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2019

Engenharia de Segurança do Trabalho:


Disciplina: Higiene Ocupacional: Agentes
Químicos e Biológicos

Professor: Alexandre Pinto da Silva


Engenheiros Eletricista, de Segurança do
Trabalho, Higienista Ocupacional
Certificado HOC 0095; Ergonomista e
Mestre em SEP.
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

APOSTILA
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos
Engenharia de Segurança do Trabalho

Sumário
1 OBJETIVOS DA DISCIPLINA ........................................................................................ 3
2 AGENTES QUÍMICOS ................................................................................................... 4
2.1 Introdução ................................................................................................................... 4
2.2 Higiene Ocupacional - Agentes Químicos ................................................................... 4
2.3 Vias de Ingresso dos Agentes Químicos no Organismo Humano................................ 5
2.4 Legislação ................................................................................................................... 7
2.4.1 Um Pouco da História sobre a Elaboração da NR 15............................................... 8
2.4.2 Alguns Aspectos Técnicos Interessantes dos Anexos da NR 15 ........................... 11
2.4.3 A INSALUBRIDADE E SEUS AGENTES INSALUBRES ....................................... 13
2.4.3.1 Introdução .......................................................................................................... 13
2.4.4 Os Agentes Químicos e os Limites de Tolerância da NR 15 .................................. 15
2.4.5 Limites de tolerância – NR 15 ................................................................................ 16
2.4.6 Limite de tolerância média ponderada ................................................................... 16
2.4.7 Limite de tolerância valor teto ................................................................................ 19
2.4.8 Substâncias com absorção pela pele .................................................................... 19
2.4.9 Asfixiantes simples ................................................................................................ 19
2.4.10 Limites de tolerância para poeiras minerais ........................................................... 20
2.4.10.1 Asbesto ou amianto............................................................................................ 20
2.4.10.2 Sílica livre cristalizada ........................................................................................ 20
2.4.10.3 Manganês .......................................................................................................... 21
2.4.10.4 Anexo 13 – Agentes Químicos ........................................................................... 21
2.4.10.5 Anexo 13 A– Benzeno........................................................................................ 21
2.5 Agentes Químicos como Fator de Periculosidade ..................................................... 22
2.6 Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos - FISPQ ....................... 23
3 VENTILAÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................................ 26
3.1 Introdução ................................................................................................................. 26
3.2 A Ventilação como Conforto Humano........................................................................ 26
3.3 Ventilação geral para conforto térmico ...................................................................... 27
3.4 Ventilação Geral Diluidora ......................................................................................... 28

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos
3.4.1 Princípios de exaustão........................................................................................... 30
3.4.2 DUTOS .................................................................................................................. 31
3.4.3 Ventiladores........................................................................................................... 31
4 PROGRAMA DE PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA .......................................................... 33
4.1 Introdução ................................................................................................................. 33
4.2 Programa de Proteção Respiratória .......................................................................... 35
4.2.1 Equipamentos de Proteção Respiratória – EPR..................................................... 35
4.2.2 Os Tópicos Básicos de um PPR ........................................................................... 35
4.2.3 A Responsablidade pela Implantação do PPR ................................................... 38
4.2.3.1 Responsabilidade do empregador quanto ao PPR ......................................... 38
4.2.3.2 Responsabilidades do administrador .............................................................. 39
4.3 Filtros Químicos ........................................................................................................ 40
4.4 Respiradores Purificadores de Ar .............................................................................. 43
4.5 Respiradores purificadores de ar não motorizados .................................................... 43
4.6 Tipos de Respiradores de Adução de Ar ................................................................... 45
4.7 Seleção de Respiradores para uso em Atmosferas IPVS, Espaços Confinados ou
Atmosferas com Pressão Reduzida ..................................................................................... 47
4.7.1 Atmosfera IPVS.................................................................................................. 47
4.7.2 Respirador de Fuga............................................................................................ 48
4.8 Ensaios de Vedação ................................................................................................. 48
5 AGENTES BIOLÓGICOS ............................................................................................. 50
5.1 Introdução ................................................................................................................. 50
5.2 Classificação de Risco .............................................................................................. 51
5.3 Insalubridade Agentes Biológicos.............................................................................. 51
5.4 Esclarecendo o Anexo 14 da NR 15 .......................................................................... 52
LEITURA OBRIGATÓRIA ................................................................................................... 58

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

1 OBJETIVOS DA DISCIPLINA

O objetivo principal dessa disciplina é conhecer e reconhecer os agentes químicos e


biológicos no ambiente ocupacional!

Além disso, e mais importante, é, como Engenheiro de Segurança do Trabalho, propor


medidas de controle para que esses agentes sejam controlados e não causem danos à saúde
do trabalhador.

Dentro de agentes químicos, estudaremos também a questão dos produtos perigosos, que
representa um grande perigo no mundo do trabalho, mas que, seguindo corretamente os
procedimentos, os riscos são perfeitamente controlados.

Estudaremos por exemplo, a questão da Ventilação Industrial, que é uma execlente e efetiva
medida de controle coletiva que, se bem planejada, garante uma proteção efetiva no mundo
ocupacional, além da Proteção Respiratória, que são Equipamentos de Proteção Individual
destinados a proteção do trabalhador em ambientes com presença de agentes nocivos.

Por último, será visto a questão dos Agentes Biológicos que, além de serem muito perigosos
nos ambientes do trabalho, ainda tem a questão do adicional de insalubridade.

Essa apostila irá abordar os principais pontos, não tendo a intenção de simplesmente copirar
as normas e nem de esgotar a pesquisa no que se refere ao estudo desses agentes, mas sim,
servir como uma orientação, um norte para que o aluno possa continuar a pesquisar o assunto,
de um modo que agregue o máximo de conhecimento possível.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

2 AGENTES QUÍMICOS

2.1 Introdução

Você sabia que Agente Químico é uma categoria importante de fator de risco ocupacional
constituída por substâncias, compostos ou produtos, orgânicos ou inorgânicos, naturais ou
sintéticos que, durante a exploração, fabricação, manuseio, transporte, armazenamento ou
uso, tem potencial para comprometer a saúde e a integridade física dos seres vivos?

Pois bem, basicamente os mesmos agentes químicos que geram condições insalubres nos
ambientes de trabalho podem vir a constituir aspectos ambientais significativos quando
extrapolam os limites físicos da organização, afetando as comunidades vizinhas, o meio
ambiente e os recursos naturais. Daí a interação (comumente, as melhorias que são
implantadas na empresa para controlar estes riscos também favorecem o meio ambiente e
vice-versa) entre a Higiene Ocupacional e as disciplinas ambientais.

Já o Risco Químico, é a exposição a substâncias, compostos ou produtos químicos presentes


no ambiente de trabalho, na condição de matéria-prima, insumos, produto intermediário,
produto final ou como resíduo, em qualquer estado físico, e que em função das características
da exposição e/ou da eficácia das medidas de controle, poderão entrar em contato com o
corpo humano, interagindo de forma localizada, ou em ação generalizada ou sistêmica,
quando for levado pelos fluidos internos, chegando aos diferentes órgãos e tecidos do
organismo.

2.2 Higiene Ocupacional - Agentes Químicos

No âmbito da Higiene Ocupacional, os agentes químicos estão relacionados à insalubridade


e compreendem as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo
pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou
que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo
organismo através da pele ou por ingestão (item 9.1.5.2 – NR 9).

Esta conceituação legal já antecipa as formas como uma substância química pode adentrar
no organismo e a classificação destes agentes, de acordo com as suas características físico-
químicas. Também menciona a natureza da atividade de exposição, como pré- requisito para
a configuração do risco propriamente dito.

Do ponto de vista químico, substância (ou espécie química) é a porção de matéria formada
por moléculas quimicamente iguais, isto é, constituídas dos mesmos elementos, nas mesmas
proporções e dispostos do mesmo modo no espaço. Assim, por exemplo, são as substâncias
hidrogênio (H2), oxigênio (O2), ácido sulfúrico (H2SO4), álcool etílico (C2H6O), dentre outras.

As substâncias cujas moléculas são formadas por átomos do mesmo elemento químico são
substâncias simples (H2, O2). As que são formadas por átomos de elementos químicos
diferentes (H2O, H2SO4) são substâncias compostas. Já os compostos são substâncias

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

constituídas por dois ou mais elementos em que a existência de ligações químicas garante a
uniformidade de propriedades e a constância de composição.

2.3 Vias de Ingresso dos Agentes Químicos no Organismo Humano

Os diversos agentes químicos que podem estar presentes no ambiente de trabalho e,


dependendo da natureza da exposição e da existência e eficácia das medidas de controle,
entrar em contato com o organismo dos trabalhadores, podem apresentar uma ação
localizada ou serem distribuídos aos diferentes órgãos e tecidos, levados pelos fluídos
internos (sangue e outros), produzindo uma ação sistêmica.

Os efeitos localizados aparecem na superfície de contato entre o organismo e o agente


químico, como ocorre com os trabalhadores da construção civil que manuseiam cimento sem
a devida proteção. O contato com o cimento pode ressecar, irritar ou ferir a pele no local de
contato onde a massa de cimento permanecer por certo tempo, podendo provocar uma
dermatose ocupacional grave.

A maioria das substâncias, porém, são absorvidas pelo sistema circulatório e distribuídas pelo
organismo e agem em local distante da via de entrada, isto é, provocando dano sistêmico em
tecidos, órgãos-alvo ou sistemas do corpo, distantes do ponto de entrada. São exemplos de
alvos: pele, pulmão, sistema nervoso central, sistema imunológico, fígado e rim.

O sistema circulatório em geral não está em contato direto com materiais nocivos como estão
a pele, os pulmões e o sistema digestivo. Todavia após uma substância prejudicial ter atingido
a corrente sanguínea, ela pode ser transportada a qualquer parte do corpo. O centro do
sistema circulatório é o coração. Ele bombeia sangue através de uma extensa rede de vasos
sanguíneos, os quais se ramificam como uma árvore e são cada vez menores. Portanto, para
que se dê uma ação sistêmica, é necessário que o agente se introduza no sangue, de onde é
transportado até o local em que exercerá a sua ação.

A inalação, através do processo de respiração, constitui a principal via de ingresso de agentes


químicos, já que a superfície dos alvéolos pulmonares representa no homem adulto uma área
entre 80 a 90 m². Esta grande superfície facilita a absorção de gases e vapores, os quais
podem passar ao sangue, para serem distribuídos a outras regiões do organismo.

Alguns sólidos e líquidos ficam retidos nesses tecidos podendo produzir uma ação localizada,
ou dissolvem-se para serem distribuídos através do sistema circulatório.

Algumas substâncias, como o chumbo tetraetila, apresentam tanto efeitos locais (pele) como
sistêmico (sistema nervoso central). As principais rotas de ingresso destes agentes no
organismo são:

 Inalação - através do processo de respiração.


 Absorção - através da pele.
 Ingestão - através da boca, ao se inserir sólidos ou líquidos.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Sendo o consumo de ar de 10 a 20 kg diários, dependendo fundamentalmente do esforço


físico realizado, é fácil chegar à conclusão que mais de 90% das intoxicações ocupacionais
tenham esta origem.

A absorção pela pele é outra forma comum de entrada de substâncias tóxicas. A pele pode
ser considerada o maior órgão do corpo e sua extensa superfície pode entrar em contato
direto com substâncias nocivas.

A via cutânea inclui todo o tecido cutâneo que recobre o corpo humano, juntamente com
mucosas (lábios, conjuntiva ocular), pêlos e unhas. Representa 16% do peso do corpo
humano com uma área aproximada de 1,80 m² e espessura entre 0.15 a 1.4 mm. Constitui-
se fundamentalmente de epiderme (região mais externa) e derme que é constituída por tecido
conjuntivo, onde se encontram as glândulas sudoríparas, sebáceas, folículos pilosos, vasos
sanguíneos e linfáticos. A epiderme possui uma camada mais profunda, constituída por
células que se dividem continuamente (tecido vivo), originando a camada externa que está
em contato com o meio ambiente, chamada de camada córnea, onde as células se
queratinizam, morrendo e desprendendo-se pouco a pouco, sob a forma de escamas. As
mucosas não apresentam camada córnea. As glândulas sebáceas impregnam a pele de
graxa, formando uma camada que proporciona flexibilidade e proteção. As glândulas
sudoríparas, que formam o suor, com função de excreção e refrigeração.

A pele é um eficiente meio de proteção contra batidas (trauma), secagem, bactérias,


penetração de água, luz ultravioleta, substâncias nocivas dentre outras, sendo sua camada
exterior, composta por células mortas e endurecidas, resistentes aos contatos do dia a dia.

As múltiplas estruturas que compõe a pele participam ativamente de uma série de


mecanismos fisiológicos do corpo, tais como: Glândulas sudoríparas: ajudam a resfriar o corpo
quando o ambiente é muito quente. Glândulas sebáceas: produzem óleos que repelem a
água. Uma rede de vasos capilares sanguíneos: controle da temperatura corporal. Estes
capilares se expandem no calor, ajudando na perda por radiação pelo ar, contraindo-se no
frio de modo a conservar calor no corpo. Uma camada protetora de óleos e proteínas: ajudam
a impedir ou diminuir a penetração de substâncias prejudiciais.

Certos solventes usados na fabricação de tintas podem facilmente penetrar na pele, atingir a
corrente sanguínea e alcançar outros órgãos. Evitando-se estes solventes, a superfície da
pele pode ser considerada como praticamente impermeável.

Quando uma substância entra em contato com a pele, podem ocorrer as seguintes situações:
A pele e a gordura podem atuar como uma barreira protetora efetiva. O agente pode agir na
superfície da pele, provocando uma irritação primária. A substância química pode combinar
com as proteínas da pele e provocar uma sensibilização. Se a pele é penetrada por agentes
biológicos, as células brancas do sangue têm a capacidade de envolver bactérias e as
destruir. Após a penetração de um antígeno no organismo o sistema imunológico reage
produzindo anticorpos para neutralizar o efeito. O agente pode penetrar através dela, atingir
o sangue e atuar como um tóxico sistêmico.

A permeabilidade cutânea aos agentes químicos pode ser alterada por propriedades físico-
químicos, como hidrossolubilidade, lipossolubilidade, peso molecular, tamanho molecular;
sudorese (suor); espessura da pele; temperatura ambiente; circulação periférica; idade;
capacidade dos agentes químicos de se ligarem aos constituintes da pele; potencial de

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

biotransformação da pele; integridade da pele. Apesar destas considerações, normalmente a


pele é uma barreira bastante efetiva para os diferentes agentes químicos, e são poucas as
substâncias que conseguem ser absorvidas em quantidades perigosas.

De importância secundária na saúde ocupacional, salvo em casos de intoxicação acidental e


quando o trabalhador se alimenta ou fuma em ambiente de trabalho, os produtos químicos
são absorvidos no estômago e no intestino delgado, ricos em vasos sanguíneos e passam
para o fígado, antes de serem distribuídos por todo o organismo através da circulação. Alguns
produtos como ácidos e álcalis provocam efeitos locais sobre os tecidos. Muitas vezes, as
substâncias químicas depositam-se nas vias aéreas superiores e, através de movimentos dos
cílios aí existentes ou pela tosse, são transportados para a boca, podendo ser deglutidas.
Muitos produtos químicos são inativados pela acidez do estômago, pela secreção do pâncreas
e pelas enzimas digestivas. Além disso, ao atingirem o fígado, muitas vezes, ocorrem
biotransformações que inativam os agentes tóxicos.

A falta de organização e limpeza no ambiente, aliado a baixa higiene pessoal do indivíduo,


também são fatores importantes para este tipo de contaminação. Fazer qualquer tipo de
refeição em ambiente insalubre, sem lavar as mãos, certamente aumenta a possibilidade de
um eventual agente químico adentrar no organismo pela boca.

Alguns autores incluem uma quarta via de ingresso de agentes nocivos no organismo: a
injeção. Substâncias nocivas, normalmente de natureza biológica, podem penetrar no corpo
humano através de injeção. Por exemplo, trabalhadores de hospitais operando com seringas
contaminadas podem acidentalmente injetar vírus em seu próprio corpo. O processo de
imunização envolve a deliberada injeção de antígenos no corpo, de modo que o sistema
imunológico reaja produzindo anticorpos que neutralizem a invasão e protejam o organismo
da suscetibilidade de uma futura invasão pelo mesmo agente.

