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Fundamentos de Matemática I
FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS
Gil da Costa Marques

9.1 Coordenadas cartesianas no plano


9.2 A circunferência trigonométrica; orientação
9.3 Definição de seno e cosseno de um número real
9.4 O seno e o cosseno da soma ou diferença de dois números reais
9.5 Outras funções trigonométricas
9.6 Gráficos das funções trigonométricas
9.7 Funções inversas
9.8 Aplicações
9.8.1 Movimento harmônico simples
9.8.2 Velocidade e aceleração no movimento harmônico simples
9.8.3 Movimento ondulatório: ondas harmônicas unidimensionais
9.8.4 Ondas estacionárias
9.8.5 Sons dos instrumentos musicais
9.8.6 Corrente alternada
9.8.7 Circuito LC

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9.1 Coordenadas cartesianas no plano


A melhor forma de introduzir as funções trigonométricas é fazer uso de um sistema
cartesiano de coordenadas no plano.

Um sistema cartesiano é baseado na escolha de um ponto, ao qual damos


o nome de ponto origem do sistema de referência, e dois eixos ortogonais
entre si passando por esse ponto. Em seguida, orientamos esses eixos. Tais
eixos são designados, em geral, por x (o eixo horizontal ou eixo das abscissas)
e y (o eixo vertical ou eixo das ordenadas).

Um ponto P no plano tem sua posição caracterizada pelas suas coordenadas cartesianas (x, y).
Elas são determinadas da seguinte forma: traçamos, a partir de P, duas retas paralelas aos
eixos, indicadas por retas tracejadas, até elas encontrarem os eixos x e y, respectivamente.
Esses pontos de encontro das retas tracejadas com os eixos definem as coordenadas cartesianas
da posição do corpo. Convencionou-se que o valor da coordenada x do ponto P será igual à
distância desse ponto de encontro até a origem se P
estiver no sentido da f lecha a partir da origem. Caso
contrário, o valor da coordenada é igual à distância
precedida de um sinal menos, isto é, as coordenadas
terão valores negativos quando o ponto P estiver no
sentido oposto ao da f lecha a partir da origem.
A mesma regra se aplica para a coordenada y.
Observe que, exceto pelo sinal, as coordenadas são
Figura 9.1: Coordenadas cartesianas de dois
definidas como projeções do ponto P sobre os eixos. pontos no plano.

9.2 A circunferência trigonométrica; orientação


Consideremos uma circunferência de centro na origem do sistema cartesiano e raio unitário.
Nessa circunferência vamos considerar o ponto A = (1, 0) como a origem para marcar os arcos.

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Já sabemos que medir é comparar. Para medir um arco qualquer AB  , precisamos verificar
quantas vezes a unidade de medida “cabe” nele. A fim de medir arcos e ângulos orientados,
temos duas unidades de medida específicas: o grau e o radiano. Para medir os arcos, podemos
também encontrar seu comprimento e então as unidades usuais podem ser utilizadas, como
metros (m) no sistema MKS.
Como o raio da circunferência é unitário, cada arco de comprimento l – isto é, o arco
tem comprimento igual a l metros – tem l radianos, ou seja, o número de radianos do arco
é numericamente igual ao seu comprimento em unidades de
medida de comprimento.
Para cada número real positivo θ dado, percorremos a circun-
ferência trigonométrica no sentido anti-horário a partir de
A = (1, 0) e marcamos um arco de comprimento igual a θ
metros (isto é, um arco de θ radianos). Se o número real dado
for negativo, procedemos de maneira análoga, mas agora no
sentido horário. Se o número real for zero, a ele corresponde
Figura 9.2: A circunferência trigonométrica. o próprio ponto A.

A circunferência orientada, de raio 1, com um referencial cartesiano acoplado a ela, com


origem no seu centro, é chamada circunferência trigonométrica – ou círculo trigonométrico,
se encaramos a região do plano.

Figura 9.3: Sistema de coordenadas no centro do círculo de raio unitário.

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Exemplos
• Exemplo 1
1. Um arco de 1 rad corresponde a um arco de quantos graus?
2. E um arco de 1° tem quantos radianos?
3. Encontre a medida em graus do ângulo α formado pelos ponteiros de um relógio analógico às 13h
e 20 min.

