Podemos definir modelo de gestão como à forma como as empresas
organizam suas atividades, garantem a aplicação de procedimentos, normas e regras alinhados aos valores e às crenças estabelecidos pela empresa. Desta forma, a gestão da empresa reflete sua cultura organizacional, seus valores, sua visão e missão. Daí concluirmos que gestão supõe um misto de tecnologias, ou seja, um conjunto de conhecimentos sistematizados e princípios estabelecidos que se desdobram em técnicas e procedimentos de trabalho.
Fredrick W.Taylor, em 1911, publicou “Princípios de Gestão Científica”, em que
defendeu os princípios de uma única melhor maneira de realizar o trabalho, através da seleção dos trabalhadores que melhor desempenharão a tarefa, treinando-os e educando-os com uma clara separação de deveres entre gestores e trabalhadores. Seus estudos visaram à melhoria da produtividade. Embora Taylor seja hoje muito criticado, não há dúvida do quanto contribuiu para profissionalização da gestão.
Um grande exemplo de modelo de gestão utilizado em varias empresas e com
grandes resultados conquistados e o TPM (Total Performance Manangement ou Performance Total do Processo de Manufatura). É um modelo de gestão que identifica e elimina as perdas dos processos de manufatura, maximiza a utilização dos ativos e garante a geração de produtos de alta qualidade a custos competitivos reeducando as pessoas para a prevenção e a melhoria contínua, aumentando a confiabilidade do equipamento e a capacidade dos processos. A palavra “TOTAL” significa que todos os níveis hierárquicos da empresa estão envolvidos na cultura e nas atividades do TPM. Esse modelo de gestão surgiu no Japão num contexto de pós-guerra. Após a Segunda
Guerra Mundial, as empresas japonesas se lançaram na busca de alcançar
metas governamentais de reconstrução nacional. Por questões de sobrevivência, o Japão precisava produzir e exportar, tendo para isso, que vencer o principal desafio de reverter a reputação de produtor de segunda categoria, devido a exportação de bens de má qualidade antes da Segunda Grande Guerra. Objetivos do TPM: 1. Preparar os funcionários e delegar a responsabilidade de conservar em boas condições de funcionamento as máquinas com as quais trabalham; 2. Eliminar as causas das quebras e dos defeitos dos equipamentos; 3. Aumentar a eficácia dos equipamentos com a participação de todos os funcionários. 4. Proporcionar o aumento da vida útil do equipamento; 5. Basear-se no comportamento humano; 6. Facilitar a operação e a manutenção dos equipamentos; 7. Proporcionar um ambiente de trabalho mais saudável, com limpeza, organização e segurança.
O TPM e aplicado através de Pilares, que devem trabalhar de forma integrada
na busca pelos objetivos estabelecidos.
Outro exemplo de modelo de gestão aplicado nos tempos de hoje chama-se
Seis Sigma. O Programa Seis Sigma de acordo com Harry (1998), tem se mostrado entre as empresas como uma campanha agressiva para levantar a lucratividade, aumentar a participação no mercado e melhorar a satisfação do cliente. A filosofia do seis sigma reconhece que há uma correlação direta entre o número de defeitos dos produtos, custos operacionais gastos e o nível de satisfação do cliente. A estatística do seis sigma mede a capacidade do processo de desenvolver um trabalho livre de defeitos (defect free work). O valor do sigma indica a variabilidade do processo, e quanto maior o número de sigmas contados a partir da média da distribuição, a probabilidade complementar (área sob a cauda da distribuição) tende a zero, ou seja, menos provavelmente um processo irá produzir defeitos. Consequentemente, a confiabilidade no produto aumenta, a necessidade de realização de testes e inspeção diminui, o estoque intermediário sofre declínios, os custos reduzem e a satisfação do cliente aumenta. Para Hoerl (1998), mais importante que a definição técnica do programa Seis Sigma é o conceito de seis sigma como um meio quantitativo e disciplinado para a melhoria de métricas definidas em manufatura, serviço ou processos financeiros. Este meio leva a um processo de seleção os projetos corretos baseados em seus potenciais para melhorar métricas de desempenho e selecionar e treinar as pessoas certas para alcançar os melhores resultados financeiros.
