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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CAMPUS XII – SANTARÉM
CURSO DE MEDICINA

RELATÓRIO DE TUTORIA

MÓDULO ASE20 – DOENÇAS METABÓLICAS, HORMONAIS E NUTRICIONAIS

Problema: 04

Tutor: Dr. Carlos Sinimbú

Coordenador: Ana Carolina Rocha e Silva

Secretário: Luiz Fernando Rocha Miranda Neto

Auxiliares no relatório: Ana Paula Costa Lins; Jennyfer Conceição dos Santos Monteiro;
Francisco Lucas Bonfim Loureiro,

Integrantes do grupo:
1. PEDRO FELIPE GARCIA FURTADO
2. ANA PAULA COSTA DINIZ
3. LUIZ FERNANDO ROCHA MIRANDA NETO
4. RAFAEL PEDROSO BASTOS
5. FRANCISCO LUCAS BONFIM LOUREIRO
6. GABRIELLE DA SILVA FRANCO
7. VALESKA DOS SANTOS SARMENTO
8. HITAMAR ALMEIDA DOS SANTOS JUNIOR
9. ANA CAROLINA ROCHA E SILVA
10. ONEZIMO MARQUES BENTES
ABERTURA

ID: Pmn, 30 anos, sexo feminino, paraense.

QP: Saída de leite do mamilo.

HDA: paciente relata saída de leite do mamilo, diminuição do fluxo menstrual, diminuição da
libido e dor de cabeça frequente.

AMP: NDN.

AMF: pais diabéticos e hipertensos.

EXAME FÍSICO GERAL: sem alterações, PA: 120x80.

EXAMES COMPLEMENTARES: hemograma normal; prolactina: 50; FSH e LH: baixos; USG
transvaginal: normal; RNM de sela turca: microadenoma de hipófise.

Objetivos:

1 - Hipogonadismo

2 - Síndrome de Cushing (screening) e Doença de Cushing

3 - Hiperprolactinemia

4 - TSHomas

5 - Puberdade precoce
1. HIPOGONADISMO

Síndrome causada pela falência dos testículos em produzir níveis fisiológicos de


testosterona e espermatozóide, em virtude da falência de um ou mais itens do eixo
hipotálamo-hipófise-testículo. Pode ser congênita ou adquirida.

1.1. Classificação

1.1.1. PRIMÁRIO

Falência testicular direta das células de Leydig e/ou de Sertoli, causando


redução de testosterona e espermatozóides, com níveis elevados de hormônio
luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH).

1.1.2. SECUNDÁRIO:

Falência hipofisária ou hipotalâmica. Os testículos são normais, mas não


produzem testosterona em níveis adequados devido à falta de estímulo apropriado

1.1.3. MISTO/COMBINADO:

Falência associada do testículo e da hipófise-hipotálamo. As causas são


hemocromatose, talassemia, corticoterapia prolongada, alcoolismo, envelhecimento,
diabetes mellitus, síndrome metabólica, obesidade entre outras.

1.2. Quadro clínico

Os sinais e sintomas geralmente começam a aparecer quando há testosterona


total < 300 ng/dl, e o quadro clínico pode variar desde sintomatologia bastante
inespecífica até alguns sinais e sintomas que são um pouco mais específicos da
falta de hormônios masculinos.

1.2.1. SINAIS E SINTOMAS ESPECÍFICOS

 Ambiguidade genital (se houver hipogonadismo desde o 1o trimestre da


gestação)

 Micropênis ou criptorquidia (se houver hipogonadismo desde o 3 o trimestre da


gestação)
 Atraso no desenvolvimento sexual e no aparecimento de caracteres sexuais
secundários e hábito eunucoide (no caso de hipogonadismo adquirido antes da
puberdade)

 Queda de libido, disfunção erétil, ginecomastia ou desconforto mamário, perda


de pelos (pubianos, axilares, barba), redução da velocidade de crescimento da
barba, testículos pequenos e infertilidade com baixa contagem de
espermatozoides no espermograma, além de osteoporose, baixa massa óssea,
fraturas e perda estatural, para pacientes hipogonádicos na vida adulta.

