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Fundamentos de Matemática I
FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS
Gil da Costa Marques
Um ponto P no plano tem sua posição caracterizada pelas suas coordenadas cartesianas (x, y).
Elas são determinadas da seguinte forma: traçamos, a partir de P, duas retas paralelas aos
eixos, indicadas por retas tracejadas, até elas encontrarem os eixos x e y, respectivamente.
Esses pontos de encontro das retas tracejadas com os eixos definem as coordenadas cartesianas
da posição do corpo. Convencionou-se que o valor da coordenada x do ponto P será igual à
distância desse ponto de encontro até a origem se P
estiver no sentido da f lecha a partir da origem. Caso
contrário, o valor da coordenada é igual à distância
precedida de um sinal menos, isto é, as coordenadas
terão valores negativos quando o ponto P estiver no
sentido oposto ao da f lecha a partir da origem.
A mesma regra se aplica para a coordenada y.
Observe que, exceto pelo sinal, as coordenadas são
Figura 9.1: Coordenadas cartesianas de dois
definidas como projeções do ponto P sobre os eixos. pontos no plano.
Fundamentos de Matemática I
184 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
Já sabemos que medir é comparar. Para medir um arco qualquer AB , precisamos verificar
quantas vezes a unidade de medida “cabe” nele. A fim de medir arcos e ângulos orientados,
temos duas unidades de medida específicas: o grau e o radiano. Para medir os arcos, podemos
também encontrar seu comprimento e então as unidades usuais podem ser utilizadas, como
metros (m) no sistema MKS.
Como o raio da circunferência é unitário, cada arco de comprimento l – isto é, o arco
tem comprimento igual a l metros – tem l radianos, ou seja, o número de radianos do arco
é numericamente igual ao seu comprimento em unidades de
medida de comprimento.
Para cada número real positivo θ dado, percorremos a circun-
ferência trigonométrica no sentido anti-horário a partir de
A = (1, 0) e marcamos um arco de comprimento igual a θ
metros (isto é, um arco de θ radianos). Se o número real dado
for negativo, procedemos de maneira análoga, mas agora no
sentido horário. Se o número real for zero, a ele corresponde
Figura 9.2: A circunferência trigonométrica. o próprio ponto A.
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 185
Exemplos
• Exemplo 1
1. Um arco de 1 rad corresponde a um arco de quantos graus?
2. E um arco de 1° tem quantos radianos?
3. Encontre a medida em graus do ângulo α formado pelos ponteiros de um relógio analógico às 13h
e 20 min.
→ Resolução:
1. Uma vez que a circunferência trigonométrica (raio unitário) tem comprimento 2π m (no sistema
MKS), ela tem 2π rad e como tem 360° podemos estabelecer a seguinte regra de três:
2π rad 360°
1 rad x
de onde obtemos:
360° 180°
x= = ≅ ( 57, 32 ) °
2π π
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186 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
Cada ponto P sobre a circunferência, por outro lado, pode ser caracterizado também pelo
valor do ângulo θ que lhe corresponde. Tendo em vista esse fato, tal correspondência associa, a
cada valor de θ, um valor bem definido da abscissa e um valor bem definido da ordenada do
ponto associado ao ângulo.
Ou seja, a cada valor do ângulo θ (medido em radianos), caracterizando um ponto sobre a
circunferência, podemos considerar duas funções: a primeira delas associa a abscissa do ponto,
ao passo que a segunda associa a ordenada do ponto:
f1 : θ∈ x ∈ 9.1
f 2 : θ∈ y ∈ 9.2
f1 ( θ ) = cos θ 9.3
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 187
f 2 ( θ) = sen θ 9.4
cos θ = cos ( θ + 2π )
9.5
sen θ = sen ( θ + 2π )
Para justificar esse fato, basta observar que, na circunferência, os pontos correspondentes ao
número real θ e ao número real θ + 2π (ou, de modo mais geral, θ + 2kπ, onde k é um número
inteiro) têm as mesmas coordenadas.
Por definição, as funções seno e cosseno são definidas para qualquer número real positivo
ou negativo. Isso significa que o domínio de ambas as funções é o conjunto dos números reais.
Os conjuntos imagens dessas funções são, em ambos
os casos, o intervalo [−1,1]. Podemos, portanto, escrever:
−1 ≤ sen θ ≤ 1
9.6
−1 ≤ cos θ ≤ 1
sen x
tg x = 9.7
cos x
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188 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
cujo domínio é constituído por todos os números reais, tais que o denominador não seja zero,
isto é, que cos x ≠ 0, ou seja x ≠ π/2 + kπ, onde k é um número inteiro.
