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Pentateuco
IBETEL
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Pentateuco 3
Pentateuco
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Apresentação
Estávamos em um culto de doutrina, numa sexta-feira destas quentes do
verão daqui de São Paulo e a congregação lotada até pelos corredores
externos. Ouvíamos atentamente o ensino doutrinário ministrado pelo Pastor
Vicente Paula Leite, quando do céu me veio uma mensagem profética e o
Espírito me disse “fale com o pastor Vicente no final do culto”. Falei: - Jesus
te chama para uma grande obra de ensino teológico para revolucionar a
apresentação e metodologia empregada no desenvolvimento da Educação
Cristã.
Prefácio
Este Livro do Pentateuco, parte de uma série que compõe a grade curricular
do curso em Teologia do IBETEL, se propõe a ser um instrumento de
pesquisa e estudo. Embora de forma concisa, objetiva fornecer informações
introdutórias acerca dos seguintes pontos: Pentateuco; Livro de Gênesis;
Livro de Êxodo; Livro de Levítico; Livro de Números e Livro de Deuteronômio.
Declaração de fé
O que é doutrina? À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo,
terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e
prática de vida, para a igreja, para seus membros. Ela é vista na Bíblia como
expressão prática na vida do crente. As doutrinas da Palavra de Deus são
santas, divinas, universais e imutáveis.
A mesma palavra aparece para "doutrina dos apóstolos" (At 2.42), que
parece ser uma indicação das crenças dos apóstolos. A segunda tem o
mesmo sentido e aparece em Mateus 15.9 e Marcos 7.7. É, portanto, nas
epístolas pastorais que elas aparecem com o sentido mais rígido de crenças
ou corpo doutrinal da igreja - a Teologia propriamente dita.
O que é Credo? Credo vem do latim e significa "creio", e desde muito cedo na
história do Cristianismo é mais que um conjunto de crenças. É uma confissão
de fé. Ele tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo
para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias
e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas
declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo
1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo
20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.1-
2).
Pentateuco 7
O IBETEL crê:
No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a
intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas,
conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).
Sumário
Apresentação
Prefácio
Declaração de fé
CAPÍTULO 1
Pentateuco
1.1. Introdução ao Estudo da Bíblia
1.2. Introdução ao Estudo do Pentateuco
1.2.1. O termo
1.2.2. Autoria
1.2.3. Teoria documentária da Alta Crítica
1.2.4. Ambiente do mundo bíblico
CAPÍTULO 2
Livro de Gênesis
2.1. O título do livro
2.2. A autoria
2.3. Data e ocasião
2.4. Dificuldades de interpretação
2.5. Características e temas
2.6. Estudos no Livro de Gênesis
2.6.1. A Criação
2.6.2. A Imagem de Deus
2.6.3. A Queda (Gn 3.6)
2.6.4. O Dilúvio
2.6.5. A raça humana começa novamente
2.6.6. A torre de Babel
2.6.7. A aliança da Graça de Deus
2.6.8. O concerto de Deus com Abraão, Isaque e Jacó
CAPÍTULO 3
Livro de Êxodo
3.1. Autor
3.2. Data e ocasião
3.3. Dificuldades de interpretação
3.4. Características e temas
3.5. Estudos no livro de Êxodo
3.5.1. “Sou o que Sou”: A auto-revelação de Deus (Êx 3.15)
3.5.2. A Páscoa
3.5.3. A Lei do Antigo Testamento (Êx 20.1, 2)
3.5.4. Os Dez Mandamentos (20.1, 2)
3.5.5. O Tabernáculo e suas peças
3.5.6. O Sumo Sacerdote e sua Indumentária
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CAPÍTULO 4
Livro de Levítico
4.1. O título e destinatário do livro
4.2. Autoria do livro
4.3. Lugar e ocasião
4.4. Características e temas
4.5. Estudos no livro de Levítico
4.5.1. A Presença Divina
4.5.2. Santidade
4.5.3. Expiação através do Sacrifício
4.5.4. O Dia da Expiação
4.6. Os Sacrifícios Levíticos
4.6.1. Ofertas
4.6.2. Holocausto
4.6.3. Oferta de manjares
4.6.4. Sacrifício pacífico
4.6.5. Por expiação do pecado
4.6.6. A oferta pela culpa
4.6.7. As festas solenes ao Senhor (Cap. 16, 23 e 25)
CAPÍTULO 5
Livro de Números
5.1. Data e Momento do Livro
5.2. A autoria do livro
5.3. Características principais de Números
5.4. Números e seu cumprimento no Novo Testamento
5.5. Tipos de ilustração de Jesus
5.5.1. O Nazireu
5.5.2. A Fita Azul
5.5.3. A Vara Florescente de Arão
5.5.4. A Novilha Vermelha
5.5.5. As Serpentes Abrasadoras
5.5.6. As Cidades de Refúgio
5.6. Estudos no Livro de Números
5.6.1. O recenseamento militar (1.1-54)
5.7. A Lei dos ciúmes do marido contra sua mulher (5.11-31)
5.7.1. A causa dos ciúmes (5.11-15)
5.7.2. Provas do crime (5.16-31)
5.8. O Voto dos Nazireus (6.1-21)
5.8.1. Condições para o Voto do Nazireu (6.1-8)
5.8.2. Penas destinadas às infrações involuntárias (6.9-12)
5.8.3. Como finda o voto do Nazireu (6.13-21)
5.9. A Coluna de Nuvem e de Fogo (9.15-23)
5.10. A Revolta de Coré, Datã e Abirã (16.1-50)
5.11. Balaão (Cap. 22-25)
5.11.1. Balaão vacila (Cap. 22)
5.11.2. As profecias de Balaão (Cap. 23 e 24)
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CAPÍTULO 6
Livro de Deuteronômio
6.1. Título e fundo histórico
6.2. Data e ocasião
6.3. Autoria do livro
6.4. Propósito
6.5. Características e temas
6.6. Importância de Deuteronômio
6.7. Quatro fatos principais caracterizam Deuteronômio
6.8. O livro de Deuteronômio e seu cumprimento no Novo Testamento
6.9. Estudos no livro de Deuteronômio
6.9.1. O concerto de Deus com os Israelitas
6.9.2. O concerto renovado nas planícies de Moabe
6.9.3. Os três propósitos da Lei (Dt 13.10)
6.9.4. Profetas (Dt 18.18)
6.9.5. Deuteronômio Demônios (Dt 32.17)
6.9.6. Shemá e a Trindade
6.9.7. Os Dízimos (14.22-29)
6.9.8. Cidades de Refúgio (19.1-13)
6.9.9. A despedida de Moisés (32.44-33.29)
Referências
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Capítulo 1
Pentateuco
1.1. Introdução ao Estudo da Bíblia
A prova concludente do amor divino encontra-se no fato de que Deus se
revelou ao homem, e esta revelação ficou registrada na Bíblia. Nascida no
Oriente e revestida da linguagem, do simbolismo e das formas de pensar
tipicamente orientais, a Bíblia tem, não obstante, uma mensagem para a
humanidade toda, qualquer que seja a raça, cultura ou capacidade da
pessoa. Contrasta com os livros de outras religiões porque não narra uma
manifestação divina de um só homem, mas uma revelação progressiva
arraigada na longa história de um povo. Deus revelou-se em determinados
momentos da história humana. Diz C. O. Gillis: “Não se pode entender a
verdadeira religião... sem entender-se o fundo histórico por via do qual nos
chegaram estas verdades espirituais”.
1.2.2. Autoria
Além do mais, nas ruínas de Mari (sobre o rio Eufrates) e de Nuzu (sobre um
afluente do rio Tigre) foram encontradas tábuas de argila da época dos
patriarcas. Nelas se descrevem leis e costumes, tais como as que permitiam
que o homem sem filhos dessa sua herança a um escravo (Gênesis 15.3), e
uma mulher estéril entregasse sua criada a seu marido para suscitar
descendência (Gênesis 16.2). Do mesmo modo, as tábuas contêm nomes
equivalentes ou semelhantes aos de Abraão, Naor (Nacor), Benjamim e
muitos outros. Por isso, tais provas refutam a teoria da Alta Crítica de que o
livro do Gênesis é uma coletânea de mitos e lendas do primeiro milênio antes
de Cristo. A Arqueologia demonstra cada vez mais que o Pentateuco
apresenta detalhes históricos exatos, e que foi escrito na época de Moisés.
Há razão ainda para se duvidar de que o grande líder do êxodo foi seu autor?
Quando Abraão chegou à Palestina, esta já era uma ponte importante entre
os centros culturais e políticos daquela época. Ao norte achava-se o império
hitita; ao sudoeste, o Egito; ao oriente e ao sul, Babilônia; e ao nordeste o
império assírio. Ou seja, que os israelitas estavam localizados em um ponto
estratégico e não isolado geograficamente das grandes civilizações.
