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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) DE DIREITO DA

VARA CÍVEL DA COMARCA DE MARIANA/MG.

ASSOCIAÇÃO CIVIL DE ARTESÃO E MODERADORES ATINGIDOS PELO


DESASTRE DE MARIANA organização não governamental, legalmente constituída sob
forma de associação civil, com sede no endereço _, representado por seu advogado inscrito
na OAB/MG sob nº_, consoante procuração anexo, e-mail_, e com escritório profissional
no endereço_ Município Mariana/MG, local indicado para receber de intimações, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência impetrar:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR com fundamento na Lei 7.347/85,
em desfavor da EMPRESA MINERADORA _, pessoa jurídica de direito privado, inscrita
no CNPJ sob o n. (...), com sede no endereço _; UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de
direito público interno, (qualificação completa); ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa
jurídica de direito público interno, (qualificação completa); MUNICÍPIO DE MARIANA,
pessoa jurídica de direito público interno, (qualificação completa);

I – BREVE RELATO DOS FATOS

No dia 11 de novembro de 2015 o rompimento da barragem da empresa mineradora


impetrada, resultou o maior desastre ambiental dos últimos tempos em nosso país, em
decorrência de tal evento, Bento Rodrigues, distrito de Mariana/MG, foi completamente
devastado pelo derramamento de lama, tendo sido o local mais afetado.
Por conta do acontecido, várias famílias, em especial aos associados, tiveram em um
instante, suas histórias, seus bens familiares e entes queridos serem levados pela “onde de
lama”.

Sabe-se que, em determinados casos, o rompimento de barragens é desencadeado por


fatores extremos, entretanto, no presente caso, ao que tudo indica, com o que fora apurado
nas investigações, o fato decorreu de negligência, imprudência e imperícia por parte da
empresa responsável.

Desse modo, a presente ação é impetrada contra a Empresa Mineradora_, tendo em vista
que é responsável pela barragem que se rompeu, dando origem ao direito da impetrante
em ver-se reparada por todos os danos suportados até então e, além disso, conforme será
demonstrado, a impetrada deve ser responsabilizada também pelos danos ambientais
imediatos, progressivos e permanentes.

2 – DAS LEGITIMIDADES

No que diz respeito a legitimidade ativa, o artigo 5º, da Lei n.º 7.347/85, que disciplina a
ação civil pública, tem um rol taxativo, vejamos:

“Art. 5º - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I. Ministério Público;

II. Defensoria Pública;

III. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV. Autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista; e

V. Associação, que concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;

b) inclua entre as suas finalidades institucionais a proteção dos seguintes direitos difusos e
coletivos: o patrimônio público e social, meio ambiente, consumidor, à ordem econômica,
à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
De acordo com dispositivo acima disposto existem alguns requisitos a serem atingidos para
tal propositura, e é garantido falar que categoria jurídica da Cooperativa de Artesãos se
enquadra no disposto no artigo 5º da Lei 7.347/85 e tem legitimidade ativa para propositura
de ação civil pública.

Quanto ao requisito de pertinência temática (alínea B, do inciso V do artigo 5º da Lei nº.


7.347/85. Dá análise do Estatuto Social que rege a referida Cooperativa de Artesãos, restou
observado que o mesmo possui cláusula que define dentre suas finalidades a proteção ao
meio ambiente, podendo-se valer de todos os meios de tutela para sua preservação e
reparação, dentre elas, ações coletivas como o mandado de segurança coletivo e ação civil
pública, atingindo o requisito de pertinência temática.

A cooperativa foi fundada em 2008, contando atualmente com 6 anos e por essa razão
preenche o requisito temporal aduzido no artigo 5º inciso, V, alínea a da Lei de Ação Civil
Pública, o que confere a esta legitimidade ativa.

Acontece que a intenção de requerer a reparação pelos danos suportados por conta do ato
ilícito praticado pela impetrada a Cooperativa de Artesãos de Pedra Sabão constituiu uma
única entidade representativa, na forma de associação civil, juntamente com moradores
não associados e atingidos pelo desastre.

Com o exposto, verifica-se que a nova associação civil foi constituída fora do tempo mínimo
exigido pela alínea A do inciso V do artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública, porém, como
a ação coletiva objetiva ser indispensável perante da relevância social da demanda, é
possível ser dispensado por Vossa Excelência.

Pois cuida-se de direitos difusos, previsto no artigo 81, I do CDC, assim considerados
interesses transindividuais, pois, trata-se de pessoas indeterminadas e conectadas pela
circunstância de fatos:

“Art. 81. (...)

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;”
Os interesses transindividuais são os coletivos em sentido lato, e se situam em posição
intermediária entre os interesses públicos e o estritamente individual.

Diante da grande relevância social envolvida, bem como os objetivos da presente demanda,
tem-se que a “dispensa” do requisito temporal é perfeitamente cabível.

