os gastos mais eficientes criando o
Fundo Escola497 e o FUNDEF.498 O sistema de saú de sofreu grande aperfeiçoamento. A
Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu compromissos das autoridades em todos os
níveis e poderes, disciplinando o uso do dinheiro pú blico. Na açã o diplomá tica, elevou o
prestígio do país no concerto das naçõ es.
Enfim, manteve a estabilidade monetá ria, empenhou-se pelo ajuste fiscal e
imprimiu maior racionalidade ao funcionamento da má quina pú blica. Quase todos os
indicadores sociais melhoraram (diminuiçã o da mortalidade infantil e do analfabetismo,
aumento da longevidade, dentre outros), mas penalizou os setores mais organizados que
se beneficiavam do modelo varguista do nacional-desenvolvimentismo e prejudicou os
contribuintes com a elevaçã o da carga tributá ria. O descontentamento desses grupos, o
grande crescimento da dívida interna e a campanha oposicionista contra as reformas
contribuíram para que o eleitorado optasse pela eleiçã o de Luiz Iná cio Lula da Silva em
2002, em meio a elevadas esperanças de grandes mudanças do modelo vigente,
considerado neoliberal.
Em Sergipe, transcorria a gestã o de Albano Franco (1995-2002). Confiante no seu
estilo de homem afá vel, conciliador, flexível, atuando sempre na defensiva, montou seu
secretariado499 atendendo, na medida do possível, à s demandas de seus aliados. Como o
nú mero de pastas revelou-se pequeno para honrar todas as promessas eleitorais, foi
contemporizando, criando novas secretarias de forma improvisada, além de admitir

497
Fundo Escola consiste na remessa de recursos diretamente para conselhos das escolas, sem a intermediação dos
governadores e/ou prefeitos.
498
“A distribuiçã o dos recursos estaduais e municipais é feita tomando como critério o aluno. Obriga governadores e
prefeitos a aplicar 25% de suas receitas em educação: 15% para o ensino fundamental, 60% para salá rios e o restante
para investimentos e manutençã o. Por enquanto, sã o destinados R$ 315,00 por aluno/ano. Quando nã o atinge esse
teto, a Uniã o completa”. Paulo Renato Souza, O Fundef e a fiscalizaçã o dos recursos do ensino. Folha de S. Paulo,
20.06.1999.
499
Sobre o secretariado de Albano Franco indicado em 1995, ver Jornal da Cidade, 31.12.1994 e 06.07.1995.
240

centenas de pessoas na Casa Civil, através do uso de cargos em comissã o, como


sinecuras, pró prias da estrutura clientelista.500
Ao começar seu mandato, o novo governo deparou-se com um quadro financeiro
preocupante. Em janeiro de 1995, com o aumento de 45% prometido ao funcionalismo
durante a campanha eleitoral, o Estado ficou com 94% da receita líquida destinados à s
despesas de pessoal e ao pagamento da dívida”, ficando os insuficientes 6% restantes
para o “custeio da má quina administrativa e [demais] compromissos”.501 Diante desse
quadro, o governo passou os primeiros três anos semiparalisado, administrando
cobranças dos correligioná rios e dos grupos organizados, exercitando a leniência e o
escapismo. Na busca de alternativas, ofereceu o Plano de Demissõ es Voluntá rias (PDV),
financiado pela Caixa Econô mica e terceirizou alguns serviços. A situaçã o melhorou
muito quando a dívida total de R$ 389 milhõ es foi renegociada com a Uniã o que
refinanciou, “para 30 anos a juros de 6% ao ano, o montante de R$ 355 milhõ es”.502
Quando o Estado se encontrava no limite do seu endividamento, com o Banese
ameaçado de intervençã o pelo Banco Central, e com os recursos fiscais limitados por
normas de â mbito federal, o governo Albano Franco, contrariando suas promessas
eleitorais, decidiu vender a Energipe, fato que se concretizou em início de dezembro de
1997, à Cataguazes-Leopoldina por R$ 577.101.775,00, com á gio de 96,05%.503 Com os
recursos, liquidou o débito com o BNDES, proveniente do saneamento daquela empresa,
e dispô s de amplo raio de açã o para investir e/ou distribuir entre prefeitos no ano da
campanha eleitoral. Até entã o, nenhum governador de Sergipe havia desfrutado de
tantos recursos para investimentos. Apesar disso, algumas dificuldades persistiram. A
promessa da campanha (1994) de “criaçã o anual de cerca de 30 mil empregos”, 504 nã o se
confirmou. Os incentivos concedidos a vá rias empresas nã o tiveram o retorno esperado
na absorçã o de mã o de obra. O PIB estadual (1995-2000) subiu em relaçã o ao tempo do

500
Levantamento efetuado pelo Tribunal de Contas teria constatado que somente na Governadoria existiam 728
(setecentos e vinte oito) cargos em comissã o, segundo o conselheiro Tertuliano Azevedo. Cf. Jornal da Cidade,
05.05.1996 e Cinform, 13 a 19.05.1996.
501
Albano Franco. Um Projeto para Sergipe. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar
Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p. 118 e Gazeta de Sergipe, 27.05.1999.
502
“A diferença de R$ 34 milhõ es foi ganha pelo Estado, a título de subsídio, em razã o do Protocolo de Acordo assinado
com a Uniã o em setembro de 1996 que previa a correçã o da dívida mobiliá ria pelo IGP-DI em substituiçã o a
atualização que estava sendo feita praticamente a juros de mercado”. Albano Franco, palestra citada, proferida em
28.05.1999, Aracaju, 1999, p. 6.
503
Gilvan Manoel in Jornal da Cidade, 04.12.1997. Sobre o valor liberado para cada município à s vésperas do período
eleitoral, ou seja, em julho de 1998, ver Jornal da Manhã, 26 e 27.07.1998.
504
Sergipe Tem Futuro. Programa de Governo Albano Franco, É tica e Desenvolvimento, p. 9.
241

governo anterior, mas ainda se mostrava acanhado. Todavia, com recursos do Prodetur
melhorou as condiçõ es sanitá rias da Atalaia e duplicou a rodovia dos Ná ufragos.
Concluiu a Linha Verde, ampliou adutoras e realizou outras obras em parceria com a
Prefeitura da capital, entre as quais a construçã o de um novo mercado e restauraçã o do
velho.
Na educaçã o, reduziu o nú mero de diretores e secretá rios das escolas e expandiu
o segundo grau, abrangendo todos os municípios. Implementou o Programa de
Qualificaçã o Docente (PQD) em parceria com a UFS, elevando o nível dos professores do
interior. Aumentou as matrículas, construiu novas escolas505 e diminuiu o índice de
reprovaçã o.506 Mas, diante das denú ncias contra seu secretá rio da educaçã o, sobre a
forma como gastava os recursos pú blicos e ampliava o Partido Popular Socialista (PPS),
ex-PCB, incomodando os correligioná rios do chefe do Executivo, este o substituiu.507
Na á rea de saú de, diante da demanda crescente, ampliou hospitais na capital, mas
nã o evitou o fechamento de casas de saú de no interior.508 A situaçã o foi sendo minorada
pelas açõ es do governo federal.
No setor rural, a citricultura na regiã o sul do Estado declinou com as secas, as
pragas e os baixos preços do suco de laranja. Mas o governo atuou no Platô de Neó polis,
afastando desinteressados e/ou especuladores, expandiu a eletrificaçã o rural e concluiu
as obras do Jacarecica II em Itabaiana. Exercitou a tolerâ ncia com o Movimento Sem
Terra (MST) em face de invasõ es e saques, e destinou-lhe á rea irrigá vel (Jacaré-
Curituba) estimada em 3.200 hectares.509 Pelos diversos municípios, dados oficiais
falavam da construçã o de cerca de 10 mil casas populares e investimentos para
melhorar o fornecimento de á gua, sobretudo na capital.
Na esfera política, gozou de maioria na Assembleia Legislativa e conseguiu
aprovar suas proposiçõ es. Mas, na Câ mara dos Deputados, dos oito parlamentares de

505
“A matrícula nas escolas pú blicas teria passado de 233 mil (1994) para 292 mil alunos (1998), a quantidade de
salas de aula teria aumentado 12% e o nú mero de escolas disponíveis em 17%.” Albano Franco. Um Projeto para
Sergipe in José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p.
122.
506
Segundo censo realizado pelo MEC, o Estado deixou de apresentar a maior taxa de reprovaçã o do país, de 29,9%. Cf.
Jornal da Cidade, 14.07.1997. Mas o fez reduzindo a média mínima de aprovação de 5,0 para 4,1.
507
O governo Albano Franco, na época (09.1999), substituiu três secretá rios: Segurança, Fazenda e Educação.
508
O nú mero de hospitais pú blicos reduziu-se de 46 (1990) para nove em 1997. Enquanto isso, os particulares
cresciam de 34 para 42, conforme informaçõ es do deputado Bosco Mendonça, reproduzindo dados do Anuá rio
Estatístico da Fundação Nacional de saú de. Jornal da Cidade 07-08.12.1997, p. A-3.
509
Albano Franco. Um Projeto para Sergipe. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs.) Fórum Pensar
Sergipe. São Cristó vã o/SE: UFS, 1999, p. 122.
242

Sergipe, raros eram aqueles que lhe demonstravam lealdade, apoiando as reformas de
iniciativa da Presidência da Repú blica. Enquanto membros do PFL nacional revelavam-
se leais e aprovavam as proposiçõ es do Executivo federal, em Sergipe Joã o Alves Filho
(PFL) manifestava-se contra as mudanças, ao tempo em que criava dificuldades para o
governador com suas exigências. As pressõ es amenizaram-se apó s o pleito de 1996
quando o grupo Alves afastou-se de Albano Franco queixoso pela falta de empenho
governista à candidata Maria do Carmo Alves na campanha para Prefeitura da capital.
Liberto dessa aliança, o governador negociou com seu mais tradicional adversá rio,
Jackson Barreto, que se candidatou a senador.510 Com esse apoio, Albano Franco
concorreu à reeleiçã o no pleito de 1998 e enfrentou dois ex-governadores e ex-
correligioná rios (Joã o Alves e Valadares), entre outros postulantes. Ao fim, foi para o
segundo turno com Alves e derrotou-o. Ademais, fez maioria na Assembleia, elegeu o
maior nú mero de prefeitos e prosseguiu gozando de ampla influência junto aos tribunais
estaduais e à cú pula do Ministério Pú blico. Enquanto assistia à derrota de Jackson
Barreto para Maria do Carmo Alves na eleiçã o para o Senado, testemunhava a vitó ria de
dois jovens sobrinhos, um para a Câ mara dos Deputados e outro para a Assembleia
Legislativa. Era a influência política da família Franco que prosseguia através de uma
nova geraçã o, proporcionando-lhe continuidade rara na Histó ria de Sergipe.
Ocorrência negativa para Sergipe foi a transferência, a partir de 1995, de alguns
ó rgã os de empresas estatais de Aracaju para Salvador: Superintendência do Patrimô nio
da Uniã o (SPU), do Almoxarifado da Petrobras, do Cesec do Banco do Brasil e da
Superintendência do INSS. Com a extinçã o da Telergipe, que foi incorporada à Telemar,
esta empresa passou a administrar os serviços de telefonia fixa fora do Estado, gerando
problemas e irritaçã o por parte dos sergipanos. Essas medidas da política modernizante
do governo federal, além de prejudicarem a economia do Sergipe, afetavam a autoestima
dos seus habitantes que viam renovar a dependência em relaçã o à Bahia. Enfim, o
governo Albano Franco dispô s de muitos recursos, melhorou as finanças do Estado, mas,
carente de autoridade, exerceu uma política patrimonialista, marcada de ajeitamentos
nem sempre compatíveis como o bem pú blico.511
510
Sobre a negociaçã o para o acordo dos Franco com Jackson Barreto, ver Ká tia Santana. Ecos da Política. Aracaju:
Instituto Desenvolver, 2001, p. 44-60.
511
No governo de Albano Franco, houve vá rias denú ncias por parte da imprensa local e nacional, OAB, setores da
Igreja Cató lica, Procuradoria Federal, decorrentes de suas prá ticas eleitorais, inclusive compras superfaturadas, obras
inacabadas, pagamento controvertido à Construtura Celi. Ver Gazeta de Sergipe, 01.12.98; Jornal da Cidade,
243

Entretanto, no plano nacional houve avanços políticos significativos no período


1983-2000. O exercício do voto generalizou-se, incorporando os analfabetos e os
maiores de 16 anos. O eleitorado aumentou em proporçã o maior do que o crescimento
da populaçã o e realizaram-se dez eleiçõ es sem soluçã o de continuidade em ambiente de
ampla liberdade de manifestaçã o de pensamento e organizaçã o. O jogo político em quase
todos os setores tornou-se aberto e competitivo. O quadro partidá rio, apesar de
fracionado, foi adquirindo perfil mais definido, com a predominâ ncia de determinadas
siglas, acatando as mudanças e legitimando o processo político. Diversas correntes
ideoló gicas travaram suas pugnas em ambiente de liberdade sem os constrangimentos
de outrora. Esses acontecimentos estenderam-se por Sergipe. A sociedade civil
apresentou-se mais plural e atuante. O quadro dos eleitos para diversos cargos pú blicos
se revelou mais diversificado. No Senado e na Câ mara, representantes de Sergipe
dignificaram seus mandatos com elevado brilhantismo e persistente combatividade,
proporcionando jú bilo aos sergipanos.
Mas, em outros campos, as mudanças se tornaram mais difíceis. Os oposicionistas
demonstraram incapacidade em juntar-se e montar um bloco alternativo para
conquistar hegemonia. Apenas conseguiram dois feitos: o controle da Prefeitura de
Aracaju a partir de 1985 e a construçã o de uma coalizã o em 1994 que provocou
renovaçã o no quadro de nossa representaçã o federal. O Executivo estadual continuou
controlado por grupos conservadores, boa parte dos quais originá rios da ARENA, nã o
havendo, portanto, alternâ ncia de poder. Depois de uma pequena fase do PDS, dois
partidos se revezaram: o PFL, que governou de 1985-94, e o PSDB, que assumiu em
1995 e chegou ao fim do século com mais dois anos de mandato pela frente. O PFL foi o
partido predominante: além de governar o Estado por mais tempo, elegeu maior nú mero
de senadores, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores.512
Dentro desse domínio, a estrutura clientelista pouco foi afetada. Apesar de professarem
o liberalismo, ampliaram o corpo do funcionalismo de forma exagerada, sem
preocupaçã o com o mérito dos indivíduos, gerando ociosidade e baixa produtividade.
Com má quina enorme, os recursos para investimento se tornaram exíguos, mesmo
depois da estabilidade monetá ria.
16.09.1999; Cinform, 3 a 9.05.1999.
512
Mais dados sobre o processo eleitoral do período, ver José Ibarê Costa Dantas. Eleições em Sergipe – 1985/2000. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.
244

O sistema coercitivo cresceu e ganhou maior importâ ncia, mas sua eficá cia nã o
acompanhou a elevaçã o dos seus custos. O Tribunal de Contas, criado para coibir abusos
dos administradores pú blicos, tornou-se muito dispendioso e sua atuaçã o técnica teria
sido desviada para açõ es políticas, gerando insatisfaçõ es. Nã o foi por acaso que sua
extinçã o vinha sendo defendida até por parlamentares situacionistas.
O Judiciá rio criou os Juizados Especiais, a grande inovaçã o do século, facilitando
o acesso dos grupos de menor recurso. Mas os elementos influentes na política e/ou na
economia, envolvidos em grandes causas, em geral continuaram com tratamento
diferenciado. Em Sergipe, o referido setor melhorou bastante sua infraestrutura.
Construiu palá cios e fó runs em comarcas acima dos padrõ es da sociedade e
informatizou-se. Os magistrados ganharam prerrogativas com a Constituiçã o de 1988,
maior autonomia e os seus salá rios ocuparam o topo dos servidores pú blicos, mas o
desempenho continuou alvo de reclamaçõ es. Sem controle externo, o nepotismo
ampliou-se como nunca513 e a lentidã o persistiu. Carente de impessoalidade em vá rias
decisõ es, sua contribuiçã o para o avanço da democracia ficou aquém do esperado.514
O Ministério Pú blico, redefinido pela Constituiçã o de 1988 como um poder
específico, estruturou-se e contribuiu muito para as conquistas da cidadania. Mas além
da crise interna nos anos noventa, que o desgastou, a atuaçã o de determinados
procuradores da capital nem sempre foi exemplar. Alguns se revelaram pouco
empenhados em debilitar o clima de impunidade quando envolviam interesses de
setores influentes. Houve casos em que chegavam “a advogar contra os interesses do
pró prio Estado”.515 Enquanto isso, as denú ncias da Procuradoria Federal contra
autoridades constituídas geralmente eram arquivadas pelos tribunais superiores. Por
coincidência, os processos contra os ex-governadores Albano Franco e Joã o Alves 516
tiveram o mesmo destino, o arquivamento pelo Superior Tribunal de Justiça. O Estado de
Direito careceu de maior abrangência.
Com os ó rgã os superiores tolerantes com os setores dominantes e o Executivo
com excesso de atribuiçõ es, o Estado tornou-se mais impotente diante das demandas

513
Cf. Cinform, 29.11 a 05.12.1999, 12 a 18.04. 1999, 14 a 20.06.1999.
514
Sobre os procedimentos dos magistrados, ver Dió genes Brayner in Gazeta de Sergipe, 02.08.2003 e Cinform, 10 a
16.05.1999.
515
Sobre o assunto, ver Fausto Leite na coluna Data Vênia in Jornal da Cidade, 05.12.2003 e Cinform, 22 a 28.12.2003.
516
Cf. Cinform, 07 a 13. 08.2000, Gazeta de Sergipe, 08.08.2000 e Folha de S. Paulo, 08.08.2000.
245

sociais. A criminalidade aumentou e a força policial, embora crescida e mais


aparelhada,517 tornou-se mais problemá tica. A impunidade cresceu alimentada pelo rito
processual cada vez mais complexo e tolerante com os profissionais do crime. Como se
isso nã o bastasse, as prisõ es se deterioraram e as fugas dos presos atingiram índices
alarmantes no período 1995-2000.518 Acompanhando o quadro nacional, a segurança
dos cidadã os degradou-se consideravelmente.
Contudo, o processo político democrá tico costuma trazer mudanças e suscitar
esperanças. A vitó ria do PT no pleito municipal no primeiro turno em Aracaju, no ano
2000, significou a ascensã o de um novo grupo político a assumir responsabilidades
administrativas com tendências de renovaçã o das prá ticas políticas. Mas o triunfo de
Joã o Alves Filho, em 2002 para governador, estabeleceu um contraponto com
possibilidades de muitos desdobramentos.

5.2 O Processo Econômico-social

As políticas econô micas dos governos militares contribuíram para diminuir os


desequilíbrios inter-regionais, mas legaram aos civis o Estado nacional-
desenvolvimentista com fortes sinais de exaustã o. O modelo nacionalista,
industrializante, corporativista e relativamente autá rquico terminou em crise. O
crescimento da dívida externa passou a exigir a geraçã o de altos superá vits comerciais,
alimentando a dívida interna, resultando em déficit pú blico e pressionando a inflaçã o.
Recorde-se que, ainda na gestã o do presidente Figueiredo, as dificuldades da
Uniã o ampliaram-se com a emenda Passos Porto, de dezembro de 1983. A proposta do
senador sergipano aumentava o nível de gastos, especialmente com o Fundo de
Participaçã o dos Municípios que passava de 9% (1980) para 17% (1986), enquanto o
Fundo de Participaçã o dos Estados subiu de 9% (1980) para 14% (1986).519 Em face

517
Segundo reportagem de semaná rio local, toda a complexa estrutura da Segurança Pú blica, composta pela Polícia
Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Hospital da Polícia Militar, Instituto de Criminalística, Instituto de
Identificaçã o e Instituto Médico Legal recebia mensalmente pouco mais de R$ 4,9 milhõ es. Desse montante, R$ 4,5
milhõ es eram destinados a pessoal e os R$ 400 mil restantes para custeio e investimento de toda a SSP. A Polícia
Militar, que tinha mais de 4.600 homens, recebia mensalmente R$ 120 mil. Enquanto isso, a Casa Civil recebia para
custeio R$ 800 mil. Aliá s, enquanto a Secretaria de Segurança Pú blica recebia 4,7% do orçamento do Estado, a Casa
Civil consumia 16% desse bolo, cf. Cinform 14-20.04.1997.
518
Durante a gestã o do secretá rio de Segurança Jugurta Barreto teriam havido 573 fugas. Cf. Dió genes Brayner in
Gazeta de Sergipe, 18.11.2003.
519
Cf. Fernando Luiz Abrucio. Os Barões da Federação. Sã o Paulo: Hucitec, 1998, p. 97.
246

desses acréscimos de encargos, as possibilidades de investimentos do governo federal


ficavam ainda mais reduzidas.520
Quando os governos civis assumiram a Presidência, recebendo pesada herança, a
crise fiscal acentuou-se e a inflaçã o disparou, conforme pode ser avaliada pelo quadro
seguinte.

520
Rui de Britto Á lvares Affonso. Federalismo no Brasil, Reforma Tributária e Federação. Sã o Paulo: FUNDAP/UNESP,
1995, p. 58.
247

QUADRO XI
INDICADORES ECONÔ MICOS (BRASIL –1983-2000)
DÍVIDA
INFLAÇÃ O IPC PIB REAL(1) % TAXA MÉ DIA
Ano PIB PERCAPITA EXTERNA
(FIPE)(1) ao ano VARIAÇÃ O DEESEMPREGO
(US$)(1) TOTAL*
% ANUAL (2) ABERTO (1)
Dezembro
1983 135,57 -2,92 1.497 93.556 6,7
1984 172,36 5,39 1.468 102.040 7,1
1985 201,75 7,91 1.599 105.171 5,3
1986 129,93 7,50 1.915 101.759 3,6
1987 220,94 3,61 2.057 121.188 3,7
1988 586,36 -0,05 2.186 113.511 3,8
1989 1.201,00 3,20 2.923 112.506 3,3
1990 2.900,84 -5,05 3.343 123.439 4,3
1991 410,59 1,25 2.771 123.910 4,8
1992 965,20 -0,30 2.605 135.949 5,7
1993 1.920,41 4,43 2.847 145.726 5,3
1994 2.149,26 5,85 3.546 148.295 5,1
1995 67,34 4,22 4.542 159.256 4,6
1996 16,48 2,66 4.924 179.935 5,4
1997 6,44 3,27 5.060 199.998 5,7
1998 1,43 0,22 4.867 241.644 7,6
1999 8,64 0,79 3.324 241.468 7,6
2000 4,38 4,46 3.584 236.151 7,1
* Em bilhõ es de dó lares.
Fontes:
1. Conjuntura Econô mica, v. 54, n. 6, jun. 2000, p. XIV.
2. Conjuntura Econô mica, v. 55, n. 7, jul. 2001. P. XXVII.

Observe-se que, de 1985 a 1994, a média anual do índice inflacioná rio foi
superior a 1.000% enquanto o PIB tinha pouco crescimento quando nã o se apresentava
negativo e a dívida externa permanecia elevada. Com a inflaçã o incontrolá vel, tudo foi
contribuindo para enfraquecer a coordenaçã o do poder central. Diante da imobilizaçã o
do Estado para políticas a médio prazo, começaram a surgir os planos econô micos como
tentativas de debelar a inflaçã o e readquirir o comando do processo político-econô mico.
Ao todo foram seis experimentos, Cruzado (02/1986), Bresser (06/1987), Verã o
(01/1989), Collor I (03/1990), Collor II (01/1991) e Real (1994), que quase sempre
acarretaram esperanças e desilusõ es em face dos grandes transtornos aos agentes
econô micos e aos cidadã os. Com a falência dos três primeiros e a exaustã o dos
instrumentos heterodoxos para conter a alta de preços, procurou-se atacar as causas
248

estruturais. O presidente Collor começou a enfrentar o processo de desregulamentaçã o


do Estado com reforma administrativa, abertura comercial e financeira e privatizaçã o.
Apesar dos sucessos efêmeros, os dois governos que lhe seguiram deram continuidade à
liberalizaçã o da economia. O ú ltimo plano de estabilizaçã o foi o que obteve mais sucesso
e durabilidade. Implementado no governo de Itamar Franco, sob a orientaçã o do seu
ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, passou por uma fase de transiçã o
(02/1994 a 06/1994) até entrar em vigor o Real.
Em Sergipe, como seria de esperar, a instabilidade econô mica do país de 1983-
2000 teve grandes repercussõ es. Bastante dependente dos investimentos pú blicos e sem
grande capacidade de competiçã o, sua economia declinou. Sobretudo o setor primá rio,
que foi castigado pelas sucessivas secas, viveu tempos difíceis. No primeiro quatriênio, o
PIB estadual ainda apresentou bom desempenho, mas a partir daí passou a ressentir-se
da nova orientaçã o econô mica e perdeu terreno em relaçã o aos demais Estados da
federaçã o. Enquanto em 1985 Sergipe participava com 0,92% da formaçã o do PIB
nacional, em 1999 esse percentual havia caído para 0,56%, passando do 16º para o 21º
lugar no ranking do país.521 Essa queda, proporcionalmente a maior entre os Estados, em
grande parte foi provocada pela retraçã o dos investimentos da Petrobras. Lembremo-
nos que somente na construçã o da Petromisa até 1985 havia sido aplicado cerca de um
bilhã o de dó lares. Os momentos mais críticos da economia ocorreram em 1987 e na fase
de 1990-94, conforme se observa pelo quadro seguinte.