A maioria dos historiadores acha que a planície de Sinar, situada entre os rios
Eufrates e Tigre, foi o berço da primeira civilização importante, chamada
Suméria. No ano 2800 haviam edificado cidades florescentes e haviam
organizado o governo em cidades-estados; também haviam utilizado metais e
tinham aperfeiçoado um sistema de escrita chamada cuneiforme. Quase ao
mesmo tempo, desenvolvia-se no Egito uma civilização brilhante. É provável
que quando Abraão se dirigiu para o Egito, tenha visto pirâmides que
contavam mais de 500 anos.
grandes impérios dos amorreus, dos babilônios, dos assírios e dos persas. O
mais importante para nós, todavia, é que ali habitou o povo escolhido de
Deus e ali nasceu o Homem que seria o Salvador do mundo.
Capítulo 2
Livro de Gênesis
Uma introdução ao livro do Gênesis, teria de ser muito extensa e, neste caso,
abranger a maior parte das questões relativas à origem e ao autor, ou então
demasiadamente concisa de forma a deixar a crítica dos principais pontos ao
lugar que lhe compete no respectivo texto. Portanto, optamos em dizer neste
intróito, apenas que, as primeiras palavras do Gênesis, que tratam da
Cosmogonia, são plenas de solene majestade. Sem adornos nem fantasias
inúteis, impressionam justamente por isto. Somente Deus existia naquele
tempo, com a sua Onipotência e a sua vontade de criar o mundo. Este
conceito tão elevado da realidade e do pensamento humano está expresso
de maneira simples e sem nenhum esclarecimento sobre o feito maravilhoso
da Criação.
2.2. A autoria
Ainda que não é opinião geral atribuir-se o livro a Moisés, esta é a nossa
posição. Mesmo porque não foi ainda apresentada qualquer outra teoria bem
fundada que nos levasse a pensar o contrário. Não quer isto dizer, no
entanto, que Moisés não se tenha servido de fontes de qualquer espécie para
a elaboração da sua obra. Uma possível indicação de Moisés ter utilizado
registros históricos existentes ao escrever Gênesis, é a repetida expressão
através do livro: “estas são as gerações de” (hb. e’lleh toledoth), que também
admite a tradução: “estas são as histórias por” (ver 2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10,
27; 25.12, 19; 36.1, 9; 37.2). Portanto, ninguém pode dizer com certeza que
esta frase constitua um subtítulo que indique a fonte da qual a informação foi
derivada, embora seja de admitir, com reservas, naturalmente, que Moisés
Pentateuco 19
A seção que conclui a última narrativa contém fortes vínculos com o Livro de
Êxodo, terminando com um juramento que José obteve dos seus irmãos de
que, quando Deus viesse em seu socorro e os reconduzisse a Canaã,
levariam consigo o seu corpo embalsamado (50.24-25; Ex 13.19).
Sob o aspecto científico nada se sabe acerca da origem das coisas. Mas o
certo é que a Geologia, através do estudo dos fósseis, vem confirmar, cada
vez mais, as diferentes fases da criação que Gn 1 nos descreve
pormenorizadamente. Baseados em motivos meramente teóricos, vários
comentadores supõem que a criação original de Deus foi destruída por uma
terrível catástrofe. Assim o verso 1 descreve o ato inicial de Deus, que deu a
existência ao universo; o verso 2 o estado desse universo arruinado “sem
forma e vazio”, se bem que não se faça qualquer alusão à catástrofe
provocadora dessa ruína; os restantes versos fazem uma análise da obra de
Deus na reconstituição desse universo. Trata-se duma teoria, ainda hoje
muito seguida, para resolver certos problemas que, no fim de contas,
continuam insolúveis, e é contestada por fortes argumentos lingüísticos. A
chamada teoria da “lacuna” não assenta em bases firmes e é desmentida
pela própria Geologia.
2.6.1.3.1. Eterno
2.6.1.3.2. Transcendente
2.6.1.3.3. Criador
Deus criou todas as coisas em “os céus e a terra” (1.1; Is 40.28; 42.5; 45.18;
Mc 13.19; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2; Ap 10.6). O verbo “criar” (hb.”bara”) é
usado exclusivamente em referência a uma atividade que somente Deus
pode realizar. Significa que, num momento específico, Deus criou a matéria e
a substância, que antes nunca existiram. A Bíblia diz que no princípio da
criação a terra estava informe, vazia e coberta de trevas (1.2). Naquele tempo
o universo não tinha a forma ordenada que tem agora. O mundo estava
vazio, sem nenhum ser vivente e destituído do mínimo vestígio de luz.
Passada essa etapa inicial, Deus criou a luz para dissipar as trevas (1.3-5),
deu forma ao universo (1.6-13) e encheu a terra de seres viventes (1.20-28).
O método que Deus usou na criação foi o poder da sua palavra. Repetidas
vezes está declarado: “E disse Deus...” (1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26). Noutras
palavras, Deus falou e os céus e a terra passaram a existir. Antes da palavra
criadora de Deus, eles não existiam (Sl 33.6,9; 148.5; Is 48.13; Rm 4.17; Hb
11.3). Toda a Trindade, e não apenas o Pai, desempenhou sua parte na
criação. O próprio Filho é a Palavra (“Verbo”) poderosa, através de quem
Deus criou todas as coisas. No prólogo do Evangelho segundo João, Cristo é
revelado como a eterna Palavra de Deus (Jo 1.1). “Todas as coisas foram
feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).
Semelhantemente, o apóstolo Paulo afirma que por Cristo “foram criadas
todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis... tudo foi
criado por Ele e para Ele” (Cl 1.16). Finalmente, o autor do Livro de Hebreus
afirma enfaticamente que Deus fez o universo por meio do seu Filho (Hb 1.2).
Semelhantemente, o Espírito Santo desempenhou um papel ativo na obra da
criação. Ele é descrito como “pairando” (“se movia”) sobre a criação,
preservando-a e preparando-a para as atividades criadoras adicionais de
Deus. A palavra hebraica traduzida por “Espírito” (ruah) também pode ser
Pentateuco 27
Deus tinha razões específicas para criar o mundo. Deus criou os céus e a
terra como manifestação da sua glória, majestade e poder. Davi diz: “Os céus
manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”
(Sl 19.1; cf. 8.1). Ao olharmos a totalidade do cosmos criado - desde a
imensa expansão do universo, à beleza e à ordem da natureza - ficamos
tomados de temor reverente ante a majestade do Senhor Deus, nosso
Criador. Deus criou os céus e a terra para receber a glória e a honra que lhe
são devidas. Todos os elementos da natureza - o sol e a lua, as árvores da
floresta, a chuva e a neve, os rios e os córregos, as colinas e as montanhas,
os animais e as aves - rendem louvores ao Deus que os criou (Sl 98.7,8;
148.1-10; Is 55.12). Quanto mais Deus deseja e espera receber glória e
louvor dos seres humanos!
Deus criou a terra para prover um lugar onde o seu propósito e alvos para a
humanidade fossem cumpridos. Deus criou Adão e Eva à sua própria
imagem, para comunhão amorável e pessoal com o ser humano por toda a
eternidade. Deus projetou o ser humano como um ser trino e uno (corpo,
alma e espírito), que possui mente, emoção e vontade, para que possa
comunicar-se espontaneamente com Ele como Senhor, adorá-lo e servi-lo
com fé, lealdade e gratidão. Deus desejou de tal maneira esse
relacionamento com a raça humana que, quando Satanás conseguiu tentar
Adão e Eva a ponto de se rebelarem contra Deus e desobedecer ao seu
mandamento, Ele prometeu enviar um Salvador para redimir a humanidade
das conseqüências do pecado (ver 3.15). Daí Deus teria um povo para sua
própria possessão, cujo prazer estaria nEle, que o glorificaria, e que viveria
em retidão e santidade diante dEle (Is 60.21; 61.1-3; Ef 1.11, 12; 1Pe 2.9). A
culminação do propósito de Deus na criação está no livro do Apocalipse,
onde João descreve o fim da história com estas palavras: “... com eles
habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o
seu Deus” (Ap 21.3).
As Escrituras ensinam (Gn 1.26-27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7; Tg 3.9) que Deus fez
o homem e a mulher à sua própria imagem, assim de que os seres humanos
são semelhantes a Deus, como nenhuma outra criatura terrena é. A
dignidade especial dos seres humanos está no fato de, como homens e
mulheres, poderem refletir e reproduzir - dentro de sua própria condição de
criaturas - os santos caminhos de Deus. Os seres humanos foram criados
com esse propósito e, num sentido, somos verdadeiros seres humanos na
medida em que cumprimos esse propósito.