Analisando com cuidado a Figura 9.5, podemos compor a Tabela 9.1:
Tabela 9.1: Características e conjuntos domínio e imagem de algumas funções trigonométricas.
Ímpar + +
sen α 2π ¡ [−1, 1]
sen (−α) = −sen α − −
− +
Par
cos α 2π ¡ [−1, 1]
cos (−α) = cos α − +
Ímpar − +
x ≠ π/2 + kπ,
tg α π ¡
tg (−α) = −tg α + − onde k é inteiro
sen2θ + cos2θ = 1
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d 2 = 12 + 12 − 2 ⋅ cos( a − b) 9.11
pois cos(a − b) = cos[−(b − a)] = cos(b − a), uma vez que cos é uma função par.
Igualando 9.10 e 9.11, temos: (cosa − cosb)2 + (sena − senb)2 = 2 − 2.cos(a − b).
Desenvolvendo os quadrados, fazendo as simplificações possíveis e utilizando a relação
fundamental, temos:
ou seja,
cosa.cosb + sena.senb = cos(a − b)
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190 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
π π
Para encontrar sen(a + b), observamos que cos − x = sen x e que cos x = sen − x .
2 2
De fato,
π π π
cos − x = cos ⋅ cos x + sen ⋅ sen x = sen x, uma vez que cos(π/2) = 0 e sen(π/2) = 1
2 2 2
π π π π π π π
cos x = cos − − x = cos ⋅ cos − x + sen ⋅ sen − x = sen − x ,
2 2 2 2 2 2 2
π π π π
sen( a + b) = cos − ( a + b ) = cos − a − b = cos − a .cos b + sen − a .sen b
2 2 2 2
ou seja,
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 191
Temos:
sen( a − b) = sen( a + ( −b)) = sen a.cos( −b) + cos a.sen( −b) = sen a.cos b − cos a.sen b,
• Exemplo 2
4. Calcule sen, cos e tg dos números π/2 + x, π/2 − x, x −(3π)/2, 2π − x, em termos de sen x, cos x e
tg x, sendo x um número entre 0 e π/2.
π π π
sen + x = sen ⋅ cos x + sen x.cos = cos x.
2 2 2
π
Figura 9.7: sen + x = cos x
2
π π π
• cos + x = cos ⋅ cos x − sen ⋅ sen x = − sen x
2 2 2
π
Figura 9.8: cos + x = − sen x
2
π
sen + x
π
• tg + x = 2 = cos x = − 1
2 cos π − sen x tg x
+ x
2
π π π
• sen − x = sen ⋅ cos x − sen x.cos = cos x
2 2 2
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π
Figura 9.9: sen − x = cos x
2
π π π
• cos − x = cos ⋅ cos x + sen ⋅ sen x = sen x
2 2 2
π
Figura 9.10: cos − x = sen x
2
π
sen − x
π
• tg − x = 2 = cos x = 1
2 cos π − x sen x tg x
2
3π 3π 3π
• sen x − = sen x.cos − sen ⋅ cos x = cos x
2 2 2
3π
Figura 9.11: sen x − = cos x
2
3π 3π 3π
• cos x − = cos x.cos + sen x.sen = − sen x
2 2 2
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 193
3π
Figura 9.12: cos x − = − sen x
2
3π
sen x −
3π 2 cos x 1
• tg x − = = =−
2
cos x − 3π − sen x tg x
2
Evidentemente, sen(2π − x) = sen(−x) = −senx.
• tg( 2π − x ) = tg( − x ) = − tg x
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194 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
1 cos θ
cotg θ = = 9.15
tg θ sen θ
Definimos ainda a função secante como o inverso da função cosseno. Temos, pois:
1
sec θ = 9.16
cos θ
1
cossec θ = 9.17
sen θ
Essas funções são igualmente periódicas, de período 2π, no caso das funções sec e cossec, e
de período π, no caso das funções tg e cotg. Também obedecem a critérios de paridade a partir
das funções que lhes deram origem.
