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1 – OS PRECURSORES

Como visto na lição anterior, as manifestações espirituais são fatos que aconteceram em
todos os tempos e se espalharam ao redor do mundo. No entanto, ocorreu, no século XIX, uma
série de fenômenos como nunca antes. Nesse contexto, houve dois registros emblemáticos: o caso
de Hydesville e o fenômeno das mesas girantes, dando origem ao chamado Espiritualismo
Moderno, do qual derivaram estudos sérios como a Parapsicologia e o Espiritismo.
Anterior a esses casos, houve acontecimentos extraordinários que despertaram bastante
interesse, como as visões do sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772), o qual tinha um vasto
conhecimento em várias áreas do saber. Chegou, em suas visões, a se comunicar com o que
identificou como sendo Espíritos e a descrever que, no mundo espiritual, havia várias esferas, em
diferentes graus de felicidade. Um dos inúmeros episódios envolvendo esse polímata ganhou fama
e chegou a ser analisado por Immanuel Kant. Arthur Conan Doyle (2008), no livro A História do
Espiritismo, assim o descreve:

Assim, no conhecidíssimo caso de Gothenburg, no qual o vidente observou e


descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com
perfeita exatidão, estava ele num jantar com dezesseis convidados, o que é um
valioso testemunho. O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Kant,
que era seu contemporâneo (p. 29).

Já em 1773, deu-se a descoberta do magnetismo animal curador, por Franz Anton Mesmer
(1734-1815), médico da Suábia, que, hoje, é território alemão. Iniciava-se a comprovação
científica da tese de que a energia espiritual produz efeitos na matéria . Doyle (2008), traça o
seguinte comentário sobre a importância desse pesquisador:

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Mesmer [...] realizou seu maior trabalho em Viena, no último quartel do
século dezoito. Conquanto enganado quanto a algumas de suas inferências, foi
ele quem deu o primeiro impulso para a dissociação entre alma e corpo, antes
do atual modo de sentir da humanidade [...] p. 278).

Outro caso interessante foi o do


americano Andrew Jackson Davis (1826-
1910), o qual, de família humilde, aos
dezessete anos de idade, foi induzido a um
transe durante o qual teve um banho de
iluminismo que elevou consideravelmente
seu intelecto, o qual se tornou incomum para
sua pouca idade e para seu modesto currículo
escolar. Depois desse desdobramento, ele
passou a versar fluentemente sobre temas
complexos como filosofia, psicologia e
Imagem: Conan Doyle política, os quais não faziam parte de seu
cotidiano, tampouco de sua
formação. Segundo confessou Davis, um ano mais tarde, ele foi novamente tomado por um estado
transcendental, mas, dessa vez, involuntariamente. Em tal oportunidade, tratou de matérias
relacionadas à medicina e à filosofia moral diretamente com dois Espíritos ilustres: Emanuel
Swedenborg e o médico e filósofo grego Cláudio Galeno. Após sua morte, foi encontrada uma
mensagem no seu caderno de notas, datada de 31 de março de 1848, em que Davis dizia ter ouvido
uma voz lhe manifestar: “Irmão, um bom trabalho foi começado. Olha! Surgiu uma demonstração
vivente”. Davis não compreendeu a nota, mas aquela data coincide com o marco do caso das irmãs
Fox (ADEP, 2010).
Arthur Conan Doyle, o qual se destacou na literatura inglesa por ter criado o personagem
Sherlock Holmes, trata desses casos detalhadamente na já mencionada obra A História do
Espiritismo. Ele classificou tais manifestações espirituais como uma “invasão organizada de
Espíritos que traziam uma grande revelação” (2008, p.12).

2 – O CASO DE HYDESVILLE – AS IRMÃS FOX

No pequeno povoado de Hydesville, Estado de Nova


Iorque, nos Estados Unidos da América, morava a família
Fox, composta pelo casal John e Margareth e as duas filhas,