Existem outras rotas de entrada dos agentes químicos no organismo humano, porém com
importância bastante secundária em relação à inalação, absorção e ingestão, como através
de mucosas e outras cavidades do corpo (pálpebras dos olhos, lábios da vulva, vagina,
prepúcio, ânus) ou através da córnea, dos tímpanos e do orifício urinário.

2.4 Legislação

A Portaria nº 3214/78, mais especificamente a NR 9 – PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE


RISCOS AMBIENTAIS, no item 9.1.5, considera como riscos ambientais os agentes físicos,
químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza,
concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde
do trabalhador:

Os agentes físicos são, em última análise, alguma forma de energia, liberada pelas condições
dos processos e equipamentos, os quais os trabalhadores podem estar expostos. Esta
energia pode ocorrer na forma de: ruído, vibrações, temperaturas extremas (calor e frio),
radiações ionizantes e não ionizantes e pressões anormais.

Os agentes biológicos, que é objeto de nossos estudos, são representados por todas as
classes de microorganismos patogênicos (algumas vezes adicionados de organismos mais

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

complexos, como insetos e animais peçonhentos), por exemplo: vírus, bactérias e fungos.
Notar que merecem uma ação bem diversa em relação aos demais agentes ambientais e que
muitas formas de controle serão específicas.

Os agentes químicos, que também é objeto de nossos estudos, mais que por sua
característica individual, mas sim por sua dimensão físico-química, são classificados em
gases, vapores e aerodispersoídes (estes últimos são subdivididos ainda em poeiras, fumos,
névoas, neblinas, fibras).

Podemos entender os agentes químicos como todas as substâncias puras, compostos ou


produtos (misturas) que podem entrar em contato com o organismo por uma multiplicidade de
vias, expondo o trabalhador aos seus efeitos. Cada caso tem sua toxicologia específica, sendo
também possível e mais usual agrupá-los em famílias químicas.

O subitem 9.1.5.2 da NR 9 da Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego –


MTE, considera agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam
penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas,
gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou
ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.

2.4.1 Um Pouco da História sobre a Elaboração da NR 15

A história da Norma Regulamentadora nº 15, se inicia em 1977, quando o Congresso Nacional


editou a Lei n.6.514, alterando todo o Capítulo V, do Título II, da CLT, que trata da Segurança,
Higiene e Medicina do Trabalho. Uma das modificações mais importantes foi a introdução na
CLT da exigência de adoção de limites de tolerância para os agentes ambientais. O
Engenheiro Civil Arnaldo Prieto, à época ocupante do cargo de Ministro do Trabalho,
determinou que a Fundacentro elaborasse um projeto de Portaria para regulamentar essa lei.
Deu-lhe ampla liberdade para que se introduzisse nesse novo instrumento legal o que de
melhor existisse na área de higiene, segurança e saúde ocupacional.

O Dr. Eduardo Gabriel Saad, renomado jurista na área do Direito do Trabalho, à época
Superintendente da Fundacentro, idealizou a estrutura da Portaria, que lhe deu perenidade
até a presente data. Em vez de fazer apenas mais uma Portaria Ministerial, que
posteriormente seria revisada e substituída por outras mais recentes, propôs a criação de um
arcabouço jurídico na área de segurança, higiene e medicina do trabalho, composto de
Normas Regulamentadoras, cada uma delas regulamentando uma Seção do Capítulo V, do
Título II, da CLT, que trata dessa matéria. Assim surgiu a Portaria nº 3214, publicada em 08
de junho de 1978 (DOU 06/07/78 – Suplemento).

Antes da Edição da Portaria nº 3.214/78, as normas de segurança, higiene e medicina do


trabalho estavam dispersas em inúmeros atos administrativos do Ministério do Trabalho, o
que dificultava seu estudo e aplicação. Essas normas encontravam-se distribuídas em
diversos instrumentos legais, sem nenhuma unidade técnica e jurídica.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

As empresas, os trabalhadores e os próprios órgãos de fiscalização enfrentavam dificuldades


para cumprir e fazer cumprir as exigências de uma legislação tão sem unidade e já
ultrapassada. O dispositivo legal mais abrangente na área de higiene ocupacional existente
anteriormente à Portaria 3.214/78 era a Portaria nº 491, de 16 de fevereiro de 1965, que
dispunha sobre as atividades e operações insalubres. Outros instrumentos tratavam das
outras questões relacionadas à segurança e medicina do trabalho. A estrutura de segurança,
higiene e medicina do trabalho dentro das empresas era regulada pela Portaria n 3.237, de
27 de julho de 1972, que já estabelecia a obrigatoriedade dos serviços especializados e da
CIPA, a fim de promover a proteção da saúde dos trabalhadores, sendo a precursora da NR-
4 e NR-5.

Com a publicação da Portaria 3.214/78, passou-se a ter uma única referência na área de
prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, o que certamente permitiu um avanço na
proteção do trabalhador, pois não há mais risco de ter textos legais esparsos, perdidos, não
cumpridos e não fiscalizados. Toda a matéria jurídica está concentrada em uma única
normatização legal, da mesma forma que é feito nos códigos ou na própria CLT, com uma
estrutura que permite uma atualização dentro o seu próprio corpo.

Essa é uma breve história dessa importante Portaria, e em especial, de sua NR-15, que é
diretamente relacionada à Higiene Ocupacional, para podermos entender melhor sua origem,
ajudando, desta forma, a pensar no futuro.

Na época da elaboração desse projeto de Portaria, a Fundacentro contava com poucos


técnicos, a maioria deles lotados em sua sede em São Paulo. Sua estrutura era constituída
de cinco divisões técnicas (Divisão de Higiene do Trabalho, Divisão de Segurança do
Trabalho, Divisão de Medicina do Trabalho, Divisão de Assistência à Agricultura e Divisão de
Ensino), além da área administrativa.

Coube aos técnicos da Divisão de Higiene, de Segurança, de Medicina e da Agricultura a


elaboração da minuta da Portaria, revolucionando todo o texto legal anteriormente existente.
Contando apenas com 19 técnicos nessas quatro áreas, a Fundacentro conseguiu, em apenas
dois meses de trabalho intenso, redigir toda a base da legislação que perdura até hoje. Esses
profissionais, jovens idealistas, decididos à novel ciência que começava a despertar no Brasil,
buscaram o que havia de melhor no mundo daquela época para incluí-lo na legislação
brasileira, obviamente com a preocupação de fazer as devidas adaptações à nossa realidade.
Antes do encaminhamento para o Ministério do Trabalho, o conteúdo técnico final passou pela
revisão jurídica de José Eduardo Duarte Saad, Procurador do Ministério Público do Trabalho,
em São Paulo.

O Ministro do Trabalho Arnaldo Pietro, o Presidente da Fundacentro, Engenheiro Civil Dr.


Jorge Duprat Figueiredo, que após seu falecimento precoce, veio a dar o nome a essa
Instituição, e a o Superintendente Dr. Eduardo Gabriel Saad, envolvidos única e
exclusivamente com a proteção da saúde dos trabalhadores dentro de uma economia forte e
dinâmica, apoiaram totalmente o grupo de técnicos para que incluísse na regulamentação da
Lei n 6.514/77, o que se julgava de maior relevância técnica, sem nenhuma restrição ou
objeção, quer do ponto de vista político ou da repercussão econômica que isso acarretaria às
empresas. Tal atitude trouxe grande motivação para a equipe de técnicos envolvidos.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

A qualidade e relevância do trabalho realizado foram reconhecidas oficialmente pelo Senhor


Ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, que após a publicação da Portaria, encaminhou ao
Superintendente da Fundacentro, Eduardo Gabriel Saad, um agradecimento manuscrito
contendo seus expressos cumprimentos a todos os que nela trabalharam. Esse cumprimento
oficial, por determinação do Senhor Superintendente, foi registrado no prontuário funcional de
cada um dos profissionais envolvidos na elaboração da Portaria n. 3.214/78.

De início, a Portaria n 3.214/78 era integrada por 28 Normas Regulamentadoras, comumente


chamada de NRs. Cada Norma Regulamentadora faz o detalhamento de um tema previsto no
Capítulo V, do Título II, da CLT. A NR-28, que trata da fiscalização dessas NRs, foi elaborada
por servidores do próprio Ministério do Trabalho. Hoje a Portaria já conta com 351 Normas
Regulamentadoras.

Coube à Divisão de Higiene do Trabalho, da Fundacentro, regulamentar a parte dessa minuta


de Portaria que se relacionava com a Higiene do Trabalho.

Á época, tal Divisão era integrada pelos seguintes Higienistas Ocupacionais: José Manuel
Osvaldo Gana Soto, Irene Ferreira de Souza Duarte Saad, Leila Nadim Zidan, Eduardo
Giampaoli, Mário Luiz Fantazzini, e Marcos Domingos da Silva. Desses seis profissionais,
cinco hoje são Higienistas Ocupacionais Certificados pela ABHO, e participaram ativamente
da criação da entidade.

Após uma análise cuidadosa e criteriosa dos artigos da CLT diretamente relacionadas com
Higiene Ocupacional, o grupo envolvido na regulamentação dessa matéria optou por usar uma
única Norma Regulamentadora para abordar todos os agentes ambientais: a conhecida NR-
15. Assim, em lugar de criar diversas NRs, uma para cada agente ambiental, foram criados
Anexos ao corpo da NR-15, de modo que cada um deles fosse tratado de forma específica e
independente.

O grupo era liderado pelo Higienista José Manuel Gana Soto, Chefe da Divisão de Higiene do
Trabalho e atual Presidente da ABHO, que dava um incentivo enorme à sua jovem equipe de
trabalho. Segundo o próprio relato, assim foram conduzidas as primeiras decisões:

“Nas primeiras reuniões com o Dr. Saad, ficou claro que as NRs deviam se adequar à lei 6.514/77,
que tinha sido promulgada no ano anterior e na qual fora mantida o conceito de “insalubridade”.
Era, portanto, tarefa do grupo atualizar e amenizar o impacto desse conceito na Portaria, mas não
era possível eliminá-lo de vez, pois fazia parte da própria lei.”

Como lembra Gana Soto, tecnicamente, todo o grupo sempre foi contrário ao adicional de
insalubridade, mas esse adicional era previsto em lei. O desafio do trabalho era exigir medidas
preventivas para evitar a perpetuação do adicional.
Assim, na introdução da NR-15 incluiu-se um item que, se tivesse sido cumprido
adequadamente, teria acabado com a insalubridade desde aquela época:

1
A NR 27 – Registro Profissional do técnico de Segurança do Trabalho foi revogada pela Portaria nº 262 de 29
de maio de 2008, publicada no DOU DE 30/05/2008. Então, apesar de já terem sido publicadas 36 NRs,
atualmente existem 35 em vigor.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

“15.4.1.1. Cabe à DRT, comprovada a insalubridade por laudo do Engenheiro ou Médico do


Trabalho do MTb (atual MTE):
a – notificar a empresa, estipulando prazo para a eliminação ou neutralização do risco, quando
possível;
b- fixar adicional devido aos empregados expostos à insalubridade quando impraticável sua
eliminação ou neutralização”.

Assim ao examinar o texto criado originalmente, ficava muito claro que a insalubridade seria
eliminada com o tempo, pois as empresas, ao serem fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho,
seriam obrigadas a adotar todas as medidas de controle para proteger seus trabalhadores,
eliminando ou, no mínimo, neutralizando os riscos ambientais.

No entanto, o Ministério do Trabalho e Emprego, em 1992, alterou a redação deste item, sem
nenhuma consulta à Fundacentro, deixando, em primeiro plano, a fixação do adicional de
insalubridade, e não a sua eliminação ou neutralização, como se pode ver de sua redação
vigente até os dias de hoje.

15.4.1.1 Cabe à autoridade regional competente em matéria de segurança e saúde do trabalhador,


comprovada a insalubridade por laudo técnico de engenheiro de segurança do trabalho ou médico
do trabalho, devidamente habilitado, fixar adicional devido aos empregados expostos à
insalubridade quando impraticável sua eliminação ou neutralização.

2.4.2 Alguns Aspectos Técnicos Interessantes dos Anexos da NR 15

Qual foi a base de todo o trabalho? A insalubridade está sempre relacionada com a
conjugação de três elementos presentes à forma de exposição, quais sejam: agentes, tempo
de exposição, e concentração ou intensidade desse agente. Assim, os estudos científicos
buscam a condição ideal desse trinômio que, se cumprido, não deveria causar danos à saúde
do trabalhador. Trata-se do conhecimento “Limite de Exposição Ocupacional” (LEO).

A terminologia antiga, usada pela Lei 6.514/77 e, consequentemente, pela NR 15, é “Limite
de Tolerância” (LT). Na ocasião, como ainda se verifica atualmente, a principal referência para
o estabelecimento desses limites de exposição ocupacional era a ACGIH – American
Conference ou Governmental Industrial Hygienists. Foram esses limites que embasaram,
praticamente, todos os trabalhos técnicos realizados pela Fundacentro naquela época. Assim,
nada mais lógico do que utilizá-los na legislação brasileira.

A ACGIH publica seus limites com base nos estudos feitos por seus comitês no ano anterior.
Antigamente as propostas de adoção de limites e a Nota de Alterações Pretendidas para os
anos seguintes eram apresentadas para aprovação dos membros na Assembleia Geral
daquela Associação, durante a Conferência e Exposição Anual de Higiene Industrial, que
ocorre anualmente, em geral no mês de maio, nos Estados Unidos, e , às vezes no
Canadá. As proposições aprovadas eram , então, publicadas no livro TLVs e BEIS,
que ficavam disponíveis para o público em setembro/outubro de cada ano. Essa
sistemática operacional da Associação permanece até a presente data, só que hoje a
aprovação é feita apenas por seu corpo diretivo, e não mais pela Assembleia

11
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Geral. Com isso, a partir dessa alteração de procedimento, o livro passou a ser
disponibilizado ao público bem antes, geralmente no início do segundo trimestre do ano.
Os TLVs utilizados como base foram os disponibilizados no livro da ACGIH de 1976. E,
estabeleceu-se com diretriz que os limites da NR deveriam ser revisados a cada dois anos,
para evitar que ficassem defasados das pesquisas científicas desenvolvidas no período.
Os limites adotados pela ACGIH levaram em conta a jornada de trabalho de 40 horas/semana.
Contudo, de 1978 até a edição da Constituição de 1988, a jornada normal no Brasil era de 48
horas/semana. Diante desse fato, houve a necessidade de reduções de tais limites, a fim de
adequá-los à jornada existente em nosso país naquele período. Utilizou-se para essa redução
o critério de Brief & Scala, que já era indicado pela ACGIH para uso em jornadas diferentes
de 40 horas semanais.

Isso gerou uma redução nos limites estabelecidos pela ACGIH de 22%. Assim, por exemplo,
para o tolueno que possuía na época um TLV de 100 ppm na ACGIH, a NR 15 indicou um
limite de 78 ppm. Isso apenas para garantir sua adequação à jornada de trabalho brasileira.
Por esse motivo, algumas pessoas não muito familiarizadas com “Limites de Exposição”
diziam que o Brasil queria ser mais rigoroso que os Estados Unidos, esquecendo-se que a
ACGIH utilizava para o cálculo dos seus limites a jornada semanal de 40 horas.
Apenas os limites que tinham por base a jornada diária, como os ruídos, e os limites de
agentes químicos com efeito irritante sobre o organismo não sofreram nenhuma redução, pois
independiam da jornada semanal.

Outra grande preocupação do grupo técnico dizia respeito à possibilidade de avaliação dos
agentes ambientais, para os quais fossem estabelecidos limites. O Brasil não contava com
tecnologia em equipamentos de medição nem em metodologias analíticas para amostras
ambientais de agentes químicos em concentrações em níveis de PPM. E as dificuldades de
importação naquela época eram imensas.

Assim, apesar de a ACGIH ter naquele momento TLVs para mais de 500 substâncias químicas
e sete agentes físicos, só foram estabelecidos limites de tolerância para os agentes
ambientais que pelo menos a Fundacentro pudesse avaliar.