→ Resolução:
1. Uma vez que a circunferência trigonométrica (raio unitário) tem comprimento 2π m (no sistema
MKS), ela tem 2π rad e como tem 360° podemos estabelecer a seguinte regra de três:
2π rad 360°
1 rad x
de onde obtemos:
360° 180°
x= = ≅ ( 57, 32 ) °
2π π

2. Novamente, por meio da regra de três, temos:


π rad 180°
x 1°
de onde obtemos:
π
x= rad ≅. 0, 0174 rad.
180

3. O ponteiro das horas: em 1 hora, isto é, em 60 minutos, percorre


30° = π/6 rad.
Então, em 20 min, o ponteiro das horas “anda” π/18 rad.
O ponteiro dos minutos: em 1 hora, isto é, em 60 minutos, “anda”
360° = 2π rad.
Então, em 20 min, o ponteiro dos minutos “anda” (2π)/3 rad.
Portanto, em radianos, o ângulo α procurado é:
2π  π π  2π 2π 4π
α= − + = − = .
3  6 18  3 9 9
Figura 9.4: Os ponteiros de um
relógio analógico às 13h e 20 min.
ou seja, o ângulo procurado é de 80°.

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9.3 Definição de seno e cosseno


de um número real
A função seno é definida a partir da análise das propriedades de pontos localizados sobre
uma circunferência. Não difere assim da ideia original de Hiparco. No entanto, agora,
consideramos um sistema de coordenadas com um ponto de origem localizado no centro do
círculo trigonométrico.
A cada ponto da circunferência trigonométrica corresponde um par ordenado de números
reais, pois podemos associar a qualquer ponto P sobre a circunferência de raio 1 o par ordenado
correspondente ao valor de suas coordenadas. Dessa maneira,

P ∈ circunferência  (x, y), onde x ∈  e y ∈ 

Cada ponto P sobre a circunferência, por outro lado, pode ser caracterizado também pelo
valor do ângulo θ que lhe corresponde. Tendo em vista esse fato, tal correspondência associa, a
cada valor de θ, um valor bem definido da abscissa e um valor bem definido da ordenada do
ponto associado ao ângulo.
Ou seja, a cada valor do ângulo θ (medido em radianos), caracterizando um ponto sobre a
circunferência, podemos considerar duas funções: a primeira delas associa a abscissa do ponto,
ao passo que a segunda associa a ordenada do ponto:

f1 : θ∈   x ∈  9.1

f 2 : θ∈   y ∈  9.2

A primeira associação define a função cosseno do ângulo θ:

f1 ( θ ) = cos θ 9.3

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enquanto a segunda associação define a função seno:

f 2 ( θ) = sen θ 9.4

Ambas as funções são periódicas, de período 2π, isto é:

cos θ = cos ( θ + 2π )
9.5
sen θ = sen ( θ + 2π )

Para justificar esse fato, basta observar que, na circunferência, os pontos correspondentes ao
número real θ e ao número real θ + 2π (ou, de modo mais geral, θ + 2kπ, onde k é um número
inteiro) têm as mesmas coordenadas.
Por definição, as funções seno e cosseno são definidas para qualquer número real positivo
ou negativo. Isso significa que o domínio de ambas as funções é o conjunto dos números reais.
Os conjuntos imagens dessas funções são, em ambos
os casos, o intervalo [−1,1]. Podemos, portanto, escrever:

−1 ≤ sen θ ≤ 1
9.6
−1 ≤ cos θ ≤ 1

A fim de analisar as imagens das funções trigono-


métricas para um número real qualquer, que define
um arco na circunferência trigonométrica, dividimo-la
em quatro partes, determinando quatro regiões deno-
minadas quadrantes. Cada quadrante corresponde
assim a intervalos no círculo unitário, cada um deles
diferindo do anterior por π/2 radianos.
Na Figura 9.5 observamos o valor das funções
Figura 9.5: Círculo trigonométrico com alguns valores
das funções sen e cos. sen e cos para alguns números reais.
Definimos a função denominada tg como o quociente das duas funções trigonométricas sen
e cos, isto é,

sen x
tg x = 9.7
cos x

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cujo domínio é constituído por todos os números reais, tais que o denominador não seja zero,
isto é, que cos x ≠ 0, ou seja x ≠ π/2 + kπ, onde k é um número inteiro.
Analisando com cuidado a Figura 9.5, podemos compor a Tabela 9.1:
Tabela 9.1: Características e conjuntos domínio e imagem de algumas funções trigonométricas.

