Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA
Que tipo de órgão é a hipófise?
Meta da aula
Caracterizar a hipófise, seus mecanismos de regulação
e seus hormônios.
objetivos
Pré-requisitos
Reveja a aula Organização geral do sistema nervoso (Corpo Humano I, Aula 6),
para relembrar localização e relações do hipotálamo.
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
314 CEDERJ
Pode parecer estranho que dois tecidos com características tão
20
diferentes estejam juntos, colados um ao outro, revestidos por uma
AULA
cápsula única de tecido conjuntivo e suspensos pela haste hipofisária
na cavidade óssea. Mas não, isto tudo tem um significado funcional
muito importante. Como veremos mais adiante, toda a secreção dos
hormônios adeno-hipofisários é controlada pelo hipotálamo. O fato de
a adeno-hipófise estar colada à neuro-hipófise, e de ambas estarem em
contato com o hipotálamo, faz com que este controle seja facilmente
exercido. Você irá compreender melhor este processo quando visualizar
o tipo particular de vascularização sangüínea que existe nesta glândula:
SISTEMA PORTA
o SISTEMA PORTA hipotálamo-hipofisário.
É um tipo de
A Figura 20.2 esquematiza o eixo hipotálamo-hipófise e suas vascularização em
que se forma uma
relações, incluindo o sistema vascular porta. rede de capilares
interposta no
mesmo tipo de vaso
de sangüíneo, uma
artéria ou uma veia.
3o Ventrículo Podemos ter, então,
em vez de artéria-
capilar-veia, artéria-
capilar-artéria-
b Hipotálamo capilar-veia (sistema
c porta arterial) ou
b artéria-capilar-veia-
a capilar-veia (sistema
porta venoso).
Artéria hipofisária
superior
Vasos porta
Haste
longos
Adeno-hipófise
Neuro-
h
hipófise
i
j
Veia f
hipofisária
Veia
hipofisária
Vasos porta
curtos
Artéria hipofisária
inferior
CEDERJ 315
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
Que têm tropismo A segunda capilarização dos vasos porta (curtos e longos, Figura 20.2.i)
pela hipófise; ocorre na adeno-hipófise e é responsável por 70-80% da sua irrigação.
hormônios que
interagem com células Assim, o sangue que irriga as células adeno-hipofisárias é rico em hormônios
adeno-hipofisárias e
estimulam ou inibem HIPOFISIOTRÓPICOS que vão estimular (ou inibir) a secreção dessas células.
(mais raramente) a
Os hormônios hipofisários secretados em resposta a esses estímulos serão,
sua secreção. Vários
destes hormônios são como na neuro-hipófise, coletados por capilares (Figura 20.2.j) que darão
também produzidos
em outros locais, origem às veias eferentes, que irão para a circulação geral.
como cérebro,
células do sistema
gastrointestinal,
placenta etc.
316 CEDERJ
Como esquematizado na Figura 20.2.e, os neurônios peptidérgicos,
20
responsáveis pela produção dos hormônios hipotalâmicos, podem ter
AULA
sua atividade modificada por outros neurônios, peptidérgicos ou não,
que, por sua vez, podem transferir mensagens de centros superiores do
sistema nervoso central aos núcleos hipotalâmicos.
!
Você pode visualizar a localização do hipotálamo na
representação esquemática encontrada em http://
www.indiana.edu/~p1013447/dictionary/hypothal.htm
CEDERJ 317
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
Quando você estudou o sistema urinário, você viu com mais detalhes os
mecanismos renais de formação da urina e outros aspectos importantes da
fisiologia renal. Por ora, relembremos apenas alguns conceitos gerais.
A unidade funcional do rim é o néfron, cuja representação esquemática
você pode ver na Figura 20.3. O néfron é formado por um glomérulo
renal pelo qual o sangue é filtrado, conectado a uma parte tubular na
qual ocorre o processamento do fluido filtrado, que resultará na urina.
O filtrado glomerular tem praticamente a mesma composição que o plasma,
mas sem suas proteínas. No túbulo proximal do néfron, grande parte do
filtrado glomerular é reabsorvido, o que é de fundamental importância
318 CEDERJ
20
para conservar substâncias importantes ao organismo, como a glicose.
No restante do néfron, há reabsorção ou secreção seletiva de solutos e
AULA
a permeabilidade à água é variável. A parte final do néfron, o túbulo
coletor, pode ou não ser permeável à água, dependendo da presença ou
não de ADH. Em presença de ADH, há reabsorção de água livre de solutos
à medida que essa porção do néfron se aprofunda na medula renal e fica
exposta a um gradiente osmótico crescente.