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 195
Fundamentos de Matemática I
196 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
a. A função arcsen
Para que seja possível definir a função arcsen, vamos considerar a restrição da função sen ao
π π
intervalo − , , isto é:
2 2 π π
sen π π : − , → [ −1, +1]
− , 2 2 2 2
9.18
x sen x
Essa função é inversível, pois é uma função estritamente crescente e a sua inversa é a função
denominada arcsen:
π π
arcsen : [ −1, +1] → − ,
2 2 9.19
x arcsen x
Os gráficos de
π π
y = sen x, para x ∈ − , ,
2 2
e de
y = arcsen x
são simétricos em relação à reta y = x.
π π π π
Gráfico 9.2: Os gráficos de sen π π
: − , → [ −1, +1] e de arcsen : [ −1, +1] → − , .
− 2 , 2 2 2 2 2
x sen x x arcsen x
b. De modo análogo, para que seja possível definir a função arccos, vamos também considerar
uma restrição da função cos que agora é ao intervalo [0, π], isto é:
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 197
Essa função é inversível, pois é uma função estritamente decrescente e a sua inversa é a
função denominada arccos:
Os gráficos de
y = arccos x
são simétricos em relação à reta y = x.
Gráfico 9.3: Os gráficos de cos [0, π] : [ 0, π] → [ −1, +1] e de arccos : [ −1, +1] → [0, π]
x cos x x arccos x
c. A função arctg
Finalmente, para poder definir a função arctg, vamos considerar a restrição da função tg ao
π π
intervalo − , , isto é:
2 2 π π
tg π π : − , → ]−∞, +∞[
− , 2 2 2 2
9.22
x tg x
Observamos que essa função é inversível, pois é uma função estritamente crescente e a sua
inversa é a função denominada arctg:
π π
arctg : ]−∞, +∞[ → − ,
2 2 9.23
x arctg x
Fundamentos de Matemática I
198 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
Os gráficos de
π π
y = tg x, para x ∈ − , ,
2 2
e de
y = arctg x
são simétricos em relação à reta y = x.
π π π π
Gráfico 9.4: Os gráficos de tg π π
: − , → ]−∞, +∞[ e de arctg : ]−∞, +∞[ → − , .
− 2 , 2 2 2 2 2
x tg x x arctg x
De maneira completamente análoga, podemos definir as inversas das outras três funções trigonomé-
tricas, considerando a devida restrição de domínio, a fim de obter, em cada caso, uma função inversível.
• Exemplo 3
Calcule o valor de:
1 π
a. arcsen =
2 6
1 π
b. arcsen − = −
2 6
π π
c. arcsen sen =
6 6
5π 1 π
d. arcsen sen = arcsen =
6 2 6
5π π
e. arccos cos =
3 3
3π π
f. arctg tg = −
4 4
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 199
9.8 Aplicações
São muitas as aplicações das funções trigonométricas nas várias áreas do conhecimento, espe-
cialmente na física. A seguir, apresentaremos três delas: na descrição do movimento harmônico
simples, no estudo das ondas harmônicas, nele destacando o entendimento dos sons produzidos
pelos instrumentos musicais, e no entendimento de alguns circuitos de corrente alternada.
No movimento oscilatório mais simples (o movimento harmônico simples), o móvel exe-
cutará um movimento que é inteiramente descrito (posição, velocidade e aceleração) por meio
de funções trigonométricas.
No caso do movimento ondulatório, consideramos o caso das ondas harmônicas, as quais se
propagam de acordo com uma função trigonométrica. A natureza e as características dos sons dos
instrumentos musicais podem ser entendidas a partir do conceito de ondas estacionárias (resultado
que depende da soma de funções trigonométricas e da determinação das frequências emitidas pelas
cordas dos instrumentos. Essas frequências têm a ver com os zeros de funções trigonométricas.)
Finalmente, nos circuitos de corrente alternada, é essencial o uso dessas funções. Esse ponto
será ilustrado com a análise do circuito mais simples entre todos: o circuito LC.
O movimento oscilatório (e, portanto, periódico) mais simples é o de dispositivos que são
denominados osciladores harmônicos simples. Na mecânica, o movimento harmônico simples
de uma partícula de massa m, cuja coordenada é x, é definido como aquele em que a força que
age sobre a partícula tem a forma
F ( x ) = −kx 9.24
Fundamentos de Matemática I
200 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
sempre no sentido contrário ao dele. É uma tendência ou reação natural no sentido de buscar a
restauração da forma original. Por isso, a constante k é referida como a constante elástica.
ma = − kx 9.25
A solução geral para a equação de Newton (9.25) pode ser escrita sob a forma de uma das
funções trigonométricas (seno ou cosseno). Escrevemos:
x ( t ) = A cos( ωt + θ0 ) 9.26
ou, analogamente,
Trata-se de uma solução que envolve três parâmetros (A, ω, θ0) até esse ponto desconhecidos
e que serão determinados como segue.