521
Folha de S. Paulo, 14.12.2001. Ver também Conjuntura Econômica, v. 54, n. 6, junho/2000, p. 30-31.
249

QUADRO XII
SERGIPE - VARIAÇÕ ES ANUAIS DO PIB SEGUNDO OS SETORES ECONÔ MICOS
(ANO BASE 1980=100)
Agropecuá ria Indú stria Serviços TOTAL
Anos Variaçã o Variaçã o Variaçã o Variaçã o
Anual (%) Anual (%) Anual (%) Anual (%)
1983 -62,0 7,3 1,8 5,4
1984 153,8 4,5 -3,3 5,4
1985 21,4 8,4 14,4 13,0
1986 22,8 9,8 21,3 17,1
1987 -37,0 4,8 -5,1 -5,5
1988 21,0 8,5 -5,9 2,5
1989 15,7 3,9 6,1 6,4
1990 -13,5 -0,6 -6,9 -5,6
1991 13,1 -10,0 4,7 -0,5
1992 -18,2 4,6 -0,6 -1,5
1993 -39,0 3,1 3,3 -2,9
1994 30,6 -0,3 5,0 4,8
1995 2,7 2,2 5,2 3,6
1996 -0,4 5,2 5,2 4,6
1997 1,6 10,5 3,2 6,3
1998 -12,7 4,8 1,1 0,8
1999 6,9 6,2 4,2 5,2
2000 3,7

1. Dados Preliminares
2. Pá gina Eletrô nica- SUDENE.

Por este quadro, pode-se ver como, a partir de 1994, os serviços melhoraram,
mas a recuperaçã o da indú stria somente ocorreria a partir do ano seguinte. De qualquer
forma, no ú ltimo quinquênio, os dois ú ltimos setores reagiram, ainda que com taxas nem
sempre altas.
O setor primá rio, que já tinha participaçã o pequena na formaçã o do PIB
estadual,522 encontrou mais problemas. A agropecuá ria e a agricultura pouco produtiva
ressentiram-se das estiagens, da concorrência interestadual, compondo um período
ruim para o homem do campo. Em meio à s adversidades, o poder pú blico interferiu com
projetos como Chapéu de Couro, Sertanejo, Nordeste, Jacaré-Curituba sem falar da
Codevasf. Cada qual à sua maneira procurou minorar a situaçã o do trabalhador rural. A
522
Em 1999 a agropecuá ria participou em 6,9% do PIB do Estado de Sergipe, enquanto a indú stria entrava com 48,5%
e os serviços com 44,6%. Cf. Carta de Conjuntura Nordeste do Brasil, SUDENE, Contas Regionais, 2000, n. 1, p. 18.
250

á rea de lavoura ampliou-se de 31% para 37% entre 1985 e 1995, enquanto o espaço de
pastagens persistia inalterado, ocupando 36%.523 Apesar da ponderá vel continuidade de
formas tradicionais de cultivo, aumentou a preocupaçã o com a produtividade, que já
vinha sendo observada no cultivo da cana-de-açú car e foi estendida aos novos projetos
irrigá veis (Califó rnia e o Platô de Neó polis) e à citricultura, nã o obstante o desâ nimo dos
produtores castigados pelas estiagens e pelos baixos preços da laranja. No conjunto
houve melhorias na infraestrutura, inclusive no acesso à á gua. Vá rias barragens foram
construídas, visando seu maior armazenamento. A energia elétrica passou a cobrir todos
os municípios, quase a totalidade dos povoados e numerosas fazendas. Dessa forma, a
estrutura da propriedade fundiá ria sofria mudanças.
No setor secundá rio, a Nitrofértil, que se transformou em FAFEN, e a Petromisa
entraram em franca produçã o, embora os projetos do Polo Cloroquímico e da Zona de
Processamento para Exportaçã o (ZPE) tenham sido arquivados diante da conjuntura
adversa. O nível de investimento pelo poder pú blico diminuiu consideravelmente em
relaçã o ao período anterior. Entretanto, a Petrobras continuou como principal empresa
de investimento no Estado. Além dos gastos com a planta da FAFEN e na construçã o da
Mina de Potá ssio, empreendimentos que provinham do final dos anos setenta, aplicou
nas obras do Porto de Sergipe 130 milhõ es de dó lares. Somente no ano 2000 pagou R$
68,4 milhõ es em salá rios e R$ 9 milhõ es de ICMS. De royalties, naquele ano entregou R$
29 milhõ es ao Estado e R$ 21 milhõ es aos municípios. Com duas unidades de
processamento de gá s, 21 estaçõ es de tratamento de ó leo, 26 plataformas de produçã o
no mar e sete sondas de perfuraçã o, criando milhares de empregos diretos e indiretos,
ocupava um porte inigualá vel no Estado.524 A partir do fim dos anos oitenta, a produçã o
de ó leo declinou, mas no ano 2000 já dava sinal de ascensã o.525 As produçõ es de amô nia,
ureia, cloreto de potá ssio, açú car e cimento continuavam aumentando. A fabricaçã o de
tecidos de algodã o, calçados e mó veis permanecia com alguma importâ ncia no mercado
interno.526

523
IBGE. Censo Agropecuário – Sergipe. 1995/1996, apud Governo de Sergipe. Sergipe em Síntese, Aracaju: SEPLAN,
1998, p. 15.
524
No fim do milênio, a Petrobras tinha 1.671 empregados pró prios, 2.772 contratados e 26.658 empregos indiretos.
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Contribuição da Petrobras para o Desenvolvimento do Estado de Sergipe. Palestra
no ciclo de conferências Pensar Sergipe III, UFS, novembro/2001.
525
Cf. Paulo Manoel Mendes Mendonça. Ob. Cit., novembro/2001.
526
Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e Renda in José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar
Sergipe, São Cristó vã o/SE: UFS, 2000, v. II, p. 34.
251

A indú stria da construçã o civil, nã o obstante algumas crises, permaneceu forte e


consolidou-se como grande absorvedora de mã o de obra e fomentadora de outras
formas de produçã o. Alguns grupos (Norcon e Celi), que despontaram na fase anterior,
permaneceram fortes, embora outros (Cosil e Andrade Mendonça) tenham se afirmado.
Os resultados das privatizaçõ es, num primeiro momento, manifestaram-se
controvertidos. Embora tenham trazido recursos apreciá veis para o Estado e eficiência a
algumas empresas, como a Energipe e a ex-Petromisa, atual unidade da Companhia do
Vale do Rio Doce, o regime de trabalho intensificou-se e houve reduçã o do quadro de
pessoal.527
Enfim, embora o setor secundá rio tenha atravessado um período com reduçã o do
nível de investimentos e com volume de empregos relativamente baixo, ao final do
século persistia contribuindo de modo significativo para o PIB estadual, como
certamente em nenhuma outra unidade federativa. Por outro lado, a inauguraçã o do
Terminal Portuá rio (1995) concretizou velho sonho dos sergipanos, enquanto outras
obras de infraestrutura habilitavam o Estado para atraçã o de novos projetos industriais.
O setor terciá rio também se ressentiu das baixas do quadro nacional, mas se
modernizou e se diversificou. Passou a predominar na formaçã o do PIB e afirmou-se
como a á rea de maior absorçã o de mã o de obra, além de contribuir para o aumento da
classe média. É verdade que no comércio a centralizaçã o aumentou. Os centros polares
de Itabaiana, Nossa Senhora da Gló ria, Lagarto e sobretudo Aracaju sugaram os demais
municípios, inibindo seu movimento comercial. A modernizaçã o dos transportes
contribuía também para esvaziar sua vida social, inclusive as atividades recreativas,
apesar das apresentaçõ es dos shows principalmente a partir dos anos noventa.
O aparecimento dos shoppings Riomar e, posteriormente, Jardins, reforçou
tendências concentracionistas do capital. As redes (G. Barbosa, Bom Preço) ganharam
grande predomínio, inviabilizando os pequenos comerciantes que a elas nã o se
subordinassem. Dentre as grandes fortunas desse período, raras foram aquelas que
tinham longa tradiçã o de experiência empresarial destacada.
As usinas de Sergipe, que no início do século XX eram 14 e depois chegaram a 86,
na década de 1930 passaram a diminuir sucessivamente. Ao fim do milênio havia apenas
uma sobrevivente, S. José do Pinheiro, produzindo mais do que nos períodos
527
Ver Ricardo de Oliveira Lacerda. Perspectivas da economia sergipana no contexto da globalização. Aracaju, 04.1999.
252

precedentes, enquanto que os descendentes de Albano Pimentel do Prado Franco, que a


criou, ocupavam cargos de destaque na política e na economia sergipana, entre os quais
seu neto homô nimo como governador.
Fora do ramo açucareiro, poucos grupos empresariais que emergiram durante a
Primeira Repú blica sobreviviam através dos seus herdeiros. Conseguimos identificar
com alguma importâ ncia os descendentes dos Leite de Estâ ncia, de Constâ ncio Vieira, de
Calumby Barreto, dos Ribeiro Chaves e de H. Dantas, em Aracaju. O fato é que a elite
senhorial sergipana murchou. Novos grupos emergiram, mas no todo o setor
empresarial privado perdeu terreno para o Estado, que avançou como fonte de
investimentos e detentor de meios de produçã o através de grandes empresas pú blicas,
como as indú strias extrativas.
Quanto aos serviços, especialmente educaçã o e saú de continuaram com
participaçã o bastante elevadas do poder pú blico. Pode-se dizer, entã o, que a crise
sofrida pela economia sergipana nã o alcançou maiores proporçõ es em face de sua
grande dependência das indú strias extrativas. Mesmo assim, nos anos noventa, o
aumento do nú mero de empregados com e sem carteira assinada esteve longe de
acompanhar o crescimento da populaçã o economicamente ativa.528
Em meio a esses problemas, no período 1983-2000, o crescimento do PIB foi
superior à média nacional e ligeiramente inferior à da Regiã o Nordeste, conforme se
observa pelo quadro abaixo.

528
Sobre a estrutura ocupacional nos anos oitenta e noventa em Sergipe, ver Ricardo Lacerda. Geraçã o de Emprego e
Renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento (orgs). Pensar Sergipe, v. II. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 2000, p.
35-41.
253

QUADRO XIII
PRODUTO INTERNO BRUTO (CRESCIMENTO ANUAL)

SERGIPE (1) NORDESTE (1) BRASIL (2)


Variaçã o
ANOS Variaçã o Variaçã o
Anual (%)
Anual (%) Anual (%)
Base 1996=100
1983 -2,3 -3,8 -2,92
1984 5,4 8,6 5,39
1985 13,0 8,0 7,91
1986 17,1 14,5 7,50
1987 -5,5 -1,0 3,61
1988 2,5 1,1 -0,05
1989 6,4 3,2 3,20
1990 -5,6 -5,9 -5,05
1991 -0,5 2,4 1,25
1992 -1,5 -1,5 -0,30
1993 -2,9 -1,8 4,43
1994 4,8 9,7 5,85
1995 3,6 4,4 4,22
1996 4,6 4,1 2,66
1997 6,3 5,8 3,27
1998 0,8 1,5 0,22
1999 5,2 3,3 0,79
2000 3,7 4,8 4,46
Média 3,06 3,19 2,58
Fontes:
1) Nordeste e Sergipe: SUDENE – Boletim Conjuntural.
2) Brasil: Conjuntura Econô mica, v. 55, n. 7, julho. 2001. p XXVII.

No campo social houve mudanças significativas. A populaçã o cresceu


consideravelmente e mudou o perfil na pirâ mide etá ria. Enquanto as faixas de 0 a 9
anos, em 1996, apresentavam decréscimos relativos, em relaçã o ao ano de 1980, o
percentual de pessoas com 70 anos ou mais ampliava-se. Eram indicaçõ es de diminuiçã o
da natalidade e de aumento da longevidade. No fundo o contingente de jovens diminuía.
Em termos de urbanizaçã o, o crescimento prosseguiu.
254

QUADRO XIV
POPULAÇÃ O URBANA E RURAL (SERGIPE)

CENSO URBANA % RURAL % TOTAL


1980 617.796 54,2 522.325 45,8 1.140.148
1991 1.002.298 67,2 490.102 32,8 1.492.400
2000 1.270.429 71,4 509.093 28,6 1.779.522
Fontes: Censos de 1980, 1991 e 2000.

O fato de a populaçã o urbana duplicar a cada vinte anos provocou muitas


demandas nos diversos serviços pú blicos.
Quanto ao movimento dos trabalhadores, pode-se dizer que foi marcado por duas
fases diferenciadas. A primeira aconteceu nos anos oitenta e ficou na memó ria como um
período de mobilizaçã o crescente e conquistas. A segunda transcorreu nos anos noventa
quando uma série de fatos inibiu a movimentaçã o e houve perdas.
A primeira fase começou com aceleraçã o do declínio do regime autoritá rio e, em
contrapartida, com a presença cada vez mais forte dos grupos assalariados no cená rio
político e social. O exemplo mais eloquente desse quadro foi a criaçã o, em 1983, de duas
grandes centrais sindicais: a Central Ú nica dos Trabalhadores (CUT) e a Coordenaçã o
Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), que depois se transformaria em CGT. Nã o
obstante a divisã o em duas tendências um tanto distintas, a organizaçã o das duas
instituiçõ es indicava a volta dos trabalhadores à cena política, apó s quase duas décadas
sem ó rgã os de representaçã o que falassem pelo seu conjunto.
Em Sergipe, no bojo da campanha pelas diretas (1983-1984), os movimentos
sociais, que já vinham se ensaiando, ganharam grande vigor. Com a alternâ ncia de poder
dos militares para os civis na Presidência da Repú blica, a mobilizaçã o intensificou-se. Se
no meio rural os posseiros já vinham despertando atençã o da mídia através dos conflitos
com os proprietá rios, em Aracaju houve uma febre de organizaçã o dos grupos
populares. A necessidade de cadastramento para o recebimento de certos benefícios,
especialmente o leite, provocou a proliferaçã o de associaçõ es de bairros. Os grupos
políticos entraram em campo e passaram a orientar e/ou manipular lideranças da
periferia de Aracaju e de outras cidades. De maio para julho de 1985, o nú mero de
255

entidades passou de nove para 75, além dos 28 centros sociais.529 Nessa onda de
mobilizaçã o, outros movimentos sociais emergiram: os sem teto, os negros, os meninos
de rua, todos tentando organizar-se e reivindicando direitos.530 Em geral com o apoio de
terceiros, cada grupo passou a apresentar seus pleitos, enriquecendo as iniciativas da
sociedade civil com passeatas e atos pú blicos. A campanha pelos Direitos Humanos
adquiriu maior abrangência com a abertura de nú cleo em Propriá (1985). Foi também
neste ano que se realizou o I Congresso dos Trabalhadores Sem Terra (Curitiba),
lançando as bases do MST. Representaçã o de Sergipe participou do encontro e, de volta,
passou a estruturar seu nú cleo no Estado.
Enquanto isso, o quadro sindical se robustecia com o crescimento de três
sindicatos modernos e combativos, o dos petroleiros e os dois dos operá rios da indú stria
química (Nitrofértil e Petromisa). Os empregados da Petrobras, que nos anos 60 e 70
tiveram suas açõ es cerceadas, criaram o Sindipetro AL/SE e, a partir de 1981, as
reivindicaçõ es foram sendo explicitadas com maior visibilidade. A articulaçã o com os
petroleiros de outros Estados acentuou-se. A realizaçã o de eleiçõ es, a participaçã o em
congressos, a divulgaçã o do seu jornal Ouro Negro, a integraçã o nos movimentos
nacionais, tudo foi compondo a mobilizaçã o crescente com realizaçã o de vá rias greves
locais ou gerais e de campanhas da categoria, entre as quais a defesa do monopó lio da
pesquisa, lavra, refinaçã o, importaçã o e exportaçã o e transporte de Petró leo por parte
da Uniã o que foi incluída na Constituiçã o de 1988.531
Quanto ao Sindiquímica, começou a estruturar-se em 1982 com o funcionamento
da unidade da fá brica Nitrofértil. Esta empresa que, já dispunha de uma planta em
Camaçari (BA), passou a dispor de outra, situada no município de Laranjeiras (SE). Em
1985, os 470 trabalhadores da empresa conseguiram sua carta sindical e, dispondo de
seu jornal Zaga, empreenderam sucessivas campanhas reivindicativas e ganharam
vá rios pleitos, inclusive a equiparaçã o dos direitos aos petroleiros. Entre movimentos
internos e greves, uma das quais com certo teor de violência, os associados foram
adquirindo autonomia, ditando normas e tornando suas açõ es cada vez mais ousadas.532
529
Cf. Maria Luíza Souza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In: Movimentos. Aracaju, ano 1, n.
1, julho/1995, p. 19.
530
Ver Maria Luiza Souza. Ob. cit., julho de 1995.
531
Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju,
Dissertaçã o de Mestrado em Ciências Sociais da UFS.
532
Segundo estudioso do tema, “o nível de organizaçã o e de ousadia era tamanho que, no ano de 1993, no auge do
processo de privatizaçã o, os trabalhadores puxados pelo sindicato impediram que a empresa Price Westinghouse
256

Situaçã o semelhante ocorria com os trabalhadores da Petromisa, que começou a


ser instalada em 1979 no município de Rosá rio do Catete (SE) e entrou em
funcionamento em 1984. Cedo seus empregados começaram a mobilizar-se cobrando
Plano de Carreira. Formaram uma Associaçã o, que, em 1985, transformou-se em
sindicado, o Sindimina, que haveria de caracterizar-se como um dos mais combativos de
Sergipe, participando de vá rios movimentos. Inicialmente o pessoal da Petromisa atuou
em conjunto com os operá rios da Nitrofértil, mas, no encontro de 1988, as diferenças,
que já vinham da criaçã o da CUT, se acentuaram e as duas entidades separaram-se. O
Sindimina manteve-se cada vez mais identificado com a tendência Articulaçã o do PT,
enquanto que o Sindiquímica, controlado pelas facçõ es mais à esquerda (O Trabalho,
Convergência Socialista), esteve assumindo posiçõ es mais críticas e independentes.
De qualquer forma, esses três sindicatos de grandes empresas industriais, ligados
à CUT e articulados nacionalmente, numa época de liberalizaçã o das instituiçõ es e
inflaçã o descontrolada, proporcionaram uma combatividade sem precedente no
movimento sindical de Sergipe. Concorreram para isso também as associaçõ es da á rea
de serviços. Aí, as lideranças mais participantes eram as vinculadas ao Sindicato dos
Bancá rios, atuando em todas as iniciativas em prol da democratizaçã o. Em 1986, fizeram
greve de grande repercussã o. Com elevado nú mero de filiados, em torno de 85% da
categoria, e dispondo de bastante recursos, os bancá rios promoverem numerosas açõ es
organizativas e anualmente empreendiam campanhas salariais atuantes, realizando
paralisaçõ es até 1988.533
Os anos oitenta foram assinalados também pela atuaçã o dos funcioná rios
pú blicos, que se organizaram em associaçõ es, depois em sindicatos e revelaram-se dos
mais reivindicativos. Aí numerosas categorias se destacaram, entre as quais os docentes
da UFS, através da ADUFS, que se filiou à CUT. Os professores do Estado passaram algum
tempo divididos em dois grupos com associaçõ es pró prias, mas terminaram se

entrasse na Fafen para avaliá -la”. Frederico Lisboa Romão. A Globalização e seus Reflexos sobre os Trabalhadores
“Estáveis”: Petroleiros da Fafen/Petrobras. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Petró polis,
Outubro/2000, p.6.
533
Cf. Augusto Santos. Depoimento ao autor em 23.11.2001.
257

compondo, através da APMESE, depois transformada no Sindicato dos Trabalhadores


em Educaçã o Bá sica do Estado de Sergipe (SINTESE). Em todos os momentos,
participaram de vá rias campanhas e de diversos movimentos. Outra categoria dos
funcioná rios pú blicos que se revelou combativa foi a dos profissionais de Saú de através
de sua entidade (SINTASE). Enfim, mobilizados, os funcioná rios pú blicos tiveram direito
de greve reconhecido na Constituiçã o de 1988 e, embora nã o fosse regulamentado até o
fim do século, promoveram numerosas paralisaçõ es. Sobretudo na primeira fase, 1983-
1990, nunca houve tanta greve em Sergipe.
Já em 1983, ainda no regime autoritá rio, aconteceu uma greve geral. Mas as
interrupçõ es dos serviços tomaram proporçõ es jamais vistas na Presidência de José
Sarney (1985-89). Em 1984 os professores do ensino estadual pararam. Categorias que
nunca haviam feito greve em Sergipe, como os profissionais da saú de, cruzaram os
braços em abril de 1985. Meses depois foi a vez dos bancá rios. Motoristas e cobradores
de ô nibus também deixaram de circular, provocando transtornos e tumultos em 1985 e
1986. Em 1988 os petroleiros chegaram a cruzar os braços seis vezes.534
No conjunto, o país liderava o ranking mundial com surto grevista sem
precedentes. Lembremo-nos que enquanto de 1945 a 1977 a quantidade de paralisaçõ es
anuais oscilou entre uma e 159,535 a partir de 1985 os movimentos proliferam. No ano de
1987, houve 2.139 greves,536 depois de uma baixa no ano seguinte com 970, em 1989
bateu recorde com 2.193.537 Eram resultados de acordos coletivos nã o cumpridos,
perdas salariais causadas pela inflaçã o e dificuldades de negociaçõ es, especialmente com
os funcioná rios pú blicos, enfim a crise do Estado, em tempos de mobilizaçã o. Vivendo-se
num momento de inflaçã o elevada e liberalizaçã o política, no qual a repressã o se tornou
recurso raro, sobretudo os funcioná rios pú blicos, que nada tinham a perder com as
paralisaçõ es, exercitaram bastante a prá tica grevista.538 O fato é que nos anos oitenta, o
movimento dos trabalhadores cresceu, resultando em muitas conquistas. Praticamente

534
As greves foram as seguintes: dois dias em fevereiro, dois dias em março, quatro dias em maio, um dia em agosto,
um dia em outubro e 11 dias em novembro. Cf. Maria da Conceiçã o Almeida Vasconcelos. Ação Político-sindical dos
Petroleiros SE/AL nos anos 80. Aracaju, Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais da UFS, p.187.
535
Nú mero de Greves no país no período de 1945 a 1977: 1945- 28; 1946- 98; 1947- 16; 1948- 39; 1949- 17; 1950-
09; 1951- 20; 1952- 14; 1953- 19; 1954- 09; 1955- 15; 1956- 14; 1957- 35; 1958- 29; 1959- 88; 1960- 67; 1961- 110;
1962- 141; 1963- 159; 1964- ; 1965- 25; 1966- 15; 1967- 1; 1968- 25; 1969- 17; 1970- 12; 1971- 1; 1972- 12; 1973-
1977- 3 - (média anual). Fonte: Retrato do Brasil. Sã o Paulo: Política Editora, 1984, p. 211.
536
Leô ncio Martins Rodrigues, A década dos trabalhadores. Jornal do Brasil, 27.06.1992.
537
Jornal da Cidade, 02.02.91, Aracaju, apud Diese.
538
Leô ncio Martins Rodrigues. A década dos trabalhadores. Jornal do Brasil, 27.06.1992.
258

todas as categorias organizaram-se em sindicatos. As Organizaçõ es Nã o Governamentais


(ONGs) multiplicaram-se em Sergipe, muitas das quais contribuindo para promoçã o
social das classes subalternas.539
A Carta Magna de 1988, chamada de Constituiçã o cidadã , consagrou nã o apenas
os direitos civis e políticos, mas sobretudo sociais. A saú de e a educaçã o tornaram-se
direitos de todos e dever do Estado. A assistência social dos necessitados passou a
direito independente de contribuiçã o. A seguridade social virou direito universal. Surgiu
a licença maternidade, pensã o de salá rio mínimo para deficientes e maiores de 65 anos.
De todas as categorias, os funcioná rios pú blicos civis foram os que saíram com maiores
ganhos. Granjearam estabilidade com apenas dois anos de serviço. Os apadrinhados que
entraram sem concurso viraram está veis com cinco anos. Alguns setores, como os
professores, passaram a gozar de aposentadoria com tempo mais reduzido, 25 anos para
as mulheres e 30 para os homens, num momento em que outros países aumentavam o
tempo de jubilamento. Apesar de muitos dispositivos ficarem a depender da capacidade
de cada grupo fazer valer os seus direitos, foi um grande avanço. Era decorrência do
fortalecimento do movimento sindical brasileiro, embora retardatá rio. Pois a essa altura
já vinha ocorrendo refluxo em outras paragens.
Recordemos que a década de oitenta vinha sendo marcada pelo declínio dos
sindicatos em vá rios países do mundo, tais como EUA, Japã o, Reino Unido, França,
Holanda, entre outros, expresso em sensível diminuiçã o do nú mero de associados.540 No
caso do Brasil, depois do retrocesso do período autoritá rio, os sindicalistas tentaram
recuperar o tempo perdido, e a Constituiçã o de 1988 incorporou numerosos direitos e
prerrogativas, mas sobrecarregou o Estado de compromissos, justamente numa fase de
grande crise estrutural. Em 1989 a inflaçã o ultrapassou 1000%. No início do ano
seguinte, chegava a 80% ao mês. Foi nesse momento que o presidente Collor assumiu a
Presidência da Repú blica e procurou mudar o modelo de desenvolvimento no sentido de
equacionar a crise que afetava as finanças pú blicas. Seguindo orientaçã o liberalizante, o
novo governo promoveu abertura comercial, reforma administrativa, privatizaçõ es e
tomou medidas visando ao maior controle das estatais. Num quadro de desgaste das
539
Em 1998, o pesquisador Rodorval Ramalho identificou 725 entidades apenas em Aracaju. Eram 116 associaçõ es de
classe (incluindo trabalhadores e patronais), 183 grupos filantró picos, 180 agremiaçõ es religiosas, 86 associaçõ es de
moradores, 86 entidades de apoio à cultura e à educaçã o e 64 instituiçõ es de lazer e/ou esporte. Cf. Andréa Cardoso.
Jornal da Cidade, 14.09.1998, p. 9.
540
Cf. Leô ncio Martins Rodrigues. Destino do Sindicalismo. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1999, p. 26.
259

ideias estatistas, reforçado pela falência do modelo soviético de gestã o, os princípios


liberais alcançaram prestígio. Mercado, produtividade e competitividade ganharam
importâ ncia dentro da nova estratégia de desenvolvimento que passou a ser chamada de
neoliberal. Um de seus efeitos foi o refluxo do movimento sindical, que haveria de
marcar os anos 90.
Para os bancá rios de Sergipe, o golpe já havia começado em 1989 com a
introduçã o da automaçã o. Primeiro foram os bancos particulares que adotaram novas
má quinas, resultando, em poucos anos, na reduçã o de cerca de 50% do quadro existente
em 1982. Na segunda metade dos anos noventa, seria a vez dos estabelecimentos de
economia mista optarem pela nova tecnologia, acentuando a diminuiçã o dos
funcioná rios. Fragilizados com as dispensas de bancá rios, inclusive através dos planos
de demissã o voluntá ria, o movimento sindical decaiu, enfraquecendo as campanhas
salariais, inviabilizando as paralisaçõ es unificadas.541 Como se isso nã o bastasse, houve o
processo de privatizaçã o que afetou também outros setores. A Rede Ferroviá ria seria
uma das atingidas. Vendida para grupos privados, 279 empregados ficaram inativos. 542
Outro ramo atingido foi o da química, inclusive as indú strias de fertilizantes controladas
pela Petrofértil. Mas a Nitrofértil foi preservada e, em 1993, “foi incorporada à
Petrobras, passando a chamar-se FAFEN”.543
Consequências maiores teve o processo de adequaçã o dos trabalhadores à s novas
orientaçõ es administrativas, voltadas para diminuir custos. Desde meados dos anos 80,
começaram as medidas de Balanço Social e Controle de Qualidade que procuravam
subordinar os operá rios à s novas prá ticas de trabalho e relacionamento. As inovaçõ es
voltadas para a melhoria da produtividade atingiram o Sindiquímica, levando-o a aceitar
tendências controladoras que se acentuaram nos anos noventa. A terceirizaçã o
aumentou, algumas conquistas foram sendo perdidas, surgiram as demissõ es, enquanto
o sindicato e os seus movimentos perdiam força.544
Os trabalhadores da Petromisa também passaram por maus momentos. Cerca de
um mês depois da sua posse, o presidente Collor extinguiu a empresa. Foi indicado um
interventor para fechá -la, mas o sindicato encetou luta inteligente contra a extinçã o, que
541
Cf. Augusto Santos, depoimento ao autor em 23.11.2001.
542
Jornal da Cidade, 24.04.1996.
543
Frederico Lisboa Romã o. A Globalização e seus Reflexos sobre os Trabalhadores “Estáveis”: Petroleiros da
Fafen/Petrobras. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Petró polis, Outubro/2000, p. 5.
544
Frederico Lisboa Romã o. Ob. cit. 2000, p. 5.
260

durou anos. Aceitou melhorar o desempenho e passou a discutir metas de produçã o.


