Você está na página 1de 106

Concepção e formação

do ser humano

Rafaela Amaral - FPME - 3°P


@resumeairafa
Sumário
LMF
1- Anatomia do eixo hipotálamo-hipofisário
2- Anatomia do sistema reprodutor feminino
3- Bacia obstétrica e ossos da pelve

Tutoria
1 - Puberdade / Ciclo menstrual
2 - Fecundação até nidação / Hiperêmese gravídica/ Idade
gestacional
3 - Desenvolvimento embrionário até 4 semanas / Diabetes
gestacional
4 - Desenvolvimento até 8 semanas / Abortamento /
Eritroblastose fetal
5 - Desenvolvimento até 12 semanas / Pré-natal
6 - Desenvolvimento até 16 semanas / Infecções congênitas /
Riscos
7- Maturidade fetal / Edema materno / Crescimento
intrauterino
8 - Gestação gemelar / Crises hipertensiva na gravidez
9 - Hipotireoidismo na gestação

Rafaela Amaral - FPME - 3°P


@resumeairafa
Rafaela Amaral Eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal Medicina-FPME-3°P

O hipotálamo é parte do diencéfalo e se dispõe nas


paredes do III ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico,
que o separa do tálamo. O diencéfalo é formado pelo
epitálamo, pelo tálamo e pelo hipotálamo e forma o
núcleo central do encéfalo. Lateralmente é limitado pelo
subtálamo, anteriormente pela lâmina terminal e
posteriormente pelo mesencéfalo. Apresenta também
algumas formações anatômicas visíveis na face inferior
do cérebro: o quiasma óptico, o túber cinéreo, o
infundíbulo e os corpos mamilares.
O hipotálamo atua em diversas situações externas, como
regulação da temperatura, sede, apetite, ciclo
circadianos (sono e vigília), controle das emoções e
atividade sexual. - faz parte do sistema nervoso, e a
hipófise do sistema endócrino.
As células no hipotálamo sintetizam, pelo menos, nove
hormônios diferentes e a hipófise secreta sete. Juntos,
esses hormônios desempenham funções importantes na
regulação de praticamente todos os aspectos do
crescimento, desenvolvimento, metabolismo e
homeostasia.
O hipotálamo secreta hormônios liberadores (-RH) e
O hipotálamo é constituído fundamentalmente de hormônios inibidores (-IH) que agem nas células
substância cinzenta que se agrupa em núcleos, às vezes de endócrinas da adeno-hipófise influenciando a secreção de
difícil individualização. Percorrendo o hipotálamo, seus hormônios.
existem, ainda, sistemas variados de fibras, alguns muito
conspícuos, como o fómix. Este percorre de cima para
baixo cada metade do hipotálamo, terminando no
respectivo corpo mamilar. O fómix permite dividir o
hipotálamo em uma área medial e outra lateral. A área
medial do hipotálamo, situada entre o fómix e as paredes
do III ventrículo, é rica em substância cinzenta e nela se
localizam os principais núcleos do hipotálamo. A área
lateral, situada lateralmente ao fórnix, contém menos
corpos de neurônios e nela há predominância de fibras de
direção longitudinal.
A área lateral do hipotálamo é percorrida pelo feixe
prosencefálico medial, complexo sistema de fibras que
estabelecem conexões nos dois sentidos, entre a área
septal, pertencente ao sistema límbico, e a formação
reticular do mesencéfalo. Muitas dessas fibras terminam
no hipotálamo. O hipotálamo pode ainda ser dividido por
três planos frontais em hipotálamo supraóptico, tuberal
e mamilar. O hipotálamo supraóptico compreende o
quiasma óptico e toda a área situada acima dele, nas
paredes do III ventrículo até o sulco hipotalâmico. O
hipotálamo tuberal compreende o túber cinéreo (ao
qual se liga o infundíbulo) e toda a área situada acima A hipófise, também chamada pituitária, é uma glândula
dele, nas paredes do III ventrículo até o sulco pequena — em torno de 1 centímetro de diâmetro e peso
hipotalâmico. O hipotálamo mamilar compreende os de 0,5 até 1 grama — situada na sella túrcica, cavidade
corpos mamilares com seus núcleos e as áreas das óssea no esfenoide (fossa hipofisial) localizada na base
paredes do III ventrículo, que se encontram acima deles, do cérebro e que se liga ao hipotálamo pelo pedúnculo
até o sulco hipotalâmico. hipofisário/ pedículo infundíbulo e é revestida por uma
cápsula de tecido conjuntivo contínua. Fisiologicamente,
a hipófise é divisível em duas porções distintas: a hipófise
anterior, conhecida como adeno-hipófise, e a hipófise
posterior, também conhecida como neurohipófise. Entre
essas duas partes, há uma pequena zona, pars intermedia,
@resumeairafa
Rafaela Amaral Eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal Medicina-FPME-3°P
relativamente avascular, chamada parte intermediária,
que é pouco desenvolvida em humanos.

A origem da hipófise anterior do epitélio faríngeo explica


a natureza epitelioide de suas células, e a origem da
porção posterior da hipófise do tecido neural explica a
presença de grande número de células de tipo glial nessa

A pars distalis é responsável pela secreção de


hormônios que controlam outros órgãos endócrinos
importantes. O suprimento sanguíneo da hipófise é feito
por dois grupos de artérias originadas das artérias
carótidas internas: as artérias hipofisárias superiores,
direita e esquerda, irrigam a eminência mediana e o
infundíbulo; as artérias hipofisárias inferiores, direita
e esquerda, irrigam principalmente a neuro-hipófise,
A porção originada do ectoderma - a adeno-hipófise - mas enviam alguns ramos para o pedículo da hipófise. No
não tem conexão anatômica com o sistema nervoso. É infundíbulo as artérias hipofisárias superiores formam um
subdividida em três porções: a primeira e mais volumosa plexo capilar primário, cujas células endoteliais são
é a pars distalis ou lobo anterior; a segunda é a porção fenestradas. Os capilares do plexo primário se reúnem para
cranial que abraça o infundíbulo, denominada pars formar vênulas e pequenos vasos que se encaminham para
tuberalis; a terceira, denominada pars intermedia, a pars distalis, onde se ramificam novamente, formando
intermediária entre a neuro-hipófise e a pars distalis, um extenso plexo capilar secundário.
separada desta última pela fissura restante da cavidade Há, portanto, dois sistemas venosos em cascata, o que
da bolsa de Rathke. Ao conjunto de pars nervosa e pars caracteriza um sistema porta, denominado sistema
intermedia também se dá o nome de lobo posterior da portahipofisário. O suprimento sanguíneo da pars distalis
hipófise. é feito, portanto, de sangue vindo principalmente do
infundíbulo através do sistema porta-hipofisário e em
escala muito menor de alguns ramos das artérias
hipofisárias inferiores. Através desse sistema vascular
vários neuro-hormônios produzidos no hipotálamo são
levados diretamente do infundíbulo à pars distalis,
controlando a função de suas células. O sangue venoso
desse sistema sai por diversas veias hipofisárias.

Há no sistema hipotálamo-hipofisário pelo menos três


locais em que são produzidos diferentes grupos de
hormônios:
• Peptídios produzidos por agregados de neurônios
secretores situados no hipotálamo, nos núcleos
supraópticos e paraventriculares. Os hormônios
produzidos nos corpos celulares desses neurônios são
@resumeairafa
Rafaela Amaral Eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal Medicina-FPME-3°P
transportados ao longo dos seus axônios e acumulados Os principais hormônios liberadores e inibidores
nas terminações destes axônios, situadas na pars hipotalâmicos:
nervosa da neuro-hipófise. Quando estimulados, esses • Hormônio liberador de tireotropina (TRH), que
neurônios liberam a secreção que se difunde pelo meio provoca a liberação do hormônio estimulante da tireoide.
extracelular e entra em capilares sanguíneos da neuro- • Hormônio liberador de corticotropina (CRH), que
hipófise. Esses capilares originam vênulas e veias que provoca a liberação do hormônio adrenocorticotrópico.
acabam distribuindo os hormônios pelo corpo. 3. Hormônio liberador do hormônio do crescimento
• Peptídios produzidos por neurônios secretores dos (GHRH), que provoca a liberação do hormônio do
núcleos dorsomediano, dorsoventral e infundibular crescimento e do hormônio inibidor do hormônio do
do hipotálamo. Esses hormônios são levados ao longo crescimento (GHIH), também chamado somatostatina,
dos axônios até suas terminações na eminência mediana, que inibe a liberação do hormônio do crescimento.
onde são armazenados. Quando liberados os hormônios • Hormônio liberador da gonadotropina (GnRH), que
entram nos capilares que formam o plexo capilar leva à liberação de dois hormônios gonadotrópicos, o
primário na eminência mediana e são transportados para hormônio luteinizante (LH) e o hormônio
a pars distalis por vasos que comunicam o plexo capilar foliculoestimulante (FSH).
primário com o plexo secundário. Esses hormônios • PRH (Fator liberador de Prolactina)
controlam a secreção de hormônios da pars distalis • Hormônio inibidor da prolactina (PIH), que causa a
• Proteínas e glicoproteínas produzidas por células da inibição da secreção da prolactina.
pars distalis. Esses hormônios entram nos vasos que • Dopamina (inibitória- diminui a produção de prolactina)
formam o segundo trecho do sistema porta-hipofisário, o
• VASOPRESSINA (ADH)
plexo capilar secundário. Deste plexo são transportados
por veias e são distribuídos pela circulação sanguínea. • OCITOCINA

Por ordem

Quase toda a secreção hipofisária é controlada por sinais


hormonais e nervosos, vindos do hipotálamo. A secreção
da região anterior da hipófise é controlada por hormônios, Hormônios secretados pela hipófise
Em geral, existe apenas um tipo celular para cada
chamados hormônios liberadores e hormônios (ou
hormônio principal formado na hipófise anterior. Com
fatores) hipotalâmicos inibidores, secretados pelo corantes especiais, ligados a anticorpos de alta afinidade,
próprio hipotálamo e então levados, para a região anterior pelo menos cinco tipos celulares podem ser diferenciados.
da hipófise por minúsculos vasos sanguíneos chamados Somatotropos - hormônio do crescimento humano (hGH).
vasos portais hipotalâmicohipofisários. O sangue então Corticotropos - hormônio adrenocorticotrópico (ACTH).
flui pelos pequenos vasos sanguíneos portais Tireotropos - hormônio tireoestimulante (TSH).
hipotalâmico-hipofisários para os sinusoides da região Gonadotropos - hormônios gonadotrópicos, que
anterior da hipófise. Pequenas artérias penetram a compreendem o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio
eminência mediana, e, então, pequenos vasos adicionais foliculoestimulante (FSH).
retornam para sua superfície, unindo-se para formar os Lactotropos — prolactina (PRL).

vasos sanguíneos portais hipotalâmico-hipofisários.


@resumeairafa
Rafaela Amaral Eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal Medicina-FPME-3°P
A neuro-hipófise consiste na pars nervosa e no
infundíbulo. A pars nervosa, diferentemente da adeno-
hipófise, não contém células secretoras. Apresenta um tipo
específico de célula glial muito ramificada, chamada
pituícito. O componente mais importante da pars nervosa
é formado por cerca de 100 mil axônios não mielinizados
de neurônios secretores cujos corpos celulares estão
situados nos núcleos supraópticos e paraventriculares. Os
neurônios secretores têm todas as características de
neurônios típicos, inclusive a habilidade de liberar um
potencial de ação, mas têm corpos de Nissl muito
desenvolvidos relacionados com a produção de
neurossecreção. A neurossecreção (que pode ser
observada por colorações especiais como a hematoxilina
crômica de Gomori) é transportada ao longo dos axônios e
se acumula nas suas extremidades, situadas na pars
nervosa. Essa neurossecreção armazenada na pars nervosa
consiste em dois hormônios, ambos peptídios cíclicos
compostos de nove aminoácidos. Cada um desses
hormônios - a ocitocina e a vasopressina-arginina,
A adeno-hipófise é uma glândula endócrina muito também chamada hormônio antidiurético (ADH) - é
importante que secreta não um, mas seis hormônios unido a uma proteína chamada neurofisina.
fisiologicamente importantes: prolactina (PRL),
tireotrofina (TSH), adrenocorticotrofina (ACTH),
hormônio do crescimento (GH), hormônio folículo- -
estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH).
A pars distalis representa em tomo de 75% da massa da
hipófise. É formada por cordões e ilhas de células
epiteliais cuboides ou poligonais produtoras de
hormônios. Os hormônios produzidos pelas células
secretoras são armazenados em grânulos de secreção.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal Medicina-FPME-3°P
A vasopressina, ou hormônio antidiurético, é retroalimentação negativa de alça curta sobre a secreção
secretada quando a pressão osmótica do sangue aumenta. de CRH.
O estímulo de osmorreceptores situados no hipotálamo Em síntese:
anterior promove a secreção em neurônios do núcleo O feedback negativo é aquele no qual os hormônios
supraóptico. Seu efeito principal é aumentar a (finais) atuam, na hipófise e no hipotálamo, para reduzir a
permeabilidade dos túbulos coletores do rim à água. secreção, inibindo-a.
Como consequência, mais água sai do lúmen desses O Feedback positivo é aquele em que os hormônios
túbulos em direção ao tecido conjuntivo que os envolve, (finais) atuam, na hipófise e no hipotálamo, para aumentar
onde é coletada por vasos sanguíneos. Assim, a a secreção, estimulando-a.
vasopressina ajuda a regular o equilíbrio osmótico do
ambiente interno. Em doses altas, a vasopressina
promove a contração do músculo liso de vasos
sanguíneos (principalmente de artérias pequenas e
arteríolas), elevando a pressão sanguínea.
A vasopressina, ou hormônio antidiurético, é secretada
quando a pressão osmótica do sangue aumenta. O
estímulo de osmorreceptores situados no hipotálamo
anterior promove a secreção em neurônios do núcleo
supraóptico. Seu efeito principal é aumentar a
permeabilidade dos túbulos coletores do rim à água.
Como consequência, mais água sai do lúmen desses
túbulos em direção ao tecido conjuntivo que os envolve,
onde é coletada por vasos sangtúneos. Assim, a
vasopressina ajuda a regular o equilibrio osmótico do
ambiente interno. Em doses altas, a vasopressina
promove a contração do músculo liso de vasos
sanguíneos (principalmente de artérias pequenas e
arteríolas), elevando a pressão sanguínea.

A retroalimentação nessas vias segue um padrão


diferente. Em vez de a resposta agir como um sinal de
retroalimentação negativa, os próprios hormônios são
o sinal de retroalimentação. Nos eixos hipotálamo-
adeno-hipófise, a forma dominante de
retroalimentação é a retroalimentação negativa de
alça longa, em que o hormônio secretado pela glândula
endócrina periférica “retroalimenta” a própria via
inibindo a secreção dos seus hormônios hipotalâmicos e
adeno-hipofisários. Em vias com dois ou três hormônios
em sequência, o hormônio seguinte na sequência
normalmente retroalimenta para suprimir o(s)
hormônio(os) que controla(m) a sua secreção. A grande
exceção à via de retroalimentação negativa de alça longa
são os hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona, Referências:
em que a retroalimentação é alternada entre positiva e JUNQUEIRA LC & CARNEIRO J. Histologia básica,
negativa. texto e atlas. Rio de Janeiro. 12ª edição, 2013.
Alguns hormônios da hipófise também exibem
retroalimentação negativa de alça curta e ultracurta. Em GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Guyton e Hall: tratado de
uma retroalimentação negativa de alça curta, o hormônio fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
da hipófise retroalimenta a via, diminuindo a secreção
hormonal pelo hipotálamo. A prolactina, o GH e o SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma
ACTH apresentam retroalimentação negativa de alça abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
curta.
Os hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal
(HPA) fornecem um bom exemplo de alças de
retroalimentação. O cortisol é secretado pelo córtex da
glândula suprarrenal e retroalimenta inibindo a
secreção do hormônio hipotalâmico liberador de
corticotrofina (CRH) e da adrenocorticotrofina
(ACTH) pela adeno-hipófise. O ACTH também exerce

@resumeairafa
Rafaela Amaral Sistema reprodutor feminino Medicina – 3°P

A pelve é ricamente irrigada por artérias, entre as quais


ocorrem múltiplas anastomoses, o que proporciona
significativa circulação colateral. Seis artérias principais
entram na pelve menor das mulheres: duas artérias
ilíacas internas, duas artérias ováricas, uma artéria
sacral mediana e uma artéria retal superior.
Aorta – Ilíaca comum direita e Ilíaca comum esquerda
– cada uma se divide em ilíaca interna
direita/esquerda e externa direita/esquerda.
A ilíaca externa passa por fora da bacia e vai para a
artéria femoral. A ilíaca interna gera os ramos
posterior e anterior. O ramo anterior dá origem a toda
a vascularização uterina.
A artéria própria do ovário, a gonadal, tem origem na
aorta, em sua parte abdominal. Ela se encontra com o
ramo da ilíaca interna – uterina - ao irrigar a parte
posterior do útero.

Embora as variações sejam comuns, a artéria ilíaca


interna geralmente termina na margem superior do
forame isquiático maior, dando origem às divisões
(troncos) anterior e posterior. Os ramos da divisão
anterior da artéria ilíaca interna são principalmente
viscerais (isto é, irrigam a bexiga urinária, o reto e os
órgãos genitais), mas também incluem ramos parietais
que seguem até a coxa e a nádega.
Artéria umbilical: Antes do nascimento, as artérias
umbilicais são a principal continuação das artérias
ilíacas internas. Elas seguem ao longo da parede lateral
da pelve, ascendem pela parede anterior da pelve,
chegam ao anel umbilical e atravessam-no até o cordão
umbilical. Quando o cordão umbilical é seccionado, as
partes distais desses vasos não funcionam mais e são
ocluídas distalmente aos ramos que seguem até a bexiga
urinária. As partes ocluídas formam cordões fibrosos
chamados ligamentos umbilicais medianos. Os
ligamentos elevam pregas de peritônio (as pregas
umbilicais medianas) na face profunda da parede anterior
do abdome.
Artéria vaginal: Não raro origina-se da parte inicial da
artéria uterina em vez de se originar diretamente da
divisão anterior. A artéria vaginal dá origem a vários
ramos para as faces anterior e posterior da vagina.
Artéria retal média: pode originar-se independentemente
na artéria ilíaca interna, ou pode ter uma origem comum
com a artéria vesical inferior ou a artéria pudenda
interna.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Sistema reprodutor feminino Medicina – 3°P

@resumeairafa
Rafaela Amaral Sistema reprodutor feminino Medicina – 3°P

@resumeairafa
Rafaela Amaral Bacia obstetrica/ Ossos da pelve Medicina – 3°P

Tipos de bacias obstétricas:

As bacias androide e ginecoide são as melhores para o


parto. Já a bacia platipeloide não tem passagem.
estreita do canal pélvico (a passagem através da abertura
A cavidade maior do disco interpúbico nas mulheres superior da pelve, pelve menor e abertura inferior da
aumenta de tamanho durante a gravidez. Essa mudança de pelve) através da qual a cabeça do feto precisa passar, mas
tamanho aumenta a circunferência da pelve menor e não é uma distância fixa. Durante um exame pélvico, se
contribui para aumentar a flexibilidade da sínfise púbica. os túberes isquiáticos estiverem suficientemente
Níveis aumentados de hormônios sexuais e o hormônio afastados para permitir a entrada de três dedos na
relaxina causam relaxamento dos ligamentos pélvicos vagina um ao lado do outro, o ângulo subpúbico é
durante a segunda metade da gravidez, permitindo considerado suficientemente largo para permitir a
maior movimento das articulações pélvicas. O passagem da cabeça de um feto médio a termo.
relaxamento das articulações sacroilíacas e da sínfise
púbica permite aumento de até 10 a 15% dos diâmetros
(principalmente transverso, inclusive a distância
interespinal; facilitando a passagem do feto através do
canal pélvico. O cóccix também pode se movimentar
posteriormente. O único diâmetro que não é afetado é o
diâmetro verdadeiro (obstétrico) entre o promontório da
base do sacro e a face posterossuperior da sínfise púbica

Em todos os cíngulos do membro inferior, as espinhas


isquiáticas estendem-se em direção uma à outra, e a
distância interespinal é normalmente a parte mais

@resumeairafa
Rafaela Amaral Bacia obstetrica/ Ossos da pelve Medicina – 3°P

Apresentação: é como o bebê se apresenta na hora de


nascer, podendo ser: cefálico, pélvico, podálico e
córnico.

Posição: é a relação ao lado esquerdo ou direito materno,


além da parte posterior.

Caracterizar a posição do bebê quanto as regiões da


pelve e a sutura.

Situação: bebê longitudinal ou transverso


Apresentações fletidas e defletidas

@resumeairafa
Rafaela Amaral Bacia obstetrica/ Ossos da pelve Medicina – 3°P

Tempos do mecanismo de parto


• Insinuação (encaixamento)
• Flexão
• Descida
• Rotação interna
• Deflexão e deprendimento cefálico
• Rotação externa
• Desprendimento da cintura escapular e restante
do corpo
Planos de De Lee
Os planos relacionam o posicionamento do ponto
mais baixo do polo cefálico fetal em relação
às espinhas isquiáticas maternas, configurando
a altura da apresentação do feto. Tomamos como
ponto zero o plano transversal das espinhas
isquiáticas, com os pontos máximos variando
geralmente entre -3 cm e +3 cm. Acima das espinhas,
utilizamos as numerações negativas com a distância
em centímetros. Abaixo delas, ou seja, quanto mais
próximo estamos do intróito vaginal, utilizamos as
numerações positivas.

@resumeairafa
os testículos e se unem, formando o epidídimo, um ducto
único que forma um cordão firmemente enovelado na
superfície da cápsula testicular. O epidídimo origina o
O trato genital masculino é constituído de testículos, vaso deferente, também conhecido como ducto deferente.
Esse ducto passa para dentro do abdome, onde
genitália interna (glândulas acessórias e ductos) e
genitália externa. A genitália externa consiste no pênis finalmente desemboca na uretra, a passagem da bexiga
e no escroto, uma estrutura em forma de saco que contém urinária para o meio externo.
os testículos. A uretra atua como uma via comum de Túbulos seminíferos: Os túbulos seminíferos são o local
passagem para o esperma e a urina, embora isso não de produção de espermatozoides e contêm dois tipos de
ocorra simultaneamente. A uretra está situada ao longo da células: espermatogônias, em diversos estágios de
parte ventral do eixo do pênis e é circundada por uma desenvolvimento de espermatozoides e as células de
coluna de tecido esponjoso, chamada de corpo Sertoli, que são células de suporte. O desenvolvimento
esponjoso. O corpo esponjoso e duas colunas de tecido, dos espermatócitos ocorre em colunas, da borda externa do
denominadas corpos cavernosos, constituem o tecido túbulo em direção ao lúmen. Entre cada coluna existe uma
erétil do pênis. única célula de Sertoli que se estende da borda externa até
A ponta do pênis é alargada em uma região chamada de o lúmen do túbulo. Circundando o lado de fora do túbulo
glande que, ao nascimento, é coberta por uma camada de existe uma lâmina basal que atua como uma barreira,
pele, chamada de prepúcio. O escroto é um saco externo impedindo que certas moléculas grandes do líquido
intersticial entrem no túbulo, mas permitindo que a
para dentro do qual os testículos migram durante o
testosterona entre facilmente.
desenvolvimento fetal. A sua localização externa à
cavidade abdominal é necessária, pois o desenvolvimento As células de Sertoli adjacentes de um túbulo são unidas
normal dos espermatozoides requer uma temperatura de 2 umas às outras por junções oclusivas que formam uma
a 3°C inferior à temperatura corporal. barreira adicional entre o lúmen do túbulo e o líquido
As glândulas acessórias masculinas incluem a glândula intersticial que fica do lado de fora da lâmina basal. Essas
prostática, as vesículas seminais e as glândulas junções oclusivas algumas vezes são chamadas de
bulbouretrais (glândula de Cowper). As glândulas barreira hematotesticular porque restringem o
bulbouretrais e as vesículas seminais liberam as suas movimento de moléculas entre compartimentos. A lâmina
secreções na uretra através de ductos. As glândulas basal e as junções oclusivas criam três compartimentos
individuais da próstata abrem-se diretamente no lúmen da funcionais. Devido às barreiras entre esses
uretra. A próstata é a glândula mais bem conhecida das compartimentos, o líquido luminal tem uma composição
três glândulas acessórias por seu significado clínico. diferente do líquido intersticial, com baixas concentrações
de glicose e altas concentrações de K+ e de hormônios
O desenvolvimento fetal da próstata, como o da genitália esteroides.
externa, está sob o controle da DHT, uma versão super
concentrada de testosterona e por isso, uma característica Células de Sertoli: A função das células de Sertoli é
do organismo masculino. A descoberta do papel da DHT regular o desenvolvimento dos espermatozoides, elas
no crescimento da próstata levou ao desenvolvimento da dão sustento, ou nutrição, às espermatogônias em
finasterida, um inibidor da enzima 5-redutase, que desenvolvimento. As células de Sertoli produzem e
bloqueia a produção de DHT. secretam proteínas que vão desde hormônios, como a
inibina e a ativina, a fatores de crescimento, enzimas e
Os testículos humanos são estruturas pares ovoides com
a proteína ligadora de androgênios (ABP). A ABP é
cerca de 5 cm por 2,5 cm. Os testículos possuem uma
secretada no lúmen dos túbulos seminíferos, onde se liga à
cápsula externa fibrosa resistente que envolve uma massa
testosterona.
de túbulos seminíferos enrolados, agrupados em cerca de
250 a 300 compartimentos. Entre os túbulos seminíferos Células intersticiais: (células de Leydig), localizadas no
existe um tecido intersticial, onde ficam os vasos tecido intersticial entre os túbulos seminíferos, secretam
sanguíneos e as células intersticiais de Leydig testosterona. Elas tornam-se ativas inicialmente no feto,
produtoras de testosterona. Os túbulos seminíferos quando a testosterona é necessária para determinar o
constituem aproximadamente 80% da massa testicular de desenvolvimento das características masculinas. Após
um homem adulto. o nascimento, as células tornam-se inativas. Na
puberdade, elas retomam a produção de testosterona.
Cada túbulo individual tem 0,3 a 1 metro de
As células intersticiais também convertem parte da
comprimento, e, se todos fossem esticados e colocados
testosterona em estradiol.
ponta a ponta, o comprimento total seria de cerca de dois
campos e meio de futebol. Os túbulos seminíferos deixam

@resumeairafa
@resumeairafa
A genitália externa feminina é conhecida como vulva
ou pudendo. Lateralmente, estão os lábios maiores do
pudendo, dobras de pele que se originam do mesmo
tecido embrionário que o escroto. Medial e internamente
aos lábios maiores, estão os lábios menores do pudendo,
derivados dos tecidos embrionários que, dão origem ao
corpo do pênis. O clitóris é uma pequena saliência de
tecido sensorial erétil, situado na extremidade anterior da
vulva, envolto pelos lábios menores e por uma dobra
adicional de tecido equivalente ao prepúcio do pênis.
As glândulas parauretrais de Skene, homólogas da
próstata masculina, têm seus orifícios externos
localizados lateroposteriormente ao meato uretral. As
glândulas vulvovaginais de Bartholin se localizam de O endométrio consiste em um epitélio com glândulas que
cada lado do introito vaginal, apresentando orifícios na
se aprofundam na camada de tecido conectivo situada
parte posterior do vestíbulo, entre os pequenos lábios e o
abaixo. A espessura e as características do endométrio
hímen. Correspondem às glândulas bulbouretrais no sexo
masculino e secretam muco, especialmente durante o variam durante o ciclo menstrual. As células do
ato sexual. revestimento epitelial alternadamente proliferam e
desprendem-se, acompanhadas de uma pequena
quantidade de sangramento no processo conhecido como
menstruação. Os espermatozoides nadam em direção
ascendente e deixam a cavidade do útero pelas
aberturas das duas tubas uterinas. As tubas uterinas têm
de 20 a 25 cm de comprimento, e um diâmetro aproximado
de um canudinho de refrigerante. O movimento de líquido
criado pelos cílios e ajudado pelas contrações musculares
Nas mulheres, a uretra abre-se para o ambiente externo transporta o ovócito ao longo das tubas uterinas até o
entre o clitóris e a vagina. Ao nascimento, a abertura útero. Se o espermatozoide se movendo para cima na
externa da vagina está parcialmente fechada por um anel tuba uterina encontra um ovócito, que se move para
fino de tecido, chamado de hímen. O hímen é externo à baixo na tuba uterina, a fertilização pode ocorrer. As
vagina, e não dentro dela, de modo que o uso normal de fímbrias são mantidas próximas ao ovário adjacente por
tampões durante a menstruação não rompe o hímen. tecido conectivo, o qual ajuda a assegurar que o ovócito
Para continuar pelo trato genital feminino, o liberado na superfície do ovário será capturado para
espermatozoide deve passar pela estreita abertura do colo dentro da tuba e não cairá na cavidade abdominal.
do útero (ou cérvice uterino), que se projeta
ligeiramente para dentro da extremidade superior da O ovário é uma estrutura elíptica, com cerca de 2 a 4 cm
vagina. O canal cervical é revestido com glândulas de comprimento. Ele possui uma camada externa de tecido
mucosas, cujas secreções criam uma barreira entre a conectivo e uma estrutura de tecido conectivo interior,
vagina e o útero. O espermatozoide que passa através do chamada de estroma. Grande parte do ovário é constituído
canal cervical entra no lúmen do útero, um órgão por um espesso córtex externo preenchido por folículos
muscular oco levemente menor que o tamanho de um
ovarianos em diversos estágios de desenvolvimento ou de
punho fechado da mulher. O útero é a estrutura onde o
ovócito fertilizado se implanta e se desenvolve durante a degradação. A pequena medula central contém nervos e
gestação. Ele é composto por três camadas de tecido: uma vasos sanguíneos. O ovário, assim como os testículos,
fina camada externa de tecido conectivo, uma camada produz gametas e hormônios.
intermédia espessa de músculo liso, denominada
miométrio, e uma camada interna, denominada
endométrio.