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 201
Observe primeiramente que a solução proposta (9.26) é tal que o valor máximo do deslo-
camento xm será dado por:
xm = A 9.28
x ( 0 ) = x0 v ( 0 ) = v0 9.29
k
ω= 9.30
m
x (t + T ) = x (t ) 9.31
Tendo em vista que a função seno é uma função periódica de período 2π, então, da solução
proposta em 9.26, segue-se que o período do movimento será dado pela relação
ωT = 2π 9.32
Portanto, de acordo com 9.30 e 9.32, o período do movimento harmônico simples é dado por:
2π m
T= = 2π 9.33
ω k
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202 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
1 ω k 1
f = = = 9.34
T 2π m 2π
v ( t ) = − Aωsen( ωt + θ0 ) 9.35
a ( t ) = − ω2 A cos( ωt + θ0 ) 9.36
onde, de novo, se aplicam as definições de A, ω e θ0 já dadas. Observe que, de 9.36 e 9.26, pode-
mos estabelecer uma relação entre a aceleração e a posição de uma partícula, a qual é dada por:
k
a ( t ) = − ω2 x ( t ) = − x (t ). 9.37
m
Essa relação decorre de uma propriedade geral do movimento harmônico simples, mais
especificamente, da lei de Newton (9.25).
Observando as expressões 9.35 e 9.36, notamos que os valores máximos para a velocidade
e aceleração são, respectivamente,
vm = ωA
9.38
am = ω2 A
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 203
As ondas harmônicas constituem-se num tipo muito especial de ondas. Elas são carac-
terizadas por uma função trigonométrica, seno ou cosseno, que descreve o perfil da onda
(a sua forma, portanto). Assim, para uma onda harmônica unidimensional que se propaga com
velocidade v ao longo do eixo x, escrevemos:
onde A (na equação 9.39) é a amplitude da onda, pois é o valor máximo da função f, e k é uma
constante que caracteriza a onda harmônica. Tal constante é conhecida pelo estranho nome de
vetor de onda. Outra forma de escrever a expressão 9.39, e bastante comum, é:
Fundamentos de Matemática I
204 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
A expressão 9.40 parece introduzir uma nova constante para descrever a onda (a constante ω).
Esse não é o caso, no entanto, uma vez que essa constante se relaciona com as demais de acordo
com a expressão:
kv = ω 9.41
O que é notável, observando-se 9.39, é o fato de que, como as funções trigonométricas são
periódicas de período 2π, uma onda harmônica tem um perfil que se repete tanto no espaço
quanto no tempo. Isso decorre do fato de que, depois de um intervalo de tempo T, conhecido
como o período da onda harmônica, dado por:
ωT = 2π 9.42
a onda propagada, depois de decorrido esse intervalo de tempo, se torna indistinguível da onda inicial.
Portanto, de 9.41 e de 9.42, segue-se que o período do movimento ondulatório, em função
do vetor de onda k e da velocidade de propagação da onda, v, é dado por:
2π 2π
T= = 9.43
ω kv
1 kv
f = = 9.44
T 2π
A unidade de frequência mais utilizada para ondas em geral é o Hertz, definido como o
inverso do segundo.
Depois de percorrido um intervalo de distância no espaço, denominado comprimento de
onda (aqui representado pela letra λ), a onda se torna indistinguível daquela de quando iniciou
o percurso. Isso ocorre para valores de λ tais que:
kλ = 2π 9.45
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 205
e o comprimento de onda:
v= fλ 9.46
O estudo das ondas estacionárias é relevante para o entendimento dos sons produzidos pelos
diferentes instrumentos musicais, quer sejam eles de sopro ou de cordas. Ao dedilharmos um
instrumento de cordas, produzimos uma onda que se propaga até o ponto no qual ela está presa.
Nesse ponto, ela volta sobre si mesma. Nessas circunstâncias, devemos analisar a superposição de
duas ondas harmônicas que se propagam em sentidos opostos.