Quando a Companhia Vale do Rio Doce assumiu o controle da fá brica (1991) exigiu
demissã o dos dirigentes sindicais para incorporar quadros dela, introduziu nova política
gerencial e desgastou a força do sindicato, fomentando inclusive desfiliaçã o. Os
sindicalistas reagiram e, por algum tempo, ganharam fô lego. Mas, a partir de 1994,
quando uma de suas principais lideranças, José Eduardo Dutra, foi eleito senador, por
motivos vá rios, o movimento diminuiu e o Sindimina perdeu espaço.545
O processo de reforma do Estado continuou no governo Itamar Franco, mas
adquiriu mais vigor e determinaçã o na Presidência de Cardoso. Quando a nova
administraçã o tentava proporcionar estabilidade à moeda, inclusive eliminando a
correçã o monetá ria, em maio de 1995 rebentou a greve na Petrobras, gerando
transtornos para a populaçã o e uma queda de braço com o governo que perdurou por 31
dias. Segundo avaliaçã o de dois analistas:
“O confronto simbolizou o choque entre duas concepções políticas para o País. De
um lado, fincou-se a CUT, o PT e o PSTU, com suas ideias estatizantes. De outro o
governo que pretende abrir os monopólios e modificar estruturas que atingem o
coração da CUT, como as gigantescas estatais e o funcionalismo público”.546

Apó s grande impasse, o Tribunal Superior do Trabalho julgou a greve ilegal. Mas
os trabalhadores nã o acataram a decisã o e ocuparam as refinarias. O governo convocou
o Exército, interveio e impô s aos petroleiros a sua mais séria derrota. Vá rias lideranças
foram demitidas, e os sindicatos ficaram a pagar elevadas multas, inclusive o de Sergipe.
As açõ es de outras categorias como servidores e professores universitá rios, ferroviá rios,
setores da saú de e da previdência, que já pediam de 12 a 189% de aumento, foram
inibidas.547 O projeto de privatizaçã o continuou, assim como as reformas constitucionais,
inclusive a que extinguia o monopó lio estatal do petró leo, velho dogma dos nacionalistas
desde pelo menos os anos cinquenta do século XX. Como efeito, a mobilizaçã o sindical
decaiu consideravelmente, em menor escala entre os servidores e professores da UFS,
que haviam feito greve em 1987, 1988, 1989, 1991 e 1993. Apó s uma pequena trégua,
em abril de 1996 voltaram a parar, dessa vez por 67 dias, mas sem sucesso. De qualquer
forma, o movimento popular ficava mais concentrado nos funcioná rios pú blicos e no
545
Cf. Marcelo Barreto. Depoimento ao autor em 19.11.2001.
546
Patrícia de Andrade e Raymundo Costa, ISTOÉ, 07.06.1995.
547
ISTOÉ, 24.05.1995.
261

MST. Na greve geral programada pela CUT em junho de 1996, vá rias categorias tais
como bancá rios, comerciá rios, industriá rios e tantas outras decidiram nã o participar,
mas os funcioná rios das estatais tanto estaduais quanto federais aderiram.548 Enquanto
isso, outras categorias também estiveram a protestar, entre as quais as ligadas aos
transportes alternativos. Mas o grosso das manifestaçõ es provinha dos empregados do
setor pú blico, mestres, policiais, agentes penitenciá rios e alguns mais.
Em 1998, ano eleitoral, professores e servidores da UFS retomaram as
paralisaçõ es, dessa vez por cem dias. Como o governo continuou sem uma política
salarial que amenizasse as perdas por parte do funcionalismo federal, os
descontentamentos com o presidente avolumaram-se no segundo mandato.
Seguindo as orientaçõ es nacionais, os movimentos contra as políticas
governamentais aumentaram em Aracaju. Em março de 1999, grupos da sociedade civil
promoveram o Acorda Sergipe tendo como palavras de ordem: Fora FHC, Fora FMI,
Morató ria Já . O 1o de maio de 1999 foi marcado por manifestaçõ es populares em repú dio
ao valor do salá rio mínimo e ao desemprego. No segundo semestre, colheram
assinaturas pedindo o impeachment do presidente, depois vá rios deles participaram da
marcha de protesto em Brasília.549 Além dos slogans costumeiros, ganhou força a
campanha pelo nã o pagamento da dívida externa. No ano seguinte, essa ideia se
transformaria em recomendaçã o da Igreja Cató lica, que promoveu plebiscito, secundada
pelas siglas partidá rias tais como PT, PSTU, PC do B, entre outras.
Entre todas as categorias, os que mais permaneceram aguerridos e tiveram
maiores ganhos nesse período foram os trabalhadores rurais. A criaçã o do Plano
Nacional de Reforma Agrá ria pelo governo Sarney, em plena fase de redemocratizaçã o,
animou o homem do campo e deu â nimo ao movimento popular. A Diocese de Propriá ,
que atuava em 26 municípios do Estado, e os sindicatos rurais passaram a incentivar e
respaldar as açõ es dos trabalhadores. A partir de 1985 os conflitos de terra
proliferaram, chegando a duas dezenas e, em meio a ameaças do patronato e açõ es
repressoras da polícia, o movimento cresceu, ocupando fazendas com o apoio da
Comissã o Pastoral da Terra (CPC) e de militantes de partidos políticos. Era o processo de

548
Cf. Jornal da Cidade, 21.06.1996.
549
O Movimento “Fora FHC”, de agosto de 1999, recebeu o nome de Fó rum Sergipano por Terra Trabalho e Cidadania.
Participaram partidos de esquerda (PT, PC do B, PDT, PSTU, PCB, PSB), OAB, CUT e FETASE. O abaixo assinado em
prol do impeachment teria alcançado cerca de 40 mil adesõ es. Cf. Jornal da Cidade, 17.08.1999.
262

reforma agrá ria desencadeado em Sergipe. Numa primeira fase, correspondente ao


período 1985-89, foram desapropriados 14.825 hectares, beneficiando 823 famílias em
13 projetos de assentamentos.550 Enquanto isso, o Movimento Sem Terra, como parte da
instituiçã o nacional, organizava-se no Estado, e assumia a direçã o do processo com
autonomia pró pria, dispensando a presença de entidades que divergissem de sua
orientaçã o. Uma vez estruturado, promoveu encontros dos assentados, cursos,
desenvolveu passeatas, invasõ es de terras, de bancos e de prédios pú blicos, interrupçã o
de estradas, saques de variadas naturezas e foi atingindo seus intentos. A partir de 1989
os Sem Terra foram conseguindo desapropriaçã o de fazendas e, em 1999, já dispunham
de propriedades no total de 61.187 hectares, distribuídos em 25 municípios,
beneficiando 4.020 famílias.551 Afinal, os trabalhadores permaneceram nos municípios
do interior do Estado, enquanto o poder pú blico passou a arcar com novo grupo de
clientes, á vido por recursos subsidiados, mas ainda com modesta contribuiçã o à
produçã o agrícola do Estado.
No mundo urbano, nesse período difícil de 1983-2000, muitas mudanças
modernizadoras foram implementadas. A introduçã o de novas tecnologias e de novos
padrõ es de gestã o afetaram as relaçõ es entre capital e trabalho. No curso desse
processo, como observamos, algumas categorias foram bastante penalizadas, mas houve
também significativos avanços sociais. Somente no período 1991 a 2000, a esperança de
vida aumentou de 59,8 para 64,1 anos, a mortalidade infantil até um ano de idade
diminuiu de 65,8 por mil para 48,5 por mil, o índice de fecundidade baixou de 3,6 para
2,7 e o percentual de jovens de 7 a 14 anos frequentando a escola ascendeu de 73,3%,
para 93,3%.552 A taxa de alfabetizaçã o passou de 64% para 74,84%, os serviços bá sicos
na cidade estenderam-se a ampla margem da populaçã o. Em face do Nordeste, Sergipe
chegou ao ano 2000 ocupando o quarto lugar no rendimento, o terceiro na alfabetizaçã o,
o segundo no abastecimento de á gua e com a menor concentraçã o de renda.553
Se considerarmos os dados fornecidos pelas Naçõ es Unidas, sua renda per capita
em reais subiu de 127,5 (1991) para 163,5 (2000), mas na pró pria regiã o Nordeste
perdia para Pernambuco e Rio Grande do Norte. Afinal, o Índice de Desenvolvimento
550
Rosemiro Magno da Silva e Eliano Sérgio Azevedo Lopes. Ob. Cit. 1996, p. 99.
551
Cf. Eliano Sérgio A. Lopes. Um Balanço da Ocupação de Terras em Sergipe, Aracaju, 2000; Adelci Figueiredo Santos.
A Açã o do MST em Sergipe na década de 1990. Geonordeste, Aracaju, Projeto Nordeste/Capes, v. 9, n. 2. dez. /2000.
552
Cf. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Programa das Naçõ es Unidas para o Desenvolvimento, 2000.
553
Cf. aná lise comparativa dos Censos de 1980, 1991 e 2000.
263

Humano (IDHM) da populaçã o de Sergipe evoluiu de 0,597 (1991) para 0,682 (2000),
mas ocupava a 23a posiçã o entre os 27 Estados da federaçã o, superando apenas Paraíba,
Piauí, Alagoas e Maranhã o. Enfim, sua situaçã o melhorava, mas ainda deixava muito a
desejar.554
Deve-se observar também que os dados expostos nã o dã o conta de toda a
realidade. Apesar do crescimento significativo dos grupos médios e de estar situado
entre os Estados de menor concentraçã o de renda na Regiã o, um grupo relativamente
pequeno gozava de grande predominâ ncia na economia e na política. Na educaçã o, a
qualidade de ensino permanecia bastante crítica, pelo menos na maioria dos
estabelecimentos. Mas cresceu muito a preocupaçã o com a educaçã o fundamental. Os
professores do Estado no interior passaram por um processo de reciclagem jamais visto.
Contudo, três grandes pragas se agravaram nas ú ltimas décadas do século. O
desemprego, a violência e as drogas. Nã o eram problemas novos, mas atingiram
dimensã o preocupante. A falta de emprego acentuou-se, afetando a autoestima das
pessoas e nã o se descortinavam possibilidades de alterar radicalmente o quadro. A
segurança degradou-se. A impunidade estimulou o crescimento das redes de
delinquentes, quase sempre associadas com o trá fico de drogas. O perigo passou a
rondar os indivíduos na cidade e no campo, mas nã o pareciam problemas insolú veis.
Enquanto a segurança piorava, a saú de melhorava. Nã o obstante a concentraçã o
dos serviços em Aracaju, gerando superlotaçã o no atendimento de urgência dos
hospitais pú blicos, houve avanços. O atendimento tornou-se universal, o sistema foi
melhor organizado. Todos os municípios foram cobertos pelos agentes comunitá rios e o
processo de municipalizaçã o foi iniciado. Para os que nã o usam os serviços de SUS,
estruturaram-se os planos de saú de cada vez mais vigiados pelo Governo Federal.
Contribuíram para a melhoria a presença maior do poder pú blico com recursos amplos,
serviços preventivos como a vacinaçã o para crianças, o tratamento da á gua e o
saneamento bá sico. É certo que, ao fim do século, persistiam carências neste ú ltimo
setor, mas passaram a ser atacadas pelo poder pú blico como nunca o fora. Por outro
lado, nã o se deve esquecer dos progressos da indú stria química, fabricando drogas mais
eficientes e do aperfeiçoamento das informaçõ es dos profissionais da saú de. Enquanto
isso, o culto do corpo aumentava consideravelmente. Ao lado dos centros de dança,
554
Cf. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Programa das Naçõ es Unidas para o Desenvolvimento, 2000.
264

proliferaram as academias de giná sticas. As caminhadas matinais prescritas pelos


médicos tornaram-se cada vez mais generalizadas.
A consciência sobre o meio ambiente aumentou. A cidadania ampliou-se. O acesso
à Justiça tomou grande impulso com a criaçã o dos Juizados Especiais. As promotorias
expandiram-se a serviço da sociedade, ouvindo suas queixas e encaminhando
providências. As discriminaçõ es contra as minorias reduziram-se. Jamais em tempo
algum, tantos dispuseram dos serviços de educaçã o e saú de e de possibilidades de
influir nos meios de comunicaçã o. A liberdade de manifestaçã o de pensamento e fé, de
escolher seus representantes e acompanhar com transparência os atos dos eleitos,
tornaram-se prá ticas usuais. As formas de lazer multiplicaram-se, compondo um leque
de opçõ es jamais imaginado e incorporaram-se aos há bitos da populaçã o. Os direitos
civis e políticos ampliaram-se como em nenhum outro período. Enfim, alguns problemas
da modernidade agravaram a vida da populaçã o, mas os progressos foram mais
numerosos e de grande abrangência.

5.3 Manifestações culturais

Nos derradeiros anos do milênio, as manifestaçõ es culturais aumentaram e


diversificaram-se em ritmo sem precedentes na histó ria republicana. Essa expansã o
deveu-se à s iniciativas individuais e aos mecenatos pú blico e privado num ambiente de
democratizaçã o da sociedade. Nã o obstante viver-se num período de políticas de
austeridade, na tentativa de superar a crise fiscal, procurou-se estabelecer mecanismos
institucionais voltados para a captaçã o de recursos financeiros visando sustentar de
forma duradoura as produçõ es dos artistas. No plano nacional esse objetivo foi iniciado
com a Lei Sarney (1986) que, pela primeira vez, regulamentou a participaçã o dos
investimentos dos empresá rios em projetos culturais. O governo Collor tentou mudar a
estrutura dos ó rgã os oficiais voltados para a á rea. Mas, sem projeto alternativo, a
desmontagem açodada das instituiçõ es culturais trouxe grandes perdas para o setor.
Restou a Lei Rouanet (1991) que melhorou a norma anterior, exigindo aprovaçã o
pú blica dos projetos, reduzindo os abusos e racionalizando melhor o uso dos recursos
265

provenientes da renú ncia fiscal. A partir de 1995, novos aperfeiçoamentos passaram a


ser feitos na Lei Rouanet, resultando em crescimento dos projetos aprovados,
beneficiando vá rias á reas, desde o cinema à documentaçã o de arquivos.
Em Sergipe, no plano estadual, nã o houve lei específica que estimulasse a
parceria dos empresá rios nas atividades culturais, nem continuidade das açõ es entre os
governadores.555 Até o estatuto das entidades pú blicas gestoras voltadas para cultura
variou bastante. O governo Joã o Alves atribuiu-lhe o perfil de fundaçã o, criando a
FUNDESC.556 A administraçã o de Valadares transformou-a em Secretaria de Cultura, mas
depois a juntou com a de Meio Ambiente. Na segunda gestã o, Joã o Alves converteu-a em
Secretaria Especial, e o governo Albano Franco, a partir de 1995, voltou a considerá -la
exclusivamente como Secretaria de Cultura, subdividida formalmente em quatro
institutos: a) Memó ria e Documentaçã o, b) Patrimô nio, c) Arte e Educaçã o e d) Difusã o
Artística e Cultura.
Contudo, mais importante do que a estrutura formal, foi a atençã o demonstrada
em atos. Neste sentido, quem mais contribuiu para a infraestrutura de apoio foi Joã o
Alves Filho (1983-86) com a construçã o do Centro de Criatividade, a criaçã o da
Orquestra Sinfô nica de Sergipe, reformas no Teatro Atheneu Sergipense e no
Conservató rio de Mú sica. Houve também o Projeto de Interiorizaçã o da cultura,
concretizado através de cursos, oficinas, apresentaçõ es, envolvendo um Ô nibus Cultural
incentivando a leitura nos bairros periféricos de Aracaju e no interior do Estado. Mas, a
falta de continuidade por parte de seus sucessores sepultou a louvá vel iniciativa. No
governo de Valadares, apó s uma primeira fase sem grandes feitos, houve projetos de
incentivos a corais, à mú sica erudita, oficinas, fomento a grupos de teatro e dança,
dentro dos objetivos do Centro de Criatividade de despertar e reforçar vocaçõ es.
Construíram-se Barracõ es Culturais com o objetivo de difundir a cultura em bairros de
Aracaju e em alguns municípios. Além disso, promoveu-se ediçõ es de vá rios trabalhos,
encontros culturais e ampliou-se o nú mero de monumentos tombados.557
Em sua segunda gestã o, o governador Joã o Alves Filho realizou reformas de
vá rios prédios de instituiçõ es culturais, especialmente o Conservató rio de Mú sica, o
555
O deputado Ismael Silva apresentou projeto de incentivo à Cultura, mas nã o conseguiu a regulamentaçã o.
556
A FUNDESC foi criada em 1985. Antes havia a Subsecretaria de Cultura e Arte (SUCA), instituída em 1979. Cf. Luiz
Fernando Ribeiro Soutelo. Os Serviços Públicos de Cultura (A questão patrimonial). Intervençã o no I Fó rum Estadual de
Secretá rios Municipais de Cultura. Aracaju, 06.11.2001.
557
Cf. Governo do Estado de Sergipe. Plano Plurianual (1992/1995). Administraçã o Joã o Alves. Volume I.
266

Arquivo Pú blico, a Academia Sergipana de Letras, a Sociedade de Cultura Artística, o


Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe e o Centro de Criatividade. Iniciou a
construçã o de grandioso teatro com a opçã o de funcionar como grande Centro de
Convençõ es,558 o qual seria concluído no ano 2000. Nas gestõ es de Albano Franco, houve
um período (1995-97) em que se registraram algumas iniciativas louvá veis: organizaçã o
de parte do acervo da Biblioteca Epifâ nio Dó ria, produçã o de coleçã o de CDs, com
documentaçã o do século XIX e XX. Além disso, cuidou-se de reformas físicas no Centro
de Criatividade, Conservató rio de Mú sica, Museu Histó rico de Sergipe e Museu de Arte
Sacra.559 No ú ltimo quatriênio do século, o poder pú blico, apesar de haver concluído o
grande Teatro, subestimou o setor cultural. O Conselho de Cultura deixou de se reunir
por falta de nomeaçã o de novos conselheiros, vá rios prédios pú blicos, tombados ou nã o,
estiveram a carecer de manutençã o e consertos, o Arquivo Pú blico viveu grande crise
com carência de recursos, pessoal e da infraestrutura mínima para seu funcionamento, a
Biblioteca Pú blica se ressentia de condiçõ es bá sicas, a Orquestra Sinfô nica foi
desativada, e a Escola de Mú sica, criada em 1945, e possuidora de respeitá vel tradiçã o,
por um ano esteve sem atividades.560 Conforme denunciou uma artista em depoimento
na Assembleia Legislativa, o Teatro Escola Centro Popular de Cultura Mariano Antô nio
foi fechado, o cine Rio Branco foi tombado e destombado, alguns barracõ es culturais
foram abandonados. Com 0,25% do orçamento do Estado, a Secretaria de Cultura ficava
com recursos irrisó rios.561
Entre as associaçõ es privadas, os artistas e o pú blico amante das artes sentiram
falta de maior atuaçã o da Sociedade de Cultura Artística, que passou por forte crise
interna e praticamente deixou de atuar.
Na capital, na curta administraçã o de José Carlos Teixeira (31.05 a 31.12.1985), o
Departamento de Cultura foi transformado em Secretaria e procurou-se dar melhores
condiçõ es ao setor. Mais tarde, a Câ mara de Vereadores aprovou duas leis de incentivo à
cultura.562 Como a aplicaçã o da segunda lei gerou muitos abusos e virou escâ ndalo, a

558
Cf. Governo do Estado de Sergipe. Projeto Capital. Aracaju, 1994.
559
Cf. Luiz Antô nio Barreto. Algumas Informações (Institucionais) sobre a Cultura. Documento fornecido pelo ex-
secretá rio da Educação e da Cultura ao autor em 23.08.2001.
560
Antes do fim do seu mandato, Albano Franco promoveu melhoria dos prédios da Biblioteca Pú blica Epifâ nio Dó rea
e do Arquivo Pú blico.
561
Cf. Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em 25.11.1999.
562
A primeira lei foi proposta por Bosco Mendonça (1987) e a segunda deveu-se à iniciativa de Edvaldo Nogueira
(1991).
267

partir de 1997 os procedimentos mudaram. A direçã o da Fundaçã o Cultural de Aracaju


(FUNCAJU) passou a controlar a captaçã o de recursos que, desde entã o, constaram do
orçamento do município.563 Com a prá tica desses critérios, a FUNCAJU saiu das
manchetes dos jornais e prosseguiu cumprindo com mais eficá cia suas finalidades,
realizando promoçõ es, inclusive no campo editorial, indicando um novo momento
administrativo.
No ensino, houve grande expansã o e a presença do setor pú blico continuou
muito forte do infantil ao nível médio, conforme se pode observar pelo quadro abaixo.