1.2.2. SINAIS E SINTOMAS INESPECÍFICOS

 Queda de energia, motivação, iniciativa, vontade e fadiga

 Depressão e distimia

 Perda de concentração e de memória

 Sonolência e alterações no sono

 Anemia normocrômica e normocítica leve

 Redução de massa, de força muscular e da performance física

 Aumento de gordura corporal.

1.3. Diagnóstico

O diagnóstico de hipogonadismo masculino deve ser feito com a dosagem de


testosterona total pela manhã, que deve vir baixa. Deve ser repetida e confirmada.
Esta dosagem nunca deve ser feita em situação de doença aguda ou subaguda. Nos
pacientes com testosterona total limítrofe ou com suspeita de alteração na globulina
ligadora do hormônio sexual (SHBG), por hepatopatia, desnutrição, nefrose ou
outras causas, deve ser dosada a testosterona livre.

Na vigência de testosterona baixa, deve-se avaliar o eixo hipotálamo-hipofisário


com dosagem de LH e FSH para o diagnóstico diferencial entre hipogona primário
(gonadotrofinas elevadas) e secundário (gonadotrofinas normais ou baixas).
 Se primário: solicita-se cariótipo (Klinefelter, homem XX), avalia-se história de
caxumba, trauma testicular, cirurgias prévias, quimioterapia ou radioterapia e
uso de medicamentos inibidores da esteroidogênese, como cetoconazol;

 Se secundário: solicita-se a dosagem de prolactina, investigam-se os demais


eixos hipofisários e a saturação de ferro (hemocromatose), e pesquisa-se
anosmia (síndrome de Kallmann).

1.4. Tratamento

1.4.1. TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL ANDROGÊNICA

1.4.1.1. Indicação

 Hipogonadismo congênito

 Retardo constitucional de crescimento e desenvolvimento (RCCD) em casos


selecionados

 Andropausa/DAEM: indicado apenas para homens com deficiência androgênica


clássica sintomática

 Transexuais femininos → masculinos.

1.4.1.2. Objetivos

Deve-se induzir e manter os caracteres sexuais secundários, no caso de


meninos hipogonádicos em fase pré-puberal, melhorar a libido, a potência, a função
sexual e a massa óssea, evitar e tratar a osteoporose masculina, manter a força e a
massa muscular, melhorar a energia, a qualidade de vida e o bem-estar do homem.

1.4.1.3. Avaliação antes da reposiçao

 Antígeno prostático específico (PSA) associado ao toque retal se > 40 anos: a


reposição de testosterona está contraindicada em qualquer homem com câncer
de próstata ou de mama.

 Hemograma: não se deve iniciar RH se houver hematócrito > 50%

 Sintomas de síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS): não se deve iniciar


RH se houver SAOS grave não tratada.
1.4.1.4. Prescrição da reposição hormonal

 Hipogonadismo Congênito

Em criança que não desenvolveu os caracteres sexuais secundários, deve-se


iniciar com 12 a 13 anos de idade:

 Testosterona 50 mg (1/4 da ampola) IM mensal, por 6 a 12 meses

 Após este período, aumentar mais 50 mg a cada 6 meses até atingir a dose
adulta de 200 a 250 mg IM a cada 2 a 3 semanas (de acordo com nível
sérico da testosterona no nadir). Quando já estiver com a puberdade
completa, pode passar a usar a testosterona trimestral (1.000 mg IM a cada
3 meses)

 Opção com testosterona oral: Androxon ® 40 mg VO no jantar por 6 meses;


aumenta-se depois gradativamente até 80 mg, em seguida aumenta-se
progressivamente até atingir 3 a 4 comprimidos ao dia (120 a 160 mg/dia)

 Opção com gel de testosterona a 1% (sachê com 50 mg de testosterona):


inicia-se com 1/3 do sachê ao dia, aumentando gradativamente a cada 6
meses até chegar a 1 sachê ao dia

 Opção com adesivos de testosterona: cortar o adesivo e utilizar 1/3 dele ao


dia, aumentar a dose a cada 6 meses até a dose plena de 1 a 2 adesivos ao
dia.