Na Carta aos Romanos, Paulo afirma que toda a humanidade está por
natureza sob a culpa e o poder do pecado, sob o reino, da morte e sob a
inescapável ira de Deus (Rm 1.18-19; 3.9, 19; 5.17, 21). Ele relaciona a
origem desse estado ao pecado de um homem – Adão –, que ele descreve
como nosso ancestral comum (At 17.26; Rm 5.12-14; cf. 1Co 15.22). Paulo,
como apóstolo, deu sua interpretação autorizada à história registrada em Gn
3, onde encontramos a narrativa da queda, a desobediência humana original,
que afastou o homem de Deus e da santidade, e lançou-o no pecado e na
perdição. Os principais pontos dessa história, vista pelas lentes da
interpretação de Paulo, são:
Ainda que essa história, de certo modo, seja contada em estilo figurado, o
Livro de Gênesis pede-nos que a leiamos como história. No Gênesis, Adão
está ligado aos patriarcas e, através deles, por genealogia, ao resto da raça
humana (caps. 5; 10-11), fazendo dele uma parte da história, tanto quanto
Abraão, Isaque e Jacó. Todas as principais personalidades do Livro de
Gênesis, depois de Adão - exceto José - são mostradas claramente como
pecadoras de um modo ou de outro, e a morte de José, como a morte de
quase todos os outros na história, é cuidadosamente registrada (Gn 50.22-
26). A afirmação de Paulo: “em Adão, todos morrem” (1Co 15.22) só torna
explícito aquilo que o Gênesis já deixa claramente implícito.
2.6.4. O Dilúvio
varão justo. Reto em suas gerações equivale dizer que ele se mantinha
distanciado da iniqüidade moral da sociedade ao seu redor. Por ser justo e
temer a Deus e resistir à opinião e conduta condenáveis do público, Noé
achou favor aos olhos de Deus (Gn 6.8; 7.1; Hb 11.7; 2Pe 2.5). Essa retidão
de Noé era fruto da graça de Deus nele, por meio da sua fé e do seu andar
com Deus (Gn 6.9). A salvação no Novo Testamento é obtida exatamente da
mesma maneira, isto é, mediante a graça e misericórdia de Deus, recebidas
pela fé, cuja eficácia conduz o crente a um esforço sincero para andar com
Deus e permanecer separado da geração ímpia ao seu redor (v. 22; 7.5, 9,
16; At 2.40). Hebreus 11.7 declara que Noé foi feito herdeiro da justiça que é
segundo a fé. O Novo Testamento também declara que Noé não somente era
justo, como também pregador da justiça (2Pe 2.5). Nisso, ele é exemplo do
que os pregadores devem ser.
Deus, mediante o seu pacto, prometeu a Noé que este seria salvo do
julgamento que ia ocorrer através do dilúvio. Noé correspondeu ao pacto de
Deus, crendo nEle e na sua palavra (Gn 6.13; Hb 11.7). Sua fé foi
demonstrada quando ele temeu (Hb 11.7) e quando construiu a arca e entrou
nela (Gn 6.22; 7.7; 1Pe 3.21).
e sua família no meio das águas (1Pe 3.20-22). A água simboliza tanto o
juízo de Deus sobre o pecado como seu resultado (o do pecado), a morte. O
batismo significa que o crente se une espiritualmente a Jesus em sua morte e
ressurreição. À semelhança de Noé na arca, o crente em Cristo passa ileso
pelas águas do juízo e morte a fim de habitar em uma nova criação. No
Calvário todas as fontes do grande abismo foram rompidas, e as águas do
juízo subiram sobre Cristo, porém nenhuma gota alcança o crente porque
Deus fechou a porta.
Por outro lado, os que crêem que o dilúvio foi universal notam que o relato
bíblico emprega expressões fortes e as repete dando a impressão de um
dilúvio universal. Perguntam: Qual era a extensão da população humana?
Parece-lhes possível que esta se houvesse estendido até à Europa e África.
Além do mais, certos estudiosos crêem que as grandes mudanças na crosta
terrestres e repentinas e drásticas alterações no clima de áreas geográficas,
como Alasca e Sibéria, podem ser atribuídas ao dilúvio. Talvez, com o
transcurso do tempo, os geólogos encontrem evidências conclusivas para
determinar qual seja a interpretação correta.
Por que foi proibido comer o sangue? Alguns estudiosos crêem que o sangue
é o símbolo da vida, a qual só Deus pode dar; portanto, o sangue pertence a
Deus e o homem não deve tomá-lo. Há, porém, uma explicação mais bíblica.
A proibição preparou o caminho para ensinar a importância do sangue como
meio de expiação (Lv 17.10-14). O sangue representa uma vida entregue na
morte. Deus estabeleceu a pena capital para restringir a violência. O homem
é de grande valor e a vida é sagrada, pois “Deus fez o homem conforme a
sua imagem”. Martinho Lutero viu neste mandamento a base do governo
humano. Se o homem recebe autoridade de outros em certas circunstâncias,
também tem autoridade sobre coisas menores, tais como propriedades e
impostos. O apóstolo Paulo confirma que tal poder é de Deus, e que a pena
capital está em vigor (Rm 13.1-7). O magistrado não traz debalde sua espada
(instrumento de execução).
Deus fez um pacto com Noé e com toda a humanidade prometendo não mais
destruir o mundo por um dilúvio. Ao presenciar a terrível destruição pelo juízo
de Deus, o homem poderia perguntar-se: “Valerá a pena edificar e semear?
Pode ser que haja outro dilúvio e arrase tudo”. Mas, para dar-lhe segurança
de que a raça continuaria e o homem teria um futuro garantido, Deus fez
aliança com ele. Deixou o arco-íris como sinal de sua fidelidade. É provável
que o arco-íris já existisse, mas agora reveste-se de novo significado. Ao ver
o arco-íris nas nuvens de tormenta, o homem se lembraria da promessa
misericordiosa de Deus.
Noé surge, sob a bênção de Deus, como o segundo cabeça da raça humana.
Observe-se os paralelos entre as bênçãos dadas a Noé e as que foram
dadas a Adão (Gn 1.28-29). Houve estimulações divinas também. Primeira,
referente ao alimento. Segundo o versículo 3 parece que somente depois do
dilúvio é que o alimento animal foi permitido ao homem. Essa permissão
talvez tenha sido dada em conexão com o sacrifício de Noé, e é possível que
aqui tenhamos a origem da “festa” do holocausto, da qual o próprio adorador
participava. A proibição de comer-se sangue nessa festa pode ser equiparada
com um instrutivo contraste com a proibição do jardim do Éden. A “árvore”
proibida, cuja abstenção era sinal de obediência, estabeleceu a santidade da
lei; o “sangue” proibido, cujo derramamento era o sinal da propiciação divina,
estabeleceu a santidade da graça. A segunda estipulação dizia respeito ao
derramamento do sangue. Essa solene advertência (versículos 5 e 6)
preservou a santidade da vida humana. “Sangue” representa aquele mistério
que chamamos de “vida”. É uma dádiva exclusiva de Deus, e o homem não
tem o direito de tirá-la. O mais alto motivo possível é empregado aqui,
“porque Deus fez o homem conforme a sua imagem”.
36
Gn 11.1-4: “E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. E
aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar;
e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-
los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal. E disseram: Eia,
edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e
façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de
toda a terra”.
Quando Deus faz uma aliança com suas criaturas, só ele estabelece as
condições, como mostra sua aliança com Noé e seus descendentes (Gn 9.9).
Quando Adão e Eva fracassaram em obedecer os termos da aliança das
obras, Deus não os destruiu, mas revelou a sua aliança da graça,
prometendo-lhes um Salvador (Gn 3.15). A aliança de Deus descansa sobre
sua promessa, como fica claro da sua aliança com Abraão. Ele chamou
Abraão para ir à terra que ele lhe daria e prometeu abençoá-lo e a todas as
famílias da terra através dele (Gn 12.1-3). Abraão atendeu a chamada de
Deus, porque creu na promessa de Deus; foi a sua fé na promessa de Deus
que lhe foi creditada como justiça (Gn 15.6; Rm 4.18-22). A aliança de Deus
com Israel, no Sinai, está na forma dos tratados de suserania do antigo
Oriente Próximo. Estas são alianças impostas unilateralmente por um rei
poderoso sobre um rei vassalo e um povo servo.
A aliança de Deus com Israel foi uma preparação para a vinda do próprio
Deus, na pessoa do seu Filho, para cumprir todas as suas promessas e para
dar substância às sombras apresentadas pelos tipos (Is 40.10; MI 3.1; Jo
1.14; Hb 7-10). Jesus Cristo, o Mediador da nova aliança, ofereceu-se a si
mesmo como o verdadeiro e definitivo sacrifício pelo pecado. Ele obedeceu à
lei de modo perfeito e, como o segundo Adão (segundo representante da
raça humana), ele se tornou o herdeiro - com todos os que pela fé se unem a
ele - de todas as bênçãos relativas à aliança, paz e comunhão com Deus na
sua criação renovada. Os arranjos temporários do Antigo Testamento para
comunicar essas bênçãos tornaram-se obsoletos, quando se concretizou
aquilo que eles prefiguravam.