Muitas Normas Reguladoras (NRs) da Portaria nº 3.214/78 foram posteriormente atualizadas,


com base na evolução dos conhecimentos e da ciência. Infelizmente, a NR 15 sofreu apenas
algumas alterações pontuais, que não coibiram contudo, (e continuam, atualmente, a não
coibir) a exposição ocupacional às condições laborais inadmissíveis e inaceitáveis
cientificamente, prejudicando, com isso, a saúde dos trabalhadores.

A NR-15 é composta de uma parte geral, introdutória, com considerações que se aplicam a
todos os agentes ambientais, e por Anexos votados a regulamentação específica dos agentes
físicos (Anexos 1 a 10), agentes químicos (Anexos 11 a 13) e agentes biológicos (Anexo 14).

Na parte introdutória da NR 15, vale destacar o conceito de Limite de Tolerância, que, por
razões de estrutura legal, não pode ser colocado com sua definição técnica tradicional.
Inicialmente, o grupo havia colocado a definição técnica, estabelecendo que sua observância
não causaria dano à saúde da maioria dos trabalhadores. No entanto, ao

12
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

passar pela revisão final no Ministério do Trabalho, a área jurídica daquele órgão informou
que do texto não poderia constar “a maioria”, pois a lei deveria ser taxativa.
Outro problema nessa definição decorre da inclusão dos níveis mínimos de iluminamento.
Naquela época, a iluminação era diretamente tratada pela Higiene Ocupacional. E, apesar
dos níveis de iluminamento inferiores aos recomendados não causarem necessariamente
danos diretos à saúde, muito contribuíam para a ocorrência de acidentes do trabalho.

Os ambientes de trabalho na década de 70/80 apresentavam de forma geral, iluminação


totalmente deficiente. E como era fácil realizar a correção da iluminação, entendeu-se que, se
estivesse incluída no conceito da NR 15, ao se constatarem níveis abaixo dos recomendados,
seria obrigatória a adoção de medidas de controle, o que colaboraria para a preservação da
vida dos trabalhadores.

E daí surgiu na definição dos limites de tolerância a expressão “concentração ou intensidade


máxima ou mínima”. O conceito de intensidade “mínima” era restrito aos níveis de
iluminamento.

Esse texto foi baseado na história da NR 15, que foi publicada na íntegra pela ABHO –
Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais, na edição de setembro de 2010, estando
disponível na íntegra para download no site da ABHO: www.abho.org.br. No texto dessa
apostila, foram atualizados alguns dados, pois essa história foi publicada em 2010, e de lá pra
cá, algumas NRs foram criadas, e outras tantas foram atualizadas.

2.4.3 A INSALUBRIDADE E SEUS AGENTES INSALUBRES

2.4.3.1 Introdução

A palavra insalubre vem do latim e significa tudo aquilo que origina doença, sendo que a
insalubridade é a qualidade de insalubre. Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa
a palavra insalubre significa “que não é bom para a saúde, que causa doença, capaz de
prejudicar de alguma forma a saúde do trabalhador”.

A insalubridade é definida pela legislação em função do tempo de exposição ao agente nocivo,


levando em conta ainda o tipo de atividade desenvolvida pelo empregado no curso de sua
jornada de trabalho, observados os limites de tolerância, as taxas de metabolismo e
respectivos tempos de exposição.

A questão da preocupação da qualidade do ambiente de trabalho remonta a antiguidade,


quando no século IV a.C Hipócrates reconhece e descreve a contaminação por chumbo nas
atividades dos mineiros. Mas foi no século no século XVIII que o médico italiano Bernardino
Ramazzini, que é considerado o pai da medicina do trabalho, publicou em sua obra- prima
“De Morbis Artificum Diatriba” no qual faz vários relatos sobre doenças acometidas
pelos trabalhadores, identificando cerca de 54 doenças ocupacionais.

13
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Em 1932, houve a primeira abordagem da questão da insalubridade no Brasil, através do


Decreto nº 21.417, de 17 de Maio de 1932, no qual se referia à proibição do trabalho de
mulheres em serviços perigosos e insalubres.

Já em 1943, com o advento da CLT, foi determinado a proibição de menores e mulheres


trabalharem em atividades insalubres.

Com a publicação da Portaria MTB nº 3214, de 08 de Junho de 1978, foi criada também a NR
15 e seus anexos. Na verdade esses anexos da NR 15 são cópias da ACGIH desde 1978,
para jornadas semanais de trabalho de até 48h00min, não sofrendo atualizações em seus
limites de tolerância, exceção para o manganês e o benzeno. Veja a incoerência, uma norma
do MTE se referir a jornada semanal de trabalho de até 48h00min, sendo que no Brasil essa
jornada é de 44h00min.

A questão da insalubridade no Brasil é altamente complexa, pois o pagamento desse adicional


é uma questão ultrapassada, pois o trabalhador vende sua saúde à prestação ao empregador,
sendo que em longo prazo os problemas aparecerão, e o INSS ficará com os encargos desse
trabalhador que poderá ficar inválido ou om limitações para o trabalho. Os agentes insalubres
são aqueles prejudiciais ao trabalhador em longo prazo, minam sua saúde devido à exposição
continuada, culminando nas doenças profissionais ou do trabalho. Cosmo Palácio, técnico
em segurança do trabalho diz:

Não Podemos falar em ética na segurança e saúde do trabalho enquanto existir uma pessoa que
seja que acredite que o adicional de insalubridade é algo lícito, Vida e saúde não podem ter preço.2

Realmente não podemos concordar com o referido adicional. A única justificativa plausível
para ainda existir o adicional de insalubridade é para forçar as empresas a investirem em
segurança, pois do contrário, terão seus encargos aumentados. A questão se tornou quase
que puramente financeira, sem discussão do que realmente importa que é a saúde do
trabalhador. O empregador está preocupado em diminuir seus custos e não sofrer qualquer
multa ou outra forma de punição, e não com a saúde e segurança dos seus empregados.
Infelizmente essa é a realidade, vedando qualquer possibilidade de discussão deste
vergonhoso adicional, que é único no mundo.

Até que esse tipo de adicional seja eliminado da legislação brasileira, além da proibição de
horas extras nesses ambientes, deveria ser aumentado o tempo de descanso dos
trabalhadores que executam suas atividades em ambientes insalubres. Aumentando o tempo
de descanso, diminui-se o tempo de exposição, preservando a saúde do trabalhador, sem
prejuízo nos seus vencimentos.

O conceito legal da insalubridade está nos artigos 189 e 190 da CLT:

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza,
condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima
dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente

2
Soluções em Prevenção. Disponível em:
<http://www.cpsol.com.br/website/index.asp?novoserver1&start=1&endereco_site=www.cpsol.com.br&par=&cup
om=&email=>.Acesso em: 02 dez. 2013

14
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

e do tempo de exposição aos seus efeitos.


Art. 190 - O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e
adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos
agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses
agentes.

Veja que de acordo com o artigo 189 da CLT, para ser considerado um agente insalubre, para
efeito do recebimento do adicional de insalubridade, o trabalhador deverá estar exposto a
algum agente nocivo a saúde, que estejam acima dos limites de tolerância que são pré-
definidos levando em consideração a natureza, intensidade e tempo de exposição aos seus
efeitos.

Já o artigo 190 determina que o MTE aprovará como será abordado a questão da
insalubridade, sendo esse artigo o embasamento para a criação da NR 15, que estudaremos
neste capítulo.

Atualmente, a NR 15 possui 14 anexos, sendo que o anexo 4 que considerava a iluminação


como agente insalubre foi revogado pela Portaria nº 3751, de 23 de Novembro de 1990, que
passou a considerar a questão da iluminação em um ambiente de trabalho, ser tratada como
um agente de conforto, sendo incluído na NR 17 – Ergonomia.

Para ser considerado um agente insalubre, ensejando ao trabalhador o direito d recebimento


do adicional de insalubridade. Sobre esse assunto, o TST se pronunciou através da Súmula
nº 448 SBDI-1/TST que diz:

I - Não basta a constatação da insalubridade por meio de laudo pericial para que o empregado
tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessária a classificação da atividade insalubre na
relação oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho.

Então, por mais que um agente seja prejudicial ao trabalhador, se ele não constar nos anexos
da NR 15, o trabalhador não terá direito ao recebimento do adicional de insalubridade. Isso
não exime a empresa de tomar medidas para a proteção da saúde do trabalhador.

Outro fator importante a ser observado nos estudos dos anexos da NR 15, são as Normas de
Higiene Ocupacional elaboradas pela Fundacentro, disponíveis no site
www.fundacentro.gov.br. Essas normas fornecem maiores informações sobre como deve ser
os procedimentos para a medição dos agentes insalubres, já que o conteúdo dos anexos da
NR 15 são muito pobres em subsídios para nortear os profissionais de saúde e segurança em
relação aos procedimentos de medição.

2.4.4 Os Agentes Químicos e os Limites de Tolerância da NR 15.

O objetivo principal deste tópico é o de conhecer a legislação brasileira e aprender um pouco


mais sobre os limites de tolerância para agentes químicos previsto em nossa legislação.

15
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Os Limites de Exposição, que no Brasil são conhecidos como Limites de Tolerância (LT),
previstos na NR 15, referem-se às concentrações ou intensidades dos agentes ambientais
nas quais se acredita que a maioria dos trabalhadores possa estar exposta, repetidamente,
dia após dia, sem sofrer efeitos adversos à saúde.

É importante ressaltar que, devido à susceptibilidade individual, uma pequena porcentagem


de trabalhadores pode apresentar desconforto com relação a certas concentrações ou
intensidades inferiores aos limites de exposição. Portanto, os limites de exposição são
recomendações e devem ser utilizados como guias nas práticas de avaliação, não devendo
ser considerados uma linha divisória entre concentrações seguras e perigosas. O correto é se
manter as concentrações ou as intensidades de qualquer agente no nível mais baixo possível,
principalmente abaixo no nível de ação, que para agentes químicos corresponde a metade do
Limite de Tolerância previsto na NR 9 – PPRA.

Fatores tais como carga, intensidade do trabalho, condições ambientais, frequência


respiratória e cardíaca também devem ser considerados, pois podem conduzir a um aumento
na quantidade do produto químico absorvido quando se avalia os riscos para os trabalhadores.

2.4.5 Limites de tolerância – NR 15

A NR 15 estabelece, em seus Anexos 11, 12, 13 e 13A, os valores limites da concentração


do agente químico para os quais a maioria dos trabalhadores poderia permanecer exposta 8
horas diárias e 48 horas semanais durante toda a vida laboral, sem apresentar nenhum
sintoma de doenças.

Não é a intenção aqui copiar os anexos da NR 15, mas apenas mostrar alguns tópicos
principais. Para demais informações, é recomendado uma leitura completa da NR 15, além
de outras publicações, principalmente da Fundacentro.

Os valores apresentados especificam valores calculados em função da exposição média no


tempo (média ponderada com um valor máximo especificado), valores teto, asfixiantes
simples e indicação de absorção também pela pele.

2.4.6 Limite de tolerância média ponderada

Refere-se à concentração média ponderada presente durante a jornada de trabalho. Permite


que a concentração ultrapasse o limite durante um determinado período, desde que seja
compensado pela exposição a valores menores, determinando que, na média, o valor fique
abaixo do limite de tolerância.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Onde: C1, C2, ..., Cn = concentração em cada exposição (ppm ou mg/m³) t1, t2, ..., tn = tempo
de duração da exposição ao dado nível (min ou hora) tempo total = tempo de duração da
jornada (min ou hora), ou seja, t1 + t2 + ...+ tn

Entretanto, esses valores acima do limite de tolerância não deverão ultrapassar, em nenhum
momento da jornada, um valor denominado de valor máximo.

O valor máximo é calculado pela seguinte expressão (NR 15): LT * FD


Onde: LT = limite de tolerância para o agente químico, segundo o Quadro 1 do Anexo 11 da
NR 15.

FD = fator de desvio, segundo definido no Quadro 2 do Anexo 11 da NR 15.

Uma exposição que tenha um valor que ultrapasse o valor máximo será considerada
situação de risco grave e iminente.

O Quadro 1 foi extraído do Anexo 11 da NR 15, que apresenta uma listagem de produtos
químicos e seus limites de tolerância.

17
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Figura 1: Limites de tolerância – Quadro 1 da NR 15 - Parcial

O Quadro 2 da NR 15 no seu Anexo 11, apresenta um valor denominado fator de desvio em


função do valor do limite de tolerância.

Figura 2: Fator de Desvio – Quadro 2 da NR 15

Vamos partir para um exemplo, para fixação dos conhecimentos:

Calcular o valor máximo que pode atingir uma determinada exposição ao ácido fórmico (LT
= 4 ppm segundo Quadro 1 da NR 15 em seu Anexo 11).

Se não tem Valor Teto, então devemos calcular o Valor Máximo.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Valor máximo = LT × FD

Valor máximo = 4 ppm * 2

Valor máximo = 8 ppm

2.4.7 Limite de tolerância valor teto

Quando no Quadro 1, do Anexo 11 da NR 15, na tabela dos limites de tolerância, a substância


tem assinalada a coluna Valor Teto, esse valor indica a concentração máxima que não deve
ser ultrapassada em momento nenhum da jornada. Para as substâncias com Valor Teto, esse
valor será o limite de tolerância, e não há o cálculo do Valor Máximo.

Uma exposição que tenha um valor que ultrapasse o valor teto será considerada situação de
risco grave e iminente.

Na prática, quando os valores ficarem um pouco abaixo do valor teto, medidas devem ser
tomadas para controlar a exposição, não só pela imprecisão do método de avaliação, mas
principalmente para resguardar a saúde dos trabalhadores.

2.4.8 Substâncias com absorção pela pele

Podemos observar no Quadro 1, do Anexo 11 da NR 15 que algumas substâncias, além do


limite de tolerância, apresentam assinalada a coluna absorção pela pele. Para essas
substâncias não basta somente o controle da concentração do agente, mas também medidas
de proteção especiais para evitar a absorção através da pele, principalmente as mãos, que
na maioria das vezes é a parte do corpo possuei o maior contato com o agente.

2.4.9 Asfixiantes simples

Os agentes caracterizados comoAsfixiantes Simples são gases não-tóxicos que, quando


presentes em um ambiente em altas concentrações, produzem uma redução da concentração
de oxigênio por deslocamento ou diluição. Para a exposição a essas substâncias é essencial
manter a concentração de oxigênio dentro de padrões mínimos aceitáveis. A NR 15, em seu
Anexo 11, indica que “Todos os valores fixados no Quadro nº 1 como “Asfixiantes Simples”
determinam que nos ambientes de trabalho, em presença destas substâncias, a concentração
mínima de oxigênio deverá ser 18 (dezoito) por cento em volume”.
As situações nas quais a concentração de oxigênio estiver abaixo deste valor serão
consideradas de risco grave e iminente.

Algumas normas, como a NR 33, e outras normas internacionais como a ACGIH, consideram
atmosfera com deficiência de oxigênio aquela onde a concentração de oxigênio por volume é
menor de 19.5 % de O2.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Pelo aspecto prevencionista da profissão, os técnicos em segurança do trabalho devem


considerar como indicativo de deficiência de oxigênio concentrações de 19,5% por cento ou
inferior.

Os valores referem-se às exposições em condições normais de pressão, a nível do mar. Para


pressões mais elevadas ou mais baixas do que a pressão normal, estudos para avaliar novos
limites devem ser realizados.

Muitos asfixiantes também podem apresentar risco de explosão e isso deve ser levado em
conta para limitar a concentração dos asfixiantes.

2.4.10 Limites de tolerância para poeiras minerais

A NR 15 em seu Anexo 12 apresenta os limites de tolerância para as poeiras minerais.

2.4.10.1 Asbesto ou amianto

No Anexo 12 da NR 15, o limite de tolerância para fibras respiráveis de asbesto crisotila é de


2,0 f/cm³ (fibras por centímetro cúbico) e especifica: entende-se por “fibras respiráveis de
asbesto” aquelas com diâmetro inferior a 3 micrômetros, comprimento maior que 5
micrômetros e relação entre comprimento e diâmetro superior a 3:1.