 RCCD

 Testosterona 50 mg IM mensal por 6 meses

 Geralmente, depois desse período, a puberdade inicia sozinha. Se ainda não


se iniciar, repetir mais 6 meses de tratamento.

2. SÍNDROME DE CUSHING (SECREENING) E DOENÇA DE CUSHING

É o conjunto de sinais e sintomas decorrente da exposição crônica do


organismo a um excesso de glicocorticoide.
2.1. ETIOLOGIA

A causa mais comum é iatrogênica (exógena), sendo as etiologias endógenas


bastante infrequentes na prática (cerca de dois a três casos novos para cada um
milhão de habitantes-ano).

As causas de Cushing endógeno são divididas em dois grandes grupos:

 ACTH-dependentes (80%): relacionam-se a doenças do eixo hipotálamo-


hipofisário, ou tumores diversos secretantes de ACTH/CRH. Doença de Cushing
(68%); Secreção ectópica de ACTH (12%); Secreção ectópica de CRH (<1%).

 ACTH-independentes (20%): ocorrem em consequência a doenças primárias da


suprarrenal. Adenoma adrenal (10%); Carcinoma adrenal (8%); Hiperplasia
adrenal micronodular (1%); Hiperplasia adrenal macronodular (<1%).

2.2. SCREENING

Consiste em demonstrar laboratorialmente a existência de um excesso de


cortisol. Três testes são considerados de “primeira linha” com esse intuito:

Cortisol Livre na Urina de 24h (CLU). O cortisol plasmático livre é a forma


biologicamente ativa do hormônio, sendo normalmente eliminada na urina em
pequena quantidade, refletindo a quantidade de hormônio ativo que circulou ao
longo de um dia! O valor de referência do CLU varia de acordo com o kit mas, para
ser considerado inequivocamente positivo, deverá estar acima de três vezes o Limite
Superior da Normalidade (LSN). Valores anormais, porém, < 3x o LSN, não são
diagnósticos de síndrome de Cushing, sendo, na realidade, sugestivos de “pseudo-
Cushing”. O teste deve ser feito em 3 coletas distintas para evitar erros de coleta por
parte do paciente.

Teste da supressão com dexametasona em dose baixa. O paciente toma 1


mg de dexametasona às 23h e mede o cortisol plasmático às 8-9h da manhã do dia
seguinte, em jejum. Valores < 1,8 μg/dl (< 50 nmol/L) são “suprimidos” (normais),
enquanto valores > 1,8 μg/dl (> 50 nmol/L) são “não suprimidos” (anormais). A
finalidade da dexametasona é inibir a secreção de ACTH pela adeno-hipófise
(reduzindo assim o cortisol plasmático). Se o cortisol não se reduz, ou há
hipersecreção autônoma de ACTH (hipófise ou ectópica), não responsiva ao
feedback negativo com dose baixa de glicocorticoide, ou há hiperprodução
autônoma de cortisol pela adrenal.

Cortisol plasmático ou salivar noturno. Fisiologicamente, a secreção de cortisol


tem seu nadir (valor mais baixo) pouco antes da hora em que a maioria das pessoas
vai dormir (por volta de 23h). Nos portadores de Cushing endógeno, esse nadir
fisiológico noturno simplesmente não acontece! valores elevados (> 130 nmol/L)
podem ser usados para demonstrar a presença de hipercortisolismo, e valores
repetidamente baixos têm o poder de descartar síndrome de Cushing.