Função Paridade Período Sinais Domínio Imagem

Ímpar + +
sen α 2π ¡ [−1, 1]
sen (−α) = −sen α − −

− +
Par
cos α 2π ¡ [−1, 1]
cos (−α) = cos α − +

Ímpar − +
x ≠ π/2 + kπ,
tg α π ¡
tg (−α) = −tg α + − onde k é inteiro

Podemos observar ainda que, quando:


• x = 0, obtemos na circunferência trigonométrica o ponto A = (1, 0) e, portanto,
cos 0 = 1, sen 0 = 0 e tg 0 = 0;
• x = π/2, obtemos na circunferência trigonométrica o ponto B = (0, 1) e, portanto,
cos(π/2) = 0, sen(π/2) = 1 e tg(π/2) não existe;
• x = π, obtemos na circunferência trigonométrica o ponto C = (−1, 0) e, portanto,
cos π = −1, sen π = 0 e tg π = 0;
• x = (3π/2), obtemos na circunferência trigonométrica o ponto D = (0, −1) e, portanto,
cos(3π/2) = 0, sen(3π/2) = −1 e tg(3π/2) não existe.
A respeito das funções sen e cos, ressaltamos que uma propriedade simples e notável é a de
que para todo número real θ:

(sen θ) 2 + (cos θ) 2 = 1 9.8

que também se escreve

sen2θ + cos2θ = 1

e que é conhecida como relação fundamental da trigonometria.

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9.4 O seno e o cosseno da soma ou diferença


de dois números reais
Utilizando a circunferência trigonométrica, é possível mostrar
que, para quaisquer números reais a e b, vale a relação:

cos( a − b) = cos a.cos b + sen a.sen b 9.9

De fato, examinando a Figura 9.6 que mostra a circunferência


trigonométrica e dois pontos P = (cosa, sena) e Q = (cosb, senb), vamos
calcular a distância entre esses dois pontos de duas maneiras: usando a
Figura 9.6: Os pontos P = (cosa, sena)
e Q = (cosb, senb). “fórmula” da distância e a lei dos cossenos aplicada ao triângulo 0PQ.
Usando a fórmula da distância, temos:

d 2 = (cos a − cos b) 2 + (sen a − sen b) 2 9.10

e, usando a lei dos cossenos, temos:

d 2 = 12 + 12 − 2 ⋅ cos( a − b) 9.11

pois cos(a − b) = cos[−(b − a)] = cos(b − a), uma vez que cos é uma função par.
Igualando 9.10 e 9.11, temos: (cosa − cosb)2 + (sena − senb)2 = 2 − 2.cos(a − b).
Desenvolvendo os quadrados, fazendo as simplificações possíveis e utilizando a relação
fundamental, temos:

cos2 a − 2 cos a.cos b + cos2 b + sen 2 a − 2 sen a.sen b + sen 2 b = 2 − 2.cos( a − b)


2 − 2.cos a.cos b − 2.sen a.sen b = 2 − 2.cos( a − b)

ou seja,
cosa.cosb + sena.senb = cos(a − b)

ou, de modo equivalente,


cos(a − b) = cosa.cosb + sena.senb.

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A partir dessa relação, podemos verificar outras relações igualmente úteis:

• cos( a + b) = cos a.cos b − sen a.sen b 9.12

Em primeiro lugar, cos(a + b) = cos(a −(−b)).


Agora, como cos é uma função par, isto é, para todo x real, cos x = cos(−x) e sen é uma
função ímpar, isto é, sen x = −sen(−x), temos:

cos(a −(−b)) = cosa.cos(−b) + sena.sen(−b) = cosa.cosb − sena.senb

Logo, cos(a + b) = cosa.cosb − sena.senb.

• sen( a + b) = sen a.cos b + sen b.cos a 9.13

π  π 
Para encontrar sen(a + b), observamos que cos  − x  = sen x e que cos x = sen  − x .
2  2 
De fato,

π  π π
cos  − x  = cos ⋅ cos x + sen ⋅ sen x = sen x, uma vez que cos(π/2) = 0 e sen(π/2) = 1
2  2 2

π π  π π  π π  π 
cos x = cos  −  − x   = cos ⋅ cos  − x  + sen ⋅ sen  − x  = sen  − x  ,
2 2  2 2  2 2  2 

pois cos(π/2) = 0 e sen(π/2) = 1.


Desse modo,

π   π   π  π 
sen( a + b) = cos  − ( a + b )  = cos   − a  − b  = cos  − a  .cos b + sen  − a  .sen b
2   2   2  2 

ou seja,

sen( a + b) = sen a.cos b + cos a.sen b

• sen( a − b) = sen a.cos b − sen b.cos a. 9.14

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Temos:

sen( a − b) = sen( a + ( −b)) = sen a.cos( −b) + cos a.sen( −b) = sen a.cos b − cos a.sen b,

pois cos é uma função par e sen é uma função ímpar.

• Exemplo 2
4. Calcule sen, cos e tg dos números π/2 + x, π/2 − x, x −(3π)/2, 2π − x, em termos de sen x, cos x e
tg x, sendo x um número entre 0 e π/2.