2.4.10.2 Sílica livre cristalizada

O limite de tolerância para poeira respirável, expresso em mg/m³ (miligramas por metro
cúbico), é dado pela seguinte fórmula:

O limite de tolerância para poeira total (respirável e não respirável), expresso em mg/m³ é
dado pela seguinte fórmula:

Onde: “quartzo” significa sílica livre cristalizada (%SiO2)

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

2.4.10.3 Manganês

Para o Manganês, são previstos 2 limites de tolerância para 08 horas de exposição por
jornada de trabalho. 1 mg/m³ para Fumo de Manganês e 5 mg/m³ para Poeira de Manganês.

2.4.10.4 Anexo 13 – Agentes Químicos

A NR 15 traz, em seu Anexo 13, graus de insalubridade para operações que envolvam
atividades com os seguintes produtos químicos: arsênico, carvão, chumbo, cromo, fósforo,
hidrocarbonetos e outros compostos de carbono, mercúrio e silicatos, referindo-se ainda as
substâncias cancerígenas.

2.4.10.5 Anexo 13 A– Benzeno

O Benzeno é um agente comprovadamente cancerígeno, tendo um anexo exclusivo para sua


prevenção. O Benzeno não possui Limite de Tolerância e sim um Valor de Referência
Tecnológico, pois qualquer exposição ao Benzeno é considerada cancerígena.

Outra particularidade do Benzeno é que ele possui o seu próprio programa de prevenção,
com o nome de Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno - PPEOB.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

2.5 Agentes Químicos como Fator de Periculosidade

Os agentes químicos são designados como Produtos Especiais ou Produtos Químicos


Perigosos e são tratados nas organizações pela Segurança do Trabalho e Empresarial
(brigadas de emergência), conforme circunstâncias.

Casos graves de incêndios e explosões são bem conhecidos, como o desastre ocorrido pela
liberação de Metil-Isocianato que ocorreu em Bhopal (Índia) no ano de 1984, que resultou em
um número de mortos superior a 2000 e cerca de 20.000 atingidos. Outro exemplo, foi o
ocorrido em 1976 em Seveso (Itália) onde houve a liberação acidental de dioxina, atingindo
30 pessoas e provocou a evacuação de cerca de 22.000 habitantes. A explosão de
ciclohexano em Flixborough (Grã Bretanha) vitimou 28 pessoas e atingiu 89 habitantes.

As causas destas catástrofes sempre se relacionam com eventos incontroláveis, envolvendo


fogo, explosão ou liberação de produtos tóxicos que resultaram em doenças, mortes, danos
ao meio ambiente e efeitos econômicos incalculáveis.
Além do aspecto insalubre, tratado pela Higiene Ocupacional com foco na prevenção de
doenças, os agentes químicos também são agentes periculosos e podem causar acidentes
típicos com lesões imediatas aos trabalhadores e outros de tipos de eventos de maior monta
que também impactam as comunidades, o meio ambiente e os recursos naturais (grandes
vazamentos, incêndios e explosões).

A NBR 7502 da ABNT agrupa as substâncias químicas, como produtos químicos perigosos,
em 9 classes:

Classe 1 – Explosivos (pólvora, dinamite, cordel detonante)


Classe 2 – Gases comprimidos, liquefeitos, dissolvidos sob pressão ou altamente refrigerados
(GLP, oxigênio, amônia, acetileno)
Classe 3 – Líquidos inflamáveis (gasolina, álcool, querosene)
Classe 4 – Sólidos inflamáveis (carvão, sódio metálico, enxofre)
Classe 5 – Substâncias oxidantes e Peróxidos orgânicos (água oxigenada, nitrato de amônia)
Classe 6 – Substâncias tóxicas, substâncias infectantes (acetato de chumbo, acetona, lixo
hospitalar)
Classe 7 – Substâncias radioativas (urânio, césio, cobalto)
Classe 8 – Corrosivos (ácido sulfúrico, ácido perclórico)
Classe 9 – Substâncias perigosas diversas (produtos ou misturas não enquadradas nas
classes anteriores)

A palavra perigoso é originária do latim – periculosu –significa uma situação em que há perigo,
que causa ameaça ou ameaça perigo, situação em que pode ocorrer risco de vida. Daí a
origem do adicional de periculosidade regulamentado pela NR-16 da Portaria n.3.214/78 do
Ministério do Trabalho e Emprego.

Do ponto de vista legal, o artigo 193 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, considera
atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo então
Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho,

22
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

impliquem em contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco


acentuado.

Além dos inflamáveis e explosivos, trabalhos envolvendo energia elétrica, radiações


ionizantes, segurança pessoal e patrimonial, atividade de motociclista, também se enquadram
no rol das atividades e operações periculosas, passíveis de percepção do adicional de
periculosidade.

O adicional de periculosidade é uma compensação financeira devida ao trabalhador que, em


determinadas circunstâncias, desenvolveu ou desenvolve suas atividades sob condições
perigosas, ou seja, risco de vida. Aqui não se cogita o risco de contrair uma doença decorrente
das condições insalubres em que o trabalho é realizado.

Evidentemente que existem outros agentes no mundo do trabalho tão ou mais perigosos,
entretanto não são amparados legalmente para efeitos de direito à percepção do adicional de
periculosidade. O exercício do trabalho em condições de periculosidade assegura ao
trabalhador a percepção de adicional de 30%, incidente sobre o salário, sem os acréscimos
resultantes de gratificações, prêmios ou participação nos lucros da empresa.

Quando a questão é insalubridade a regulamentação legal é embasada no artigo 192 da CLT


e os adicionais (10, 20 ou 40%) incidem sobre o salário mínimo. Risco de se contrair uma
doença do trabalho ou profissional em função da exposição a agentes ambientais físicos,
químicos ou biológicos.

Não faz parte dos objetivos de aprendizagem desta unidade abordar os agentes químicos
como agentes de insalubridade e/ou periculosidade, por isso não aprofundaremos no assunto.
No entanto, recomendamos aos interessados consultar o Decreto Federal n. 96044, NBR
7.501 da ABNT, NR 15, NR 16 da Portaria n. 3.214/78, Decreto n. 93.412/86, Portaria n.
3.393/87 do Ministério do Trabalho e Emprego.

2.6 Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos - FISPQ

Para entender melhor o que é a FISPQ, segue algumas perguntas e respostas, para
esclarecer a maioria das dúvidas sobre este documento!

O que significa FISPQ?

FISPQ significa "Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico".

O que é a FISPQ?

A FISPQ é uma ficha de preenchimento obrigatório para todos os ramos da atividade


econômica em que são utilizados produtos químicos.

Esta ficha exige o preenchimento de informações sobre segurança, proteção à saúde e ao


meio ambiente de forma a orientar a todas as partes envolvidas com o trabalho, transporte e
manipulação do produto.

23
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Em alguns países, essa ficha é chamada de Material Safety Data Sheet - MSDS.

Qual o objetivo da FISPQ?

A FISPQ tem como objetivo transferir informações essenciais sobre riscos do fornecedor de
um produto químico ao usuário desse produto. Não menos importante é sua função de
transferir essas informações para instituições e outras partes envolvidas com os produtos
químicos.

Quem é o responsável pela normatização da FISPQ?

A norma NBR 14725 foi desenvolvida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
com base na ISO 11014:1994 e detalha todo o conteúdo da Ficha de Informação de
Segurança de Produto Químico (FISPQ).

A FISPQ entra em vigor :

Em 28 de janeiro de 2002 a apresentação da FISPQ passa a ser obrigatória.

Quem é o responsável pela fiscalização da FISPQ?

O Ministério do Trabalho fiscalizará com base no Decreto 2657/98 e no Código de Defesa


do Consumidor.

Haverá sanções por falta da FISPQ?

A ausência do preenchimento da FISPQ acarretará em sanções, baseada no Decreto


2657/98 e no Código de Defesa do Consumidor, Artigos 17 e 39 inciso VIII.

Existe confidencialidade nas informações apresentadas?

As informações apresentadas em uma FISPQ não são confidenciais, porém, no Anexo A, que
trata das instruções para elaboração e preenchimento da FISPQ, há orientações de forma a
apresentar as informações confidenciais sobre ingredientes, de maneira diversa das
informações não confidenciais.

Quais são as responsabilidades do fornecedor, no preenchimento da FISPQ ?

O fornecedor de uma FISPQ é responsável por disponibilizar aos usuários a ficha completa,
onde serão apresentadas as informações mais relevantes de segurança, saúde e meio
ambiente.

Também é obrigação do fornecedor a constante atualização da FISPQ e a disponibilização


da edição mais atual ao usuário/receptor.

De acordo com a legislação, deve-se entender por fornecedor tanto os fabricantes como os
importadores e os distribuidores de produtos químicos.

Quais são as responsabilidades do usuário/receptor da FISPQ?

Os usuários são responsáveis por agir de acordo com a avaliação de riscos, por tomar as

24
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

devidas precauções em situações de trabalho e por manter informados, os trabalhadores,


quanto aos perigos relevantes em seu local pessoal de trabalho.

Quais são as informações obrigatórias para o preenchimento de uma FISPQ?

Todas as informações relevantes para cada um dos títulos-padrão são obrigatórias. Se a


ficha não apresentar a informação, o motivo deverá ser explicitado.

É importante lembrar que não são permitidos espaços em branco.

Quais são os títulos-padrão?

 Identificação do produto e da empresa


 Composição e informações sobre os ingredientes
 Identificação de perigos
 Medidas de primeiros socorros
 Medidas de combate a incêndio
 Medidas de controle para derramamento ou vazamento
 Manuseio e armazenamento
 Controle de exposição e proteção individual
 Propriedades físico-químicas
 Estabilidade e reatividade
 Informações toxicológicas
 Informações ecológicas
 Considerações sobre tratamento e disposição
 Informações sobre transporte
 Regulamentações
 Outras informações

25
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

3 VENTILAÇÃO INDUSTRIAL

3.1 Introdução

A importância do ar para o homem é por demais conhecida, sob o aspecto da necessidade


de oxigênio para o metabolismo.

Por outro lado, a movimentação de ar natural, isto é, através dos ventos, é responsável pela
troca de temperatura e umidade que sentimos diariamente, dependendo do clima da região.
A movimentação do ar por meios não naturais constitui-se no principal objetivo dos
equipamentos de ventilação, ar condicionado e aquecimento, transmitindo ou absorvendo
energia do ambiente, ou mesmo transportando material, atuando num padrão de grande
eficiência sempre que utilizado em equipamentos adequadamente projetados. A forma pela
qual se processa a transferência de energia e que da ao ar capacidade de desempenhar
determinada função. A velocidade, a pressão, a temperatura e a umidade envolvem mudanças
nas condições ambientais, tornando-as propícias ao bem-estar do trabalhador.

A ventilação industrial tem sido e continua sendo a principal medida de controle efetiva para
ambientes de trabalho prejudiciais ao ser humano. No campo da higiene do trabalho, a
ventilação tem a finalidade de evitar a dispersão de contaminantes no ambiente industrial,
bem como diluir concentrações de gases, vapores e promover conforto térmico ao homem.
Assim sendo, a ventilação é um método para se evitarem doenças profissionais oriundas da
concentração de pó em suspensão no ar, gases tóxicos ou venenosos, vapores, etc. O
controle adequado da poluição do ar tem início com uma adequada ventilação das operações
e processos industriais (máquinas, tornos, equipamentos, etc.), seguindo-se uma escolha
conveniente de um coletor dos poluentes (filtros, ciclones, etc.). Todavia, ao se aplicar a
ventilação numa industria, é preciso verificar antes, as condições das máquinas,
equipamentos, bem como o processo existente, a fim de se obter a melhor eficiência na
ventilação. A modernização das industrias, Isto é, mecanização e/ou automação, além de
aumentar a produção melhora sensivelmente a higiene do trabalho com relação a poeiras,
gases, etc.

3.2 A Ventilação como Conforto Humano

A ventilação de residências, espaços comerciais e escritórios é necessária para controlar


odores corporais, fumaça de cigarro, odores de cozinha e outras impurezas odoríficas, e não
para manter a quantidade necessária de oxigênio ou remover o Dióxido de carbono produzido
pela respiração. Isso é verdadeiro, pois a construção padrão de edifícios para ocupação
humana não pode prevenir a infiltração ou a saída de quantidades de ar, mesmo quando todas
as janelas, portas e aberturas no forro estiverem fechadas. Dados publica dos sobre as
quantidades de ar, normalmente disponíveis pela ventilação natural ou infiltração, indicam que
a sufocação por deficiência de oxigênio ou excesso de gás carbônico, como resultantes da
respiração humana, é potencialmente impossível em construções não subterrâneas

Classificação dos sistemas de ventilação

26
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Para a classificação dos sistemas de ventilação, é preciso levar em conta a finalidade a que
se destinam. Dessa forma, os objetivos da ventilação são:

a) Ventilação para manutenção do conforto térmico

homem.

b) Ventilação para manutenção da saúde e segurança do homem

homem, até que baixe a níveis compatíveis com a saúde.

faixas de inflamabilidade ou de explosividade.

c) Ventilação para conservação de materiais e equipamentos (por imposição tecnológica)

o Reduzir aquecimento de motores elétricos, máquinas, etc.

o Isolar cabines elétricas, não permitindo entrada de vapores, gases ou poeiras inflamáveis,
com a finalidade de se evitar explosão, por meio de faíscas elétricas.

Manter produtos industriais em armazéns ventilados, com o fim de se evitar deterioração.

Tipos de ventilação

Os tipos de ventilação, empregados para qualquer finalidade, são assim classificados:

a) Ventilação natural. b) Ventilação geral c) Ventilação geral para conforto térmico.

3.3 Ventilação geral para conforto térmico

No campo da ventilação industrial e da não industrial, a ventilação destinada à de conforto


térmico é das mais importantes e possui tal extensão que constitui um capitulo especial. Neste
tópico serão abordados apenas conceitos básicos sobre o assunto e serão fornecidos alguns
dados preliminares para uma iniciação e elaboração de projetos, não se entrando, no entanto,
nos aspectos de condicionamento de ar. Em outras palavras, serão fornecidos alguns dados
de conforto ambiental, dados para cálculos de trocas (renovação), reposição e recirculação
de ar em ambientes, isto é, necessidades de ventilação conforme ambientes ocupados pelo
homem, bem como diminuição de fumos e odores por insuflamento de ar.

Temperaturas extremamente baixas não ocorrem com freqüência no Brasil, com exceção de
alguns casos esporádicos, em algumas localidades no sul do país. Dessa forma, não nos
referiremos, em parte alguma do texto, a aquecimento de ar para promoção de conforto
térmico, uma vez que a simples utilização da vestimenta adequada soluciona os problemas
usualmente encontrados.

Calor e conforto térmico

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Aspectos gerais: o homem é um ser tropical por excelência, possuindo uma capacidade
bastante desenvolvida de: transpiração. Um grande numero de indivíduos está, parte do
tempo, exposto a temperatura, mais altas que a temperatura ambiente principalmente em seu
ambiente ocupacional, onde uma serie de fatores climáticos e não climáticos conduzem a um
ganho ou a uma menor dissipação de calor pelo organismo. A esse tipo de estímulo o
organismo responde fisiologicanente, refletindo a severidade da exposição ao calor, para cujo
equacionamento completo e adequado é necessário medir quantitativamente a ação do calor,
bem como a resposta do organismo,

correlacionando-as; essa é uma tarefa difícil em função de vários para metros intervenientes,
tais como temperatura do ar, umidade relativa, calor radiante, velocidade do ar, tipo de
trabalho exercido, aclimatação, roupa utilizada e outros.

Dessa forma, torna-se necessária a fixação de critérios que permitem estabelecer os limites
de exposição ao calor em diferentes tipos de trabalho e a redução da exposição para
respostas excessivas do organismo. Os critérios assim desenvolvidos devem levar em conta
não só a resposta fisiológica, mas também a psicológica, a produtividade e a ocorrência de
desordens devido ao calor.

3.4 Ventilação Geral Diluidora

A ventilação geral diluídora é o método de insuflar ar em um ambiente ocupacional, de exaurir


ar desse ambiente, ou ambos, a fim de promover uma redução na concentração de poluentes
nocivos. Essa redução ocorre pelo fato de que, ao introduzirmos ar limpo ou não poluído em
um ambiente contendo certa massa de determinado poluente, faremos com que essa massa
seja dispersada ou diluída em um volume maior de ar, reduzindo, portanto, a concentração
desses poluentes. A primeira observação a ser feita é a de que esse método de ventilação
não impede a emissão dos poluentes para o ambiente de trabalho, mas simplesmente os dilui.