563
Segundo Ivan Valença, antes de sua gestã o na FUNCAJU, o interessado fazia a captação de recursos e nã o prestava
contas. Cf. declarações ao autor em 27.09.2001.
268

QUADRO XV
MATRÍCULAS NO ENSINO EM 2000 (SERGIPE)

ESTABELECIME
NTOS/NÍVEL
Infantil Fundamental Médio Superior
Nú mero % Nú mero % Nú mero % Nú mero %
Federais 257 0,06 1.639 2,43 9.617 49,21
Estaduais 404 9,70 188.208 43,57 52.750 78,29
Municipais 2.463 59,14 206.750 47,86 3.229 4,79
Privados 1.298 31,16 36.737 8,51 9.758 14,49 9.925 50,79
Total 4.165 100,00 431.952 100,00 67.376 100,00 19.542 100,00
Fontes: MEC/INEP/SEEC

Observe-se que, ao fim do milênio, as matrículas da rede privada no nível


superior já superavam as da rede pú blica. Apesar disso, no ensino do terceiro grau, a
Universidade Federal de Sergipe (UFS) foi a instituiçã o que apresentou maior saldo de
realizaçõ es. Durante o período 1983-2000, graduou 11.911 estudantes distribuídos em
variados cursos, liderados por Direito, Medicina e Pedagogia. Concorreu decisivamente
para a melhoria do nível dos professores. Como o deslocamento para outros Estados
implicava em dificuldades, a UFS criou cursos de especializaçã o, mestrado e doutorado
no â mbito local, acelerando o processo de qualificaçã o de profissionais. No conjunto do
período estudado, estima-se que mais de 400 mestres passaram por tais cursos. Durante
o ano 2000, a UFS ofereceu 1.745 vagas no vestibular, mas o nú mero de inscritos
(16.506) indicava uma demanda reprimida elevada. No conjunto, 9.612 alunos
frequentavam cerca de 50 cursos de graduaçã o.564
Embora a UFS tenha vivido muito fechada em si, nos ú ltimos anos do século
abriu-se um pouco para as demandas sociais. Exemplo disso foi o convênio com a
Secretaria Estadual da Educaçã o, participando do Projeto de Qualificaçã o Docente, das
redes estadual e municipal. Nas atividades de extensã o, atuou em comunidades pobres
prestando serviços de saú de, alfabetizando e preparando sua populaçã o para o mercado
de trabalho, se bem que de forma ainda tímida. Promoveu o “Pensar Sergipe”,

564
Ver Relatório de Gestão da UFS 1996-2000. Sã o Cristó vã o/SE: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000 e Notícias UFS, n. 5 de
maio de 2003.
269

aglutinando parte da intelectualidade de dentro e de fora da UFS para discutir, em vá rias


seçõ es específicas, os problemas e alternativas de desenvolvimento local.
Nas artes, a Universidade Federal de Sergipe tem se revelado pouco cuidadosa
com seu acervo de quadros, mas reservou espaço específico para o setor, o Centro de
Cultura e Artes (CULTART), dentro do qual disponibilizou o Teatro Juca Barreto. Aí,
manteve oficinas com cursos de teatro, dança, mú sica, artes plá sticas, literatura, ao
tempo em que promoveu exposiçõ es, encontros e financiou festivais. Mas nã o ficou
somente na capital. Dentro do projeto Arte/Interior atuou em vá rios municípios,
levando para pequenas cidades espetá culos de teatro, dança e mú sica erudita. Como
efeito, surgiram grupos de teatro e de mú sica, graças ao seu estímulo e suporte. Manteve
regularmente dezenas e dezenas de projetos de pesquisa nas diversas á reas da ciência e
das artes. Embora uma parcela de seus professores tenha produzido pouco, nos ú ltimos
anos o nível de produtividade cresceu, inclusive entre os alunos instigados pela
obrigaçã o de monografias.
No conjunto, há um acervo de milhares de trabalhos, alguns dos quais serviram
de base aos artigos publicados em perió dicos que praticamente duplicaram em relaçã o à
fase anterior (Ver Anexo IV). É importante observar que cerca de metade dos títulos foi
gerada dentro da UFS, embora o índice de continuidade seja ainda baixo. Mas essa é
apenas uma parte visível da produçã o. Houve também centenas de teses ou dissertaçõ es
defendidas e jamais publicadas, construindo um verdadeiro manancial de informaçõ es
sobre a vida da populaçã o de Sergipe.565 O fato é que nunca se produziu no Estado como
a partir dos anos oitenta. Em educaçã o, a produçã o da segunda metade dos anos noventa
foi maior do que a dos cem anos precedentes.566 A partir de 1998, a administraçã o da
UFS formou seu Conselho Editorial e, em convênio com a Fundaçã o Oviêdo Teixeira,
passou a publicar livros como nunca ocorreu em sua existência. Além disso, houve
iniciativas departamentais, através de projetos específicos, como acontecia no setor de
Geografia.
Na á rea de museologia, a UFS inaugurou e passou a manter em Aracaju o Museu
do Homem Sergipano e criou o Museu Arqueoló gico de Xingó , em Canindé de Sã o
565
Para ser ter uma ideia, somente as monografias do Departamento de Histó ria no período 1995-2000 chegaram a
86, os alunos de Economia entre 1988-2000 geraram 118, os de Geografia também produziram nú mero semelhante.
566
Cf. Jorge Carvalho do Nascimento. Palestra no Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe em 14.08.2001. Ver
também Jorge Carvalho do Nascimento. Historiografia Educacional Sergipana. Uma Crítica aos Estudos de Histó ria da
Educaçã o. Sã o Cristó vã o/SE: Grupo de Estudos e Pesquisas e Histó ria da Educaçã o/NPGED, 2003.
270

Francisco, em parceria com a Petrobras e a CHESF, destinado a estudar e expor o


material colhido nos sítios arqueoló gicos. Foi firmado convênio com a Prefeitura local e
o espaço museoló gico passou a despertar interesse de pesquisadores e turistas, gerando
cursos e publicaçõ es, entre as quais Cadernos de Arqueologia.
Na esfera privada, as Faculdades Integradas Tiradentes, que vinham atuando
desde 1972, transformaram-se, em 1994, em Universidade Tiradentes (UNIT), passando
a enriquecer o elenco de manifestaçõ es culturais. Possuidora de três campi, graduou
mais de mil alunos, distribuídos em diversos cursos. Promoveu seminá rios, produziu
revistas, implantou o Memorial de Sergipe e editou alguns livros. 567 Embora os projetos
de pesquisas e o conjunto da produçã o acadêmica tenham se revelado ainda
relativamente diminutos em relaçã o à magnitude do seu alunado, a orientaçã o
empresarial de seu reitor tem se mostrado mais sensível à s tendências do mercado do
que a UFS, onde o peso do corporativismo, sobretudo no movimento docente, vinha
inibindo a preocupaçã o com as demandas da sociedade.
Por esse tempo a Faculdade Pio Décimo ampliou também seu raio de atuaçã o
enquanto outras unidades do ensino superior despontavam, como a Faculdade Sã o Luís
(1997), oferecendo cursos de Administraçã o de Empresas e Pedagogia, e a Faculdade de
Administraçã o e Negó cios de Sergipe (Fanese) (1998), todas explorando, com alguma
tendência à mercantilizaçã o, a demanda que se mostrava de grande potencialidade.
A Igreja Cató lica, que teve presença no ensino superior na Primeira Repú blica e
sobretudo nas décadas de 50 e 60, perdeu terreno como nunca, assim como no seu
trabalho proselistista. Nã o obstante alguns esforços, voltando-se mais para as causas
sociais e trabalhando o individual através do movimento Renovaçã o Carismá tica, nã o
conseguiu evitar o avanço estupendo dos evangélicos e principalmente da Igreja
Universal do Reino de Deus, portadora de maior agressividade. No trabalho de
catequese, os métodos dessas igrejas tornaram-se os mais variados e as posturas éticas
quase sempre relegadas ou esquecidas. Enquanto isso, os cultos afro-brasileiros
continuavam se expandindo, assim como os centros do espiritismo kardecista.568

567
A UNIT promoveu a ediçã o de três livros no ano de 2000.
568
Ver Beatriz Gó is Dantas. Nanã de Aracaju: trajetó ria de uma mã e plural. In: Vagner Gonçalves da Silva (org).
Caminhos da Alma. Memó ria afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002; Maria Lú cia Leite de Carvalho (coord). Abaças
e Centros de Umbanda. Aracaju: Funcaju, 1991 e Eufrá zia Cristina Menezes Santos. Visão do mundo no espiritismo: uma
análise sócio antropológica. Aracaju, monografia de graduaçã o de Serviço Social, 1994.
271

Uma novidade desse ú ltimo período estudado foi o aparecimento de entidades


privadas voltadas a incentivar as atividades artísticas. Aproveitando as vantagens das
leis federais Sarney e a Rouanet, alguns grupos empresariais formaram suas fundaçõ es.
Inicialmente surgiu a Fundaçã o Augusto Franco, criada em setembro de 1987, que num
primeiro momento manifestou-se atuante. Ajudou apresentaçõ es em diversos campos
das artes, distribuiu prêmios de concurso e publicou livros. Mas, a partir da segunda
metade dos anos noventa, retraiu-se bastante, enquanto a Fundaçã o Oviêdo Teixeira,
criada em 1990, passava a mostrar feitos. O Banese, o Banco do Brasil e o Banco do
Nordeste também emprestaram seu tributo à s artes e à s letras em Sergipe.569
A imprensa deu boa cobertura à s apresentaçõ es de grupos de teatro, de mú sica,
à s exposiçõ es de pintura e ao lançamento de livros de autores sergipanos e de fora.
Ademais, animou as artes com suplementos literá rios. A Gazeta de Sergipe a partir de
1981 manteve “Arte e Literatura” por vá rios anos. O Jornal da Manhã começou em 1991
a publicar o Suplemento “Arte e Palavra”, que figurou como uma referência para
escritores e outros geradores de cultura.
Na literatura aconteceram fatos auspiciosos. A poesia continuou fértil. Velhos
ícones continuaram publicando, como Santos Souza, que lançou Âncoras de Argo (1994),
enquanto novos nomes revelaram-se, entre os quais Maria Lú cia dal Farra com Livro de
Auras (1994), Ronaldson com Questão de Íris (1997), Josailto Lima com Plenespanto
(1996), Maria Cristina Gama com A Próxima Índia (1998), além de Wagner Ribeiro,
Marcelo Ribeiro e vá rios outros. Na prosa, houve publicaçã o de teses e dissertaçõ es
acadêmicas, tais como a de Francisco J. C. Dantas sobre A Mulher no Romance de Eça de
Queiroz (1999) e a de Maria Ivonete S. Silva sobre a obra de Amando Fontes (1992).
Vá rios autores editaram livros de contos ou de novelas: Antô nio Carlos Mangueira com
O Meio do Mundo e Outros Contos (1999), Jeová Santana com Dentro da Casca (1993) e
Juraci Costa com Contos de Província (1999), alguns dos quais com boa qualidade. A
safra de romances nunca havia se revelado tã o fecunda nã o apenas pela quantidade, mas
sobretudo pela qualidade de alguns deles. Gizelda Morais publicou Preparem os Agogôs
(1996), Ibiradiô (1999), Absolvo e Condeno (2000); Hunald Alencar apareceu com Morte
no Estuário (1995); José de Sacramento estreou com O Encontro com o Outro (1983);

569
De instituiçõ es de outros Estados, merece registro a contribuiçã o da Fundação Bradesco que mantém colégio de
segundo grau em Propriá com bom nível de assistência.
272

Nú bia Marques (1927-1999) editou O Sonho e a Sina (1992). Francisco J. C. Dantas


lançou Coivara da Memória (1991), Os Desvalidos (1993) e Cartilha do Silêncio (1997)
que foram bastante enaltecidos pelos críticos de vá rias regiõ es do país e rendeu Prêmio
Internacional de Literaturas Româ nticas da Uniã o Latina na Itá lia.
Na á rea de ciências humanas, a publicaçã o de trabalhos atingiu proporçõ es sem
precedentes. Nã o obstante a irregularidade do nível de produçã o, no conjunto a
sistematizaçã o apresentou-se do ponto de vista de método mais criteriosa. A maior
parte dos estudos foi gestada no meio acadêmico, mas continuou relevante a
contribuiçã o de profissionais liberais que permaneceram dedicados à pesquisa fora dos
quadros das universidades. Como o tratamento de cada obra alongaria demasiadamente
nossa síntese, que já se encontra por demais crescida, limitamo-nos a lembrar, por á rea
temá tica, alguns autores que publicaram livros entre 1983-2000.
A histó ria foi muito enriquecida através de aná lises específicas e de trabalhos
generalizantes, desde o período colonial até a fase republicana, enfatizando os aspectos
político-administrativo, social, econô mico e o cultural. Acrísio Torres (1993 e 1999),
Maria Thetis Nunes (1984, 1989, 1996 e 2000), Josué Passos (1987 e 2000), Maria da
Gló ria Almeida (1984 e 1993), Terezinha Oliva (1985 e 1998), Ariosvaldo Figueiredo
(1986-1996), Wladimir Carvalho (2000), Tereza Cristina da Graça (1996 e 2000), Diana
Maria Diniz (org. 1991), José Anderson Nascimento (1991), Ká tia Loureiro (1999),
Murilo Melins (2000) sã o autores que nos legaram obras importantes. Por esse tempo,
surgiram também vá rias monografias tratando dos municípios como objeto específico.
Apesar de sua importâ ncia como fonte de informaçã o, em geral foram textos carentes de
melhor elaboraçã o.
A geografia ampliou suas investigaçõ es acompanhando as transformaçõ es do
mundo urbano e do setor rural. Alexandre Diniz (1987 e 1996), Adelci Figueiredo
(1986), José Augusto Andrade (1986), Neuza Maria Gó is (1989), Vera Lú cia França
(1999), Ana Virgínia Menezes (1986) e Maria Mundim Vargas (1999) deixaram
contribuiçõ es sem precedentes. Além desses nomes do Departamento de Geografia da
UFS, merece registro a produçã o de Joã o Alves Filho (1989, 1994 e 1997) referente ao
desenvolvimento regional.
273

Os estudos antropoló gicos receberam grande impulso com o aparecimento de


trabalhos enfocando as relaçõ es interétnicas, grupos de culto afro-brasileiro. Beatriz
Dantas (1988 e 1993) e Luiz Mott (1986) foram as principais expressõ es deste período.
Ao lado desses livros, houve vá rios ensaios de espectro variado, tomando a cultura como
elemento central. Dentro deste campo, devem ser lembrados: Jackson da Silva Lima
(1984, 1986, 1989, 1995), Luiz Antonio Barreto (1990, 1994, 1998), Jorge Carvalho
(1999), Betisabel Santos e Josefa Eliana (1996), Aglaé Alencar (1980), Nú bia Marques
(1987 e 1996), entre outros.
Na sociologia, a produçã o nã o foi vasta, mas nos ú ltimos anos do século XX foram
editados alguns trabalhos acadêmicos enfocando os movimentos sociais do campo e a
organizaçã o dos trabalhadores urbanos. Lú cia Aranha (1999), Frederico Romã o (2000),
Rosemiro Silva (1996), Eliano Lopes (2000) foram os principais autores desse período.
Na arqueologia, o ú nico livro de que tivemos notícias foi o de Fernando Lins (2000).
Na filosofia, Silvério Fontes (2000) e Edmilson Menezes (2000) deixaram
trabalhos significativos. O primeiro como exemplo raro de formaçã o autodidata só lida
com ampla visã o de conjunto. O segundo como associado ao curso de Filosofia, que foi
reanimado na ú ltima década do século XX.
Houve também numerosos ensaios biográ ficos, entre os quais devem ser
mencionados os de Maria Nely dos Santos (1997 e 1999), Francisco Rolemberg (1987),
Luiz Antonio Barreto (1994), Nú bia Marques (1996) e Pe. Aurélio Vasconcelos (obra
pó stuma) (2000).
No direito, os profissionais sã o numerosos, mas a lavra dos anos oitenta e
noventa tudo indica que foi pequena. Os autores que se tornaram mais conhecidos com
sua produçã o teó rica foram Artur Oliveira Déda (1992 e 2000), Carlos Ayres de Britto
(1997) e Vladimir de Souza Carvalho (1990).
Quanto à s belas artes, os feitos também foram grandes e heterogêneos.
Nas artes plá sticas, aquelas tendências que se manifestaram no período anterior
acentuaram-se. Houve uma maior inserçã o dos artistas ao mercado, que se ampliou a
partir dos anos oitenta, ao tempo em que a concorrência entre os profissionais
aumentava, levando ao fomento de novos incentivos. Amparadas em lei estadual, as
repartiçõ es passaram a comprar e mostrar obras de autores locais. À Galeria Á lvaro
274

Santos, inaugurada no período anterior, acrescentaram-se outros espaços de exposiçõ es,


tais como a Galeria J. Iná cio da Biblioteca Pú blica Epifâ nio Dó ria (1988), o hall da
Assembleia Legislativa e do Teatro Atheneu, do Cultart (UFS). Instituiçõ es privadas,
como a escola de idiomas Yá zigi e a Universidade Tiradentes, também se incorporaram a
essas iniciativas. A Escola Técnica de Sergipe promoveu festivais que se propagaram
pelo interior, servindo para mostrar o talento dos artistas sergipanos. Conforme
observou um estudioso do tema, “as empresas descobriram o marketing cultural vindo
investir em espaços”. A Associaçã o Sergipana dos Artistas Plá sticos (ASAP), criada no
início da década, “foi reativada em 1996”. Nã o foi por acaso que “em Aracaju houve de
fato significativo crescimento das artes plá sticas na década de noventa do século XX”.570
A divulgaçã o dos pintores e de seus trabalhos ampliou-se através de publicaçõ es.
Como exemplos, basta lembrar nã o apenas as ricamente produzidas, como os á lbuns
referentes a Adauto (1990) e Florival Santos (1995)571 sob o patrocínio da Habitacional
Construçõ es, mas também devemos lembrar as ediçõ es mais modestas de catá logos
coletivos e os individuais promovidos pelas secretarias Estadual e Municipal de Cultura,
pela UNIT e pela UFS.572 Por outro lado, a revista Aracaju Magazine, com fotografia de
excelente qualidade, passou a divulgar a obra de artistas sergipanos, entre os quais os
dedicados à s artes plá sticas. Os pintores circularam mais dentro e fora do Estado,
visitando galerias e museus, expondo em vá rias praças, participando de bienais,
ganhando prêmios, ampliando os horizontes e adquirindo maior visibilidade.
Sem a pretensã o de fazer inventá rio exaustivo, observamos que, além dos nomes
surgidos em períodos anteriores que continuavam produzindo vigorosamente,
apareceram: Abelardo (1960- ) pintando paisagens e representaçõ es da mulher; Bené
(1947- ) apresentando natureza morta e figuras humanas; Bosco Rolemberg (1947- )
expondo cenas de vida carcerá ria; Clá udio (1962- ) mostrando quadros figurativos e
abstratos; Daniel (1948- ) indicando cenas do cotidiano e paisagens; Elias (1964- )
retratando o caos urbano; Ewerton (1947- ) forjando formas distorcidas; Joã o de Barros
570
Antô nio da Cruz. Artes Plá sticas em Sergipe: A Histó ria que precisa ser contada. In Memórias de Sergipe, Correio de
Sergipe, 13.07.2003.
571
Adauto. Texto de Alberto Carvalho. Aracaju: J. Andrade/ Habitacional Construçõ es, 1990; Alberto Carvalho. Florival
Santos, Aracaju: J. Andrade/ Habitacional Construçõ es, 1995. Há informaçõ es também sobre a produçã o artística em
Sergipe em Arte no Nordeste. Rio de Janeiro: Spala/CNI, 1986.
572
Paulo Lobo. Pintores Sergipanos. Aracaju: A Nacional/Fundaçã o Cultural Cidade de Aracaju, s/d.; Leonardo Alencar,
Aracaju: CEAV, 1996, Agenda de Aracaju. Aracaju: Secretaria Municipal de Cultura, 1991; J. Iná cio. Aracaju: Faculdades
Integradas Tiradentes, 1988; Ilma Fontes. Silveira, Arte e Vida. Funcaju, 1999. Geminiano II. Aracaju: Sercore, 1999;
Rumos, Artes Plá sticas, Sergipe 2000. Aracaju: J. Andrade/Banese, 2000.
275

(1949-2000) enfocando madonas, santos e casarios; José Fernandes (1959- ) dedicando-


se a murais e painéis, envolvendo animais e figuras humanas; Luiz Mangueira (1950- )
desenhando também perfis humanos, entretanto marcados por maior abstracionismo;
Silveira (1962- ) revelando paisagens e objetos nordestinos.
Além dos sergipanos, nã o se pode esquecer dos artistas que, nascidos em outras
plagas, aqui se radicaram e, participando de sua ambiência, estiveram a retratá -la
enriquecendo o patrimô nio cultural do Estado. Entre esses, lembramos os nomes de Caã ,
filho de J. Iná cio, natural de Nova Iguaçu, ainda criança veio para Aracaju, onde se
projetou produzindo paisagens e tipos do sertã o; Dioneia Peterson (1938) da Bahia,
famosa pelos seus girassó is; José Lima (1922) de Altamira que retratou igrejas, á trios,
interiores sacristias, luz, sombras; José Carrera, natural da Espanha, desenhando suas
marinhas e seus casarios; Geminiano de Fortaleza, também Pedro da Silva de Timbaú ba
(PE), que legou marinhas, monumentos e paisagens histó ricos; Eurico Luiz (1936-2003)
de Araçatuba, que se afirmou em Sergipe pintando elementos variados: casarios,
retratos, natureza morta, igrejas, paisagens, marinha, imagens sacras e outros objetos
locais, representativos de nossos costumes.
No conjunto, observou-se que a maioria dos pintores desse período provém das
classes subalternas e nã o cursou Escola de Belas Artes. Autodidatas, confiantes na força
inspiradora, foram realizando experiências e revelando sua inventividade. Boa parte
deles foi mudando a temá tica, tentando adaptar-se à demanda de um mercado cada vez
mais massificado e voltado para motivos preferenciais. Outros deixaram Sergipe, como
Marinho Neto (1949), Anselmo Rodrigues (1958).
Ao lado dos pintores, vá rios outros artistas destacaram-se entre nó s. Entre os
escultores, merecem ser lembrados o propriaense Pinto, cultivando o barroco em suas
imagens sacras; Zeus (1959); Mestre Tonho e Véio, que talharam na madeira figuras de
santos, assim como o chileno Willy. Na xilogravura, entre os que fizeram tapeçaria,
tornaram-se referências Luiz Adelmo (1942), Antô nio Queiroz (1949-1990) e
Alfredinho. Dos numerosos ceramistas, ganharam fama Beto Pezã o, Wilson, Judith, Joã o
Freitas, Maria Feliciana, entre vá rios outros.
Apesar das ajudas de numerosas instituiçõ es, alguns grupos artísticos
ressentiram-se da carência de regularidade dos incentivos. Essa situaçã o atingiu
276

sobretudo os atores e os profissionais ligados à mú sica clá ssica. Mesmo assim,


contribuíram para que as produçõ es dos grandes compositores se difundissem para um
pú blico mais amplo. Também concorreu para a educaçã o musical de Sergipe a
persistência da Sociedade Filarmô nica de Sergipe (SOFISE), entidade privada criada em
1972, na medida em que promoveu palestras, entrevistas e sobretudo espetá culos com
refinado bom gosto.
Quanto à mú sica popular, prosseguiu no ritmo expansionista do período anterior,
mas com maior diversificaçã o de tendências. Os festivais se amiudaram promovidos
pelos ó rgã os culturais da capital ou do interior. A FUNDESC e a Secretaria de Cultura, em
diferentes momentos, inventaram vá rios programas de estímulo à mú sica, como Sexta
no Parque, Quendera, Cinco e Meia, Clave de Sol, Pano de Boca, Rodoviante Bandas e
Canto Novo. Fomentou-se o Festival Estudantil de Mú sica Popular, revelando novos
valores. A TV Sergipe passou a promover anualmente o Festival de Mú sica Popular
Brasileira, depois o Canta Nordeste. A FUNDESC, com o projeto Pé na Estrada contribuiu
para proporcionar aos cantores sergipanos maior visibilidade externa. A Fundaçã o SESC
criou o Sescançã o, que se foi repetindo anualmente. Depois apareceu Prata da Casa sob a
iniciativa de Samira e Produçõ es com apoio da Secretaria de Cultura. Os shows se
tornaram frequentes pelo interior, ajudando a formaçã o ou continuidade de grupos
como Bandauê, Cata Luzes, Centelhas, Crove, Fome Africana, H2O, Horrorishows, Karne,
Quorum, Repente, assim como diversas bandas: Sulanka, Java, Lacertay, Policultura,
Sibéria, Anti-corpus, Grove, Funk e Soul, Almas Band, Sluster, Orlord. 573 Associados e
esses conjuntos, numerosos nomes se notabilizaram como expoentes da mú sica popular
sergipana, tais como Amorosa, Antô nio Carlos du Aracaju, Chico Queiroga, Joésia Ramos,
Irineu Fontes, Lula Ribeiro, Irmã o, Paulo Lobo, Patrícia Polayne, Tonho Baixinho, entre
outros. Alguns foram se firmando cantando em restaurantes e casas de espetá culos a
preço baixo e conquistaram reconhecimento, virando ídolos populares festejados,
exercitando uma pluralidade de ritmos. Além desses, disseminavam-se sobretudo entre
os jovens da periferia de Aracaju os grupos de raps, hip-hop, sintonizados com as
influências de artistas do Sudeste.574 Nã o obstante essa variedade, certos tipos de mú sica
573
Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a Mú sica Popular Sergipana.
Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p.
43-46.
574
Segundo Francisco Santos, ao fim do século XX já havia cerca de 25 grupos de raps. Informações ao autor, em
dezembro de 2000.
277

predominaram como o caso do forró . Determinados cantores fizeram grande sucesso,


como Josa, Lucival Reis, entre outros, mas ninguém como Clemilda, que manteve
programa matinal na Rádio Aperipê denominado “Forró no Asfalto”, desde os anos
sessenta, e tornou-se uma campeã de vendagem, gravando até 1998, mais de 30
discos.575 Com as festas de Sã o Joã o cada vez mais grandiosas e difundidas
ufanisticamente no â mbito nacional como as maiores do país, a propagaçã o do forró
tornou-se insuperá vel. O empenho de grande parte dos compositores do Estado, ou aqui
radicados, em pesquisar as raízes nordestinas e explorar os motivos locais, foi
importante para a construçã o da autoestima e da identidade do sergipano.
Concorreu para a riqueza das manifestaçõ es culturais a sobrevivência das
tradiçõ es folcló ricas que persistiam atuando: Bacamarteiro, Batalhã o, Cacumbi,
Chegança, Pisa Pó lvora, Parafuso, Caboclinho, Reisado, Taieira, Lambe-Sujo, Sã o Gonçalo,
Samba de Coco, Samba de Aboio, Guerreiro, Pastoril, Cavalhada, Batucada, distribuídos
em vá rios municípios, entre os quais Laranjeiras e Japaratuba, que continuavam como
principais centros do rico folclore sergipano.576
Nã o obstante a tendência das classes alta e média em diferenciarem-se dos
estratos inferiores, houve inegá vel democratizaçã o no terreno musical. O mercado de
discos ampliou-se muito e o consumo passou por algum nível de homogeneizaçã o. A
mú sica, ao tempo em que atingia a capital e o interior, incorporava-se à vida das pessoas
de todas as classes. Especialmente entre os jovens, os cantores locais e nacionais
ganharam popularidade enorme. Como foram inú meros, a maioria deles viveu
momentos de apogeu e de semiesquecimento, sempre influenciados pela mídia.
Um problema que incomodou a muitos cantores locais nesse período foi a invasã o
das mú sicas de fora, especificamente as baianas, como o Axé Music, algumas das quais
de baixa qualidade, fascinando os jovens, a partir dos grandes conjuntos que,
respaldados pelo poder pú blico, invadiram o Estado, incluindo Aracaju na rota das
micaretas e/ou prévias carnavalescas, como Festas do Mole e nos Pré-cajus drenadores
de recursos dos sergipanos.577

575
Cf. Aracaju Magazine, n. 24, junho de 1998.
576
Cf. Governo do Estado de Sergipe, Plano Plurianual, 1992/1995, v. I, Administraçã o Joã o Alves Filho, p. 55-56.
577
Sobre as transformaçõ es das festas de rua, ver Fernando Lins de Carvalho. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju in Jornal
da Cidade, 26-27.01.2003 a 2-5.03.2003.
278

