PROPOSTA DE UM SISTEMA INTELIGENTE PARA AUTOMAÇÃO DO APOIO
ELÉTRICO EM AQUECEDORES SOLARES DE ÁGUA
*Filipe Augusto de Castro Oliveira, **Sérgio Ricardo de Jesus Oliveira
Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Elétrica, Uberlândia – Minas Gerais
*filipeaocastro@gmail.com, **srjesus@ufu.br
Resumo – Os sistemas de aquecimento solar têm se
apresentado como uma opção bastante viável na
substituição dos chuveiros elétricos. Entretanto, em dias
nublados ou chuvosos, normalmente se faz necessário o
uso de uma resistência elétrica de apoio para aquecer a
água devido à falta de sol. O acionamento desta
resistência normalmente ocorre manualmente pelo
usuário ou de forma automática quanto a temperatura
mínima for atingida. Nestes casos, pode não acontecer o
aquecimento da água, fazendo com que o usuário tenha
que aguardar e se o mesmo não tiver tempo disponível,
ele tomará um banho desconfortável devido à baixa
temperatura da água. Neste cenário, o presente trabalho
propõe um sistema de automação que proporciona a seus
usuários a garantia de um banho quente, independente
da época do ano e do número de banhos.
Palavras-Chave – Aquecedor solar, automação, banho,
apoio elétrico.
PROPOSAL OF AN INTELLIGENT
SYSTEM FOR AUTOMATION OF
ELECTRICAL SUPPORT IN SOLAR
WATER HEATERS
Abstract - Solar heating systems have been presented
as a very feasible option in replacing electric showers.
However, on cloudy or rainy days, it is often necessary to
use a backup electric resistance to heat the water due to
lack of sun. The activation of this resistance commonly
occurs manually by the user or automatically when it
reach the minimum temperature. In these cases, it may
not occur the water heating, causing the user to wait and
if he does not have spare time, he will take an
uncomfortable bath due to the low water temperature. In
this scenario, the present work proposes an automation
system that gives its users the guarantee of a hot bath,
independent of the season and the number of baths.
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Keywords – Solar heaters, automation, bath, electrical
heating.
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I. INTRODUÇÃO
O uso do sistema de aquecimento solar em domicílios no
Brasil vem se tornando cada vez mais comum, tanto pela
evolução da qualidade dos modelos disponíveis, quanto pela
economia de energia elétrica e dinheiro devido ao seu uso. Se
uma residência que consome cerca de 830 kWh por ano, com
aquecimento de água utilizando chuveiros elétricos,
possuísse 4 m² de placas de aquecedores solares, seu gasto
com energia elétrica seria 530 kWh menor nesse mesmo
período de tempo [1].
Entretanto, devido à sua praticidade e preço, o chuveiro
elétrico ainda está presente em 73% das residências
brasileiras, segundo dados do Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) [2], e em 2013
os aquecedores solares representaram apenas 1,2% de todo o
aquecimento global de água [4].
Dentre as vantagens do uso do modelo de aquecimento
solar de água, pode ser realçada a economia de energia
elétrica em relação ao uso de chuveiros, uma vez que, estes
representam a maior parcela de consumo de energia elétrica
nos domicílios brasileiros, seguido pela geladeira e o ar
condicionado [2].
Com o advento da necessidade de economia de energia
elétrica e, consequentemente, dinheiro, esta realidade vem
sendo alterada e converge cada vez mais para o uso do
aquecimento solar. Este modelo é composto pelo uso de
placas de aquecimento solar de água e um boiler, que é um
reservatório isolado termicamente e que geralmente possui
uma resistência elétrica em seu interior para o aquecimento
da água, nos períodos de ausência de sol. Um exemplo desse
sistema de aquecimento pode ser visto na Figura 1.
Fig. 1. Sistema de aquecedor solar de água.
No sistema em questão, o aquecimento da água ocorre por
meio da absorção de raios solares pelas placas de
aquecimento (coletores solares), provocando um aumento de
temperatura da água presente dentro das mesmas. Essas
placas são conectadas ao boiler, que está localizado um
pouco acima do nível dos coletores solares. Este desnível é
necessário para garantir que o processo físico chamado
convicção, provoque deslocamento da água quente para a
parte superior das placas coletoras e daí em diante para o
reservatório de água quente, ficando armazenada na parte
superior do boiler. Este efeito ocorre em função da diferença
de densidade entre a água fria que entra nas placas coletoras
e a água aquecida presente nas mesmas, provocando uma
circulação constante de água entre o reservatório e as placas
coletoras.