A alternativa a este tipo de ventilação é a ventilação local exaustora (será vista no próximo
capítulo) que capta os poluentes junto à fonte de emissão antes que sejam emitidos ao
ambiente ocupacional. Este ultimo método e sempre preferível à ventilação geral diluídora,
especialmente quando o objetivo do sistema de ventilação é a proteção da saúde do
trabalhador.

Os objetivos de um sistema de ventilação geral diluídora podem ser:

de um certo limite de tolerância.

inflamáveis abaixo dos limites de explosividade e inflamabilidade.

ambiente.

(impostas por motivos tecnológicos).

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Em casos que não é possível ou não é viável a utilização de ventilação local exaustora, a
ventilação geral diluídora pode ser usada.

Utilização da ventilação geral diluídora

A aplicação, com sucesso, da ventilação geral diluídora depende das seguintes condições

o não deve estar presente em quantidade que excede à que pode ser
diluída com um adequado volume de ar.

para assegurar que os trabalhadores não estarão expostos a concentrações médias


superiores ao VLT (Valor do Limite de Tolerância)

A ventilação geral diluídora, além de não interferir com as operações e processos industriais,
é mais vantajosa que a ventilação local exaustora, nos locais de trabalho sujeitos a
modificações constantes e quando as fontes geradoras de poluentes se encontrarem
distribuídas no local de trabalho, mas, pode não ser vantajosa, pelo elevado custo de
operação, sobretudo quando há necessidade de aquecimento do ar, nos meses de inverno;
contudo, seu custo de instalação é relativamente baixo quando comparado com o da
ventilação local exaustora. É conveniente a instalação de sistemas de ventilação geral
diluídora quando há interesse na movimentação de grandes volumes de ar na estação quente.

Diversas razoes levam a não utilização freqüente da ventilação geral diluídora para poeiras e
fumos. A quantidade de material gerado é usualmente muito grande, e sua dissipação pelo
ambiente é desaconselhavel. Além disso, o material pode ser muito toxico, requerendo,
portanto, uma excessiva quantidade de ar de diluição.

A ventilação local exaustora tem como objetivo principal captar os poluentes de uma fonte
(gases, vapores ou poeiras toxicas) antes que os mesmos se dispersem no ar do ambiente
de trabalho, ou seja, antes que atinjam a zona de respiração do trabalhador. A ventilação de
operações, processos e equipamentos, dos quais emanam poluentes para o ambiente, é uma
importante medida de controle de riscos.

De forma indireta, a ventilação local exaustora também influi no bem-estar, na eficiência e na


segurança do trabalhador, por exemplo, retirando do ambiente uma parcela do calor liberado
por fontes quentes que eventualmente existam. Também no que se refere ao controle da
poluição do ar da comunidade, a ventilação local exaustora tem papel importante. A fim de
que os poluentes emitidos por uma fonte possam ser tratados em um equipamento de controle
de poluentes (filtros, lavadoras, etc.), eles tem de ser captados e conduzidos a esses
equipamentos, e isso, em grande numero de casos, é realizado por esse sistema de
ventilação.

Basicamente, um esquema de instalação de um sistema de ventilação local exaustora é o


seguinte.

29
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Figura 5. Esquema de um sistema de ventilação local exaustora.

3.4.1 Princípios de exaustão

Um sistema de ventilação local exaustora deve ser projetada dentro das princípios de
engenharia, ou seja, de maneira a se obter maior eficiência com o menor custo possível. Por
outro lado devemos lembrar sempre que, na maioria das casos, o objetivo desse sistema é a
proteção da saúde do homem; assim, este fator deve ser considerado em primeiro lugar, e
todos os demais devem estar condicionados a ele.

Muitas vezes, a instalação de um sistema de ventilação local exaustara, embora bem


dimensionada, pode apresentar falhas que a tornem inoperante, pela não observância de
regras básicas na captação de poluentes na fonte.

O enclausuramento de operações ou processos, a direção do fluxo de ar, entre outros fatores,


são condições básicas para uma boa captação e exausto dos poluentes

A ACGIH possui padrões de exausto da maioria dos processos e operações industriais, com
forma e dimensões normalizadas.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

3.4.2 DUTOS

UMa linha de dutos deverá ser instalada de acordo com o layout geral da fábrica, interligando
captores ( coifas) ao sistema de coleta. Esta linha deverá ser do menor comprimento possível,

a fim de minimizar a perda de carga, consumindo dessa forma menos energia. Isto significa
que o sistema de coleta constituído por um exaustor-coletor deverá ser instalado o mais
próximo possível dos pontos de captação ( coifas ou captores).

Para o dimensionamento de dutos e captores, bem como das singularidades ao longo deles,
o projetista deverá levar em consideração as vazões necessárias para cada captor,
velocidade de transporte recomendada para o trecho principal dos dutos e as devidas perdas
de carga, a fim de determinar a potência do motor e ventilador, bem como das secções dos
dutos.

Para tanto, a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) e demais


literaturas a respeito possuem toda a informação necessária para o cálculo das perdas de
carga, expressas em milímetros ou polegadas de coluna de água. Por conveniência, podem
ser adotados:

É desaconselhavel o uso de tubos de secção retangular para sistemas de exaustão, por


apresentarem cantos vivo, que facilitam a deposição de poeira, e que exigem, portanto, motor
de maior potência para manter a eficiência necessária; Alan disso, haverá um maior desgaste
dos dutos, implicando em freqüentes manutenções. É interessante a adoção de valores fixos
(por exemplo, raio de curvatura r = 2d), o que significa que todas as curvaturas serão
semelhantes, dando um aspecto arquitetônico a instalação, mesmo com pequeno acréscimo
de perda de carga.

3.4.3 Ventiladores

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

São os responsáveis pelo fornecimento de energia ao ar, com a finalidade de movimenta-lo,


quer seja em ambientes quer seja em sistema de dutos.

A função básica de um ventilador é, pois, mover uma dada quantidade de ar por um sistema
de ventilação a ele conectado.

O princípio de operação dos ventiladores é semelhante ao das bombas centrífugas, como


alertamos em capítulo anterior. Ventiladores e bombas centrífugas são máquinas de fluxo
motoras que transferem energia a gases e líquidos, respectivamente, através da ação de um
rotor. Sistemas de ventilação e de bombeamento têm a funçao de conduzir os gases e os
líquidos entre dois ambientes, reservatórios, equipamentos, dispositivos, etc. Evidentemente,
a natureza de cada fluido de trabalho e as funções das máquinas fazem com que alguns
processos e fenômenos sejam específicos da movimentação dos gases; outros, da
movimentação de líquidos. Por exemplo, há ventiladores que prescidem de sistemas de
ventilação: são aqueles utilizados na movimentação de ar ambiente (ventiladores de coluna,
de teto, etc). As bombas, mesmo quando utilizadas para movimentar uma massa de líquido
confinada em um reservatório, o fazem mais eficientemente quando conectadas a tubulações
de sucção e/ou recalque (os misturadores são os dispositivos utilizados para movimentar
líquidos confinados). Outros exemplos: a cavitação é um fenômeno que deve ser considerado
quando bombas e sistemas de bombeamento são selecionados e calculados; a variação de
densidade é um processo a ser analizado quando um gás recebe energia em um ventilador
ou escoa em um sistema de ventilação.

Sistemas de ventilação aplicados no condicionamento de ar (refrigeração, aquecimento,


exaustão, filtragem, renovação, diluição de poluentes, etc) em ambientes residenciais,
comerciais e industriais constituem uma grande parcela das unidades em uso. Os
ventiladores utilizados nestas instalações são, geralmente, de baixa pressão, isto é, não
transferem energia suficiente para impor uma variação apreciável de densidade do de
trabalho do fluido de trabalho (o gás). Além disto, o escoamento nestes sistemas tem
velocidade relativamente baixa. Consequentemente, o escoamento do ar (e outros gases)
pode ser tratado como o escoamento de um fluido incompressível, o que facilita sobremaneira
a análise e a torna similar à do escoamento de líquidos em tubulações (que já analisamos em
capítulos anteriores). Assim, em nosso estudo dos ventiladores e sistemas de ventilação,
vamos precisar quantificar a variação da densidade do gás, quando o ventilador o pressuriza
e quando há compressão ou descompressão no sistema de ventilação, para discriminar entre
ventiladores de baixa e alta pressão, e escoamento incompressível e compressível em um
sistema de ventilação.

Assim o ventilador deve gerar uma pressão estática suficiente para vencer as perdas do
sistema e uma pressão cinética para manter o ar em movimento.

Basicamente, há dois tipos de ventiladores: os axiais e os centrífugos, conforme a Figura

32
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

– Axial

Ventiladores centrífugos

Um ventilador centrífugo (Figura 10b) consiste em um rotor, uma carcaça de conversão de


pressão e um motor. O ar entra no centro do rotor em movimento na entrada, e acelerado
pelas palhetas é impulsionado da periferia do rotor para fora da abertura de descarga.

Centrífugo

4 PROGRAMA DE PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA

4.1 Introdução

O objetivo principal deste tópico é conhecer os diversos tipos de respiradores que podem ser
utilizados como recurso adicional para a proteção dos trabalhadores expostos aos agentes
químicos ou a ambientes com deficiência de oxigênio, bem como a metodologia recomendada
para a adequada especificação de proteção respiratória.

O aluno observará que o PPR – Programa de Proteção Respiratória – pode ser considerado
como um complemento do PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e do
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional e deve ser entendido como
um conjunto organizado de recomendações formais e medidas técnicas-administrativas

33
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

para especificar e usar adequadamente Equipamentos de Proteção Respiratória – EPR, de


forma que a exposição dos trabalhadores a agentes tóxicos ou a atmosferas deficientes de
oxigênio seja efetivamente controlada, ou, no mínimo, atenuada a níveis aceitáveis.

Entendemos como níveis aceitáveis aquelas concentrações de agentes químicos que estejam
abaixo do nível de ação, ou seja, 50% dos limites de exposição do agente em estudo,
determinadas de acordo com uma estratégia de amostragem confiável, passível de
rastreabilidade e dentro de um padrão de exposição relativamente estável.

Criado pela Instrução Normativa 01, de 11 de abril de 1994, o PPR tem suas diretivas contidas
na publicação da Fundacentro – Programa de Proteção Respiratória – PPR: Recomendações,
Seleção e Uso de Respiradores, elaborada por especialistas integrantes da Comissão de
Estudos de Proteção Respiratória da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

A partir da publicação da Instrução Normativa SSST/MTB Nº 1, de 1994 é que foi publicada


a primeira edição do Programa de Proteção Respiratória - PPR, pela Fundacentro, sendo que
devido aos avanços tecnológicos na área de proteção respiratória, ou seja, melhoria na
qualidade das peças e filtros fabricados ao longo do tempo, e melhorias das técnicas
aplicadas aos ensaios dos equipamentos para avaliar se realmente se propõe a proteção
esperada para os usuários, é que atualmente o Programa de Proteção Respiratória -
Recomendações, Seleção e Uso de Respiradores está em sua quarta edição, publicada em
junho de 2016.

O PPR tem por objetivo principal orientar o seu responsável em relação à elaboração,
implementação e administração do Programa, auxiliando-o na seleção utilização e a
manutenção corretas dos Equipamentos de Proteção Respiratória – EPR.

Importante ressaltar que o uso de EPR tem como objetivo principal prevenir a exposição por
inalação de substâncias perigosas que alteram as características de qualidade do ar e/ou ar
com deficiência de oxigênio, mas numa escala de medidas de controle adotadas para
combater o risco da exposição ocupacional, o uso de EPR é o último que deve ser implantado,
ou seja, quando forem adotadas medidas de controle de engenharia, como adoção de
medidas de proteção coletiva, substituição de substâncias por outras menos tóxicas, controle
dos agentes nas fontes (máquinas, processos produtivos, operações) e/ou na trajetória dos
agentes, implantar sistema de ventilação local ou geral, e medidas de controles
administrativos, como a redução do tempo de exposição ao agente, por exemplo, e essas não
surtirem o efeito desejado, é que o EPR será adotado, após uma cuidadosa avaliação dos
riscos.

Em resumo o Programa de Proteção Respiratória é um processo para seleção, uso e


manutenção dos respiradores e filtros com a finalidade de assegurar proteção adequada para
o usuário. Portanto, antes de utilizar um respirador, é primordial que seja elaborado um PPR,
por escrito, com os procedimentos específicos para as condições do ambiente de trabalho,
ao usuário e à tarefa.

Como o manual de Programa de Proteção Respiratória publicado pela FUNDACENTRO é


bem completo, não é nossa intenção copiar todo o programa e o colocar nesse material
didádico, mas apenas chamar a atenção do aluno para os pontos principais contidos nesse
programa, além de conteplar outros conceitos não contemplados por este.

34
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Com o intuito de ampliar seus conhecimentos sobre este assunto, recomendamos a leitura
do livro Manual de Proteção Respiratória, dos pesquisadores Maurício Torloni e Antônio
Vladimir Vieira, que aborda de forma didática e abrangente os aspectos técnicos necessários
para a leitura completa do documento da Fundacentro.

Em consonância com a legislação e normas técnicas pertinentes de segurança, higiene e


saúde ocupacional, o PPR deve ser um complemento das medidas de controle adotadas
pelas empresas, quando comprovadamente as de natureza coletiva e/ou administrativas não
forem suficientes para controlar os riscos existentes, ou estiverem sendo implantadas, ou
ainda em caráter emergencial, com a finalidade de garantir uma completa proteção aos
trabalhadores contra os agentes químicos existentes nos ambientes de trabalho.

A publicação PPR da Fundacentro apresenta um Glossário de Termos empregados em seu


conteúdo.

4.2 Programa de Proteção Respiratória

O Programa de Proteção Respiratória – PPR da Fundacentro está na sua quarta edição, no


qual foi publicado ela FUNDACENTRO em 2016, trazendo algumas novidades como o método
de seleção através das Bandas de Controle.

4.2.1 Equipamentos de Proteção Respiratória – EPR

Os EPR podem ser classificados quanto à concepção, às aplicações e ao nível de proteção


que podem proporcionar ao usuário. A NBR 12543 os divide em duas grandes classes:
purificadores de ar e adução de ar. Respiradores purificadores de ar dependem da atmosfera
ambiente. Respiradores de adução de ar não dependem da atmosfera ambiente

A imagem abaixo resume a classificação dos EPR, segundo a NBR 12543:

4.2.2 Os Tópicos Básicos de um PPR

Alguns tópicos básicos devem ser desenvolvidos em um PPR, sendo eles:

 Política de saúde ocupacional da empresa, definida e aprovada pela alta administração e


disseminada entre todos os empregados próprios e terceiros da organização, enfatizando
a priorização das medidas de controle coletivas e administrativas;

 Indicação do administrador do programa e suas respectivas atribuições e


responsabilidades. O empregador deve atribuir a uma só pessoa a responsabilidade e a
autoridade pelo programa de uso de respiradores. Essa pessoa deve possuir
conhecimentos de proteção respiratória suficiente para administrar de modo apropriado o
programa. A responsabilidade do administrador pelo programa inclui o monitoramento dos
riscos respiratórios, a atualização dos registros e a realização das auditorias.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

 Metodologia técnica para escolha do respirador, coerente com a publicação do PPR da


Fundacentro.

 Treinamento e reciclagem dos usuários e da supervisão. Cada usuário de respirador


deve receber treinamento e reciclagem, que deve incluir explanação e discussão sobre:

Com filtro
químico

a) o risco respiratório e o efeito sobre o organismo humano se o respirador não for


usado de modo correto:
b) as medidas de controle coletivo e administrativo que estão sendo adotadas e a
necessidade do uso de respiradores para proporcionar a proteção adequada;
c) as razões que levaram a seleção de um tipo particular de respirador;
d) o funcionamento, as características e limitações do respirador selecionado;
e) o modo de colocar o respirador e de verificar se ele está colocado corretamente no
rosto;
f) o modo correto de usar o respirador durante a realização do trabalho;
g) os cuidados de manutenção, inspeção e guarda, quando não estiver em uso;
h) o reconhecimento de situações de emergência e como enfrentá-las;
i) as exigências legais sobre o uso de respiradores para certas substancias.