Como a Carta aos Hebreus (caps. 7-10) explica, através de Cristo, Deus
inaugurou uma melhor versão da sua única e eterna aliança com pecadores
(Hb 13.20) - uma aliança melhor com melhores promessas (Hb 8.6), baseada
num melhor sacrifício (Hb 9.23) oferecido por um melhor sumo sacerdote
num melhor santuário (Hb 7.26-8.6, 11, 13, 14). Essa melhor aliança garante
uma esperança melhor do que aquela explicitada na versão anterior da
aliança – glória com Deus numa “pátria superior, isto é, celestial!” (Hb 11.16).
nossa aliança com Deus, em resposta à sua aliança conosco, deve ser o
exercício devocional regular de todos os crentes, tanto em particular como na
Mesa do Senhor.
31.32); por isso, Israel foi levado para o exílio na Assíria (2Rs 17), enquanto
que Judá foi posteriormente levado para o cativeiro em Babilônia (2Rs 25;
2Cr 36; Jr 11.1-17; Ez 17.16-21).
Isaque e Rebeca tinham dois filhos: Esaú e Jacó. Era de se esperar que as
bênçãos do concerto fossem transferidas ao primogênito, isto é, Esaú. Deus,
porém, revelou a Rebeca que seu gêmeo mais velho serviria ao mais novo, e
o próprio Esaú veio a desprezar a sua primogenitura (ver 25.31). Além disso,
ele ignorou os padrões justos dos seus pais, ao casar-se com duas mulheres
que não seguiam ao Deus verdadeiro. Em suma: Esaú não demonstrou
qualquer interesse pelas bênçãos do concerto de Deus. Daí, Jacó, que
realmente aspirava às bênçãos espirituais futuras, recebeu as promessas no
lugar de Esaú (28.13-15).
7), que Deus renovou com ele as promessas do concerto feito com Abraão
(35.9-13).
42
Capítulo 3
Livro de Êxodo
3.1. Autor
Os defensores duma data bem mais tardia apelam para o nome “Ramsés”
(ou “Ramessés,” Gn 47.11) como uma das cidades-celeiros construídas com
o trabalho israelita (1.11). Ramsés II (1304-1236 a.C.) é considerado o Faraó
do Êxodo, e a data aproximada é fixada em 1270 a.C. Afirma-se que essa
interpretação é mais coerente com a arqueologia das cidades destruídas na
Palestina e com a ausência de um assentamento mais antigo na
Transjordânia (a região oriental do rio Jordão e do mar Morto). Contudo,
descobertas mais recentes na Transjordânia e uma nova avaliação da
destruição de Jericó têm enfraquecido o argumento em favor de uma data
tardia.
44
A lei de Deus revela a sua natureza santa e requer santidade do povo entre o
qual Deus irá habitar. As regulamentações cerimoniais para a vida e culto de
Israel (caps. 25-31; 35-40) assinalam a separação de Israel como povo em
cujo meio Deus vive e governa, demonstrando o seu reino perante as
nações. Além da descrição dos acontecimentos históricos por meio dos quais
Israel foi libertado para tornar-se o povo de Deus, Êxodo também traz uma
grande ilustração da obra salvífica de Deus através da história. O Deus
salvador redime o seu povo escolhido dos poderes do mal, julga esses
poderes e reivindica o seu povo como o seu primogênito, uma nação santa
de sacerdotes em meio a qual ele habita pelo seu Espírito. O padrão da
vitória divina sobre os inimigos, seguido pelo estabelecimento do lugar da
habitação divina, é repetido na primeira e segunda vindas de Cristo (p.ex., Ef
2.14-22 e Ap 20.11- 22.51).
No mundo moderno, o nome de uma pessoa pode ser apenas um rótulo, sem
revelar nada a respeito dela. 0s nomes bíblicos, contudo, têm como fundo
uma ampla tradição, segundo a qual o nome de uma pessoa oferece
significativa informação a respeito de quem o usa. O Antigo Testamento,
freqüentemente, celebra o fato de Deus tornar seu nome conhecido a Israel,
e os Salmos, muitas e muitas vezes, elevam louvores ao nome de Deus (Sl
8.1; 113.1-3); “Nome”, aqui significa o próprio Deus, como ele Se revelou por
palavras e ações. No centro dessa auto-revelação está o nome pelo o qual
Deus autorizou Israel a invocá-lo, nome comumente traduzido por “O
SENHOR” (tradução do termo hebraico Javé como os eruditos modernos o
pronunciam, ou “Jeová”, como é, às vezes, escrito).
Deus declarou esse nome a Moisés, quando lhe falou a partir da sarça que se
queimava, mas não se consumia. Deus primeiro identificou-se como o Deus
que tinha se comprometido numa relação de aliança com os patriarcas (Gn
17.1-14); depois quando Moisés lhe perguntou o que deveria dizer ao povo
quando esse quisesse saber qual era o seu nome (pois os antigos supunham
que a oração só seria respondida se o destinatário fosse nomeado
corretamente), Deus primeiro, respondeu: “Eu Sou O Que Sou”; depois,
abreviou para “Eu Sou”. O nome “Javé” (SENHOR) soa como “Eu Sou” em
hebraico; e Deus finalmente chamou-se a si mesmo “O SENHOR, o Deus de
vossos pais” (Êx 3.15-16).O nome, em todas as suas formas, proclama a
realidade eterna e soberana que se, auto-sustenta e se auto-determina, ou
seja, o seu modo sobrenatural de existência, que a sarça ardente representou
(Êx 3.2). A sarça que não se consumia ilustrava a própria vida inesgotável de
Deus. Ao designar “Javé” como “o meu nome eternamente” (Êx 3.15), Deus
indicou que seu povo deveria sempre pensar nele como o Rei vivo, poderoso
e sempre reinando, Rei que a sarça ardente o mostrava ser.
Mais tarde, Moisés pediu para ver a glória de Deus. Em resposta, Deus
proclamou o “nome”: “SENHOR, SENHOR DEUS compassivo, clemente e
longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia
em mil gerações que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda
que não inocenta o culpado (Êx 34.6-7). Na sarça ardente, Deus tinha
respondido à pergunta pelo modo de sua existência. Aqui ele responde à
questão de como podemos descrever as suas ações. Essa proclamação
fundamental do seu caráter moral ecoa, com freqüência, em passagens
Pentateuco 47
posteriores das Escrituras (Ne 9.17; Sl 86.15; Jl 2.13; Jn 4.2). Todas essas
revelações são parte do seu “nome” ser reverenciado e glorificado para
3.5.2. A Páscoa
a) A lei foi dada por Deus em virtude do concerto que Ele fez com o seu
povo. Ela expunha as condições do concerto a que o povo devia
obedecer por lealdade ao Senhor Deus, a quem eles pertenciam. Os
israelitas aceitaram formalmente essas obrigações do concerto (24.1-
8);
b) A obediência de Israel à lei devia fundamentar-se na misericórdia
redentora de Deus e na sua libertação do povo (19.4);
c) A lei revelava a vontade de Deus quanto a conduta do seu povo (19.4-
6; 20.1-17; 21.1-24.8) e prescrevia os sacrifícios de sangue para a
expiação pelos seus pecados (Lv 1.5; 16.33). A lei não foi dada
como um meio de salvação para os perdidos. Ela foi destinada aos
que já tinham um relacionamento de salvação com Deus (20.2).
Antes, pela lei Deus ensinou ao seu povo como andar em retidão
diante dEle como seu Redentor, e igualmente diante do seu próximo.
Os israelitas deviam obedecer à lei mediante a graça de Deus a fim
de perseverarem na fé e cultuarem também por fé, ao Senhor (Dt
28.1,2; 30.15-20);
d) Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, a total
confiança em Deus e na sua Palavra (Gn 15.6), e o amor sincero a
Ele (Dt 6.5), formaram o fundamento para a guarda dos seus
mandamentos. Israel fracassou exatamente nesse ponto, pois
constantemente aquele povo não fazia da fé em Deus, do amor para
com Ele de todo o coração e do propósito de andar nos seus
caminhos, o motivo de cumprirem a sua lei. Paulo declara que Israel
não alcançou a justiça que a lei previa, porque “não foi pela fé” que a
buscavam (Rm 9.32);
e) A lei ressaltava a verdade eterna que a obediência a Deus, partindo
de um coração cheio de amor (Gn 2.9; Dt 6.5) levaria a uma vida feliz
e rica de bênçãos da parte do Senhor (Gn 2.16; Dt 4.1,40; 5.33; 8.1;
Sl 119.45; Rm 8.13; 1Jo 1.7);
Pentateuco 51
(Dt 6.5). Logo, a lei demanda uma justiça espiritual interior que se expressa
em retidão exterior e em santidade.