Os projetos de melhoria seguem um processo disciplinado de quatro fases,
denominado DMAIC: Medir(M), Analisar (A), Melhorar (I) e Controlar (C). Algumas vezes, como uma fase adicional, tem-se a fase Definir (D). Harry (1998) considera o modelo DMAIC uma estratégia de ruptura (breakthrough strategy), onde cada fase envolve ações diferenciadas, que serão descritas abaixo: a. Medir: Nesta fase, são selecionadas as características críticas para a qualidade (CTQ's) e tem-se o mapeamento do respectivo processo através de medições necessárias, registro dos resultados e estimação da capacidade de longo prazo e curto prazo do processo; b. Analisar: Esta fase permite a realização de benchmarking das métricas principais ao desempenho do produto; c. Melhorar: Esta fase compreende a especificação das características do produto que precisam ser melhoradas para se alcançar os objetivos de desempenho e financeiros; d. Controlar: Esta fase é projetada para que seja feita a documentação e monitoramento das condições do novo processo através de métodos de controle estatístico do processo. Além dos quatro estágios disciplinados, o programa seis sigma apresenta outras características fundamentais, conforme Hahn, Doganaksoy e Hoerl: É um programa top-down, conduzido pelos CEOs de cada empresa. A liderança é de responsabilidade dos MBB (Master Black Belt) e BB (Black Belts). É um programa altamente orientado por dados e pela utilização de ferramentas estatísticas. Envolve o treinamento de todos na empresa em DMAIC, ou conceitos modificados e ferramentas - tipicamente em um programa de quatro semanas, distribuído em três meses. O foco do seis sigma deixou de ser principalmente na manufatura e passou a considerar todas as operações da empresa, e especialmente aquelas que causavam impacto sobre o cliente. Com o uso do seis sigma, a qualidade poderia ser alcançada através da combinação de melhoria no desempenho (improving mean performance) e redução de variabilidade.
Um terceiro modelo ou forma de gestão e O TQC, ou Total Quality Control
(Controle de Qualidade Total, é um sistema de gestão da qualidade que busca transcender o conceito de qualidade aplicada ao produto. No TQC a qualidade é entendida como a superação das expectativas não apenas do cliente, mas de todos os interessados (stakeholders). O termo “controle da qualidade total” foi usado pela primeira vez por Armand Feigenbaum, em 1956, quando ele propôs a idéia de que a qualidade só poderá resultar de um trabalho em conjunto de todos os que estão envolvidos no desempenho da organização, não apenas de um grupo de pessoas. Embora Feigenbaum também defendesse a criação de uma estrutura organizativa de suporte à qualidade, a Engenharia de Qualidade, que seria a responsável por resolver questões de qualidade que englobassem mais de uma área da empresa. Assim, a abordagem proposta por Feigenbaum dá ênfase à comunicação entre os departamentos da empresa, principalmente os responsáveis por produção, materiais e design.
O conceito de controle da qualidade total engloba os seguintes itens:
orientação ao cliente, qualidade em primeiro lugar, ações orientadas por prioridades, fatos e dados, controle de processos e da dispersão (variação dos dados que indicam quando há uma possível falha no processo) e investigação das causas, “próximo processo é o seu cliente” (para que cada funcionário tenha em mente que a qualidade de seu trabalho interfere na qualidade do produto na próxima etapa do processo), identificação das verdadeiras necessidades dos clientes, evitar que erros já identificados sejam cometidos novamente e comprometimento da alta direção.