36
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

 Procedimentos administrativos para aquisição, armazenagem, fornecimento, substituição


e descarte de respiradores. Em toda a empresa onde os respiradores forem necessários,
devem existir procedimentos operacionais escritos cobrindo o programa completo de uso
de respiradores. Além de existir, esses procedimentos devem estar sendo cumpridos.

 Regras para inspeção, limpeza, manutenção, higienização regular e guarda dos


respiradores, de acordo com as instruções do fabricante e do administrador do programa.
O usuário deve examinar o respirador antes de colocá-lo, para verificar se está em boas
condições de uso. O respirador deve ser guardado em local conveniente, limpo e
higiênico.

 Rotina de monitoramento da exposição dos trabalhadores frente aos agentes químicos e


classificação do risco;

 Cadastro das fontes artificiais de ar respirável existentes no estabelecimento e respectivo


programa de inspeção e manutenção das mesmas. Literaturas e normas especializadas
apresentam os requisitos mínimos da qualidade do ar que os respiradores de linha de ar
comprimido e as mascaras autônomas que utilizam ar devem obedecer.

 Inventário atualizado dos espaços confinados do estabelecimento;

 Situações de emergências e respectivas ações de controle e mitigação. Embora não seja


possível prever todas as situações de emergência e de salvamento para cada tipo de
operação industrial, pode-se prever muitas condições nas quais será necessário o uso de
respiradores. Pode-se chegar a escolha de respiradores apropriados para uma situação
concreta, pela análise cuidadosa dos riscos potenciais devidos a enganos na condução
do processo industrial ou a defeitos ou falhas no funcionamento.

 Exames e rotinas médicas para avaliar o grau de aptidão dos usuários aos respiradores
selecionados. Cabe a um médico determinar se uma pessoa tem ou não condições
médicas de usar um respirador. O conteúdo e a frequência desse exame médico estão
especificados na regulamentação elaborada pela FUNDACENTRO. Com a finalidade de
auxiliar o médico na sua avaliação, o administrador do programa deve informá-lo sobre:

a) tipo de respiradores para uso rotineiro e de emergências;


b) atividades típicas no trabalho; condições ambientais, frequência e duração da
atividade que exige o uso do respirador;
c) substancias contra as quais o respirador deve ser usado, incluindo a exposição
provável a uma atmosfera com deficiência de oxigênio.

 Avaliação periódica e individualizada da eficiência dos respiradores (ensaios e testes de


vedação). Antes de ser fornecido um respirador para uma pessoa, ele deve ser submetido
ao teste de vedação para verificar se aquele respirador proporciona boa vedação no seu
rosto. Após este teste preliminar, toda vez que for colocar ou ajustar o respirador no rosto,
ele deve fazer a verificação da vedação.

37
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

 Avaliação da gestão e resultados do programa, no mínimo, anual.

4.2.3 A Responsablidade pela Implantação do PPR


Algumas responsabilidades são atribuídas ao empregador e ao empregado em relação ao
PPR

4.2.3.1 Responsabilidade do empregador quanto ao PPR


O empregador é responsável pelo PPR. Ele deve:

a) designar um administrador do programa que tenha a responsabilidade delegada para


gerenciar efetivamente o PPR;

b) providenciar recursos adequados e organização para garantir a eficácia contínua do PPR;

c) definir, implementar e documentar o PPR;

d) fornecer o respirador adequado;

e) permitir ao empregado usuário do respirador que deixe a área de risco por qualquer motivo
relacionado com o seu uso. Essas razões podem incluir as seguintes, mas não se limitam a
elas:

• falha no funcionamento do respirador que altere a proteção por ele


proporcionada;
• detecção de penetração de ar contaminado dentro do respirador;
• aumento da resistência à respiração;
• grande desconforto devido ao uso do respirador;
• mal-estar sentido pelo usuário do respirador, tais como náusea, fraqueza,
tosse, espirro, dificuldade para respirar, calafrio, tontura, vômito, febre;
• lavagem do rosto e da peça facial do respirador (se aplicável), sempre que
necessário, para diminuir a irritação da pele;
• trocar o filtro ou outros componentes, sempre que necessário;
• descanso periódico em área não contaminada.

f) investigar a causa do mau funcionamento do respirador e tomar providências para saná- la.
Se o defeito for de fabricação, o empregador deverá comunicá-lo ao fabricante e ao órgão
oficial de competência na área de Equipamento de Proteção Individual (EPI);

g) fornecer somente respiradores aprovados, isto é, com Certificado de Aprovação emitido


pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, observando que qualquer modificação,
mesmo que pequena, pode afetar de modo significativo o desempenho do respirador e
invalidar a sua aprovação.

Nota: O empregador e o administrador do programa podem ser a mesma pessoa.

38
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

4.2.3.2 Responsabilidades do administrador

O administrador do PPR é responsável pela efetiva gestão do programa, que inclui:

a) preparação dos procedimentos operacionais escritos para uso correto dos respiradores
em situações de rotina e de emergência;

b) medições, estimativas ou informações atualizadas acerca da concentração do


contaminante na área de trabalho antes de ser feita a seleção do respirador e periodicamente,
durante o seu uso, com a finalidade de garantir que o respirador apropriado esteja sendo
utilizado;

c) seleção do respirador apropriado que proporcione proteção adequada para cada


contaminante presente ou potencialmente presente;

d) manutenção de registros e procedimentos escritos de tal maneira que o programa fique


documentado e permita uma avaliação da sua eficácia;

e) providências para que todos os envolvidos conheçam o conteúdo do programa;

f) avaliação anual da eficácia do programa;

g) revisão periódica dos procedimentos escritos;

h) indicação e treinamento de pessoas competentes para o cumprimento de tarefas ou


funções no programa;

i) atualização de seus conhecimentos e o de seus colaboradores para que possam


desempenhar eficientemente as tarefas relativas ao PPR.

4.2.3.3 Responsabilidades do Empregado quanto ao PPR

Para que as medidas implantadas surtam efeito, o usuário é responsável, no mínimo, por:

a) usar o respirador fornecido de acordo com as instruções e o treinamento recebidos;

b) no caso de uso de respirador com vedação facial, não apresentar pelos faciais (barba,
cavanhaque etc.) que interfiram na selagem do respirador em seu rosto;

c) guardar o respirador, quando não estiver em uso, de modo conveniente para que não se
danifique ou deforme;

d) deixar imediatamente a área contaminada se observar que o respirador não está


funcionando bem e comunicar o defeito à pessoa responsável indicada nos procedimentos
operacionais escritos;

e) comunicar à pessoa responsável qualquer alteração em seu estado de saúde que possa
influir na capacidade de uso seguro do respirador.

39
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

4.3 Filtros Químicos

Os filtros químicos retêm os gases e vapores contidos no ar através da interação das


moléculas do gás ou do vapor com o material granulado do filtro, geralmente porosos. Os
mecanismos que ocorrem nesta interação são: adsorção física, adsorção química, absorção
e catálise.

Normalmente são utilizados os seguintes adsorventes: carvão ativado, alumina ativada e a


sílica-gel.

Como absorventes: compostos de hidróxido de potássio e sódio com carbonato de sódio e/ou
silicatos alcalinos.

O catalizador mais empregado é o Hopcalite, que é uma mistura de gráos altamente porosos
de óxidos de cobre e manganês, que forma o dióxido de carbono.

Os filtros químicos são produzidos e disponibilizados no mercado como descrito abaixo:

 Vapores orgânicos,
 Gases ácidos,
 Amônia,
 Metilamina,
 Ácido Clorídrico,
 Cloro,
 Filtros múltiplos (combinação de dois ou
mais dos tipos citados anteriormente e que
atendem os requisitos de cada tipo),
 Filtros especiais (uso contra contaminantes específicos, não incluídos nos tipos
anteriores),
 Filtros combinados (utilizado em conjunto com um filtro para particulados).

Conforme a NBR 13696, os filtros químicos são classificados em tipos e classes, conforme
tabela abaixo:

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Fonte: NBR 13696/2010.

Observem que na 3ª coluna da tabela acima, há a indicação da concentração máxima para


cada tipo de filtro. Este parâmetro é conhecido como MCU – Máxima Concentração de Uso.

Cada classe de filtro químico somente pode ser utilizada abaixo da Máxima Concentração
de Uso (MCU) correspondente.

Algumas situações podem alterar os valores de MCU indicados. A própria NBR 13696, cita
as seguintes situações que podem alterar a MCU de um determinado filtro químico:

A) A máxima concentração de uso dos respiradores em situações rotineiras que incorporem


filtro químico, para um dado gás ou vapor, deve ser:

1 – menor que o valor IPVS;

2 – menor que o valor indicado na tabela acima para o referido gás ou vapor;

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3 – menor que o produto Fator de Proteção Atribuído do respirador purificador utilizado x limite
de exposição.

Dos três valores obtidos, adotar o que for menor.

B) O uso contra vapores orgânicos ou gases ácidos com fracas propriedades de alerta, ou
que gerem alto calor de reação com o conteúdo do cartucho, É ESPECIFICADO NO Programa
de Proteção Respiratória – Recomendações, Seleção e Uso de Respriradores da
FUNDACENTRO.

É neste item que a referida publicação define as etapas para a seleção do respirador.

Exemplo:

Um filtro classe 1 para vapor orgânico, segundo a tabela pode ser utilizado até a concentração
de 1000 ppm. Porém, se o vapor orgânico a que o trabalhador está exposto tem concentração
IPVS = 100 ppm, pela nota(A) (1) a MCU do filtro ficará alterada para valor de 100 ppm e não
mais ao valor previsto pela tabela que era 1000 ppm.

É necessário esclarecer que existe uma máxima concentração de uso do filtro químico e uma
máxima concentração de uso do respirador. A MCU relacionada na tabela acima se refere ao
filtro isoladamente e não ao respirador completo (peça facial e filtro).

A seleção do tipo de filtro (ácido, vapor orgânico, etc.) exige o conhecimento da natureza
química da substância, que nem sempre é fácil, uma vez que existe a possibilidade de o
agente químico pertencer a duas categorias simultaneamente.

Também é importante conhecer o comportamento do adsorvente ou absorvente empregado


no filtro em relação ao agente. Recomenda-se então, consultar sempre o fabricante sobre o
filtro mais indicado para cada tipo de contaminante.

A vida útil de um filtro químico depende dos seguintes fatores ligados ao:

 Usuário: demanda de ar pelo usuário


 Filtro: uniformidade do recheio, qualidade e quantidade do recheio
 Agente: nível de concentração, presença simultânea, natureza química.
 Meio ambiente: temperatura, umidade relativa do ar.

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4.4 Respiradores Purificadores de Ar

Os respiradores purificadores de ar dependem da atmosfera ambiente. Estes equipamentos


filtram o ar ambiente, removendo os contaminantes, antes da inalação. Para particulados
usam-se filtros mecânicos e para gases e vapores filtros químicos específicos. Dependendo
do processo pode ser necessário o uso de respirador com filtro combinado (mecânico e
químico).

Os respiradores purificadores de ar somente podem ser utilizados em atmosferas com, no


mínimo, 18% de oxigênio e com substâncias que possuem propriedades de alerta ou que não
sejam muito tóxicas uma vez que, se o filtro saturar durante o uso, o trabalhador poderá ficar
exposto ao agente. Portanto, este tipo de respirador exige um conhecimento prévio do tipo e
concentração do contaminante presente no ar ambiente.

Estes respiradores podem ser motorizados ou não motorizados.

4.5 Respiradores purificadores de ar não motorizados


Os respiradores purificadores de ar não motorizados tem como características:

• Necessitam de filtros. É importante lembrar que os respiradores purificadores de ar


FILTRAM o ar existente no ambiente, mas não suprem de oxigênio, portanto não
podem ser utilizados em ambientes deficientes de oxigênio;
• O ar chega às vias respiratórias (nariz e boca) do usuário devido unicamente a ação
pulmonar do usuário;
• As coberturas das vias respiratórias devem ser com vedação facial: um quarto
facial, semifacial, facial inteira e bocal com pinça nasal;
 O ar que está dentro da cobertura das vias respiratórias nunca é totalmente isento
de contaminante devido à pressão negativa existente durante a inalação, associada
à falta de vedação no rosto. Pressão negativa se refere à relação entre a pressão
no interior do respirador e a pressão atmosférica externa ao respirador, quando,
durante a inspiração, a pressão no interior da peça facial permanece abaixo da
pressão atmosférica ambiente. Quando ocorre o contrário (pressão interna maior
que a pressão externa) temos um quadro de pressão positiva.

Os principais tipos de respiradores purificadores de ar não motorizados são:

Peças semifaciais filtrantes (PFF): Podem ser para particulado


ou para certos gases e vapores. Conforme o próprio nome indica,
a peça facial é o próprio material filtrante, a qual pode ser
dobrável ou não. Alguns modelos podem possuir ou não válvula
de exalação. Válvula de exalação é um dispositivo presente em
alguns modelos de respiradores que garantem que o ar expirado
e inspirado escoe na direção correta.

Dependendo da quantidade de material que deixam passar em


teste de laboratório podem ser classificadas em PFF1, PFF2 e
PFF3.

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Geralmente este tipo de respirador, quando utilizado em indústria, é utilizado apenas em uma
jornada de trabalho, motivo pelo qual são também conhecidos como respiradores
descartáveis.

Respiradores purificadores com peça um quarto facial e semifacial: Possuem válvulas


de inalação, de expiração e suporte para o filtro. Podem possuir um ou dois filtros, que de
certa forma pode interferir com o campo visual do usuário. Da mesma forma que as PFF, não
proporcionam proteção para os olhos.

A diferença entre uma cobertura das vias respiratórias um quarto


facial e semifacial é que a peça um quarto facial se apóia no
rosto entre o queixo o lábio inferior, e a semifacial, por baixo do
queixo.

Respiradores purificadores com peça facial inteira: Estes respiradores protegem os olhos
do usuário contra substâncias irritantes, dispensando o uso de
óculos de proteção e permitindo o uso de lentes corretivas. São
disponibilizadas com filtros de vários tamanhos. Existe uma maior
resistência ao uso quando fornecidas a usuários não treinados, o que
caracteriza uma condição de risco significativa, conforme a concentração
do contaminante no local.

Respiradores purificadores de ar motorizados: Nos respiradores purificadores de ar


motorizados o ar passa por um ou mais filtros graças à ação de uma ventoinha movida por
motor alimentado por bateria. Pode ser acoplada a filtros mecânicos, químicos ou
combinados.

A vantagem deste tipo de respirador é que, quando a ventoinha está acionada continuamente
e a vazão do ar é alta, cria-se uma pressão positiva no interior do respirador (pressão no
interior da cobertura das vias respiratórias maior que a pressão atmosférica interna), mesmo
durante a inspiração, o que reduz a possibilidade de entrada de ar contaminado na zona de
contato entre o respirador e o rosto do usuário
(capacidade de vedação). Há que se atentar para a questão de a vazão
de ar, geralmente maior que o consumo pode não garantir sempre
pressão positiva.

Por outro lado, os filtros dos respiradores motorizados apresentam


menor durabilidade do que os não motorizados.

A cobertura das vias respiratória pode ser com vedação facial


(semifacial, facial inteira) ou sem vedação facial (capuz, capacete, visor,
touca). Alguns tipos de cobertura das vias respiratórias podem

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ser utilizados por trabalhadores com barba.

4.6 Tipos de Respiradores de Adução de Ar

a) Respiradores de Linha de Ar comprimido:

De acordo com a variação da vazão de ar que chega ao usuário com a fase do ciclo
respiratório, estes respiradores podem ser de fluxo contínuo ou de demanda. Se o ar chega
continuamente à cobertura das vias respiratórias, isto é, durante a inspiração e a expiração,
é denominado fluxo contínuo. Se chegar somente durante a inalação, é chamado de
demanda.

Os de demanda podem operar com pressão positiva, ou sem pressão positiva. Os modelos
de demanda economizam ar.