@resumeairafa
@resumeairafa
semelhante ao lisossomo, chamada de acrossomo, achata-
se para formar uma capa que cobre a ponta do núcleo. O
acrossomo contém enzimas essenciais à fertilização. As
mitocôndrias produzem energia para o movimento do
espermatozoide e se concentram na peça intermediária do
corpo do espermatozoide, junto com os microtúbulos que
Masculino - Produção de espermatozoides se estendem para dentro do flagelo.

Ao nascimento, os testículos de um menino recém-


nascido não progrediram além da mitose e contêm
somente células germinativas imaturas. Após o
nascimento, as gônadas tornam-se quiescentes
(relativamente inativas) até a puberdade, o período nos
primeiros anos da adolescência quando as gônadas
amadurecem. Na puberdade, a mitose das células
germinativas é retomada. As células germinativas,
conhecidas como espermatogônias, possuem dois
diferentes destinos. Algumas continuam a sofrer mitose O trato genital masculino possui três glândulas acessórias
ao longo de toda a vida reprodutiva do homem. Outras são – glândulas bulbouretrais, vesículas seminais e
destinadas a iniciar a meiose e dar origem aos próstata – cuja função primária é secretar diversos
espermatócitos primários. líquidos. Quando os espermatozoides saem do ducto
deferente durante a ejaculação, eles juntam-se a essas
Cada espermatócito primário dá origem a quatro secreções, resultando em uma mistura de líquido e
espermatozoides. Na primeira divisão meiótica, um espermatozoides, denominada sêmen. Cerca de 99% do
espermatócito primário (4n) divide-se em dois volume do sêmen é o líquido adicionado pelas glândulas
espermatócitos secundários (2n). Na segunda divisão acessórias.
meiótica, cada espermatócito secundário divide-se em
duas espermátides. Cada espermátide possui O sêmen fornece um meio líquido para o transporte dos
23 cromossomos simples (não duplicados), o número espermatozoides. As glândulas bulbouretrais contribuem
haploide (1n) característico de um gameta. As com muco para a lubrificação e tampões para neutralizar o
espermátides, então, amadurecem, formando meio geralmente ácido da vagina. As vesículas seminais
espermatozoides. contribuem com prostaglandinas, que parecem influenciar
a motilidade e o transporte dos espermatozoides tanto no
As espermatogônias, células germinativas que sofrem trato genital masculino quanto no feminino. A próstata e
divisão meiótica para dar origem ao espermatozoide, as vesículas seminais contribuem com nutrientes para o
são encontradas agrupadas próximo à extremidade metabolismo dos espermatozoides. Além de fornecer um
basal das células de Sertoli, no lado interno da lâmina meio de transporte para os espermatozoides, as secreções
basal dos túbulos seminíferos. Neste compartimento das glândulas acessórias ajudam a proteger o trato genital
basal, elas sofrem mitose para dar origem a células masculino de patógenos do meio externo que podem subir
germinativas adicionais. À medida que os espermatócitos pela uretra. As secreções lavam fisicamente a uretra e
se diferenciam em espermatozoides, eles movem-se em fornecem imunoglobulinas, lisozima e outros compostos
direção ao lúmen do túbulo seminífero, sendo com ação antibacteriana. Um componente interessante do
continuamente circundados pelas células de Sertoli. As sêmen é o zinco. O seu papel na reprodução ainda não está
junções oclusivas da barreira hematotesticular se rompem claro, mas concentrações de zinco abaixo de um certo
e se formam novamente ao redor das células que estão nível estão associadas à infertilidade masculina.
migrando, assegurando que a barreira permaneça intacta.
Quando os espermatócitos alcançam a extremidade Feminino – Produção de ovócitos
luminal das células de Sertoli, eles sofrem duas divisões No ovário embrionário, as células germinativas são
e se tornam espermátides. chamadas de ovogônias. A ovogônia completa a mitose e
As espermátides permanecem inseridas na membrana o estágio de duplicação do DNA da meiose no quinto mês
apical das células de Sertoli enquanto completam a sua de desenvolvimento fetal, dando origem aos ovócitos
transformação em espermatozoides, o que envolve a primários (4n). Ao nascimento, cada ovário contém cerca
perda de grande parte do seu citoplasma e o de meio milhão de ovócitos primários. As melhores
desenvolvimento de uma cauda flagelada. A cromatina evidências indicam que, neste momento, a mitose das
nuclear se condensa em uma estrutura densa que preenche células germinativas cessa e nenhum ovócito adicional
grande parte da cabeça, ao passo que uma vesícula pode ser formado. No ovário, a meiose não é retomada
até a puberdade.
@resumeairafa
Se um ovócito primário se desenvolve, ele divide-se em folículo, denominada antro. O líquido antral contém
duas células, um grande ovo (ovócito secundário) e um hormônios e enzimas necessários para a ovulação.
pequeno primeiro corpúsculo polar. Apesar da Neste ponto, o folículo torna-se um folículo terciário. A
diferença de tamanho, tanto o ovócito secundário como partir do pool de folículos terciários iniciais, somente
o corpúsculo polar contêm 23 cromossomos duplicados alguns folículos sobrevivem até alcançar os estágios finais
(2n). O primeiro corpúsculo polar degenera. Se o ovócito de crescimento, e geralmente um único folículo, chamado
secundário é selecionado para a ovulação, a segunda de folículo dominante, desenvolve-se-á até o momento
divisão meiótica ocorre imediatamente antes de o em que libera seu ovócito. O tempo necessário para o
ovócito ser liberado do ovário. As cromátides-irmãs crescimento de um folículo secundário até o folículo
separam-se, mas a meiose é interrompida mais uma vez. terciário dominante é estimado em cerca de três meses ou
A etapa final da meiose, na qual cada cromátide-irmã mais.
vai para células separadas, não ocorre se o ovócito
Nas mulheres, a menarca é um momento marcante da
não for fertilizado. Se o ovócito não for fertilizado, a
puberdade. As mulheres produzem gametas em ciclos
meiose nunca será completada, e o ovócito degenera. Se
mensais (em média de 28 dias, com variação normal de 24-
houver a fertilização por um espermatozoide, o passo
35 dias). Esses ciclos são comumente denominados ciclos
final da meiose ocorre. Metade das cromátides-irmãs
menstruais, uma vez que apresentam um período de 3 a 7
permanece no ovo fertilizado (zigoto), ao passo que a
dias de sangramento uterino, conhecido como
outra metade é liberada no segundo corpúsculo polar
menstruação. O ciclo menstrual pode ser descrito de
(1n). O segundo corpúsculo polar, assim como o
acordo com as mudanças que ocorrem nos folículos
primeiro, degenera. Como resultado da meiose, cada
ovarianos, o ciclo ovariano, ou pelas mudanças que
ovócito primário dá origem a somente um ovo.
ocorrem no revestimento endometrial do útero, o ciclo
Cada ovócito primário é circundado por uma única uterino.
camada de precursores das células da granulosa e
envolvido por uma lâmina basal, formando um folículo
primordial. A maior parte dos folículos primordiais
nunca se desenvolverá, degradando-se ao longo dos anos
por um processo semelhante à apoptose, chamado de
atresia (morte celular regulada hormonalmente).

O ciclo ovariano é dividido em 3 fases:


Fase folicular: é um período de crescimento folicular no
ovário. Essa fase é a que tem duração mais variável, de 10
a 21 dias. Porém em torno de 14 dias.
Ovulação: Quando um ou mais folículos amadurecem, o
ovário libera o(s) ovócito(s) durante a ovulação.
Na puberdade, sinais químicos fazem grupos de Fase lútea: A fase do ciclo ovariano que segue a ovulação
folículos primários deixarem o seu estado de repouso e é conhecida como pós-ovulatória ou fase lútea. O segundo
entrarem em um período de crescimento ativo que pode nome tem origem na transformação do folículo rompido
levar alguns meses. Conforme os folículos em em um corpo lúteo, assim denominado devido ao pigmento
crescimento aumentam de tamanho, uma camada de amarelo e aos depósitos de lipídeos. O corpo lúteo
células, conhecida como teca, desenvolve-se na parte secreta hormônios que continuam a preparação para a
externa da lâmina basal. Alguns folículos primários gestação. Se a gestação não ocorre, o corpo lúteo para de
nunca completam a transição para folículos secundários funcionar após cerca de duas semanas, e o ciclo ovariano
e são perdidos por atresia. Conforme os folículos é reiniciado.
secundários crescem, as células da granulosa começam a
secretar o líquido que se acumula na cavidade central do
@resumeairafa
A – endométrio durante a menstruação; B – endométrio
na fase proliferativa (peri-ovulatória) com aspecto
trilaminar; C – endométrio na fase secretora;
Vias de controle/hormônios
O controle hormonal da reprodução em ambos os sexos
segue o padrão básico hipotálamo-hipófise anterior
(adeno-hipófise)-glândula periférica. O hormônio
liberador de gonadotrofinas (GnRH) liberado pelo
hipotálamo controla a secreção de duas gonadotrofinas
da adeno-hipófise: hormônio folículo -estimulante
(FSH) e hormônio luteinizante (LH). Por sua vez, FSH
Ciclo uterino – regulado por hormônios ovarianos:
e LH atuam nas gônadas. O FSH, junto com os
Menstruação: O começo da fase folicular no ovário
hormônios esteroides gonadais, é necessário para
corresponde ao sangramento menstrual do útero. iniciar e manter a gametogênese. O LH atua
Desagregação parcial do endométrio por contracção e principalmente sobre células endócrinas, estimulando a
rompimento dos vasos sanguíneos, ficando reduzido a 1 produção dos hormônios esteroides gonadais.
mm de espessura. Ocorre pela degeneração do corpo
amarelo, que deixa de produzir progesterona e
estrogênios.
Fase proliferativa: A parte final da fase folicular do
ovário corresponde à fase proliferativa no útero, durante
a qual o endométrio produz uma nova camada de células
em antecipação à gestação. Coincide com a fase folicular
do ovário e no final desta fase ocorre a ovulação. O
crescimento do endométrio é estimulado pelo estrogênio.
Fase secretora: Após a ovulação, os hormônios
liberados pelo corpo lúteo convertem o endométrio
espessado em uma estrutura secretora. Assim, a fase
lútea do ciclo ovariano corresponde à fase secretora do
ciclo uterino. Se não ocorrer gravidez, as camadas
superficiais do endométrio secretor são perdidas durante
a menstruação, quando o ciclo uterino inicia novamente. Apesar de o principal controle da função gonadal se
Nesta fase o endométrio atinge a máxima espessura (até originar no encéfalo, as gônadas também influenciam a sua
8mm) e vascularização. As glândulas produzem um própria função. Ovários e testículos secretam hormônios
muco rico em glicogênio. peptídicos que exercem retroalimentação diretamente
sobre a hipófise. As inibinas inibem a secreção do FSH, e
os peptídeos relacionados, chamados de ativinas,
estimulam a secreção do FSH. As ativinas também
promovem a espermatogênese, a maturação do
ovócito e o desenvolvimento do sistema nervoso do
embrião.
Liberação pulsátil do GnRH: A liberação tônica do
GnRH pelo hipotálamo ocorre em pequenos pulsos a
cada 1 a 3 horas, tanto nos homens quanto nas mulheres.
A região do hipotálamo que contém os corpos celulares
dos neurônios GnRH tem sido chamada de gerador do
pulso de GnRH, pois aparentemente coordena a secreção
Endométrio na fase menstrual, proliferativa e secretora
pulsátil periódica do GnRH.

@resumeairafa
As crianças que apresentam deficiência de GnRH não Como consequência, o feedback negativo sobre o FSH é
amadurecem sexualmente na ausência de estimulação liberado, observa-se então seu aumento nos primeiros dias
das gônadas pelas gonadotrofinas. Se tratadas com da fase folicular.
infusão contínua de GnRH, por meio de uma bomba de
infusão, essas crianças não amadurecerão Ovulação: Algumas substâncias não esteroides existem
sexualmente. No entanto, se as bombas forem ajustadas no líquido folicular, modulando os processos ovarianos
para liberar o GnRH em pulsos similares aos que (inibina, ativina e inibidor da maturação do oócito).
ocorrem naturalmente, as crianças entrarão na Sob o estímulo dos estrogênios (especificamente, nível de
puberdade. Aparentemente, altos níveis contínuos de estradiol plasmático acima de 200 pg/mℓ agindo sobre o
GnRH causam uma regulação para baixo dos receptores centro cíclico hipotalâmico por período crítico de 50 h), há
de GnRH nas células produtoras de gonadotrofinas, liberação significativa de LH (pico do LH) pela adeno-
fazendo a hipófise não ser capaz de responder ao GnRH. hipófise, fenômeno que permanece por cerca de 24 h e
induz a ovulação. A postura ovular ocorre dentro de 24 h
O controle hormonal da espermatogênese segue o padrão após o pico do LH, cerca de 2 semanas antes do período
geral descrito previamente: o hormônio hipotalâmico menstrual a se instalar, isto é, 14 dias após o 1 o dia da
GnRH promove a liberação de LH e FSH da adeno- menstruação, no ciclo usual de 28 dias.
hipófise. O FSH e o LH, por sua vez, estimulam o
testículo. As gonadotrofinas foram originalmente Fase lútea: Logo após a ovulação, as células da granulosa,
denominadas por seus efeitos nos ovários, porém os sob a influência do LH, hipertrofiam-se acentuadamente
mesmos nomes foram mantidos nos homens. O FSH tem e enchem a cavidade cística remanescente, por vezes com
como alvo as células de Sertoli. conteúdo hemorrágico, transformando-a em estrutura
granulosa, tingida por pigmento amarelo (luteína), o
Diferentemente dos ovócitos, as células germinativas corpo lúteo ou corpo amarelo, produtora de estrogênio
masculinas não possuem receptores de FSH. Em vez e de progesterona. Na verdade, as células da granulosa e
disso, o FSH estimula nas células de Sertoli a síntese de da teca interna do folículo ovulatório remanescente, que
moléculas parácrinas, que são necessárias à mitose das apresentam receptores LH, é que, ativadas pelo hormônio,
espermatogônias e à espermatogênese. Além disso, o formam o corpo lúteo. As células da granulosa e da teca
FSH estimula a produção da proteína ligadora de interna são convertidas em células luteínicas e produzem
androgênios e da inibina. O alvo principal do LH é a ativamente progesterona, principalmente as derivadas da
célula intersticial (célula de Leydig), que produz granulosa.
testosterona. Por sua vez, a testosterona faz
retroalimentação e inibe a liberação de LH e de GnRH.
A testosterona é essencial para a espermatogênese,
porém as suas ações parecem ser mediadas pelas células
de Sertoli, que possuem receptores de androgênios. Os
espermatócitos não possuem receptores de androgênios
e não podem responder diretamente à testosterona.
Hormônios no ciclo ovariano:
Desenvolvimento folicular - Desenvolvimento de uma
cápsula de tecido conectivo, a teca folicular,
proveniente do estroma ovariano. O crescimento do
folículo primário (oócito I mais uma camada de células
da granulosa) faz-se à custa, principalmente, dessas
células, estratificadas em derredor do oócito.
Subsequentemente, espaços cheios de líquido aparecem
em volta das células, tornam-se coalescentes e formam
uma cavidade única – o antro. O oócito situa-se
excentricamente, cercado pelas células da granulosa,
constituindo o cúmulo oóforo.
O desenvolvimento folicular é estimulado,
basicamente, pelo FSH que, além disso, prepara o Síntese da fisiologia do ciclo menstrual
folículo para responder ao LH (ovulação e
luteinização). Os folículos em crescimento produzem O GnRH é liberado de modo pulsátil, sendo sua
estrogênios (estradiol), hormônio sexual feminino que periodicidade e sua amplitude críticas para determinar a
regula o desenvolvimento e a função dos órgãos genitais. liberação fisiológica do FSH e do LH, gonadotrofinas
O sinal para o recrutamento folicular inicia-se na fase produzidas na adeno-hipófise. O FSH tem produção
lútea do ciclo anterior, com a diminuição da crescente no início do ciclo menstrual por estímulo do
progesterona, do estradiol e da inibina A. GnRH, com aumento mais marcante na metade do ciclo; é

@resumeairafa
responsável pelo desenvolvimento do folículo Características sexuais secundárias – a puberdade e
préantral e secreção dos estrogênios pelas células da os hormônios
granulosa. O folículo inicia a produção do estrogênio por
Entender quais fatores contribuem para o amadurecimento
meio da intervenção do FSH nas células da granulosa e do eixo HHG após a infância e quais fatores levam à
do LH nas células da teca interna. Na verdade, os reativação da secreção de GnRH é fundamental para a
estrogênios são produzidos na granulosa por meio de compreensão da regulação do início da puberdade.
precursores androgênicos elaborados nas células da teca. A ativação do Kiss1R pela kisspeptina desempenha um
O LH, liberado em pequena quantidade desde o início do papel essencial no início da puberdade. Estudos realizados
ciclo, apresenta elevação subitânea em torno do 13 o dia, em animais e humanos identificaram a kisspeptina (Kiss1)
causada por pico na produção do estradiol ovariano e seu receptor (Kiss1R) como componentes críticos do
(feedback positivo). O pico do estradiol ocorre eixo HHG. Ainda não se sabe se este sistema é o gatilho
aproximadamente 24 h antes do pico do LH, que, por sua do início da puberdade ou se age em conjunto com outros
vez, precede a ovulação em 24 h. Os estrogênios voltam fatores reguladores. Outro fator excitatório no hipotálamo
a ter pequena elevação na segunda fase do ciclo. A é o glutamato, um importante estimulador da secreção
de GnRH através de suas ações nos receptores n-metil D-
progesterona, que, no início do ciclo, apresenta níveis
aspartato (NMDA) e de cainato. A secreção de GnRH
muito baixos, tem sua expressão maior logo após a também é estimulada por fatores como norepinefrina,
ovulação, produzida pelo corpo lúteo. Quando os níveis dopamina, TGFα, neuregulina, sinalizando via receptores
desses hormônios esteroides (estrogênios e erbB4, leptina e peptídeo semelhante à galanina.
progesterona) estão altos, ocorre feedback negativo O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários é
com o hipotálamo, que suprime a liberação do GnRH, resultado da gonadarca e da adrenarca. A adrenarca
levando à queda da produção hipofisária de LH e de FSH refere-se à maturação da zona reticular da glândula
no final do ciclo e à consequente diminuição da produção adrenal, resultando em aumento na produção de
hormonal do corpo lúteo. andrógenos adrenais, associado aos caracteres sexuais
secundários, tais como o desenvolvimento de pelos
pubianos (pubarca), pelos axilares, odor corporal e
acne. A adrenarca é um processo de maturação gradual e
progressivo, que tem início no começo da infância e é
marcada pelo aumento da produção de andrógenos
adrenais (DHEA, DHEA-S e androstenediona) na
puberdade. A gonadarca é o aumento dos esteroides
sexuais, por ação do FSH e do LH. Dessa forma, os
testículos produzem a testosterona, responsável pela
virilização (pelos faciais e pubianos, engrossamento da
voz), enquanto os ovários produzem estrógenos, que
levam ao desenvolvimento das mamas e do útero, à
mudança do epitélio vaginal e à menstruação. Ou seja, a
testosterona e os estrógenos são responsáveis pelo
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários.
Algumas vezes, a adrenarca precede a gonadarca por 1 ou
2 anos, em meninos e meninas, mas o momento dos sinais
clínicos pode variar. Apesar de a adrenarca e a gonadarca
frequentemente se sobreporem, são processos separados
que são regulados independentemente.
Os gatilhos para a adrenarca permanecem desconhecidos;
no entanto, alterações no peso corporal e no índice de
massa corporal, assim como na fisiologia intrauterina
e neonatal, provavelmente possam modular este
processo, até mesmo em conjunto com a produção adrenal
de cortisol.

Garotos: o primeiro marco do início da puberdade é a


mudança do estágio genital de Tanner de G1 para o G2,
incluindo o alargamento dos testículos (alcançar um
volume maior que 3 mL ou um comprimento testicular
maior ou igual a 25 mm).
Quantidades crescentes de secreção de testosterona fazem
com que o pênis, o saco escrotal e os testículos aumentem

@resumeairafa
de tamanho, em aproximadamente oito vezes antes resultado a acne. Assim, a acne é uma das características
dos 20 anos de idade. mais comuns da adolescência masculina, quando o corpo
Diversos estados patológicos influenciam o início da está sendo exposto pela primeira vez a quantidades
puberdade direta ou indiretamente; entretanto, a maioria elevadas de testosterona.
das variações do início puberal não pode ser atribuída a Uma das características masculinas mais importantes é o
nenhum distúrbio clínico. Noventa e cinco por cento dos desenvolvimento da musculatura após a puberdade, com
garotos iniciam o desenvolvimento genital entre os 9,5 aumento de cerca de 50% da massa muscular em relação
e os 13,5 anos. Esses dados levaram à definição às meninas. Esse aumento da massa muscular está
tradicional de precocidade sexual como o associado à elevação da quantidade de proteína também
desenvolvimento de características sexuais secundário em regiões não musculares do corpo. Muitas das alterações
antes dos 9 anos e atraso puberal, como a ausência de da pele se devem à deposição de proteínas, e as alterações
alargamento testicular, até 14 anos de idade na voz também resultam, parcialmente, dessa função
Mesmo durante a vida fetal, os testículos são estimulados anabólica proteica da testosterona.
pela gonadotropina coriônica, proveniente da placenta, a
produzir quantidades moderadas de testosterona por Garotas: Os hormônios ovarianos, estrogênio e
todo o período de desenvolvimento fetal e por 10 progesterona, são secretados pelos ovários em resposta
semanas ou mais, após o nascimento; depois disso, aos dois hormônios sexuais femininos da hipófise anterior.
praticamente não é produzida testosterona durante a Sem dúvida, o mais importante dos estrogênios é o
infância, até cerca das idades de 10 a 13 anos. Então, a hormônio estradiol, e a mais importante das progestinas é
produção de testosterona aumenta rapidamente, sob a progesterona. Os estrogênios promovem,
estímulo dos hormônios gonadotrópicos da hipófise essencialmente, a proliferação e o crescimento de células
anterior, no início da puberdade, permanecendo assim específicas no corpo, responsáveis pelo desenvolvimento
pela maior parte do resto da vida. da maioria das características sexuais secundárias da
mulher. As progestinas atuam, basicamente, preparando o
útero para a gravidez e as mamas para a lactação.