Consideremos o caso de duas ondas y1(x, t) e y2(x, t). De acordo com o princípio da super-
posição, a onda resultante é dada como uma soma das duas ondas. Escrevemos assim:
y ( x, t ) = y1 ( x, t ) + y2 ( x, t ) 9.47
Tal onda é dita estacionária, pois, a rigor, ela não se propaga. Assim, uma onda estacionária
pode ser definida como uma onda cuja amplitude varia apenas com os pontos do espaço e sua
dependência em relação ao tempo assume a forma de um MHS:
y ( x, t ) = A( x )sen ωt 9.49
Fundamentos de Matemática I
206 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
Assim, no caso de uma corda de um instrumento musical, cada um dos seus pontos executará
um movimento harmônico simples com uma amplitude que depende do ponto ao longo dela:
A( x ) = 2 A sen kx 9.50
Analisando a solução 9.48, percebemos que teremos a formação de pontos, na corda, nos
quais a amplitude resultante se anula (pontos ditos nós). Formam-se pontos fixos na corda, que
não se movimentam. As posições desses pontos ocorrem para valores ao longo do eixo x de
tal sorte que eles são denumeráveis, isto é, podem ser indexados por um número inteiro. Tais
pontos (os nós) designados por xn são tais que:
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 207
ou seja, os nós correspondem aos zeros da função seno. Os valores associados aos nós são
expressos, genericamente, pela condição:
2π
kxm = xm = m π m = 1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.52
λ
Se a corda tem comprimento L, então, a condição 9.51 implica uma restrição em relação aos
possíveis comprimentos de onda das ondas estacionárias produzidas por ela, isto é, fazendo xm = L
em 9.52, concluímos que só as ondas cujo comprimento de onda seja dado por:
2L
λm = m = 1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.53
m
2π 2n + 1
kxn = xn = π n = 0,1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.55
λ 2
λ λ λ λ
Figura 9.19: Ilustração de nós e sua x = 1 ; 3 ; 5 ; ⋅⋅⋅ ( 2n + 1) 9.56
localização e antinós das cordas. 4 4 4 4
Fundamentos de Matemática I
208 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
densidade linear (μ) e a tensão (T) à qual a corda está sujeita. A velocidade com que uma onda
se propaga numa corda depende da tensão aplicada a ela (a qual provoca uma ligeira deformação
da mesma) e da sua densidade linear. Escrevemos a velocidade em termos desses parâmetros como:
T
v= , 9.57
µ
1 T
f = 9.58
λ µ
1 T 1 T
Figura 9.20: Amplitudes, ponto a ponto, associadas a uma onda estacionária fm = = m 9.59
numa corda. λm µ 2L µ
O modo correspondente à menor frequência, dita fundamental, é aquele em que os nós estão
separados pelo comprimento da corda. Nesse caso, o comprimento de onda é o máximo possível.
De 9.59 segue-se que a frequência fundamental é dada por:
1 T
f1 = 9.60
2L µ
f m = mf1 9.61
9 Funções trigonométricas
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1 209
I (t ) = I 0 sen ( ωt + δ ) 9.62
ωT = 2π 9.63
1 ω
f = = 9.64
T 2π
Saiba mais!
A energia elétrica que chega às nossas casas produz correntes elé-
tricas alternadas. A frequência, nesse caso, varia entre 50 e 60 hertz.
9.8.7 Circuito LC
Neste texto iremos analisar circuitos LC. Esses componentes do circuito (capacitores e in-
dutores) podem estar ligados em série ou em paralelo.
No caso do circuito LC mais simples, admitimos apenas um indutor caracterizado por
uma indutância L e um capacitor de capacidade C. Tal circuito é apresentado na Figura 9.23.
Fundamentos de Matemática I
210 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 1
Veremos que a corrente resultante, quando o circuito é fechado, é uma corrente alternada da
forma 9.62.
a b
Admitiremos que o circuito seja fechado no instante de tempo t = 0, e que, nesse instante,
o capacitor está carregado com uma carga cujo valor é Q0. Se tal valor for nulo, não haverá
corrente no circuito.
Ao fecharmos o circuito, a carga elétrica no capacitor se torna dependente do tempo, pois
ela fluirá pelo circuito. Isso leva a uma alteração da carga elétrica no capacitor (alteração da carga
em cada uma das suas placas). Gera-se assim uma corrente elétrica que percorrerá o circuito.
Pode-se mostrar que, depois de fechado o circuito, a carga elétrica do tempo será de acordo
com uma função trigonométrica:
Para a solução 9.65, a corrente elétrica será, igualmente, dependente do tempo, mas dada por
outra função trigonométrica de acordo com a expressão:
ω0 = LC 9.67
9 Funções trigonométricas