Os do tipo de demanda sem pressão positiva permitem mais


facilmente a entrada de contaminantes que os de fluxo
contínuo ou com pressão positiva.

As fontes de ar que alimentam os respiradores de linha de ar


comprimido podem ser compressor portátil, rede de ar
comprimido ou conjunto de cilindros. A qualidade do ar
comprimido é importante e às vezes pode ser necessária a
utilização de unidade purificadora. O uso de oxigênio ou ar
enriquecido pode provocar acidentes.

Os elementos principais de um respirador de linha de ar


comprimido situados entre uma peça facial e a mangueira de
alimentação de ar comprimido são:Traquéia, válvula, cinturão,
engate rápido.

A vazão mínima de ar que chega a cobertura das vias


respiratórias, especificada pelo fabricante, somente será
alcançada se o usuário obedecer à pressão de trabalho
recomendada para cada tipo de respirador, tipo de mangueira,
conexões e acessórios.

As vazões mínimas que devem obrigatoriamente chegar às


coberturas das vias respiratórias indicadas são:

 Peça semifacial e facial inteira: 120 litros /


minuto.
 Capuz, touca: 170 litros / minuto.

O uso de respiradores de linha de ar comprimido durante longos períodos pode provocar


sangramento nasal para alguns indivíduos, pois o ar comprimido é sempre muito seco (UR <
15%). Estes respiradores limitam a mobilidade do usuário e não podem ser utilizados em
situações IPVS.

b) Máscaras Autônomas:

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Nestes respiradores o usuário transporta junto ao corpo o suprimento de ar ou geração de


oxigênio.

Nas máscaras de circuito fechado o ar exalado é reutilizado, onde o oxigênio consumido pode
ser reposto de três maneiras diferentes: oxigênio gasoso comprimido, oxigênio líquido e
geração química.

As máscaras autônomas de demanda sem pressão positiva não são mais eficientes que o
respirador purificador de ar com o mesmo tipo de peça facial.

É proibido encher cilindros com oxigênio puro antes utilizados


com ar comprimido. A utilização de oxigênio puro ou ar
enriquecido fora das condições especiais pode provocar o
envenenamento pelo oxigênio (hiperoxia).

A autonomia das máscaras autônomas pode ser expressa em


volume de ar armazenado ou tempo de uso. Autonomia
corresponde o tempo que uma máscara autônoma consegue
fornecer ar suficiente para o usuário. Uma máscara autônoma
com cilindro de 1600 litros de ar, por exemplo, com um consumo
médio de 50 litros por minuto, proporciona uma autonomia de
32 minutos, ou seja, 1600/50.

Existem disponíveis no mercado máscaras com autonomia de


4, 3, 2 e 1 hora ou 45, 30, 15, 10, 5 e 3 minutos. Estes cilindros
são dotados de manômetros que indicam a pressão e que permitem estimar, nas condições
ambientes, o volume de ar contido em seu interior. Embora todas as máscaras autônomas
possam ser usadas em ambientes com deficiência de oxigênio, somente as de demanda com
pressão positiva podem ser utilizadas em situaçoes IPVS, associada à linha de ar comprimido
com cilindro auxiliar.

c) Respiradores de Linha de Ar Comprimido de Demanda com Pressão Positiva e


Cilindro Auxiliar:

Este tipo de respirador é uma combinação de um de linha de ar comprimido com uma máscara
autônoma de pequena autonomia. O cilindro com autonomia de até 15 minutos pode ser
usado somente para escape.

Devem sempre ser de demanda com pressão positiva.

No respirador de linha de ar comprimido com cilindro auxiliar para escape, quando o cilindro
auxiliar está em uso, o respirador é considerado como uma máscara autônoma.

Os respiradores de linha de ar comprimido com cilindro auxiliar devem ser apenas do tipo de
demanda, para economizar ar quando o cilindro estiver em uso, e com pressão positiva.
Conforme o item 4.3 da publicação PPR-FUNDACENTRO, estes respiradores e as máscaras
autônomas de demanda com pressão positiva são os únicos EPR que podem ser utilizados
para situações IPVS.

d) Respiradores de Ar Natural:

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos
Neste tipo de respirador o usuário inspira o ar isento de
contaminante vindo de outro ambiente, através de uma
mangueira que apresenta baixa resistência à respiração.

Alguns modelos utilizam uma ventoinha acionada manualmente


ou por motor elétrico.

Um respirador de linha de ar comprimido com cilindro auxiliar


para entrada em espaços confinados pode empregar o cilindro
auxiliar para entrada somente quando a autonomia for acima de
15 minutos e somente se for utilizado para a entrada até 20%
do ar do cilindro).

Observações:

I. O uso de respiradores em ambientes com baixas ou altas temperaturas deve ser


previamente avaliado, já que estas condições geralmente implicam em algum tipo de
dificuldade para o usuário.

II. Não se recomenda o uso de lentes de contato concomitantemente com o uso de


respirador, convencional, em função do desconforto. Respiradores com peças faciais
inteiras podem ser equipados com acessórios que facilitam o uso destas lentes. Neste
caso, as lentes devem ser montadas somente por pessoa qualificada, de modo a
garantir boa visibilidade, conforto e vedação. Os usuários de respiradores que usam
óculos com lentes corretivas, não devem utilizá-lo com hastes que atravessam as
bordas de vedação da peça facial inteira.

III. Respiradores não devem ser usados com gorros ou bonés com abas que interfiram
com a vedação da peça facial no rosto.

4.7 Seleção de Respiradores para uso em Atmosferas IPVS, Espaços Confinados ou


Atmosferas com Pressão Reduzida

4.7.1 Atmosfera IPVS


Um local é considerado IPVS quando:

a) o contaminante presente ou a sua concentração é desconhecida; ou

b) a concentração do contaminante é maior que a concentração IPVS; ou

c) é um espaço confinado com teor de oxigênio menor que o normal (20,9% em volume
ao nível do mar ou ppO2 = 159 mmHg), a menos que a causa da redução do teor de
oxigênio seja devidamente monitorada e controlada; ou

d) é um espaço confinado não avaliado; ou

e) o teor de oxigênio é menor que 12,5% ao nível do mar (ppO2 menor que 95 mmHg);
ou

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

f) para um indivíduo aclimatado ao nível do mar, a pressão atmosférica do local é menor


que 450 mmHg (equivalente a 4.240 m de altitude) ou qualquer combinação de redução
na porcentagem de oxigênio ou redução na pressão que leve a uma pressão parcial de
oxigênio menor que 95 mmHg.

4.7.2 Respirador de Fuga

Onde for distribuído respirador de fuga devido a riscos potenciais em uma emergência, os
usuários dessa área de risco devem ser treinados no seu uso.
As pessoas que não realizam tarefas nessa área, ou os visitantes, devem receber instruções
breves sobre o seu uso. Para estas pessoas, não é obrigatório o treinamento detalhado e o
exame médico para verificar sua compatibilidade com o respirador.

4.8 Ensaios de Vedação

O ensaio de vedação objetiva avaliar se o respirador selecionado veda bem o rosto do usuário.
Por esta razão, ao se conduzir o ensaio de vedação, é necessário que exista disponível mais
de um tamanho ou formato de respirador para que o usuário escolha aquele que proporcione
melhor vedação e o menor desconforto.

Estes ensaios podem ser qualitativos ou quantitativos, usando um respirador novo. Se o


trabalhador utiliza mais de um tipo de respirador o ensaio de vedação deve ser feito com todos
eles.

Ensaios Qualitativos:

Vantagens: são mais comuns e o equipamento tem custo menor.


Desvantagens: não são totalmente confiáveis, pois dependem da resposta do usuário.

Ensaios Quantitativos:

Vantagens: não depende da resposta do usuário e é um ensaio indicado principalmente


quando o respirador vai ser usado com agentes muito tóxicos.
Desvantagens – o equipamento tem custo mais elevado.

Os ensaios qualitativos são subjetivos, pois dependem da resposta do usuário e consiste em


submeter o indivíduo, utilizando respirador, a um agente de teste com cheiro característico
(óleo de banana, por exemplo), a um sabor (sacarina ou bitrex) ou a um fumo irritante.

A barba e/ou cicatrizes impedem um ajuste e vedação adequados à proteção, facilitando a


passagem dos contaminantes pelas deficiências de vedação.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Os ensaios quantitativos não dependem da resposta do usuário. São de dois tipos básicos: o
que utiliza aerossol de teste e o que mede o vazamento que ocorre na zona de selagem no
rosto, controlando a pressão dentro da peça facial.

Os procedimentos recomendados para a realização do ensaio de vedação estão detalhados


no Anexo 5 da publicação PPR/Fundacentro.

Os ensaios de vedação devem ser feitos no mínimo uma vez por ano, com o arquivamento
dos os respectivos registros.

Convém observar a diferença entre as expressões: verificação de vedação e ensaio de


vedação empregada na publicação PPR/Fundacentro.

A verificação de vedação é um ensaio rápido feito pelo próprio usuário antes de entrar na área
de risco, ou na própria área, sem o uso de nenhum agente químico.

O ensaio de vedação é feito numa sala, fora da área de risco onde uma pessoa espalha um
agente químico ao redor do rosto do usuário e observa as suas respostas.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

5 AGENTES BIOLÓGICOS

5.1 Introdução

O conceito de Biossegurança e sua respectiva aplicação têm como objetivo principal dotar os
profi ssionais e as instituições de ferramentas que visem desenvolver as atividades com um
grau de segurança adequado seja para o profi ssional de saúde, seja para o meio ambiente
ou para a comunidade.

Nesse sentido, podemos definir “Biossegurança” como sendo “a condição de segurança


alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar
riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal, vegetal e
o ambiente”.

A avaliação de risco incorpora ações que objetivam o reconhecimento ou a identifi cação dos
agentes biológicos e a probabilidade do dano proveniente destes. Tal análise será orientada
por vários critérios que dizem respeito não só ao agente biológico manipulado, mas também
ao tipo de ensaio realizado, ao próprio trabalhador e, quando pertinente, à espécie animal
utilizada no ensaio. Deve contemplar as várias dimensões que envolvem
a questão, sejam elas relativas a procedimentos (boas práticas: padrões e especiais), a infra-
estrutura (desenho, instalações físicas e equipamentos de proteção) ou informacionais (qualifi
cação das equipes).

Também a organização do trabalho e as práticas gerenciais passaram a ser reconhecidas


como importante foco de análise, seja como causadoras de acidentes, doenças e
sofrimento, ou como integrantes fundamentais de um programa de Biossegurança nas
instituições.

Portanto, o estabelecimento de uma relação direta entre a classe de risco do agente biológico
e o nível de biossegurança (NB) é uma difi culdade habitual no processo de defi nição do nível
de contenção. Por exemplo, estabelecer que para os agentes biológicos de classe de risco 3
deve-se trabalhar em um ambiente de trabalho NB-3, sem levar em conta a metodologia
diagnóstica que será utilizada.

No caso exemplar do diagnóstico da Mycobacterium tuberculosis, que é de classe de risco 3,


a execução de uma baciloscopia não exige desenvolvê-la numa área de contenção NB-3, e
sim numa área NB-2, utilizando-se uma cabine de segurança biológica. Já se a atividade
diagnóstica exigir a reprodução da bactéria (cultura), bem como testes de sensibilidade,
situação em que o profi ssional estará em contato com uma concentração aumentada do
agente, recomenda-se, aí sim, que as atividades sejam conduzidas numa área NB-3.

Por outro lado, há situações em que o diagnóstico é de um agente biológico de classe de risco
2, que deve ser trabalhado em áreas de contenção NB-2. Porém, se para algum estudo
específi co houver a necessidade de um aumento considerável de sua concentração ou de
seu volume, produção em grande escala, este então deverá ser realizado numa área NB-3.

50
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Os tipos, subtipos e variantes dos agentes biológicos patogênicos envolvendo vetores


diferentes ou raros, a difi culdade de avaliar as medidas de seu potencial de amplifi cação e
as considerações das recombinações genéticas e dos organismos geneticamente modifi
cados (OGMs) são alguns dos vários desafi os na condução segura de um ensaio. Portanto,
para cada análise ou método diagnóstico exigido, os profi ssionais deverão proceder a
uma avaliação de risco, onde será discutido e defi nido o nível de contenção adequado para
manejar as respectivas amostras. Nesse processo temos que considerar, também, todos os
outros tipos de riscos envolvidos.

5.2 Classificação de Risco

Os agentes biológicos que afetam o homem, os animais e as plantas são distribuídos em


classes de risco assim defi nidas:

• Classe de risco 1 (baixo risco individual e para a coletividade): inclui os agentes biológicos
conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou animais adultos sadios. Exemplo:
Lactobacillus sp.

• Classe de risco 2 (moderado risco individual e limitado risco para a comunidade): inclui os
agentes biológicos que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo potencial de
propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, e para os quais
existem medidas terapêuticas e profi láticas eficazes. Exemplo: Schistosoma mansoni.

• Classe de risco 3 (alto risco individual e moderado risco para a comunidade): inclui os
agentes biológicos que possuem capacidade de transmissão por via respiratória e que
causam patologias humanas ou animais, potencialmente letais, para as quais existem
usualmente medidas de tratamento e/ou de prevenção. Representam risco se disseminados
na comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa. Exemplo:
Bacillus anthracis.

• Classe de risco 4 (alto risco individual e para a comunidade): inclui os agentes biológicos
com grande poder de transmissibilidade por via respiratória ou de transmissão
desconhecida. Até o momento não há nenhuma medida profi lática ou terapêutica efi caz
contra infecções ocasionadas por estes. Causam doenças humanas e animais de alta
gravidade, com alta capacidade de disseminação na comunidade e no meio ambiente. Esta
classe inclui principalmente os vírus. Exemplo: Vírus Ebola.

5.3 Insalubridade Agentes Biológicos

O Anexo 14 da NR 15 traz algumas atividade/operações que ensejam o direiro ao adiconal de


insalubridade por exposição ao agente biológico, em grau médio e máximo:

51
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Relação das atividades que envolvem agentes biológicos, cuja insalubridade é caracterizada
pela avaliação qualitativa.
Insalubridade de grau máximo
Trabalho ou operações, em contato permanente com:
- pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de seu uso,
não previamente esterilizados;
- carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros, pêlos e dejeções de animais portadores
de doenças infectocontagiosas (carbunculose, brucelose, tuberculose);
- esgotos (galerias e tanques); e
- lixo urbano (coleta e industrialização).
Insalubridade de grau médio
Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou com material
infecto-contagiante, em:
- hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros
estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal
que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses
pacientes, não previamente esterilizados);
- hospitais, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados ao
atendimento e tratamento de animais (aplica-se apenas ao pessoal que tenha contato com tais
animais);
- contato em laboratórios, com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e outros
produtos;
- laboratórios de análise clínica e histopatologia (aplica-se tão-só ao pessoal técnico);
- gabinetes de autópsias, de anatomia e histoanatomopatologia (aplica-se somente ao
pessoal técnico);
- cemitérios (exumação de corpos);
- estábulos e cavalariças; e
- resíduos de animais deteriorados.

5.4 Esclarecendo o Anexo 14 da NR 15

Antônio Carlos Vendrame, renomado perito judicial, traz uma explicação sobre os dizeres do Anexo
14, em relação ao direito de receber ou não o adicional de insalubridade por exposição aos Agentes
Biológicos:

Segundo o anexo n° 14 da NR 15 a exposição ao risco biológico se dá pelo contato dermal ou


aéreo com os fluídos corpóreos ou microorganismos. A insalubridade por riscos biológicos
assume somente dois graus:

* Médio;

* Máximo.

O grau máximo é reservado às atividades em contato com pacientes e animais infecto


contagiosos, bem como seus instrumentos de uso não previamente esterilizados. Há ainda
outras duas atividades que se enquadram no grau de risco máximo: coleta de lixo urbano e
atividades em tanques ou galerias de esgoto.

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Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

O trabalho em contato com outros pacientes ou animais, não infecto-contagiosos confere ao


trabalhador o adicional de grau médio. Há também outras atividades enquadradas no grau
médio: trabalho em laboratórios, com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e outros
produtos; em laboratórios de análise clínica e histopatologia; em gabinetes de autópsias, de
anatomia e histoanatomopatologia, exumação de corpos em cemitérios, em estábulos e
cavalariças, em contato com resíduos de animais deteriorados.