OBS.: Pelo menos dois dos três testes são necessários para confirmar
hipercortisolismo. Se dois testes estiverem discordantes, um terceiro deverá ser
feito.

2.3. DOENÇA DE CUSHING

Excluída a forma iatrogênica, a doença de Cushing passa a ser a principal


etiologia da Síndrome. Também conhecida como Adenoma Hipofisário
Hipersecretante de ACTH (Corticotropinoma), é uma neoplasia benigna e com
pequenas dimensões (microadenoma), com o tumor hipofisário medindo < 10mm de
diâmetro. Predomina no sexo feminino (8:1), surgindo entre 15 - 20 anos. A
progressão costuma ser lenta.

A hipersecreção de ACTH promove hiperplasia adrenal bilateral. Os


corticotrofos normais estão atrofiados na Doença de Cushing, pois são inibidos tanto
pelo hipercortisolismo como pela ausência de ACTH.

OBS.: Altas doses de corticóide exógeno podem inibir a produção de ACTH


pelos corticotropinomas. Informação relevante para o diagnóstico. O teste de Little 2
é diagnóstico para diferenciar o corticotropinoma de secreção ectópica de ACTH
(2mg de dexametasona VO, de 6/6h nas 48h antes da coleta do cortisol plasmático
matinal).

2.3.1. Tratamento

 Ressecção transesfenoidal do corticotropinoma: o resultado tende a ser menos


eficaz em macroadenomas e em pacientes pediátricos. Os sinais e sintomas da
síndrome melhoram num período de 2 - 12 meses. Complicações podem ser
pan-hipopituitarismo e diabetes insipidus central.

 Hemi-hipofisectomia: em indivíduos cujo o adenoma não pode ser localizado em


exames de imagem.

 Radioterapia: em pacientes com doença persistente, reicidiva pós-operatória ou


com risco cirúrgico proibitivo.

 Adrenelectomia bilateral: doença persistente pós-cirurgia e radioterapia. Risco


de desenvolver síndrome de Nelson.

3. HIPERPROLACTINEMIA

A hiperprolactinemia é a síndrome de hipersecreção de hormônios hipofisários


mais comum tanto em homens quanto em mulheres. Os adenomas hipofisários
secretores de PRL (prolactinomas) constituem a causa mais comum de níveis de
PRL > 200 μg/L.

3.1. Etiologia

 Hipersecreção Fisiológica:
 Gestação
 Lactação
 Estresse

 Dano da haste hipotálamo hipofisária:


 Tumores
 Granulomas
 Radiação
 Traumatismo

 Hipersecreção hipofisária:
 Prolactinoma
 Acromegalia

 Doença sistêmica:
 IRA
 Hipotireoidismo
 Cirrose
 Pseudociese

 Hipersecreção por fármacos

3.2. Manifestações Clínicas

 Em mulheres:

 Amenorreia, galactorreia e infertilidade são os sinais mais característicos.

 Se a hiperprolactinemia for persistente, densidade mineral óssea das


vértebras pode reduzir.

 A galactorreia pode ser bilateral ou unilateral e pode ser espontânea ou


apenas por compressão manual.

 Pode haver redução da líbido, aumento do peso e hirsutismo.

 Em homens:

 Há a diminuição da libido, infertilidade e perda visual pela compressão do


nervo óptico.

 A supressão das gonadotrofinas resulta em testosterona reduzida,


impotência e oligospermia.

 Se persistente, efeitos secundários de hipogonadismo serão mais evidentes,


como osteopenia, massa muscular reduzida e menor crescimento da barba.

3.3. Diagnóstico

De hiperprolactinemia idiopática é realizado pela exclusão de todas as causas


conhecidas de hiperprolactinemia em um quadro de hipófise normal na RM.
Os níveis basais matinais em jejum de PRL (<20 μg/L) devem ser dosados. Em
valores muito elevados (> 1000 μg/L), os resultados podem ser falsamente baixos; a
diluição da amostra é necessária para dosar os valores com exatidão.