A testosterona induz o crescimento de pelos (1) no


púbis; (2) para cima ao longo da linha alba do abdome, Na mulher não grávida normal, os estrogênios são
algumas vezes até o umbigo ou acima; (3) na face; (4) secretados em quantidades significativas apenas pelos
geralmente no tórax; e (5), menos frequentemente, em ovários, embora quantidades mínimas também sejam
outras regiões do corpo, como as costas. Além disso, secretadas pelos córtices adrenais. Durante a gravidez,
reduz o crescimento de cabelos no topo da cabeça; uma quantidade enorme de estrogênios também é
homem que não tem os testículos funcionais não fica secretada pela placenta. Na mulher não grávida,
calvo. Entretanto, muitos homens viris nunca ficam geralmente a progesterona é secretada em quantidades
calvos porque a calvície é resultado de dois fatores: significativas, apenas durante a segunda metade de cada
primeiro, a herança genética para o desenvolvimento de ciclo ovariano, pelo corpo lúteo.
calvície e, segundo, sobreposta a essa herança genética,
grandes quantidades de hormônios androgênicos. A Uma função primária dos estrogênios é causar proliferação
testosterona secretada pelos testículos ou injetada no celular e crescimento dos tecidos dos órgãos sexuais e
corpo produz hipertrofia da mucosa laríngea e outros tecidos relacionados com a reprodução.
alargamento da laringe. Inicialmente, esses efeitos Durante a infância, os estrogênios são secretados apenas
causam voz relativamente dissonante, “rachada”, mas em quantidades mínimas, mas, na puberdade, a
esta, gradualmente, transforma-se na voz masculina quantidade secretada na mulher sob a influência dos
típica do adulto. Também aumenta a espessura da pele hormônios gonadotrópicos hipofisários aumenta em 20
de todo o corpo e a rigidez dos tecidos subcutâneos. A vezes ou mais. Nessa época, os órgãos sexuais femininos
testosterona aumenta também a secreção de algumas, se alteram dos de criança para os de adulto. Os ovários, as
ou talvez de todas, glândulas sebáceas do corpo. A trompas de Falópio, o útero e a vagina aumentam de
secreção excessiva pelas glândulas sebáceas do rosto é tamanho várias vezes. Além do mais, a genitália externa
de especial importância, porque pode ter como
@resumeairafa
aumenta, com depósito de gordura no monte pubiano e Em algumas mulheres, esse efeito é extremamente grave,
nos grandes lábios, além de aumento dos pequenos e a condição resultante é a osteoporose.
lábios.
Os estrogênios não afetam muito a distribuição de pelos.
Além disso, os estrogênios alteram o epitélio vaginal Entretanto, os pelos efetivamente se desenvolvem na
do tipo cuboide para o tipo estratificado, considerado região pubiana e nas axilas, após a puberdade. Os
mais resistente a traumas e infecções do que o epitélio androgênios, formados em quantidades crescentes
das células cuboides pré-púberes. Infecções vaginais pelas glândulas adrenais femininas, após a puberdade,
em crianças quase sempre podem ser curadas pela são os principais responsáveis por esse
administração de estrogênios, simplesmente por causa da desenvolvimento de pelo. Os estrogênios fazem com que
maior resistência do epitélio vaginal resultante. Durante a pele desenvolva textura macia e normalmente lisa, mas,
os primeiros anos da puberdade, o tamanho do útero mesmo assim, a pele da mulher é mais espessa que a da
aumenta de duas a três vezes, porém mais importante do criança ou da mulher castrada. Além disso, os estrogênios
que o aumento no tamanho do útero são as alterações que fazem com que a pele se torne mais vascularizada, o que,
ocorrem no endométrio uterino, sob a influência dos muitas vezes, está associado à pele mais quente,
estrogênios. Eles causam proliferação acentuada do promovendo também maior sangramento nos cortes
estroma endometrial e grande desenvolvimento das superficiais do que se observa nos homens.
glândulas endometriais, que posteriormente ajudarão no
fornecimento de nutrição ao óvulo implantado. Uma função importante da progesterona é promover
alterações secretoras no endométrio uterino, durante a
Os efeitos dos estrogênios no revestimento mucoso das última metade do ciclo sexual feminino mensal,
trompas de Falópio são semelhantes aos efeitos no preparando o útero para a implantação do óvulo
endométrio uterino. Os estrogênios fazem com que os fertilizado. Promove também aumento da secreção pelo
tecidos glandulares desse revestimento proliferem; e, o revestimento mucoso das trompas de Falópio. Essas
mais importante, aumentam o número de células secreções são necessárias para nutrir o óvulo fertilizado e
epiteliais ciliadas que revestem as trompas de Falópio. em divisão, enquanto ele passa pela trompa de Falópio,
Além disso, a atividade dos cílios é consideravelmente antes de se implantar no útero.
intensificada. Esses cílios sempre batem na direção do
útero, ajudando a propelir o óvulo fertilizado nessa A progesterona promove o desenvolvimento dos lóbulos
direção. e alvéolos das mamas, fazendo com que as células
alveolares proliferem, aumentem e adquiram natureza
Os estrogênios causam desenvolvimento dos tecidos secretora. Entretanto, a progesterona não faz com que os
estromais das mamas, crescimento de um vasto alvéolos secretem leite, o leite só é secretado depois que a
sistema de ductos e depósito de gordura nas mamas. mama preparada é adicionalmente estimulada pela
Os lóbulos e alvéolos das mamas se desenvolvem até prolactina da hipófise anterior. A progesterona também
certo ponto sob a influência apenas dos estrogênios, mas faz com que as mamas inchem. Parte desse inchaço deve-
é a progesterona e a prolactina que determinam o se ao desenvolvimento secretor nos lóbulos e alvéolos,
crescimento e a função final dessas estruturas. Em mas, em parte, resulta também do aumento de líquido no
suma, os estrogênios dão início ao crescimento das tecido.
mamas e do aparato produtor de leite. Eles são ainda
responsáveis pelo crescimento e pela aparência externa
característicos da mama feminina adulta. Entretanto, não
finalizam a tarefa de converter a mama em órgãos As modificações físicas que compõem a puberdade
produtores de leite. costumam seguir uma ordem cronológica, que depende do
sexo da criança, de fatores genéticos e ambientais. Entre
Os estrogênios inibem a atividade osteoclástica nos ossos as principais alterações que marcam esse período de
e, portanto, estimulam o crescimento ósseo. Na transição estão a telarca, a pubarca e a menarca.
puberdade, quando a mulher entra em seus anos
reprodutivos, seu crescimento em altura torna-se rápido Nas meninas, em condições fisiológicas, a puberdade tem
durante muitos anos. Entretanto, os estrogênios têm início entre 8 e 13 anos e geralmente, obedece a seguinte
outro efeito potente no crescimento esquelético: causam ordem:
a união das epífises com a haste dos ossos longos. Esse • A telarca (aparecimento do broto mamário) é o seu marco
efeito do estrogênio na mulher é bem mais forte do que inicial;
o efeito semelhante da testosterona no homem. • Entre 11 e 12 anos, há o estirão puberal (fase de maior
Consequentemente, o crescimento da mulher velocidade de crescimento);
geralmente cessa muitos anos antes do crescimento do • Pubarca (aparecimento de pelos pubianos);
homem. • Menarca (primeira menstruação): comumente ocorre
Depois da menopausa, quase nenhum estrogênio é entre 12 e 13 anos, geralmente 2 a 2,5 anos após a telarca;
secretado pelos ovários. Essa deficiência leva a uma
maior atividade osteoclástica nos ossos; diminuição da
matriz óssea e menos depósito de cálcio e fosfato ósseos.
@resumeairafa
O ato sexual humano – relação sexual, cópula ou coito – é
extremamente variável em alguns aspectos e
extremamente estereotipado em outros. A resposta sexual
humana em ambos os sexos é dividida em quatro fases: (1)
excitação; (2) platô/emissão; (3) orgasmo; (4)
resolução. Na fase de excitação, vários estímulos eróticos
preparam a genitália para o ato da cópula. Para os homens,
a excitação envolve a ereção do pênis. Para as mulheres, a
excitação inclui a ereção do clitóris e a lubrificação
vaginal.
Os estímulos eróticos incluem tanto estímulos táteis
sexualmente excitantes quanto estímulos psicológicos.
Como estes últimos variam muito entre os indivíduos e
entre as culturas, o que é erótico para uma pessoa ou uma
cultura pode ser considerado repulsivo por outro indivíduo
ou outra cultura. As regiões do corpo que possuem
receptores para estímulos táteis sexuais são chamadas
de zonas erógenas e incluem tanto a genitália quanto os
lábios, a língua, os mamilos e os lóbulos das orelhas. Na
fase de platô, mudanças que iniciaram durante a excitação
são intensificadas e atingem um pico conhecido como
orgasmo (clímax). Em ambos os sexos, o orgasmo é uma
série de contrações musculares acompanhada de sensações
de prazer intenso, aumento da pressão arterial e das
frequências cardíaca e respiratória. Nas mulheres, o útero
Nos meninos, em condições fisiológicas, a puberdade e as paredes da vagina contraem-se. Nos homens, as
tem início entre 9 e 14 anos, e costuma obedecer a contrações normalmente resultam na ejaculação do sêmen
seguinte ordem: pelo pênis. O orgasmo feminino não é necessário para que
• Aumento do volume testicular ≥ 4 mL é o marco inicial; ocorra fertilização. A fase final da resposta sexual é a
• Pubarca (aparecimento dos pelos pubianos); resolução, um período no qual os parâmetros fisiológicos
• Desenvolvimento genital; • Mudança na voz; que mudaram nas primeiras três fases retornam lentamente
• Estirão puberal, geralmente entre 13 e 14 anos. ao normal.
Fase 1 - Ereção Peniana
A ereção peniana é o primeiro efeito do estímulo sexual
masculino, e o grau de ereção é proporcional ao grau de
estimulação, seja psíquico ou físico. A ereção é causada
por impulsos parassimpáticos que passam da região
sacral da medula espinal pelos nervos pélvicos para o
pênis. Essas fibras nervosas parassimpáticas, ao contrário
da maioria das outras fibras parassimpáticas, parecem
liberar óxido nítrico e/ou peptídeo intestinal vasoativo,
além da acetilcolina. O óxido nítrico ativa a enzima
guanilil ciclase, causando maior formação de
monofosfato cíclico de guanosina (GMPc). O GMPc, em
especial, relaxa as artérias do pênis e as malhas
trabeculares das fibras musculares lisas no tecido erétil
dos corpos cavernosos e corpos esponjosos na haste do
pênis.

@resumeairafa
Quando os músculos lisos vasculares relaxam, o fluxo Fase 2 - platô/ emissão
sanguíneo para o pênis aumenta, causando a Masculino - Os impulsos parassimpáticos durante a
liberação de óxido nítrico das células endoteliais estimulação sexual, além de promover a ereção, induzem
vasculares e posterior vasodilatação. O tecido erétil do a secreção mucosa pelas glândulas uretrais e bulbouretrais.
pênis consiste em grandes sinusoides cavernosos que, Esse muco flui pela uretra, auxiliando a lubrificação
normalmente, não contêm sangue, mas se tornam durante a relação sexual. Entretanto, a maior parte da
tremendamente dilatados quando o fluxo sanguíneo lubrificação do coito é fornecida pelos órgãos sexuais
arterial flui rapidamente para ele sob pressão, enquanto a femininos, muito mais do que pelos masculinos.
saída venosa é, parcialmente, ocluída. Os corpos eréteis A emissão começa com a contração do canal deferente
também são envolvidos por camada fibrosa espessa, e da ampola, promovendo a expulsão dos
especialmente os dois corpos cavernosos; portanto, a espermatozoides para a uretra interna.
pressão elevada dentro dos sinusoides provoca o Em seguida, as contrações da camada muscular da
enchimento do tecido erétil em tal extensão, que o pênis próstata, seguidas pela contração das vesículas seminais,
fica duro e alongado, o fenômeno chamado ereção. expelem os líquidos prostático e seminal também para
Os impulsos parassimpáticos durante a estimulação a uretra, forçando os espermatozoides para frente.
sexual, além de promover a ereção, induzem a secreção Todos esses líquidos se misturam, na uretra interna, com o
mucosa pelas glândulas uretrais e bulbouretrais. Esse muco já secretado pelas glândulas bulbouretrais, formando
muco flui pela uretra, auxiliando a lubrificação o sêmen. O processo até esse ponto é chamado emissão.
durante a relação sexual. Entretanto, a maior parte da Feminino - Sinais parassimpáticos também passam
lubrificação do coito é fornecida pelos órgãos sexuais para as glândulas bilaterais de Bartholin, localizadas
femininos, muito mais do que pelos masculinos. sob os grandes lábios, fazendo com que, prontamente,
secretem muco no introito. Esse muco é responsável por
grande parte da lubrificação durante o ato sexual, muito
embora ela também seja provida pelo muco secretado pelo
epitélio vaginal e pequena quantidade pelas glândulas
uretrais masculinas. Essa lubrificação é necessária durante
o intercurso, para estabelecer sensação massageadora
satisfatória, em vez de sensação irritativa, que pode ser
provocada pela vagina ressecada. A sensação
massageadora constitui o estímulo ideal para evocar os
reflexos apropriados que culminam no clímax masculino e
feminino.
Fase 3 – orgasmo
Masculino - O enchimento da uretra interna com sêmen
provoca sinais sensoriais que são transmitidos pelos
nervos pudendos para as regiões sacrais da medula
espinal, dando a sensação de plenitude súbita aos órgãos
genitais internos. Além disso, esses sinais sensoriais
promovem as contrações rítmicas dos órgãos genitais
internos e contrações dos músculos isquiocavernoso e
bulbocavernoso, que comprimem as bases do tecido erétil
peniano. Esses efeitos associados induzem aumentos
rítmicos e ondulatórios da pressão do tecido erétil do
pênis, dos ductos genitais e da uretra, que “ejaculam”
o sêmen da uretra para o exterior. Ao mesmo tempo,
contrações rítmicas dos músculos pélvicos, e mesmo de
Feminina - Localizado em torno do introito e alguns músculos do tronco, causam movimentos de
estendendo-se até o clitóris, existe tecido erétil quase propulsão da pélvis e do pênis, que também auxiliam a
idêntico ao tecido erétil do pênis. Esse tecido erétil, propelir o sêmen para os recessos mais profundos da
assim como o do pênis, é controlado pelos nervos vagina e, talvez, mesmo levemente, para o colo do útero.
parassimpáticos que passam pelos nervos erigentes, Esse período todo de emissão e ejaculação é chamado
desde o plexo sacral até a genitália externa. Nas fases orgasmo masculino.
iniciais da estimulação sexual, sinais parassimpáticos Feminino - Quando a estimulação sexual local atinge sua
dilatam as artérias do tecido erétil, provavelmente intensidade máxima e, especialmente, quando as
decorrente da liberação de acetilcolina, óxido nítrico sensações locais são favorecidas por sinais de
e polipeptídeo intestinal vasoativo nas terminações condicionamento psíquico, apropriados do cérebro, são
nervosas. Isso permite rápido acúmulo de sangue no desencadeados reflexos que levam ao orgasmo feminino,
tecido erétil, de maneira que o introito se contrai ao redor também denominado clímax feminino. O orgasmo
do pênis, o qual ajuda muito o homem a obter feminino é análogo à emissão e à ejaculação no homem
estimulação sexual suficiente para ocorrer a ejaculação. e pode ajudar a promover a fertilização do óvulo.
@resumeairafa
Primeiro, durante o orgasmo, os músculos perineais da com VIH/SIDA ou outra infecção sexualmente
mulher se contraem ritmicamente, em decorrência de transmissível – e no maior impacto destas consequências
reflexos da medula espinal, semelhantes aos que causam para o projeto de vida dos adolescentes (UNAIDS, 2018).
a ejaculação no homem. É possível que esses reflexos De acordo com os últimos dados estatísticos da UNICEF,
aumentem a motilidade uterina e falopiana durante o em termos mundiais, em 2017, cerca de 30 jovens entre
orgasmo, ajudando, assim, a propelir os espermatozoides os 15 e os 19 anos foram infetados com o VIH/SIDA,
para o útero, onde se encontra o óvulo. por hora. Estes números são particularmente alarmantes
Fase 4 – resolução se considerar que nos restantes grupos etários a epidemia
Depois do clímax do ato sexual, essas sensações dão estará a diminuir (UNICEF, 2018). Para além do uso do
lugar, por alguns minutos, à sensação de satisfação, preservativo, as relações sexuais associadas ao consumo
caracterizada por relaxamento tranquilo, efeito de álcool e/ou droga têm sido identificadas como
denominado resolução. comportamentos sexuais de risco, uma vez que estas
substâncias alteram os níveis de racionalidade e de
Na adolescência, ocasionada pela puberdade, a desinibição de quem as consome, o que no caso dos
sexualidade se manifesta em diferentes e surpreendentes adolescentes será particularmente indesejável
sensações corporais, em desejos ainda desconhecidos e considerando que o desenvolvimento psicossocial destes
em novas necessidades de relacionamento interpessoal, estará ainda a formar-se.
tornando-se um foco importante de preocupação e A educação em saúde é reconhecida como um dos
curiosidade para adolescentes de ambos os sexos. Nesse principais métodos para que os adolescentes aprendam
contexto, os valores, atitudes, hábitos e comportamentos sobre a sexualidade e a vivam de forma sadia e segura. A
estão em processo de formação e solidificação. A educação sexual precisa ser realista e conter assuntos
maneira como os adolescentes expressam e vivem a sua como: sexualidade, sexo, relacionamentos, saúde
sexualidade é influenciada por vários fatores entre os reprodutiva e segurança. Desta forma, para que os
quais estão: a qualidade das relações, emocional e programas e as ações voltados para essa temática sejam
afetiva, que viveram com as pessoas significativas na mais efetivos, há a necessidade de se considerar todas as
infância e na sua vivência atual; relações com seus influências recebidas por esses jovens, observando- se não
grupos de pares; as transformações físicas, apenas os seus âmbitos socioeconômicos e culturais, como
psicológicas, cognitivas e sociais trazidas pelo também as contribuições que pais, professores
crescimento e desenvolvimento e pelo início da profissionais de saúde podem oferecer de forma conjunta
capacidade reprodutiva, até os valores, crenças, e aliada para o comportamento seguro.
normas morais, mitos e tabus, e tradições da família e da
sociedade na qual estão inseridos(as).
Diante da possibilidade dessa nova experimentação da
sexualidade e da reprodução, e quando essas vivências se
baseiam em inseguranças, dúvidas e desconhecimentos
sobre a própria sexualidade, em vergonhas, estereótipos,
medos e preconceitos, aumenta a vulnerabilidade dos
adolescentes a problemas nesse campo, principalmente,
quando não encontram apoio familiar e social e políticas
que esclareçam e informem sobre as questões da
sexualidade.
Há necessidade de orientar os(as) adolescentes, bem
como as suas famílias, com informações científicas e
claras, sobre as transformações que ocorrem no corpo,
sobre as sensações sexuais, o caráter normal da
masturbação, a curiosidade sexual, o tamanho dos
órgãos genitais, sobre o ato sexual propriamente dito
e suas consequências e sobre diversidade sexual.
Enfatizar que o ato sexual é de caráter íntimo e Referências:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_ad
privado e que os parceiros têm de estar de acordo com olescentes_atencao_basica_2ed.pdf
as práticas sugeridas e, portanto, prontos para http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/993
assumir as responsabilidades advindas destas. Editora Guanabara Koogan, 2002. -GUYTON, A.C. e Hall J.E.–
Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª ed., 2017.
O não uso do preservativo e as relações sexuais SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem
associadas ao consumo de álcool ou drogas têm sido integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017
desde sempre considerados comportamentos sexuais MONTENEGRO,C.A.B.; REZENDE,J.F. Obstetrícia Funda
de risco, em particular para os adolescentes, dada a maior mental, 13 ed,. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
dificuldade destes na resolução das consequências Sociedade Brasileira de Pediatria
negativas - como gravidez indesejada e/ou infecção

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação Medicina-FPME-3°P
Em cada ciclo vários folículos (15 a 20) se desenvolvem,
Compreender o processo de fecundação até a nidação porém apenas um (dito dominante), por mecanismo ainda
pouco conhecido, chega à plena maturação e, após romper-
Lembrar da ovogênese e espermatogênese se, expulsa o óvulo. É a ovulação.
As gonadotrofinas produzem alterações cíclicas nos
ovários – desenvolvimento dos folículos, ovulação,
formação do corpo lúteo –, constituindo o ciclo ovariano.
Desenvolvimento folicular
• Crescimento e diferenciação do oócito I
• Proliferação das células da granulosa
• Desenvolvimento de uma cápsula de tecido conectivo, a
teca folicular, proveniente do estroma ovariano

O desenvolvimento folicular é estimulado, basicamente,


pelo FSH que, além disso, prepara o folículo para
responder ao LH (ovulação e luteinização). Os folículos
em crescimento produzem estrogênios (estradiol),
hormônio sexual feminino que regula o desenvolvimento
e a função dos órgãos genitais.
Morfologicamente, os fenômenos que concorrem para a
ovulação estão caracterizados pelo crescimento súbito do
folículo, em decorrência do acúmulo de líquido
folicular, produzindo adelgaçamento da teca interna e
abaulamento pré-ovulatório na superfície do ovário.
Uma pequena área avascular (estigma) logo aparece nessa
elevação. Antes da ovulação, o oócito e algumas células
do cúmulo oóforo se separam do interior do folículo
distendido. Na ovulação, o estigma rompe-se e o oócito é
expulso juntamente com o líquido folicular, do folículo
e do ovário. O oócito está cercado pela zona pelúcida e
por uma ou mais camadas de células foliculares que
logo se dispõem de modo radial – coroa radiada.
O crescimento do folículo primário (oócito I mais uma
camada de células da granulosa) faz-se à custa,
principalmente, dessas células, estratificadas em derredor
do oócito. Subsequentemente, espaços cheios de líquido
aparecem em volta das células, tornam-se coalescentes e
formam uma cavidade única – o antro. O oócito situa-
se excentricamente, cercado pelas células da granulosa,
constituindo o cúmulo oóforo.

Logo após a ovulação, as células da granulosa, sob a


influência do LH, hipertrofiam-se acentuadamente e
enchem a cavidade cística remanescente, por vezes com
conteúdo hemorrágico, transformando-a em estrutura
granulosa, tingida por pigmento amarelo (luteína), o corpo
lúteo ou corpo amarelo, produtora de estrogênio e de
progesterona.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
Na verdade, as células da granulosa e da teca interna
Medicina-FPME-3°P
Impulsionados por movimentos das próprias caudas,
do folículo ovulatório remanescente, que apresentam transitam através do canal cervical, embora o percurso
receptores LH, é que, ativadas pelo hormônio, formam o pelo útero e pelas tubas se faça principalmente pela
corpo lúteo. As células da granulosa e da teca interna são contração da musculatura desses órgãos.
convertidas em células luteínicas e produzem Espermatozoides podem ser encontrados no muco cervical
ativamente progesterona, principalmente as derivadas 90 s depois da ejaculação e no local da fecundação, a
da granulosa. A vida útil do corpo lúteo – não importa a ampola tubária, 5 min após a inseminação. A vesiculase,
invocação a supostos agentes luteolíticos – é mantida, uma enzima produzida pelas glândulas seminais, coagula
provavelmente, por determinismo biológico intrínseco, e parte do sêmen e forma um tampão vaginal que pode evitar
permanece por 10 dias, aproximadamente. É relevante a saída do sêmen pela vagina. Os espermatozoides se
acentuar essa noção, posto que o primeiro fenômeno locomovem de 2 a 3mm por minuto. Eles se movem
gravídico de importância é modificar a duração do lentamente no ambiente ácido da vagina, mas se
corpo lúteo, prolongando-a. Os estrogênios e, locomovem rapidamente no ambiente alcalino do útero
sobretudo, a progesterona, estimulam a secreção das
glândulas endometriais, preparando, concomitantemente,
todo o endométrio para a implantação do ovo. Fertilizado
o óvulo, o corpo lúteo aumenta de tamanho e passa a
constituir o corpo lúteo gravídico, que tem a produção
hormonal aumentada. Nessas circunstâncias, não
ocorrerá a sua degeneração porque o trofoblasto produz
hormônio de ação gonadotrófica hCG. O corpo lúteo
gravídico mantém-se funcionante até 8 a 9 semanas,
quando a esteroidogênese placentária assume papel Acredita-se que os primeiros espermatozoides a
endócrino. Se o óvulo não foi fecundado, o corpo lúteo penetrarem na tuba não sejam capazes de fecundar,
começa a degenerar-se cerca de 10 dias depois da papel desempenhado por aqueles que guardados no muco
ovulação e se transforma em cicatriz branca – o corpus cervical seriam liberados posteriormente. Em
albicans. consequência da ação letal da secreção vaginal, ácida, e
da insuficiência dos mecanismos de transporte, menos de
Espermatogênese: 200 espermatozoides conseguem chegar às tubas.
Na puberdade, a mitose das células germinativas é Ao contrário do que se dá no homem, a oogênese é um
retomada. As células germinativas, conhecidas como processo extremamente lento. As oogônias são formadas
espermatogônias, possuem dois diferentes destinos. exclusivamente durante a vida intrauterina; no feto, os
Algumas continuam a sofrer mitose ao longo de toda a oócitos I iniciam a divisão de maturação antes do
vida reprodutiva do homem. Outras são destinadas a nascimento, mas não se completa a prófase, que ocorrerá
iniciar a meiose e dar origem aos espermatócitos somente após a puberdade, precedendo imediatamente a
primários. ovulação, que é singular, em cada ciclo. Assim, o óvulo de
uma adolescente de 14 anos tem essa idade ou um pouco
Cada espermatócito primário dá origem a quatro mais, uma vez que, ao nascer, as células germinativas
espermatozoides. Na primeira divisão meiótica, um contavam já alguns meses; pela mesma razão, o óvulo de
espermatócito primário (4n) divide-se em dois uma mulher de 40 anos tem 40 anos ou ligeiramente mais.
espermatócitos secundários (2n). Na segunda divisão O oócito II recebe todo o citoplasma e o primeiro
meiótica, cada espermatócito secundário divide-se em corpúsculo polar quase nada, acabando, mais tarde, por se
duas espermátides. Cada espermátide possui degenerar. O núcleo do oócito II inicia a segunda divisão
23 cromossomos simples (não duplicados), o número de maturação, que progride, todavia, só até a metáfase,
haploide (1n) característico de um gameta. As em que a divisão é paralisada. Se a fertilização ocorre, a
espermátides, então, amadurecem, formando segunda divisão de maturação se completa e
espermatozoides. novamente o óvulo maduro recebe a maioria do
Na fecundação, destacam-se: citoplasma, e a outra célula, o segundo corpúsculo polar,
Inseminação: deposição do sêmen na vagina. Os gametas pequena, logo se desintegra.
masculinos assim liberados já alcançaram plena O óvulo, liberado no momento da ovulação, está cercado
maturidade, são espermatozoides. A espermatogênese dá- pela zona pelúcida e pela camada de células da
se, em média, no prazo de 75 dias. Em outras palavras, granulosa nomeada coroa radiada. Em geral, cerca de 1
qualquer que seja a idade do homem, seus a 2 milhões de oócitos estão presentes nos ovários de
espermatozoides têm sempre 2 meses e meio. recém-nascida, mas a maioria regride durante a infância,
Ascensão dos espermatozoides pelo aparelho genital permanecendo à puberdade apenas 300 mil.
feminino: cerca de 300 milhões de espermatozoides são Desses, somente 1 em cada mil alcança plena maturidade
depositados no fundo de saco posterior da vagina, durante e é expulso durante a ovulação.
o coito, próximo ao orifício externo do útero.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
Transporte do óvulo: no momento da ovulação, o
Medicina-FPME-3°P
pronúcleo feminino. Uma vez no interior do citoplasma
oócito está rodeado de células da granulosa (cumulus ovular, o espermatozoide rapidamente perde a cauda e sua
oophorus), que são responsáveis pela sua aderência à cabeça aumenta de tamanho para formar o pronúcleo
parede folicular. masculino. O oócito contendo dois pronúcleos haploides
O transporte do ovo envolve o tempo entre a ovulação e é chamado de oótide. Os pronúcleos feminino e masculino
a formação da mórula dentro do útero. As fímbrias se aproximam no centro do óvulo, onde ficam em contato,
tubárias que se localizam perto da superfície do perdem as membranas nucleares e fusionam seus
ovário captam o óvulo e levam-no para o infundíbulo. cromossomos, constituindo o ovo.
Quando chegam à ampola, os cílios movem-se de forma Resultados da fecundação:
sincronizada em direção ao útero, levando o óvulo. Estimula o oócito secundário a completar a segunda
Em geral, o tempo de transporte é de 3 dias. Já o tempo divisão meiótica, produzindo o segundo corpo polar;
para fertilização do oócito é de 12 a 24 horas. restaura o número diploide normal de cromossomos (46)
Para ocorrer a fertilização, os espermatozoides devem no zigoto; responsável pela variação da espécie humana;
sofrer processo de capacitação. A capacitação é determina o cromossomo sexual do embrião; causa a
caracterizada pela habilidade do espermatozoide de ativação metabólica do oócito, iniciando a clivagem do
sofrer reação acrossômica e pela capacidade de ligar- zigoto.
se à zona pelúcida e adquirir hipermotilidade. A
reação acrossômica é caracterizada pelo aparecimento
de pequena perfuração na parede do acrossoma por onde
saem as enzimas, hialuronidase e acrosina, que
digerem a coroa radiada e a zona pelúcida, favorecendo
o percurso do espermatozoide no interior do óvulo.

Clivagem do zigoto: A clivagem consiste em repetidas


divisões mitóticas do zigoto, levando a um rápido
A fecundação ocorre na ampola da tuba uterina, quando aumento no número de células, agora chamadas de
o oócito não é fertilizado nesse local, ele avança até a o blastômeros. A divisão começa aproximadamente 30
útero, onde sofre degeneração e é reabsorvido. horas após a fecundação. Os blastômeros se tornam
As fases da fecundação são: menores a cada divisão. Primeiro, o zigoto divide-se em
Passagem do espermatozoide através da corona dois, que por sua vez dividem-se em quatro, depois oito e
radiata do oócito: a dispersão das células foliculares da assim por diante. A clivagem ocorre na tuba uterina e,
corona radiata ocorre devido as enzimas e há ajuda dos depois do estágio de 9 células, os blastômeros mudam de
movimentos da causa na penetração da corona. forma e aderem firmemente uns aos outros –
Penetração na zona pelúcida: A liberação de enzimas compactação-, formando uma bola compacta. Quando o
forma um caminho, através da zona, para o número chega a 16, o conjunto passa a ser chamado de
espermatozoide. mórula. Cerca de 4 dias após a fertilização a mórula
Fusão das membranas plasmáticas células do oócito e forma, em seu interior, um espaço cheio de fluidoo
do espermatozoide denominado cavidade blastocística. Com o aumento do
fluido nessa cavidade, os blastômeros são separados em
A célula sexual feminina reage ao contato do duas partes:
espermatozoide de duas maneiras: (1) ocorrem Trofoblasto: camada celular externa que dá origem
alterações na zona pelúcida e na membrana celular embrionária à placenta.
que inibem a entrada de outros espermatozoides Embrioblasto: massa celular interna formada por um
(liberação de grânulos pelo citoplasma ovular); (2) o grupo de blastômeros, de localização central, que dá
oócito II completa a segunda divisão de maturação e origem ao embrião. Uma proteína imunossupressora, o
expele o segundo corpúsculo polar. O óvulo está, fator precoce da gravidez, é secretada pelas células
então, maduro, e seu núcleo é conhecido como trofoblásticas e pode ser detectada no soro materno dentro
de 24 a 48 horas após a implantação.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
Nesse estágio de desenvolvimento, o embrião é chamado
Medicina-FPME-3°P
Durante a gestação, a hipófise materna sofre mudanças
blastocisto. O embrioblasto faz uma saliência na anatômicas e funcionais. Observa-se aumento
cavidade blastocística e o trofoblasto forma a parede do significativo do volume glandular de mais de 100%,
blastocisto. Após o blastocisto flutuar por cerca de 2 dias especialmente de seu lobo anterior. A hiperplasia e
nas secreções uterinas, a zona pelúcida se degenera hipertrofia das células acidófilas produtoras de prolactina
gradualmente e desaparece, possibilitando seu rápido são as responsáveis pelo aumento da hipófise na gestação.
crescimento. Cerca de 6 dias após a fertilização, o Didaticamente, costuma-se dividir a endocrinologia da
blastocisto fixa-se ao epitélio do endométrio (nidação), gravidez em duas fases:
geralmente do lado adjacente à massa celular interna, o Ovariana: corresponde às primeiras 8 a 9 semanas da
polo embrionário. gravidez, quando o corpo amarelo gravídico, estimulado
pela gonadotrofina coriônica humana (hCG), é o
principal responsável pela secreção de esteroides.
Placentária: a partir de 8 a 9 semanas, quando a placenta
se incumbe da produção de esteroides em quantidades
crescentes.
O ovário também produz a relaxina, peptídio cuja
principal função é, juntamente com a progesterona,
inibir a contratilidade espontânea do útero, o que é útil
para a manutenção inicial da gravidez.