Portanto, pugna-se pela dispensa do requisito temporal exigido pela Lei n.º 7.347/85,
conferindo-se legitimidade ativa à Associação de Moradores e Vítimas, ora impetrante.

A ação civil pública no que diz respeito a legitimidade passiva, sabe-se que é possível que
qualquer pessoa verse no polo passivo, seja ela física ou jurídica, de direito público ou
privado que seja responsável por ameaça de dano ou lesão aos direitos coletivos tutelados
no art. 1º da Lei 7.347/85.

Neste caso, conforme resta límpido, a empresa mineradora é a responsável direta pelos
danos ocasionados à impetrante, razão pela qual é contra ela que se litiga.

No mais, a União, o Estado de Minas Gerais e o Município também são corresponsáveis


pelo desastre ocorrido, vez que este são os detentores de liberação de licenças de
funcionamento, avaliação de estudo de impacto ambiental, e principalmente por possuir o
comando de órgãos estatais que são responsáveis pela fiscalização desses tipos de
empreendimentos.

Destaca-se ainda, que o diposto entes exercem competência comum, conforme artigo 23,
inciso VI da CF/88.

Diante de tudo até aqui exposto, a empresa mineradora, a União, o Estado de Minas Gerais
e o Município devem ser corresponsabilizadas pelo desastre ocorrido, pois por
consequência do acontecido, está em risco todo o meio ambiente atingido bem sem falar
nos sobreviventes, devendo estes solidariamente reparar os danos causados ao meio
ambiente em questão.

3 – DO DIREITO

Nos moldes do artigo 1º da Lei 7.347/85 (lei da ação civil pública)é cabível a ação civil
pública para conter ou proteger os bens protegidos quais sejam:
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico e paisagístico, a qualquer interesse difuso ou coletivo, por infração
econômica, à ordem, urbanística, à honra e à dignidade de grupos sociais, étnicos ou
religiosos e ao patrimônio público e social. Para punir ou reprimir os danos morais ou
materiais.

Conforme documentos juntados à inicial, levando em consideração os direitos difusos do


grupo associado, e em virtude ao dano ambiental causado, o qual até o momento tomou
proporções incalculáveis, não resta outra maneira a não ser acionar a justiça para se garantir
a responsabilização da empresa requerida.

Em algumas ocasiões, para que alguns direitos sejam resguardados, como o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, a educação, a saúde, etc., é mais que necessário que seja
observada a compatibilidade de leis ou atos normativos em relação ao texto constitucional,
enquanto norma jurídica fundamental.

O Direito do Ambiente recebeu contornos límpidos após as duas grandes guerras


mundiais, momento a partir do qual o meio ambiente ecologicamente equilibrado passou
a ser considerado um bem coletivo e digno de tutela estatal, por também ser um direito
fundamental (MILARÉ, 2011).

A visão que o homem passou a sentir em relação à natureza é de que dela fazia parte, e,
portanto, o modelo até então existente, de que a natureza era um objeto a ser explorado,
avançou para a de um bem de uso comum do povo.

Em nosso país, com advento do Código Florestal em 1965, o Código de Mineracao em


1967 e, ainda, a Lei Nacional de Proteçâo a Fauna (Lei nº 6.453), em 1977, foram balizas
importantes enquanto proteção jurídica material do ambiente. No entanto, faltavam
instrumentos realmente eficazes para que essa proteção pretendesse de fato ser integral.

Indo mais adiante, em termos de legislação material ambiental, a Lei nº 6.938/1981, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, foi um marco para o avanço de mecanismos processuais de defesa
do ambiente, uma vez que no § 1º do art.
14 passou a prever que “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. Nesse diapasão,
foi fundamental para que em 1985 essa ação de responsabilidade fosse denominada “ação
civil pública”.

Aqui, não tem o que se questionar a culpa, em razão da responsabilidade ser objetiva,
conforme acima mencionado, os danos encontram-se incalculáveis diante da devastação
causada pelo rompimento da barragem da empresa requerida.

Convenciona o artigo 225, § 1º, inciso VII, da Constituição Federal:

"TODOS TEM DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE


EQUILIBRADO, BEM DE USO COMUM DO POVO E ESSENCIAL À SADIA
QUALIDADE DE VIDA, IMPONDO-SE AO PODER PÚBLICO E À
COLETIVIDADE O DEVER DE DEFENDÊ-LO E PRESERVÁ-LO PARA AS
PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES".

E dispõe o seu §§ 2º e 3º:

"§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.”