Dentro do boiler, através do mesmo processo físico
citado, a água quente permanece na parte superior e a fria na
parte inferior. Desse modo, é possível separar saídas d’água
que vão para consumo (quente) e a que vai para as placas
(fria), através de uma saída na parte superior e outra na
porção inferior do boiler, respectivamente.
A resistência elétrica de apoio se faz necessária nesse
modelo de aquecimento, por exemplo, devido à falta de
radiação solar suficiente para o aquecimento da água em dias
nublados ou frios. A energização da resistência elétrica nas
residências normalmente é feita pelo acionamento de um
disjuntor ou de forma automática quanto a temperatura
mínima for atingida.
Junto com o crescimento da demanda de aquecedores
solares, vem também sendo evidenciados alguns problemas
vindos da sua utilização, dentre eles pode-se ressaltar o
desperdício de energia elétrica por conta do acionamento
manual da resistência, por um período de tempo além do
necessário para aquecer satisfatoriamente a água para banho.
Esse acionamento ocorre, geralmente, no momento que o
usuário precisa da água quente. Como consequência, a
resistência elétrica de apoio não terá tempo suficiente para
aquecer a água a nível aceitável para banho, afinal, aquecer
400 litros de água não é uma tarefa rápida para uma
resistência de cerca de 3000 W, normalmente encontrada em
reservatórios de água quente.
Outro fato importante é que nos sistemas automáticos,
pode ocorrer da resistência ser acionada em períodos nos
quais normalmente não existe demanda para uso da água
quente, resultando também em desperdício de energia
elétrica.
Partindo deste pressuposto, este artigo propõe um sistema
de automatização do controle da resistência elétrica do
boiler, evitando que a temperatura da água torne-se
inadequada para banho, mesmo quando a mesma for
utilizada em muitos banhos ou em um período de pouca
radiação solar. Com esta estratégia busca-se um maior
conforto para os usuários do sistema de aquecimento solar de
água, ao mesmo tempo em que contribui para redução da
conta de energia elétrica.
O projeto consiste num equipamento que foi instalado em
uma residência e pode ser configurado pelos moradores,
permitindo a seleção da temperatura mínima que a água deve
estar para um banho confortável e ainda informar ao sistema
o número de banhos por horário do dia. Desta forma, o
sistema ajusta a temperatura da água para um número de
banhos configurados no sistema e nos horários que o usuário
definiu.
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II. MATERIAIS UTILIZADOS
O sistema em questão consiste em um dispositivo que
permite monitorar a temperatura da água no boiler em tempo
real e disponibiliza ao usuário uma interface na qual o
mesmo pode configurar o acionamento automático da
resistência elétrica para aquecer a água no boiler de acordo
com sua preferência.
Como a proposta foi criar um projeto eficiente e de baixo
custo, os componentes utilizados foram simples, mas que
atendem bem às necessidades.
A. Hardware
Para gerir o sistema como um todo foi utilizado uma placa
microcontroladora tipo Arduino Mega2560, dois sensores de
temperatura LM35, um módulo de Relógio em Tempo Real -
(RTC) DS1307, um teclado matricial 4x4 e um display LCD
20x4. O boiler de água quente já possui sua própria
resistência elétrica, que foi controlada através de um relé.
1) Arduino
A placa microcontroladora Arduino Mega2560 foi
escolhida devido à sua capacidade de processamento
compatível com o projeto atual e com planos futuros, além
de possuir várias portas digitais e analógicas, que é um
aspecto importante neste projeto em função da quantidade de
conexões entre esta placa e os dispositivos utilizados para
implementação deste projeto.
Esse modelo de Arduino possui um processador
ATmega2560 de 8 bits trabalhando a 16MHz [3]. O papel do
Arduino nesse projeto é fazer o gerenciamento de todos os
periféricos envolvidos no sistema, além de coletar e
interpretar as informações vindas dos mesmos. Os cálculos
envolvidos também são realizados por esse
microcontrolador.