A produção do hormônio liberador de gonodotrofina


(GnRH) pelo hipotálamo é suspensa durante a gestação
e a secreção dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e
luteinizante (LH) é extremamente reduzida, não havendo
resposta a estímulos do GnRH. Já a concentração sérica de
hormônio do crescimento (GH), também denominado
somatotrofina hipofisária, aumenta durante a gestação.

A placenta humana produz grande quantidade de


esteroides – progesterona e estrogênio. O lugar da
esteroidogênese é o sinciciotrofoblasto. Como a placenta
tem capacidade muito limitada de sintetizar o colesterol de
novo a partir de acetato, o lipídio tem de ser suprido pelo
fígado materno. A placenta humana também está
desprovida de 17α-hidroxilase e, assim, não pode
converter os esteroides C21 (pregnenolona e progesterona)
nos produtos C19 (androgênios), que são precursores dos
estrogênios. Dessa maneira, a placenta é um órgão
incompleto na elaboração dos esteroides.

O hCG, gonadotrofina coriônica humana, o hormônio


lactogênio placentário (hPL), o hormônio de crescimento
placentário (GH placentário), a ativina e a inibina são os
homônios polipeptídios secretados pela placenta, mais
especificamente pelo sinciciotrofoblasto. Sabe-se que o
tecido trofoblástico, além de sintetizar a hCG e o
hormônio lactogênico placentário, produz também o
ACTH coriônico, a proteína relacionada ao hormônio
paratireoidiano e o hormônio tireotrófico coriônico.
O sinciotrofoblasto é uma camada de células embrionárias
sinciciais originada dos trofoblastos, que tem como
função abrir caminho na parede do endométrio para a
implantação do blastocisto durante a primeira semana de
gestação.
Os hormônios placentários regulam o crescimento e a
diferenciação do próprio trofoblasto, influenciam o
crescimento e a homeostase fetal, modulam a reação
Entender as mudanças hormonais no período da fecundação imunológica materna diante do produto conceptual,
e relacionar com os sinais presuntivos de uma gestação regulam as alterações cardiovasculares e nutricionais

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
maternas, protegem o feto de infecções e preparam o
Medicina-FPME-3°P
da placentação e, portanto, para a manutenção da gravidez.
organismo materno para o parto e lactação. Após essa época, a progesterona placentária é suficiente
As vilosidades coriônicas produzem hCG e hormônio para manter a gravidez.
lactogênico placentário. No entanto, órgãos fetais como
fígado, pulmão, rins, ainda que em menores quantidades,
também sintetizam. O hCG é possivelmente o primeiro
sinal da presença de tecido trofoblástico no
organismo materno, sua identificação constitui
ferramenta importante no diagnóstico de gravidez.
Nas primeiras semanas, os níveis do hormônio dobram a
cada 1,7 a 2 dias, e atingem valores máximos entre 60 e
80 dias. Um sinal presuntivo é o teste de farmácia, que
pode detectar na urina a presença do hCG.
A gonadotropina coriônica humana causa persistência
do corpo lúteo e evita a menstruação
A menstruação normalmente ocorre em mulher não
grávida cerca de 14 dias depois da ovulação, época em que
grande parte do endométrio uterino descama-se da parede
uterina e é expelido para fora do útero. Se isso ocorresse A progesterona produzida pelo trofoblasto é fundamental
após a implantação do ovo, a gravidez seria terminada. para a quiescência do miométrio ao reduzir o número
Entretanto, essa descamação é evitada pela secreção de de junções comunicantes existentes entre as células
gonadotropina coriônica humana pelos tecidos miometriais, indispensáveis para o sincronismo da
embrionários em desenvolvimento. Simultaneamente ao contratilidade uterina, assim como para inibir a síntese
desenvolvimento das células trofoblásticas do ovo recém- de prostaglandinas. A produção de progesterona aumenta
fertilizado, o hormônio gonadotropina coriônica humana é progressivamente com a evolução da gravidez, alcançado
secretado pelas células trofoblásticas sinciciais para os o seu máximo (300mg/dia) poucas semanas antes do parto.
líquidos maternos. A secreção desse hormônio pode
primeiro ser medida no sangue, 8 a 9 dias após a ovulação,
pouco depois do blastocisto se implantar no endométrio.
Em seguida, a secreção aumenta rapidamente, atingindo
nível máximo em torno de 10 a 12 semanas de gestação e
diminuindo novamente a valor mais baixo, por volta de 16
a 20 semanas, continuando nesse nível pelo restante da
gravidez.
A sua função mais importante é evitar a involução do
corpo lúteo ao final do ciclo sexual feminino mensal.
Em vez disso, faz com que o corpo lúteo secrete
quantidades ainda maiores de seus hormônios sexuais
— progesterona e estrogênios — pelos próximos meses.
Esses hormônios sexuais impedem a menstruação e
fazem com que o endométrio continue a crescer e • A progesterona faz com que células deciduais se
armazenar grandes quantidades de nutrientes, em vez de se desenvolvam no endométrio uterino. Essas células têm
descamar em produto menstrual. papel importante na nutrição do embrião inicial.
• A progesterona diminui a contratilidade do útero
Progesterona: O colesterol-LDL materno é ligado a um grávido, evitando, assim, que contrações uterinas causem
receptor específico no sinciciotrofoblasto, transportado aborto espontâneo.
por endocitose e hidrolisado em colesterol livre dentro • A progesterona contribui para o desenvolvimento do
dos lisossomos. No sinciciotrofoblasto, o colesterol é, concepto mesmo antes da implantação, pois
então, convertido em pregnenolona pela enzima especificamente aumenta as secreções das trompas de
mitocondrial 20,22 desmolase. A pregnenolona é Falópio e do útero, proporcionando material nutritivo
posteriormente transformada em progesterona pela apropriado para o desenvolvimento da mórula e do
enzima 3- β-hidroxiesteroide-deidrogenase. blastocisto.
A maioria dessa progesterona (90%) é secretada na • A progesterona, secretada durante a gravidez, ajuda o
circulação materna, e o restante (10%), na circulação estrogênio a preparar as mamas da mãe para a lactação.
fetal. Embora a placenta comece a sintetizar
progesterona bem no início da gestação, antes de 8 a 9 Em relação aos estrógenos, durante a gestação a
semanas, a progesterona produzida pelo corpo amarelo placenta produz de modo crescente e progressivo grande
gravídico é indispensável para o êxito da implantação e quantidade de estrógenos. O tecido trofoblástico não
possui as enzimas fundamentais para a produção dos
@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
estrógenos a partir do colesterol, diferentemente do que
Medicina-FPME-3°P
Ademais, o hormônio promove a liberação de ácidos
ocorre com o corpo lúteo. Os estrogênios desempenham graxos livres das reservas de gordura da mãe, assim,
papel relevante na implantação da placenta ao proporcionando essa fonte alternativa de energia para
induzirem uma vasodilatação do leito vascular o metabolismo materno durante a gravidez.
uterino materno. Durante a gravidez, as quantidades A placenta produz o hormônio liberador
extremas de estrogênios causam: de corticotrofina (CRH), que estimula a produção
• Aumento do útero materno; materna do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O
• Aumento das mamas maternas e crescimento da aumento dos níveis de ACTH eleva os níveis de
estrutura dos ductos da mama; hormônios adrenais, principalmente de aldosterona e
• Aumento da genitália externa feminina da mãe. cortisol, contribuindo assim para o edema. A gestação
Os estrogênios também relaxam os ligamentos pélvicos pode causar ingurgitamento mamário pelo aumento
da mãe, assim as articulações sacroilíacas ficam dos níveis de estrogênio (principalmente)
relativamente maleáveis; e a sínfise pubiana, elástica. e progesterona — uma extensão do ingurgitamento
Essas mudanças facilitam a passagem do feto pelo mamário pré-menstrual.
canal de parto. Existem fortes razões para acreditarmos
que os estrogênios também afetam muitos aspectos Náuseas e vômitos são queixas comuns na primeira
gerais do desenvolvimento fetal durante a gravidez, metade da gestação, usualmente permanecendo até 16
como, por exemplo, a intensidade da reprodução celular semanas gestacionais. Acredita-se que esteja
no embrião inicial. Após o parto, a súbita cessação do relacionada à elevação súbita dos níveis de
estímulo estrogênio-progesterona possibilita o gonadotrofina coriônica humana (hCG) e estrógeno. O
estabelecimento da lactação. tratamento não traz alívio completo dos sintomas na
maioria das vezes, sendo, em geral, paliativo.
Recomendam-se refeições em pequenas quantidades e
fracionadas. O odor de alimentos estimulantes agrava os
sintomas e deve ser evitado.
A pirose é um dos sintomas mais comuns na gestação.
Decorre do refluxo de conteúdo gástrico na porção
baixa do esôfago, resultado da compressão uterina
sobre o estômago e do relaxamento do esfíncter inferior
esofágico. Em geral, são sintomas leves que melhoram
com fracionamento das refeições, evitando a posição
muito plana ao deitar e com uso de antiácidos, como
hidróxido de alumínio ou magnésio isolados ou em
combinação. Deve-se evitar a ingestão de alimentos
gordurosos e contendo cafeína, pois eles relaxam o
esfíncter esofágico inferior.
A obstipação é muito comum e piora à medida que a
gestação evolui, podendo surgir apenas no terceiro
trimestre. Sua etiopatogenia é desconhecida, e a
progesterona pode exercer efeito inibidor sobre a
musculatura colônica. Como tratamento, orienta-se o
aumento do consumo de legumes, verduras e frutas para
hidratação; se isso não for suficiente, prescrevem-se
A somatomamotropina coriônica humana, ou HLP formadores de bolo fecal que contenham psílio hidrofílico
(Hormônio Lactogênico Placentário), é um hormônio muciloide ou farelo de trigo. Não se deve prescrever óleos
proteico que começa a ser secretado pela placenta em minerais porque eles reduzem a absorção de vitaminas
torno da quinta semana de gestação. A secreção desse lipossolúveis.
hormônio aumenta progressivamente durante todo o A fadiga e sonolência também são sintomas comuns no
restante da gravidez, em proporção direta ao peso da início da gestação e, em geral, regridem espontaneamente
placenta. Embora as funções da somatomamotropina por volta do quarto mês. Sua etiologia é atribuída ao efeito
coriônica sejam incertas, ela é secretada em quantidade da progesterona sobre o sistema nervoso central.
muitas vezes maior do que todos os outros hormônios da
gravidez combinados. A somatomamotropina coriônica Diferenciar êmese gravídica de hiperêmese
humana diminui a sensibilidade à insulina e a utilização A êmese gravídica, vômitos simples do início da
de glicose pela mãe, disponibilizando, assim, gestação, e a hiperêmese gravídica, vômitos incoercíveis
quantidades maiores de glicose ao feto. Como a glicose da gravidez, diferem apenas na intensidade e na
é o principal substrato usado pelo feto para fornecer repercussão clínica de seus efeitos. Tratam-se do mesmo
energia ao seu crescimento, a possível importância desse processo, no entanto, a hiperêmese configura a forma
efeito hormonal é óbvia. grave.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
Não há definição única para a hiperêmese gravídica,
Medicina-FPME-3°P
sendo a mais aceita aquela que considera a perda
ponderal de, no mínimo, 5% do peso pré-gravídico;
anormalidades como desidratação e desnutrição
(cetonúria) costumam estar presentes. A hiperêmese
gravídica é a segunda causa mais frequente de internação
hospitalar; a primeira é o parto pré-termo. Quando a
paciente experimenta náuseas e vômitos após 9 semanas,
outras condições, em sua maioria intercorrentes na
gravidez, devem ser cogitadas.
A separação da hiperêmese gravídica em duas formas
clínicas, de média e de grave intensidade, é clássica:
Formas médias: pacientes abandonadas na êmese A fisiopatologia por meio da qual a hCG causaria a
simples, por 2 a 4 semanas, com perda ponderal discreta, hiperêmese ainda é desconhecida. Segundo um
de 5% do peso pré-gravídico; o pulso mantém-se abaixo mecanismo proposto, esse hormônio promoveria a
de 100 bpm estimulação da secreção das glândulas do sistema
Formas graves: a perda ponderal é acentuada, 6 a 8%, e digestório superior ou ainda a estimulação da função
o pulso mostra-se rápido, acima de 100 bpm; cetonúria tireoidiana, por possuir estrutura molecular semelhante à
pontual. do hormônio estimulante da tireoide (TSH).
Esses sintomas têm início entre 5 e 6 semanas de
gestação, com picos em torno de 9 semanas, e Em gestantes com níveis iatrogenicamente elevados de
usualmente declinam por volta de 16 a 18 semanas. No progesterona, em que há múltiplos corpos lúteos causados
entanto, em 15 a 20% das gestantes os sintomas podem pela estimulação ovariana medicamentosa, ou em que a
persistir até o terceiro trimestre, e em 5% até o parto. O progesterona é administrada como suporte da
desconforto pode ocorrer em qualquer horário e em 80% fase lútea, não há um aumento da incidência da doença, o
dos casos persiste o dia todo. que sugere que os níveis de progesterona (endógenos e
O quadro clínico é caracterizado por vômitos exógenos) por si só não causam a doença.
incoercíveis que podem levar a alterações do
equilíbrio acidobásico e hidroeletrolítico, Hiperêmese gravídica é mais prevalente em condições
desidratação e perda de peso. Em alguns casos, associadas a níveis elevados de estrógeno, como na
ocorrem alterações hepáticas, renais, cerebrais e gestante com sobrepeso, na primigesta e em gestantes com
hemorragia retiniana. Caso esses distúrbios não sejam fetos em que não ocorreu a descida dos testículos. Uma
corrigidos, a paciente pode evoluir para desnutrição e elevada incidência de carcinoma testicular é observada nos
deficiência de vitaminas. Em fases mais avançadas, filhos de mães que sofreram da doença durante a gravidez.
sintomas de psicose tornam-se presentes, aparecendo Esses achados somados ao fato de que a náusea é um efeito
alucinações e síndrome de Korsakoff, uma doença colateral comum em tratamentos com estrógenos
crônica neuropsiquiátrica caracterizada por alterações do corroboram a hipótese de que esse hormônio pode ser um
comportamento associadas a perda de memória (amnésia fator causal da hiperêmese. Uma explicação dessa
retrógrada) e do aprendizado (amnésia anterógrada). A correlação é que os níveis elevados de estrógeno
síndrome de Wernicke, caracterizada pela tríade provocam lentidão no trânsito intestinal e aumento do
confusão mental, alterações oculares e ataxia, pode se tempo de esvaziamento gástrico, resultando em
instalar em quadros graves de hiperêmese, acúmulo de fluidos no trato gastrointestinal.
principalmente naquelas pacientes que foram submetidas
a longo período de hidratação venosa à base de solução Hormônio estimulante da tireoide (TSH): A glândula
glicosilada e sem suplementação de tiamina (vit B1). tireoide é fisiologicamente estimulada no início da
Há teorias que afirmam que os hormônios da gravidez gestação. Em alguns casos, os níveis dos hormônios
podem causar essa doença, baseadas no fato de que as tireoidianos desviam de sua normalidade, provocando
pacientes que a apresentam estão expostas a altos níveis um estado conhecido como hipertireoidismo gestacional
hormonais no início da gestação. Como ela é mais transitório, que se apresenta em aproximadamente 60%
prevalente nas primeiras semanas de gravidez, período das pacientes com hiperêmese gravídica. A concentração
no qual a placenta e o corpo lúteo produzem hormônios de hCG tem correlação com o grau de estimulação da
como a progesterona e a gonadotrofina coriônica tireoide e é comprovada por ensaios capazes de aferir a
humana (hCG), estes são normalmente associados à sua atividade tireotrófica, mostrando que o grau de
gênese. Entre os fatores de risco, podem ser citadas a hipertireoidismo e a concentração de hCG se relacionam
história de hiperêmese gravídica em gestação diretamente com a gravidade dos sintomas.
anterior, a história familiar (mãe, irmã) e a gravidez Vários mecanismos podem envolver a estimulação da
de feto feminino. função tireoidiana durante a gestação. Em decorrência da
influência dos estrógenos, a produção de globulinas
trans-portadoras de T4 está aumentada e o

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
metabolismo desse hormônio, diminuído, causando
Medicina-FPME-3°P
pode ser obtido entre 8 a 11 dias após a concepção. Os
uma diminuição transitória dos níveis séricos de T4 livre. níveis plasmáticos de β-hCG aumentam rapidamente até
Do ponto de vista renal, o alto clearance de iodo atingir o pico entre 60 e 90 dias de gravidez. Na prática,
provoca a estimulação da tireoide para compensar a níveis menores que 5mUI/mL são considerados negativos
relativa deficiência de iodo. Por fim, em virtude da e acima de 25mUI/mL são considerados positivos.
semelhança estrutural com o TSH, a elevação dos níveis
séricos de hCG pode causar uma estimulação excessiva
da tireoide.
HIDRATAÇÃO
A paciente com hiperêmese normalmente se apresenta
desidratada, necessitando de reposição volêmica
intravenosa feita em geral com soro glicofisiológico Sinais de Probabilidade
que, além da hidratação, oferece um aporte calórico. Aumento do volume uterino: O toque combinado infere
Podem ser adicionadas a essa expansão vitaminas como as alterações que a gravidez imprime ao útero. Fora da
as do complexo B e o ácido ascórbico, a fim de tratar gestação, o órgão é intrapélvico, localizado abaixo do
eventual carência vitamínica. O volume a ser estreito superior; na gravidez, expande-se; com 6 semanas,
administrado depende da intensidade da desidratação. apresenta volume de tangerina; com 10 semanas, de uma
Uma avaliação clínica de que a paciente está hidratada laranja; e com 12 semanas, o tamanho da cabeça fetal a
pode ser feita pela presença de diurese clara. Se mesmo termo, sendo palpável logo acima da sínfise púbica.
após a reposição volêmica intravenosa a paciente não • Sinal de Piskacek: Inicialmente, o desenvolvendo-se
apresentar diurese, deve-se suspeitar de necrose tubular mais acentuadamente na zona de implantação. A sensação
aguda e, nesse caso, a hidratação deve ser cautelosa para tátil é de abaulamento e amolecimento no local, sendo
evitar hipervolemia e suas complicações, como edema possível notar, eventualmente, sulco separando as duas
agudo dos pulmões. regiões (sinal de Piskacek).
Vômitos persistentes causam perdas de ácido
clorídrico, cloreto de sódio e cloreto de potássio
provenientes do suco gástrico, o que dá início à
alcalose metabólica. Em decorrência da desidratação e
da perda de íons cloro, a alcalose persiste, pois gera
diminuição do ritmo de filtração glomerular com maior
reabsorção de sódio e bicarbonato. Dessa forma,
desencadeia-se uma alcalose metabólica hipoclorêmica.
O tratamento, portanto, deve preconizar a reposição
volêmica com cloreto de sódio, por causa da • Sinal de Jacquemier: hipervascularização da vulva
desidratação, e deve repor o cloro. Se ocorrerem (coloração violácea vulvar)
alterações dos níveis séricos de potássio e sódio, esses • Sinal de Kluge: hipervascularização da vagina e colo
elementos devem ser repostos até sua devida uterino (cianose vaginal e cervical)
normalização. • Sinal de Osiander: pulsação da artéria vaginal
(perceptível ao toque vaginal)
Elucidar os métodos para diagnosticar uma gravidez, • Sinal de Hegar: amolecimento do istmo cervical

bem como as formas de cálculo da idade gestacional


O diagnóstico laboratorial da gestação é, basicamente,
realizado pela identificação da gonadotrofina coriônica
humana (β-hCG). Essa identificação pode ser feita
através de teste urinário ou exame de sangue da paciente,
sendo que este último representa, atualmente, o exame
padrão-ouro para confirmar a ocorrência da gravidez.
• Sinal de Nobile-Budin: preenchimento do fundo de saco
O teste urinário avalia a presença ou não da β-hCG na pelo útero gravídico (perceptível ao toque bimanual).
urina da mulher, ou seja, oferece um resultado qualitativo
(positivo ou negativo). Possui baixa taxa de resultados
falso positivo, mas uma elevada taxa de falso negativo e,
devido a isso, esse teste não é o mais indicado para o
diagnóstico, uma vez que pode levar a atrasos no início
do
pré-natal. O exame do sangue periférico consiste na
dosagem quantitativa de β-hCG no plasma sanguíneo e

@resumeairafa
Rafaela Amaral Fecundação e Gestação
Sinais de certeza além do beta
Medicina-FPME-3°P
semanas, o diâmetro biparietal (DBP) fornece precisão de
São dados pela existência do concepto, anunciada pelos ± 10 dias. Após 20 semanas as medidas sonográficas são
batimentos cardiofetais e pela sua movimentação ativa; a imprecisas. Se houver diferença entre a idade da gravidez
ultrassonografia é capaz de rastreá-los com 7 a 8 obtida pela última menstruação e a avaliada pelo
semanas. ultrassom, prevalece a estimada pela sonografia. A datação
14 semanas – Sinal de Puzos da idade gestacional (IG) por ultrassonografia (USG) deve
Trata-se do rechaço fetal intrauterino, que se obtém ao ser sempre baseada na primeira USG realizada e nunca
impulsionar o feto com os dedos dispostos no fundo deve ser recalculada com ultrassonografias posteriores.
de saco anterior. Dessa maneira, ocorre impressão de
rechaço quando o concepto se afasta e quando retorna. Gestação de 8 semanas. E, embrião; VV, vesícula vitelina.

18 semanas – Percepção e palpação dos movimentos


ativos do feto - Inicialmente discretos, tornam-se
vigorosos com o evoluir da gestação.
Palpação dos segmentos fetais - Nesse período, o
volume do feto é maior e começa-se a palpar cabeça e
membros.
20 a 21 semanas - Auscultação
Trata-se da identificação dos batimentos cardíacos fetais
(bcf), o mais fidedigno dos sinais de gravidez.
Detectados pelo sonar a partir da 12a semana e pelo
Pinard a partir da 20a semana de gestação.

Diagnóstico ultrassonográfico
Atualmente, é obrigatório o uso da ultrassonografia
transvaginal no primeiro trimestre da gravidez. Com 4 Idade gestacional
a 5 semanas, na parte superior do útero, começa a A gravidez é datada do 1° dia do último período
aparecer formação arredondada, anelar, de menstrual. A duração média da gestação é de 280 dias (40
contornos nítidos, que corresponde à estrutura semanas), e isso fornece a data provável do parto,
ovular, denominada, em ultrassonografia, saco assumindo que:
gestacional (SG). • O ciclo é de 28 dias
• A ovulação ocorreu geralmente no 14 o dia do ciclo
• O ciclo foi normal, ou seja, não ocorreu imediatamente
após a parada de contracepção oral ou após gravidez
anterior.
Na prática usa-se a regra de Naegele, que consiste em
adicionar à data da última menstruação 7 dias e mais 9
meses (ou menos 3 meses, quando se faz o cálculo
retrógrado).
Por exemplo, se a última menstruação foi em 10 de
novembro (mês 11), temos 10 + 7 = 17, e 11 – 3 = 8,
portanto, 17 de agosto (mês 8) será a data provável do
Em torno de 10 a 12 semanas, nota-se espessamento no
parto. Aparentemente, a gravidez, assim avaliada, não teria
SG, que representa a placenta em desenvolvimento e seu
os 280 dias de duração média que lhe foram atribuídos (9
local de implantação no útero. Com 12 semanas, a
× 30 = 270 + 7 = 277). No entanto, há correspondência
placenta pode ser facilmente identificada e apresenta
perfeita: no decurso de 9 meses, como norma, 3 ou 4 têm
estrutura definida com 16 semanas.
31 dias e essa diferença (de 1 dia) torna a regra de Naegele
No 1° trimestre a idade da gravidez é estimada pela
a mais aproximada dos referidos 280 dias.
medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) com
precisão de aproximadamente 5 dias; de 12 até 20
@resumeairafa
Rafaela Amaral
Aumento do volume uterino
Fecundação e Gestação Medicina-FPME-3°P
O útero pode ser palpado no abdome, a partir de 12
semanas. À medida que a gestação avança, o fundo
uterino mostra-se gradativamente mais alto,
distanciando-se da sínfise púbica. Na primeira metade da
gestação, a mensuração do fundo de útero é bom
indicador para o cálculo da idade da gravidez. Na
segunda metade, embora ele cresça cerca de 4 cm/mês,
as variações são maiores e os erros, mais comuns. Com
16 semanas, o fundo de útero estará a meia distância
entre a sínfise púbica e o umbigo; com 20 semanas,
nesse, e ao termo, próximo das rebordas costais.

A altura do fundo de útero durante o evoluir da gestação.


Depois de 20 semanas são grandes as variações, embora
o órgão cresça, aproximadamente, 4 cm/mês.

Referências
• MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J.
Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017.
• ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib
obstetrícia. 4. ed. Barueri: Manole, 2020.
• GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Guyton e Hall: tratado de
fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.
• MOORE, Keith L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia
básica. 8. ed. [Rio de Janeiro]

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P

Desenvolvimento embrionário desde a


para o embrião. À medida que o blastocisto se implanta,
mais o trofoblasto entra em contato com o endométrio e
continua a diferenciar-se em duas camadas.
nidação até o final de 4 semanas As células amniogênicas (formadoras do âmnio) –
amnioblastos – separam-se do epiblasto e se organizam
No oitavo dia do desenvolvimento, o blastocisto está para formar uma membrana fina, o âmnio, que reveste
parcialmente encaixado no estroma endometrial. Na área
a cavidade amniótica. O epiblasto forma o assoalho da
sobre o embrioblasto, o trofoblasto se diferenciou em cavidade amniótica e se continua perifericamente com o
duas camadas: uma interna, de células mononucleares, o âmnio. O hipoblasto forma o teto da cavidade exocelômica
citotrofoblasto; e uma externa multinucleada sem limites e se continua com as células que migraram do hipoblasto
celulares distintos, o sinciciotrofoblasto. para formar a membrana exocelômica. Esta membrana
circunda a cavidade blastocística e reveste a superfície
interna do citotrofoblasto. A membrana e a cavidade
exocelômica se modificam e formam o saco vitelino
primário. O disco embrionário, em seguida, repousa entre
a cavidade amniótica e o saco vitelino primário.