Imagem: Irmãs Fox


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Katherine (ou Kate), de 11 anos, e Margareth (Maggie), de 14 anos. O casal tinha outros filhos,
dentre os quais estava Leah, casada e residente em Rochester, cidade próxima dali (idem, 2008).
Em 11 de dezembro de 1847, a família Fox instalou-se numa casa que era considerada
mal-assombrada. Dois meses depois da mudança, os Fox começaram a ouvir ruídos estranhos, cuja
causa desconheciam. Eram barulhos similares a arranhões nas paredes, arrastões de móveis e
assoalhos, os quais ficavam cada vez mais fortes e descompassados. Todas as possibilidades
normais foram consideradas, mas nada explicava os estalos. Em vista disso, as crianças se
amedrontaram e passaram a dormir no quarto com os pais.
A data que entrou para a História como o marco da fenomenologia moderna foi 31 de março
de 1848, quando, à noite, os fenômenos se intensificaram na casa dos Fox. Já não era possível
repousar, tanto pelo pavor quanto pelo barulho. Em meio à situação amedrontadora, a garota mais
nova, Kate, começou a bater palmas e lançou um desafio ao suposto fantasma: “Aqui, velho Pé
Rachado, faça o que faço!” (p. 58). Isso foi precisamente o começo. Para surpresa de todos, as
batidas na casa imitaram a quantidade e o ritmo das palmas de Kate. Novas sugestões foram feitas
e prontamente respondidas com pancadas.
A Sra. Fox, por exemplo, perguntou a idade das filhas e ouviu as respostas exatas: onze
batidas para Kate e quatorze para a irmã. Questionado se era um humano, nada se ouviu, mas
quando a senhora da casa sugeriu que desse duas pancadas caso fosse um Espírito, no mesmo
instante as duas pancadas foram reproduzidas. Margareth, então, perguntou: “Continuará a bater se
chamarmos os vizinhos? A resposta foi afirmativa”(p.56). Assim, naquela mesma noite, vizinhos
foram chamados e, logo, havia uma multidão de
curiosos. Muitos deles se atreveram a fazer
perguntas, tendo sido convencionadas uma ou duas
pancadas para respostas negativas e positivas. O
inquérito perdurou por muitos dias, mas apenas no
período noturno. Por meio desse processo, o Espírito
revelou ter sido um hóspede daquela casa cinco anos
atrás e que fora morto com um golpe de faca na
garganta e depois enterrado na adega.
O homicida agiu assim porque queria apossar-se
da quantia de quinhentos dólares da vítima. Para
chegar ao nome do Espírito - Charles Rosma - e do
assassino - Sr. Bell - , criou-se uma codificação
alfabética de acordo com as pancadas, por sugestão Imagem: Irmãs Fox e levitação da mesa.
do Sr. Isaac Post, que ali se encontrava. Esse foi o
marco da telegrafia espiritual (p. 55).

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Tempos depois, o cadáver do Sr. Rosma foi encontrado atrás de uma parede falsa da adega
daquela casa. Junto à ossada, foram achados seus objetos pessoais. A notícia foi publicada no
Boston Journal, edição de 23 de novembro de 1904 (p. 58).
As meninas Kate e Margareth foram levadas para morar com a irmã Leah, em Rochester, mas
os fenômenos as seguiam onde quer que estivessem. Naquela cidade, num salão denominado
Corinthian Hall, elas participaram de sessões públicas experimentais, durante as quais foram inquiri-
das por várias autoridades, muitas vezes, sob risco de linchamento por acusação de dissimulação.
Contudo, os fenômenos eram constantes e contundentes, de modo que nenhuma teoria contradi-
tória se sobrepôs às manifestações.
Esse caso, que ficou conhecido como Poltergeist - do alemão polter = bater; e geist = espírito - ,
foi amplamente estudado por renomados pesquisadores em todo o mundo e deu início a uma série
de experiências intituladas de “fenômeno das mesas girantes” (DOYLE, 2008).

3 – MESAS GIRANTES
Com a popularização do caso Poltergeist, não tardou para que outras experiências de evocação
de Espíritos surgissem. Disso resultaram os casos das “mesas girantes” ou “dança das mesas”.
Tanto nos Estados Unidos como na Europa, incontáveis eram as manifestações. Tornaram-se
tão vulgares que eram usadas como divertimento, em verdadeiros espetáculos espirituais ou nos
chamados “chás de mesas girantes”, durantes os quais as pessoas se reuniam para tomar chá e
participar das mesas girantes (DOYLE, p. 106). Salões nobres, lotados, assistiam às evocações,
sugerindo que entidades espirituais se fizessem perceber provocando efeitos físicos. Os efeitos mais
comuns eram os golpes e os movimentos aleatórios em
mesas, talvez por serem elas um mobiliário comum nos
salões. Em seguida, foram criados métodos para se
obterem informações, nomes e datas dos Espíritos utili-
zando-se códigos. Num deles, o alfabeto era desenhado
em uma roleta sobre a mesa e as anotações obedeciam
à letra sobre a qual o ponteiro parava. Todavia, nada
relevante se obtinha dessas sessões espetaculares.
Imagens: Mesas girantes
Os religiosos atribuíram os fenômenos aos demônios e
procuraram barrar os experimentos a todo custo, sem procurar buscar concretamente as causas dos
efeitos. Reportagens sensacionalistas de jornais e revistas, sob pressão de interesses particulares,
também procuraram maldizer o movimento.
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Como meio de distração, essas reuniões duraram dos anos 1850 a 1870 do século XIX e
acabaram despertando interesse científico em todos os campos do conhecimento. É verdade que
houve muitos flagras de logro — o que serviu como argumento definitivo para a descrença de
alguns e forte campanha de difamação. Entretanto, pesquisadores renomados atestaram a
presença de uma força sobrenatural em vários eventos,
dentre eles, os físicos Sir William Crookes, Sir Oliver
Lodge e Michael Faraday; os astrônomos Friedrich
Zöllner e Camille Flammarion; o criminologista Cesare
Lombroso; o naturalista Alfred Russel Wallace; bem
como o diplomata e filósofo russo Alexandre Aksakof
(DOYLE, 2008).
Acerca dessa série de fenômenos,
Wantuil (2005, p. 6) pontua que “os [...] Espíritos, Figura do jornal "L'Illustration" - de 1853,
salão em Paris.
aproveitando-se da onda de curiosidade que invadira
todas as plagas [as nações europeias e alhures], nelas também se movimentaram intensamen-
te, no grandioso e abençoado objetivo de despertamento progressivo dos homens para as
realidades vivas da vida póstuma”.
As mesas girantes tiveram destacado papel na história do Espiritismo na Modernidade, vez
instigaram Allan Kardec e seus colaboradores a estudarem os fenômenos com o rigor científico,