ESTUDO DO ANEXO 14 DA NR 15

PACIENTES EM ISOLAMENTO POR DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS, BEM COMO


OBJETOS DE SEU USO, NÃO PREVIAMENTE ESTERILIZADOS

Este item enquadra como insalubre de grau máximo exclusivamente o labor em contato com
pacientes portadores de moléstias infecto-contagiosas e o contato com objetos contaminados
por moléstias infecto-contagiosas não esterilizados.

O enquadramento é apropriado para médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde que


tenham contato com paciente em isolamento. No entanto, considerando que o caput do anexo
prescreve o contato permanente, o enquadramento só é aplicável para profissionais que se
dediquem exclusivamente a pacientes em isolamento. Se o profissional da saúde atende
pacientes em isolamento, mas também pacientes comuns, o enquadramento apropriado é o de
grau médio. O grau máximo caberia para aqueles profissionais que trabalhassem num hospital
de doenças infecto-contagiosas, como é o caso do Hospital Emílio Ribas em São Paulo, ou
então, que se dedicassem exclusivamente ao atendimento de pacientes em área de
isolamento, o que é incomum na prática.

CARNES, GLÂNDULAS, VÍSCERAS, SANGUE, OSSOS, COUROS, PELOS E DEJEÇÕES


DE ANIMAIS PORTADORES DE DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS (CARBUNCULOSE,
BRUCELOSE, TUBERCULOSE)

Este item trata das atividades com exposição a carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos,
couros, pelos e dejeções de animais portadores de moléstias infecto-contagiosas, inclusive
especifica quais são as doenças (carbunculose, brucelose e tuberculose).

Não se verifica atividade compatível com este enquadramento, vez que não temos hospitais
veterinários para animais portadores de moléstias infecto-contagiosas, como existe para
humanos.

Este enquadramento também não se aplica aos matadouros, frigoríficos, abatedouros e outras
empresas que se dediquem ao processamento de carne, vez que não se verifica a existência
de animais portadores de moléstias infecto-contagiosas de forma generalizada no abate.

É fato que no abate são encontrados animais portadores de moléstias infecto-contagiosas, os


quais são inclusive rejeitados pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal), porém tais casos são
exceções raras e, não a regra.

ESGOTOS (GALERIAS E TANQUES)

Este item abriga os trabalhos com exposição ao esgoto, no entanto, delimita como passíveis
de enquadramento os trabalhos realizados em galerias e tanques. As galerias de esgotos são
encontradas nas ruas e logradouros. Os tanques são encontrados nas estações de tratamento
de esgoto.

53
Higiene Ocupacional – Agentes Químicos e Biológicos

Este enquadramento é aplicável aos trabalhadores que realizam limpeza em bocas de lobos,
ingressando em tais recintos. Também é aplicável o enquadramento para operadores de
estação de esgoto que tenham exposição ao esgoto, bem como encanadores, manutentores
que tenham contato com esgoto.

O enquadramento não se aplica àqueles profissionais que laboram na construção de galerias


de esgotos ou tanques quando estes ainda não foram utilizados para armazenar esgoto.

Este enquadramento também não se aplica aos faxineiros, auxiliares de limpeza, auxiliares de
serviços gerais e outros que realizam limpeza em banheiros, especificamente em sanitários. O
vaso sanitário pode ser conceituado como início da rede de esgoto, no entanto, não se encontra
devidamente previsto na legislação.

LIXO URBANO (COLETA E INDUSTRIALIZAÇÃO)

Este item contempla a coleta e industrialização de lixo urbano. A coleta é aquela realizada pelos
garis ou coletores nas ruas e logradouros públicos. A industrialização é representada pela
compostagem ou separação dos componentes do lixo para futura reciclagem. Lixo urbano é
aquele recolhido nas residências dos moradores de uma cidade ou mesmo aquele oriundo do
comércio e indústria também recolhido nas ruas e logradouros. Não é lixo urbano aquele
recolhido numa residência ou num escritório, bem como também não é lixo urbano as aparas
resultantes da produção de uma indústria ou a sucata ou os resíduos.

O lixo urbano se caracteriza pela mistura de matéria orgânica constituída por restos de
alimentos, embalagens em geral de papel e plástico, papel higiênico utilizado, latas, vidros e
outros materiais.

O enquadramento é aplicável aos coletores de lixo (garis) e para os trabalhadores da indústria


do lixo que mantém contato direto com o material a ser separado ou reciclado.

Este enquadramento não se aplica aos faxineiros, auxiliares de limpeza, auxiliares de serviços
gerais e outros que recolhem lixo em escritórios, banheiros de residência ou empresas.

HOSPITAIS, SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA, ENFERMARIAS, AMBULATÓRIOS, POSTOS


DE VACINAÇÃO E OUTROS ESTABELECIMENTOS DESTINADOS AOS CUIDADOS DA
SAÚDE HUMANA (APLICA-SE UNICAMENTE AO PESSOAL QUE TENHA CONTATO COM
OS PACIENTES, BEM COMO AOS QUE MANUSEIAM OBJETOS DE USO DESSES
PACIENTES, NÃO PREVIAMENTE ESTERILIZADOS)

Este item enquadra como insalubre de grau médio o labor em contato com pacientes comuns,
exceto os portadores de moléstias infecto-contagiosas e o contato com material infecto-
contagiante (e não infecto-contagioso).

O enquadramento é apropriado para médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde que


tenham contato com paciente em geral. No entanto, considerando que o caput do anexo
prescreve o contato permanente, o enquadramento só é aplicável para profissionais que se
dediquem exclusivamente a pacientes comuns. Ainda que o profissional da saúde atenda
pacientes em isolamento, além dos pacientes comuns, o enquadramento apropriado é o de
grau médio.

O enquadramento não se aplica aos profissionais que mesmo laborando em hospital ou


estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana não tenha contato com
pacientes, como é o caso do pessoal administrativo, segurança patrimonial, cozinha e outros.
No entanto, farão jus ao mesmo enquadramento se houver contato com o paciente para

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coleta de assinatura do mesmo (pessoal administrativo), entrega de refeições (profissionais da


cozinha) ou ajuda na condução do paciente (seguranças).

Quanto ao material infecto-contagiante, constituído por roupas, roupas de cama, instrumentos


(espéculos, tubos, bisturis etc), consumíveis (remédios, gazes, esparadrapos, curativos etc)
vale a mesma regra: aqueles que tiverem contato direto farão jus ao enquadramento, aqueles
que não tiverem contato, não farão jus ao enquadramento. Desta forma, a simples dispensação
de medicamento, como a entrega de um comprimido ao paciente não pode ser classificado
como contato.

Com relação às roupas de cama ou do paciente, é preciso esclarecer que a área de lavanderia
tem exposição direta aos materiais infecto-contagiantes; no entanto, a área que passa as
roupas não tem exposição pelo fato da lavanderia esterilizar todos os materiais que por lá
passam.

HOSPITAIS, AMBULATÓRIOS, POSTOS DE VACINAÇÃO E OUTROS


ESTABELECIMENTOS DESTINADOS AO ATENDIMENTO E TRATAMENTO DE ANIMAIS
(APLICA-SE APENAS AO PESSOAL QUE TENHA CONTATO COM TAIS ANIMAIS)

Este enquadramento trata do labor em estabelecimentos destinados ao atendimento e


tratamento de animais. Os profissionais, para fazerem jus ao enquadramento, devem
obrigatoriamente terem contato direto com os animais. Da mesma forma que o homem, os
animais também possuem suas próprias doenças infecto-contagiosas, sendo que algumas
delas podem infectar o ser humano. São as chamadas antropozoonoses, doenças primárias de
animais que podem ser transmitidas ao homem, como por exemplo: (1) febre aftosa,
característica dos bovinos, ovinos e suínos; (2) doença vesicular dos suínos; (3) encefalomielite
equina e ovina; (4) newcastle, das aves; (5) parainfluenza III, dos bovinos; (6) raiva, dos
mamíferos, inclusive morcego e aves; (7) ectima, dos ovinos; (8) histoplasmose, dos pombos e
morcegos; (9) papilomatose bovina; (10) brucelose; (11) mormo, dos cavalos, burros e cabras;
(12) carbúnculo, dos bovinos e ovinos e; (13) toxoplasmose.

O enquadramento se aplica aos veterinários, zootécnicos, agrônomos, biólogos que lidem com
saúde animal de forma habitual. Também se aplica o enquadramento aos profissionais que
vacinam animais durante as campanhas de vacinação.

O enquadramento não se aplica, por falta de previsão legal, aos pesquisadores, cabeleireiros
de cães e gatos, passeadores de cães, domadores de animais, treinadores de animais,
atendentes de pet shop, vigilantes acompanhados com cães de segurança, alimentadores de
animais etc. No caso de preparo de vacinas e soro, há enquadramento específico previsto no
anexo 14.

CONTATO EM LABORATÓRIOS, COM ANIMAIS DESTINADOS AO PREPARO DE SORO,


VACINAS E OUTROS PRODUTOS

Este enquadramento trata do trabalho em contato com animais destinados ao preparo de soro
e vacinas. Apesar de tais animais se encontrarem saudáveis e com ausência de doença, não
podendo trazer qualquer doença a quem tenha contato com o animal, não é do nosso mérito
questionar o porquê do enquadramento.

O enquadramento é oportuno para os profissionais que lidem diretamente com o animal,


inoculando o veneno no cavalo ou drenando o sangue rico em anticorpos para o preparo do
soro.

Poderiam ser enquadrados também os trabalhos de retirada de veneno (para fabricação de


soro) de cobras, escorpiões e outros peçonhentos.

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LABORATÓRIOS DE ANÁLISE CLÍNICA E HISTOPATOLOGIA (APLICA-SE TÃO SÓ AO


PESSOAL TÉCNICO)

Este item trata dos trabalhos técnicos em laboratórios de análise clínica e histopatologia. Os
laboratórios de análise clinica realizam as mais diversas análises em fluídos corpóreos, tais
como (1) sangue, (2) urina, (3) sêmen, (4) escarro, (5) fluído cérebro espinhal, (6) fluido sinovial,
(7) fluido pleural, (8) fluido peritonial, (9) fluido pericardial, (10) fluido amniótico e tantos outros.

Os laboratórios de histopatologia lidam com tecidos e realizam estudo (biópsia) de como uma
doença específica afeta o tecido.

As duas atividades implicam o manuseio de fluídos corpóreos e tecidos por aqueles que
conduzem a análise.

Tal enquadramento é aplicável aos profissionais laboratoristas, biomédicos, farmacêuticos,


químicos, médicos patologistas e outros profissionais.

GABINETES DE AUTÓPSIAS, DE ANATOMIA E HISTOANATOMOPATOLOGIA (APLICA-SE


SOMENTE AO PESSOAL TÉCNICO)

Este enquadramento abriga o trabalho em gabinetes de autópsia (o nome correto seria


necrotério, local onde se realizam necropsias), gabinetes de anatomia (atualmente
denominados laboratórios de anatomia) e gabinetes de histoanatomopatologia (também pouco
utilizados atualmente).

Autópsia é um procedimento médico que consiste no exame do cadáver para determinação da


causa mortis. O exame é realizado mediante abertura de três cavidades do corpo: crânio, tórax
e abdômen.

Nos gabinetes de anatomia são preparadas as peças anatômicas ou até mesmo o corpo inteiro,
os quais são conservadas em formol (formaldeído). Todo o sangue da peça é retirado e
substituído por outro líquido. O preparo da peça anatômica envolve a exposição aos fluidos
corpóreos. No entanto, após o preparo da peça e conservação em formol, esta não oferece
mais qualquer risco de contaminação, ainda que a peça seja oriunda de vítima portadora de
moléstia infecto-contagiosa.

O enquadramento é específico para legistas, preparadores de peças, técnicos de laboratórios


de anatomia e outros. Porém, não cabe o enquadramento para professores que ministrem a
disciplina de anatomia com peças já conservadas em formol.

CEMITÉRIOS (EXUMAÇÃO DE CORPOS)

Este enquadramento contempla a exumação (desenterro) de corpos em cemitérios. Um corpo


após enterrado se decompõe, remanescendo após alguns poucos anos somente os ossos.

É interessante frisar que o enquadramento contempla apenas a exumação e não o enterro de


corpos. Possivelmente tal enquadramento foi motivado pelo fato do contato direto com os restos
mortais durante a exumação e, no caso do enterro, inexiste o contato com o corpo mas tão
somente com a urna funerária e suas alças.

Também não está enquadrado o simples trabalho em cemitérios tais como a manutenção de
túmulos, a preparação das covas e outros trabalhos similares.

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O enquadramento não diferencia as situações de exumação em caso de enterro convencional


(abaixo da terra) ou em gavetas.

ESTÁBULOS E CAVALARIÇAS

Este enquadramento trata do trabalho realizado em estábulos e cavalariças. Estábulo é a casa


ou local vedado onde animais domésticos como gado bovino ou cavalos são recolhidos. Aí
ficam geralmente para dormir e alimentar-se. Especificamente para cavalos pode ser usada a
palavra cavalariça.

Usando dos critérios de hermenêutica, que ditam que onde o legislador não dispôs, não cabe
ao interprete fazê-lo, o anexo faz menção somente a estábulos e cavalariças, não havendo
previsão legal de outros locais tais como chiqueiros, granjas, currais etc.

No entanto, o item estábulos e cavalariças também têm abrigado outros enquadramentos.


Temos observado que a maioria dos julgados do TST concedeu o adicional de insalubridade
para trabalhadores em galinheiros, aviários, chiqueiros e até canis.

Num destes acórdãos, o Magistrado justifica a analogia citando o mestre Vicente Rao:

Quando na norma se declara menos do que, na realidade, se quis declarar, e, em


consequência, sua letra exclui casos que o seu espírito abrange, então, o intérprete, amplia o
sentido direto e imediato do texto, para fazer incidir no preceito os casos aparentemente e
indevidamente não contemplados.

Essa extensão, advirta-se, há de resultar do espírito da norma, devidamente e previamente


apurado e definido segundo os processos interpretativos (...) o intérprete não altera o preceito,
para ampliá-lo, ou restringi-lo, além ou aquém de seu conteúdo real; apenas amplia ou restringe
o seu significado aparente, que se revela insuficiente ou excessivo em relação ao pensamento
fiel da disposição315 (in O Direito e a Vida dos Direitos, Rao, Vicente, 3ª ed., pp. 451/452).

RESÍDUOS DE ANIMAIS DETERIORADOS

Este enquadramento trata da atividade de recolhimento de resíduos de animais deteriorados.

Resíduos de animais deteriorados faz menção aos animais degenerados ou apodrecidos,


conforme já reconhecido por nossos Tribunais. O contato com animais mortos, que não se
encontram em estado de apodrecimento ou degeneração não se enquadra neste item, como
por exemplo, o recolhimento de aves mortas do aviário.

No entanto, se o corpo não for retirado imediatamente, após algum tempo se deteriorará, e
exigirá alguns cuidados adicionais daquele encarregado de retirar tais resíduos.

Outra situação comum é o atropelamento de animais em rodovias e pistas, exceto no caso em


que houve apodrecimento ou degeneração, tal condição não se configura no item em epígrafe.
A situação também pode ocorrer em zoológicos, circos (que ainda mantém animais para
shows), clínicas veterinárias, pet shop etc.

Concluímos então que o Anexo 14 da NR 15 somente tem a função de determinar algumas categorias
que tem direito ao adicional de insalubridade por exposição aos riscos biológicos, sem ter um
compormisso com a prevenção de doenças no ambiente ocupacional. É a Monetização do Risco.

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LEITURA OBRIGATÓRIA

TORLONI, Maurício. Programa de Proteção Respiratória: recomendações, seleção e uso de


respiradores. São Paulo: FUNDACENTRO, 1994.

ABNT; Equipamentos de proteção respiratória; peça semifacial filtrante para partículas, NBR
13698.1996.

PORTARIA n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Ministério do Trabalho. 36ed., Atlas, NR-6


Instrução Normativa n.1 de 11/04/1994, Ministério do Trabalho e Emprego.

Programa de Proteção Respiratória, Recomendações, seleção e Uso de Respiradores,


FUNDACENTRO.

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