O hipotireoidismo deve ser excluído dosando os níveis de TSH e T4.

3.4. Tratamento

Tem como meta normalizar os níveis de PRL, a fim de eliminar os efeitos


supressivos sobre a função gonadal, interromper a galactorreia e preservar a
densidade mineral óssea.

Os antagonistas dopaminérgicos são efetivos para a maioria das causas. Deve-


se cessar os medicamentos que causem hiperprolactinemia. Reverter a causa base
(ex: hipotireoidismo ou IRA) normalizam o caso.

A ressecção das lesões expansivas hipotalâmicas ou selares pode reverter o


quadro causado por compressão da haste. Nos pacientes com dano hipotalâmico
irreversível, não existe justificativa para tratamento. Em até 30% dos casos, o
quadro regride de maneira espontânea.

4. TSHomas

Adenomas hipofisários secretores de TSH (tireotropinomas [TSHomas]) são os


tumores hipofisários mais raros (cerca de 3%), e até recentemente havia cerca de
450 casos registrados na literatura. No entanto, sua incidência quase triplicou nas
últimas 3 décadas, possivelmente pelo desenvolvimento de ensaios mais sensíveis
para dosar o TSH e o aperfeiçoamento dos exames de imagem hipofisários. A
maioria são macroadenomas (cerca de 70%), muitos deles invasivos.

4.1. Manifestações clínicas

A maioria dos pacientes com TSHoma apresentam sinais e sintomas de


hipertireoidismo, perda de visão, defeitos do campo visual e/ou perda da função da
hipófise anterior que estão relacionados com a compressão do adenoma nas
estruturas anatômicas circundantes

TSHomas podem ser diagnosticados em qualquer idade não há nenhuma


incidência preferencial por sexo.
As características clínicas do hipertireoidismo são geralmente mais suaves do
que o esperado, provavelmente devido à duração longa da doença. Além disso,
vários pacientes não tratados com TSHoma foram descritos como clinicamente
eutireóideos.

A presença de bócio é frequente, mesmo nos pacientes com tireoidectomia


parcial anterior, uma vez que resíduos de tecido tireoidiano podem voltar a crescer
em consequência da hiperestimulação pelo TSH.

Alguns pacientes desenvolveram a doença de Graves após a cirurgia hipofisária


e outros apresentaram exoftalmia bilateral devido a tireoidite autoimune, enquanto
exoftalmia unilateral devido à invasão orbital pelo tumor da hipófise.

Disfunção do eixo gonadal não é rara, com distúrbios menstruais presentes em


1/3 dos casos relatados, principalmente nos adenomas mistos (TSH/PRL).

Hipogonadismo central, atraso da puberdade e diminuição da libido foram


também encontrados em alguns pacientes com TSHomas e/ou adenomas mistos
(TSH/FSH).

Hipopituitarismo parcial ou total foi observado em cerca de 1/4 dos casos,


cefaleia foi relatada em 20 a 25% dos pacientes, enquanto defeitos do campo visual
estão presentes em cerca de 50% dos casos.

4.2. Diagnóstico

Altas concentrações de hormônios tireoidianos livres (FT4 e FT3), na presença


de níveis de TSH detectáveis, são os achados mais característicos do
hipertireoidismo devido aos TSHomas. A dosagem de FT4 e FT3 é obrigatória.

O uso de ambos os testes, supressão do T3 e estímulo com TRH, sempre que


possível, é altamente recomendado, visto que a combinação de seus resultados
aumenta a sensibilidade e especificidade da avaliação diagnóstica.

4.3. Tratamento

A ressecção cirúrgica é a terapia recomendada para TSHomas, com o objetivo


de remover o tecido neoplásico e restaurar a função normal da hipófise/tireoide. No
entanto, a remoção radical dos grandes tumores, que ainda representam a maior
parte dos TSHomas, é particularmente difícil por causa da fibrose acentuada desses
tumores e da invasão local do seio cavernoso;

Em caso de falha cirúrgica e na presença de hipertireoidismo com risco à vida, a


tireoidectomia total ou ablação da tireoide com iodo radioativo é indicada.

