Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE QUÍMICA
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA

JULIA DE SOUZA CORREA

DETERMINAÇÃO DE CROMO UTILIZANDO O SISTEMA FIA ACOPLADO AO


ESPECTROFOTÔMETRO UV-VIS

RIO DE JANEIRO
2021
1. INTRODUÇÃO

A análise por injeção em fluxo, do inglês flow injection analysis (FIA), surge como uma
proposta de automação, ou semi-automação, na área da química analítica, de forma a diminuir
a interferência do analista na análise, assim como diminuir seu contato com substâncias
possivelmente tóxicas[1]. O método se baseia na injeção da amostra em fluxo contínuo por um
dos segmentos do equipamento, até entrar em contato com a solução de reagente e com uma
solução carreadora, chegando, então, a um detector, que pode variar dependendo do tipo de
analito presente[2].

A implementação desse método apresenta algumas vantagens em relação às análises


instrumentais convencionais[1], entre elas as mais importantes que devem ser destacadas são a
possibilidade de maior número de análises no mesmo intervalo de tempo, reprodutibilidade
maior por tirar erros do analista, diminuição de reagentes e, consequentemente, de rejeitos.
Mesmo ganhando vantagens sobre os métodos convencionais, a FIA consegue manter a
sensibilidade, seletividade e o limite de detecção de sua contraparte.

Em questão de instrumentação, a FIA é relativamente simples em sua construção. O sistema


completo é composto por uma bomba peristáltica que é responsável por proporcionar o
impulso das soluções no tubos, um sistema de injeção de amostra que irá sofrer dispersão no
líquido carreador e se misturar ao reagente na bobina de reação, sendo então levados ao
detector[1,2]. Dentre os detectores mais comuns, destacam-se os eletroquímicos, principalmente
o amperométrico[1], os fluorimétricos, os de absorção molecular e atômica, entre diversos
outros[3].

No experimento deste relatório, trabalhou-se com uma amostra contendo cromo como analito.
Para isso, escolheu-se detectá-lo usando o UV-Vis, após sua reação com a 1,5-difenilcarbazida
em meio ácido[4], formando um complexo magenta que absorve no comprimento de onda
igual a 540 nm.

2. OBJETIVO

Determinar a concentração de cromo em uma amostra desconhecida utilizando o sistema de


análise por injeção em fluxo acoplada a espectrometria UV-Vis.

3. DADOS

Vazão do reagente: 2,5 mL min -1;


Vazão da amostra: 4 mL min -1;

Vazão do carreador: 5 mL min -1;

Concentração da solução de estoque de K2Cr2O7: 1000 mg/L em cromo.

Balão volumétrico: 25,00 mL e 50,00 mL;

Concentração do reagente: 0,1% de difenilcarbazida;

Concentração do carreador: H2SO4 0,1 M;

Alíquota da amostra: 5,00 mL.

4. CÁLCULOS E RESULTADOS

Inicialmente, realizou-se a diluição da solução padrão de K2Cr2O7 1000 mg/L para 100 mg/L
em um balão volumétrico de 25,00 mL:

CiVi = CfVf
1000 mg/L x V i = 100,0 mg/L x 25,00 mL
Vi = 2,500 mL

Portanto, a alíquota da solução padrão de estoque que deve ser tomada é de 2,500 mL para
realizar a diluição.

Para o preparo das soluções utilizadas na construção da curva padrão, realizou-se outra
diluição, dessa vez da solução de 100 mg/L (Cd = concentração diluída). Foram preparadas 5
soluções de concentrações C1 = 1,000 mg/L, C2 = 2,000 mg/L, C3 = 3,000 mg/L, C4 = 4,000
mg/L, C5 = 5,000 mg/L, todas em balões volumétricos de 50,00 mL:

C1V1 = CdVd1 => 1,000 mg/L x 50,00 mL = 100,0 mg/L x Vd1 => Vd1 = 0,5000 mL
C2V2 = CdVd2 => 2,000 mg/L x 50,00 mL = 100,0 mg/L x Vd2 => Vd2 = 1,000 mL
C1V1 = CdVd3 => 3,000 mg/L x 50,00 mL = 100,0 mg/L x Vd3 => Vd3 = 1,500 mL
C1V1 = CdVd4 => 4,000 mg/L x 50,00 mL = 100,0 mg/L x Vd4 => Vd4 = 2,000 mL
C1V1 = CdVd5 => 5,000 mg/L x 50,00 mL = 100,0 mg/L x Vd5 => Vd5 = 2,500 mL
Portanto, as alíquotas tomadas da solução padrão diluída para preparar as soluções C1-C5
foram de 0,5000 mL, 1,000 mL, 1,500 mL, 2,000 mL e 2,500 mL, respectivamente.

A partir das soluções padrões preparadas, mediu-se suas absorvâncias em comprimento de


onda igual a 540 nm, juntamente com a absorvância da amostra. Importante destacar que a
alíquota da amostra de 5,00 mL foi diluída para 25,00 mL (fator de diluição igual a 5). Os
dados experimentais da absorvância encontram-se no Quadro 1.
Quadro 1: Dados experimentais de absorvância medidos das soluções padrão e da amostra.