2) Teclado e display LCD
O teclado matricial e o display LCD são a parte de
interface homem-máquina no projeto em questão, no qual
usuário envia comandos para o microcontrolador e especifica
valores através do teclado e recebe informações através do
display.
O teclado matricial 4x4 foi escolhido devido à sua
facilidade de uso, preço e versatilidade. Sua quantidade de
teclas mostrou-se ideal para o projeto em questão. Foi
escolhido um display LCD de tamanho 20x4 produzido pela
Shenzhen Eont Electronics [5] devido à quantidade de
informações que devem ser mostradas de uma só vez em sua
tela, como horário, temperatura da água na saída do boiler,
etc.
3) Relógio em tempo real (RTC)
O módulo de relógio em tempo real escolhido para este
projeto foi o DS1307 produzido pela Maxim [6]. O mesmo
foi utilizado para que o microcontrolador tenha controle
sobre tempo e horário, que são informações fundamentais
para o funcionamento do sistema como um todo, permitindo
ainda uma maior personalização do sistema em função das
necessidades do usuário.
Além disso, o modelo utilizado de RTC possui uma
bateria do tipo moeda conectada ao mesmo. Esse adicional
permite que, mesmo durante uma falta de energia elétrica, o
mesmo mantenha seu relógio interno operando e assim
garantindo a integridade das informações de data e hora.
4) Boiler e resistência elétrica
O boiler utilizado possui uma capacidade de
armazenamento de 400 L e tem um formato cilíndrico,
posicionado na horizontal. A resistência elétrica de apoio
localizada no boiler possui uma potência de 3000 W e a
mesma é controlada pelo Arduino através de um relé. Além
disso, a resistência fica localizada no centro de uma das
bases da lateral do boiler próximo à saída de água quente,
promovendo o aquecimento da água na região meridional do
boiler.
5) Sensores de temperatura
O sensor temperatura utilizado neste projeto foi o LM35,
da National [7]. Cada sensor foi colocado em um local
diferente, sendo um na entrada de água fria do boiler e outro
na saída de água quente para consumo, como mostrado na
Figura 2.
Fig. 2. Distribuição dos sensores LM35 no boiler.
Estas posições foram escolhidas devido à diferença de
temperatura em ambos os locais e a importância destes no
funcionamento do sistema. As medições de temperatura
nestes locais se fazem necessárias para efetuar os cálculos
corretos de estimativa de temperatura, que serão explicados
de forma mais aprofundada na seção IV.
III. FUNCIONAMENTO
O usuário que utilizar deste sistema poderá escolher qual a
temperatura mínima que ele deseja que a água esteja nos
horários de sua preferência e indicar também quantos banhos
serão tomados nesse horário, para que todos que forem tomar
banho possam usufruir da água quente.
Ao informar estes dados, o sistema terá que garantir que,
no horário determinado, a água na saída do boiler para
consumo esteja a uma temperatura maior ou igual à
3
temperatura mínima definida pelo usuário e mantenha-se
assim durante todos os banhos programados.
Neste modelo de funcionamento, o sistema irá requerer
que o usuário adicione horários do dia em que os banhos
serão tomados, a temperatura mínima que se deseja tomar
banho e o número de banhos que serão tomados em cada
horário.
Além disso, o sistema possui outra funcionalidade que
será a de controlar a resistência elétrica durante o dia, de
forma que a temperatura mínima, determinada pelo usuário,
seja mantida durante todo o dia, mesmo fora do período de
banho. O objetivo desta função é assegurar que todos os
usuários da água quente utilizem desse benefício no caso de
um banho fora do horário estipulado e também em outras
aplicações, como no caso de misturadores instalados nos
lavatórios e na pia da cozinha.
IV. MÉTODOS
Como forma de gerenciamento desse processo, foram
desenvolvidos softwares específicos para controlar cada
componente periférico envolvido no projeto. Após a
conclusão e teste desses programas, os mesmos foram
reunidos em apenas um software escrito em linguagem C++.
O sistema monitora a todo momento a chegada de
comandos do usuário, através do teclado matricial. Ao
mesmo tempo são disponibilizadas informações no display
relativas ao estado do sistema. Tais informações são: a hora e
data atuais, a temperatura atual da água para consumo e da
água fria que entra no reservatório, o estado da resistência
elétrica (ligada ou desligada), o próximo horário de banhos e
a quantidade destes.