Primeiro Mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim”, 20.3. Este
mandamento proíbe o politeísmo que caracterizava todas as religiões do
antigo Oriente Próximo. Israel não devia adorar, nem invocar nenhum dos
deuses doutras nações. Deus lhe ordenou a temer e a servir somente a Ele
(Dt 32.29; Js 24.14,15). Esse mandamento aplicado aos crentes do Novo
Testamento importa pelo menos três coisas. A adoração do crente deve ser
dirigida exclusivamente a Deus. Não deve haver jamais adoração ou oração a
quaisquer outros deuses, espíritos ou pessoas falecidas, nem se permite
buscar orientação e ajuda da parte deles (Lv 17.7; Dt 6.4; 34.17; Sl 106.37;
1Co 10.19,20). O primeiro mandamento trata, principalmente, da proibição da
adoração aos espíritos (isto é, demônios) através do espiritismo, adivinhação,
ocultismo e outras formas de idolatria (Dt 18.9-22). O crente deve totalmente
consagrar-se a Deus. Somente Deus, mediante sua vontade revelada e sua
Palavra inspirada, pode guiar a vida do crente (Mt 4.4). O crente deve ter
como seu propósito na vida, buscar e amar a Deus de todo o coração, de
toda a alma e de todas as suas forças, confiando nEle para conceder-lhe
aquilo que é bom para a sua vida (Dt 6.5; Sl 119.2; Mt 6.33; Fp 3.8; Mt 22.37;
Cl 3.5).
sua Palavra e na sua revelação através da pessoa e obra de Jesus Cristo (Jo
17.3).
Quinto Mandamento: Honra o teu pai e a tua mãe, 20.12. Este mandamento
abrange todos os devidos atos de bondade, ajuda material, respeito e
obediência aos pais (Ef 6.1-3; Cl 3.20). Abrange, também, palavras maldosas
e agressão física aos pais. Em 21.15,17, Deus estabeleceu a pena de morte
para quem ferisse ou amaldiçoasse seu pai ou sua mãe. Assim fica
demonstrada a grande importância que Deus atribuiu ao respeito pelos pais
(Ef 6.1). Relacionado a esse mandamento está o dever recíproco do pai e da
mãe amarem seus filhos e lhes ensinarem o temor ao Senhor e os seus
caminhos (Dt 4.9; 6.6,7; Ef 6.4).
Jr 23.10,11; 1Co 6.16-18); quem comete adultério levará o opróbrio disso por
toda a vida (Pv 6.32,33). Como pecado hediondo, o adultério é ainda pior,
quando cometido por dirigentes do povo de Deus. No caso de cometerem
esse pecado, isso equivale a desprezar a Palavra de Deus e o próprio Senhor
(2Sm 12.9,10). Um crente que cometer tal pecado desqualifica-se, tanto para
ser indicado para o trabalho do Senhor, como para continuar no mesmo. Note
como no Antigo Testamento o adultério era um pecado generalizado em
Israel, devido à má influência de profetas e sacerdotes estragados, que o
cometiam (Jr 23.10-14; 29.23). O adultério e outros casos de imoralidade de
dirigentes e membros da igreja resulta muitas vezes no que a Bíblia chama
de adultério espiritual, isto é, infidelidade a Deus (Os 4.13, 14; 9.1;). O
adultério começa como um desejo mau no coração, para depois manifestar-
se na área física. A concupiscência é, claramente, um pecado na Bíblia (Jó
31.1,7; Mt 5.28). O adultério é um pecado de tal magnitude e efeito, que o
cônjuge inocente pode dissolver o casamento mediante divórcio (Mt 19.9; Mc
10.11). A imoralidade sexual dentro da igreja deve ser objeto de disciplina e
jamais tolerada (1Co 5.1-13). Adúlteros que prosseguem na prática desse
pecado, não têm herança no reino de Deus, i.e., eles privam-se da vida e da
salvação que Deus oferece (1Co 6.9; Gl 5.19-21). O adultério e a prostituição
são termos usados na descrição da igreja apóstata e das abominações que
ela comete (Ap 17.1-5; Ap 17.1).
3.5.5.1. O Tabernáculo
3.5.5.2. A Tenda
3.5.5.3. O castiçal
Era feito de ouro puro. Uma haste no centro com 3 ramos de cada lado.
Presume-se fosse de uns 165 cm de altura, por 1 m na parte superior, de um
extremo ao outro dos ramos. Era alimentado de puríssimo óleo de oliva;
espevitado e aceso diariamente, 30.7,8. Os castiçais do Templo de Salomão,
feitos segundo o modelo deste, que também podia ter sido incluído entre
56
3.5.5.5. O pátio
O véu (ou cortina espessa) fazia a separação entre o lugar santo (isto é, o
lugar onde o sacerdote orava e elevava ações de graças a Deus em nome do
povo) e o lugar santíssimo (isto é, a habitação de Deus). Esse véu mostrava
a solene verdade que o ser humano não podia aproximar-se livremente de
Deus, devido a sua condição pecaminosa. O acesso ao lugar santíssimo era
restrito ao máximo. O sumo sacerdote podia entrar ali somente um dia no ano
para representar o povo perante Deus, e mesmo assim, somente se levasse
consigo sangue de sacrifício expiador (30.10; Lv 16.12ss.; Hb 9.6-8). O
caminho para todo o povo de Deus entrar livremente na sua presença ainda
não tinha sido aberto (Hb 9.8). A única maneira de haver pleno acesso a
Deus seria rasgar o véu e estabelecer nova lei no Tabernáculo. Foi isso que
Jesus Cristo fez, ao derramar seu sangue na cruz. Seu corpo representava
esse véu que, na ocasião da sua morte foi rasgado (Mt 27.51; Cl 1.20-22; Hb
10.20). Agora, todo salvo pode entrar no santuário, pelo sangue de Jesus (Hb
10.19).
58
A arca era uma peça do Tabernáculo em formato de baú Era uma caixa, de
1,20 m de comprimento, 0,75 m de largara, 0,75 m de altura. Era feita de
madeira de acácia, recoberta de ouro puro. Continha os dez mandamentos
(16,22), um vaso de maná (16.33,34) e a vara florescida de Arão (Nm 17.10;
Hb 9.4). Tinha por cobertura uma tampa chamada propiciatório (v. 21).
Fixados em cada extremidade do propiciatório e formando uma só peça com
ele, havia dois querubins alados, de ouro batido (v. 18). A arca foi posta no
Lugar Santíssimo do Tabernáculo (26.34) e representava o trono de Deus.
Diante dela o sumo sacerdote se colocava, uma vez por ano, no Dia da
Expiação, para aspergir sangue sobre o propiciatório, como expiação pelos
pecados involuntários do povo, cometidos durante o ano anterior. A arca
provavelmente perdeu-se no Cativeiro Babilônico. Em Ap 11.19, João viu a
arca “no templo”. Mas isso foi em visão, não querendo certa- mente dizer que
a própria arca material lá estivesse; porque no céu não haverá templo, Ap
21.22.
3.5.5.12. O Propiciatório
3.5.6.1. O peitoral
3.5.6.2. O Éfode
O Éfode era outra peça do vestuário do sumo sacerdote. Era uma espécie de
avental, folgado, sem mangas, usado sobre o manto do Éfode, e que descia
até os joelhos do sumo sacerdote (vv. 6-20; 39.1-21).
Capítulo 4
Livro de Levítico
Levítico está estreitamente ligado ao livro de Êxodo. Êxodo registra como os
israelitas foram libertos do Egito, receberam a lei de Deus, e construíram o
Tabernáculo segundo o modelo determinado por Deus; termina quando o
Santo vem habitar no Tabernáculo recém-construído (Êx 40.34). Levítico
contém as leis que Deus deu a Moisés durante os dois meses entre o término
do Tabernáculo (Êx 40.17) e a partida de Israel do monte Sinai (Nm 10.11).
missão naquele serviço do santuário, que tanta importância tinha para cada
verdadeiro israelita.
para visualizar o quadro das cerimônias e dos rituais que formam o grosso
do livro. Contudo, é importante procurar compreender os rituais de Levítico
por duas razões. Primeiro, porque os rituais conservam, expressam e
ensinam as idéias e os valores mais caros de uma sociedade. Analisando as
cerimônias descritas em Levítico, podemos descobrir o que era mais
importante aos israelitas do Antigo Testamento. Em segundo lugar, as
mesmas idéias aqui presentes são fundamentais para os escritores do Novo
Testamento. Em especial, os conceitos de pecado, sacrifício e expiação
encontrados em Levítico são usados no Novo Testamento para interpretar a
morte de Cristo.
Cada ato de culto é realizado “para o SENHOR” (p.ex., 1.2) que habita com o
seu povo na tenda da congregação. Porque Deus está presente no Santo dos
Santos, a entrada ali é vedada a todos, com exceção do sumo sacerdote uma
vez por ano, no Dia da Expiação (16.17). Embora a presença de Deus seja
normalmente invisível, ele pode manifestar a sua glória em ocasiões
especiais como, por exemplo, na ordenação dos sacerdotes (9.23-24). A
maior das dádivas de Deus é que ele condescendeu em habitar com o seu
povo.