Na verdade, observou-se, nas duas ú ltimas décadas do século, um fenô meno


paradoxal. De um lado, uma padronizaçã o acentuada de modas e costumes. De outro,
uma diversidade de tendências desnorteadoras. Algumas contribuindo para rebaixar o
gosto de parte do pú blico, outras marcadas por experimentaçõ es e refinamentos de
sensibilidade artísticas de amplas faixas dos cidadã os. Para os profissionais, o avanço da
tecnologia também trouxe vantagens. Embora as grandes produtoras de discos ainda
predominassem na distribuiçã o, o aparecimento do CD, substituindo o vinil, resultou em
grande mudança para o mundo dos cantores e do pú blico consumidor. 578 O sonho de
editar seu CD e escutá -lo nas rá dios e nos diversos ambientes tornou-se muito mais
acessível do que antes. A relaçã o de sergipanos que gravaram disco nos ú ltimos dezoito
anos (vide Anexo V) serve apenas de amostragem, pois a produçã o dos anos 1999-2000
já se tornou bastante difícil de ser computada. Entre o pú blico, generalizou-se o uso de
aparelhos de som, enquanto produtos de todos os gostos passaram a ser acessíveis à
grande parte da populaçã o.
No cinema, houve um certo refluxo. No período 1983-2000, dos numerosos
cinemas tradicionais, restou apenas o Rio Branco, utilizado para apresentaçã o de filmes
eró ticos. Como a frequência passou a diminuir, ao longo do tempo as casas de projeçã o
foram fechando. O Vitó ria virou loja, o Plaza foi transformado em Igreja Evangélica, o
Bonfim em colégio, o Aracaju em estacionamento.579 Um dos ú ltimos a encerrar suas
projeçõ es foi o imponente Palace, que a partir de 1996 tornou-se casa de bingo. Afora o
Rio Branco, funcionaram duas salas de projeçã o no Shopping Rio Mar. Esses fatos
pareciam indicar que o ciclo do cinema estava acabando em Sergipe. Mas, com a
inauguraçã o do Shopping Jardins (1998), abrindo nove salas da rede Cinemark, houve
certa receptividade por parte do pú blico. A programaçã o, centrada em filmes comerciais
de grande pú blico, atraiu sobretudo a populaçã o jovem, de forma que, no primeiro ano,
cerca de 700 mil ingressos foram vendidos.580 Enquanto isso, as duas salas do Rio Mar,
sem condiçõ es de concorrer, fecharam e assim se encontravam até o ano 2000.
Na á rea da produçã o cinematográ fica, o grupo que no período anterior andou tã o
motivado dispersou-se. Os festivais nacionais de cinema que ocorreram entre 1972-81,
578
No â mbito nacional, em 1987, quando ainda nã o havia CD, foram produzidos 50 milhõ es de discos em vinil. Mas em
1993 o nú mero de CDs passou o de vinil. Em 1997, enquanto a produçã o de disco vinil desaparecia, a de CD chegava a
100 milhõ es. Cf. VEJA, 24.05.2000, p. 92.
579
Cf. Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em 25.11.1999.
580
Cf. Ivan Valença, declarações ao autor em 26.09.2001.
279

como parte da programaçã o do FASC, deixaram de acontecer em Sergipe. Poucos foram


os que continuaram elaborando roteiros e executando-os. Com a atuaçã o diá ria das TVs
e as facilidades de adquirir má quinas, as filmagens difundiram-se muito. Deixando de
lado os registros de festas familiares, que se generalizaram enormemente, numerosos
eventos pú blicos significativos resultaram em vídeos, formando vasto acervo
documental espalhado, quando deveria ser reunido num centro de memó ria. Por esse
tempo, alguns longas-metragens foram rodados em Sergipe com a participaçã o de atores
locais, mas a produçã o de grandes trabalhos profissionais realizados por sergipanos
ficou aquém do esperado.
No caso do teatro, passado o período autoritá rio, na década de oitenta, o processo
de democratizaçã o passou a exigir uma redefiniçã o da linguagem dos anos da resistência
e, pelo menos, alguns deles demoraram a atualizar-se. A adaptaçã o aos processos
burocrá ticos da Federaçã o e do Sindicato, bem como a falta de uma estrutura regular de
manutençã o também foram apontados como causas de um certo refluxo.581 Em meio a
dificuldades, ao longo do período 1983-2000, pelo menos dez grupos estiveram em
atividade: Imbuaça, Raízes, Mamulengo do Cheiroso, Mambembe, Opiniã o de
Espetá culos, Imagem, Argamassa, Mombassa, Checkup, Corpo e Cená rio. Todos foram
organizados em Aracaju, exceto o Mombassa que nasceu em Maroim.582
Vale salientar que pelo menos o grupo Raízes surgiu voltado para o pú blico
infantil. Mamulengo do Cheiroso atuou como Teatro de Bonecos. Quanto aos grupos
Imbuaça, Mambembe e Mombassa nasceram como expressã o contra o regime
autoritá rio e desenvolveram-se veiculando seus espetá culos associando a arte com a
política.
Na década de noventa, apesar de as formas de financiamento ainda
permanecerem oscilantes, houve avanço em relaçã o à década anterior.583 Os atores
buscaram novas definiçõ es, alguns nomes qualificados se radicaram em Aracaju,
trazendo sua experiência e seu saber. O intercâ mbio com artistas de outros Estados
ampliou-se. Na busca de aprimoramento, vá rias pessoas estiveram estudando os
clá ssicos da dramaturgia e progredindo. De 1997 a 1998 montaram Samuel Becket,

581
Sueli Carvalho. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 37, julho de 1999.
582
Governo do Estado de Sergipe. Plano Plurianual (1992/1995). Administraçã o Joã o Alves, v. I, p. 51.
583
Sueli Carvalho. Ob. cit., 1999.
280

Garcia Lorca, experimentaram Brecht e Moliére e leram Camus e Shakespeare.584 Com


elevado nível técnico, grupos como Imbuaça consolidaram reconhecimento externo e
interno e receberam prêmios. Vá rios atores afirmaram-se, como Mariano Ferreira (in
memoriam), Lindolfo Amaral, Jorge Lins, Isaac Galvã o, Orlando Vieira, Walmir Sandes,
Vieira Neto, Antonio Leite, Virgínia Lú cia e tantos outros. Numerosas peças de qualidade
foram apresentadas. Somente o Imbuaça, em 1997, quando completou vinte anos de
existência, havia montado 13 espetá culos e participado de 91 eventos nacionais e
internacionais.585
Associando o teatro e a mú sica, a Secretaria de Estado da Cultura promoveu
espetá culos do Ballet Folcló rico e da Ó pera do Milho, resultando em CD que obteve boa
aceitaçã o do pú blico, mas nã o teve continuidade.
Quanto à dança, nos anos oitenta e noventa, novos espaços foram criados. Da
junçã o de dois profissionais surgiu a Moemandré. Aracaju também foi se tornando um
mercado emergente, inclusive para bailarinos. Profissionais de outras terras passaram a
morar em Sergipe, como Lu Spinelli e a gaú cha Olga Gutierry, Senzala, Conga que
atuaram em vá rias instituiçõ es: Cultart, Funcaju, difundindo seus conhecimentos e sua
experiência enriquecedores. Nos anos noventa, outras casas foram inauguradas, como
Danç’Art, Célia Duarte, Nó s e Cia, enquanto ressurgia a Academia Sergipana de Ballet,
promovendo grandes espetá culos. Em meio à concorrência, alguns artistas
empenharam-se em explorar novas formas, desde as mais populares, como a dança de
ventre, até aquelas inspiradas em motivos clá ssicos, associados com tradiçõ es locais,
como foi o caso do Forrobalet.586 A circulaçã o dos artistas foi-se tornando comum, assim
como o intercâ mbio com outros Estados cresceu. Segundo uma profissional do ramo, a
qualidade foi aperfeiçoada assim como se desenvolveu o nível técnico.587
Durante esse período, alguns nomes destacaram-se como gestores e animadores
culturais, entre os quais devem ser lembrados: Aglaé Fontes Alencar, Clara Angélica,
Ilma Fontes, Ivan Valença, Nú bia Marques, Lâ nia Duarte, Lindolfo Amaral, Luiz Antô nio
Barreto, entre outros.

584
Cf. Virgínia Lú cia Fonseca de Menezes. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em 25.11.1999.
585
Cf. Imbuaça, 20 anos. Aracaju: Imbuaça Produçõ es Artísticas, 1997.
586
Dorinha Teixeira Machado. Dança em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco
do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000, p. 49-51.
587
Dorinha Teixeira Machado. Ob. cit., 2000, p. 49-51.
281

Enquanto isso, os meios de comunicaçã o também se diversificavam. É certo que


as mudanças na imprensa escrita foram pequenas, embora comportando uma certa
desconcentraçã o. Das quatro folhas, incluindo uma semanal, um membro da família
Franco detinha o Jornal da Cidade; o empresá rio Joã o Alves, o Jornal da Manhã; os
herdeiros de Orlando Dantas continuavam com a Gazeta de Sergipe; enquanto que o
Cinform, sob o controle do empresá rio Bomfim, afirmava-se como o semaná rio mais lido.
Entre os jornais alternativos, podem ser citados O Kapital, Folha da Praia, O Que, O
Povão, entre outros. Maiores alteraçõ es ocorreram na radiofonia de Sergipe. Enquanto
em 1982 nã o chegavam a 10 rá dios, ao fim do século já eram 30, sendo 18 FM e 12
AM/OM (Ver Anexo VII). Apesar da grande influência da TV, os rá dios resistiram em
Sergipe gozando de grande audiência. Num momento em que os parlamentares nã o
conseguiam atender as demandas dos estratos inferiores, o rá dio continuou funcionando
como uma tribuna popular, com grande participaçã o do povo em meio também à
manipulaçã o por parte de determinados useiros dos programas radiofô nicos e
radialistas que fizeram desse meio de comunicaçã o instrumento de sensacionalismo e de
ascensã o política.
Na televisã o, os dois canais da década de setenta transformaram-se em seis,
incluindo duas transmissoras. Além desse crescimento numérico, houve
desconcentraçã o de poder no controle das emissoras de TV. A difusã o da antena
parabó lica no interior acarretou duas consequências. De um lado, diluiu bastante a
influência dos grupos locais sobre os telespectadores. De outro, levou-os a participar
mais dos problemas de outras terras, em detrimento do acompanhamento dos fatos
locais. De qualquer forma, a TV afirmou-se como a principal fonte de entretenimento da
sociedade de massa. Com a ampliaçã o da energia elétrica para todos os municípios e
para os povoados, a TV passou a predominar, prendendo o pú blico com seus programas
de auditó rios, noticiá rios, novelas e filmes, operando homogeneizaçã o sem precedente
de determinados padrõ es culturais. Mas esse acesso equalizador foi erodido com a TV a
cabo, que chegou a Aracaju em 1996, oferecendo quase uma centena de canais.
Enquanto seus usuá rios ampliavam sua inserçã o no mundo globalizado, em
contrapartida passou a gerar assimetrias e excesso de informaçõ es, exigindo dos
282

telespectadores maior discernimento para se orientar na multiplicidade de dados e


tendências. Eram faces da era da globalizaçã o que se acelerava marcada de contradiçõ es.
Além do jornal e do rá dio, que vinham de longas datas, e da TV, que entrou em
Sergipe no fim dos anos setenta, na década seguinte começou a aparecer o disco CD. Nos
anos noventa, propagou-se o computador e com ele pouco depois a internet. Por fim, o
telefone celular (1996). Os avanços tecnoló gicos formavam um complexo eletrô nico que
revolucionava as telecomunicaçõ es e ampliava a difusã o dos bens culturais. As
interconexõ es imediatas entre as vá rias partes do globo afetaram o mercado financeiro,
a produçã o industrial, as relaçõ es de trabalho. Ampliou-se a mercantilizaçã o dos bens
simbó licos. O processo de globalizaçã o acelerou-se, atingindo a política, a economia e a
sociedade, gerando problemas novos. Como a tecnologia passou a desenvolver-se em
ritmo muito acelerado através de um processo competitivo bastante acentuado,
produziu grande defasagem entre países e, dentro deles, entre grupos sociais.
Especialmente as naçõ es pobres, marcadas por desigualdades e sem grande poder de
competiçã o, encontraram grandes dificuldades na generalizaçã o das inovaçõ es
tecnoló gicas aos diversos estratos sociais. Em pouco tempo, o descompasso social foi-se
tornando mais gritante, criando demandas que os Estados foram se revelando
impotentes para atendê-las. A liberalizaçã o, no sentido de incentivar a produtividade e
tornar o Estado menos pesado, aumentou a exclusã o social, reforçando o discurso dos
estatistas, em baixa desde a derrocada das experiências socialistas. Ao fim, a luta pela
inclusã o se afirmava como um dos grandes desafios legados para os viventes do novo
milênio.

5.4 Resumo (1983-2000)

No período 1983-2000, o processo de democratizaçã o ampliou-se, apesar de ser


perturbado pelo descompasso entre o Estado e a sociedade. Num primeiro momento, o
aparato autoritá rio foi substituído por uma orientaçã o liberalizante. Nos anos oitenta, o
modelo varguista do nacional-desenvolvimentismo mergulhou em profunda crise. O
Estado passou por profundo descontrole, gerando inflaçõ es recordes e grandes
283

turbulências no mercado. Com a sociedade política enfraquecida, mal saída de um


regime autoritá rio, a sociedade civil mobilizou-se, os direitos sociais foram ampliados e
a Carta de 1988 os consagrou.
Nos anos noventa, os governos começaram a combater a instabilidade atacando
suas causas estruturais, mas inicialmente as tentativas nã o tiveram o sucesso esperado e
o clima de incerteza continuou. Somente a partir de 1994 o processo inflacioná rio
começou a ser domado enquanto a má quina pú blica passava por um processo de
racionalizaçã o. Nessa fase inicial, o movimento sindical foi inibido, os assalariados do
setor pú blico e grande parte da classe média foram prejudicados e houve retrocesso no
sistema de segurança pú blica.
Em Sergipe, o Estado continuou controlado por grupos conservadores, boa parte
dos quais originá rios da ARENA, nã o se configurando alternâ ncia de poder. Três
partidos controlaram o governo do Estado. O PDS (1983-85), o PFL, (1985-94) e o PSDB,
que assumiu em 1995 e chegou ao fim do século com mais dois anos de mandato pela
frente. Na á rea de Justiça, apesar do avanço da criaçã o dos Juizados Especiais, que
contribuiu para ampliar a cidadania, os grupos dominantes persistiram influentes,
recebendo tratamento diferenciado. As administraçõ es pú blicas, em sua maioria,
revelaram-se pouco criteriosas nos seus gastos, enquanto o Judiciá rio nã o correspondia
ao esperado. O Estado de Direito careceu de maior abrangência.
Os oposicionistas demonstraram incapacidade em juntar-se e montar um bloco
alternativo para conquistar hegemonia. Apenas conseguiram dois feitos. O controle da
Prefeitura de Aracaju a partir de 1985 e a construçã o de uma coalizã o em 1994. Nã o
obstante a derrota para governador, houve ganhos na representaçã o do Estado no
Congresso Nacional, resultando em avanços significativos na esfera política. O eleitorado
aumentou em proporçã o maior do que o crescimento da populaçã o e realizaram-se dez
eleiçõ es sem soluçã o de continuidade em ambiente de ampla liberdade de manifestaçã o
de pensamento e de organizaçã o. O jogo político tornou-se aberto e competitivo.
A economia estadual apresentou baixo crescimento em face da diminuiçã o dos
investimentos da Petrobras, das longas estiagens e da transferência de alguns ó rgã os
para a Bahia. Dentro do Nordeste, embora o Estado tenha perdido terreno, seus
284

indicadores sociais continuaram melhorando e chegaram ao fim do milênio numa


posiçã o mediana dentro da regiã o.
A sociedade civil passou a ocupar maior espaço num ambiente cada vez mais
plural e heterogêneo. A populaçã o foi se revelando mais informada e participativa,
exigente e com maior poder de pressã o. O nú mero de votantes ampliou-se
consideravelmente e a vida pú blica tornou-se mais transparente. Numerosos canais de
intermediaçã o política se formaram e a construçã o da cidadania progrediu.
No â mbito cultural, aboliu-se definitivamente a censura. As produçõ es na
literatura e nas ciências humanas avançaram em quantidade e qualidade. As
manifestaçõ es artísticas gozaram de ampla liberdade e proliferaram. As artes plá sticas
adquiriram maior dinamismo. O movimento editorial e o fonográ fico cresceram muito.
As artes cênicas foram cultivadas como nunca. Os meios de comunicaçõ es, apesar de
cada vez mais inseridos nos esquemas nacionais padronizados, tornaram-se mais
variados em nú mero e propriedade, embora sujeitos a arranjos suspeitos. As açõ es do
mecenato pú blico e privado persistiram e, em algumas á reas, ampliaram-se. Isso nã o
impediu que o desenvolvimento artístico se tornasse mais sintonizado com a ló gica do
mercado e cada vez mais sensível à s influências externas. Era o sintoma da era da
globalizaçã o acentuando a propensã o para adoçã o de costumes e modas padronizadas.
Por outro lado, paradoxalmente ocorreu também enorme diversificaçã o de tendências,
estilos, e ritmos. A competitividade acentuou-se. Na busca de novos caminhos, ocorreu
dispersã o e alguma descontinuidade.
285
286

6 CONCLUSÕES

No curso dos 110 anos de forma de governo republicano em Sergipe, o Estado


ampliou sua influência sobre a sociedade, a populaçã o multiplicou-se por 5,7 e muitos
desafios foram vencidos.
Enquanto o processo econô mico nacional transcorria de forma subordinada ao
sistema capitalista mundial, internamente passava por ciclos de elevado crescimento e
de crise. No aspecto político-administrativo, houve uma certa alternâ ncia de avanços e
recuos. Como parte da federaçã o, Sergipe compartilhou com essa situaçã o, vivenciando
ao seu modo os diversos momentos institucionais que plasmaram sua Histó ria. Mas esse
processo foi prejudicado pela assincronia no desempenho dos setores político,
econô mico-social e cultural.
Nas primeiras três décadas do século XX, quando a economia se diversificava e os
governos, em parceria com empresá rios, promoviam ciclo modernizador, a vida político-
partidá ria esteve travada pelo esquema de dominaçã o oligá rquica. Com a Revoluçã o de
1930, a intervençã o na política fortaleceu o poder pú blico diante dos grupos que
tradicionalmente controlavam a sociedade. Mas a modernizaçã o econô mica diminuiu
seu ritmo e a iniciativa privada perdeu dinamismo. As massas urbanas, no período 1931-
37, ampliaram sua participaçã o, organizaram-se em sindicatos e tiveram direitos
reconhecidos. O Estado Novo, de um lado, promoveu a desmobilizaçã o da sociedade
civil, que ficou cerceada sob o controle da tutela estatal, e, de outro, consolidou a
legislaçã o trabalhista assegurando numerosos direitos sociais.
A partir de 1945, a vida político-partidá ria avançou, o movimento sindical se
robusteceu, politizou-se e a mobilizaçã o social ampliou-se. Em contrapartida, na
economia, a dependência comercial do Estado em relaçã o ao Sudeste se acentuou, e o
setor secundá rio declinou com fortes repercussõ es no conjunto dos setores produtivos
estaduais.
No novo ciclo autoritá rio (1964-84), a presença da Petrobras e algumas políticas
nacionais operaram a maior alteraçã o do perfil da economia sergipana, superando a fase
agroexportadora pela estrutura industrial moderna. Mas os governantes, ao cercearem a
liberdade partidá ria, o movimento sindical e a participaçã o popular, comprometeram o
287

exercício da cidadania. Essas limitaçõ es devem ter contribuído para que o ciclo de
crescimento da economia nã o reduzisse as discrepâ ncias sociais.
Depois de 1982 e sobretudo a partir de 1985, houve grande avanço político-
eleitoral. O movimento sindical desenvolveu-se como nunca e houve muitas conquistas,
apesar do refluxo na década de noventa. Enquanto isso, a crise que afetou a economia
nacional refletiu-se no Estado onde o desempenho revelou-se modesto. Enfim,
conjunçõ es internas e externas provocaram esse desencontro, atingindo o quadro social.
Ao final do milênio persistia elevado percentual de analfabetos em grande parte
incorporado à enorme massa de pobres, vivendo como “semicidadã os”, sem usufruir
ativamente dos direitos civis e políticos, participando marginalmente do mercado, sem
carteira assinada, sem vínculos com quaisquer associaçõ es de classe e sem capacidade
reivindicató ria expressiva. Dentro desse grupo também estavam muitos descendentes
dos escravos que passaram por grande processo de miscigenaçã o, mas nã o desfrutaram
de reais possibilidades de ascensã o econô mico-social. Num nível superior, estavam os
grupos médios, inclusive os empregados dos setores pú blico e privado com salá rios
variados, inseridos no mercado, organizados de forma diversificada, gozando direitos
civis, políticos e sociais. Acima dos dois blocos, situavam-se os grupos dominantes, que
secularmente controlaram os três poderes da Repú blica. Ao longo do tempo, dominaram
os senhores do açú car, depois os pecuaristas e, por fim, os empresá rios urbanos com
variados graus de influência na burocracia estatal, mas nenhuma fraçã o hegemô nica foi
capaz de viabilizar projeto de desenvolvimento democrá tico efetivamente equalizador.
As experiências ditatoriais de â mbito nacional trouxeram alguns benefícios materiais,
mas desorganizaram grande parte da sociedade civil e acarretaram grande desserviço à
construçã o da democracia.
Os grupos político-ideoló gicos, que surgiram durante esse tempo propondo
alternativas, inspirados em variadas concepçõ es autoritá rias, dificultaram a
compreensã o da democracia como meio mais eficaz para edificaçã o de instituiçõ es
só lidas e de uma convivência mais igualitá ria. Neste sentido, os momentos mais
favorá veis foram entre 1945-1964 e sobretudo a partir de 1985 quando a participaçã o
popular aumentou e as eleiçõ es tornaram-se mais livres, embora ainda sofrendo as
coaçõ es do poder econô mico.
288

Apesar dessas limitaçõ es, os movimentos políticos contribuíram para ampliar a


cidadania, envolvendo os direitos civis, políticos e sociais. Entretanto, a melhoria dos
costumes foi bem pequena. Os postulados republicanos da impessoalidade e do exercício
das decisõ es pú blicas acima de privilégios estabelecidos continuavam carecendo de
maior vivência. O Estado ampliou-se, as demandas sociais tornaram-se cada vez mais
extensas e diversificadas, a manutençã o da má quina tornou-se onerosa, mas, nas ú ltimas
décadas, os agentes pú blicos demonstraram pouca sensibilidade diante da sociedade
majoritariamente empobrecida. A força da herança patrimonialista emperrou a prá tica
dos postulados republicanos. As grandes investidas contra o erá rio vá rias vezes ficaram
impunes como se houvesse algum acordo tá cito entre os poderes constituídos.
Apesar desses ó bices, numerosas transformaçõ es ocorreram. Chegamos a 1998
com um percentual de votantes superior a 49% enquanto no início do século nã o
chegava a 3% da populaçã o. Os pleitos tornaram-se livres, e os resultados, que antes
eram manipulados, revelaram-se confiá veis. O Estado passou por acentuado processo de
urbanizaçã o. Em 1940, quando já havia decorrido meio século de experimento
republicano, 69,3% da populaçã o ainda vivia no meio rural. Nos sessenta anos
subsequentes, registraram-se grandes deslocamentos para os centros urbanos de forma
que, no ano 2000, aquela situaçã o havia se invertido, pois apenas 28,64% das pessoas
permaneciam no campo. A maior concentraçã o realizou-se em torno da capital. A grande
Aracaju, envolvendo os municípios de Sã o Cristó vã o e Nossa Sra. do Socorro, no fim do
milênio, já se aproximava de 700 mil habitantes. Isoladamente, a capital aumentou 28,2
vezes no período 1890-2000.
A partir do início dos anos quarenta do século XX, a referida urbe foi perdendo
sua funçã o portuá ria, mas se afirmou como centro político-administrativo, econô mico e
cultural. Recebeu contingente razoá vel de imigrantes, verticalizou-se em alguns bairros
e desenvolveu amplo setor de serviços, que passou a contribuir majoritariamente na
formaçã o do PIB estadual. Ao fim do milênio, manifestava-se uma cidade heterogênea,
dotada de um centro vistoso banhado pelo rio Sergipe, grande parte da zona sul com boa
apresentaçã o, enquanto quase toda a zona norte formava extenso aglomerado humano,
carecendo de maior infraestrutura.
289

Ao longo do século XX, adotamos, como a grande parte da populaçã o mundial,


novas formas de transporte (trem, automó vel, aviã o) e comunicaçã o (telefone, rá dio, TV,
Internet), transformando há bitos e comportamentos. A modernidade trouxe numerosos
benefícios para as pessoas, acompanhando os progressos dos centros mais civilizados.
No aspecto material, adotamos a energia elétrica em todo o Estado, passamos a dispor
de á gua tratada. O saneamento foi assimilado como uma necessidade bá sica. As grandes
epidemias, tã o frequentes durante a Primeira Repú blica, praticamente foram
controladas. Os indicadores sociais avançaram. O atendimento nos hospitais
universalizou-se, melhorando as condiçõ es de saú de e bem-estar. As mulheres
ocuparam enorme espaço na sociedade dentro do processo de mobilidade social,
diferenciaçã o e laicizaçã o. Houve grande liberaçã o dos costumes, revolucionando os
padrõ es sexuais.
Contudo, as desigualdades sociais permaneceram muito acentuadas. A violência
tornou-se um problema endêmico. Nã o conseguimos erradicar o analfabetismo. É
verdade que houve progressos. Se no início da Repú blica apenas 10,19% da populaçã o
de cinco anos ou mais sabiam ler e escrever, esse percentual aumentou para 76,5% no
ano 2000, computando apenas os de 15 anos ou mais. Foi um avanço considerá vel, mas
inferior à média nacional que foi de 87,2%. Enquanto isso, surgiam novos problemas
provocados pelo crescimento da populaçã o. Desequilibramos o ecossistema. Dizimamos
quase toda nossa fauna e devastamos nossas florestas. As constantes queimadas
degradaram nosso solo. A poluiçã o e as derrubadas das matas ciliares afetaram a
vitalidade dos rios. Quando os danos ao meio ambiente foram se revelando ameaçadores
ou mesmo desastrosos, a sociedade começou a pressionar e os administradores
passaram a tomar algumas tímidas medidas, visando diminuir as agressõ es à natureza.
Quanto à s manifestaçõ es culturais, em todos os momentos apareceram
permeadas de conotaçõ es políticas. No período 1890-1930, observamos a
predominâ ncia da sociedade. As produçõ es ocorreram dentro de uma comunidade
tradicional, sob a hegemonia de grupos privados reduzidos em nú mero, mas expressivos
em poder. As iniciativas culturais dos intelectuais e artistas alcançaram mais
repercussã o do que as açõ es do setor pú blico. O Estado, quando muito, atuava
esporadicamente como mecenas, subsidiando artistas ou estudantes e publicando obras.
290