As células mitóticas são encontradas no


citotrofoblasto, mas não no sinciciotrofoblasto. Assim,
as células do citotrofoblasto se dividem e migram para
o sinciciotrofoblasto, no qual se fusionam e perdem suas
membranas celulares individuais. As células da massa
celular interna (ou embrioblasto) também se diferenciam
em duas camadas: uma de pequenas células cuboides
adjacentes à cavidade blastocística, conhecida como
camada hipoblástica; e uma de células colunares altas A camada mais externa de células do saco vitelino forma
adjacentes à cavidade amniótica, a camada uma camada de tecido conjuntivo frouxo, o mesoderma
epiblástica, essas duas camadas compõem o disco extraembrionário. Quando o âmnio, o disco embrionário
embrionário bilaminar. Ao mesmo tempo, aparece uma e o saco vitelino primário se formam, aparecem lacunas
pequena cavidade no epiblasto, que aumenta para se (pequenos espaços) no sinciciotrofoblasto. As lacunas são
tornar a cavidade amniótica. As células epiblásticas rapidamente preenchidas com uma mistura de sangue
adjacentes ao citotrofoblasto são chamadas de materno derivado dos capilares endometriais rompidos e
amnioblastos; junto com o resto do epiblasto, eles se restos celulares das glândulas uterinas erodidas. O líquido
alinham na cavidade amniótica nas lacunas – embriótrofo – passa por difusão para o disco
O disco embrionário origina as camadas germinativas embrionário. A comunicação dos vasos uterinos erodidos
que forma todos os tecidos e órgãos do embrião. As com as lacunas representa o início da circulação
estruturas embrionárias que se forma durante a segunda uteroplacentária. Quando o sangue materno flui para o
semana incluem a cavidade amniótica, o âmnio, a interior das lacunas, o oxigênio e as substâncias nutritivas
vesícula umbilical e o saco coriônico. tornam-se disponíveis para os tecidos extraembrionários
O sinciotrofoblasto, ativamente erosivo, invade o tecido ao longo da grande superfície do sinciciotrofoblasto. O
conjuntivo endometrial que contêm glândulas e capilares sangue oxigenado das artérias espiraladas no endométrio
uterinos. À medida que isto ocorre, o blastocisto passa para as lacunas; o sangue pobremente oxigenado é
lentamente aprofunda-se no endométrio. As células removido das lacunas através das veias endometriais.
sinciotrofoblásticas desta região deslocam as células
endometriais na parte central do local de implantação e
posteriormente elas (endometriais) sofrem apoptose, o
que facilita ainda mais a implantação. Enzimas
proteolíticas produzidas pelo sinciciotrofoblasto estão
envolvidas neste processo. As células do tecido
conjuntivo uterino ao redor do local da implantação ficam
carregadas de glicogênio e lipídios. Algumas dessas
células – células deciduais – degeneram-se adjacentes ao
sinciciotrofoblasto que está se aprofundando. O
sinciciotrofoblasto fagocita essas células em
degeneração, o que fornece uma fonte rica de nutrição

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Algumas vezes ocorre sangramento no local da
implantação, como resultado de aumento do fluxo
sanguíneo para os espaços lacunares. Como esse
sangramento ocorre próximo ao vigésimo oitavo dia do
ciclo menstrual, pode ser confundido com sangramento
menstrual normal e, desse modo, causar inexatidão na
determinação da data provável do parto.

No embrião de 10 dias (embrião e membranas


extraembrionárias), o concepto está completamente
implantado no endométrio. Por aproximadamente mais
2 dias, há uma pequena área de descontinuidade no
epitélio endometrial que é preenchida por um
tampão, um coágulo sanguíneo fibrinoso. Por volta do
12° dia, o epitélio uterino está quase completamente
regenerado e substitui este tampão. Com a implantação
do concepto, as células do tecido conjuntivo endometrial
sofrem uma transformação – a reação decidual –
resultante da sinalização por meio da adenosina
monofosfato cíclica e da progesterona. Com o acúmulo
de glicogênio e lipídios, as células ficam com seu
citoplasma intumescido e são, então, chamadas de
células deciduais secretoras. A função primária da
reação decidual é fornecer um local
imunologicamente privilegiado para o concepto.
No embrião de 12 dias, as lacunas sinciciotrofoblásticas
adjacentes se anastomosaram para formar redes
lacunares, o início do espaço interviloso da placenta. Os
capilares endometriais ao redor do embrião
implantado se tornam congestionados e dilatados O final da segunda semana é caracterizado pelo
para formar sinusoides, que são vasos terminais de surgimento das vilosidades coriônicas primárias. A
paredes finas maiores que os capilares comuns. O proliferação das células citotrofoblásticas produz
sinciciotrofoblasto, em seguida, erode os sinusoides, e o extensões celulares que crescem no interior do
sangue materno flui para as redes lacunares. As células sinciciotrofoblasto. As projeções celulares formam as
do estroma endometrial e glândulas degeneradas, vilosidades coriônicas primárias, o primeiro estágio no
junto com o sangue materno, fornecem uma rica desenvolvimento das vilosidades coriônicas da
fonte de material para a nutrição embrionária. O placenta. O celoma extraembrionário divide o
crescimento do disco embrionário bilaminar é lento mesoderma extraembrionário em duas camadas:
comparado com o crescimento do trofoblasto. Conforme • O mesoderma somático extraembrionário, que reveste o
as mudanças ocorrem no trofoblasto e no endométrio, o trofoblasto e cobre o âmnio
mesoderma extraembrionário aumenta e dentro deste • O mesoderma esplâncnico extraembrionário, que
aparecem espaços celômicos extraembrionários. envolve o saco vitelino
Esses espaços rapidamente se fusionam para formar uma O mesoderma somático extraembrionário e as duas
cavidade grande e isolada, o celoma extraembrionário. camadas do trofoblasto formam o cório. O cório forma a
Essa cavidade cheia de líquido circunda o âmnio e o saco parede do saco coriônico. O embrião, o saco amniótico e
vitelino, exceto onde eles estão ligados ao cório pelo o saco vitelino estão suspensos na cavidade coriônica pelo
pedúnculo. À medida que o celoma extraembrionário pedúnculo de conexão. Com o desenvolvimento dos
se forma, o saco vitelino primário diminui de vasos sanguíneos, o pedúnculo se transforma no cordão
tamanho e se forma o saco vitelino secundário, umbilical.
menor. Durante a formação do saco vitelino
secundário, uma grande parte do saco vitelino
primário é removido. O saco vitelino não contém
vitelo; no entanto, pode ter um papel na transferência
seletiva de materiais nutritivos para o disco embrionário.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Gastrulação: formação das camadas germinativas proliferar e se diferenciar em diversos tipos de células,
A gastrulação é o processo em que o disco embrionário como fibroblastos, condroblastos e osteoblastos. A linha
bilaminar é convertido em um disco embrionário primitiva forma ativamente o mesoderma até o começo
trilaminar. Cada uma das três camadas germinativas da quarta semana.
(ectoderma, endoderma e mesoderma) do disco
embrionário dá origem a tecidos e órgãos específicos. Processo Notocordal e Notocorda
Algumas células mesenquimais migram pela região
Linha Primitiva cranial, do nó e da fosseta primitivos, formando um
No início da terceira semana, a linha primitiva aparece cordão celular na região mediana, o processo
na região dorsal do disco embrionário. Essa banda notocordal. Este processo logo adquire um lúmen, o canal
linear espessada resulta da proliferação e migração de notocordal. O processo notocordal cresce cranialmente
células do epiblasto para o plano mediano do disco entre o ectoderma e o endoderma, até atingir a placa
embrionário. Assim que a linha primitiva aparece, é pré-cordal, uma área pequena e circular de células, que é
possível identificar o eixo craniocaudal do embrião um organizador importante da região cefálica. As
(extremidades craniais e caudais), superfícies dorsais e camadas fusionadas do ectoderma e do endoderma
ventrais, lados direito e esquerdo. À medida que a linha formam a membrana orofaríngea, situada na futura
primitiva se alonga através da adição de células à sua região da cavidade oral (boca).
extremidade caudal, sua extremidade craniana prolifera
e forma o nódulo primitivo. Ao mesmo tempo, um sulco
primitivo estreito se desenvolve na linha primitiva, que
termina em uma pequena depressão no nódulo primitivo,
a fosseta primitiva. Pouco tempo depois de a linha
primitiva aparecer, as células deixam sua superfície
profunda e formam o mesoderma, uma rede frouxa de
tecido conjuntivo embrionário, conhecido como
mesênquima, que forma os tecidos de suporte do
embrião.

Células mesenquimais da linha primitiva e do processo


notocordal migram, lateral e cranialmente, entre o
ectoderma e o endoderma, até atingirem as margens do
disco embrionário. Algumas células da linha primitiva
Sob a influência de vários fatores de crescimento migram cranialmente em cada lado do processo notocordal
embrionário, incluindo a proteína sinalizadora e em torno da placa precordal. Elas se encontram para
morfogenética óssea, as células do epiblasto migram formar o mesoderma cardiogênico, na área
através do sulco primitivo, formando o endoderma e cardiogênica, onde o primórdio cardíaco começa a se
o mesoderma. Células mesenquimais têm potencial para desenvolver no final da terceira semana.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Caudalmente à linha primitiva, há uma área circular – À medida que a notocorda se desenvolve, induz o
a membrana cloacal – indica o futuro local do ânus. ectoderma embrionário sobrejacente a espessar e
A notocorda é uma haste celular que: formar uma placa neural alongada de células
• Define o eixo do embrião e lhe dá alguma rigidez neuroepiteliais espessadas. O ectoderma da placa
• Serve como base para o desenvolvimento axial do neural (neuroectoderma) dá origem ao sistema nervoso
esqueleto (como os ossos da cabeça e da coluna central (SNC) – o cérebro e a medula espinal, entre
vertebral) outras estruturas, como a retina. À medida que a
• Indica o futuro local dos corpos vertebrais notocorda se alonga, a placa neural se alarga e, por vezes,
A coluna vertebral se forma em torno da notocorda, se estende cranialmente até a membrana orofaríngea.
que se estende da membrana orofaríngea até o nó
primitivo. A notocorda se degenera e desaparece como Por volta do 18º dia, a placa neural invagina ao longo do
parte do corpo das vértebras, mas partes dela persistem seu eixo central para formar um sulco neural
como o núcleo pulposo de cada disco intervertebral. A longitudinal mediano que apresenta dobras neurais em
notocorda funciona como indutor primário no embrião cada lado. No final da terceira semana, as dobras neurais
precoce, induzindo ectoderma embrionário começam a se mover em conjunto e a se fusionar,
sobreposto a engrossar e formar a placa neural, o convertendo a placa neural em tubo neural: o
primórdio do sistema nervoso central. primórdio das vesículas do cérebro e da medula
espinal. O tubo neural se separa do ectoderma superficial
à medida que as dobras neurais se encontram. As bordas
livres do ectoderma se fusionam, de modo que esta camada
se torna contínua ao longo do tubo neural nas costas do
embrião. Posteriormente, a superfície do ectoderma se
diferencia na epiderme da pele.

À medida que o tubo neural se separa da superfície do


ectoderma, as células da crista neural migram, dorsal e
lateralmente, em cada lado do tubo neural. Elas formam
uma massa irregular achatada, a crista neural, entre o
tubo neural e a superfície sobrejacente do ectoderma. As
células da crista neural logo se separam em parte direita e
parte esquerda e migram como uma onda para a região
dorsolateral do tubo neural. As células da crista neural
também migram e se espalham no mesênquima, e se
diferenciam em vários tipos celulares, incluindo os
gânglios espinais e do sistema nervoso autônomo. Os
gânglios dos nervos cranianos V, VII, IX e X são
parcialmente derivados de células da crista neural. As
células da crista neural também formam as bainhas
dos nervos periféricos, a pia-máter e a aracnoide.

O alantoide aparece, aproximadamente, no 16º dia, como


um pequeno divertículo em forma de salsicha da parede
caudal do saco vitelino, no pedúnculo. O alantoide está
envolvido com a formação precoce do sangue e
também está associado à bexiga urinária. Os vasos
sanguíneos do alantoide tornam-se as artérias e veias
umbilicais.
Neurulação: formação do tubo neural
A neurulação inclui a formação da placa neural e das
dobras neurais, e o fechamento destas dobras para
formar o tubo neural. Esses processos são concluídos
até o final da quarta semana, quando ocorre o fechamento
do neuroporo caudal.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Desenvolvimento dos somitos
Assim que a notocorda e o tubo neural se formam, o
mesoderma intraembrionário de cada lado do embrião
prolifera para formar uma espessa coluna longitudinal: o
mesoderma para-axial. Cada coluna é contínua
lateralmente ao mesoderma intermediário, que
gradualmente se afina para formar o mesoderma lateral.
O mesoderma lateral é contínuo com o mesoderma
extraembrionário, que cobre a vesícula umbilical e o
âmnio. Os somitos formam protuberâncias distintas
na superfície do embrião e aparecem um pouco
triangulares, em secções transversais. Por serem os
somitos tão proeminentes durante a quarta e a quinta Desenvolvimento inicial do sistema cardiovascular
semana, eles são utilizados como um dos muitos Ao final da segunda semana, a nutrição embrionária é
critérios para determinar a idade de um embrião. O obtida do sangue materno, por difusão através do
primeiro par de somitos aparece no final da terceira celoma extraembrionário e da vesícula umbilical. A
semana, perto da extremidade craniana da notocorda. formação inicial do sistema cardiovascular se correlaciona
Pares subsequentes se formam em uma sequência com a necessidade urgente de transporte de oxigênio e
craniocaudal. Somitos dão origem à maior parte do nutrientes para o embrião da circulação materna por meio
esqueleto axial e da musculatura associada, bem do cório. No início da terceira semana, a formação de
como à derme da pele. vasos sanguíneos, ou vasculogênese, começa no
Desenvolvimento do celoma intraembrionário mesoderma extraembrionário do saco vitelino,
O celoma intraembrionário (cavidade do corpo) aparece pedúnculo e cório. A vasculogênese começa no cório.
primeiro como espaços celômicos, pequenos e isolados Os vasos sanguíneos se desenvolvem cerca de dois dias
no mesoderma intraembrionário lateral e cardiogênico mais tarde. No final da terceira semana, a circulação
para formar uma cavidade única, em forma de uteroplacentária primordial está desenvolvida.
ferradura, o celoma intraembrionário. O celoma
divide o mesoderma Vasculogênese e Angiogênese
(formador do coração). Esses espaços coalescem lateral A formação de vasos sanguíneos no embrião e nas
em duas camadas: membranas extraembrionárias, durante a terceira semana,
• Uma camada somática ou parietal (somatopleura), podem ser resumidas em:
que é contínua com o mesoderma extraembrionário que Vasculogênese
cobre o âmnio • As células mesenquimais se diferenciam em precursores
• Uma camada esplâncnica ou visceral das células endoteliais ou angioblastos (células
(esplancnopleura), que é contínua com o mesoderma formadoras de vasos), que se agregam de modo a formar
extraembrionário que cobre a vesícula umbilical aglomerados isolados de células angiogênicas conhecidas
O mesoderma somático e o ectoderma embrionário como ilhas de sangue;
sobreposto formam a parede do corpo embrionário, • Pequenas cavidades aparecem dentro das ilhotas de
enquanto o mesoderma esplâncnico e o endoderma sangue pela confluência de fissuras intercelulares;
embrionário subjacente formam a parede do intestino. • Os angioblastos se achatam para formar as células
Durante o segundo mês, o celoma intraembrionário é endoteliais e se organizam em torno das cavidades nas
dividido em três cavidades do corpo: cavidade ilhotas de sangue para formar o endotélio primordial;
pericárdica, cavidades pleurais e cavidade peritoneal. • As cavidades revestidas pelo endotélio logo se fusionam
para formar redes de canais endoteliais.

Angiogênese
• Vasos brotam pela camada endotelial em áreas
adjacentes não vascularizadas e se fundem com outros
vasos.
As células sanguíneas se desenvolvem a partir de
células-tronco hematopoiéticas ou a partir do endotélio
hemangiogênico ou dos vasos sanguíneos que se
formam na vesícula umbilical e no alantoide, no fim da
terceira semana. A formação do sangue (hematogênese)
não começa dentro do embrião até a quinta semana. Este
processo ocorre primeiro em várias partes do
mesênquima embrionário, principalmente no fígado, e
mais tarde no baço, medula óssea e nódulos linfáticos.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
As células mesenquimais, que rodeiam os vasos
sanguíneos primordiais endoteliais, se diferenciam em
elementos do tecido muscular e conjuntivo dos vasos. Os
grandes vasos e as veias cardíacas se formam a partir
de células mesenquimais no primórdio cardíaco ou
área cardiogênica. Canais revestidos por endotélio – os
tubos cardíacos do endocárdio – se desenvolvem
durante a terceira semana e se fusionam para formar o
tubo primordial cardíaco. O coração tubular se une a
vasos sanguíneos no embrião, ligando o pedúnculo, o
cório e a vesícula umbilical para formar o sistema
cardiovascular primordial. No fim da terceira semana,
o sangue está fluindo e o coração começa a bater a
partir do 21º ou 22º dia.

Dobramentos Cefálico e Caudal


No início da quarta semana, os dobramentos neurais
na região cefálica formam o primórdio do encéfalo.
Posteriormente, o encéfalo anterior em desenvolvimento
cresce em direção cefálica, além da membrana
bucofaríngea, e coloca-se sobre o coração em
desenvolvimento. Simultaneamente, o coração primitivo e
a membrana bucofaríngea se deslocam para a superfície
ventral do embrião.
O dobramento da extremidade caudal do embrião resulta
Desenvolvimento das vilosidades coriônicas principalmente do crescimento da parte distal do tubo
Pouco depois de aparecerem ao final da segunda semana, neural, o primórdio da medula espinal. À medida que o
as vilosidades coriônicas primárias começam a se embrião cresce, a região caudal se projeta sobre a
ramificar. Logo no início da terceira semana, o membrana cloacal, a futura região do ânus. Durante o
mesênquima cresce dentro das vilosidades primárias, dobramento, parte da camada germinativa endodérmica é
formando uma região central de tecido mesenquimal incorporada ao embrião, formando o intestino posterior. A
frouxo. As vilosidades neste estágio – vilosidades parte terminal do intestino posterior logo se dilata para
coriônicas secundárias – cobrem toda a superfície do formar a cloaca. O pedúnculo do embrião (primórdio do
saco coriônico. Algumas células mesenquimais nas cordão umbilical) prende-se à superfície ventral do
vilosidades logo se diferenciam em capilares e células embrião, e o alantoide, um divertículo endodérmico do
sanguíneas. Quando os capilares estão presentes, as saco vitelino, é parcialmente incorporado ao embrião.
vilosidades são denominadas vilosidades coriônicas
terciárias. Os capilares nas vilosidades coriônicas se
fusionam para formar redes arteriocapilares, que se
conectam ao coração embrionário através dos vasos que
se diferenciam no mesênquima do cório e do pedúnculo.
Ao final da terceira semana, o sangue embrionário
começa a fluir lentamente nos capilares das
vilosidades coriônicas. Oxigênio e nutrientes no sangue
materno, no espaço interviloso, se difundem através das
paredes das vilosidades e entram no sangue do embrião.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
No início, o embrião é quase reto. Na quarta semana,
elevações de superfície visíveis são produzidas pelos
somitos e o tubo neural está aberto nos neuroporos cranial
e caudal. Com 24 dias, os arcos da faringe tornam-se
visíveis. Neste momento, o embrião encontra-se
ligeiramente curvado por causa dos dobramentos cefálico
e caudal. O coração primitivo produz uma grande
proeminência ventral e bombeia sangue. Com 24 dias, o
neuroporo cranial já está se fechando.

O dobramento lateral do embrião em desenvolvimento


resulta do crescimento dos somitos, que produzem os
dobramentos laterais direito e esquerdo. As paredes
do corpo abdominal lateral dobram-se em direção ao
plano mediano, deslocando as bordas do disco
embrionário ventralmente e formando um embrião
grosseiramente cilíndrico. Durante o dobramento
lateral (longitudinal), parte do endoderma do saco
vitelino é incorporada ao embrião, formando o
intestino anterior, o primórdio da faringe. O intestino
anterior situa-se entre o encéfalo e o coração, e a
membrana bucofaríngea separa o intestino anterior do
estomodeu, o primórdio da boca. Com a formação da
parede abdominal pela fusão das dobras laterais, parte da
camada germinativa endodérmica é incorporada ao
embrião, formando o intestino médio. Com a formação
do cordão umbilical a partir do pedúnculo do embrião, a
fusão ventral das dobras laterais reduz a região de
comunicação entre as cavidades celômicas
intraembrionárias e extraembrionárias.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Com 26 dias, o encéfalo anterior produz uma elevação
saliente da cabeça e uma longa e curva eminência caudal
(estrutura tipo cauda) está presente. Aos 28 dias, os
brotos dos membros superiores aparecem como
pequenas intumescências na parede ventrolateral do
corpo. Aos 26 dias, as fossetas óticas (primórdios das
orelhas internas) também são visíveis. Nos lados da
cabeça são visíveis os placoides do cristalino,
espessamentos ectodérmicos que indicam os futuros
cristalinos dos olhos. O quarto par de arcos faríngeos e
os brotos dos membros inferiores são visíveis no final da
quarta semana. Normalmente, no final da quarta
semana o neuroporo caudal está fechado.

A aparência dos membros em desenvolvimento é um


critério muito útil para estimar a idade embrionária.
Como os embriões na terceira e início da quarta semana
são retos, as suas medidas indicam o maior
comprimento. A altura na posição sentada, ou
comprimento cabeça-nádega, é utilizada para estimar a
idade de embriões mais velhos.
Os 23 estágios Carnegie do desenvolvimento
embrionário humano refletem as alterações na
aparência externa do embrião durante as primeiras 8
semanas do desenvolvimento. Para o obstetra a
gravidez se inicia no último período menstrual e para o
embriologista, 2 semanas após, ao tempo de fertilização.
O Sistema Carnegie de Estagiamento de Embriões é
usado internacionalmente, e seu uso permite fazer
comparações.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P

Identificar a relação da USG com a


longitudinal do feto e os calipers são posicionados na parte
externa do polo cefálico e na parte externa da nádega. Os
identificação da idade gestacional
membros e a vesícula vitelina não devem ser incluídos na
medida do comprimento cabeça-nádegas.
Atualmente, é obrigatório o uso da ultrassonografia
transvaginal no primeiro trimestre da gravidez. Com 4 a
5 semanas, na parte superior do útero, começa a
aparecer formação arredondada, anelar, de
contornos nítidos, que corresponde à estrutura ovular,
denominada, em ultrassonografia, saco gestacional
(SG), A partir de 5 semanas, é possível visualizar a
vesícula vitelina e, com 6 semanas, o eco embrionário e
a sua pulsação cardíaca bcf. Em torno de 10 a 12
semanas, nota-se espessamento no SG, que representa a
placenta em desenvolvimento e seu local de implantação
no útero. Com 12 semanas, a placenta pode ser
facilmente identificada e apresenta estrutura definida
com 16 semanas.
No 1° trimestre a idade da gravidez é estimada pela
medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) com
precisão de aproximadamente 5 dias; de 12 até 20
semanas, o diâmetro biparietal (DBP) fornece
precisão de ± 10 dias. Após 20 semanas as medidas
sonográficas são imprecisas.

A primeira estrutura ultrassonográfica que pode ser


utilizada para estimar a idade gestacional é a medida do
saco gestacional, utilizando-se o diâmetro médio, que é
calculado pela soma das medidas dos diâmetros
transverso, longitudinal e anteroposterior dividida por
três. Entretanto, essa medida não é muito precisa para
avaliar a idade gestacional (erro de até 2 semanas) e, Após 14 semanas de gestação, a biometria de vários
portanto, ela é utilizada apenas quando o embrião ainda parâmetros isoladamente ou múltiplos parâmetros pode ser
não é visualizado. utilizada para a estimativa da idade gestacional. Portanto,
o diâmetro biparietal, a circunferência cefálica, a
circunferência abdominal e o comprimento do fêmur são
utilizados. A medida do diâmetro biparietal foi o primeiro
método ultrassonográfico para datar a gestação, pois tem
os melhores limites que podiam ser obtidos com a
resolução limitada dos primeiros aparelhos de
ultrassonografia. Os estudos demonstram que abaixo de 20
semanas o diâmetro biparietal apresenta boa acurácia na
predição da idade gestacional e que a partir dessa idade a
variabilidade aumenta muito.
A medida da circunferência cefálica é calculada pela
medida do diâmetro biparietal e do diâmetro occipito-
frontal, ou diretamente pelo aparelho. A medida da cir-
cunferência cefálica apresenta como vantagem o fato de a
Assim que o embrião é visualizado, a idade gestacional medida, com raras exceções, não ser afetada pelo forma-to
pela ultrassonografia deve ser determinada por sua da cabeça. Em exames abaixo de 28 semanas de gesta-ção,
medida. Antes de 9 a 10 semanas de gestação, é o é o parâmetro que apresenta a menor variabilidade na
tamanho do embrião que se está medindo, e não o estimativa da idade gestacional. A medida da
comprimento cabeça-nádegas. A medida do circunferência abdominal é o melhor parâmetro para a
comprimento cabeça-nádegas pode ser utilizada para estimativa do peso fetal e o pior para a estimativa da idade
determinar a idade gestacional até 13 semanas e 6 gestacional.
dias. A medida do comprimento cabeça-nádegas até 13
semanas e 6 dias é o método mais preciso para datação
ou confirmação da idade gestacional. Para medir o
comprimento cabeça-nádegas, utiliza-se o corte
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P

Importância da suplementação do ácido


de alimentos ricos em folato e suplementação diária de 5
mg de ácido fólico em multivitamínicos, iniciando ao
menos 3 meses antes da concepção e nas 10 a 12 semanas
fólico em gestantes iniciais da gravidez.
• Após 12 semanas e por toda a gestação até o
O ácido fólico, também conhecido por vitamina B9 ou
período pós-parto (4 a 6 semanas ou enquanto durar a
folato, é uma vitamina que faz parte do complexo B e
amamentação), é necessária a suplementação de
que participa em várias funções no organismo,
multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg).
principalmente na formação das células responsáveis
pelo crescimento e desenvolvimento humano.
Duas vitaminas, a vitamina B12 e o ácido fólico, são de
Tem sido estimado de que cerca da metade de todos
grande importância para a maturação final das células
os defeitos congênitos pode ser evitada se mulheres
da linhagem vermelha. Ambas as vitaminas são
em idade de gravidez consumirem quantidade
essenciais à síntese de DNA, visto que cada uma delas, por
adequada de ácido fólico, seja pela ingesta de alimentos
modos diferentes, é necessária para a formação de
fortificados com a substância ou pela suplementação
trifosfato de timidina, uma das unidades essenciais da
com multivitaminas. Os defeitos do tubo neural (DTN)
produção do DNA. Por conseguinte, a deficiência de
são anomalias congênitas graves decorrentes da falta de
vitamina B12 ou de ácido fólico resulta em diminuição
fechamento do tubo neural da terceira à quarta semana
do DNA e, consequentemente, na falha da maturação
após a concepção (dia 26 ao dia 28 pósconcepção).
nuclear e da divisão celular.
Durante a gravidez, as necessidades de ácido fólico estão
aumentadas de 50 para 400 µg por dia [American
College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), Entender a relação da glicemia em jejum, a
2008]. Há pesquisas comprovadas de que a
suplementação de ácido fólico (0,4 mg/dia) 1 mês diabetes gestacional e seus riscos.
antes da gravidez e no 1 o trimestre reduz
Na gravidez, é importante distinguir o diabetes melito pré-
expressivamente os defeitos do tubo neural (DTN) e
gestacional (tipo 1 ou tipo 2) do diabetes melito
outras malformações. A suplementação universal de
gestacional (DMG). O principal problema do diabetes
ácido fólico também é proposta para prevenir a anemia
na gravidez ainda é o número elevado de malformações
megaloblástica.
congênitas – 10% no diabetes vs. 3% na população geral.
O uso do suplemento periconcepcional reduz tanto o
O diabetes melito gestacional (DMG) é aquele que tem
risco da ocorrência dos DTN (primeira gestação afetada)
início na gravidez e, nesse sentido, deve ser diferenciado
como de recorrência. O risco da recorrência é reduzido
do diabetes pré-gestacional, que antecede a gestação e
de 3,5% para 1% em mulheres recebendo 4 mg/dia de
persiste quando ela termina (ADA, 2014).
ácido fólico antes da gravidez e nas primeiras semanas
após a concepção.
Alterações metabólicas na gravidez normal
Durante a gravidez normal ocorrem grandes
Recomendações da Sociedade de Obstetrícia e
modificações na produção de energia e no acúmulo de
Ginecologia do Canadá:
gordura. O depósito de gordura se faz especialmente nos
• Mulheres em idade reprodutora devem ser avisadas
dois terços iniciais da gestação, enquanto no seu um terço
para os benefícios da ingesta do ácido fólico em
final há aumento do gasto metabólico. As modificações
suplementos multivitamínicos
no metabolismo materno são necessárias para alcançar
• É necessário orientá-las a manter dieta adequada as demandas determinadas pelo rápido crescimento e
com alimentos ricos em ácido fólico: grãos fortificados, desenvolvimento do feto. Essas alterações incluem
espinafre, lentilha, ervilha, aspargo, brócolis, milho, hipoglicemia de jejum, catabolismo exagerado dos
laranja lipídios com formação de corpos cetônicos e
• Mulheres com suplementação multivitamínica progressiva resistência à insulina, tudo comandado
contendo ácido fólico devem ser alertadas a não ingerir pelos hormônios placentários. O desenvolvimento da
mais de uma dose diária, como indicado pelo produto resistência à insulina a partir do 2° trimestre da
• A suplementação de 5 mg de ácido fólico não gestação é uma adaptação fisiológica que visa
mascara a deficiência de vitamina B12 (anemia transferir o metabolismo de energia materna da
perniciosa) oxidação dos carboidratos para o de lipídios,
• Mulheres que pretendem engravidar devem ingerir preservando a glicose a ser fornecida ao feto em
dieta rica em folato e suplementação diária de acelerado crescimento.
multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg) por, no A gravidez é uma condição caracterizada por resistência
mínimo, 2 a 3 meses antes da concepção e por toda a à insulina, com aumento compensatório na resposta
gravidez, período pós-parto (4 a 6 semanas) e por quanto das células β e hiperinsulinismo. A resistência à insulina
tempo durar a amamentação costuma começar no 2 o trimestre e progride durante toda
• Pacientes com epilepsia, diabetes a gestação, com a sensibilidade à insulina chegando à
insulinodependente, obesidade (IMC > 35 kg/m2), redução de aproximadamente 80% no termo.
história familiar ou pessoal de DTN requerem a ingesta
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Os hormônios placentários contrainsulínicos – Os casos normais na glicemia de jejum, entre 85 e 91
lactogênio placentário humano (hPL) e hormônio do mg/dl, se recomenda fazer o TOTG por volta de 24 a 28
crescimento placentário humano (hPGH) – são os semanas de gestação e investigar o risco de diabetes
fatores que contribuem para a resistência à insulina durante a gravidez. O TOTG de 75 g de 2 h (TOTG-75)
vista na gravidez. Fala-se, também, no aumento de pretende ser diagnóstico e exige dieta livre 3 dias antes. Os
adipocinas na gravidez – leptina, adiponectina, fator de valores já anormais são jejum ≥ 92 mg/dℓ, 1 h ≥ 180
necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina 6 (IL-6). Na mg/dℓ e 2 h ≥ 153 mg/dℓ.
mulher com DMG, não é a resistência à insulina que
está elevada, quando comparada à da gravidez
normal, e sim o mau funcionamento das células β
pancreáticas que secretam insulina insuficiente para
vencer esse aumento da resistência.
O defeito metabólico nas mulheres com o DMG é sua
incapacidade de secretar insulina em níveis necessários
para atender à demanda que é máxima no 3 o trimestre.
Isso leva ao aumento da concentração da glicose pós-
prandial, capaz de determinar efeitos adversos no
feto (macrossomia e hipoglicemia neonatal), pelo
excessivo transporte transplacentário de glicose.