Pentateuco 63
4.5.2. Santidade
Uma vez que o homem falhou em viver de acordo com as exigências justas
de Deus, um meio de expiação tornou-se essencial para que tanto as suas
faltas morais como as suas imperfeições físicas pudessem ser perdoadas.
Para esse fim, Levítico oferece descrições extensivas e pormenorizadas do
sistema sacrificial (caps. 1-7), do papel dos sacerdotes (caps. 8-10; 21-22) e
das grandes festas nacionais (caps. 16; 23; 25) encontradas no Antigo
Testamento. Essas grandes cerimônias foram instituídas para tornar possível
a coexistência do Deus santo com o seu povo pecador.
Por meio dos símbolos e ritos que descreve, Levítico desenha um quadro do
caráter de Deus, o qual é pressuposto e aprofundado no Novo Testamento.
Levítico ensina que Deus é a fonte da vida perfeita, que ele ama o seu povo e
que deseja habitar entre eles. Temos nisso uma antevisão da Encarnação,
quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Levítico também
revela claramente a pecaminosidade do homem: nem bem os filhos de Arão
tinham sido ordenados quando então profanaram o seu cargo e morreram em
uma demonstração atemorizante do julgamento divino (cap. 10). Os que
sofrem de doenças de pele ou hemorragias, bem como aqueles que são
culpados de pecados morais graves, são excluídos do culto porque as suas
imperfeições são incompatíveis com um Deus santo e perfeito (caps. 12-15).
Os símbolos de Levítico ensinam a universalidade do pecado humano, uma
doutrina endossada por Jesus (Mc 7.21-23) e Paulo (Rm 3.23). Preso entre a
santidade divina e a pecaminosidade humana, a maior necessidade do ser
humano é a expiação. É aqui que Levítico mais tem a ensinar aos cristãos,
64
sacrifício perfeito (Hb 9.26; 10.5-10) pagou a inteira penalidade dos nossos
pecados (Rm 3.25, 26; 6.23; Gl 3.13; 2Co 5.21) e levou a efeito o sacrifício
expiador que afasta a ira de Deus, que nos reconcilia com Ele e que restaura
nossa comunhão com Ele (Rm 5.6-11; 2Co 5.18, 19; 1Pe 1.18, 19; 1Jo 2.2).
O Lugar Santíssimo onde o sumo sacerdote entrava com sangue, para fazer
expiação, representa o trono de Deus no céu. Cristo entrou nesse “Lugar
Santíssimo” após sua morte e, com seu próprio sangue, fez expiação para o
crente perante o trono de Deus (Êx 30.10; Hb 9.7, 8, 11, 12, 24-28). Visto que
os sacrifícios de animais tipificavam o sacrifício perfeito de Cristo pelo pecado
e que se cumpriram no sacrifício de Cristo, não há mais necessidade de
sacrifícios de animais depois da morte de Cristo na cruz (Hb 9.12-18).
4.6.2. Holocausto
O termo hebraico traduzido por “holocausto” significa “aquilo que sobe” para
Deus. O sacrifício era totalmente queimado, o que significa que a total
consagração do crente a Deus é essencial à adoração verdadeira. Ao mesmo
tempo, esse sacrifício abrangia o perdão do pecado (v. 4), o que realçava o
fato de que antes dos adoradores poderem dedicar-se a Deus, tinham que
Pentateuco 67
4.6.7.2. A Páscoa
Desde que Israel partiu do Egito em cerca de 1445 a.C., o povo hebreu
(posteriormente chamado “judeus”) celebra a Páscoa todos os anos, na
primavera (em data aproximada da sexta-feira santa). Depois de os
descendentes de Abraão, Isaque e Jacó passarem mais de quatrocentos
anos de servidão no Egito, Deus decidiu libertá-los da escravidão. Suscitou
Moisés e o designou como o líder do êxodo (3.4).
elas (daí o termo Páscoa, do hb. pesah, que significa “pular além da marca”,
“passar por cima”, ou “poupar”). Assim, pelo sangue do cordeiro morto, os
israelitas foram protegidos da condenação à morte executada contra todos os
primogênitos egípcios. Deus ordenou o sinal do sangue, não porque Ele não
tivesse outra forma de distinguir os israelitas dos egípcios, mas porque queria
ensinar ao seu povo a importância da obediência e da redenção pelo sangue,
preparando-o para o advento do “Cordeiro de Deus,” que séculos mais tarde
tiraria o pecado do mundo (Jo 1.29). Naquela noite específica, os israelitas
deviam estar vestidos e preparados para viajar (12.11). A ordem recebida era
para assar o cordeiro e não fervê-lo, e preparar ervas amargas e pães sem
fermento. Ao anoitecer, portanto, estariam prontos para a refeição ordenada e
para partir apressadamente, momento em que os egípcios iam se aproximar
e rogar que deixassem o país. Tudo aconteceu conforme o Senhor dissera
(12.29-36).
Os versículos 15-20 descrevem a Festa dos Pães Asmos, que Israel devia
continuar a observar após entrar em Canaã. Essa festa representava a
consagração do povo de Deus, tendo em vista a sua redenção do Egito.
Nesse contexto, fermento ou levedura, um agente que causa fermentação,
simboliza o pecado, e os pães asmos (sem fermento) simbolizam o
arrependimento, o repúdio do pecado e a dedicação a Deus (13.7). Todo
fermento (isto é, a corrupção e o pecado) tinha de ser removido das casas
dos israelitas. Isso subentendia que suas vidas e seus lares, como crentes,
deviam ser consagrados a Deus (vv. 15,16), pelo que Ele fizera em prol deles
(13.8,9). O Novo Testamento estabelece um vínculo entre essa Festa e o ato
de o crente em Jesus expurgar a maldade e malícia e viver em sinceridade e
verdade (1Co 5.6-8). Persistir no pecado, desprezando a fé em Deus
resultava em julgamento divino, isto é, em ser eliminado do concerto com
Deus, das promessas e da salvação. A refeição da Páscoa assinalava o início
da Festa dos Pães Asmos (vv. 6, 18), que prenunciava a importância da fé no
Cordeiro sacrifical e a obediência a Ele. Os fiéis deviam sinceramente
arrepender-se do pecado e viver para Deus, em humilde gratidão.
Esta festa (Dt 16.10), também chamada Festa de Pentecostes, era celebrada
no fim da colheita do trigo, cinqüenta dias (“Pentecostes” significa
“qüinquagésimo”) depois da Festa das Primícias (v. 16). Nesse dia, o povo de
Deus rendia-lhe graças pelas suas abundantes dádivas de alimento e por
tudo quanto os sustinha. Foi no Dia de Pentecostes que Deus derramou o
Espírito Santo sobre os discípulos de Cristo (At 2.1-4).
preparação para ele, Deus queria que Israel pensasse nas coisas espirituais,
e especialmente no seu relacionamento com Ele, segundo o concerto.
Capítulo 5
Livro de Números
5.1. Data e Momento do Livro
A data da composição do livro pode situar-se no período após a peregrinação
no deserto (que se seguiu ao êxodo) e antes da morte de Moisés. O livro
começa com os preparativos para a marcha através do deserto, relata as
experiências na jornada, descreve a falta de fé que levou os israelitas da
geração do êxodo a recusarem a conquista da Terra Prometida, relata os
quarenta anos de espera até que uma geração inteira morresse, e termina
com os preparativos para entrar em Canaã. Em vista do seu conteúdo,
Números foi, evidentemente, escrito como uma admoestação para que a
geração de israelitas nascidos no deserto perseverasse na fé e na
obediência, as quais faltaram aos pais. Para as gerações futuras do povo de
Deus, o livro teria uma mensagem semelhante.
Na Bíblia Hebraica, era costume designar cada um dos cinco livros de Moisés
pela palavra com a qual o obra iniciava. Para Números, essa prática foi
modificada pela adoção da quinta palavra como título. Essa palavra, que
traduzida significa “no deserto”, é uma descrição pertinente do conteúdo do
livro, uma vez que este descreve a experiência da nação durante os quarenta
anos no deserto.
Quando a Bíblia foi traduzida para o grego, seus livros receberam nomes
gregos. No caso de Números, a tradução grega abandonou o excelente nome
hebraico e empregou um termo grego significando “números” (arithmoi) que,
na realidade, descreve somente alguns dos seus capítulos. Esse título,
menos apropriado, foi traduzido para o português.
5.5.1. O Nazireu
Mostram como Cristo na cruz salva todo aquele que confia nele.
De cada tribo foi escolhido um chefe dentre os mais destacados, para tomar
parte nos trabalhos do recenseamento. Apesar de “chamados”, não quer
dizer que já antes não desempenhassem papel de relevo na respectiva tribo.