Em contrapartida o nível de interferência política nas produçõ es culturais parece ter


sido o menor em relaçã o à s fases subsequentes.
Num segundo período (1930-45), a situaçã o inverteu-se com a predominâ ncia do
Estado. Os governos foram interferindo no mercado editorial e, numa segunda fase mais
definidamente autoritá ria, passaram a implementar política cultural envolvendo ensino,
patrimô nio histó rico, controle das informaçõ es, servindo para a montagem de um
Estado-naçã o de feiçã o autoritá ria. No conjunto, foi um período mais modesto em
produçõ es.
Na terceira fase (1946-64), o Estado perdeu terreno, mas continuou bastante
presente no amplo setor cultural. A sociedade ganhou dinamismo, tomou iniciativas
variadas, entre as quais a tentativa de construçã o de ambicioso projeto cultural nacional
popular. Mas essa vertente perdeu o embate político-ideoló gico.
Com a tutela militar (1964-82), gestou-se novo projeto sob os auspícios do
Estado, atualizando o modelo capitalista, orientando as produçõ es culturais para o
mercado. Dentro desse novo contexto, houve empenho de atender a demanda no ensino
médio, com a criaçã o de novos estabelecimentos. Nasceram a Universidade Federal de
Sergipe, o festival de Sã o Cristó vã o e os encontros culturais. As artes receberam
incentivos sem precedentes.
No período subsequente (1983-2000), o Estado retraiu-se um pouco, mas
numerosas agências ligadas ao campo artístico foram institucionalizadas, envolvendo o
poder pú blico e grupos privados, proporcionando-lhe respaldo e dinamismo. Num
ambiente cada vez mais globalizado, reforçando a ló gica do mercado, novas escolas do
terceiro grau foram instaladas. As produçõ es aceleraram-se diversificadas em qualidade,
mas, no conjunto, bastante enriquecedoras nas ciências humanas, na literatura e nas
demais artes. Entretanto, o processo foi-se revelando contraditó rio. Se, de um lado, as
manifestaçõ es culturais contribuíam para a construçã o da identidade dos sergipanos
através de suas realizaçõ es simbó licas mais expressivas, de outro, enquanto a cultura
local assimilava os padrõ es capitalistas voltados para o consumismo, engendrava a
massificaçã o de bens culturais, comprometendo a qualidade de parte das produçõ es
cada vez mais inseridas no mercado internacionalizado e envolvente. Certos filmes,
determinados programas de TV e alguns grupos musicais contribuíram também para a
291

exacerbaçã o do ciclo de violência dos anos noventa. Enquanto crescia o movimento de


universalizaçã o da cultura, internamente também se afirmavam as criaçõ es individuais
voltadas para expressar nossas diferenças e especificidades, traduzindo os sentimentos
mais genuinamente locais. É certo que, nos planos nacional e local, o desafio da
sociedade de estender para todos as novas potencialidades da era da informaçã o
permanecia candente.
Contudo, no cô mputo geral, houve grande evoluçã o criativa e, a partir da
educaçã o, verificou-se inegá vel democratizaçã o dos bens culturais. Ao fim, podemos
dizer que ao longo do período republicano, as representaçõ es da identidade dos
sergipanos sofreram algumas oscilaçõ es. Num primeiro momento, que cobre a Primeira
Repú blica, o florescimento de uma plêiade de homens talentosos proporcionou bastante
jú bilo aos seus cidadã os. A partir de 1930, houve um refluxo, se bem que irregular, na
vida intelectual e na economia, levando a um sentimento de pessimismo sobre o seu
papel no â mbito da federaçã o. Com o desenvolvimento do meio universitá rio, as
revelaçõ es da riqueza do subsolo e a emergência de novo ciclo produtivo, conforme
observou o pensador Silvério Fontes (1999), os sergipanos passaram a acreditar mais
em suas potencialidades. Pode-se dizer, entã o, que os quadros de seus pintores, as
imagens de seus escultores, as letras de seus compositores, as mú sicas de seus cantores,
as danças de seus bailarinos, a força dramá tica de seus atores, as representaçõ es de seus
prosadores, os versos dos seus poetas, as aná lises dos seus cientistas, as relaçõ es dos
cidadã os com o meio, o enfrentamento das adversidades naturais e sociais, as lutas pela
democracia, enfim as obras dos habitantes de Sergipe foram a expressã o mais
significativa de sua engenhosidade e de sua capacidade realizadora.
292

ANEXOS
293

ANEXO I
REPÚ BLICA (GOVERNANTES DE SERGIPE - 1889 – 2000)

NOME PROFISSÃO PERÍODO DE GOVERNO


Tomá s Rodrigues da Cruz (1852-1919) Empresá rio 15.11.1889 a 17.11.1889
Militar
Antô nio Diniz Dantas Melo
Militar
José Siqueira de Meneses (1852- 1931) 17.11.1889 a 18.11.1889
Proprietá rio
Antô nio Siqueira Horta
Rural
Vicente Luís de Oliveira Ribeiro (1852- Proprietá rio
1895) Rural
18.11.1889 a 02.12.1889
Baltasar de Araú jo Gó is (1853-1914) Professor
José Siqueira Meneses (1852- 1931) Militar
Baltasar de Araú jo Gó is (1853-1914) Professor
02.12.1889 a 13.12.1889
José Siqueira Meneses (1852- 1931) Militar
Felisbelo Firmo de Oliveira Freire
Médico 13.12.1889 a 17.08.1890
(1858-1916)
Augusto César da Silva (1833-1918) Militar 17.08.1890 a 04.11.1890
Lourenço Freire de Mesquita Dantas
Juiz 04.11.1890 a 25.12.1890
(1848-1902)
Proprietá rio
Antonio Siqueira Horta 25.12.1890 a 26.01.1891
Rural
Luís Mendes de Morais Militar 26.01.1891 a 28.05.1891
Vicente Luís de Oliveira Ribeiro (1852- Proprietá rio
28.05.1891 a 24.11.1891
1895) Rural
Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel
Advogado
(1825-1909)
Militar 27.11.1891 a 18.05.1892
Marcelino José Jorge (1860-1945)
Médico
Olindo Rodrigues Dantas (1861-1932)
José de Calazans (1863-1948) Militar 18.05.1892 a 11.09.1894
Joã o Vieira Leite (1867-1902) Médico 11.09.1894 a 24.10.1894
Manoel Presciliano de O Valadã o
Militar 24.10.1894 a 27.07.1896
(1849-1921)
Antô nio Leonardo Silveira Dantas
Padre 27.07.1896 a 24.10.1896
(1858-1919)
Martinho César da Silveira Garcez
Advogado 24.10.1896 a 11.10.1897
(1850-1918)
José Joaquim Pereira Lobo (1864-1933) Militar 11.10.1897 a 20.03.1898
Martinho César da Silveira Garcez
Advogado 20.03.1898 a 08.04.1898
(1850-1918)
Daniel de Campos (1855-1922) Médico 08.04.1898 a 24.07.1898
Martinho César da Silveira Garcez
Advogado 24.07.1898 a 14.08.1898
(1850-1918)
Apulcro Motta (1857-1924) Jornalista 14.08.1899 a 24.10.1899
Olímpio de Sousa Campos (1853-1906) Padre 24.10.1899 a 24.10.1902
294

Josino Meneses (1866-1939) Farmacêutico 24.10.1902 a 24.10.1905


Guilherme de Sousa Campos (1850-
Desembargador 24.10.1905 a 10.08.1906
1923)
Joã o Maria Loureiro Tavares (1844-
Desembargador 10.08.1906 a 28.08.1906
1910)
Guilherme de Sousa Campos (1850-
Desembargador 28.08.1906 a 24.10.1908
1923)
José Rodrigues da Costa Dó ria (1859-
Médico 24.10.1908 a 10.07.1909
1938)
Manoel Batista Itajaí (1858-1918) Médico 10.07.1909 a 13.11.1909
José Rodrigues da Costa Dó ria (1859-
Médico 13.11.1909 a 24.10.1911
1938)
José de Siqueira Menezes (1852- 1931) Militar 24.10.1911 a 29.07.1914
Proprietá rio
Pedro Freire de Carvalho 29.07.1914 a 24.10.1914
Rural
Manuel Presciliano de Oliveira Valadã o
Militar 24.10.1914 a 24.10.1918
(1849-1921)
José Joaquim Pereira Lobo (1864-
Militar 24.10.1918 a 24.10.1922
1933)
Maurício Graccho Cardoso (1874-1950) Advogado 24.10.1922 a 13.07.1924
Eurípedes Esteves de Lima (1884- ) Militar
Augusto Maynard Gomes (1886-1957) Militar
13.07.1924 a 02.08.1924
Joã o Soarino de Melo (1898- ) Militar
Manoel Messias de Mendonça (1894- ) Militar
Maurício Graccho Cardoso (1874-1950) Advogado 02.08.1924 a 24.10.1926
Ciro Franklin de Azevedo (1858-1927) Diplomata 24.10.1926 a 16.01.1927
Manoel Correia Dantas (1874-1937) Usineiro 05.03.1927 a 16.10.1930
Eronildes Ferreira de Carvalho (1895-
Militar 16.10.1930 a 20.10.1930
1969)
José de Calazans (1863-1948) Militar 20.10.1930 a 04.11.1930
Marcelino José Jorge (1860-1945) Militar 04.11.1930 a 10.11.1930
José de Calazans (1863-1948) Militar 10.11.1930 a 16.11.1930
Augusto Maynard Gomes (1886-1957) Militar 16.11.1930 a 27.03.1935
Aristides Napoleã o de Carvalho Dentista 27.03.1935 a 02.04.1935
Eronildes Ferreira de Carvalho (1895- ) Militar 02.04.1935 a 09.07.1941
Milton Pereira de Azevedo Militar 09.07.1941 a 27.03.1942
Augusto Maynard Gomes (1886-1957) Militar 27.03.1942 a 27.10.1945
Francisco Leite Neto (1907-1964) Advogado 27.10.1945 a 05.11.1945
Hunald Santaflor Cardoso (1894-1973) Advogado 05.11.1945 a 31.03.1946
Antô nio de Freitas Brandã o Militar 31.03.1946 a 30.01.1947
Joaquim Sabino Ribeiro (1912-1981) Industrial 30.01.1947 a 29.03.1947
José Rolemberg Leite (1912-1996) Engenheiro 29.03.1947 a 31.01.1951
Joã o Dantas Martins dos Reis (1884-
Desembargador 31.01.1951 a 17.02.1951
1978)
Edélzio Vieira de Melo (1909-1962) Médico 17.02.1951 a 12.03.1951
295

Arnaldo Rolemberg Garcez (1911- ) Prop. Rural 12.03.1951 a 31.01.1955


Leandro Maynard Maciel (1897-1984) Engenheiro 31.01.1955 a 31.01.1959
Luiz Garcia (1910-2001) Advogado 31.01.1959 a 06.06.1962
Proprietá rio
Dionísio de Araú jo Machado 06.06.1962 a 30.01.1963
Rural
Proprietá rio
Horá cio Dantas de Gó is (1914-1998) 30.01.1963 a 31.01.1963
Rural
Joã o de Seixas Dó ria (1917- ) Advogado 31.01.1963 a 01.04.1964
Advogado e
Sebastiã o Celso de Carvalho (1923- ) 02.04.1964 a 31.01.1967
empresá rio
Lourival Batista (1915- ) Médico 31.01.1967 a 14.05.1970
Volney Leal de Melo (1921-1995)
Empresá rio 14.05.1970 a 04.06.1970
Presidente da Assembleia
Joã o Andrade Garcez (1926-1991) Dentista 04.06.1970 a 15.03.1971
Paulo Barreto de Menezes (1925- ) Engenheiro Civil 15.03.1971 a 15.03.1975
Engenheiro de
Minas e
José Rolemberg Leite (1912-1996) 15.03.1975 a 15.03.1979
Proprietá rio
Rural
Médico e
Augusto do Prado Franco (1912-2003) 15.03.1979 a 14.05.1982
Empresá rio
Vice- Djenal Tavares de Queiroz (1916- Militar e Prop.
14.05.1982 a 15.03.1983
1997) Rural
Engenheiro Civil
Joã o Alves Filho (1941- ) 15.03.1983 a 15.03.1987
e Empresá rio
Químico e 15.03.1987 a 15.03.1991
Antô nio Carlos Valadares (1943- )
Advogado
Engenheiro Civil
Joã o Alves Filho (1941- ) 15.03.1991 a 01.01.1995
e Empresá rio
Albano do Prado Pimentel Franco Advogado e
01.01.1995 a 01.01.1999
(1940- ) Empresá rio
Albano do Prado Pimentel Franco Advogado e
01.01.1999 a 01.01.2003
(1940- ) Empresá rio
Engenheiro Civil
Joã o Alves Filho (1941- ) 01.01.2003 a
e Empresá rio

Obs. Vá rias datas de nascimento e morte dos presidentes do Estado foram fornecidas
pelo pesquisador Jackson da Silva Lima, a quem agradecemos.
296

ANEXO II
SENADORES DA REPÚ BLICA - SERGIPE

Mandato
Nome completo Partido
Início Fim
01/02/1982 31/01/1991
Albano do Prado Pimentel Franco PFL
01/02/1991 31/12/1994
Albino Silva da Fonseca PMDB 22/07/1959 30/09/1959
01/02/1995 31/01/2003
Antô nio Carlos Valadares PSB
01/02/2003
Augusto César Leite PR 02/05/1935 10/11/1937
Augusto César Lopes Gonçalves 26/04/1924 11/10/1930
01/02/1955 12/08/1957
Augusto Maynard Gomes PSP
02/03/1947 31/01/1951
Augusto do Prado Franco PDS 01/02/1971 31/01/1979
Durval Rodrigues da Cruz PR 19/09/1946 31/01/1955
Dylton Augusto Rodrigues da Costa ARENA 1963
Francisco Guimarã es Rollemberg PMDB 1987 1995
Francisco Leite Neto PSD 01/02/1963 10/12/1964
Gilberto de Lima Azevedo Souza F. Amado
PR 21/04/1927 11/11/1930
de Faria
Gonçalo de Faro Rollemberg 01/05/1918 31/01/1926
Guilherme de Souza Campos PCO 28/10/1909 31/01/1917
Heribaldo Dantas Vieira ARENA 01/02/1959 31/01/1967
Herá clito Guimarã es Rollemberg PDS 17/06/1985 14/10/1985
Jorge Campos Maynard UDN 30/08/1957 31/01/1963
José Almeida Lima PDT 01/02/2003
José Alves do Nascimento PFL 01/02/1995 31/01/1999
José Eduardo de Barros Dutra PT 01/02/1995 02/01/2003
07/05/1923 21/04/1930
José Joaquim Pereira Lobo 21/04/1930 11/11/1930
24/12/1914 1918
14/06/1897 18/05/1906
José Luiz Coelho e Campos PR 15/11/1890 14/06/1897
18/05/1906 30/09/1913
José Passos Porto PMDB 01/02/1979 31/01/1987
José Rollemberg Leite ARENA 08/02/1965 31/01/1971
José Siqueira Menezes PR 24/04/1915 31/12/1923
Joã o Gilvan Rocha PP 1975 1982
03/02/1963 31/01/1971
Jú lio César Leite PR/ARENA
10/03/1951 31/01/1959
Lauro Dantas Hora PTB 1955 1963
297

01/02/1967 31/1/1975
Leandro Maynard Maciel ARENA
04/05/1935 09/11/1937
Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel PP 18/05/1894 31/01/1903
01/02/1979 31/01/1987
Lourival Baptista PFL 01/02/1987 31/01/1995
1970 1978
Lourival Fontes PTB 01/02/1955 31/01/1963
Manoel Elias de Santana PFL 25/02/2003
02/05/1919 10/11/1921
Manoel Presciliano de Oliveira Valladã o PR 27/05/1907 22/04/1912
1912 1914
Manoel da Silva Rosa Jú nior 15/11/1890 31/01/1900
Maria do Carmo do Nascimento Alves PFL 01/02/1999
Partido
Martinho Cézar da Silveira Garcez Constitucional 07/05/1900 31/01/1909
Sergipano
Maurício Gracho Cardoso PR 15/05/1922 03/05/1950
Moacyr Sobral Barreto PR
Partido
Olímpio de Souza Campos 23/04/1903 9/11/1906
Cató lico
Pedro Diniz Gonçalves Filho 01/06/1951 30/09/1951
Serapiã o de Aguiar Mello PR 05/05/1914 31/01/1915
Thomaz Rodrigues da Cruz PR 15/11/1890 1893
Valdiolanda Teó filo Assis Nunes Leite PT 03/01/2003 31/01/2003
Walter do Prado Franco UDN 19/09/1946 31/01/1955

Fonte: Senado Federal


Subsecretaria de Arquivo
298

ANEXO III
DEPUTADOS FEDERAIS POR SERGIPE (1891-2000)

1891-1893: Ivo do Prado, Manuel Presciliano de Oliveira Valadã o, Leandro Ribeiro de


Siqueira Maciel, Felisbelo Oliveira Freire, Olímpio Souza Campos.

1894-1896: Olímpio Souza Campos, Antô nio Alves de Gouveia Lima, Geminiano Brasil de
Oliveira Gó is, Manoel José de Menezes Prado.

1897-1899: Felisbelo Oliveira Freire, Olímpio Souza Campos, Geminiano Brasil de


Oliveira Gó is, José Rodrigues da Costa Dó ria.

1900-1902: Rodrigues Dó ria, Sílvio Romero, Fausto Cardoso, Joviniano Joaquim de


Carvalho.

1903-1905: Rodrigues Dó ria, Felisbelo Freire, Joviano de Carvalho, Remanescente da


Constituinte, Oliveira Valadã o, Remanescente da Constituinte.

1906-1908: Rodrigues Dó ria, Joviniano de Carvalho, Fausto Cardoso (+ 28.08.1906) e


substituído por Josino Menezes, Oliveira Valadã o (1906-) assumiu cadeira no Senado e
foi substituído por Manoel Bonfim.

1909-1911: Joviniano de Carvalho, Rodrigues Dó ria, Gumercindo Bessa, Antô nio Pedro
da Silva Marques, falecido em 09.11.1909 e substituído por Felisbelo Freire.

1912-1914: Joviniano de Carvalho, Felisbelo Freire, Antô nio Dias de Barros, Joã o de
Siqueira Cavalcanti, falecido em 01.06.1912 e substituído por Moreira Guimarã es.

1915-1917: Antô nio Dias Rolemberg, Gilberto Amado, Felisbelo Freire faleceu em
07.05.1916 e foi substituído por Espiridiã o Ferreira Monteiro 1916-1917.
299

1918-1920: Joã o Menezes, Deodato Maia, Manoel Nobre, Rodrigues Dó ria.

1921-1923: Gilberto Amado, Carvalho Neto, Ivo do Prado, Graccho Cardoso renunciou
em 1922 para ir para o Senado e foi substituído por Gentil Tavares.

1924-1926: Gilberto Amado, Carvalho Neto, Gentil Tavares, Batista Bittencout.

1927-1929: Graccho Cardoso, Gentil Tavares, Batista Bittencout, Luiz Rolemberg.

1930-1932: Legislatura dissolvida em 1930. Leandro Maciel, Gildo Amado, Graccho


Cardoso, Humberto Dantas.

1933-1934 – Constituinte: Deodato Maia, Rodrigues Dó rea.

1935-1937: Deodato Maia, Melchisedech Amado, Amando Fontes, José Barreto Filho.
Dissolvida em 1937.

1946-1950: Leandro Maciel, Amando Fontes, Heribaldo Vieira, Leite Neto, Graccho
Cardoso, Carlos Waldemar Acioli Rollemberg, Godofredo Diniz.

1951-1954: F. Leite Neto, Carvalho Neto, Leandro Maciel, Luiz Garcia, Francisco de
Araujo Macedo, Orlando Dantas e Amando Fontes.

1955-1958: F. Leite Neto, Francisco de Araujo Macedo, Armando Leite Rolemberg,


Walter do Prado Franco, José Conde Sobral, Seixas Dó ria e Luiz Garcia.

1959-1962: Lourival Batista, Passos Porto, Seixas Dó ria, Euvaldo Diniz, F. Leite Neto,
Armando Rolemberg, e Arnaldo Garcez.
300

1963-1966: Euclides Paes Mendonça (faleceu em 1963) foi substituído por F. de Araujo
Macedo, Arnaldo Garcez, Lourival Batista, Joã o Machado Rolemberg, Euvaldo Diniz,
Armando Rolemberg e José Carlos Teixeira.

1967-70: Augusto do Prado Franco, Arnaldo Rollemberg Garcez, Raimundo Menezes


Diniz, Joã o Machado Rolemberg Mendonça, Luiz Garcia, José Passos Porto, José Carlos
Mesquita Teixeira.

1971-1974: Francisco Guimarã es Rollemberg, Luiz Garcia, Raimundo Diniz, José Passos
Porto, Eraldo Machado Lemos.

1975-1978: Raimundo Meneses Diniz, Sebastiã o Celso de Carvalho, Francisco Guimarã es


Rollemberg, José Passos Porto, José Carlos Mesquita Teixeira.

1979-1982: Antô nio Carlos Valadares optou pela Secretaria de Educaçã o e foi
substituído por Adroaldo Campos Filho (1º suplente), Francisco Guimarã es Rollemberg,
Raimundo Menezes Diniz, Sebastiã o Celso de Carvalho, Jackson Barreto de Lima,
Tertuliano Azevedo.

1983-1986: Augusto do Prado Franco, Francisco Guimarã es Rollemberg, Hélio Dantas,


José Gilton Pinto Garcia, Sebastiã o Celso de Carvalho, José Carlos Mesquita Teixeira,
Jackson Barreto de Lima.

1987-1990: Antonio Carlos Leite Franco, Acival Gomes Santos, Joã o Bosco França Cruz,
Djenal Goncalves Soares, José Cleonâ ncio da Fonseca, Manoel Messias de Gó is, José
Queiroz da Costa, Joã o Machado Rollemberg Mendonça. Suplentes que assumiram
temporariamente Leopoldo de Araú jo Souza Neto, Gerson Vilas Boas.

1991-1994: Pedro Almeida Valadares Neto, Jerô nimo de Oliveira Reis, Manuel Messias
Gois, Benedito de Figueiredo, Jose Teles de Mendonça, Djenal Gonçalves Soares, Jose
Everaldo de Oliviera, José Cleonâ ncio da Fonseca.
301

1995-1998: José Cleonâ ncio da Fonseca, Jerô nimo de Oliveira Reis, José Teles de
Mendonça, Joã o Bosco França Cruz, Carlos Magno Costa Garcia, Adelson Rosendo Lima
Ribeiro, Marcelo Déda Chagas, José Wilson Cunha.

1999-2002: José Cleonâ ncio da Fonseca, José Teles de Mendonça, Sérgio Reis, Marcelo
Déda Chagas (substituído por Tâ nia Soares em 2001), Ivan Paixã o, Pedrinho Valadares,
Jorge Alberto, Augusto Franco Neto.

Fonte: TRE: 100 anos de Eleiçõ es em Sergipe. Aracaju, TRE, 2002.


302

ANEXO IV
PERIÓ DICOS DE SERGIPE
1890-1930
Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Revista Literá ria 34 1890-91
2. Caderneta Jurídica 01 1898
3. Cená culo 05 1902
4. A Revistinha 13 1905-?
5. Revista Agrícola 92 1905-08
6. A Trombeta – Revista Humorística, Literá ria, Crítica e 08 1907
Ilustrada
7. A Redempçã o 06 1907
8. Revista Forense do Estado de Sergipe: doutrina 16 1907-9
jurisprudência e legislaçã o
9. Revista do Brasil 03 1908-10
10. Revista Médica de Sergipe 01 1911
11. A Onda 06 1912
12. Revista D’arte e Propaganda – Vida Sergipana 04 1912
13. A Diocese de Aracaju – Ó rgã o Oficial 13 1912
14. Revista do Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 17 1912-29
15. A Sergipana 06 1914-15
16. Heliantho 06 1924
17. A Semana 03 1924
18. Revista de Sergipe 12 1928-29
19. Sergipe Judiciá rio 19 1928-30
20. Mercú rio 119 1928-30

PERIÓ DICOS DE SERGIPE -1931-1945

Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Revista da Academia Sergipana de Letras 09 1931-43
2. Lírio Mariano 01 1936
3. Revista de Aracaju 02 1943-44
4. Revista do Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 04 1939-45
5. Renascença 05 1935-36
6. Renovaçã o 34 1931-34
7. Revista de Sergipe 01 1936
8. Sergipe Artífice 13 1934-45
303

PERIÓ DICOS DE SERGIPE –1946-1963

Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Alvorada: Revista de Difusã o Literá ria Artística e 07 1946-51
Esportiva
2. É poca 03 1948-49
3. Vida Nova 02
4. Revista da Academia Sergipana de Letras 10 1946-62
5. Revista da Associaçã o Sergipana de Imprensa* 06 1949-63
6. Revista da Faculdade Cató lica de Filosofia 01 1961
7. Revista de Aracaju 02 1943-44
8. Revista de Faculdade de Direito 10 1953-6
9. Revista de Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 08 1948-61
10. Revista Sergipana de Contabilidade 03 1953
11. Sergipe Rodoviá rio 01 1956
* A revista da Associaçã o Sergipana de Imprensa, até o nú mero 2, intitulava-se Poliantéa.