π  π π
sen  + x  = sen ⋅ cos x + sen x.cos = cos x.
2  2 2

π 
Figura 9.7: sen  + x  = cos x
2 

π  π π
• cos  + x  = cos ⋅ cos x − sen ⋅ sen x = − sen x
2  2 2

π 
Figura 9.8: cos  + x  = − sen x
2 

π 
sen  + x 
π 
• tg  + x  =  2  = cos x = − 1
 2  cos  π  − sen x tg x
 + x
2 
π π π
• sen  − x  = sen ⋅ cos x − sen x.cos = cos x
2  2 2

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π 
Figura 9.9: sen  − x  = cos x
2 

π  π π
• cos  − x  = cos ⋅ cos x + sen ⋅ sen x = sen x
2  2 2

π 
Figura 9.10: cos  − x  = sen x
 2 

π 
sen  − x 
π 
• tg  − x  =  2  = cos x = 1
2  cos  π − x  sen x tg x
 
2 
 3π  3π 3π
• sen  x −  = sen x.cos − sen ⋅ cos x = cos x
 2  2 2

 3π 
Figura 9.11: sen  x −  = cos x
 2 

 3π  3π 3π
• cos  x −  = cos x.cos + sen x.sen = − sen x
 2  2 2

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 3π 
Figura 9.12: cos  x −  = − sen x
 2 

 3π 
sen  x − 
 3π   2  cos x 1
• tg  x −  = = =−
 2 
 cos x − 3π  − sen x tg x
 
 2 
Evidentemente, sen(2π − x) = sen(−x) = −senx.

Figura 9.13: sen( 2π − x ) = − sen x

• cos( 2π − x ) = cos( − x ) = cos x

Figura 9.14: cos( 2π − x ) = cos x

• tg( 2π − x ) = tg( − x ) = − tg x

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9.5 Outras funções trigonométricas


As demais funções trigonométricas relevantes podem ser definidas a partir das anteriores,
respeitadas as condições de existência.
Definimos a função cotangente como o inverso da função tangente:

1 cos θ
cotg θ = = 9.15
tg θ sen θ

Definimos ainda a função secante como o inverso da função cosseno. Temos, pois:

1
sec θ = 9.16
cos θ

e definimos a função cossecante como o inverso da função seno:

1
cossec θ = 9.17
sen θ

Essas funções são igualmente periódicas, de período 2π, no caso das funções sec e cossec, e
de período π, no caso das funções tg e cotg. Também obedecem a critérios de paridade a partir
das funções que lhes deram origem.

Figura 9.15: Geometria das funções


trigonométricas no círculo unitário.
sen α = XM
cos α = OM
tg α = AT
cotg α = BG
sec α = OS
cossec α = OC

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9.6 Gráficos das funções trigonométricas


Os gráficos das funções trigonométricas são apresentados a seguir.

Gráfico 9.1: Gráficos das funções trigonométricas.

9.7 Funções inversas


As funções trigonométricas anteriores são inversíveis apenas em subconjuntos do domínio,
isto é, globalmente, nenhuma função trigonométrica é inversível. Esse fato deve ser bastante
evidente, pois todas elas são funções periódicas e, consequentemente, valores diferentes do
domínio têm a mesma imagem, o que inviabiliza a inversibilidade.

É importante lembrar que uma função e sua inversa


possuem gráficos simétricos com relação à reta y = x.

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a. A função arcsen
Para que seja possível definir a função arcsen, vamos considerar a restrição da função sen ao
 π π
intervalo  − ,  , isto é:
 2 2  π π
sen  π π  :  − ,  → [ −1, +1]
− ,   2 2   2 2
9.18

x  sen x

Essa função é inversível, pois é uma função estritamente crescente e a sua inversa é a função
denominada arcsen:
 π π
arcsen : [ −1, +1] →  − , 
 2 2 9.19

x  arcsen x

Os gráficos da função arcsen e da restrição da função sen, no mesmo sistema de coordenadas,


são então os seguintes:

Os gráficos de
 π π
y = sen x, para x ∈  − , ,
 2 2
e de

y = arcsen x
são simétricos em relação à reta y = x.

 π π  π π
Gráfico 9.2: Os gráficos de sen  π π
:  − ,  → [ −1, +1] e de arcsen : [ −1, +1] →  − ,  .
 − 2 , 2   2 2  2 2
x  sen x x  arcsen x

b. De modo análogo, para que seja possível definir a função arccos, vamos também considerar
uma restrição da função cos que agora é ao intervalo [0, π], isto é:

cos [0 , π] : [0, π] → [ −1, +1] 9.20


x  cos x

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Essa função é inversível, pois é uma função estritamente decrescente e a sua inversa é a
função denominada arccos:

arccos : [ −1, +1] → [ 0, π]


9.21
x  arccos x

Os gráficos da função arccos e da restrição da função cos, no mesmo sistema de coordenadas,


são então os seguintes:

Os gráficos de

y = cos x, para x ∈ [0, π],


e de

y = arccos x
são simétricos em relação à reta y = x.