Assim podemos sintetizar os princípios do TQC:
1. O cliente em primeiro lugar. Nossas ações devem ser orientadas para a
satisfação das necessidades e expectativas dos clientes; 2. Conheça exatamente a situação atual da sua empresa, departamento ou seção; 3. Reconheça claramente os pontos fracos do seu local de trabalho; 4. Oriente suas decisões por prioridades, atacando primeiro o mais critico e deixando de lado o mais importante; 5. Não se concentre somente nos resultados, o processo e o mais importante; 6. Não se concentre somente nos resultados, o processo e mais importante; 7. Observe os fatos e levante dados. Saia do escritório e observe os problemas onde eles estão ocorrendo; 8. Não observe somente a media, a distribuição dos dados e mais importante; 9. A qualidade se faz durante o processo produtivo. Não adianta correr atrás do problema depois que ele aconteceu. Atue preventivamente; 10. Instruções de boca são rapidamente esquecidas. Ao dar instruções sobre uma tarefa critica, utilize procedimentos escritos; 11. Ao detectar problemas, tome as contramedidas necessárias imediatamente; 12. Estabeleça um sistema para evitar a reincidência dos problemas;
Outros dois modelos de gestão vêm sendo implementados em várias
organizações: o Balanced Scorecard (BSC) e a Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Ambos consideram a organização de forma mais sistêmica, valorizando o relacionamento com todos os públicos envolvidos no negócio (fornecedores, clientes, público interno, governo, entre outros) e dando atenção não só a aspectos financeiros, mas também aos sociais, ambientais e culturais que permeiam uma organização.
O modelo do BSC inclui indicadores balanceados em quatro perspectivas
diferentes - financeira, clientes, processos e de aprendizado & inovação. Desde seus estudos e criação em 1992 por Robert Kaplan, professor da Harvard Business School e David Norton, consultor de empresas, o BSC vem se mostrando um conceito muito efetivo, pois ajuda a delimitar a proposta de valor da organização e o modo como a empresa irá se apresentar ao mercado e aos seus clientes. De acordo com a consultoria Gentia, que implementa este modelo em empresas multinacionais no exterior e no Brasil, grandes empresas como Telefônica, ABN Amro, HSBC, Xerox e Mc Donald´s já utilizam o BSC (1). Já o modelo da RSE considera que o planeta, as comunidades locais, o meio ambiente e a sobrevivência dos negócios, estão todos relacionados, exigindo da empresa uma relação ética e transparente com todos os públicos com os quais ela se relaciona.A relevância sobre o tema vem sendo tão forte, que se reflete no número de empresas associadas ao Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, entidade referência no tema no Brasil, desde sua fundação: em 1998, 11 empresas participavam, em 2006 já são 1.169 empresas associadas (2). Frente a estes desafios, percebe-se que a área de Recursos Humanos terá uma importância fundamental em preparar a organização para tais mudanças, uma vez que o diferencial de mercado está cada vez mais ligado ao capital intelectual e à gestão do conhecimento, ou seja, às pessoas que compõem esta organização e como elas podem contribuir para a construção de uma cadeia de valor nas empresas. Embora muito se comente a respeito da importância do capital humano nas organizações, deve- se repensar o papel da área de Recursos Humanos (RH) e questionar como seus principais subsistemas podem contribuir para dar suporte e agregar valor aos resultados organizacionais. Portanto, será trabalhado neste estudo da relação entre os modelos de gestão baseados no Balanced Scorecard, na Responsabilidade Social Empresarial e as práticas de Recursos Humanos nas organizações.
Todos esses modelos de gestao têm exemplos de sucessos e fracassos e
continuam sendo utilizados em muitas empresas nos dias de hoje. A escolha do modelo de gestão ideal passa pelo tipo de negocio, complexidade e principalmente pela cultura da empresa. O aspecto fundamental para o sucesso e a crença das pessoas no modelo escolhido e a disciplina na execução das ferramentas do modelo de gestão.
A criação de um modelo de gestão se torna importante para deixar bem claro
como os resultados desejados serão alcançados, ou seja, garantir a sobrevivência da empresa através da produção de bens e serviços de alta qualidade que atendam os desejos e anseios dos consumidores. Através do modelo de gestão estará estruturado como esses objetivos podem ser alcançados. As experiências vividas por pequenas, e grandes empresas mostram que as empresas que iniciam com um modelo de gestão estabelecido e estruturado possuem grandes chances de alcançar seus objetivos, sem naufragar na primeira grande dificuldade que aparecer.