Basta um valor alterado para o teste ser considerado


positivo. Se o valor de jejum for ≥ 126 mg/dℓ, o diabetes
é considerado pré-gestacional.
O exame da curva glicêmica, também chamado de teste
oral de tolerância à glicose, ou TOTG, é um exame que
pode ser solicitado pelo médico com o objetivo de auxiliar
no diagnóstico de diabetes, pré-diabetes, resistência à
insulina ou outras alterações relacionadas às células
pancreáticas.
Esse exame é feito a partir da análise da concentração de
glicose no sangue em jejum e depois da ingestão de um
líquido açucarado fornecido pelo laboratório. Assim, o
médico pode avaliar como o organismo funciona frente a
elevadas concentrações de glicose.

Pacientes com DMG têm risco elevado de hipertensão,


pré-eclâmpsia e parto cesáreo e suas consequentes
morbidades (ACOG, 2013). O feto da mãe com DMG
apresenta risco elevado de macrossomia, distocia de
ombros, tocotraumatismo, hipoglicemia e
hiperbilirrubinemia neonatais.
Cerca de 80 a 90% das mulheres são tratadas apenas com
Diagnóstico e tratamento a mudança de estilo de vida (ADA, 2014): dieta e
O Estudo HAPO-2008 realizado pelo International exercícios. Todavia, 10 a 20% das diabéticas necessitam
Association of Diabetes and Pregnancy Study Group de insulina, indicada quando o nível glicêmico préprandial
(IADPSG) (2010) propõe que a glicemia de jejum seja for > 95 mg/dℓ, ou o pós-prandial de 1 h > 140 mg/dℓ ou
realizada na 1°a consulta pré-natal. Esse exame o de 2 h > 120 mg/dℓ (ADA, 2014). Se a insulina for
serviria para identificar os casos normais (< 92 mg/dℓ), utilizada, a dose inicial recomendada é a de 0,7 a 1,0
os de DMG (92 a 125 mg/dℓ) e os de diabetes pré- unidades/kg/dia, administrada em doses divididas.
gestacional (≥ 126 mg/dℓ) – anteriormente à gestação.
Reconhecer o momento de manifestação do diabetes
(prévio da gestação ou durante a gestação) é importante,
pois o mau controle da doença na fase periconcepcional
aumenta o risco de malformações fetais. Além disso,
quanto mais longe da gestação ocorreu o surgimento
do diabetes, maiores as chances de que, no momento
da gravidez, já estejam presentes complicações de
longo prazo da doença.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P

Referências

1. MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J.


Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2017.
2. ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib
obstetrícia. 3. ed. Barueri: Manole, 2020.
3. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Guyton e Hall:
tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017
4. MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia
Básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.

Segundo a hipótese de Pedersen, a hiperglicemia materna


acarretaria hiperglicemia fetal, estimulando o
pâncreas fetal e resultando em hipertrofia e
hiperplasia das células-beta, com aumento dos níveis
de insulina fetal. Com a separação do binômio
materno-fetal no nascimen-to, a transferência de aporte
glicêmico é interrompida, levando à hipoglicemia
neonatal. A hiperinsulinemia traz ainda a aceleração do
crescimento fetal, levando à macrossomia. Fetos
macrossômicos apresentam aumento das
necessidades de oxigênio, hipoxemia crônica e,
decorrente dela, aumento do número de hemácias
(policitemia) para compensação do transporte de
oxigênio. O aumento das taxas de hemoglobina glicada
fetal, ávida por oxigênio, favorece a diminuição do
oxigênio sanguíneo livre e a hipoxia tecidual e pode
acarretar óbito fetal, o que pode explicar o sofrimento do
feto. Por outro lado, a inibição dos mecanismos de
maturação pulmonar leva a maiores taxas de
síndrome do desconforto respiratório.
Entre as complicações possíveis para os filhos de mães
diabéticas, uma das mais conhecidas é a macrossomia,
definida por recém-nascidos com peso superior a 4.000
g. A macrossomia preocupa sobretudo pelos riscos que
agrega ao parto vaginal, como distocia de ombro,
tocotraumatismos e óbito perinatal.
A hiperglicemia é também responsável pela ocorrência
de diurese osmótica fetal e que leva ao aumento do
volume de líquido amniótico e, consequentemente, a
polidrâmnio. No diabetes, é possível deparar-se com
prematuridade espontânea ligada ao mau controle
metabólico e a maiores incidências de polidrâmnio,
macrossomia e infecções, sobretudo do sistema urinário.
A hipoglicemia neonatal é definida como valores de
glicemia sérica inferiores a 40mg/dL no recém-nascido
de termo durante as primeiras 12 horas de vida.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento e abortamento Medicina-FPME-3°P

Desenvolvimento embrionário desde a 5° a


Sétima Semana
Durante a sétima semana, os membros sofrem
modificações consideráveis. Aparecem chanfraduras
8° semana entre os raios digitais das placas das mãos, separando
parcialmente os futuros dedos. A comunicação entre o
Quinta Semana intestino primitivo e o saco vitelino está agora reduzida a
Durante a quinta semana, são pequenas as mudanças na um ducto relativamente estreito, o canal onfaloentérico.
forma do corpo em comparação com as que ocorrem Ao final da sétima semana, a ossificação dos ossos dos
durante a quarta semana. O crescimento da cabeça membros superiores já iniciou - clavícula.
excede o crescimento das outras regiões, devido
principalmente ao rápido desenvolvimento das Oitava Semana
proeminências encefálicas e faciais. A face logo entra No início desta semana final do período embrionário, os
em contato com a proeminência cardíaca. As cristas dedos das mãos já estão separados, mas claramente
mesonéfricas indicam a localização dos rins unidos por membranas. As chanfraduras são claramente
mesonéfricos, que são os primórdios dos rins visíveis entre os raios digitais dos pés. O plexo vascular do
permanentes. couro cabeludo aparece e forma uma faixa característica
que envolve a cabeça. No final do período fetal, os dedos
ficaram mais compridos e já se separaram. Durante esta
semana, ocorrem os primeiros movimentos
coordenados dos membros. A ossificação começa no
fêmur. As evidências da eminência caudal tipo cauda já
desapareceram no final da oitava semana. As mãos e os
pés aproximam-se ventralmente uns dos outros. Ao final
da oitava semana, o embrião tem características humanas
visualmente distintas; entretanto, a cabeça ainda é
desproporcionalmente grande, constituindo quase metade
do embrião. A região do pescoço já é definida e as
Sexta Semana pálpebras estão se fechando. No final da oitava semana, as
Embriões na sexta semana mostram movimentos pálpebras começam a se unificar por fusão epitelial. Os
espontâneos, como contrações do tronco e membros. intestinos ainda estão na porção proximal do cordão
Os embriões neste estágio apresentam respostas umbilical. Os pavilhões auriculares começam a assumir
reflexas ao toque. Os primórdios dos dedos, ou raios sua forma final, mas ainda apresentam implantação baixa
digitais, começam a se desenvolver nas placas das mãos. na cabeça. Apesar de já existirem diferenças entre os sexos
O desenvolvimento dos membros inferiores ocorre 4 a 5 na aparência da genitália externa, elas não são
dias após o desenvolvimento dos membros superiores. suficientemente distintas para possibilitar uma
Várias pequenas intumescências, as saliências identificação precisa do sexo.
auriculares, desenvolvem-se e contribuem para a
formação do pavilhão auricular. Os olhos agora são bem
evidentes, em grande parte por causa da formação do
pigmento da retina. A cabeça é muito maior do que o
tronco e está encurvada sobre a grande proeminência
cardíaca. Esta posição da cabeça resulta da flexão da
região cervical (pescoço). O tronco, então, começa a se
endireitar. Durante a sexta semana, os intestinos
penetram o celoma extraembrionário na parte proximal
do cordão umbilical. Essa herniação umbilical é um
evento normal no embrião e ocorre porque, nesta idade,
a cavidade abdominal é pequena demais para acomodar
o rápido crescimento do intestino.
Abortamento - (causas, tipos, tratamento e
diagnóstico)
O abortamento é a expulsão de feto pesando < 500 g ou
com < 20 semanas de gestação.
Etiologia: Alterações cromossômicas: A trissomia
autossômica é a alteração mais frequentemente ligada ao
abortamento espontâneo de primeiro trimestre e representa
50% dos abortamentos de causa genética. As trissomias
mais relacionadas ao abortamento são, em ordem

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento e abortamento Medicina-FPME-3°P
decrescente de frequência, dos cromossomos 16, 22, 21, Causas uterinas e malformações:
15, 13, 2 e 14. Sinéquias intrauterinas (síndrome de Asherman)
Erros na meiose II são a principal explicação para a As aderências intrauterinas, geralmente secundárias a
ocorrência das trissomias e relacionam-se com a curetagens pós-abortamento infectado, podem interferir
idade materna avançada e com a diminuição ou no processo de implantação ovular. Estima-se que entre 15
ausência de recombinação meiótica. e 30% das pacientes com aderências intrauterinas
A triploidia encontra-se associada à mola parcial e os desenvolvem abortamento de repetição. Geralmente,
achados patológicos frequentemente encontrados essas mulheres apresentam diminuição do fluxo menstrual
incluem saco gestacional desproporcionalmente ou amenorreia.
grande, degeneração hidrópica parcial das Incompetência cervical
vilosidades coriônicas e hiperplasia do trofoblasto. Os A incompetência cervical é uma condição que se
fetos triploides podem apresentar defeitos do tubo caracteriza por perda fetal recorrente no segundo trimestre
neural, onfalocele, dismorfismo facial, fenda labial e da gravidez, em consequência de insuficiência do sistema
sindactilia. de oclusão do colo uterino. Essa inabilidade do colo
A monossomia do cromossomo X é a segunda causa uterino em manter-se convenientemente ocluído pode ser
de alteração cromossômica mais comumente consequente a um defeito estrutural ou funcional. Entre os
relacionada ao abortamento. Ela está presente em fatores etiológicos destacam-se as causas traumáticas,
cerca de 7 a 10% dos abortamentos de primeiro trimestre. como dilatação e curetagem, laceração cervical pós-parto
Aproximadamente 99% dos casos de monossomia do X traumático ou pós-abortamento, amputação ou conização
evoluem para o abortamento. Essa alteração do colo uterino.
cromossômica geralmente ocorre pela falta de um Defeitos da fusão dos ductos de Muller
cromossomo sexual paterno, não havendo correlação As malformações uterinas, como útero unicorno, didelfo,
com a idade materna. septado, bicorno e arqueado são consequentes às
Alterações endócrinas – defeito na fase lútea anomalias de fusão dos ductos de Müller, também
A implantação ovular em endométrio pobremente denominados paramesonéfricos. O útero, as tubas uterinas,
preparado, em consequência à produção deficiente de a cérvix e parte da vagina originam-se da fusão desses
progesterona pelo corpo lúteo, foi aventada no passado ductos. A mais comum anomalia mülleriana de causa
como causa de abortamento espontâneo e habitual. iatrogênica deve-se à exposição intrauterina ao
Atualmente, os defeitos da fase lútea são considerados dietilestilbestrol. Os defeitos da fusão dos ductos de
causa pouco provável de abortamento e sua pesquisa não Müller são aventados como causa de abortamento ha-
faz mais parte da rotina diagnóstica atual. bitual, restrição do crescimento fetal, prematuridade,
Diabetes mellitus tipo 1: A taxa de abortamento apresentações anômalas e hemorragia pós-parto.
encontra-se aumentada em mulheres com diabetes Fatores imunológicos: (autoimunes e aloimunes) –
mellitus tipo 1 que não estão metabolicamente relacionados aos abortos de repetição.
controladas no início da gravidez. Autoimunes: Pacientes com doenças autoimunes
Tireopatias: A incidência de abortamento mostra-se apresentam maior probabilidade de perda fetal, contudo
aumentada em pacientes com evidente tireopatia. Alguns somente a síndrome antifosfolípide (SAF) apresenta como
estudos têm demonstrado que pacientes com critério de definição a presença de perda fetal.
abortamento apresentam maior incidência de anticorpos Os anticorpos antifosfolipídicos (anticorpo
antitireoidianos, mesmo na ausência de doença anticardiolipina, anticorpo anticoagulante lúpico e anti-
tireoidiana. Por outro lado, outros estudos não beta-2-glicoproteína I), estão implicados em várias
encontraram relação causal entre a taxa de abortamento complicações obstétricas, como abortamento habitual,
e a presença desses anticorpos. restrição do crescimento fetal (RCF), prematuridade,
Síndrome dos ovários policísticos: afeta cerca de 10% doença hipertensiva específica da gestação,
das mulheres em idade reprodutiva e tem sido descolamento prematuro de placenta (DPP) e óbito
considerada causa de abortamento, inclusive de fetal. Os anticorpos antifosfolipídicos são responsáveis
abortamento habitual. Os possíveis mecanismos por fenômenos trombóticos, tanto arteriais como venosos,
responsáveis pelo abortamento em pacientes com e encontram-se presentes entre 15 e 20% das mulheres com
síndrome dos ovários policísticos são: maior resistência abortamento habitual.
à insulina, com consequente hiperinsulinemia e elevação Aloimune: diz respeito a diferenças genéticas entre
do hormônio luteinizante, obesidade e indivíduos da mesma espécie. A teoria aloimune para
hiperandrogenismo. Alguns estudos têm mostrado que o abortamentos de repetição baseia-se em resposta materna
tratamento preconcepcional e durante a gravidez com anormal para antígenos paternos, ou do trofoblasto.
metformina diminui a taxa de abortamento em pacientes Partindo-se do princípio de que a desigualdade antigênica
com essa síndrome. entre mãe e feto é fundamental para o progredir da
INFECÇÕES gestação, na presença de histocompatibilidade materno-
Teoricamente, as infecções maternas (bacterianas ou fetal exagerada pode ocorrer uma resposta imunológica
virais) podem ocasionar abortamento por lesões da alterada e paradoxal (agressora), ocasionando rejeição
decídua, da placenta, das membranas ovulares e do materna aos tecidos fetais, semelhante ao observado em
produto conceptual. transplantes.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento e abortamento Medicina-FPME-3°P
Esse descontrole do mecanismo imune normal Dores: precedem, acompanham e geralmente sucedem a
provavelmente ocorre na interface materno-fetal, hemorragia. São provocadas por metrossístoles fugazes
podendo envolver aumento de atividade de células e intermitentes. Contrações regulares, como as do
natural killer uterinas, que regulam o crescimento da trabalho de parto, espelham processo irreversível. Deve ser
placenta e do trofoblasto, a imunomodulação local e lembrado que o abortamento, muitas vezes, é precedido
o controle da invasão trofoblástica. pela morte do embrião, e as perdas sanguíneas e as cólicas,
antes de constituírem ameaça, anunciam interrupção
A utilização de imunoterapia para tratar casais co inevitável.
abortamento de repetição de causa aloimune tem como
objetivo suprimir a atividade das células natural killer. Fluxo interviloso no abortamento
Diante da ameaça de abortamento, os sintomas decorrem
Drogas e agentes nocivos: da hemorragia nas áreas periféricas em que está o fluxo
Tabagismo, álcool e cafeína entram nos estudos para interviloso. Nos abortamentos inevitáveis, todavia, o
associação com aborto, no entanto não há nada fluxo interviloso é bastante comum nas áreas centrais da
concreto. placenta. Em cerca de dois terços dos casos de
O risco de abortamento é maior em mulheres ≥ 35 anos, abortamento há placentação defeituosa, caracterizada,
mas esse risco se eleva consideravelmente se a mulher principalmente, por manto trofoblástico fino e
tiver ≥ 35 e o homem ≥ 40 anos. fragmentado e invasão reduzida do trofoblasto
extravilositário situado na extremidade do lúmen das
artérias espiraladas. Na maioria dos casos de abortamento,
Constituem tipos clínicos de abortamento:
essa invasão está associada ao início prematuro da
• Ameaça de abortamento
circulação materna por toda a placenta. A entrada
• Abortamento inevitável
excessiva de sangue materno no espaço interviloso tem
• Abortamento completo efeito mecânico direto no tecido viloso e indireto no
• Abortamento incompleto estresse oxidativo, que contribuem para a disfunção e a
• Abortamento infectado lesão celular.
• Abortamento habitual Diagnóstico sonográfico de gravidez inviável
• Insuficiência cervical. São considerados sinais diagnósticos de gravidez inviável:
comprimento cabeça-nádega (CCN) ≥ 7 mm e ausência
Ameaça de abortamento: gravidez complicada por de batimento cardiofetal (bcf), diâmetro médio do saco
sangramento antes de 22 semanas gestacional (SG) ≥ 25 mm e embrião ausente. Valores
Abortamento inevitável: o colo está dilatado, mas o do CCN < 7 mm sem bcf e do SG de 16 a 24 mm sem
produto da concepção não foi eliminado embrião são considerados suspeitos, mas não diagnósticos.
Abortamento completo: todo o produto da concepção Nesse cenário, pode ser útil repetir a ultrassonografia 7 a
foi eliminado sem a necessidade de intervenção médica 10 dias mais tarde.
ou cirúrgica O hematoma intrauterino é outro sinal de
Abortamento incompleto: alguma parte do produto da abortamento. Hematomas intrauterinos muito grandes (>
concepção foi eliminada, mas não a sua totalidade; 50% do SG) e de aparecimento muito precoce na gestação
podem estar retidos feto, placenta ou membranas estão associados a prognóstico adverso em quase 50% dos
Abortamento infectado: abortamento (geralmente casos.
incompleto) complicado por infecção intrauterina Hematoma intrauterino. SG = saco gestacional; H = hematoma.
Abortamento retido: gravidez na qual já há a morte
fetal (usualmente por semanas) sem a sua expulsão
Abortamento habitual: 2 ou mais abortamentos
consecutivos.

Quadro clínico na ameaça de aborto


Na ameaça de aborto, o quadro clínico consiste
fundamentalmente, em hemorragia, que traduz
anomalia decidual e/ou descolamento do ovo, e dor, sinal
de contração uterina.
Hemorragia é o elemento mais comum e costuma ser o
1° a revelar distúrbios na evolução da gravidez. De modo Quadro clínico no abortamento inevitável
geral, o fluxo sanguíneo na fase de ameaça é menor Nas amenorreias de curta duração em que o ovo é
do que na interrupção inevitável. Os sangramentos pequeno, o processo pode ser confundido com
precoces, de longa duração, escuros e do tipo “borra de menstruação, diferenciando-se dela pela maior
café” são considerados mais sérios. Aproximadamente quantidade de sangue; pela presença de embrião e
30% das gestações apresentam sangramento no 1° decídua ao exame do material eliminado. Esse mecanismo
trimestre, e metade delas resultam em aborto. é raro após 8 semanas. O diagnóstico não oferece
dificuldades. O episódio é, quase sempre, precedido por
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento e abortamento Medicina-FPME-3°P
período de ameaça de abortamento; feto. O sangramento não cessa, é intermitente, pode ser
excepcionalmente, pode manifestar-se pela 1 a vez no intenso, e ocorre porque os restos ovulares impedem a
estágio de iminente expulsão. As hemorragias tendem contração uterina adequada. As cólicas persistem. O útero,
a ser mais abundantes que as da fase de ameaça, e o amolecido, tem volume aumentado, mas o escoamento do
sangue apresenta cor viva. O volume do útero líquido amniótico e, comumente do feto, reduz suas
corresponde à data da amenorreia, exceto quando a morte dimensões, que não são as previstas pela idade da
do ovo é antiga. gravidez. O colo está entreaberto.
O colo mostra-se permeável, notando-se as membranas Ultrassonografia: massa focal ecogênica e espessura
herniadas pelo orifício externo na cavidade uterina. O anteroposterior do endométrio > 8 a 10 mm caracterizam
quadro clínico inconfundível dispensa exames o diagnóstico de restos ovulares.
complementares. Restos ovulares após abortamento incompleto
Tratamento
A conduta depende da idade da gravidez:
Até 12 semanas são procedimentos de escolha a
dilatação seguida de aspiração a vácuo ou de
curetagem. De 12 semanas em diante o ovo está muito
desenvolvido, e a cavidade uterina, volumosa. Por
serem suas paredes finas e moles, o esvaziamento
instrumental torna-se perigoso. A expulsão é
acelerada pela administração de ocitocina em
grandes doses: perfusão venosa de solução de 10
unidades em 500 mℓ de soluto glicosado ou misoprostol,
por via vaginal, 400 µg a cada 4 h. Eliminado o ovo, e se
a expulsão não foi completa, o remanescente é extraído
com pinça adequada.
O melhor tratamento para o abortamento incompleto é o
Quadro clínico do abortamento completo esvaziamento cirúrgico, e nesse particular, a aspiração a
É frequente até 8 semanas de gestação. Considera-se vácuo. O tratamento expectante não é o mais indicado.
abortamento completo quando, após a expulsão do ovo,
cessam as cólicas e o sangramento reduz-se a perdas Quadro clínico do abortamento infectado
muito discretas. O abortamento infectado sucede, quase sempre, à
Ultrassonografia. “Útero vazio” é indicação certa de interrupção provocada em más condições técnicas, mas
abortamento completo. Ecos intrauterinos centrais e esta não é sua única origem. Espontâneo ou intencional,
escassos ou moderados podem representar coágulos há sempre antecedentes que a anamnese esclarece:
sanguíneos, decídua, glândulas endometriais e placenta. abortamento incompleto, manipulação instrumental
A espessura anteroposterior do endométrio é < 8 a 10 cavitária, introdução de sondas, laminárias, soluções
mm. O fluxo colorido é discreto ao Doppler. diversas. Os microrganismos causadores são os existentes
na flora normal do sistema genital e dos intestinos: cocos
anaeróbios (peptococos, peptoestreptococos), E. coli,
bacteroides, Clostridium perfringens.
A classificação clínica mais utilizada é feita em três
formas: I, II e III.
I – Endo(mio)metrite. É o tipo mais comum. A infecção
é limitada ao conteúdo da cavidade uterina, à decídua
e, provavelmente ao miométrio. A sintomatologia é
semelhante à do abortamento completo ou incompleto. A
elevação térmica é pequena (pouco acima de 38°C), e o
estado geral é bom; as dores são discretas. Não há sinais
de irritação peritoneal, e tanto a palpação do abdome como
o toque vaginal são tolerados. Hemorragia escassa é a
regra.
II – Pelveperitonite. Em função da virulência do
microrganismo e, sobretudo, do terreno, a infecção
Quadro clínico no abortamento incompleto progride, agora localizada no miométrio, nos
Está relacionado com a eliminação parcial do ovo, paramétrios e anexos, comprometendo o peritônio
que causa hemorragia persistente e é terreno propício pélvico. Todavia, a hemorragia não é sinal relevante. O
à infecção. O abortamento incompleto é comum após 8 sangue escorre mesclado a líquido sanioso, cujo odor é
semanas de gestação, quando as vilosidades fecaloide, com presença de anaeróbios. Se um
coriônicas ficam aderidas ao útero. Nos abortamentos abortamento incompleto suceder à infecção, como é usual,
tardios, a paciente consegue distinguir páreas e o eliminam-se fragmentos do ovo. A temperatura está em
concepto e, geralmente, informa a eliminação apenas do
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
torno de 39°C e o estado geral está afetado, com
taquicardia,desidratação, paresia intestinal, anemia.
As dores são constantes e espontâneas. A defesa
abdominal está limitada ao hipogástrio e não seestende
ao andar superior do abdome. O exame pélvico é
praticamente impossível, tal a dor despertada. Feito
muito delicadamente, nota-se útero amolecido,
mobilidade reduzida e paramétrios empastados. O colo
costuma estar entreaberto.
III – Peritonite. Trata-se da forma extremamente
grave, da infecção generalizada. Há peritonite,
septicemia e choque séptico, decorrentes, em geral, do
acometimento por gram-negativos (E. coli), mas