Quanto à relação das tribos, não se seguiu a mesma ordem que no Gênesis
(Gn 29.32-30.24; 35.16-18). À exceção de Levi, os filhos de Lia ocupam o
primeiro lugar, seguindo-se os descendentes de Raquel e, por último, os
quatro filhos das duas concubinas. Naassom, filho de Aminadabe e chefe da
tribo de Judá (7), foi um dos antepassados de Cristo (Mt 1.4; Lc 3.32-33).
Pentateuco 79
Não foi incluída a tribo de Levi no recenseamento militar (49), por lhe ter sido
confiada a missão de conduzir e cuidar do Tabernáculo (50-51), e a ele
andarem ligados por compromissos de caráter religioso (53), não tendo lugar
indicado de acampamento, mas sempre deviam assentar perto do
Tabernáculo.
São duas as condições que implicam este gênero de pecado, tão prejudicial à
paz e à harmonia do acampamento: ou a mulher foi infiel, mas sem
testemunhas, e o marido se encheu de ciúmes (12-14); ou então a mulher é
80
inocente e o marido continua ciumento sem razão (14). É assunto que não se
resolve com facilidade, mas nem por isso deixa de ter solução. Quer culpada,
quer inocente, a mulher é objeto de ciúmes e o resultado – a suspeita e a
incompreensão – pode degenerar em ultraje à família e até à comunidade.
Deve-se notar que não se encontra indicação de que esta prática foi seguida
após a entrada na Terra Prometida. Nm 5 alude especificamente à
purificação do “arraial” (2-3) e não existe qualquer referência a tal prática nas
últimas partes da Bíblia ou em qualquer outro livro que tenha chegado até
nós antes da destruição de Jerusalém no ano 70 da nossa era. Passado um
século após esse acontecimento embrenharam-se os rabis nas minúcias da
Lei, especulando todos os aspectos da antiga vida de Israel. Assim se admite
que àquele costume acrescentassem outros completamente desconhecidos
ao livro de Números, escolhendo, por exemplo, um determinado lugar no
Templo onde diziam que esse rito era administrado e que foi abolido no
primeiro século depois de Cristo por iniciativa dum rabi. Mesmo que assim
fosse, todavia, nada provaria acerca do longo período desde Josué a Davi, a
Zedequias, e durante os séculos que vão desde Esdras aos Macabeus. O
mais admissível é considerar aquela prática à luz do contexto, como
determinação especial para ser unicamente utilizada durante a travessia do
deserto. O nosso capítulo diz-nos que Deus prometera realizar um milagre
durante aquele breve período, e não se fala de qualquer outro gênero de
“prova” como processo judicial noutro livro da história antiga de Israel.
Há muito quem julgue que a Bíblia só contém milagres. É falso. São mesmo
freqüentes os capítulos em que nem a um só se faz alusão. Comparem-se,
por exemplo, os milagres tão freqüentes no deserto e durante a conquista de
Canaã e tão raros no tempo de Abraão e nos reinados de Davi e Salomão.
Mas não é impossível que aquela “prova” não exigisse naquela altura uma
intervenção divina para cada caso. Só atualmente o estudo da medicina
começou a dirigir a sua atenção para a influência das atitudes mentais e
emotivas no corpo humano. Certas doenças são hoje atribuídas, em princípio,
à força ou tensão das emoções. Imagine-se a situação duma israelita naquela
altura. Ela vira as maravilhas de Deus no Egito e no deserto. Ela teve
conhecimento direto do poder divino, que de tantos modos se manifestou.
Conduzida à presença do representante de Deus e em face duma vibrante e
solene exortação, não admirava que a bebida fosse acompanhada na mulher
culpada por uma sensação dos castigos descritos na maldição. Por outro
lado, a inocente, confiada na justiça do Deus que tudo vê, podia em paz e
tranqüilidade levar aos lábios o cálice da acusação. Em conclusão, seja-nos
lícito afirmar que, relacionado com esta “prova”, a divina Providência nunca
faltava com a Sua intervenção miraculosa, sempre que fosse necessário.
82
Notamos dois grupos distintos que se aliam contra Moisés e Arão. Um deles,
chefiado por Coré, constava principalmente de levitas, ofendidos com a
nomeação da família de Arão para o cargo altíssimo do Sacerdócio.
Pentateuco 85
O outro grupo, com Datã e Abirã à frente, achava-se com direito à chefia do
povo escolhido no lugar de Moisés, por serem os principais da tribo que
descendia do filho primogênito de Jacó. Assim, a insurreição contra a
autoridade eclesiástica associa-se a uma outra, contra a autoridade política,
numa íntima cooperação. Há diferenças notáveis entre a atitude de cada um
dos grupos; de certo modo, essas diferenças são tratadas separadamente,
embora complexas e por vezes de difícil interpretação. Examinemo-las tanto
quanto possível.
Em terceiro lugar, sabe-se que não são estes os únicos exemplos de alusão
a tal revolta. Em Nm 26.9-11 Coré, Datã e Abirã são todos mencionados. Cfr.
Sl 106.16-18, onde se descrevem os diferentes aspectos civis e eclesiásticos
da rebelião.
É verdade que todos os crentes sinceros são iguais diante de Deus. Mas o
homem, nascido no pecado, não deixa de estar sujeito a erro. Exige-se,
portanto, uma autoridade, que só pode ser a que se encontra na Palavra
Deus. Mas nesse tempo só uma pequena parte da Bíblia se encontrava
escrita e era aflitiva a situação do povo eleito. O futuro de Israel dependia do
êxito daquela marcha através do deserto e, bem assim, da instalação na
Pentateuco 87
Om. Como só no presente texto deparamos com este nome, ficamos sem
saber se esse personagem acompanhava apenas os outros e não merecia,
portanto, qualquer referência especial, ou, então, separou-se da revolta
contra Moisés.
Basta este simples resumo para nos dar uma idéia clara dos acontecimentos
descritos nesta seção do livro de Números. Só mais uma breve explicação
acerca do tabernáculo ou habitação dos revoltosos nos vers. 24 e 27. O
termo hebraico miskan, que na Bíblia muitas vezes é traduzido por
“tabernáculo” e em quase todas se refere ao Tabernáculo de Deus, tem o
88
Depois da morte de Coré e dos seus partidários, ordenou o Senhor que dos
turíbulos dos revoltosos se fizessem placas de bronze para cobrir o altar,
como lembrança de que só aos membros da família de Arão era permitido
oferecer incenso ao Senhor (36-40).
a) Israel não era apenas uma nação entre outras muitas nações, mas
“um povo que habita à parte” (Bíblia de Jerusalém). Gozaria da
grande bênção de ter uma descendência numerosa (23.7-10);
b) Deus é imutável e não muda de idéia como o fazem os homens,
portanto abençoaria a Israel dando-lhe força irresistível para derrotar
seus inimigos. Deus não via o mal em Israel, pois via os israelitas
90
a) Balaão representa o crente que cumpre a letra da lei, mas viola seu
espírito. Não falaria o que Deus não lhe dissesse, mas queria fazer o
mal. Quis que Deus mudasse de idéia e lhe permitisse fazer sua
própria vontade. Então, não podendo amaldiçoar ao povo de Deus por
palavra, procurou prejudicá-lo ensinando os midianitas a colocar
tropeços diante deles;
b) Balaão é uma amostra do profeta mercenário que deseja negociar
com seu dom: “Amou o prêmio da injustiça” (2Pe 2.15);
c) Balaão, em seu trato com os midianitas, exemplifica a má influência
dos mestres insinceros que procuram fazer avançar a causa da igreja
Pentateuco 91
Capítulo 6
Livro de Deuteronômio
6.1. Título e fundo histórico
A palavra deuteronômio provém da Versão Grega que significa “segunda lei”
ou “repetição da lei”. O livro consiste em sua maior parte nos discursos de
Moisés, dirigidos ao povo na fértil planície de Moabe; Israel estava preste a
cruzar o rio Jordão e iniciar a conquista de Canaã e Moisés estava por
terminar sua carreira. Visto que a primeira geração que saiu do Egito havia
morrido e a segunda não havia presenciado as obras maravilhosas de Deus
realizadas nos primeiros anos, nem as entendia, Moisés trouxe-as à memória
do povo. Também lhes recordou os preceitos da lei do Sinai para que os
gravassem em seus corações, pois esses preceitos os guardariam da
iniqüidade dos cananeus. Depois Moisés escreveu os discursos em um livro.
Portanto, distingue-se dos outros livros do Pentateuco por seu estilo oratório
e seu fervor exortativo.
posteriores tenham sido feitas por alguém como Josué, que adicionou o
obituário de Moisés ao livro, além de algumas atualizações posteriores da
gramática hebraica e de nomes de lugares.