Ressaltamos que o conteúdo das lições requer estudo aprofundado. Nesse sentido, recomendamos
pesquisa sobre: as irmãs Fox; mesas girantes; Espiritualismo Moderno; William Crookes; Oliver Lodge;
Michael Faraday; Friedrich Zöllner; Camille Flammarion; Cesare Lombroso; Alfred Russel Wallace; Alexandre
Aksakof.

Também sugerimos a leitura das seguintes obras:


1) História do Espiritismo, de Arthur Conan Doyle.
2) O Espiritismo Básico, de Pedro Barbosa;
3) As Mesas Girantes e o Espiritismo, de Zêus Wantuil.

Lembramos que poderá ser consultada a Sala de Leitura da CAVILE (disponível em http://
www.cavile.com.br), sendo úteis também outras fontes de estudo, tais como filmes e palestras.

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A Sabedoria.
“Pois eu darei a vocês uma palavra cheia de sabedoria, à qual os seus
adversários não poderão resistir nem contradizer”.
Jesus (Lucas, 21:15)

A sabedoria não consiste simplesmente em acumular ciências e argumentos, mas em saber


fazer bom uso do que se sabe.
O entendido sabe muito; o sábio sabe apenas o necessário.
A sabedoria está na verdade e sem verdade não há sabedoria. A marcha do progresso está
em curso e o que é verdadeiro vai sendo revelado.
Não há quem aprisione o homem sábio, pois a sabedoria liberta o indivíduo. É a escuridão
da ignorância que retém os fracos e quem anda nas trevas está sujeito às quedas.
O Espiritismo, seguramente, abre as portas do além, que se revela e nos ensina novas
verdades. Novas verdades requerem novos estudos. Todo aquele que as busca com retidão,
enche-se de conhecimentos úteis e melhor se prepara para o porvir.
Nesse sentido, mostra-se bastante esclarecedor o prefácio de O Evangelho Segundo o
Espiritismo (KARDEC, 2013, p. 15):
Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, igual imenso exército
que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda
a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os
caminhos e abrir os olhos dos cegos.
Na verdade, digo a vocês que são chegados os tempos em que todas as coisas
hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas,
confundir os orgulhosos e glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas e os cânticos dos
anjos se associam a elas. Nós convidamos todos vocês para o divino concerto.
Peguem a lira, façam suas vozes uma só e que, num hino sagrado, elas se
estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.
Irmãos e irmãs a quem amamos, aqui estamos junto de vocês. Amem-se,
também, uns aos outros e digam do fundo do coração, fazendo as vontades do
Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e poderão entrar no reino dos Céus (O
Espírito de Verdade).
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REFERÊNCIAS

ADEP – Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugual. Mediunidade e Espiritismo. Por-


tugal, 2010.

DOYLE, Arthur Conan. A História do Espiritismo (versão digitalizada por L. Nielmoris). 2008.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa
rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro.
86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

WANTUIL, Zêus. As Mesas Girantes e o Espiritismo. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

IMAGENS:

https://.redeamigoespirita.com.br
https://revistacult.uol.com.br
Figura do jornal "L'Illustration" - de 1853, salão em Paris.
https://escolinhaespirita.blogspot.com

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1. Descreva a importância de Emmanuel Swedenborg e Andrew
Jackson Davis para o posterior desenvolvimento do Espiritismo.

2. Pesquise sobre Mesmer e o magnetismo animal, apontando como


isso influenciou Kardec na compreensão dos fenômenos espirituais.

3. Relate o caso das irmãs Fox, esclarecendo como se relaciona com o


surgimento do Espiritismo na Modernidade.

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