No site http://geocities.yahoo.com.br/fisiologia_renal/Paginas/nefron.html
você pode ter uma idéia gráfica mais detalhada do néfron.
Aparelho justa-glomerular
Glomérulo
Túbulo distal
Túbúlo proximal
Tubos coletores
CEDERJ 319
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
Você sabia?
Nem todo diabete é devido à falta do efeito da insulina. Aliás, consta que diabete vem do latim,
significando sifão ou correr através de, porque os indivíduos diabéticos urinam muito e bebem muita
água. No diabetes mellitus (sacarino ou doce), o aumento da diurese é devido ao excesso de glicose
sangüínea que não consegue ser reabsorvida na porção proximal do néfron e, assim, aumenta a
osmolaridade do fluido tubular e diminui a quantidade de água livre que pode ser reabsorvida nos
túbulos coletores. Já no diabetes insipidus (sem gosto), o aumento da diurese reflete a falta de ação do
ADH nos túbulos coletores e a sua conseqüente incapacidade de aumentar a permeabilidade à água
livre que, portanto, não pode ser reabsorvida eficientemente nesta parte final do néfron.
No diabetes insipidus não tratado, desde que haja livre acesso à água, não ocorre o grande desgaste do
organismo que há no diabetes mellitus não tratado, quando falta o efeito da insulina. Você verá mais a
respeito dos efeitos da insulina na aula em que enfocarmos metabolismo energético e de nutrientes.
a
20
A liberação de ADH é principalmente regulada
ADH plasmático
10
especializadas, denominadas osmorreceptores, localizadas
em regiões bem vascularizadas do sistema nervoso central.
0
285 295 305 315 O aumento da osmolaridade plasmática leva à perda da água
Osmolalidade plasmática
(mOsm/Kg)
intracelular destas células que estimulam a liberação de ADH
b pelos neurônios dos núcleos supra-óptico e paraventricular.
<< V.P. < V.P.
40 Variações da osmolaridade tão pequenas quanto 1% já são
ADH plasmático (pg/ml)
20
primariamente, em função da osmolaridade plasmática, como você pode
AULA
ver na Figura 20.4.a. Entretanto, a intensidade dessa variação pode ser
modulada, para mais ou para menos, em função de uma diminuição ou
de um aumento, respectivamente, do volume circulante (Figura 20.4.b),
percebido pelos barorreceptores centrais . Em condições de grande
diminuição do volume circulante (por hemorragia ou desidratação, por
exemplo), que se reflete em queda importante da pressão arterial (sistólica
e diastólica), a liberação de ADH aumenta, mesmo se não houver variação
da osmolaridade plasmática (Figura 20.4.c).
ATIVIDADE
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Este animal urinará mais e beberá muito mais água que o normal. A grande
quantidade de urina eliminada será menos concentrada que nos animais
íntegros, pois só haverá aumento da perda de água livre de solutos. Esta
perda pode ser compensada se o animal tiver livre acesso à água para
beber, porque o efeito renal do ADH se concentra nos tubos coletores,
aos quais o filtrado chega depois de ter passado por quase todo néfron
onde já foram reabsorvidos íons, glicose e outras substâncias que não
devem ser eliminadas.
Você deve se lembrar de que a ativação da proteína Gs, pela ligação do
receptor V2 ao ADH, produz o aumento do AMPc e fosforilação de proteínas,
o que resulta na inserção de canais de água (aquaporinas) na membrana
luminal da célula tubular.
CEDERJ 321
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
OXITOCINA
!
Você sabia?
A oxitocina pode funcionar, também, como neurotransmissor ou
neuromodulador no sistema nervoso central, regulando funções ligadas à
alimentação ou à reprodução. Além disso, parece que a oxitocina liberada
durante o coito pode estimular o transporte de espermatozóides, não
só nos túbulos seminíferos mas, também, facilitar sua migração pelo
útero e trompas.
322 CEDERJ
HIPÓFISE: A GLÂNDULA-MAESTRO?
20
AULA
A adeno-hipófise constitui a maior porção da hipófise e se
organiza tipicamente como um verdadeiro tecido endócrino: possui
grande variedade de células secretoras em íntima associação com uma
ampla rede de capilares sinusóides. É claro que esta associação se faz
de maneira que os hormônios liberados pelas células podem facilmente
cair na corrente sangüínea e, assim, ser distribuídos rapidamente aos
seus alvos.