Para que todos os banhos tomados ocorram em
temperatura da água acima da mínima definida pelo usuário,
o sistema deverá considerar a variação de alguns fatores,
estes são: o tempo que a água leva para aquecer, a
temperatura da água fria entrando no boiler e o número de
banhos que serão tomados. A partir desses dados, o sistema
irá estimar até qual valor de temperatura a água deverá ser
aquecida.
Um fator que se faz de extrema importância é o fato de
que durante o consumo de água quente, a água fria que entra
no boiler para manter o mesmo nível d’água dentro do
mesmo, causa uma queda de temperatura da água quente em
função do tamanho da diferença de temperatura de ambas.
Ou seja, o sistema deve realizar um método para compensar
a queda de temperatura devido a água fria que entra no
reservatório, levando-se em conta que quanto menor a
temperatura da água que entra no boiler em relação à água
que sai, mais rápido esta última esfriará.
Tendo este fato em evidência, optou-se por elaborar uma
equação que relacione todos os valores que interfiram na
temperatura da água que será consumida e retorne o valor da
temperatura estimada que a água deverá ser aquecida para o
número de banhos determinado pelo usuário. A equação (1)
foi o resultado da ponderação de todas essas variáveis.
  Tmin − T fria 
Test =  ( N b − 1) + Tmin
 10  banho realizado. Todos estes dados foram considerados na
Onde:
est - Temperatura estimada para atender ao número de
banhos Nb garantindo a temperatura mínima Tmin.
Tfria - Temperatura da água fria que entra no boiler.
Nb - Número de banhos.
Tmin - Temperatura mínima que deverá ser garantida em
cada banho.
Por exemplo, se o usuário optasse por definir a
temperatura mínima de banho para 40 °C a equação (1)
produziria uma reta como mostrada no gráfico da Figura 3,
para diferentes valores de Tfria.
Fig. 3. Gráfico da equação (1) para Tmin = 40 °C e diferentes
valores de Tfria.
Este modelo de equação foi resultante da
observação experimental do sistema de aquecimento solar de
água, considerando os momentos e os motivos que nortearam
o acionamento do apoio elétrico. Nestas observações foram
anotados o número de banhos, as temperaturas da água que
(1) entra e que sai do boiler e a queda de temperatura após cada
definição da equação (1).
V. CONCLUSÕES
O sistema aqui descrito encontra-se em fase final de
implementação. As etapas de IHM (Interface Homem
Máquina), que neste projeto é composta pelo teclado e
display, o controle de acionamento da resistência e o relógio
de tempo real (RTC) encontram-se concluídos. Neste
momento, resta a finalização do software de controle da
temperatura mínima do boiler e a instalação deste sistema em
uma residência.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu pai pelo apoio e ajuda e ao Laboratório
de Engenharia Biomédica (BioLab) pelo aprendizado
adquirido neste espaço.
REFERÊNCIAS
[1] Rede Brasil de Capacitação em Aquecimento Solar
(2008), Noções Iniciais Sobre o Aquecimento Solar.
[2] Eletrobrás - Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (2007).
Pesquisa de Posse de Equipamentos e Hábitos de Uso:
ano-base 2005, classe residencial. Relatório Brasil. Rio
de Janeiro: ELETROBRÁS/PROCEL.
[3] ATmel. Atmel ATmega640/V-1280/V-1281/V-2560/V-
2561/V., http://www.atmel.com/Images/Atmel-2549-8-
bit-AVR-Microcontroller-ATmega640-1280-1281-2560-
2561_datasheet.pdf. Acesso em 24 de Agosto de 2017.
[4] Franz Mauthner, Werner Weiss, Monika Spörk-Dür,
Solar Heat Worldwide. IEA Solar Heating & Cooling
Programme, June 2015.
[5] Shenzhen Eont Electronics, Specification For LCD
Module 2004A, Versão 1.0
[6] Maxim Integrated Products, DS1307 64 x 8, Serial, I2 C
Real-Time Clock, 2015.
[7] National Semiconductor, LM35 Precision Centigrade
Temperature Sensors, November 2000.