também de bacteroides e Clostridium. A infecção por


Clostridium piora o prognóstico. Temperatura elevada,
mas, nem sempre, pulso rápido, filiforme, hipotensão
arterial, abdome distendido, desidratação acentuada,
oligúria e icterícia, são sinais gerais. Em outras
pacientes, há endocardite, miocardite e subsequente
falência do órgão. Tromboflebite pélvica e embolia
pulmonar podem ser encontradas. As condições Quadro clínico do abortamento habitual
hemodinâmicas e infecciosas conduzem à infecção renal O abortamento habitual (ou recorrente) é definido como a
aguda. São comuns abscessos no fundo de saco posterior, perda de duas ou mais gestações
entre as alças e o epíplon, retroperitoneais, sub-hepáticos Etiologia – Fatores epidemiológicos:
e subdiafragmáticos. O abortamento habitual, definido como duas ou mais
Tratamento interrupções, afeta cerca de 5% dos casais tentando
São concomitantes ao esvaziamento uterino: A conceber; para três ou mais interrupções, a incidência é de
terapêutica anti-infecciosa de largo espectro feita 1% (ASRM, 2012). A idade materna e o número de
associando-se clindamicina, 800 a 900 mg por via abortamentos anteriores são dois fatores de risco
intravenosa (IV) de 8/8 h, e gentamicina, 1,5 mg/kg IV independentes para uma nova interrupção. A idade
de 8/8 h. Se não resolver em cerca de 24 a 48 h, deve-se materna avançada está associada a declínio tanto no
associar ampicilina, 1 g IV de 4/4 h número como na qualidade dos oócitos remanescentes. A
Ocitócicos: ocitocina, derivados ergóticos idade paterna também tem sido reconhecida como
Sangue, solutos glicosados ou salinos, Ringer com fator de risco.
lactato, em função de anemia, desidratação, condições Alterações cromossômicas
circulatórias, depleção de eletrólitos. Em aproximadamente 5% dos casais com dois ou mais
Na peritonite, os abscessos devem ser drenados pelo abortamentos recorrentes, pelo menos um dos parceiros,
fundo de saco posterior ou pela via alta, dependendo especialmente a mulher, é portador de anomalia
da localização. O diagnóstico ultrassonográfico dos estrutural balanceada, na maioria das vezes, uma
abscessos resolve controvérsias sobre sua sede e translocação. Muito embora os portadores de
extensão. Na infecção causada por Clostridium, está translocações balanceadas sejam fenotipicamente
indicada, por vezes, a histerectomia total com normais, a perda fetal ocorre porque a segregação
anexectomia bilateral, sendo inoperante o esvaziamento. durante a meiose resulta em gametas com duplicação
Quadro clínico no abortamento retido ou falta de segmentos nos cromossomos. Além da
No abortamento retido, o útero retém o ovo morto por incidência maior de abortamento, essas gestações carreiam
dias ou semanas. Após a morte fetal, pode ou não haver risco de crianças malformadas. A cada gestação, a chance
sangramento vaginal. O útero mantém-se estacionário e de abortamento é de 20 a 30%, às vezes de 50%. Isso
pode até diminuir. A ultrassonografia não exibe bcf significa que cerca de dois terços dos casais com
após o embrião ter atingido ≥ 7 mm. Nas retenções translocação balanceada e abortamento recorrente têm
prolongadas do ovo morto (> 4 semanas), os distúrbios recém-nascidos normais na gestação seguinte.
da hemocoagulação constituem a complicação mais
temida. Chama-se ovo anembrionado o tipo de Síndrome antifosfolipídio
abortamento retido no qual a ultrassonografia não A síndrome antifosfolipídio (SAF) talvez seja a causa
identifica o embrião, estando o SG ≥ 25 mm. O mais importante de abortamento habitual. A SAF
diagnóstico definitivo de abortamento retido deve ser refere-se à associação entre anticorpos antifosfolipídio
sempre confirmado por duas ultrassonografias espaçadas – lúpus anticoagulante (LAC) e anticardiolipina (aCL)
de 7 a 10 dias. – e trombose vascular ou prognóstico adverso na
gravidez. Dos abortamentos habituais, 3 a 15% são
causados por SAF.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Mulheres com abortamento recorrente por SAF, sem embora esteja associado a risco aumentado de parto pré-
tratamento, têm chance de apenas 10% de feto vivo. termo, não é suficiente para diagnosticar a insuficiência
Doenças endócrinas cervical, quando está ausente a história clínica.
Estão relacionadas: deficiência luteínica, Tratamento
hipotireoidismo (doenças autoimunes – Hashimoto) e O tratamento é cirúrgico por meio da circlagem do colo
síndrome do ovário policístico (SOP). uterino, realizada na gravidez.
Fatores anatômicos: A circlagem deve ser limitada a gestações no 2 o trimestre
Malformações uterinas: Tem incidência de 10 a 15% (até 24 semanas), antes da viabilidade fetal. Nem
no abortamento habitual. As malformações uterinas antibióticos nem tocolíticos profiláticos melhoram a
deformam a cavidade uterina e prejudicam o eficácia da circlagem. Certas condutas não cirúrgicas,
desempenho reprodutivo, acentuando a incidência de incluindo restrição da atividade física e repouso no leito e
abortamentos, parto pré-termo, crescimento pélvico, não são efetivas para o tratamento da insuficiência
intrauterino restrito (CIR), ruptura uterina e cervical e devem ser desencorajadas.
apresentações anômalas. A insuficiência cervical está Circlagem história-indicada - A história de uma ou mais
frequentemente associada aos defeitos congênitos perdas gestacionais, com quadro clínico deinsuficiência
uterinos, o que explica por que o útero arqueado, a cervical, compõe o grupo de mulheres que se beneficiarão
malformação mais leve, também ocasiona mau da circlagem história-indicada. A cirurgia deve ser
prognóstico obstétrico. O útero septado é o de pior realizada entre 12 e 14 semanas de gravidez, após a
prognóstico em virtude da má vascularização do septo. ultrassonografia revelar feto vivo e sem anomalias.
Miomas. Os miomas que distorcem a cavidade Circlagem ultrassonografia-indicada - Após uma perda
intrauterina podem determinar abortamento habitual de fetal, com o quadro clínico de insuficiência cervical, está
2° trimestre. indicado o exame transvaginal do colo uterino a partir
Tratamento: As principais medidas terapêuticas são: de 16 a 24 semanas da gravidez. O colo < 25 mm indica
Fertilização in vitro (FIV) com diagnóstico a circlagem ultrassonografia-indicada, também
préimplantação (DPI) nas alterações cromossomiais do denominada terapêutica.
casal Na insuficiência luteínica, deve-se administrar Circlagem de emergência - Está indicada, até 24
progesterona vaginal, 200 mg/dia, 2 a 3 dias após a semanas da gestação, em pacientes com dilatação
ovulação até a transferência luteoplacentária entre 7 e 9 cervical < 4 cm e herniação das membranas, sem
semanas Administração de levotiroxina no contração e/ou parto, afastada a infecção intramniótica.
hipotireoidismo (Hashimoto), desde que o TSH esteja > Circlagem transabdominal - Tem como principal
2,5 mUI/mℓ Redução de peso e metformina na SOP indicação a falência da circlagem transvaginal, mas
Administração de heparina e ácido acetilsalicílico (AAS) também quando a cirurgia extensa do colo tenha deixado
infantil na SAF (70% de tratamento bem-sucedido) pouco tecido cervical para realização do procedimento
Resecção histeroscópica no útero septado e no mioma baixo.
intracavitário. A circlagem deve ser removida com 36 a 37 semanas de
gravidez. A sutura de McDonald pode ser removida no
Quadro clínico da insuficiência cervical consultório. Para mulheres com indicação de cesárea com
O termo insuficiência cervical é utilizado para descrever 39 semanas ou mais, a circlagem deve ser removida no
a incapacidade do colo uterino em reter o produto da momento do parto
concepção no 2° trimestre da gravidez, na ausência de
sinais e sintomas de contrações e/ou parto.
Exibindo quadro clínico característico, a insuficiência
cervical é uma das principais causas de abortamento
habitual tardio ou de parto pré-termo extremo. A
“dilatação cervical é sem dor” e o feto nasce vivo e
morfologicamente normal. A insuficiência cervical
costuma ser precedida por história de traumatismo
cervical causado por conização, laceração cervical no
parto ou dilatação exagerada do colo em casos de
interrupção provocada da gravidez e defeitos
müllerianos.
Secreção mucoide vaginal e dilatação de 4 a 6 cm sem
desconforto apreciável ou percepção de contrações
reforçam o diagnóstico. A dilatação cervical com
herniação das membranas visualizadas ao exame
especular configura o quadro de insuficiência cervical
aguda.
Não há nenhum teste diagnóstico preconcepcional
recomendado para confirmar insuficiência cervical. O
achado sonográfico de colo curto no 2 o trimestre,
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Durante o primeiro trimestre da gravidez consideram-se métodos
A técnica de McDonald para a cura cirúrgica da
aceitáveis a aspiração intrauterina, o abortamento farmacológico e a
insuficiência cervical durante a gravidez curetagem uterina. No segundo trimestre, o abortamento farmacológico
constitui método de eleição, podendo ser complementado, após a
expulsão fetal, com curetagem ou aspiração uterina, segundo as
condições clínicas da mulher.
Toda mulher grávida que solicita interrupção da gestação e cumpre com
as condições estabelecidas pela lei, pode optar pela interrupção
farmacológica da gravidez, tanto no primeiro como no segundo
trimestre da gestação. No Brasil tem-se disponível o misoprostol e a
ocitocina, conforme a Portaria MS/GM nº 1.044, de 5 de maio de 2010.
Aspiração Manual Intrauterina (Amiu)
Procedimento que utiliza cânulas de Karman, acopladas a seringa com
vácuo, promovendo a retirada dos restos ovulares através da raspagem
da cavidade uterina e por aspiração. Deve ser utilizada em gestações
com menos de 12 semanas, em função do tamanho uterino, pois há
necessidade do colo uterino ser justo à cânula para que o vácuo seja
transferido da seringa para a cavidade uterina. Nos casos de
abortamento infectado Amiu é a técnica de eleição. Nos casos de
interrupção da gravidez previstos na legislação vigente no País, com
menos de 12 semanas, deve-se empregar essa técnica. A aspiração
manual intrauterina (Amiu) é o procedimento de escolha para
tratamento do abortamento, sendo recomendada pela Organização
Mundial da Saúde e pela Federação Internacional de Ginecologia e
Obstetrícia (Figo).

Curetagem uterina: Estando o colo uterino aberto, ou dilatado previamente pelos dilatadores de Deninston ou velas de Hegar, introduz-
se a cureta e promove-se uma raspagem da cavidade uterina, extraindo-se o material desprendido pelo instrumental. Por ter diâmetro
variável e ser de material rígido (aço) pode provocar acidentes, tal como perfuração do útero. Por ser de utilização mais antiga, ainda
é muito usada no Brasil. Nos casos do colo uterino estar fechado ou pouco dilatado, pode-se promover sua abertura por meio da dilatação
cervical, embora esse procedimento não esteja isento de riscos. Nas gestações superiores a 12 semanas deve-se promover a indução
farmacológica com misoprostol. Então, após a expulsão fetal, faz-se a curetagem uterina.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do embrião Medicina-FPME-3°P
Conduta frente a uma mãe com Rh negativo e suas metabolizados no fígado materno.
Por razões desconhecidas, a avidez dos anticorpos IgG
possíveis complicações tende a aumentar quando o intervalo entre as exposições é
prolongado. Quanto maior for o intervalo entre as
Doença hemolítica perinatal gestações, mais grave tende a ser a doença.
Quando uma gestante RhD-negativo é exposta a sangue A anemia fetal leva à eritropoese medular e extramedular
com células RhD-positivo, frequentemente por conta (principalmente no fígado, no baço e na parede intestinal),
de hemorragia feto-materna, ela desenvolve que é mediada pela eritropoetina fetal. Nesse momento, a
anticorpos an-ti-D que atravessam a placenta, presença de eritrócitos jovens na circulação periférica fetal
resultando na destruição de eritrócitos fetais, situação é grande, originando, então, o termo eritroblastose fetal.
que é denominada doença hemolítica perinatal (DHPN). A anemia crescente intensifica a eritropoese, sobretudo no
As manifestações clínicas dessa doença variam de fígado do feto, o que leva a um aumento das ilhotas de
anemia fetal leve assintomática, hidropsia fetal com células eritropoéticas que se coalescem, ocupando a maior
anemia grave e icterícia até óbito fetal. parte da estrutura hepática. Essas alterações hepáticas
A etiologia da aloimunização RhD é decorrente da levam a disfunção celular, diminuição do transporte de
exposição a antígenos eritrocitários não compatíveis, a substâncias, interrupção dos sistemas enzimáticos e
principal causa é a ocorrência de hemorragia feto- insuficiência hepática. O quadro se agrava com a
materna em gestação de feto RhD-positivo com mãe manutenção da hemólise, ocorrendo hipoalbuminemia,
RhD-negativo. Kleihauer et al. desenvolveram um teste hepatoesplenomegalia, hipertensão do sistema porta,
que possibilita identificar e quantificar a hemorragiafeto- ascite, derrame pericárdico e pleural, insuficiência
materna. O teste de Kleihauer consiste na adição de cardíaca, alteração na circulação e na função placentária e,
solução ácida (pH = 3 a 3,5) a uma amostra de sangue por fim, óbito fetal.
materno, o que faz com que essas células sofram DIAGNÓSTICO
desnaturação, enquanto as células fetais se mantêm A primeira etapa no diagnóstico da aloimunização é a
intactas. Esse teste permite diferenciar as hemácias fetais solicitação, no início do pré-natal, da tipagem sanguínea
das adultas, possibilitando então o diagnóstico da e a pesquisa de anticorpos irregulares (PAi) de todas as
hemorragia feto-materna. Em razão da maior chance e do gestantes. O Coombs indireto apenas indica a presença de
maior volume de hemorragia feto-materna no terceiro algum anticorpo antieritrocitário, ao passo que a PAi é
trimestre, preconiza a profilaxia contra aloimunização capaz de identificar e titular os anticorpos presentes. Caso
RhD. a gestante seja RhD-negativo, deve-se determinar a
A sensibilização ainda pode ocorrer em situações ou tipagem sanguínea do parceiro. Se este também for RhD-
procedimentos que provocam hemorragia feto-materna, negativo, o feto será RhD-negativo e a gestante não
como ameaça de abortamento, descolamento prematuro apresentará risco de sensibilização ou de doença
de placenta, trauma materno, biópsia de vilosidades hemolítica perinatal se já for sensibilizada. Quando o
coriônicas, amniocentese, cordocentese, transfusão parceiro for RhD-positivo, PAi e titulação devem ser
intrauterina e manipulação obstétrica. Pode-se detectar solicitados na primeira consulta, repetidos entre 16 e 18
eritrócitos fetais na circulação materna a partir de 10 semanas de gestação e depois mensalmente até o termo.
semanas; portanto, pacientes que abortam também Tratamento:
correm risco de sensibilização, que é maior nos casos de Para evitar que uma mulher com sangue Rh negativo
abortamento induzido (4,5%) do que nos de abortamento desenvolva anticorpos ela recebe uma injeção de um
espontâneo (2%). Há risco de aloimunização também em preparado de imunoglobulina anti-D (Rh0)
gravidez ectópica, gestação molar e síndromes aproximadamente na 28ª semana de gestação e novamente
hemorrágicas – placenta prévia e descolamento 72 horas após o parto. Elas também recebem uma injeção
prematuro de placenta (DPP). após qualquer episódio de sangramento vaginal durante a
Em todas as situações citadas anteriormente, é gravidez e depois da amniocentese ou amostragem das
preconizada a administração de imunoglobulina anti-D vilosidades coriônicas. A imunoglobulina rapidamente
para prevenção da aloimunização. reveste os glóbulos vermelhos fetais que sejam Rh positivo
que tenham entrado na circulação da mãe para evitar que
Fisiopatologia: o sistema imunológico da mãe determine que eles são
Após exposição primária aos antígenos eritrocitários “estranhos”.
desconhecidos, ocorre sensibilização por meio da Referências
produção inicial de imunoglobulina M (IgM), que não • ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib
atravessa a barreira placentária por causa de seu obstetrícia. 3. ed. Barueri: Manole, 2020.
grande peso molecular. Posteriormente, em uma • MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J.
segunda exposição ao antígeno desconhecido, ocorre a Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
produção de imunoglobulina G (IgG), que ultrapassa a Koogan, 2017.
barreira placentária, aderindo-se à membrana dos • MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia
eritrócitos e ativando o sistema reticulo-endotelial, Básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
principalmente no baço, onde acontecem a hemólise e a
fagocitose. Os produtos da hemólise fetal são
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P

Desenvolvimento fetal desde a 9ª a 12ª semana Os testículos produzem testosterona fetal iniciando na
oitava semana e atingindo um máximo
9 semanas: O intervalo do início da nona semana até o aproximadamente na 12ª semana, estimulados pela
nascimento é chamado de período fetal e caracteriza-se gonadotrofina coriônica, e HAM em 6 a 7 semanas –
pela maturação dos tecidos e dos órgãos e pelo hormônio antimülleriano (HAM). HAM é produzido pelas
crescimento corporal rápido. No início da nona células de sustentação (células de Sertoli) até a puberdade,
semana, a cabeça constitui metade do CCN do feto - após a qual os níveis do hormônio decrescem. A
comprimento cabeça- nádega (CCN). Em seguida, há uma testosterona estimula os ductos mesonéfricos para formar
rápida aceleração do crescimento do comprimento do os ductos genitais masculinos, enquanto o HAM faz com
corpo, de modo que, ao final de 12 semanas, o CCN que os ductos paramesonéfricos desapareçam por
corresponde a quase o dobro. Com 9 semanas a face é transformação epitélio-mesenquimal. Os ductos
larga, os olhos estão bem separados, as orelhas têm mesonéfricos dos embriões femininos regridem devido à
implantação baixa e as pálpebras estão fusionadas. No ausência de testosterona. Os ductos paramesonéfricos se
início da nona semana, as pernas são curtas e as coxas desenvolvem devido à ausência de HAM.
são relativamente pequenas.

Feto de 9 semanas. Tamanho da cabeça em relação ao corpo. A


vesícula vitelínica e o longo ducto vitelino estão visíveis na A genitália externa de fetos dos sexos masculino e
cavidade coriônica. Repare no cordão umbilical e na hérnia das feminino ainda aparece indiferenciada até o fim da 9°
alças intestinais. Cório frondoso - muitas vilosidades e cório semana, e sua forma madura se estabelece apenas na 12°.
liso. Embriologia médica – Langman Com 9 semanas, o fígado é o local de formação das
Os ductos mesonéfricos produzem urina entre as semanas hemácias e depois, com 12 semanas, o baço assume essa
6 e 10, até que os rins permanentes comecem a funcionar. função.
A urina é lançada pela uretra no líquido amniótico. Os 10 semanas: As alças intestinais são claramente visíveis
produtos de excreção fetal são transferidos para a na extremidade proximal do cordão umbilical até a
circulação materna, passando através da membrana metade da décima semana.
placentária.
Os mesonefros se degeneram ao final do primeiro
trimestre. Ambos os embriões masculinos e femininos
contêm dois pares de ductos genitais: os ductos
mesonéfricos (ductos de Wolff ou wolffianos) e ductos
paramesonéfricos – ductos müllerianos). Os ductos
mesonéfricos desempenham um papel essencial no
desenvolvimento do sistema reprodutor masculino,
enquanto os ductos paramesonéfricos atuam no
desenvolvimento do sistema reprodutor feminino.
Vista lateral de um feto de 9 semanas na imagem da direita, mostrando
o tubérculo do seio na parede posterior do seio urogenital. Ele se torna
o hímen nas mulheres e o colículo seminal nos homens.

11 semanas: o intestino já retornou ao abdome. Os


centros primários de ossificação estão presentes nos ossos
longos e no crânio por volta da décima segunda semana.
As papilas linguais longas e numerosas são chamadas de
papilas filiformes, assim denominadas por causa do seu
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
aspecto muito delgado. Elas se desenvolvem durante o cérebro, e o viscerocrânio, que forma o esqueleto da face.
período fetal inicial (10 a 11 semanas) e contêm A parte membranosa do crânio é derivada das células da
terminações nervosas aferentes sensíveis ao tato. crista neural e do mesoderma paraxial. O mesênquima
dessas duas fontes recobre o cérebro e sofre ossificação
intramembranosa. O resultado é a formação de ossos
chatos e membranosos que são caracterizados por
estruturas semelhantes a uma agulha, chamadas de
espículas ósseas. Essas espículas se irradiam
progressivamente a partir de centros primários de
ossificação no sentido da periferia.

Ossos do crânio
de um feto de 3
meses mostram a
Feto de 11 semanas que sofreu aborto espontâneo. Seus sacos propagação das
coriônico e amniótico foram removidos. Observe que a cabeça é espículas ósseas a
relativamente grande – Embriologia básica de Moore partir dos centros
primários de
12 semanas: Por volta da 12ª semana, os centros ossificação nos
primários de ossificação já apareceram em quase todos ossos chatos do
os ossos dos membros. As clavículas começam a crânio.
ossificar antes dos demais ossos do corpo, seguidas pelos
fêmures. Praticamente todos os centros primários de
ossificação (diáfise) estão presentes ao nascimento. O
esqueleto axial abrange o crânio, a coluna vertebral, as Feto de 12 semanas no
costelas e o esterno. Em geral, o sistema esquelético se útero. Pele extremamente
desenvolve a partir do mesoderma da placa lateral fina e os vasos sanguíneos
(camada parietal) e paraxial e da crista neural. Os subjacentes. A face já tem
somitos se diferenciam na região ventromedial, todas as características
formando o esclerótomo, e na região dorsolateral, dando humanas, mas as orelhas
origem ao dermomiótomo. No final da quarta semana, as ainda são primitivas. Os
células do esclerótomo se tornam polimórficas e formam movimentos começam
nesse período, mas
o mesênquima, ou tecido conjuntivo embrionário. É uma
geralmente não são
característica das células mesenquimais sua migração e sentidos pela mãe.
diferenciação em muitos tecidos. Elas podem se tornar
fibroblastos, condroblastos ou osteoblastos (células
formadoras de ossos).
A capacidade de formação óssea do mesênquima não
está restrita às células do esclerótomo, ela também ocorre
na camada parietal do mesoderma da placa lateral da Normalmente, os testículos alcançam a região inguinal por
parede corporal. Essa camada de mesoderma forma os volta da 12a semana de gestação e chegam ao escroto na
ossos das cinturas pélvica e escapular, os membros e o 33a semana. O processo é influenciado por hormônios,
esterno. incluindo andrógenos e MIS. Independentemente da
descida dos testículos, o peritônio da cavidade abdominal
forma uma evaginação em cada lado da linha média na
parede abdominal ventral. Essa evaginação, o processo
vaginal, acompanha o trajeto do gubernáculo testicular até
as protuberâncias escrotais. Assim, o processo vaginal,
acompanhado pelas camadas muscular e fascial da parede
corporal, evagina na protuberância escrotal, formando o
canal inguinal.

O crânio pode ser subdividido em duas partes: o


neurocrânio, que forma uma caixa protetora ao redor do

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P

5° PASSO: Garantir o transporte público gratuito da


gestante para o atendimento pré-natal, quando necessário.
Compreender o pré-natal e classificá-lo (alto e baixo 6° PASSO: É direito do(a) parceiro(a) ser cuidado
risco), relacionando com a mortalidade materno-fetal.
(realização de consultas, exames e ter acesso a
informações) antes, durante e depois da gestação: "pré-
Pré-Natal é o acompanhamento que toda gestante deve natal do(a) parceiro(a)".
ter, indicado pela Organização Mundial da Saúde 7° PASSO: Garantir o acesso à unidade de referência
(OMS), com o objetivo de acompanhar a condição de especializada, caso seja necessário.
saúde da mãe e do bebê, prevenindo, tratando e 8° PASSO: Estimular e informar sobre os benefícios do
orientando os possíveis diagnósticos de qualquer parto fisiológico, incluindo a elaboração do "Plano de
alteração na saúde dos dois. O principal objetivo da Parto".
assistência pré-natal é acolher a mulher desde o início de 9° PASSO: Toda gestante tem direito de conhecer e visitar
sua gravidez - período de mudanças físicas e emocionais previamente o serviço de saúde no qual irá dar à luz
-, que cada gestante vivencia de forma distinta. Em geral, (vinculação).
a consulta de pré-natal envolve procedimentos bastante 10° PASSO: As mulheres devem conhecer e exercer os
simples, podendo o profissional de saúde dedicar-se a direitos garantidos por lei no período gravídico-puerperal.
escutar as demandas da gestante, transmitindo nesse
momento o apoio e a confiança necessários para que ela As ações de saúde devem estar voltadas para a cobertura
se fortaleça e possa conduzir com mais autonomia a de toda a população-alvo da área de abrangência da
gestação e o parto. unidade de saúde, assegurando minimamente 6 (seis)
10 Passos para o Pré-Natal de Qualidade na Atenção consultas de pré-natal e continuidade no atendimento, no
Básica acompanhamento e na avaliação do impacto destas ações
1° PASSO: Iniciar o pré-natal na Atenção Primária à sobre a saúde materna e perinatal.
Saúde até a 12ª semana de gestação (captação precoce)
2° PASSO: Garantir os recursos humanos, físicos, Após confirmação da gravidez em consulta médica ou de
materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal. enfermagem, dá-se o início do acompanhamento da
3° PASSO: Toda gestante deve ter assegurado a gestante, registrando-se os seguintes aspectos:
solicitação, realização e avaliação em termo oportuno do • nome, idade e endereço da gestante;
resultado dos exames preconizados no atendimento pré- • data da última menstruação;
natal. • idade gestacional;
4° PASSO: Promover a escuta ativa da gestante e de • trimestre da gravidez no momento em que iniciou o pré-
seus(suas) acompanhantes, considerando aspectos natal: − abaixo de 13 semanas - 1° trimestre; − entre 14 e
intelectuais, emocionais, sociais e culturais e não 27 semanas - 2° trimestre; − acima de 28 semanas - 3°
somente um cuidado biológico: "rodas de gestantes". trimestre;