Gráfico 9.3: Os gráficos de cos [0, π] : [ 0, π] → [ −1, +1] e de arccos : [ −1, +1] → [0, π]
x  cos x x  arccos x

c. A função arctg
Finalmente, para poder definir a função arctg, vamos considerar a restrição da função tg ao
 π π
intervalo  − , , isto é:
 2 2  π π
tg  π π  :  − ,  → ]−∞, +∞[
− ,   2 2   2 2
9.22

x  tg x

Observamos que essa função é inversível, pois é uma função estritamente crescente e a sua
inversa é a função denominada arctg:
 π π
arctg : ]−∞, +∞[ →  − , 
 2 2 9.23

x  arctg x

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Os gráficos da função arctg e da restrição da função tg, no mesmo sistema de coordenadas,


são então os seguintes:

Os gráficos de
 π π
y = tg x, para x ∈  − , ,
 2 2
e de

y = arctg x
são simétricos em relação à reta y = x.

 π π  π π
Gráfico 9.4: Os gráficos de tg  π π
:  − ,  → ]−∞, +∞[ e de arctg : ]−∞, +∞[ →  − ,  .
 − 2 , 2   2 2  2 2
x  tg x x  arctg x

De maneira completamente análoga, podemos definir as inversas das outras três funções trigonomé-
tricas, considerando a devida restrição de domínio, a fim de obter, em cada caso, uma função inversível.

• Exemplo 3
Calcule o valor de:

1 π
a. arcsen =
2 6
 1 π
b. arcsen  −  = −
 2 6
 π π
c. arcsen  sen  =
 6 6
 5π 1 π
d. arcsen  sen  = arcsen   =
 6  2 6
 5π  π
e. arccos  cos  =
 3  3
 3π  π
f. arctg  tg  = −
 4  4

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9.8 Aplicações
São muitas as aplicações das funções trigonométricas nas várias áreas do conhecimento, espe-
cialmente na física. A seguir, apresentaremos três delas: na descrição do movimento harmônico
simples, no estudo das ondas harmônicas, nele destacando o entendimento dos sons produzidos
pelos instrumentos musicais, e no entendimento de alguns circuitos de corrente alternada.
No movimento oscilatório mais simples (o movimento harmônico simples), o móvel exe-
cutará um movimento que é inteiramente descrito (posição, velocidade e aceleração) por meio
de funções trigonométricas.
No caso do movimento ondulatório, consideramos o caso das ondas harmônicas, as quais se
propagam de acordo com uma função trigonométrica. A natureza e as características dos sons dos
instrumentos musicais podem ser entendidas a partir do conceito de ondas estacionárias (resultado
que depende da soma de funções trigonométricas e da determinação das frequências emitidas pelas
cordas dos instrumentos. Essas frequências têm a ver com os zeros de funções trigonométricas.)
Finalmente, nos circuitos de corrente alternada, é essencial o uso dessas funções. Esse ponto
será ilustrado com a análise do circuito mais simples entre todos: o circuito LC.

9.8.1 Movimento harmônico simples

O movimento oscilatório (e, portanto, periódico) mais simples é o de dispositivos que são
denominados osciladores harmônicos simples. Na mecânica, o movimento harmônico simples
de uma partícula de massa m, cuja coordenada é x, é definido como aquele em que a força que
age sobre a partícula tem a forma

F ( x ) = −kx 9.24

ou seja, a força é proporcional ao deslocamento, mas no sentido oposto a ele. A constante k é


denominada constante elástica.
Um exemplo simples desse tipo de força ocorre no caso em que procuramos deformar uma
substância elástica (como um elástico comum, por exemplo). Enquanto a deformação não for
muito grande, a força é proporcional ao deslocamento (ou à deformação imposta), mas atua

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sempre no sentido contrário ao dele. É uma tendência ou reação natural no sentido de buscar a
restauração da forma original. Por isso, a constante k é referida como a constante elástica.

Figura 9.16: Força elástica em ação.

A lei de Newton se escreve, no caso do M.H.S.:

ma = − kx 9.25

A solução geral para a equação de Newton (9.25) pode ser escrita sob a forma de uma das
funções trigonométricas (seno ou cosseno). Escrevemos:

x ( t ) = A cos( ωt + θ0 ) 9.26

ou, analogamente,

x ( t ) = A[cos( ωt )cos( θ0 ) − sen( ωt )sen( ωθ0 )] 9.27

Trata-se de uma solução que envolve três parâmetros (A, ω, θ0) até esse ponto desconhecidos
e que serão determinados como segue.

