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RESUMO AULA AO VIVO

ESCONDERIJOS DO TEMPO - MÁRIO QUINTANA

Contendo cinquenta poemas breves, quase todos escritos em versos livres ou em forma
de prosa poética, mostra-se também um livro de maturidade de Quintana por trazer como temas
centrais as suas reflexões sobre a velhice, a morte, o fazer poético e, sobretudo, a memória –
questões de natural interesse para um escritor que trazia então em si o conhecimento e a vivência de
toda uma longa vida dedicada à literatura.
Um dos traços marcantes de “Esconderijos do Tempo” é a coloquialidade de
sua linguagem – aparentemente um estratagema do poeta para tornar seus poemas ainda mais
próximos do que seriam verdadeiros diálogos com o leitor ao colocar textualmente traços
característicos da oralidade[1].
Os poemas reunidos nessa obra também se mostram ricos em imagens, aparentemente
comuns, por meio das quais Quintana buscava construir o sentido maior de seus textos – mas o uso
de objetos de fácil identificação é, talvez, um dos trunfos da poesia de Mário Quintana que a
tornaram amplamente divulgada entre os leitores de poesia no Brasil.
Em Mario Quintana, o poeta, não existiu envelhecimento. "Esconderijos do tempo" é um
livro de maturidade plena. Nele estão poemas que tematizam a passagem do tempo e o caráter fugaz
dos sentimentos e das sensações, mas sem ceder à nostalgia ou à melancolia. A palavra poética
afirma-se aqui como celebração e concretização daquilo que perdura
Publicado em 1980, quando Quintana contava setenta e quatro anos de idade. É a obra onde
mais se acentua a sua simplicidade e mistério de dizer as coisas comuns. O livro é constituído de 50
poemas geralmente breves e de versos livres ou em prosa, havendo apenas um soneto. Quintana
praticamente se utiliza de todos os metros, das redondilhas menores e maiores aos versos
longuíssimos.
Um dos traços marcantes de Esconderijos do Tempo é a coloquialidade de sua linguagem –
aparentemente um estratagema do poeta para tornar seus poemas ainda mais próximos do que seriam
verdadeiros diálogos com o leitor ao colocar textualmente traços característicos da oralidade. Os
poemas reunidos nessa obra também se mostram ricos em imagens, aparentemente comuns, por
meio das quais Quintana buscava construir o sentido maior de seus textos – mas o uso de objetos de
fácil identificação é, talvez, um dos trunfos da poesia de Mário Quintana que a tornaram amplamente
divulgada entre os leitores de poesia no Brasil.

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Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com fins comerciais
ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na Internet, sem autorização do Curso Equação – Cursos Preparatórios.
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ANÁLISE DE DOIS POEMAS DA OBRA “ESCONDERIJOS DO TEMPO”

OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

(QUINTANA, 2005, p.469)

No poema acima nota-se claramente o poeta valorizando a participação do leitor e o fato de a poesia já
existir nele em estado latente, desencadeando um ato de recriação. É como se o poema já estivesse no leitor,
o qual será desperto pelo poder das imagens criadas pelo poeta no momento da composição.
Ao utilizar-se da metáfora ―os poemas são pássaros que chegam / não se sabe de onde, o poeta faz
menção ao mistério do ato poético. Entretanto, ao continuar a ideia, afirmando que esses pássaros ―pousam
/ no livro que lês, ele introduz a figura do leitor chamado a dar sentido ao texto. Assim, o poeta é um
construtor da linguagem e convoca seu leitor a construir junto com ele esse universo linguístico, o poema,
―porque este só se realiza plenamente na participação: sem leitor, a obra existe pela metade

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SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.


Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
(QUINTANA, Mario)

Seiscentos e sessenta e seis" é uma composição curta, de verso livre, na qual sujeito lírico
reflete acerca da condição humana e a passagem inevitável do tempo.

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

O verso inicial apresenta a vida como "uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa",
ou seja, transmite a ideia de que os indivíduos nascem com uma missão para cumprir. Assim, a
própria existência é encarada como uma tarefa ou uma obrigação que vamos adiando.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Estes versos mostram o modo como os ponteiros do relógio parecem funcionar. Primeiro,
nos distraímos e “já são 6 horas”, mas ainda “há tempo”. De repente, quando nos distraímos de
novo, passaram dias, e “já é 6ª feira”. Do nada, o tempo voa e quando reparamos passaram décadas
(“60 anos”) e continuamos adiando a vida.
É evidente a simbologia bíblica presente na escolha deste número, associado ao Mal, à
destruição.
Deste modo, a efemeridade da vida e o ritmo inevitável do tempo surgem como uma
condenação para o sujeito poético e para toda a Humanidade.
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
Quando nos damos conta da velocidade impiedosa com que o tempo passa por nós, "é tarde
demais". O sujeito não quer "ser reprovado", tem que cumprir sua missão, completar "os seus
deveres" o mais rapidamente possível.

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Com este verso, Quintana nos transmite a urgência de viver, a necessidade de pararmos de adiar a
nossa própria vida, de fazermos logo aquilo que queremos ou precisamos fazer. Esta ideia vai
ganhando cada vez mais força até o final da composição.

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