Tratamento medicamentoso dos TSHomas repousa sobre os SA de longa


duração, como octreotida ou lanreotida, possibilita redução da secreção de TSH em
quase todos os casos, com a restauração do estado eutireóideo na maioria deles,
sendo seguro mesmo durante a gravidez.

Efeitos colaterais indesejáveis, tais como colelitíase e intolerância a


carboidratos, que podem surgir.

5. PUBERDADE PRECOCE

A puberdade precoce (PP) é definida pelo aparecimento dos caracteres sexuais


secundários antes dos 8 anos nas meninas (um critério adicional é menarca antes
dos 9 anos) e antes dos 9 anos nos meninos.

5.1. Classificação

 Puberdade Precoce Central (PPC) ou Puberdade Precoce Dependente de


Gonadotrofinas (PPDG): o desenvolvimento das características é dependente da
ativação prematura do eixo gonadotrófico. É sempre isossexual.

 Puberdade Precoce Periféirca (PPP) ou Puberdade Precoce Independente de


Gonadotrofinas (PPIG): resulta da produção autônoma de esteroides sexuais.

 Isossexual: características secuais concordantes com o sexo.

 Heterossexual: Características sexuais discordantes do sexo.

5.2. Avaliação clínica

5.2.1. ANAMNESE

Questionar quando iniciaram os caracteres sexuais, ordem de aparecimento,


velocidade de progressão, uso de medicamentos ou cremes que contenham
esteroides sexuais, histórico de traumatismo cranioencefálico (TCE), infecções,
doenças ou inflamações de sistema nervoso central (SNC), convulsões, sinais ou
sintomas neurológicos, cirurgia ou radioterapia de SNC e antecedente de puberdade
precoce em familiares.

5.2.2. EXAME FÍSICO

Estadiamento de Tanner, tamanho e consistência testicular, pele da bolsa


escrotal, comprimento e Z-score do pênis, pilificação pubiana, mamas, peso, altura,
idade estatural, gráfico de crescimento, VC, acne, oleosidade de pele e cabelo, odor
e pelos axilares, desenvolvimento muscular, palpação abdominal (avaliar a presença
de massas em abdome ou pelve), lesões cutâneas com manchas café com leite
sugestivas de McCune Albright (MCA), neurofibromas etc.

5.2.3. AVALIAÇÃO LABORATORIAL

 Menina com PPDG: estrógeno variante. Menino com PPDG: testosterona >
14ng/dL (nunca baixo). LH basal pode ser púbere. > 0,6 U/L (IFMA) ou > 0,2 U/L
(ICMA). FSH com valores baixos ou suprimidos indicam PPIG.

 Se LH basal < 0,6 U/L (IFMA) ou < 0,2 U/L (ICMA), deve-se pedir o teste de
estímulo com GnRH:

 GnRH 100 μg IV - LH > 0,6 U/L O pico de LH > 6,9 UI/ l (IFMA) em meninas
ou > 9,6 UI/ l (IFMA) em meninos ou > 5 UI/l (ICMA) em ambos os sexos,
confirma ativação do eixo hipotálamo- hipófise-gonadal (HHG), sugerindo
puberdade precoce central ou dependente de gonadotrofinas.

 Pacientes com PPIG apresentam valores de LH e FSH baixos, mesmo nos


testes de estímulo.

 Hormônio tireoestimulante (TSH), tiroxina (T4) livre: hipotireoidismo grave com


TSH muito elevado pode estimular o receptor de FSH pela similaridade entre
esses hormônios (todos têm a mesma subunidade alfa), causando uma PPIG
(LH e FSH suprimidos) com gônadas aumentadas, conhecida como síndrome de
Van Wyk e Grumbach.
 Gonadotrofina coriônica humana (hCG): tumores produtores de hCG podem
estimular o receptor de FSH pelo mesmo mimetismo molecular descrito
anteriormente para o TSH, causando PPIG com gônadas aumentadas.