Com os dados do Quadro 1, foi possível construir uma curva padrão, como mostrado na
Figura 1.

Figura 1: Curvas padrão das soluções C1-C5.

Obtém-se uma equação de reta y = 0,105x - 0,0106, com R² igual a 0,9994, muito próximo de
1, indicando que os dados se adequam ao modelo linear proposto. Pode-se, por fim, calcular a
concentração da amostra diluída:

y = 0,105x - 0,0106
0,329 = 0,105x - 0,0106
x = 3,23 mg/L em cromo

Como ocorreu uma diluição, deve-se calcular a concentração da alíquota inicial da amostra
(5,00 mL):

mcromo = 3,23 mg/L x 0,02500 L => m cromo = 0,0809 mg de cromo


Camostra = 0,0809 mg de cromo / (5,00 x 10-3 L) => Camostra = 16,2 mg/L em cromo
5. DISCUSSÃO

O ponto principal dessa análise está na reação do cromo com a 1,5-difenilcarbazida (DFC),
mostrada na Figura 2. Em sua forma Cr2O72-, o cromo se encontra como cromo (IV), que é um
composto com alta toxicidade e, por isso, sua detecção é de maior interesse na área analítica[4].
Como é mostrado na Figura 2, a estrutura da DFC possui 4 centros quelantes, todos nos
nitrogênios.

Figura 2: Estrutura da 1,5-difenilcarbazida.

Atualmente, o mecanismo mais aceito para a reação é a redução do cromo (IV) pela DFC,
formando cromo (III) e 1,5-difenilcarbazona (Figura 3), com posterior complexação do cromo
pelo composto formado.

Figura 3: Estrutura da 1,5-difenilcarbazona.

A reação global que ocorre é [4]:

2 CrO42- + 3 DFCred + 8 H+ → [Cr(DFCoxi)2]+ + Cr3+ + DFCoxi + 8 H2O

O complexo formado (Figura 4), tem coloração intensa de cor magenta/violeta, e absorve na
região do visível, tornando possível a detecção do cromo por UV-Vis.
Figura 4: Estrutura do complexo [Cr(DFCoxi)2]+.

Pela reação, vale destacar a condição reacional, pois é uma reação que ocorre em meio ácido,
com seu pH ótimo entre 1,6-2,2, e isso justifica a escolha do carreador sendo uma solução de
H2SO4 0,1 M.

Por fim, é importante ter em mente que alguns parâmetros de análise podem ser alterados
dependendo da amostra analisada, assim como quais fenômenos o analista quer que ocorra no
tempo que as soluções permanecem em contato dentro do tubo. Um dos parâmetros que pode
ser otimizado é a vazão das soluções. Em geral, quanto maior a vazão, menor o tempo das
soluções no percurso analítico, o que diminui a extensão da reação no meio, assim como a
dispersão do analito, que pode prejudicar o sinal detectado[1]. Outros parâmetros importantes
são o comprimento do percurso analítico e o volume de amostra injetado[1], ambos
contribuindo para a modificação do sinal analítico detectado, assim como a modificação no
tempo de retenção da amostra. Esses fatores influenciam principalmente na dispersão do
analito.

6. CONCLUSÃO

Após a realização de um processo de diluição, foi possível construir uma curva analítica dos
padrões da solução de K2Cr2O7, relacionando a concentração com a absorvância. Sua
construção proporcionou uma forma de obter a concentração de uma solução desconhecida,
pela medida de sua absorvância. A amostra desconhecida, possuía concentração igual a 16,2
mg/L em cromo.

É importante, ainda, destacar novamente as vantagens da utilização de um método


automatizado ou semi-automatizado nas análises, como a diminuição do tempo, resíduos
gerados, preço por alíquota, quando comparado à análise convencional. Vale ressaltar também
alguns outros problemas solucionados pela FIA[5] como: baixa concentração de analito
(podem ser empregadas técnicas de concentração durante a análise); interferência de matriz;
determinação de múltiplos analitos na mesma amostra; dificuldade de monitoramento em
tempo real, entre outros.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Moreira, Bruna & Takeuchi, Regina & Richter, Eduardo & Santos, André. (2014).
Desenvolvimento de um sistema de análise por injeção em fluxo utilizando materiais
alternativos de baixo custo para fins didáticos. Química Nova. 00. 2014. 1-7. DOI:
10.5935/0100-4042.20140194.

[2] Arruda, M. A. and C. H. Collins. “Informações essenciais para a caracterização de um


sistema de análise em fluxo.” Química Nova 28. 2005. 739-742. DOI:
10.1590/S0100-40422005000400032.

[3] VERONESI, Fernanda et al. Química Analítica Instrumental Experimental I IQA 362. Rio
de Janeiro: [s. n.], [20-].

[4] Sussulini, A., and M. A. Z. Arruda. Determinação De Cromo (VI) Por Espectrometria De
Absorção Atômica Com Chama Após a Extração E Pré-concentração No Ponto Nuvem. 2006.
DOI: 10.1590/S0100-46702006000100009

[5] Valcárcel, M., de Castro, M.D.L. Flow injection analysis: A useful alternative for solving
analytical problems. Fresenius J Anal Chem 337, 662–666 (1990). DOI:
10.1007/BF00323100.

Você também pode gostar