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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SUJEITOS DE DIREITO
1 – Pessoa Natural e sua Personalidade Jurídica
∙ Importante – o Código Civil (art. 1º CC/02) substituiu a expressão “homem” por “pessoa”, o
que significa que a personalidade jurídica é um atributo de toda e qualquer pessoa, seja
ela natural ou jurídica, uma vez que o instituto é abrangente, aplicando-se, também, às
pessoas jurídicas.
∙ Mas se a pessoa falece logo em seguida? Para se aferir se um ser humano realmente nasceu
com vida falecendo em seguida, a Ciência do Direito busca o auxílio na medicina para esta
constatação através do método denominado “Docimasia Hidrostática de Galeno ou
Docimasia Pulmonar”. Este exame visa verificar se os pulmões do examinado promoveram
troca oxi-carbônica ou encontram-se cheios de líquidos amnióticos. Caso se verifique a
presença de ar nos pulmões do examinado, constata-se o nascimento com vida, havendo,
dessa forma, aquisição da personalidade jurídica. Assim, mesmo que o recém nascido
tenha morrido logo em seguida, o mesmo adquiriu personalidade jurídica. Neste sentido,
podemos concluir nos seguintes termos:
∙ Conceito de Nascituro – “o que estar por nascer, mas já concebido no ventre materno”
(Francisco Amaral).
∙ Teoria Natalista – Nosso Código Civil adotou a teoria natalista, onde prevê que a aquisição
da personalidade opera-se a partir do momento do nascimento com vida. Assim, há de se
concluir que, não sendo pessoa o nascituro possui apenas uma expectativa de direito. Mas
a questão não é pacífica a respeito do tema no que se refere à doutrina (Caio Mario da
Silva Pereira, Sílvio Rodrigues , Sílvio de Salvo Venosa).
∙ CRÍTICAS - O grande problema da teoria natalista é que ela não consegue responder à
seguinte constatação e pergunta: se o nascituro não tem personalidade, não é pessoa;
desse modo, o nascituro seria uma coisa? A resposta acaba sendo positiva a partir da
primeira constatação de que haveria apenas expectativa de direitos. Além disso, a teoria
natalista está totalmente distante do surgimento das novas técnicas de reprodução
assistida e da proteção dos direitos do embrião. Também está distante de uma proteção
ampla de direitos da personalidade, tendência do Direito Civil pós-moderno.
∙ de entendimento acaba reconhecendo que o nascituro não tem direitos efetivos, mas
apenas direitos eventuais sob condição suspensiva, ou seja, também mera expectativa
de direitos.
∙ Teoria Concepcionista – Foi influenciada pelo Direito Francês e contou com diversos adeptos
(DOUTRINA MODERNA DO DIREITO CIVL). Seu pensamento está atrelado à noção de que
o nascituro adquiriria personalidade jurídica desde a sua concepção, sendo, assim,
considerado pessoa. Esta é a posição de renomados doutrinadores como Teixeira de
Freitas, Clóvis Beviláquia, Limongi França, Francisco Amaral dos Santos, Pablo Stolzen e
Rodolfo Pamplona.
∙ Conselho da Justiça Federal (CJF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) - Consigne-se que a
conclusão pela corrente concepcionista consta do Enunciado n. 1 , do Conselho da Justiça
Federal (CJF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), aprovado na 1 Jornada de Direito Civil,
e que também enuncia direitos ao natimorto, cujo teor segue: "Art. 2 A proteção que o
Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da
personalidade, tais como nome, imagem e sepultura".
∙ Julgados do STJ:
"Direito civil. Danos morais. Morte. Atropelamento. Composição
férrea. Ação ajuizada 23 anos após o evento. Prescrição inexistente.
Influência na quantificação do quantum. Precedentes da turma.
Nascituro. Direito aos danos morais. Doutrina. Atenuação. Fixação
nesta instância. Possibilidade. Recurso parcialmente provido. I – Nos
termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano
moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não
transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na
fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos
morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo
conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III -
Recomenda- se que o valor do dano moral seja fixado desde logo,
inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e
evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional"
(STJ, REsp 399.02 8/SP, Rei. M in. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª
Turma, j . 26.02 .2002, DJ 1 5 .04.2002 , p. 232).
∙ Lei dos Alimentos Gravídicos - O debate das teorias relativas ao nascituro ganhou reforço
com a entrada em vigor no Brasil da Lei 1 1 . 804, de 5 de novembro de 2008,
conhecida como Lei dos Alimentos Gravídicos, disciplinando o direito de alimentos
da mulher gestante (art. l .º). Os citados alimentos gravídicos, nos termos da lei,
devem compreender os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do
período de gravidez e que sejam dele decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as
referentes à alimentação especial, assistências médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas
e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere
pertinentes (art. 2º). Em verdade, a norma emergente em nada inova, diante dos
inúmeros julgados que deferiam alimentos durante a gravidez ao nascituro (nesse
sentido, ver, por exemplo: TJMG, Agravo 1 . 0000.00.207040-7 /000, Araxá, 4.ª Câmara
Cível, Rei . Des. Almeida M elo, j. 0 1 .03 .200 1 , DJMG 05 . 04.200 1 ). A doutrina
entende que deveria chamar de Lei dos alimentos do nascituro (TARTUCE, 2018, p. 82)
∙ f) direito a alimentos.
2 – Capacidade de Direito, Capacidade de Fato e Legitimidade
∙ Uma vez adquirida a personalidade jurídica, toda a pessoa passa a ser capaz de direitos
e obrigações. Possui, portanto, uma capacidade de direito ou de gozo. Assim, todo
ser humano possui capacidade de direito, pelo fato de que a personalidade jurídica é
atributo inerente à sua condição. No entanto, nem toda
pessoa possui aptidão para exercer os seus direitos pessoalmente, em razão de
limitações orgânicas ou até mesmo patológica (capacidade de fato). ∙ Conclusão – Todo
ser humano é pessoa na acepção jurídica. Assim a capacidade jurídica atribuída pelo art. 1º
CC/02, todos a possuem, é a chamada capacidade de direito. Porém, nem todos os
homens são detentores da capacidade de fato ou de exercício, pois é a aptidão para
pessoalmente o indivíduo adquirir direitos e contrair obrigações. Sob esse manto
encontram diversos fatores relevantes, como a idade e o estado de saúde da pessoa, sob o
qual trataremos nas aulas seguintes, quando do estudo da incapacidade absoluta e a
incapacidade relativa.
∙ Alterações quanto a teoria das incapacidades com o Estatuto das Pessoas com
Deficiência – Lei 13146, de julho de 2015.