5.2.4. EXAMES DE IMAGEM

 Radiografia de mãos e punhos da mão não dominante para idade óssea

 Ultrassonografia (USG) pélvica: avaliar dimensões ovarianas e uterinas,


presença de cistos, neoplasias e espessamento endometrial.

 Ressonância magnética (RM) de região hipotálamo-hipofisária: idealmente, deve


ser feita em todas as crianças com diagnóstico de puberdade precoce central
para excluir causas centrais, principalmente nos meninos, onde 50% apresentam
causas orgânicas.

5.3. Variantes

5.3.1. TELARCA PRECOCE ISOLADA

Consiste no aumento uni ou bilateral das mamas em idade inferior a 8 anos,


isolado, não acompanhado de aumento de VC, pubarca, menarca, avanço de idade
óssea ou qualquer outro sinal de puberdade verdadeira. É a forma mais comum de
precocidade sexual. É benigna, autolimitada, tem ótimo prognóstico, não
compromete a estatura final e nem a idade da menarca. Muitas vezes, as mamas
podem regredir espontaneamente e voltar a crescer só na fase puberal, ou
permanecem estáveis até a puberdade, quando então se desenvolvem
completamente. A fisiopatologia ainda não está esclarecida.

5.3.2. PUBARCA PRECOCE ISOLADA

Consiste no aparecimento de pelos pubianos e/ou axilares antes dos 8 anos nas
meninas ou 9 anos nos meninos. O termo adrenarca precoce é utilizado para definir
a elevação precoce dos andrógenos adrenais, resultando na pubarca precoce. Pode
estar associado a alguns outros sinais de elevação de andrógenos, como acne,
oleosidade da pele, odor axilar e odor corporal.
Pode ocorrer aumento da velocidade de crescimento e de avanço de IO em até
2 anos, mas sem progressão de outros sinais da puberdade. Pode ou não afetar um
pouco a estatura final.

5.3.3. SANGRAMENTO VAGINAL PRÉ-PUBERAL ISOLADO

Caracteriza-se por sangramento vaginal em meninas menores de 9 anos, sem


caráter cíclico, sem outros sinais puberais, sem aumento de VC, sem telarca, sem
pubarca, sem avanço de IO e sem anormalidades genitais. O sangramento vaginal
pré-puberal isolado pode ser decorrente de causas hormonais, como cistos
ovarianos autônomos, ou de causas não hormonais, e nesses casos é sempre
necessário excluir manipulação genital e abuso sexual.

5.4. Tratamento

O tratamento de primeira linha da puberdade precoce central é com os


agonistas de GnRH (aGnRH), que agem nos receptores hipofisários de GnRH.
Esses agonistas competem com o GnRH endógeno e, inicialmente, ao se ligarem
nos receptores, ativam sua sinalização, promovendo a secreção de LH e FSH. A alta
afinidade e a meia vida longa dos aGnRH resultam em dessensibilização dos
receptores comdown-regulation dos mesmos. Esses efeitos resultam em supressão
do eixo HHG. Desse modo, ocorre a inibição da secreção de LH e FSH, bem como
dos esteroides sexuais.

Clinicamente, ocorre regressão ou estabilização dos caracteres sexuais


secundários, queda da VC para valores pré-púberes (< 6 cm/ano) e redução da
velocidade de maturação esquelética.

REFERÊNCIAS

VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. In: Endocrinologia clínica.


2006.

KASPER, Dennis L. HARRISON MANUAL DE MEDICINA INTERNA 19?? ED. 2016.


SALES, Patrícia; HALPERN, Alfredo; CERCATO, Cintia. O essencial em
endocrinologia. Grupo Gen-Editora Roca Ltda., 2016.

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