Os críticos observam corretamente que o último capítulo não poderia ter sido
escrito por Moisés. Existe um amplo consenso de que o capo 34 é um
adendo, talvez acrescentado por Josué. Dessa mesma forma, o Livro de
Josué termina com a morte de Josué, registro feito claramente pelo autor de
Juízes, o qual acrescentou alguns versículos de Juízes à parte final de Josué
94
6.4. Propósito
O livro tem como propósito principal preparar o povo para a conquista de
Canaã. Deus havia sido fiel em dar a Israel vitória após vitória sobre seus
inimigos. A presença e o poder de Deus eram a garantia de que ele lhes
entregaria a terra. Moisés anima-os repetindo trinta e quatro vezes a frase:
“Entrai e possuí a terra” e adiciona trinta e cinco vezes: “A terra que o Senhor
teu Deus te deu.” Outros propósitos que se pode observar são: apresentar os
preceitos da lei em termos práticos e espirituais para serem aplicados à nova
vida em Canaã; dar a Israel instruções e advertências quanto aos detalhes da
conquista, aos requisitos dos futuros reis, como distinguir entre profetas
verdadeiros e profetas falsos, as bênçãos que a obediência traz e os
malefícios da desobediência e estimular lealdade ao Senhor e à sua lei.
Pode-se dizer que o ensino de Deuteronômio é a exposição do grande
mandamento, “Amarás, pois o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todo o teu poder” (6.5).
Pentateuco 95
Por meio de prefigurações e profecias, esse livro também nos faz olhar para
Cristo. Ele é o Cordeiro Pascal (16.1) e o Profeta que havia de vir (18.15-19).
Moisés, o fundador da teocracia de Israel, foi o mediador da antiga aliança;
mas Jesus Cristo, o Filho de Deus, tornou-se o mediador da nova aliança (Jr
31.31-34). A essência das alianças é a mesma, porém o seu modo de
administração difere significativamente. Enquanto a antiga aliança foi escrita
em tábuas de pedra, Cristo escreve a nova aliança pelo Espírito do Deus vivo
nas tábuas dos corações humanos (2Co 3.3). A antiga aliança foi ratificada
com a promessa de Israel, “o ouviremos, e o cumpriremos” (5.27; cf. Êx 19.8;
20.19). Porém a nova aliança baseia-se em promessas superiores de Deus:
“também no coração lhas inscreverei” (Jr 31.33; Hb 8.7). A antiga aliança
requeria que o sangue de animais fosse derramado; a nova e eterna aliança
foi instituída uma vez por todas pelo sangue de Cristo (Jr 32.40; Hb 9.11-28).
Pentateuco 97
Depois que a geração rebelde e infiel dos israelitas pereceu durante seus
trinta e nove anos de peregrinação no deserto, Deus chamou uma nova
geração de israelitas e preparou-os para entrarem na terra prometida,
mediante a renovação do concerto com Ele. Para uma conquista bem-
sucedida da terra de Canaã, necessário era que eles se comprometessem
com esse concerto e que tivessem a garantia que o Senhor Deus estaria com
eles.
As Escrituras mostram que Deus pretende que sua lei funcione de três
modos, que Calvino cristalizou, numa forma clássica para benefício da Igreja,
como o tríplice uso da lei.
Pentateuco 101
Sua primeira função é a de ser espelho que reflete para nós a perfeita justiça
de Deus e a nossa própria pecaminosidade e deficiência. Como escreveu
Agostinho, “a lei nos obriga, a saber, como pedir auxílio da graça, quando
tentamos cumprir suas exigências e nos cansamos na nossa fraqueza sob
ela”. A lei foi dada para nos transmitir conhecimento do pecado (Rm 3.20;
4.15; 5.13; 7.1.11) e, mostrando-nos a nossa necessidade de perdão e o
perigo da condenação, levar-nos a Cristo em arrependimento e fé (Gl 3.19-
24).
Uma segunda função da lei - o uso civil - é a de refrear o mal. Ainda que a lei
não possa mudar o coração, ela pode, até certo ponto, inibir as desordens
com ameaça de julgamento, especialmente quando apoiada num código civil,
que aplica punição a ofensas comprovadas (Dt 13.6-11; 19.16-21; Rm 13.3-
4). Desse modo, ela assegura a ordem civil e serve para proteger os justos
da ação dos injustos.
Junto com sua pregação dirigida à nação, oravam também por ela - falavam a
Deus a respeito dos homens tão seriamente quanto falavam aos homens a
respeito de Deus. Eles cumpriam um ministério todo especial de intercessão
(Êx 32.30-32; 1Sm 7.5-9; 12.19-23; 2Rs 19.4; Jr 11.14; 14.11).
Este texto (Dt 6.4) é comumente chamado “o Shemá” (do hb. Shama, “ouvir”).
Os judeus dos tempos de Jesus eram afeitos a esse trecho, por ser recitado
diariamente pelos judeus devotos, e também regularmente nos cultos da
sinagoga. O “Shemá” é a declaração clássica do cunho monoteísta de Deus.
Ao “Shemá” segue-se um duplo preceito para Israel: amar a Deus de todo o
coração, alma e forças (vv. 5,6); e ensinar diligentemente aos seus filhos
sobre a sua fé (vv. 7-9).
caminho (3). O Talmude lembra que nas estradas se viam uns letreiros com a
seguinte indicação: “Refúgio, refúgio”. O vingador do sangue (6). O goel
hebraico é “o vingador do sangue” ou O “parente” que tem direito de resgatar
(Rt 4) ou mesmo o “redentor” (Jó 19.25). Tal justiça retributiva destinava-se a
impedir novo homicídio. Não há, portanto, qualquer violação do sexto
mandamento (5.17).
Acrescentarás outras três cidades (9). A antiga promessa de Gn 15.18 não foi
esquecida, mas a conquista atual não abrangeu o território da promessa, pelo
que não se encontra noutro lugar, qualquer indicação da necessidade destas
cidades e, portanto, mais uma prova de autenticidade. Nenhum escritor mais
tarde teria inventado a necessidade de mais três cidades. Haja sangue sobre
ti (10). Cfr. Gn 4.11; Dt 21.6-8. Sendo “santa” a terra de Jeová, não pode
admitir-se nela qualquer mancha de sangue. Os anciãos da sua cidade (12).
Cfr. 16.18. Eram os que desfrutavam de maiores regalias e prestígio, quer
pela família a que pertenciam, quer pelas qualidades de que eram dotados, e
formavam a autoridade local em questões judiciais e até comerciais. Cfr.
21.20; 27.1; 29.10; 31.28.
Oséias (44). O nome primitivo de Josué era Oséias (“salvação”), mas Moisés
substituiu-o por Josué (em hebraico: “Jeová é a salvação”). (Nm 13.8-16). O
fato de se empregar aqui o nome original significa que este nome havia de
perdurar (cfr. o emprego de “Simão” em 2Pe 1.1). Aplicai o vosso coração
(46). É característico este apelo constante ao coração do povo (cfr. 30.14).
Estão contados os dias de Moisés. Só Deus pode dizer: “Estou convosco
todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28.20).
A introdução deste capítulo leva-nos a crer que foi escrito depois da morte de
Moisés. Mas, a partir do vers. 2 nada impede que admitamos ter sido o
próprio Moisés ou alguém que o ouvisse pronunciar essas palavras. A
“bênção” é um processo profético de oração e de louvor (cfr. Lc 2.38). Tal
como a bênção de Jacó (Gn 49), Moisés conta em tom poético os benefícios
derramados por Deus sobre cada uma das tribos. Não só na introdução
(2-5), como em quase todo o capítulo, a nota geral teocrática das várias
referências, vem favorecer a autenticidade da narração, bem como a sua
contemporaneidade. Omite-se a tribo de Simeão, talvez propositadamente,
para se conservar o número doze. Cfr. vers. 6. É que, além de tudo o mais, a
tribo de Simeão foi gradualmente absorvida pela do Judá. Moisés, homem de
Deus (1). Este título sugere-nos que não seria seu autor o próprio Moisés.
Cfr. vers. 4. Foi aplicado a Moisés por Calebe (Js 14.6) e aparece de novo no
título do Sl 90. O Senhor... subiu... resplandeceu (2). A entrega da Lei é
comparada a um rutilante sair do sol oriental. Veio com dez milhares de
santos (2). À letra: “miríades de santidade”. Os LXX, talvez mais
corretamente, traduziram aquela última palavra por “anjos”. Cfr. At 7.53. Na
tua mão (3). A introdução repentina da segunda pessoa levou alguns
comentadores a atribuir este texto ao futuro Rei messiânico. Moisés nos deu
(4). Cfr. vers. 1. Pode ter sido uma expressão introduzida pelo autor do vers.
1, ou então atribuírem-se-lhe mesmo os vers. 1-5. De certeza, pelo menos foi
alguém que da boca de Moisés ouviu tais palavras. Foi rei em Jeshurun (5).
Este rei ou foi Jeová (1Sm 12.12), ou o Rei-Messias (3), ou então o próprio
Moisés.
Referências
ALMEIDA, A. Conceição. Introdução ao Estudo da Exegese Bíblica. Rio de
Janeiro: CPAD, 1985.