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Observe primeiramente que a solução proposta (9.26) é tal que o valor máximo do deslo-
camento xm será dado por:

xm = A 9.28

O parâmetro A é, portanto, a amplitude do movimento. A constante θ0 é uma fase dita


fase inicial. Como veremos depois, as constantes A e θ0 podem ser determinadas a partir das
condições iniciais, isto é, a partir da posição e da velocidade iniciais do móvel:

x ( 0 ) = x0 v ( 0 ) = v0 9.29

Analisaremos agora a constante ω. Pode-se mostrar que a expressão 9.26 envolvendo a


função cosseno é uma solução da equação 9.25 desde que a constante ω seja dada por:

k
ω= 9.30
m

E, portanto, a constante ω depende da massa e da constante elástica da mola.Veremos a seguir


que essa constante está também relacionada ao período do movimento.
Como dito anteriormente, o movimento do oscilador harmônico é periódico. O período é
determinado a partir da condição bastante geral enunciada na introdução e que, nesse caso, é:

x (t + T ) = x (t ) 9.31

Tendo em vista que a função seno é uma função periódica de período 2π, então, da solução
proposta em 9.26, segue-se que o período do movimento será dado pela relação

ωT = 2π 9.32

Portanto, de acordo com 9.30 e 9.32, o período do movimento harmônico simples é dado por:

2π m
T= = 2π 9.33
ω k

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A frequência, sendo o inverso do período, será dada pela expressão:

1 ω k 1
f = = = 9.34
T 2π m 2π

A frequência do oscilador harmônico depende, portanto, da massa da partícula e da


constante elástica k.

9.8.2 Velocidade e aceleração no movimento harmônico simples

Pode-se mostrar que, num movimento harmônico simples, a velocidade da partícula em


função do tempo é dada por outra função trigonométrica, isto é, para x dado pela expressão
9.26, a velocidade é dada por:

v ( t ) = − Aωsen( ωt + θ0 ) 9.35

onde as constantes A, ω e θ0 são aquelas definidas anteriormente.


A aceleração varia igualmente com o tempo. Sua variação é análoga à da posição:

a ( t ) = − ω2 A cos( ωt + θ0 ) 9.36

onde, de novo, se aplicam as definições de A, ω e θ0 já dadas. Observe que, de 9.36 e 9.26, pode-
mos estabelecer uma relação entre a aceleração e a posição de uma partícula, a qual é dada por:

k
a ( t ) = − ω2 x ( t ) = − x (t ). 9.37
m

Essa relação decorre de uma propriedade geral do movimento harmônico simples, mais
especificamente, da lei de Newton (9.25).
Observando as expressões 9.35 e 9.36, notamos que os valores máximos para a velocidade
e aceleração são, respectivamente,

vm = ωA
9.38
am = ω2 A

9  Funções trigonométricas
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A seguir, apresentamos os gráficos de a × t, v × t e x × t do movimento harmônico simples.


Como se vê, trata-se, essencialmente, de gráficos de funções trigonométricas.

Gráfico 9.5: Gráficos de a × t, v × t e x × t


do movimento harmônico simples.

Observe que, quando a coordenada da posição do móvel atinge os valores máximos


(x = + A) e mínimos (x = −A), a velocidade do móvel é nula. Por outro lado, nos pontos de
maior velocidade (em qualquer direção), o valor da coordenada (e o da aceleração) é igual a zero.

9.8.3 Movimento ondulatório: ondas harmônicas unidimensionais

As ondas harmônicas constituem-se num tipo muito especial de ondas. Elas são carac-
terizadas por uma função trigonométrica, seno ou cosseno, que descreve o perfil da onda
(a sua forma, portanto). Assim, para uma onda harmônica unidimensional que se propaga com
velocidade v ao longo do eixo x, escrevemos:

f ( x − vt ) = A cos ( k ( x − vt ) )  A sen ( k ( x − vt ) ) 9.39

onde A (na equação 9.39) é a amplitude da onda, pois é o valor máximo da função f, e k é uma
constante que caracteriza a onda harmônica. Tal constante é conhecida pelo estranho nome de
vetor de onda. Outra forma de escrever a expressão 9.39, e bastante comum, é:

f ( x − vt ) = A cos ( kx − ωt )  A sen ( kx − ωt ) 9.40

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A expressão 9.40 parece introduzir uma nova constante para descrever a onda (a constante ω).
Esse não é o caso, no entanto, uma vez que essa constante se relaciona com as demais de acordo
com a expressão:

kv = ω 9.41

O que é notável, observando-se 9.39, é o fato de que, como as funções trigonométricas são
periódicas de período 2π, uma onda harmônica tem um perfil que se repete tanto no espaço
quanto no tempo. Isso decorre do fato de que, depois de um intervalo de tempo T, conhecido
como o período da onda harmônica, dado por:

ωT = 2π 9.42

a onda propagada, depois de decorrido esse intervalo de tempo, se torna indistinguível da onda inicial.
Portanto, de 9.41 e de 9.42, segue-se que o período do movimento ondulatório, em função
do vetor de onda k e da velocidade de propagação da onda, v, é dado por:

2π 2π
T= = 9.43
ω kv

Define-se a frequência da onda ( f ) como o inverso do período:

1 kv
f = = 9.44
T 2π

A unidade de frequência mais utilizada para ondas em geral é o Hertz, definido como o
inverso do segundo.
Depois de percorrido um intervalo de distância no espaço, denominado comprimento de
onda (aqui representado pela letra λ), a onda se torna indistinguível daquela de quando iniciou
o percurso. Isso ocorre para valores de λ tais que:

kλ = 2π 9.45

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Assim, o comprimento de onda nada mais é do


que a distância entre, por exemplo, dois máximos da
onda (veja Figura 9.17).
De 9.45 e 9.41 segue-se que existe uma relação
bem simples entre a velocidade da onda, sua frequência Figura 9.17: Comprimento de onda de uma onda harmônica.

e o comprimento de onda:

v= fλ 9.46

9.8.4 Ondas estacionárias

O estudo das ondas estacionárias é relevante para o entendimento dos sons produzidos pelos
diferentes instrumentos musicais, quer sejam eles de sopro ou de cordas. Ao dedilharmos um
instrumento de cordas, produzimos uma onda que se propaga até o ponto no qual ela está presa.
Nesse ponto, ela volta sobre si mesma. Nessas circunstâncias, devemos analisar a superposição de
duas ondas harmônicas que se propagam em sentidos opostos.
Consideremos o caso de duas ondas y1(x, t) e y2(x, t). De acordo com o princípio da super-
posição, a onda resultante é dada como uma soma das duas ondas. Escrevemos assim:

y ( x, t ) = y1 ( x, t ) + y2 ( x, t ) 9.47

E, portanto, a onda resultante de duas ondas harmônicas viajando em sentidos opostos é


dada pela soma:

y ( x, t ) = A sen ( kx − ωt ) + A sen ( kx + ωt ) = 2 A sen kx cos ωt 9.48

Tal onda é dita estacionária, pois, a rigor, ela não se propaga. Assim, uma onda estacionária
pode ser definida como uma onda cuja amplitude varia apenas com os pontos do espaço e sua
dependência em relação ao tempo assume a forma de um MHS:

y ( x, t ) = A( x )sen ωt 9.49

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Figura 9.18: Superposição de duas ondas harmônicas diferindo apenas no


sentido da propagação. A onda resultante é dita estacionária.

Assim, no caso de uma corda de um instrumento musical, cada um dos seus pontos executará
um movimento harmônico simples com uma amplitude que depende do ponto ao longo dela:

A( x ) = 2 A sen kx 9.50

Analisando a solução 9.48, percebemos que teremos a formação de pontos, na corda, nos
quais a amplitude resultante se anula (pontos ditos nós). Formam-se pontos fixos na corda, que
não se movimentam. As posições desses pontos ocorrem para valores ao longo do eixo x de
tal sorte que eles são denumeráveis, isto é, podem ser indexados por um número inteiro. Tais
pontos (os nós) designados por xn são tais que:

sen kxn = 0 9.51

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ou seja, os nós correspondem aos zeros da função seno. Os valores associados aos nós são
expressos, genericamente, pela condição:


kxm = xm = m π m = 1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.52
λ

Se a corda tem comprimento L, então, a condição 9.51 implica uma restrição em relação aos
possíveis comprimentos de onda das ondas estacionárias produzidas por ela, isto é, fazendo xm = L
em 9.52, concluímos que só as ondas cujo comprimento de onda seja dado por:

2L
λm = m = 1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.53
m

se propagam pela corda.