Vários hormônios são secretados pela adeno-hipófise, o que
significa que nela devemos encontrar vários tipos celulares. E é verdade!
Aliás, no exame a fresco, a cor mais escura que se observa nesta porção
da hipófise é exatamente devida ao grande número de células secretoras e
de capilares reunidos (observe na Figura 20.1). E isto se reflete também na
sua organização histológica: a microscopia óptica revela maior densidade
de células na adeno-hipófise que na neuro-hipófise.
As células adeno-hipofisárias têm localização e morfologia
bastante variadas. Todos os hormônios produzidos na adeno-hipófise
são de natureza protéica, o que nos indica que todas as células secretoras
devem conter organelas citoplasmáticas semelhantes. Entretanto, existe
grande variabilidade na Capilar
quantidade, disposição Célula
Acidófila
e morfologia destas
Célula
Célula
estruturas nos diferentes Basófila Células
Cromófoba
Basófilas
tipos de células adeno- Membrana
Basal
hipofisárias. Nas colora-
ções de rotina, elas se
apresentam como grupos
de células acidófilas,
Membrana
basófilas e cromófobas, Basal Células
como você pode ver na Acidófilas
Figura 20.5.
Capilar
CEDERJ 323
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
!
Célula acidófila é aquela que se cora predominantemente com um corante ácido, por
exemplo, a eosina (rosa ou vermelho); a basófila se cora com corante básico, por exemplo,
a hematoxilina (roxo ou azul escuro). A associação entre estes dois corantes é a coloração
mais comum utilizada em histologia, conhecida pela sigla HE. Como o citoplasma contém
estruturas mais básicas, atrai o corante ácido e se cora pela eosina; já o núcleo, como é mais
ácido, atrai o corante básico e se cora pela hematoxilina. Células que se coram desta maneira
são chamadas cromófilas; as que não atraem corantes ácidos nem básicos são denominadas
cromófobas.
ATIVIDADE
324 CEDERJ
20
____________________________________________________________
____________________________________________________________
AULA
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Este achado pode significar que as células acidófilas estão sendo bastante
estimuladas. Como o hormônio do crescimento e a prolactina são secretados
por células acidófilas, podemos supor que estes hormônios estejam sendo
secretados em grande quantidade. Por exemplo: durante a gravidez, há
aumento do número de lactotrofos (por efeito dos estrogênios da placenta)
e a secreção de prolactina (hormônio que estimula a produção de leite) vai
aumentando gradativamente. A glândula se torna quase que completamente
acidófila, devido ao acúmulo deste tipo celular. As observações histológicas
são importantes, pois permitem caracterizar o estado funcional da glândula,
ou de uma parte dela, em caso de tumores hipofisários.
ADENO-HIPÓFISE ALVO
Tipo de célula Trofina Glândula Hormônios estimulados
Hormônio tireotrófico, hormônio estimulante
Tireotrofo Tireóide Tiroxina, triiodotironina
da tireóide (TSH)
Hormônio folículo-estimulante Ovário Estradiol, progesterona, inibina
Gonadotrofo(s)
(FSH).Hormônio luteinizante (LH) Testículo testosterona, activina
1
– Soma = corpo, refere-se a todo o organismo, o GH não parece ter um alvo preferencial.
2
– A PL também não tem apenas um alvo. Além de agir na mama, ela parece ter diversos efeitos estimulantes
no sistema imune (proliferação de linfócitos, aumento de produção de anticorpos, entre outros).
CEDERJ 325
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
Células neuro-
secretoras (neurônios
peptidérgicos
Hipotálamo
Transporte dos
hormônios em axônios
Estímulo ou
enibição da
secreção dos
hormônios
adeno-
hipofisários
Transporte dos
Células secretoras hormônios pelo sangue
de hormônios (circulação geral)
Ação/efeito nos
tecidos do organismo
326 CEDERJ
também explicava por que o corte da haste hipofisária – que une a
20
hipófise ao hipotálamo – resulta em perda da função de várias glândulas
AULA
endócrinas, o que já era conhecido há mais tempo. No entanto, foi apenas
nas décadas de 1950-1970 que os trabalhos dos grupos de Roger Guillemin
e de Andrew V. Schally, trabalhando em competição, comprovaram a
hipótese de Harris, isolando, caracterizando e, depois, sintetizando o
hormônio liberador de TSH (TRH: thyrotrophin releasing hormone)
e o hormônio liberador de LH (LHRH: luteinising hormone releasing
hormone). Este último foi depois denominado GnRH (gonadotrophin
releasing hormone, hormônio liberador de gonadotrofinas), quando se
verificou que estimulava tanto a liberação de LH quanto a de FSH.