PERIÓ DICOS DE SERGIPE – 1964-1982

Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1.Artes de Jovens 10 1968-72
2.Boletim do Ministério Pú blico 145 1971-82
3.Cadernos de Folclore Sergipano 05 1976
4.Cadernos Sergipanos de Geografia 06 1978-80
5.Momento: Revista Cultural da Gazeta de Sergipe 19 1976-79
6.Revista Alvorada 29 1972-82
7.Revista da Academia Sergipana de Letras 06 1969-81
8.Revista da Faculdade de Direito 02 1970-71
9.Revista da Faculdade de Filosofia de Sergipe 01 1967
10. Revista da Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 03 1965-82
11. Revista da Universidade Federal de Sergipe 02 1979-80
12. Revista Sergipana da Cultura 02 1977-78
13. Revista Sergipana do Folclore 03 1976-79
14. Síntese 06 1969-77
304

PERIÓDICOS DE SERGIPE – 1983-2000


Quantidade
Nome Período
de Nú meros
1. Agenda 03 1993
2. Aracaju Magazin 54 1996-2000
3. Boletim do Ministério Pú blico 45 1983-87
4. Cabeça de Negro 02 1993
5. Caderno de Cultura do Estudante – UFS 11? 1985-1999
6. Cadernos da UFS – Comunicaçã o 04 1995-97
7. Cadernos da UFS – Economia 01 1999
8. Cadernos da UFS – Histó ria 04 1995-97
9. Cadernos de Arqueologia 13 1997-98
10. Cadernos de Cultura Popular 06 1983-84
11. Cadernos de Extensã o – UFS 04 1995-97
12. Cadernos de Geografia 13 1991
13. Cadernos do CECH –UFS 01 1991
14. Candeeiro – Política e Cultura – Revista da Seçã o Sindical 03 1998-99
dos Docentes da UFS
15. ECOS – Ensaios Econô micos e Sociais – IESAP 02 1987-8
16. Educar-se 03 1996-97
17. Fragmenta- Revista da Faculdade de Direito da 01 1984
Tiradentes
18. Fragmenta- Revista da Faculdade de Direito da 04 1986-98
Tiradentes
19. GeoNordeste – UFS 14 1984-2000
20. Hora de Estudo – Sistema Municipal de Ensino em 05 1997-2000
Aracaju
21. Nordeste Hoje* 04 1985-86
22. Philosphica. Revista de Filosofia da Histó ria e 01 2000
Modernidade
23. Revista da Academia Sergipana de Letras 05 1990-99
24. Revista Alvorada 26 1983-88
25. Revista da Pó s-Graduaçã o de Educaçã o – Educaçã o e 01 1995
Informá tica UFS
26. Revista da Procuradoria Geral do Estado 01 1993
27. Revista da Secom: Sergipe Trabalha 13 1993
28. Revista de Aracaju 01 1985
29. Revista do Curso de Direito 01 1991
30. Revista do Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe 07 1965-99
31. Revista do Mestrado de Educaçã o – UFS 01 1998
32. Revista do Ministério Pú blico 15 1991-99
33. Revista do Poder Judiciá rio 03 1996-97
34. Revista dos Municípios 02 1985-91
35. Sergipe Hoje 03 1985
36. Sergipe SA: Negó cios e Atualidade 23 1999-2000
37. Tomo – Revista do NPPCS – UFS 02 1998-99
38. Turismo & Lazer em Revista 06 1986-91
39. UNIPÊ 03 1997-98
305

Obs. A revista Nordeste Hoje representou a continuidade de Sergipe Hoje. Foi editada pelo
governo do Estado com fins promocionais.

Fontes:
1. Dados coletados pelo autor no Instituto Histó rico Geográ fico de Sergipe e na Biblioteca
Ephifâ nio Dó ria.
2. Jorge Carvalho do Nascimento e Itamar Freitas. A Revista em Sergipe. Revista de Aracaju.
Aracaju: FUNCAJU, Ano LIX, n. 9, 2002, 169-187.
306

ANEXO V
AMOSTRA DE DISCOS DE MÚ SICA POPULAR DE CANTORES SERGIPANOS (1983-2000)

Produtor Nome do Disco


1. Antonio Carlos du Aracaju Pá ssaro LP
2. Cataluzes Viagem Cigana LP
3. Paulo Lobo, Irineu e Lula Ribeiro Cajueiro dos Papagaios LP
4. Rogério Á gua do Azul LP
5. Funcaju Aracaju para Cantar LP
6. Emsetur Aracaju Estaçã o Seduçã o LP
7. Chico Queiroga Cor de Laranja LP
8. Amorosa Iluminada LP
9. Amorosa Brejeira CD
10. Joésia e Outros Ê ta Nó is CD
11. TV Sergipe Canta Nordeste LP
12. Valter Nogueira Sem Despedida LP
13. Alvino Argolo Nordestinadas Brasileiras CD
14. Antonio Carlos du Aracaju Genuinamente Brasileiro CD
15. Banda Java Além da Crítica CD
16. SEC Aracaju Canta Aracaju CD
17. Doca Furtado Vento Cai CD
18. Lula Ribeiro Sono de Dolores CD
19. Antonio Rogério Serpente CD
20. Joésia Ramos De Passagem CD
21. Rubens Lisboa Assim Meio de Lua CD
22. Ismar Barreto Tremendamente Sacana CD
23. Anderson Lind Lirismo Amargo CD
24. Minho San Liver Bem CD
25. Antonio Carlos du Aracaju Minha Terra é Sergipe CD
26. Chico Queiroga Pá lpebras CD
27. Sena Canto dos Pá ssaros CD
28. Mingo Santana Som das Araras CD
29. Sena Cantoria CD
30. Paulo Lobo Ruas de Ará CD
31. Tom Robson Aventuras CD
32. Nery Na Ponta do Lá pis CD
33. Chiko Queiroga e Antô nio Rogério Ao Vivo CD
34. Vá rios Canto da Terra CD
35. Vá rios Fruto da Terra CD

Fonte: Cf. Antô nio Alves do Amaral e Wellington dos Santos (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a
Mú sica Popular Sergipana. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB,
BN, 2000, p 43-46.
307

ANEXO VI
AMOSTRA DE PRODUÇÕ ES CINEMATOGRÁ FICAS DE SERGIPANOS (1966-1982)

Nome Direçã o Roteiro Ano Bitola Tempo


1. Mercado Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1966 8 mm 4’
2. Nosso Tempo de Leonardo Alencar Leonardo Alencar 1966 8 mm 12’
Pesquisa
3. OH Que Delícia de Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1966 8mm 4’
Cidade
4. Todos Animais do Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1966 8mm 4’
Mundo
5. Vampiro Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1966 8 mm 4’
6. Crase Hunald de Alencar Hunald de Alencar 1967 8 mm 2’
7. Formaçã o das Hunald de Alencar Hunald de Alencar 1967 8 mm 2’
Palavras
8. Pistoleiros da Eduardo Cabral 1968 8 mm
Morte
9. O Declínio Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1969 16 mm 7’
10. Dia Novo Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1969 16 mm 2’
11. A Esfera Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1969 8 mm 10’
12. Fantasia Augusto César Macieira Augusto César 1969 8 mm 4’
Macieira
13. Momento Vinicius Dantas Vinicius Dantas 1969 16 mm 2’
14. Batalha de Busca- Evaldo Costa Evaldo Costa 1970 8 mm 20’
Pés
15. Cantadores de Michael Tacher Luiz Antonio Barreto 1971 16 mm 8’
Viola
16. Adauto Machado, Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1972 8 mm 3’
Evoluçã o Moreno
17. Badoque Jairo de Araú jo Andrade Jairo de Araú jo 1972 8 mm 3’ e 5”
Andrade
18. Boom Augusto César Macieira 1972 8 mm 2’
19. Caranguejo Valfran Soares Osmá rio Antonio 1972 Sup.8 3’
Santos
20. A É tica, 3 min.:O Vinicius Dantas 1972 8 mm 7’ e 10”
Faraó
21. Hiro, Esparsos, só Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1972 8 mm 2
isso Moreno
22. Luta Newton Menezes Newton Menezes 1972 8 mm 3’ e 55”
23. A Morte do Templo Marcos Prado Dias Angela Maria Dias 1972 Sup. 8 7’
24. Uma vez, em Hunald Alencar Hunald Alencar 1972 8 mm 4’
Olduvai
25. A Farinhada José Freire de Oliveira José Freire de 1973 Sup. 8 7’
Oliveira
26. Feliciana, A Artesã Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1973 Sup. 8 5’
de Carrapicho Moreno
308

AMOSTRA DE PRODUÇÕ ES CINEMATOGRÁ FICAS DE SERGIPANOS (1966-1982)

Nome Direçã o Roteiro Ano Bitola Tempo


27. Judite Edvaldo de Assis Edvaldo de Assis 1973 Sup. 8 5’ e 30”
28. Muié Rendeira Augusto César Macieira Augusto César 1973 Sup. 8 4’ e 30”
Macieira
Nome Direçã o Roteiro Ano Bitola Tempo
29. Pesadelo Thales Pinna Dantas Roberto Melo 1973 Sup.8 2’
30. II Festival de Arte Jairo Andrade Jairo Andrade 1973 16 20
de Sã o Cristó vã o
31. Tô te Ajeitando Marcos Prado Dias Wagner da Silveira 1973 Sup. 8 7’ e 40”
Ribeiro
32. Cotidiano Jorge Alberto Moreno Jorge Alberto Moura 1974 Sup.8 7’ e 25”
33. A Humanizaçã o da Carlos Nobre Cruz José Anselmo de 1974 16 mm 12’
Técnica Oliveira
34. Iná cio, sua vida e Maria Anamira Batalha Airton Machado 1974 Sup. 8 7’
sua arte Amado Neta
35. Psico-Deus Diomedes Santos da Diomedes Santos da 1974 Sup.8 7’ e 50”
Silva Silva
36. Sã o Cristó vã o, o Carlos Nobre Cruz José Gouveia do 1974 Sup. 8 10’
passado marcando Couto
o presente
37. Taieira, na festa de Jairo Andrade Beatriz Gó is Dantas 1974 16mm 10’
Sã o Benedito
38. Zabumba de Justino Alves Lima Justino Alves Lima 1974 Sup.8 7’
Quendera
39. Perdã o, já era Marcos Prado Dias Lú cio Prado Dias 1975 Sup.8 5’
40. Cultura Popular em Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1975 Sup. 8 17’
Laranjeiras Moreno
41. I Encontro Cultural Marcos Aurélio Prado 1976 Sup 8 13’
de Laranjeiras Dias
42. Réquim (A Grande Augusto César Macieira Augusto César 1976 Sup 8 11’
Missa dos Mortos) Macieira
43. A Dança de Sã o Augusto César Macieira Beatriz Gó is Dantas 1977 Sup.8 12’
Gonçalo
44. O Enterro do Marcos Sergipe e Virgílio Marcos Sergipe e 1977 Sup.8 10’
Celuló ide Virgílio
45. O Caçador de Almas Jorge Lins de Carvalho Jorge Lins de 1978 Sup.8 18’
e Jardins Azuis Carvalho
46. Modernismo Hunald Alencar Hunald Alencar 1978 Sup.8 30’
47. Momento M Grupo Fase 1978 Sup.8 3’
48. Taieira na Festa de Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1978 Sup.8 16’
Reis Moreno
309

AMOSTRA DE PRODUÇÕ ES CINEMATOGRÁ FICAS DE SERGIPANOS (1966-1982)


(continuaçã o)

Nome Direçã o Roteiro Ano Bitola Tempo


49. Alerta Geral Justino Alves Lima Justino Alves Lima 1979 Sup.8 10’
50. O Barroco: Hunald de Alencar Hunald de Alencar 1979 Sup.8 12’
Gregó rio de Matos
51. Carro de Bois Floriano Santos Fonseca Floriano Santos 1979 Sup.8 17’
Fonseca
52. José de Tal, ex- Jorge Alberto Moura Jorge Alberto Moura 1979 Sup.8 17’
futuro cidadã o
53. Perdiquem: Jorge Linas 1979 Sup.8 12’
civilizaçã o de reis
54. Sã o Joã o: Povo em Marcelo Déda Chagas Marcelo Déda Chagas 1979 Sup.8 12’
Festa
55. Arcanos (O Jogo) Yoya Wurch Yoya Wurch 1980 Sup.8 8’
56. O Beijo Yoya Wurch Yoya Wurch 1980 Sup.8 7’
57. Feirinha de Natal Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1980 Sup.8 15’
Moreno
58. Joã o Imigrante Cecílio Marinho Cecílio Marinho 1980 Sup.8 13’
Sacramento Sacramento
59. Um minuto de Hunald de Alencar Hunald de Alencar 1980 Sup.8 1’
Sergipe: Gênese
60. Um minuto de Hunald de Alencar Hunald de Alencar 1980 Sup.8 1’
Sergipe: Libertaçã o
61. Transferência Jorge Alberto Moura Jorge Alberto Moura 1980 Sup.8 13
62. O Retrato José Dalmo Wilson Ribeiro 1981 Sup.8 12’
63. Vadeia dois- dois Jairo Andrade Jairo Andrade 1981 Sup.8 11’
64. Um Calçadã o na Djaldino Mota Moreno Djaldino Mota 1982 Sup.8 10’
Doce Província de Moreno
Sergipe Del Rey
65. Procissã o dos Marcelo Déda Chagas Elieze Santos Silva 1982 Sup.8 10’
Aflitos Marcelo Déda Chagas
66. O tirador de cocos Joã o Freire Amado Joã o Freire Amado e 1982 Sup.8 8’
Carlos Alberto
Bittencourt
Fonte: Djaldino Mota Moreno. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju, BANESE, 1988
310

ANEXO VII
EMISSORAS DO ESTADO DE SERGIPE (ANO 2000)

Frequência
Razã o Social Nome Fantasia Cidade Proprietá rio
/ Indicativo
TV
1. FUNDAÇÃ O APERIPÊ TV APERIPÊ 55,25 MHz Governo do
Aracaju
LTDA TVE CANAL 2 ZYB832 Estado
2. FUNDAÇÃ O JOÃ O TV CANÇÃ O
211,25 Aracaju Igreja Cató lica
PAULO II NOVA
3. RÁ DIO E TELEVISÃ O DE TV SERGIPE 67,25MHz
Aracaju Albano Franco
SERGIPE SA GLOBO-4 ZYB 830
4. TELEVISÃ O ATALAIA TV ATALAIA 181,25 MHz
Aracaju Walter Franco
LTDA SBT 8 ZYB 831
RTV
1. RÁ DIO E TELEVISÃ O TV RECORD 495,25 MHz
Aracaju Igreja Universal
RECORD SA CANAL 18 ZYB 854
2. TELEVISÃ O
REDE VIDA 621,25MHz
INDEPENDENTE DE SÃ O JOSÉ Aracaju Igreja Cató lica
CANAL 39 ZYB 886
DO RIO PRETO LTDA
FM
1. RÁ DIO LIBERDADE DE 99,7 MHz Heráclito
LIBERDADE FM Aracaju
SERGIPE FM LTDA ZYD 786 Rolemberg
2. RÁ DIO TELEVISÃ O DE 95,9 MHz
FM SERGIPE Aracaju Albano Franco
SERGIPE SA ZYD 781
3. EMPRESA SERGIPANA 103,1 MHz
103 FM Aracaju Grupo Cosil
DE RADIO DIFUSÃ O LTDA ZYD
4. RÁ DIO APERIPÊ FM DE 104,9MHz Governo do
APERIPÊ FM Aracaju
SERGIPE ZYD 796 Estado
5. RÁ DIO ATALAIA LTDA FM ATALAIA 93,5 MHz Aracaju Walter Franco
6. RÁ DIO E TELEVISÃ O 98,1 MHz
FM JORNAL Aracaju Igreja Universal
ARACAJU LTDA ZYD 784
7. RÁ DIO FM ARACAJU 88,7 MHz
DELMAR FM Aracaju Grupo Cosil
LTDA ZYD 790
8. RÁ DIO FM DA ILHA 89,5 MHz Barra dos
FM ILHA Joã o Alves
LTDA ZYD 797 Coqueiros
9. EMPRESA
95,5 MHz
BOQUINHENSE DE LAGAMAR FM Boquim Grupo Fonseca
ZYD 795
COMUNICAÇÃ O LTDA
Canindé
98,7 MHz Luiz Eduardo
10. RÁ DIO XINGÓ LTDA RÁ DIO XINGÓ de Sã o
ZYD 792 Costa
Francisco
11. RÁ DIO CARMÓ POLIS OURO NEGRO 94,3 MHz Carmó poli Heráclito
LTDA FM ZYD 788 s Rolemberg
12. RÁ DIO JORNAL DE 94,1 MHz
FM JORNAL Estâ ncia Joã o Alves
ESTÂ NCIA LTDA ZYD 787
311

13. RÁ DIO FM ITABAIANA ITABAIANA FM 93,1 MHz Itabaiana José Carlos


LTDA ZYD 793 Machado
14. RÁ DIO FM PRINCESA FM PRINCESA 99,3 MHz Itabaiana José Queiroz
LTDA ZYD 794
15. RÁ DIO ELDORADO DE FM ELDORADO 100,7 MHz Lagarto Grupo Ribeiro
LAGARTO LTDA ZYD 782
16. RÁ DIO FM APARECIDA FM APARECIDA 94,7 MHz Lagarto ?
DO NORDESTE LTDA ZYD 785
17. RÁ DIO JORNAL DE FM JORNAL 99,1 MHz Propriá Joã o Alves
PROPRIÁ LTDA ZYD 783
18. EMPRESA SERGIPANA `TROPICAL FM 104,3 MHz Simã o Grupo Valadares
DE RÁ DIO DIFUSÃ O LTDA Dias
AM-0M
1. FUNDAÇÃ O APERIPÊ DE RÁ DIO APERIPÊ 630 KHz Aracaju Governo do
SERGIPE ZYJ 920 Estado
2. RÁ DIO ATALAIA DE RÁ DIO ATALAIA 770 KHz Aracaju Walter Franco
SERGIPE LTDA ZYJ 922
3. RÁ DIO CULTURA DE RÁ DIO 670 KHz Aracaju Igreja Cató lica
SERGIPE LTDA CULTURA ZYJ 921
4. RÁ DIO JORNAL DE RÁ DIO JORNAL 540 KHz Aracaju Joã o Alves
SERGIPE LTDA ZYJ 924
5. RÁ DIO LIBERDADE DE RÁ DIO 930 KHz Aracaju José Almeida
SERGIPE LTDA LIBERDADE ZYJ 923 Lima
6. FUNDAÇÃ O DE RÁ DIO 1.250 KHz Estâ ncia Jorge do Prado
EDUCAÇÃ O E CULTURA ESPERANÇA ZYJ 925 Leite
7. RÁ DIO EDUCADORA DE RÁ DIO 1.440 KHz Frei Paulo José Erinaldo
FREI PAULO EDUCADORA ZYJ 930
8. RÁ DIO PRINCESA DA RÁ DIO 830 KHz Itabaiana José Queiroz
SERRA LTDA PRINCESA DA ZYJ 926
SERRA
9. RÁ DIO VOZ DE RÁ DIO VOZ DE 1.540 KHz Itabaiana Grupo Chico de
ITABAIANA ITABAIANA ZYJ 929 Miguel
10. RÁ DIO PROGRESSO RÁ DIO 750 KHz Lagarto Grupo Reis
LTDA PROGRESSO ZYJ 927
11. RÁ DIO ATALAIA DE RÁ DIO CIDADE 1.480 KHz Simã o Walter Franco
SERGIPE LTDA ZYJ 928 Dias
12. RÁ DIO IMPERATRIZ RÁ DIO 1.520 KHz Tobias Joã o Alves
DOS CAMPOS LTDA IMPERATRIZ ZYJ 931 Barreto
DOS CAMPOS

Fonte: Dentel. Os proprietá rios foram identificados por Alceu Monteiro que nos forneceu os
dados desta relaçã o.
312

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA588

ABRUCIO, Fernando Luiz. Os Barões da Federação. Sã o Paulo: Hucitec, 1998.

AFFONSO, Rui de Britto Á lvares. Federalismo no Brasil: Reforma Tributá ria e Federaçã o,
Sã o Paulo: FUNDAP-UNESP, 1995.

AGENDA Cultural de Aracaju. Aracaju: Secretaria Municipal da Cultural, 1991.

AGUIAR, Joel. Traços da História de Maruim. Aracaju: Unigrá fica, 1987.

ALVES, Mauro do Carmo. Na Mira do Exército. Monografia apresentada ao Departamento


de Histó ria da UFS. Sã o Cristó vã o (SE), 2002. (Digitada)

AMARAL, Antô nio Alves do e SANTOS, Wellington (irmã o). Alguns Aspectos Sobre a
Mú sica Popular Sergipana. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae,
Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000.

ANDRADE, Manoel Correia de. A Agro Indústria Canavieira e a organização do Espaço –


Contribuiçã o à Histó ria das Usinas de açú car de Sergipe. Natal: Cooperativa Cultura
Universitá ria do Rio Grande do Norte Ltda, 1990.

ANDRADE JÚ NIOR, Péricles Morais de. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Católica
em Sergipe (1831-1926). Dissertaçã o de Mestrado no NPPCS, Sã o Cristó vã o-Se, UFS.

ARAUJO, Acrísio Torres. Pequena História de Sergipe. Aracaju, 1966.

ARAÚ JO, Paulo Henrique Santos. Arranca e Filho Baccho. Aracajuanos na folia. Sã o
Cristó vã o, 1995. Monografia apresentada no Departamento de Histó ria-UFS.

ARTE no Nordeste. Rio de Janeiro: Spala-CNI, 1986.

AURELIANO, Liana Maria. No Limiar da Industrialização 1919-37. Sã o Paulo: Brasiliense,


1981.

AZEVEDO, Fernando de. A Cultura Brasileira. Sã o Paulo: Melhoramentos, 1964.

BADARÓ , Murilo. Gustavo Capanema. A Revolução na Cultura. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2000.

BARBOSA, Naide. Em Busca das Imagens Perdidas – 1900/40. Aracaju: FUNCAJU, 1982.

BARRETO, Armando (org). Cadastro de Sergipe. Aracaju: 1933, 1938, 1949-50, 1953 e
1957.

BARRETO, Luiz Antô nio. Cultura: Um Roteiro de Alusões. Aracaju: Soc. Editorial de
Sergipe 1994.
588
Os livros simplesmente mencionados nã o foram incluídos nesta bibliografia.
313

______. Tobias Barreto. Aracaju: Soc. Editorial de Sergipe 1994.

______. in Brasil-Arte do Nordeste-Art of the Northeast. Rio de Janeiro: Impinta-Spala-CNI,


s/d.

______. Algumas Informações (Institucionais) sobre a Cultura. Documento fornecido ao


autor em 23.08.2001.

BARROS, Â ngela Oliveira. A Formaçã o do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em


Itabaiana (1963-1968). Sã o Cristó vã o, UFS, 2000. Monografia apresentada no curso de
Histó ria da UFS.

BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. A Derradeira Gesta: Lampiã o e Nazarennos


Guerreando no Sertã o. Rio de Janeiro, FAPERJ; Mauad, 2000.

BASBAUM, Leô ncio. História Sincera da República (1930/60). Sã o Paulo: Alfa ô mega,
1976.

BELOCH, Israel Beloch e ABREU, Alzira Alves de (coords). Dicionário Histórico-


Biográfico Brasileiro, 1930-1983. Rio de Janeiro: Forense Universitá ria; FGV-CPDOC;
FINEP, 1984.

BRAGANÇA, José Lopes. Sergipe por um óculo. Belo Horizonte: Carneiro e Cia, s/d.

BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. Sã o Paulo: Cia de Letras, 1989.

CABRAL, Má rio. Roteiro de Aracaju. Aracaju: Livraria Regina, 1955.

______. Espelho do Tempo: memórias e reflexões. Salvador: Artes Grá ficas, 1973.

CALAZANS, José. Aracaju: Contribuição à História da Capital de Sergipe. Aracaju: Livraria


Regina, 1942.

______. Temas da Província, Aracaju: Livraria Regina, 1944.

______. O desenvolvimento cultural de Sergipe na primeira metade do século XIX. Revista


do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, n. 26, 1965.

CAMPOS, Edilberto. Crônicas da Passagem do Século, v. 1-6, 1965-1970.

CAMPOS, Josefina Leite. Geografia de Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1967.

CARDOSO, Fernando Henrique. Os Impasses do Regime Autoritário: o caso brasileiro.


Estudos Cebrap, n. 26. Petró polis, RJ: Vozes, 1980.

CARDOSO, Míriam Limoeiro. Ideologia do Desenvolvimento no Brasil: JK-JQ. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1977.

CARONE, Edgard. A República Nova. Sã o Paulo: Difel, 1974.


314

______. A Segunda República. Sã o Paulo: Difel, 1973.

CARVALHO, Alberto. Adauto. Aracaju: J. Andrade, Habitacional Construçõ es, 1990.

______. Florival Santos. Aracaju: J. Andrade, Habitacional Construçõ es, 1995.

CARVALHO, Ana Conceiçã o Sobral. Artes Plá sticas em Sergipe. Sergipe Artístico e
Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do
Brasil, 2000.

CARVALHO, Fernando Lins de. Dos Cordovínicos ao Pré-Caju. In: Jornal da Cidade,
Aracaju, 26-27.01.2003 a 2-5.03.2003.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilizaçã o Brasileira, 2001.

CARVALHO, José Onias de. Memórias de um Matuto Sertanejo. Recife: Inojosa, s/d.

CARVALHO, Maria Lú cia Leite de (coord). Abaças e Centros de Umbanda. Aracaju:


Funcaju, 1991.

CARVALHO, Sebastiã o Celso de. O Destino Acontece. Aracaju: Livraria Regina, s/d.

CARVALHO, Sueli. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio 1999.

CARVALHO, Vladimir Souza. Santas Almas de Itabaiana Grande. Itabaiana: O Serrano,


1973.

______. A República Velha em Itabaiana. Aracaju: Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2000.

CAVALHO, Ana Conceiçã o Sobral de. NUNES, Verô nica Maria Menezes. Horácio Hora.
Aracaju: SEC, 1982.

______. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, BB, BN, 2000.

CAZES, Henrique. Choro: Do Quintal ao Municipal. Sã o Paulo: Editora 34, 1999.

CHAUÍ, Marilena. Seminários. Sã o Paulo: Brasiliense, 1983.

COSTA, Joã o apud CARVALHO, Sueli. O Teatro Sergipano. Aracaju Magazine, n. 35, maio-
1999.

COSTA, Joã o. A Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS). Revista de Aracaju,


Aracaju: Sercore, Prefeitura de Aracaju, ano 43, n. 8, 1985.

______. O Teatro em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental. Aracaju: SEC, Sebrae,


Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000.
315

CRUZ, Ivonete Alves da. Tecendo a História na Luta: Industriais e Tecelõ es em Sergipe
(1930/35). Sã o Cristó vã o, UFS, 1997. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.

CRUZ, José Vieira da. O Centro Popular de Cultura da União Estadual dos Estudantes
Sergipanos – CPC da UEES – e os Movimentos Culturais do Início dos Anos 60 –
(1962/1964). Sã o Cristó vã o, UFS, 1998. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.

______. O engajamento político-cultural dos estudantes sergipanos no início dos anos 60.
Caderno do Estudante, Sã o Cristó vã o, UFS-Cimpe, v. 2, 1999.

CRUZ, Luiz Antonio Pinto. Aracaju: Memória de uma cidade sitiada (1942/1945). Sã o
Cristó vã o/SE: UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS.

DANTAS, Beatriz Gó is; DALLARI, Dalmo. Terra dos Índios Xocó. Sã o Paulo: Comissã o Pró -
Índio, 1980.

DANTAS, Beatriz Gó is. Vovó Nagô e Papai Branco: Usos e abusos da Á frica no Brasil. Rio
de Janeiro, Graal, 1988.

______. "De Feiticeiros a Comunistas: Acusaçõ es sobre o Candomblé". Dédalo, Revista do


Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Sã o Paulo, n. 23, 1984, p. 97-116.

