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Josimar Elias Rodrigues

Antropologia dualista como fundamento para uma teologia


de dominação do outro na colonização católica da América
Wanderley Pereira da Rosa

Reação ao texto apresentada em


cumprimento ao Curso da Faculdade
Unida, de Convalidação em Teologia,
turma 14, da disciplina História do
cristianismo III, professor Wanderley
Pereira da rosa.

Vitória
2014
O texto, logo em sua introdução, nos mostra o quanto a nossa
concepção teológica pode interferir em nossa conduta e contexto social. É
interessante observar que coisas terríveis, (dentro de nossa visão do absurdo)
foram feitas em nome de Deus e de sua palavra, mas foram justificadas pelos
autores como sendo da interpretação correta das escrituras sagradas. A leitura
de um mesmo texto sagrado pode levar às diversas interpretações conforme a
cultura, política e religiosidade predominante. O que para uns desvirtua-se dos
ensinos de Jesus, para outros é a pura aplicação bíblica, ou ainda a aplicação
mais conveniente. A doutrina da tricotomia, antes mesmo de assim ser
designada tem dado vasão a diversos delírios, ou pretextos teológicos que
“justificam” convenientes comportamentos do ser humano em dominação sobre
o outro. Embora haja interpretações errôneas, mas que são originadas de
buscas sinceras nota-se no desenrolar da história que a maioria dos
enunciados dominantes é fruto de manipulação deliberada dos textos sacros
com objetivos claros de subjugar o próximo em vista a seus interesses
mesquinhos. Interesses esses como os de posse de terras, conquista de bens
e fortuna e de poder político-religioso. Mesmo os fiéis missionários parecem,
em muitos casos como fantoches nas mãos dos poderosos, alterando suas
teologias para agradar ambos os lados: O domínio dos tiranos aqui na terra e a
esperança do sofredor num futuro pós-morte.

É triste constatar que a história cristã está repleta de busca de


interesses pessoais e terrenos sob o pretexto de uma evangelização e
interesses do reino. Há, no entanto uma espetacular alegria em perceber que
Deus sempre continuou e continua soberano em todas as coisas. Embora
suporte até o tempo determinado os vasos de desonra, o soberano Deus já tem
estabelecido o seu juízo, bem como, em toda história do cristianismo, manteve
sempre os fiéis ao seu nome, os consolou e os amparou. Apesar das falhas da
igreja em sua missão, falhas estas ainda tão presentes em nossos dias, o Deus
que jamais falha, por sua aliança, ainda a mantém.

É muito importante destacarmos que a ação católica imposta contra os


povos “pagãos” por meio da doutrinação desprovida de diálogo é a mesma que
ela passa a sofrer após o movimento protestante. Para estes, os católicos não
passam de “pagãos” carentes de doutrinamento. Talvez num gesto de
aprendizado, ou ainda, uma caminhada para outro extremo, pastorais católicas
se levantam em defesa à preservação de culturas em especial a indígena. A
concepção de intelectualidade teológica e espiritualidade superior passam a
ser do protestante, uma vez que este lê a Bíblia, e busca uma santidade. A
própria economia parece favorecer esta mudança de quadro uma vez que os
países protestantes passam a ter um desenvolvimento econômico superior ao
país de maioria católico. Ao combater o catolicismo, no entanto, e ao tentar
subjuga-lo, o protestantismo parece estar cada vez mais parecido com seu
opositor. Talvez, algo semelhante ao que aconteceu com o catolicismo ao
subjugar, ou tentar, os povos “primitivos”, quando então parecem ter sido mais
influenciados por estes do que o contrário. Mesmo naquilo que houve uma
aparência mudança, houve na verdade apenas uma substituição sacerdotal,
por exemplo: De feiticeiros (Pajé) para padres, de padres para pastores, de
pastores para apóstolos... Todas estas figuras religiosas em muitos casos
parecem se apresentar como mediadores entre Deus e o homem.

É claro que o evangelho e a cultura bíblica são doutrinais, mas há de se


refletir que tipo de doutrinamento é este e o que realmente na essência o
evangelho busca trazer. Vê-se nas experiências apostólicas e do próprio Cristo
que o evangelho não interferiu diretamente, em alguns casos nem
indiretamente, na cultura da época e quando alguns assim quiseram fazer
usando o nome de Cristo, foram por ele ou seus seguidores repreendidos. Há
de se reconhecer, no entanto que em outros casos o próprio Cristo e também
seus apóstolos atacaram diretamente comportamentos e crenças chamadas
culturais, mas que de cultura nada tinham, ou mesmo sendo cultura só traziam
opressão sobre o povo. A postura superior destoa do princípio de servo
ensinado por Cristo. Jesus não desprezou a escritura e a cultura judaica, antes
partiu destas para promover seus ensinos. Em reconhecimento à história do
outro, além da soberania e atributos indivisíveis de Deus é fundamental
entendermos que não é o cristianismo que salva e sim o Cristo. Cristo está
acima das religiões e de todo o cristianismo, salva através destes e sem estes.
Aí está a sua multiforme e superabundante Graça.

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