Os pontos de amplitudes máximas (denominados antinós) são aqueles para os quais:

sen kxm = 1 9.54

Tais valores implicam a seguinte condição:

2π  2n + 1 
kxn = xn =  π n = 0,1, 2, 3, ⋅⋅⋅⋅⋅⋅ 9.55
λ  2 

Donde inferimos que os antinós podem ocorrer para valores


dados por:

λ λ λ λ
Figura 9.19: Ilustração de nós e sua x = 1 ; 3 ; 5 ; ⋅⋅⋅ ( 2n + 1) 9.56
localização e antinós das cordas. 4 4 4 4

9.8.5 Sons dos instrumentos musicais

A seguir, consideraremos os possíveis sons produzidos por uma corda de um violão, um


piano ou qualquer outro instrumento de corda.
Primeiramente, lembramos que existem três parâmetros relevantes no entendimento dos sons
produzidos quando colocamos uma corda para vibrar: o comprimento da corda (L), sua

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densidade linear (μ) e a tensão (T) à qual a corda está sujeita. A velocidade com que uma onda
se propaga numa corda depende da tensão aplicada a ela (a qual provoca uma ligeira deformação
da mesma) e da sua densidade linear. Escrevemos a velocidade em termos desses parâmetros como:

T
v= , 9.57
µ

Assim, de acordo com 9.46, as fre-


quências dos sons emitidos por uma
corda são dadas por:

1 T
f = 9.58
λ µ

No entanto, tendo em vista a restri-


ção em relação aos comprimentos de
onda, expressa em 9.53, constatamos que
uma corda só produz ondas harmônicas
quando as frequências são dadas por:

1 T  1 T
Figura 9.20: Amplitudes, ponto a ponto, associadas a uma onda estacionária fm = = m  9.59
numa corda. λm µ  2L µ 
O modo correspondente à menor frequência, dita fundamental, é aquele em que os nós estão
separados pelo comprimento da corda. Nesse caso, o comprimento de onda é o máximo possível.
De 9.59 segue-se que a frequência fundamental é dada por:

1 T
f1 = 9.60
2L µ

Além disso, as demais frequências são múltiplos inteiros da


frequência fundamental:

f m = mf1 9.61

Figura 9.21: Modos de oscilação


associados a diferentes frequências. Temos assim vários modos de oscilação, diferindo entre si pela
A corda vista em 4 diferentes
instantes de tempo diferindo por T/8. frequência (Figura 9.21).
A primeira ilustração corresponde ao
modo fundamental.

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9.8.6 Corrente alternada

Uma corrente percorrendo um circuito é deno-


minada corrente alternada, quando ela depende do
tempo de acordo com uma função seno ou cosseno.
Assim, a expressão geral para tal corrente é: Figura 9.22: Corrente em função do tempo.

I (t ) = I 0 sen ( ωt + δ ) 9.62

Assim, os elétrons que se movimentam ao longo de um circuito mudam de sentido perio-


dicamente. Cada elétron da corrente executa um movimento de vai e vem (um movimento
periódico). O período do movimento é dado, de acordo com 9.62, pela expressão:

ωT = 2π 9.63

e a frequência da corrente alternada (a frequência do movimento periódico dos elétrons) é:

1 ω
f = = 9.64
T 2π

Saiba mais!
A energia elétrica que chega às nossas casas produz correntes elé-
tricas alternadas. A frequência, nesse caso, varia entre 50 e 60 hertz.

9.8.7 Circuito LC

Neste texto iremos analisar circuitos LC. Esses componentes do circuito (capacitores e in-
dutores) podem estar ligados em série ou em paralelo.
No caso do circuito LC mais simples, admitimos apenas um indutor caracterizado por
uma indutância L e um capacitor de capacidade C. Tal circuito é apresentado na Figura 9.23.

Fundamentos de Matemática I
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Veremos que a corrente resultante, quando o circuito é fechado, é uma corrente alternada da
forma 9.62.

a b

Figura 9.23: a) Circuito LC. b) Esquema de um circuito de LC forçado.

Admitiremos que o circuito seja fechado no instante de tempo t = 0, e que, nesse instante,
o capacitor está carregado com uma carga cujo valor é Q0. Se tal valor for nulo, não haverá
corrente no circuito.
Ao fecharmos o circuito, a carga elétrica no capacitor se torna dependente do tempo, pois
ela fluirá pelo circuito. Isso leva a uma alteração da carga elétrica no capacitor (alteração da carga
em cada uma das suas placas). Gera-se assim uma corrente elétrica que percorrerá o circuito.
Pode-se mostrar que, depois de fechado o circuito, a carga elétrica do tempo será de acordo
com uma função trigonométrica:

Q = Q0 sen ( ω0t + δ ) 9.65

Para a solução 9.65, a corrente elétrica será, igualmente, dependente do tempo, mas dada por
outra função trigonométrica de acordo com a expressão:

I = I 0 cos ( ω0t + δ ) = ω0Q0 cos ( ω0t + δ ) 9.66

onde a frequência angular da corrente, ω0, se relaciona com os parâmetros já mencionados


(característicos dos elementos do circuito) de acordo com a expressão:

ω0 = LC 9.67

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