Os demais hormônios hipotalâmicos hipofisiotrópicos foram isolados,
caracterizados e sintetizados no decorrer dos anos seguintes.
!
Um pouco da história recente
Neurotransmissores
Hipotálamo
Hormônios
hipofisiotrópicos Homônios de
glândula-alvo
Adeno-
hipófise
Trofinas
G.
alvo
CEDERJ 327
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
328 CEDERJ
deste prato ou aumentando o conteúdo do outro. Se o fiel da balança
20
for a concentração circulante ideal de um hormônio, contra a qual a
AULA
concentração real é aferida, uma variação para mais ou para menos dessa
concentração vai desencadear mecanismos que bloqueiam ou estimulam
a liberação desse hormônio, respectivamente. Se o hormônio em questão
é o da glândula-alvo, seu aumento vai levar à diminuição da secreção
da respectiva trofina (o que resulta em menor estímulo à secreção dessa
glândula-alvo) e, se houver diminuição do hormônio da glândula-alvo,
ocorre aumento da secreção da trofina e, em conseqüência, aumento da
secreção da glândula-alvo. A balança se reequilibrou!
Outro exemplo relativamente simples existe em praticamente
todas as casas: a geladeira! Você não sabe direito como ela funciona?
Não há problema, pois eu também não; mas sei que existe um sistema
de resfriamento que é ligado quando um sensor (o termostato) detecta
temperatura acima do limite que foi estabelecido. Em função da atividade
desse sistema de resfriamento, a temperatura no interior da geladeira vai
diminuindo e, quando atinge o limite inferior estabelecido, o sistema de
resfriamento pára.
ATIVIDADE
__________________________________________________________
__________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 329
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
330 CEDERJ
Tabela 20.2: Efetores dos mecanismos de retroalimentação no sistema endócrino
20
H. hipofisiotrópicos Produtos das células-alvo
AULA
Trofina Alvos
Estimulador/Inibidor inibidores das trofinas
Mama, Sistema
? Dopamina * PL Citocinas (?)
imune
CONCLUSÃO
CEDERJ 331
Corpo Humano II | Que tipo de órgão é a hipófise?
ATIVIDADE FINAL
RESPOSTA COMENTADA
332 CEDERJ
20
RESUMO
AULA
A hipófise é composta por dois tipos de tecidos.
A neuro-hipófise é formada pelos terminais axonais de neurônios peptidérgicos,
localizados nos núcleos supra-óptico e paraventricular do hipotálamo.
A despolarização destes neurônios libera, para a circulação, o hormônio
antidiurético (ou vasopressina) e a oxitocina. O principal efeito do hormônio
antidiurético é tornar os tubos coletores renais permeáveis à água, permitindo sua
difusão para o meio extracelular hiperosmótico e diminuindo o volume da urina.
A liberação do hormônio antidiurético é estimulada por aumento da osmolaridade
plasmática e diminuição do volume circulante ou da pressão arterial. A oxitocina
estimula a contração da musculatura uterina, auxiliando a expulsão do feto e da
placenta durante o trabalho de parto; estimula, também, a contração das células
mioepiteliais que envolvem os alvéolos mamários, permitindo a ejeção do leite
durante a amamentação.
A adeno-hipófise é constituída por diferentes tipos de células glandulares
(acidófilas, basófilas e cromófobas), responsáveis pela produção de trofinas
– hormônios que estimulam a atividade de outras glândulas endócrinas: as
glândulas-alvo. As células adeno-hipofisárias estão sujeitas a um duplo controle:
são estimuladas por neuro-hormônios hipotalâmicos (hormônios hipofisiotrópicos)
e inibidas pelos hormônios de suas glândulas-alvo. O hormônio de crescimento e a
prolactina não têm glândulas-alvo específicas, e seus efeitos são mais generalizados.
A prolactina é o único hormônio adeno-hipofisário cujo controle hipotalâmico é
predominantemente negativo.
SITES RECOMENDADOS
O NÉFRON. <http://geocities.yahoo.com.br/fisiologia_renal/Paginas/nefron.html>.
Acesso em: 23 maio 2005.
CEDERJ 333