______. Nanã de Aracaju: trajetó ria de uma mã e plural. In: Vagner Gonçalves da Silva
(org). Caminhos da Alma. Memó ria afro-brasileira. Sã o Paulo: Summus, 2002.

DANTAS, José Ibarê Costa. O Tenentismo em Sergipe: da Revolta de 1924 à Revoluçã o de


1930. Petró polis, RJ: Vozes, 1974; 2ª Ediçã o – Aracaju: J. Andrade, Funcaju, 1999.

______. A Revolução de 1930 em Sergipe: dos Tenentes aos Coronéis. Sã o Paulo: Cortez,
1983.

______. Coronelismo e Dominação. Aracaju: Diplomata, UFS, 1987.

______. Os Partidos Políticos em Sergipe (1889/1964). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,


1989.

______. A Tutela Militar em Sergipe (1964/84): partidos e eleiçõ es num Estado


Autoritá rio. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

______. Eleições em Sergipe (1985/2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.

DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Aracaju: Livraria Regina,


1944.

______. A Vida Patriarcal de Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.


316

DINIZ, José Alexandre Felizola. O Subsistema Urbano Regional de Aracaju. Recife: Sudene,
1987.

______. A Condição Camponesa em Sergipe. Desigualdade e Persistência na Produçã o


Familiar. Aracaju: NPGEO-UFS, 1996.

DINIZ, Maria de Faro Leal (coord). Textos para a História de Sergipe. Aracaju: UFS,
Banese, 1991.

DÓ RIA, Joã o Rodrigues da Costa. Vida e Trabalhos do Professor Dr. José Rodrigues da
Costa Dória. Aracaju, 1958.

DÓ RIA, Seixas. Eu, réu sem crime. Rio de Janeiro: Equador, s/d.

FIGUEIREDO, Ariosvaldo. História Política de Sergipe, 4 volumes (1986-1996).

FLEISCHER, David. In: Glá ucio Ary Dillon Soares e Maria Celina D'Araujo (orgs); [et al.].
21 Anos de Regime militar: Balanços e Perspectivas. Rio de Janeiro, Fundaçã o Getú lio
Vargas, 1994.

FLEUR, Melvin L. De. Teorias de Comunicação de Massa. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

FONTES, Ilma. Memó ria do cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dez. 2000.---
Silveira, Arte e Vida. Funcaju, 1999.

FONTES, José Silvério Leite. Jackson de Figueiredo: sentido de sua obra. Aracaju: Livraria
Regina, 1952.

______. A Formação do Povo Sergipano. O Sodalício, Academia Sergipana de Letras, 70


anos (1929-1999). Aracaju: 1999.

FORTES NETO, José Bonifá cio. Evolução da Paizagem Humana da Cidade de Aracaju.
Aracaju: Livraria Regina 1955.

______. General Calasans - 1º Presidente Constitucional de Sergipe. In: Revista da


Faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju, n. 15, 1972.

______. Felisbelo Freire, o homem pú blico, o escritor e o constitucionalista. In: Revista da


Faculdade de Direito de Sergipe. Aracaju, ano VI, n. 5, 1958.

______. Democracia de Poucos. Um Ensaio de Ciência Política. Aracaju: Livraria Regina,


1963.

______. General Calasans - 1º Presidente Constitucional de Sergipe. In: Revista da


Faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe, n. 15. Aracaju: Livraria Regina,
1972.

FRANÇA, Vera Lú cia. Aracaju: Estado & Metropolização. Sã o Cristó vã o/SE: UFS,
Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 1999.
317

FRANCO, Albano. Palestra proferida no Fó rum Pensar Sergipe, promovido pela UFS em
28.05.1999, Aracaju-1999.

FRANCO, Josevanda Mendonça. A Política das Salvações: Um Estudo de Caso. UFS, Histó ria
I, Trabalho apresentado no Curso de Bacharelado, 1982, (mimeografado).

FREIRE, Felisbelo Firmo de Oliveira. História de Sergipe. Rio de Janeiro: Tup.


Perseverança, 1891.

FREIRE, Laudelino de Oliveira. Quadro Chorográgico de Sergipe. Paris: H. Garnier, 2. ed.,


1902.

FREITAS, Anamaria Gonçalves Bruno de. Pesquisando a educaçã o feminina do século XIX
para o século XX. Revista do Mestrado em Educação. Sã o Cristó vã o, v. 1, n. 4, UFS-NPGED,
1998.

______. “Vestidas de azul e branco”: um estudo sobre as representaçõ es de ex-normalistas


(1920-1950). Sã o Cristó vã o/SE: GEPHE-NPGED, 2003.

FREITAS, Itamar. A Casa de Sergipe. Historiografia e Identidade na Revista do Instituto


Histórico Geográfico de Sergipe. Dissertaçã o de Mestrado na UFRJ, RJ, 2000.

______. A Casa de Sergipe. Sã o Cristó vã o, Editora UFS; Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2003.

GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. Sã o Paulo: Companhia de Letras, 2002.

______. A ditadura derrotada. Sã o Paulo: Companhia de Letras, 2003.

GÓ IS, Baltasar. A República em Sergipe (Apontamentos para a histó ria). Aracaju: Tip. do
Correio de Sergipe, 1891.

GOMES, Â ngela de Castro. História e historiadores. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A Retórica da Perda. Rio de Janeiro: UFRJ-MINC-


IPHAN, 1996.

GUARANÁ , Manuel Armindo Cordeiro. Dicionário Biobibliográfico Sergipano. Rio de


Janeiro: Pongetti & Cia., 1925.

GUIMARÃ ES, Leozírio F. Panorama da Mú sica em Sergipe. Arte de Jovens. Aracaju, Jovreu,
Ano IV, n. 20, 1970.

INÁ CIO, J. Aracaju: Secretaria de Turismo, J. Andrade, 2001.

______. Aracaju: Faculdades Integradas Tiradentes, 1988.

KEEK, Margaret E. O “novo sindicalismo” na transiçã o Brasileira. In: Alfredo Stepan


(org). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
318

LACERDA, Francisco Carneiro Nobre de. A Década Republicana em Sergipe. Aracaju: Typ.
d’O Estado de Sergipe, 1906.

LIMA, Jackson da Silva. História da Literatura Sergipana, v. 1. Aracaju: Livraria Regina,


1971.

______. História da Literatura Sergipana, v. 2. Aracaju: Fundesc, 1986.

______. Os Estudos Filosóficos em Sergipe. Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1995.

______. Os Estudos Antropológicos, Etnográficos e Folclóricos em Sergipe. Aracaju: Governo


do Estado de Sergipe, Secretaria de Estado da Cultura, 1984.

LISBOA, L. C. Silva. Chorographia do Estado de Sergipe. Aracaju: Imprensa Oficial, 1897.

LOBO, Paulo. Pintores Sergipanos. Aracaju: A Nacional-Fundaçã o Cultural Cidade de


Aracaju: s/d.

LOPES, Eliano Sérgio A. Um Balanço da Ocupação de Terras em Sergipe. Aracaju: 2000.

MACHADO, Dorinha Teixeira. Dança em Sergipe. Sergipe Artístico e Monumental.


Aracaju: SEC, Sebrae, Emsetur, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, 2000.

MACHADO, Manoel Cabral. Brava Gente Sergipana e Outros Bravos. Aracaju: UFS-BICEN,
1998.

MARQUES, Nú bia N. Hegemonia Cultural na Escola. Aracaju: Fundesc; J. Andrade, 1987.

MAYNARD, Dilton Câ ndido Santos. Microfones e Bastidores: aspectos da radiodifusã o e


da propaganda política em Sergipe durante o Estado Novo. Sã o Cristó vã o, UFS, 2000.
Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS.

MAZA, Fá bio. As Origens do Sindicato dos Bancá rios de Sergipe. Cadernos da UFS:
História. Sã o Cristó vã o/SE:UFS-EDUFS, 1996.

MELCHIADES, José. José Carlos Teixeira e a SCAS. Revista de Aracaju, ano 43, n. 8,
Aracaju: Sercore; Prefeitura de Aracaju, 1985.

MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi. Aracaju: UNIT, 2000.

MELO, Ricardo Oliveira Lacerda de. Desenvolvimento Capitalista no Nordeste Brasileiro.


Estudo Comparativo das Trajetórias Estaduais”, com base em dados do DPG-SUDENE.

______. Perspectivas da economia sergipana no contexto da globalizaçã o. (texto digitado),


04.1999.

______. Geraçã o de emprego e renda. In: José Fernandes de Lima e Afonso Nascimento
(orgs). Pensar Sergipe, v. II. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 2000.
319

MEMÓ RIA do cinema sergipano. Aracaju Magazine, n. 54, dez. 2000.

MENDONÇA, Corinto Pinto de. Tipos populares de Aracaju (sombras que passam).
Aracaju: Departamento de Cultura e Patrimô nio Histó rico de Sergipe (DCPH), 1974.

______. Praça da Matriz. Aracaju: 1955.

______. Contribuição ao centenário do Aracaju. Aracaju: Escola Industrial de Aracaju, 1954.

MENDONÇA, Corinto. Praça da Matriz: Reminiscências (1888-1935). Aracaju, 1955.

MENDONÇA, José Antonio Nunes. A Educação em Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958.

MENDONÇA, Manuel Curvelo de. Sergipe Republicano. Rio de Janeiro: Casa


Mont’Atalverne, 1896.

MENDONÇA, Paulo Manoel Mendes. Contribuição da Petrobras para o Desenvolvimento


do Estado de Sergipe. Palestra no ciclo de conferências Pensar Sergipe III, UFS, nov. 2001.

MENEZES, Florentino Telles de. Escola Social Positivo. Aracaju: Imprensa Popular, 1917,
2 volumes.

MERQUIOR, José Guilherme. Arte e Sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969.

MEZEZES, Virgínia Lú cia Fonseca. Pronunciamento na Assembleia Legislativa em


25.11.1999. Levantamento das Manifestações teatrais em Laranjeiras – Sergipe. Aracaju:
Fundesc, Sercore, 1986.

MICELI, Sérgio (org). Estado e Cultura no Brasil. Sã o Paulo: Difel, 1984.

MONTALVÃ O, Elias. Meu Sergipe. Aracaju: Typ. Editora, 1916.

MORENO, Djaldino Mota. Cinema Sergipano Catálogo de Filmes. Aracaju: BANESE, 1988.

NASCIMENTO, Antô nio José. A Economia Sergipana e a Integração do Mercado Nacional


(1930-1980). Dissertaçã o de Mestrado apresentada na UNICAMP, Campinas, 1994.

NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana. Uma Crítica aos
Estudos de Histó ria da Educaçã o. Sã o Cristó vã o/SE: Grupo de Estudos e Pesquisas e
Histó ria da Educaçã o-NPGED, 2003.

NASCIMENTO, Ester Fraga Vilas-Boas Carvalho do. A Escola Americana de Aracaju. In:
Revista de Aracaju, Ano LIX, n. 9, 2002.

NASCIMENTO, José Anderson. Sergipe e seus Monumentos. Aracaju: J. Andrade, 1981.

_______Cangaceiros, coiteiros e volantes. Sã o Paulo: Ícone, 1998.

NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
320

_______ Silvio Romero e Manoel Bonfim: pioneiros de uma ideologia nacional. Sã o


Cristó vã o/SE: UFS, 1976.

NUNES, Verô nica Maria Meneses. Laranjeiras: de cidade histórica a encontro cultural.
Busca de elementos para a integração da ação cultura. Dissertaçã o de Mestrado, URJ, Rio
de Janeiro, 1933.

OLIVEIRA NETO, José Olyntho de; LIMA, Má rcia Maria Felix de. Prosa Sergipana: uma
antologia. Brasília: Thesaurus, 1992

OLIVEIRA, Jordã o de. Caminhos Perdidos. Rio de Janeiro: G. Ovidor, 1975.

OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

OLIVEIRA, Juarez Ferreira de. Pão, Terra e liberdade: A Aliança Nacional Libertadora em
Sergipe. Sã o Cristó vã o/SE: UFS, 1999. Monografia apresentada no curso de Histó ria da
UFS.

OLIVEIRA, Philadelplo Jô nathas de. História de Laranjeiras Católica. Aracaju: Casa Á vila,
1935.

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. Sã o Paulo, Brasiliense, 1985.

______. A Moderna Tradição Brasileira. Sã o Paulo, Brasiliense, 1988.

PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe (1850-1930).


Aracaju: UFS, Programa Editorial da UFS, 1987.

______. Reordenamento do Trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no nordeste


açucareiro, Sergipe 1850/1930. Aracaju: Funcaju, 2000.

______. A Indú stria Têxtil em Sergipe: Gênese, crescimento e Limites de uma Indú stria
Periférica. In: Newton Pedro da Silva e Dean Lee Hanse (Orgs.). Economia Regional &
Outros Ensaios. Aracaju: UFS, Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001.

PORTO, Austragésilo Santana. O Realismo Social na Poesia em Sergipe. Aracaju: Livraria


Regina, 1960.

PORTO, Clara Angélica e LOBO, Paulo (orgs). Pintores Sergipanos, Aracaju: Funcaju, s/d.

PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos de Aracaju, Aracaju: J. Andrade,


2003.

PRATA, Geraldo Henrique dos Santos. Teatro Aracajuano: “Um sonho civilizador”
(1855/1910). S. Cristó vã o. 1998. Monografia apresentada no Curso de Histó ria da UFS.

REGO, general Gustavo Moraes. Depoimento in Maria Celina D'Araujo et ali... (Introduçã o
e Organizaçã o). Visões do Golpe: A memó ria militar sobre l964. Rio de Janeiro: Relume-
dumará , 1994.
321

RIBEIRO, Marcelo da Silva. PT saudações (um depoimento para petistas e nã o petistas).


Aracaju: Sercore, 2003.

RIBEIRO, Neuza Maria Gó is. Transformações do Espaço Urbano: o Caso de Aracaju. Recife,
FUNDAJ, Massangana, 1989.

RODRIGUES, Leô ncio Martins. Destino do Sindicalismo. Sã o Paulo: Edusp-Fapesp, 1999.

ROLLEMBERG, Francisco Guimarã es. Fausto Cardoso. Brasília: Câ mara dos Deputados,
1987.

ROMÃ O, Frederico Lisboa. Na Trama da História. O Movimento Operá rio em Sergipe.


1871 a 1935. Aracaju: 2000.

______. A Globalizaçã o e seus Reflexos sobre os Trabalhadores “Está veis”: Petroleiros da


Fafen-Petrobras. Trabalho apresentado no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, Petró polis,
Out. 2000.

ROMERO, Sílvio. Cantos Populares no Brasil, tomo I. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1954.

SÁ , Antonio Fernando de Araujo. O I FASC e a Política Cultural do Estado Autoritá rio.


Cadernos da UFS. Histó ria 1. Aracaju: UFS, Depto. De Histó ria, EDUFS, 1995.

SAES, Décio. Classe Média e Sistema Político no Brasil. Sã o Paulo: T. A. Queiroz, 1985.

SALLUM JR., Brasílio. O Brasil sob Cardoso: neoliberalismo e desenvolvimentismo.


Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 11, n. 2, 1999.

SAMPAIO, José. Poesia & Prosa. Aracaju: Soc. Editorial de Sergipe, 1992.

______. Sergipe Artístico, Litterário e Scientífico. Aracaju: Imprensa Oficial, 1928.

SANTANA, Antô nio Samarone de. As Febres do Aracaju (Dos Miasmas aos Micró bios).
Dissertaçã o apresentada ao Nú cleo de Ciências Sociais da UFS, Aracaju, 1997.

SANTANA, Cleber de Oliveira. O que a Cegueira do Tempo fez para desaparecer:


Fotografia e Histó ria na UFS (1968-1998). Sã o Cristó vã o, UFS, 2000. Monografia
apresentada no curso de Histó ria da UFS.

SANTANA, J. Ricardo de. Crescimento Econômico e Distribuição de Renda em Sergipe:


(1970/88). Aracaju, UFS. Dados dos Censos Demográ ficos 1970, 1980 e PNAD de 1988.

SANTOS, Adelci Figueiredo. Geonordeste, Aracaju, Projeto Nordeste-Capes, Ano XI, n. 2,


dez. 2000.

______; ANDRADE, José Augusto. Geografia de Sergipe. Aracaju: SEC, 1986.


322

SANTOS, Ademir da Costa. O Integralismo em Sergipe: os intelectuais e a açã o da Igreja


Cató lica (1933/1938). Monografia apresentada no bacharelado de Ciências Sociais.
Aracaju-SE, 1996.

SANTOS, Ana Maria dos. Indústria e Agricultura de Cítricos no Brasil. O Caso de Sergipe
1960-1989. Aracaju: Fundaçã o Augusto Franco, 1990.

SANTOS, Eufrá zia Cristina Menezes. Visão do mundo no espiritismo: uma aná lise só cio
antropoló gica. Aracaju, monografia de graduaçã o de Serviço Social, 1994.

SANTOS, Gilvâ nia da Conceiçã o. Organização Sindical dos Trabalhadores Rurais em


Sergipe (1962-1964). Monografia apresentada no Departamento de Histó ria da UFS,
Aracaju, 1997.

SANTOS, Lenalda e OLIVA, Terezinha. Para Conhecer a História de Sergipe. Aracaju:


Opçã o, 1998.

SANTOS, Maria Gorete da Rocha dos. Sergipe: geografia/história. Sã o Paulo: FTD, 1994.

SANTOS, Maria Nely. Associação Comercial de Sergipe. Uma Instituiçã o Centená ria (1873-
1993): Aracaju, 1996.

SANTOS, Oséas. A vida de um pintor. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de


Sergipe, n. 26A, v. XXII, 1962-1965.

SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. “Fragmentos de uma Modernidade”: Art Déco


na Paisagem Urbana de Aracaju: 1930-1945. Monografia apresentada no Departamento
de Histó ria da UFS, Sã o Cristó vã o, Se, 2002.

SANTOS, Wanderley Guilherme dos (Coordenador). Que Brasil é este: Manual de


Indicadores Políticos e Sociais. Sã o Paulo: Vértice- Rev. Tribunais, 1990.

______. Sessenta e quatro: Anatomia da Crise. Sã o Paulo: Vértice, 1986.

SCHWARZ, Roberto. O Pai de Família e outros Estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

SILVA, Clodomir. Álbum de Sergipe (1820-1920). Aracaju: Estado de Sergipe, 1920.

SILVA, Newton Pedro da; HANSEN, Dean Lee (orgs.). Economia Regional e Outros
Ensaios. Aracaju: UFS, Fundaçã o Oviêdo Teixeira, 2001.

SILVA, Newton Pedro da. Estado e Região. Contribuição ao Estudo da "Modernização


Autoritária" do Nordeste Brasileiro. Aracaju, 1994 - Tese de Doutoramento em Economia,
UNICAMP.

SILVA, Rosemiro Magno da; LOPES, Eliano Sérgio Azevedo. Conflitos de Terra e Reforma
Agrária em Sergipe. Aracaju: UFS-EDUFS, Secretaria do Estado da Irrigaçã o e Açã o
Fundiá ria, 1996.
323

SILVA, Sueli Bispo da. “O fim do sonho”: A morte do cine Vera Cruz e a crise do cinema de
bairro em Aracaju (dos anos 45 aos 90). Sã o Cristó vã o, Monografia orientada por
Antô nio Fernando de A. Sá , apresentada ao Departamento de Histó ria, UFS, 2000.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1988.

SODRÉ , Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira,
1965.

SOUZA, Cristiane Vitó rio de. A “República das Letras” em Sergipe (1989-1930). Sã o
Cristó vã o, UFS, 1998. Monografia apresentada no curso de Histó ria da UFS, p. 86-92.

SOUZA, Maria Luiza. Movimentos Sociais em Sergipe nas Décadas de 60, 70 e 80. In:
Movimentos, Aracaju, ano 1, n. 1, julho-1995.

SOUZA, Teresinha Oliva de. Impasses do Federalismo Brasileiro (Sergipe e a Revolta


Fausto Cardoso). Rio de Janeiro: Paz e Terra, UFS, 1985.

STEPAN, Alfred (org). Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

TELES, Manoel dos Passos de Oliveira. Sergipenses. Aracaju: Typ. Do Estado de Sergipe,
1903.

TENÓ RIO, Douglas Apprato. Capitalismo e Ferrovias no Brasil. Maceió : HD Livros, 1996.

VASCONCELOS, Maria da Conceiçã o Almeida. Ação Político-sindical dos Petroleiros SE/AL


nos anos 80. Aracaju, Dissertaçã o de Mestrado em Ciências Sociais da UFS.

VIANA FILHO, Francisco. Futebol Sergipano. In: Memó rias de Sergipe, Correio de Sergipe,
02.11.2003.

VIOLA, Eduardo J. Formas de Estado e Formas de Regime no Capitalismo Periférico,


Dissertaçã o de Mestrado. Campinas, S. Paulo, UNICAMP, 1978 (mimeografada).

WYNNE, J. Pires. História de Sergipe (1575- 1930). Rio de Janeiro: Pongetti, 1970 e 1973.

ZAVERUCHA, Jorge. Frágil Democracia: Collor, Itamar, FHC e os Militares 1990-98. Rio de
Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2000.
324

DOCUMENTOS OFICIAIS

ANUÁ RIO Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro: Fundaçã o IBGE, 1967.

Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Programa das Naçõ es Unidas para o


Desenvolvimento, 2000.

CARTA de Conjuntura Nordeste do Brasil. SUDENE, Contas Regionais, 2000, n. 1.

Governo de Sergipe. Plano Estadual de Educação e Cultura (1971/74). Aracaju: SEC.,


1970

IBGE. Censos de 1890 -2000.

Mensagens Apresentadas pelos Presidentes de Estado à Assembleia Legislativa, Aracaju-


Se, 1890-1930.

Mensagens Apresentadas pelos Governadores do Estado à Assembleia Legislativa,


Aracaju-Se, 1948-1994.

Problemas de Base do Estado de Sergipe, v. II, Aracaju: FIES-CONDESE, 1965 p.407-411 e


Indicadores Sociais de Sergipe, Aracaju, v.7, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP),
1985.

Proposta Orçamentária para 1948. Aracaju: Secretaria da Fazenda, Produçã o e Obras


Pú blicas, 1947.

Relató rios dos Interventores de Sergipe. Aracaju-Se, 1933-1938.

Relatório de Gestão da UFS 1996-2000. Sã o Cristó vã o/SE: Fundaçã o Oviêdo Teixeira,


2000.

Quadros Estatísticos de Sergipe. IBGE, Imprensa Oficial, Aracaju, 1938.

SERGIPE, Governo de. I Plano de Desenvolvimento Econômico e Social -1976/79, Salvador,


CONDESE -Bureau Grá fica Editora, s/d.

SERGIPE, Governo de. Plano Plurianual, 1992/1995, vol. I, Administraçã o Joã o Alves
Filho.

______. Projeto Capital, Aracaju, 1994.

______. Secretaria do Planejamento, Instituto de Economia e Pesquisas (INEP) Indicadores


Sociais de Sergipe. Aracaju, v. 3, 1981.
325

O Autor

José Ibarê Costa Dantas (1939) nasceu no município de Riachã o do Dantas


(Sergipe), onde realizou seus primeiros estudos no Educandá rio D. Bosco sob a direçã o
da professora Faustina Alves de Castro. Em 1951, migrou para Aracaju para cursar o
giná sio como aluno interno no Colégio Jackson de Figueiredo e concluiu o segundo grau
em Salvador.
Na busca de autonomia financeira, esteve em 1962 em Sã o Paulo, trabalhou no
Banco do Povo e estudou. De volta a Aracaju, prestou concurso para o Banco do Brasil,
onde serviu por treze anos. Durante esse tempo, licenciou-se em Histó ria, publicou seu
primeiro livro (1974) e ingressou no magistério da Universidade Federal de Sergipe
(UFS). Posteriormente, concluiu o mestrado em Ciência Política na UNICAMP e
continuou a estudar a histó ria política de seu Estado.
Lecionou na Graduaçã o e na Pó s-Graduaçã o vá rias disciplinas, proferiu
numerosas palestras em eventos dentro e fora da Universidade, apresentou diversas
comunicaçõ es em congressos, participou de vá rios colegiados e foi o primeiro
coordenador do Nú cleo de Pó s-graduaçã o em Ciências Sociais da UFS.
Ao aposentar-se, permaneceu dedicado à s suas pesquisas e participando de
fó runs dentro e fora do Estado nas á reas de Ciência Política e de Histó ria. Presidiu o
Instituto Histó rico e Geográ fico de Sergipe de dezembro de 2003 a janeiro de 2010 e foi
agraciado com o título de Professor Emérito pela Universidade de Sergipe e
posteriormente com o de Doutor Honoris Causa.
Casado com Beatriz Gó is Dantas, professora e pesquisadora dedicada à
Antropologia, tem dois filhos e três netos.
Publicou artigos em jornais, revistas e anais, enquanto produzia os seguintes
livros:
1. O Tenentismo em Sergipe (Da Revolta de 1924 à Revoluçã o de 1930). Petró polis-RJ:
Editora Vozes, 1974, 252 p.
2. A Revolução de 1930 em Sergipe: Dos Tenentes aos Coronéis. Sã o Paulo: Cortez
Editora, 1983, 199 p.
3. Coronelismo e Dominação. Aracaju: Diplomata, UFS, 1987, 110 p.
326

4. Os Partidos Políticos em Sergipe (1889-1964). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, l989,


34l p.
5. A Tutela Militar em Sergipe: Partidos e Eleiçõ es num Estado Autoritá rio (1964-
1984). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, 363 p.
6. Eleições em Sergipe (1985-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002, 312 p.
7- História de Sergipe: Repú blica (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004,
334 p.
8. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825-1909). O patriarca do Serra Negra e a
política oitocentista em Sergipe. Aracaju: Criaçã o, 2009, 478 p.
9. História da Casa de Sergipe: Os 100 anos do IHGSE 1912-2012. Sã o Cristó vã o/SE:
Editora UFS; Aracaju: IHGSE, 2012, 491 p.
10. Memórias de Família. O percurso de quatro fazendeiros. Aracaju: Criaçã o, 2013, 269
p.
11. Imprensa Operária em Sergipe (1891-1930). Aracaju: Criaçã o, 2016, 198 p.
12. Leandro Maynard Maciel na política do século XX. Aracaju: Criaçã o, 2017, 438 p.

Você também pode gostar