“§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os


infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”

Conforme incansavelmente demonstrado, a empresa requerida, a União, o Estado de


Minas Gerais e o Município devem ser cooresponsabilizados pelo desastre ocorrido, pois
no presente caso há o envolvimento de direitos difusos do grupo associado, os quais foram
violados, em decorrência do dano ambiental ocasionado, razão pela qual mostra-se
perfeitamente cabível o manejo da presente ação civil pública, como forma de se buscar a
intervenção do Poder Judiciário para a preservação dos bens jurídicos tutelados pela
Constituição e responsabilização da impetrada pelos danos causados.
4 – DO PEDIDO LIMINAR

Diante dos fatos, por tudo que fora explanado, não restam dúvidas de que a concessão de
tutela antecipada é medida extremamente necessária, como forma de evitar que a
impetrante continue a suportar os vários danos decorrentes da conduta da impetrada.

Conforme entendimento predominante, a Ação Civil Pública com a finalidade de


recuperação de dano ambiental, pode ser ajuizado contra o responsável direto ou indireto,
ou contra ambos, uma vez que de certa forma todos contribuíram para a sua ocorrência,
sendo patente a solidariedade.

É expressamente previsto na Lei nº. 7.347/85 que regula a matéria procedimental da ação
civil pública, em seu 12º artigo há a proposição da medida liminar, ante a eventual
necessidade de tutela instrumental ao objeto da tutela jurisdicional principal, de cunho
cognitivo, garantido a efetividade e utilidade desta.

A tutela de urgência prevista no artigo 305 do Código de Processo Civil de 2015 requer
além das condições comuns da ação, condições específicas, ou seja, a presença da “fumus
boni juris”e do “periculum in mora”.

Na presente demanda, encontram-se perfeitamente presentes, a “fumaça do bom direito”,


em razão do flagrante desrespeito às normas ambientais vigentes; e o “perigo da demora”,
surge, no caso em questão, conforme divulgação em jornais de circulação nacional e
internacional, a atividade da empresa impetrada ocasionou danos ambientais ao patrimônio
natural da região, sendo certo que a menos que se coíba por ordem judicial, venha ela antes
do término da presente ação, a destruir por completo irremediavelmente o referido
patrimônio, com a prestação jurisdicional, que certamente advirá em favor da sociedade,
restará inócua.

Portanto, deve a medida liminar ser deferida para que a empresa impetrada paralise
imediatamente qualquer atividade de extração em definitivo.

Além do mais, está manifestamente presente o risco de lesão grave de difícil reparação,
tendo em vista a importância do bem jurídico ambiental
e a situação peculiar de agravamento diário dos níveis de degradação ambiental.

Caso não sejam imediatamente iniciadas as atividades de recuperação do ambiente


degradado pelas rés, a situação tenderá a tomar proporções ainda mais profundas, e a
reparação, a tornar-se menos efetiva, a gravidade dos fatos e a magnitude dos danos
causados justificam, por si só, o deferimento da medida antecipatória. Pois, aguardar a ação
do tempo, em um caso de dano ambiental em proporções nunca vista, é equivalente a
legitimar tal ato e dificultar ainda mais a reparação do dano, o que poderia se equiparar a
denegação de Justiça.

5 – DOS PEDIDOS

Diante do exposto e fundamentado, a impetrante requer:

I. A citação dos impetrados, na pessoa de seus representantes legais, para responder, sob
pena de revelia, bem como para manifestarem sobre o pedido de liminar no prazo de 72
horas conforme artigo 2º da Lei nº.8.437/92 por contemplar no polo passivo pessoa de
direito público interno;

II. A concessão de medida liminar para que se suspendam imediatamente qualquer


atividade de extração em definitivo, bem como comecem prontamente as medidas de
contenção do dano ambiental, sob pena de multa diária a ser arbitrada por Vossa
Excelência;

III. A determinação para que as impetradas apresentem um plano de recuperação para


atendimento dos atingidos pelo desastre com máxima urgência, no prazo a ser fixado por
Vossa Excelência, com detalhamento das ações a serem desenvolvidas com cronograma de
execução;

IV. A intimação do representante do Ministério Público para apresentar parecer, nos


termos da lei;

V. E por fim, que seja julgado procedente, tornando definitiva a liminar concedida, nos
termos do artigo 487, inciso I do CPC/2015 dessa forma condenar a empresa responsável
direta pelo dano objetivo causado, a pagar
indenização por danos coletivos causados, a ser arbitrado por Vossa Excelência conforme
dispõe o artigo 3º da Lei 7.347/85;

VI. E a condenação das impetradas ao pagamento de custas e honorários advocatícios;

VII. A concessão dos benefícios do artigo 18 da Lei nº 7.347/85;

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, especialmente pelos
documentos ora juntados, oitiva de testemunhas e outras mais que se fizerem necessárias,
desde já requeridas.

Dá se a causa de RS 500.000,00 (quinhentos mil reais) para meros efeitos fiscais.

Nestes termos;

Pede deferimento

Biguaçu, 28 de Abril de 2021.

LUCAS COUTINHO VIEIRA

OAB/MG

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