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
• avaliação nutricional: utilizando a curva de peso/idade • Oferta de atendimento clínico e psicológico à gestante
gestacional e/ou medida do perímetro braquial. Nesse vítima de violência, seja esta de qualquer tipo (doméstica,
momento, a gestante deverá receber as orientações física, sexual, psicológica etc.), seja àquela em risco de
necessárias referentes ao acompanhamento pré-natal - depressão pós-parto, referenciando-a para equipes
seqüência das consultas médica e de enfermagem, visitas especializadas e/ou encaminhamento para serviços
domiciliares e reuniões educativas. Deverão ser específicos, conforme fluxograma local;
fornecidos: • Visita domiciliar às gestantes e puérperas,
principalmente no último mês de gestação e na primeira
Para um bom pré-natal, é preciso: semana após o parto, com o objetivo de monitorar a mulher
• Realização do cadastro da gestante, após confirmada a e a criança, orientar cuidados adequados, identificar
gravidez, por intermédio do preenchimento da ficha de possíveis fatores de risco e realizar os encaminhamentos
cadastramento do SisPreNatal ou diretamente no sistema necessários; Atenção à puérpera e ao recém-nascido na
para os serviços de saúde informatizados, fornecendo e primeira semana após o parto e na consulta puerperal (até
preenchendo o Cartão da Gestante; o 42º dia após o parto).
• Classificação do risco gestacional (em toda consulta) • Realização de testes rápidos na unidade básica de saúde,
e encaminhamento, quando necessário, ao pré-natal de assim como apoio laboratorial, garantindo a realização dos
alto risco ou à urgência/emergência obstétrica; seguintes exames de rotina:
• Acompanhamento periódico e contínuo de todas as
gestantes, para assegurar seu seguimento durante toda a
gestação, em intervalos preestabelecidos (mensalmente,
até a 28ª semana; quinzenalmente, da 28ª até a 36ª
semana; semanalmente, no termo), acompanhando-as
tanto nas unidades de saúde quanto em seus domicílios,
bem como em reuniões comunitárias, até o momento do
pré-parto/parto, objetivando seu encaminhamento
oportuno ao centro obstétrico, a fim de evitar sofrimento
fetal por pós-datismo. Toda gestante com 41 semanas
deve ser encaminhada para a avaliação do bem-estar
fetal, incluindo avaliação do índice do líquido amniótico
e monitoramento cardíaco fetal;
• Incentivo ao parto normal e à redução da cesárea;
• Realização de anamnese, exame físico e exames
complementares indicados;
• Imunização; Realizar a anamnese englobando antecedentes, história da
• Oferta de medicamentos necessários (inclusive sulfato paciente, data provável do parto, idade gestacional. O
ferroso, para tratamento e profilaxia de anemia, e ácido exame físico deve conter o IMC e ganho de peso, palpação
fólico, com uso recomendado desde o período pré- do abdome, manobras de Leopold, escuta dos batimentos
concepcional e durante o primeiro trimestre de gestação); cardiofetais, altura uterina, exame das mamas e
• Diagnóstico e prevenção do câncer de colo de útero e ginecológico, exame especular, orientações a queixas
de mama; gerais e sintomas comuns.
• Avaliação do estado nutricional e acompanhamento do
ganho de peso no decorrer da gestação;
• Atenção à adolescente conforme suas especificidades;
• Realização de práticas educativas, abordando
principalmente: (a) o incentivo ao aleitamento materno,
ao parto normal e aos hábitos saudáveis de vida; (b) a
identificação de sinais de alarme na gravidez e o
reconhecimento do trabalho de parto; (c) os cuidados
com o recém-nascido; (d) a importância do
acompanhamento pré-natal, da consulta de puerpério e
do planejamento familiar; (e) os direitos da gestante e do
pai; (f) os riscos do tabagismo, do uso de álcool e de
outras drogas; e (g) o uso de medicações na gestação.
Tais práticas podem ser realizadas de forma individual
ou coletiva, por meio de grupos de gestantes, sala de
espera, intervenções comunitárias etc.;
• Identificação do risco de abandono da amamentação e
encaminhamento da gestante aos grupos de apoio ao
aleitamento materno e/ou ao banco de leite humano
(BLH) de referência;
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
Classificação de risco gestacional Fatores de risco que podem indicar encaminhamento
Devido a alguns fatores de risco, algumas gestantes ao prénatal de alto risco
podem apresentar maior probabilidade de evolução O pré-natal de alto risco abrange cerca de 10% das
desfavorável. São as chamadas “gestantes de alto risco”. gestações que cursam com critérios de risco, o que
Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade aumenta significativamente nestas gestantes a
materno-infantil e ampliar o acesso com qualidade, é probabilidade de intercorrências e óbito materno e/ou
necessário que se identifiquem os fatores de risco fetal. Atenção especial deverá ser dispensada às grávidas
gestacional o mais precocemente possível. Dessa forma, com maiores riscos, a fim de reduzir a morbidade e a
o acolhimento com classificação de risco pressupõe mortalidade materna e perinatal
agilidade no atendimento e definição da necessidade de Fatores relacionados às condições prévias:
cuidado e da densidade tecnológica que devem ser • Cardiopatias;
ofertadas às usuárias em cada momento. De maneira • Pneumopatias graves (incluindo asma brônquica);
geral, o acolhimento, em especial à gestante, objetiva • Nefropatias graves (como insuficiência renal crônica e
fornecer não um diagnóstico, mas uma prioridade em casos de transplantados);
clínica, o que facilita a gestão da demanda espontânea e, • Endocrinopatias (especialmente diabetes mellitus,
consequentemente, permite que haja impacto na história hipotireoidismo e hipertireoidismo);
natural de doenças agudas graves e potencialmente • Doenças hematológicas (inclusive doença falciforme e
fatais, que, se não atendidas como prioridades, podem talassemia);
levar à morte, por exemplo, uma gestante com síndrome • Hipertensão arterial crônica e/ou caso de paciente que
hipertensiva. Portanto, é indispensável que a avaliação faça uso de anti-hipertensivo (PA>140/90mmHg antes de
do risco seja permanente, ou seja, aconteça em toda 20 semanas de idade gestacional – IG);
consulta. Em contrapartida, quando são identificados • Doenças neurológicas (como epilepsia);
fatores associados a um pior prognóstico materno e •Doenças psiquiátricas que necessitam de
perinatal, a gravidez é definida como de alto risco, acompanhamento (psicoses, depressão grave etc.);
passando a exigir avaliações mais frequentes, muitas • Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, outras
vezes fazendo-se uso de procedimentos com maior colagenoses);
densidade tecnológica. • Alterações genéticas maternas;
• Antecedente de trombose venosa profunda ou embolia
Fatores de risco que permitem a realização do pré- pulmonar;
natal pela equipe de atenção básica • Ginecopatias (malformação uterina, miomatose, tumores
Fatores relacionados às características individuais e anexiais e outras);
às condições sociodemográficas desfavoráveis: • Portadoras de doenças infecciosas como hepatites,
• Idade menor do que 15 e maior do que 35 anos; toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG
• Ocupação: esforço físico excessivo, carga horária com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma);
extensa, rotatividade de horário, exposição a agentes • Hanseníase; • Tuberculose;
físicos, químicos e biológicos, estresse; • Dependência de drogas lícitas ou ilícitas;
• Situação familiar insegura e não aceitação da gravidez, • Qualquer patologia clínica que necessite de
principalmente em se tratando de adolescente; acompanhamento especializado.
• Situação conjugal insegura; Fatores relacionados à história reprodutiva anterior:
• Baixa escolaridade (menor do que cinco anos de estudo • Morte intrauterina ou perinatal em gestação anterior,
regular); principalmente se for de causa desconhecida;
• Condições ambientais desfavoráveis; • História prévia de doença hipertensiva da gestação, com
• Altura menor do que 1,45m; mau resultado obstétrico e/ou perinatal (interrupção
• IMC que evidencie baixo peso, sobrepeso ou prematura da gestação, morte fetal intrauterina, síndrome
obesidade. Hellp, eclâmpsia, internação da mãe em UTI);
Fatores relacionados à história reprodutiva anterior: • Abortamento habitual;
• Recém-nascido com restrição de crescimento, pré- • Esterilidade/infertilidade.
termo ou malformado; Fatores relacionados à gravidez atual:
• Macrossomia fetal; • Restrição do crescimento intrauterino;
• Síndromes hemorrágicas ou hipertensivas; • Polidrâmnio ou oligoidrâmnio;
• Intervalo interpartal menor do que dois anos ou maior • Gemelaridade;
do que cinco anos; • Malformações fetais ou arritmia fetal;
• Nuliparidade e multiparidade (cinco ou mais partos); • Distúrbios hipertensivos da gestação (hipertensão
• Cirurgia uterina anterior; crônica preexistente, hipertensão gestacional ou
• Três ou mais cesarianas. transitória);
Fatores relacionados à gravidez atual: • Infecção urinária de repetição ou dois ou mais episódios
• Ganho ponderal inadequado; de pielonefrite (toda gestante com pielonefrite deve ser
• Infecção urinária; inicialmente encaminhada ao hospital de referência, para
• Anemia. avaliação);

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
• Anemia grave ou não responsiva a 30-60 dias de Pesquisar a triagem pré-natal e quais os marcadores
tratamento com sulfato ferroso;
• Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, ultrassonográficos do primeiro trimestre.
toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG O objetivo do diagnóstico e triagem pré-natais é informar
com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma); às mulheres grávidas e casais sobre os riscos de defeitos
• Infecções como a rubéola e a citomegalovirose congênitos e de doenças genéticas em seus fetos e lhes
adquiridas na gestação atual; fornecer escolhas de como gerenciar esse risco.
• Evidência laboratorial de proteinúria; A triagem pré-natal tradicionalmente se refere a testes para
• Diabetes mellitus gestacional; certos defeitos congênitos comuns, como aneuploidias
• Desnutrição materna severa; cromossômicas, defeitos do tubo neural e outras
• Obesidade mórbida ou baixo peso (nestes casos, deve- anomalias estruturais na gravidez conhecida por ter
se encaminhar a gestante para avaliação nutricional); um risco aumentado para um defeito congênito ou
• NIC III (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao doença genética. Os testes de triagem foram
oncologista); desenvolvidos pelo fato de defeitos congênitos comuns
• Alta suspeita clínica de câncer de mama ou mamografia muitas vezes ocorrerem em gravidezes em que se
com Bi-rads III ou mais (nestes casos, deve-se desconhece a presença de qualquer risco aumentado, e,
encaminhar a gestante ao oncologista); sendo assim, o diagnóstico pré-natal não seria oferecido
• Adolescentes com fatores de risco psicossocial. aos pais. Tais testes são tipicamente não invasivos,
Fatores de risco que indicam encaminhamento à baseados na coleta de amostras de sangue materno ou
urgência/ emergência obstétrica em imagens, normalmente pela ultrassonografia ou
• Síndromes hemorrágicas (incluindo descolamento ressonância magnética (RM).
prematuro de placenta, placenta prévia), Tradicionalmente, a distinção entre diagnóstico pré-natal
independentemente da dilatação cervical e da idade e triagem pré-natal é baseada em:
gestacional; • Se a gravidez esteve ou não sob risco de um distúrbio em
• Suspeita de pré-eclâmpsia: pressão arterial > 140/90, particular.
medida após um mínimo de 5 minutos de repouso, na • Se o objetivo do teste foi um diagnóstico definitivo de
posição sentada. Quando estiver associada à proteinúria, um distúrbio em particular ou uma avaliação de risco em
pode-se usar o teste rápido de proteinúria; comparação com o risco de fundo da população.
• Sinais premonitórios de eclâmpsia em gestantes • Se o teste foi ou não invasivo.
hipertensas: escotomas cintilantes, cefaleia típica Na assistência pré-natal moderna a ultrassonografia mais
occipital, epigastralgia ou dor intensa no hipocôndrio importante é aquela de 1° trimestre (11 a 13 +6 semanas),
direito; constituindo o modelo piramidal da assistência pré-natal.
• Eclâmpsia (crises convulsivas em pacientes com pré- Serve para datação da gravidez, rastreamento de
eclâmpsia); aneuploidias, diagnóstico de anomalias fetais, diagnóstico
• Crise hipertensiva (PA > 160/110); de gemelidade, predição de toxemia gravídica e de parto
• Amniorrexe prematura: perda de líquido vaginal pré-termo.
(consistência líquida, em pequena ou grande quantidade,
mas de forma persistente), podendo ser observada A amniocentese acompanhada de análise cromossômica
mediante exame especular com manobra de Valsalva e por microarranjos já está sendo oferecida a toda mulher
elevação da apresentação fetal; grávida, como teste de triagem, não apenas para as
• Isoimunização Rh; aneuploidias cromossômicas comuns, mas também para
• Anemia grave (hemoglobina < 8); outros desequilíbrios genômicos independentemente da
• Trabalho de parto prematuro (contrações e modificação avaliação de riscos baseada na história pessoal ou familiar
de colo uterino em gestantes com menos de 36 semanas); ou dos resultados de testes de triagem não invasivos.
• IG a partir de 41 semanas confirmadas; Triagem para Defeitos do Tubo Neural
• Hipertermia (Tax > = 37,8C), na ausência de sinais ou A AFP, alfa feto proteína, principal proteína do soro
sintomas clínicos de Ivas; fetal, é indicada para gestações que estão sendo
• Suspeita/diagnóstico de abdome agudo em gestantes; submetidas à amniocentese devido a um alto risco para
• Suspeita/diagnóstico de pielonefrite, infecção ovular ou DTN, defeitos no tubo neural, aberto. Porém, como cerca
outra infecção que necessite de internação hospitalar; de 95% de crianças com DTNs nascem em famílias sem
• Suspeita de trombose venosa profunda em gestantes histórico conhecido dessa malformação, um teste de
(dor no membro inferior, edema localizado e/ou triagem relativamente simples, como um teste não
varicosidade aparente); invasivo de MSAFP, rastreamento da alfaproteína do soro
• Investigação de prurido gestacional/icterícia; materno (MSAFP) pode ser solicitado, constitui uma
• Vômitos incoercíveis não responsivos ao tratamento, ferramenta importante para o diagnóstico, a prevenção e o
com comprometimento sistêmico com menos de 20 manejo pré-natal. Quando o feto possui um DTN aberto,
semanas; a concentração de AFP no soro materno é
• Vômitos inexplicáveis no 3º trimestre; provavelmente mais alta do que o normal, bem como no
• Restrição de crescimento intrauterino; líquido amniótico. Essa observação é a base para o uso da
• Oligoidrâmnio;
@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
medição de MSAFP na 16° semana como uma triagem
para DTN aberto. Embora uma concentração elevada de
MSAFP em hipótese alguma seja específica de uma
gestação com DTN aberto, muitas das outras causas da
concentração elevada de MSAFP podem ser distinguidas
de DTN aberto por ultrassonografia fetal.

As razões para a seleção de 13 semanas e seis dias como


o limite superior são:
• oferecer a mulheres com fetos acometidos a opção
de interrupção da gravidez no primeiro trimestre;
• a incidência de acúmulo de fluido nucal em
excesso em fetos com anomalias cromossômicas é menor
entre 14–18 semanas;
• a taxa de sucesso na obtenção da medida da TN
entre 10–13 semanas é de 98–100%, diminuindo para 90%
na 14ª semana, pois o feto assume uma posição vertical, o
que dificulta a obtenção adequada da imagem.
Existem duas razões para a escolha de 11 semanas
como a idade gestacional mais precoce para a medida
da TN:
Triagem para a Síndrome de Down e Outras • primeiramente, porque a biópsia de vilosidades
Aneuploidias coriônicas (BVC) não deve ser realizada antes dessa idade
Mais de 70% de todas as crianças com as principais gestacional (devido ao risco de amputação transversa de
trissomias autossômicas nascem de mulheres sobre as membros fetais);
quais não são conhecidos fatores de risco, incluindo a • em segundo lugar, sabe-se que muitas
idade materna avançada. Uma solução para esse malformações fetais graves podem ser diagnosticadas por
problema foi primeiramente sugerida pela descoberta meio da ultrassonografia no primeiro trimestre, desde que
inesperada de que a concentração de MSAFP (medida, a idade gestacional mínima por ocasião do exame seja de
como discutido, durante o segundo trimestre como 11 semanas.
uma triagem para DTN) estava abaixo dos níveis
normais em várias gestações. Depois descobriram que
essas mulheres estavam gerando fetos com trissomia
autossômica, particularmente as trissomias do 18 e do
21. A concentração de MSAFP sozinha tem
sobreposição demasiada entre gestações não afetadas e
gestações de síndrome de Down para ser considerada por
si só uma ferramenta útil para triagem.

A triagem do primeiro trimestre é realizada, de modo


ideal, entre a 11° e a 13° semana de gestação, e conta
com a medição dos níveis de certos analitos no soro
materno em combinação com exames
ultrassonográficos altamente direcionados. Os
analitos utilizados são a proteína A plasmática
associada à gravidez (PAPP-A) e o hormônio
gonadotrofina coriônica humana (hCG), tanto como
hCG total quanto como sua subunidade P livre. A PAPP-
A está abaixo da faixa normal em todas as trissomias;
a hCG (ou b-hCG livre) está aumentada na trissomia Medidas da Translucência nucal com 11 semanas de gestação.
do 21, mas diminuída em outras trissomias. As Translucência nucal é uma zona escura, livre de eco, sob a
pele em um corte sagital ultrassonográfico através do feto e
medições dos analitos são combinadas às medições
está indicada por dois sinais " + " conectados por uma linha
ultrassonográficas da translucência nucal (NT), amarela. A média da translucência nucal é de 1,2 mm com 11
definida pela espessura do espaço livre de eco entre a semanas de gestação (95° percentil até 2 mm) e 1,5 mm com 14
pele e o tecido mole que recobre o aspecto dorsal da semanas de gestação (95° percentil até 2,6 mm).
espinha cervical causado por edema subcutâneo do A. Translucência nucal de 1,2 mm em um feto normal de 11
pescoço do feto. Um aumento na NT é comumente semanas, a média normal para um feto neste período gestacional.
visto nas trissomias do 21, do 13 e do 18 e em fetos B. Translucência nucal aumentada de 5,9 mm, a qual é
45,X. aproximadamente 20 desvios-padrão acima da média e
associada a um grande risco para síndrome de Down.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Desenvolvimento do feto e pré-natal Medicina-FPME-3°P
Ultrassonografia de 1° trimestre (11 a 13 +6 semanas) O CCN é melhor indicador da idade gestacional do que o
Deve ser realizada entre a 11a e 14a semana, podendo diâmetro médio do SG (DMS). Todavia, esse último
realizar triagem de cromossomopatias, com avaliação parâmetro deve ser considerado se o embrião ainda não foi
do osso nasal o que eleva o índice de detecção precoce identificado. A visualização de SG com a presença da VV
de síndrome de Down em 88%; além disso, também é ou do embrião deve ser cuidadosa. Sem esses achados,
possível avaliar a translucência nucal e presença do ducto coleção de líquido intrauterina e reação decidual podem
venoso inseridas na avaliação das cromossomopatias. estar associadas ao saco pseudo gestacional, sinal de
O primeiro passo é determinar a presença do saco gravidez ectópica.
gestacional (SG) no útero em local apropriado, O corte transversal da cabeça fetal é obrigatório para
eventualmente no colo e nos anexos. O SG, que atestar a normalidade do plexo coroide (sinal da
representa a cavidade coriônica, é coleção pequena de borboleta). A ausência do sinal da borboleta é
líquido, anecoica, cercada por anel ecogênico, o indicativo certo de holoprosencefalia e indicação de
trofoblasto e a reação decidual. Com a ultrassonografia cariótipo fetal.
vaginal é possível identificar o SG com 5 semanas. O útero, incluindo os anexos, também deve ser pesquisado.
A vesícula vitelina pode ser visualizada a partir de 5,5 Massas anexiais, miomas e malformações uterinas serão
semanas e com 6 semanas, o eco embrionário com os descritos. O fundo de saco posterior deve ser avaliado para
batimentos cardiofetais (bcf). Em torno da 10 a à 12 a a possível presença de líquido.
Suplementação vitamínica durante a gravidez.
semana, aparece espessamento no SG, que representa
a placenta em desenvolvimento e o seu lugar de
implantação no útero. Com 12 semanas, a placenta pode Ferro: É recomendado o aumento do consumo de ferro
ser facilmente identificada e com 16 semanas tem durante a gravidez, pois inúmeras revisões sistemáticas
estrutura definida. Acompanhando o desaparecimento do têm mostrado que a suplementação de ferro reduz em 70%
SG, a partir de 11 a 12 semanas, individualiza-se a o risco de anemia na gestação e no puerpério. O Ministério
cabeça do feto. da Saúde recomenda a ingesta de 40mg/dia de ferro
elementar (200mg de sulfato ferroso) sempre 1 hora antes
das refeições devendo a mesma ser mantida por 3 meses
no pós-parto ou pós-aborto.
Ácido fólico (vitamina B9): Esta vitamina contribui para
o fechamento do tubo neural que acontece na 6a semana
de gestação, sendo fundamento da prevenção de defeitos
de fechamento de tubo neural como espinha bífida,
meningomielocele, acrania, anencefalia, meningocele,
encefalocele. Nas populações de baixo risco para tal
patologia recomenda-se o uso de 0,4-0,8mg/dia de ácido
fólico 1 mês antes da gravidez até a 12ª semana de
gestação. Para aquelas populações de alto risco
recomenda-se a dose de 5mg/dia.
Cálcio: Recomenda-se a suplementação deste
oligoelemento em populações que possuem deficiência do
mesmo e, naquelas mulheres que tem risco de desenvolver
hipertensão e pré-eclâmpsia. A suplementação pode ser
feita com 1,5-2g de cálcio diariamente, ressaltando que a
gestante precisa ter cerca de 30g de cálcio por dia para
garantir uma boa formação do esqueleto fetal.

Referências:
• https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/201901/09090527-guia-
pre-natal-na-atencao-basica-web.pdf
• https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_pre_natal_baixo_risco.pdf
• MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J. Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
• https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4128230/mod_folder/content/0/T14.%2
0Diagn%C3%B3stico%20Pr%C3%A9-
Natal/cap.17%20Thompson.pdf?forcedownload=1
• Sanarflix – Assistência pré-natal
• Thompson & Thompson Genética Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Cap 17.
• https://drpixel.fcm.unicamp.br/conteudo/rastreamento-ultrassonografico-de-
cromossomopatias-no-primeiro-trimestre-da-gestacao
• MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia Básica. 9. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2016.
Medida do comprimento cabeça-nádega (CCN) em • Langman Embriologia Médica. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
gestação de 11 semanas e 6 dias. 2005. SCHOENWOLF, G.C

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
Compreender o desenvolvimento fetal da 13º até desenvolvidos com cerca de 14 semanas após a concepção.
16º semana 16 semanas: Com 16 semanas, a cabeça é relativamente
pequena em comparação com a de um feto de 12 semanas,
e os membros inferiores estão mais compridos.
Os ossos em desenvolvimento são claramente visíveis em
imagens de ultrassom nesse período. Os ovários são
diferenciados e contêm folículos ovarianos primordiais
com ovogônias (células germinativas primordiais). Os
olhos ocupam uma posição anterior na face, e não mais
anterolateral. As glândulas submandibulares começam a
atividade secretora. O fundo de útero estará a meia
distância entre a sínfise púbica e o umbigo.
Durante 16 semanas, todos os principais elementos do
pulmão se formam, exceto aqueles envolvidos com a
14 semanas: Os movimentos dos membros, que ocorrem troca gasosa. A respiração não é possível;
pela primeira vez no final do período embrionário, consequentemente, os fetos nascidos durante esse período
tornam- se coordenados a partir da 14ª semana, mas ainda são incapazes de sobreviver. Há presença de lanugem e
são discretos demais para serem sentidos pela mãe. No início do vernix caseoso.
entanto, esses movimentos são visíveis nos exames de
ultrassom. Movimentos lentos dos olhos ocorrem com 14
semanas. A padronização dos cabelos do couro cabeludo
também é determinada durante este período.
No 2° trimestre, a gravidez pode ser datada pela
medida do diâmetro biparietal (DBP) ou pelo Elucidar as TORSCHs - Z (analisar o exame
comprimento do fêmur (CF), com precisão de ± 10 VDRL e demais exames) Toxoplasmose – Outras
dias. O DBP é medido no nível do tálamo e do cavo do doenças – Rubéola – Citomegalovírus – Herpes - zika
septo pelúcido. A medida é realizada entre a borda externa
do parietal proximal e a borda interna do parietal distal. Até 2015, os patógenos mais frequentemente relacionados
às infecções uterinas com potencial risco ao feto eram a
bactéria Treponema pallidum que causa a sífilis (S), o
protozoário Toxoplasma gondii que causa a toxoplasmose
(TO) e o vírus da rubéola (R), citomegalovírus (C), vírus
herpes simplex (H), compondo o acrônimo STORCH. Este
foi ampliado para STORCH+Z, com a epidemia do vírus
Zika no Brasil. Algumas referências colocam a letra O
como “outras doenças”.
As relações entre o feto e a mãe são necessariamente feitas
pelas membranas placentária e amniótica. Assim, as vias
de penetração dos germes são divididas em dois grupos:
Via transplacentária
Via transamniótica
A α-fetoproteína (AFP) é produzida normalmente Infecção transplacentária: Os microrganismos
pelo fígado fetal e atinge seu valor máximo em procedentes do sangue materno cruzam a placenta,
aproximadamente 14 semanas, quando “extravasa” alcançam a circulação fetal e se disseminam
Infecção transamniótica: Os germes da vagina e do colo
para a circulação materna pela placenta. Assim, as
acometem a cavidade amniótica e o feto.
concentrações de AFP aumentam no soro materno
A. Infecção transplacentária. B. Infecção transamniótica.
durante o segundo trimestre e, então, começam a declinar
de modo constante após a trigésima semana de gestação. Infecção paranatal: É adquirida por
Depois das 14 semanas, tem sido identificada amilase no contato direto com as secreções
líquido amniótico, embora a maiorias das outras enzimas maternas, no momento da passagem
estejam presentes somente depois das 16 semanas, com as do feto pelo canal do parto; o mesmo
quantidades aumentando conforme a idade gestacional. O ocorre com relação à infecção pelo
hipotálamo terá origem na parte ventral do diencéfalo, herpes simples genital, hepatite B,
com todos os seus núcleos diferenciados e plenamente estreptococo do grupo B (GBS) –
condicionam infecção neonatal.
@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
T - Toxoplasmose: sintomas clínicos e deficiências na segunda ou terceira
Parasita intracelular obrigatório, se apresenta como década da vida (coriorretinite, problemas neurológicos e
oocisto, taquizoíto e cisto. Os hospedeiros intermediários psicomotores, convulsões, retardamento mental).
são principalmente o porco, a ovelha e o ser humano; os
hospedeiros definitivos são membros da família Felidae,
e o exemplo típico é o gato doméstico. As três principais
formas de transmissão da toxoplasmose são a ingesta de
carne crua ou malcozida, a exposição a fezes de gatos
contaminadas com oocistos e a transmissão vertical.

Imagens ultrassonográficas demonstrando focos de calcificação


intracraniana (setas; A) e halo periventricular (B) em feto
Transmissão congênita acometido pela toxoplasmose congênita.

A infecção primária adquirida antes da gravidez não Diagnóstico da infecção na mãe


afeta o concepto, exceto em mulher imunodeprimida. No
A sorologia IgG e IgM para toxoplasmose é obrigatória
entanto, é aconselhável que, após infecção por
na primeira consulta pré-natal. A soroconversão para
toxoplasmose, a mulher espere 6 meses para engravidar.
IgG e IgM preenche os requisitos para o diagnóstico.
A infecção primária ocorrida na gestação pode ser
Baixos níveis de IgM podem permanecer por diversos
transmitida ao feto pela via transplacentária.
anos. Exames pareados, com intervalo de 2 a 3 semanas,
Eventualmente, taquizoítos atravessam a placenta e
com aumento do título de IgG de pelo menos 4 vezes,
alcançam a circulação e os tecidos fetais. A toxoplasmose indicam infecção aguda. Assim, passa a ser fundamental
congênita pode determinar abortamento e identificar quais dessas mulheres com IgM positivo foram
malformação fetal, com graves repercussões no
infectadas antes ou durante a gravidez. O teste de avidez
recém-nascido, inclusive levando ao óbito. Enquanto o
IgG é muito útil para esse propósito, e separa a infecção
risco de transmissão para o feto aumenta com a duração
antiga da recente. A alta avidez (> 60%) no primeiro
da gravidez – 15% no primeiro trimestre, 30% no segundo trimestre significa infecção há > 3 a 4 meses; portanto,
e 60% no terceiro –, a sua gravidade diminui. antes da gravidez. Ao contrário, a baixa avidez (< 30%)
Cerca de 10% das infecções resultam em abortamento; indica infecção recente (< 3 meses); o resultado
apenas 10 a 15% dos recém-nascidos infectados in utero intermediário (30 a 60%) é inconclusivo. O valor
mostram sinais de toxoplasmose ao nascimento. Os sinais preditivo positivo do teste de avidez é muito superior ao
clássicos da tríade toxoplasmósica são: coriorretinite, valor preditivo negativo, ou seja, a baixa avidez não
calcificações intracerebrais e hidrocefalia. Outros assegura a infecção fetal e a alta avidez praticamente a
recém-nascidos exibem variedade de sintomas da afasta. Por fim, se houver titulação IgG positiva e IgM
infecção aguda – convulsões, esplenomegalia, febre, negativa, a infecção é considerada antiga e o feto,
anemia, icterícia e linfadenopatia. Dentre os recém- protegido.
nascidos infectados sintomáticos, aproximadamente 10 a
Diagnóstico da infecção fetal
15% morrem da doença; os recém-nascidos que
sobrevivem sofrem de progressivo retardamento É realizado por PCR no líquido amniótico. O teste só
mental ou de outras deficiências neurológicas. No deve ser oferecido após 18 semanas da gestação e
entanto, se a transmissão ocorrer mais tarde na gravidez, decorridas 4 semanas da infecção materna
especialmente após 20 semanas, ela é muito menos grave. (soroconversão), para reduzir a taxa de resultados falso-
A maioria das crianças infectadas (85 a 90%) não negativos. Eventualmente, o diagnóstico pode ser feito por
apresenta sintomas ao nascimento – infecção subclínica ultrassonografia, que mostra calcificações intracerebrais,
ou assintomática – e somente serão diagnosticadas por ventriculomegalia, hidrocefalia, microcefalia, ascite,
exames laboratoriais (sorologia IgM). Embora possam hepatoesplenomegalia, CIR acentuado e placentomegalia.
parecer saudáveis ao nascimento, podem demonstrar
@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
Lembrar da tétrade de Sabin. O – Outras doenças
Tratamento Hepatite B
Dentre as hepatites virais, a hepatite B é de grande
O tratamento da infecção na gravidez é realizado
importância obstétrica pelas elevadas taxas de transmissão
imediatamente após a soroconversão com a
espiramicina (3 g/dia), a fim de reduzir a transmissão vertical, gravidade da infecção neonatal e possibilidade de
fetal (profilaxia secundária), o que se consegue em 60% prevenção.
dos casos. Estima-se que, para alcançar esse objetivo, o A via de transmissão ao recém-nascido é o parto
tratamento deva ser iniciado dentro de 3 semanas da (paranatal). Se a mãe for HBsAg e HBeAgpositiva, a taxa
soroconversão (janela da espiramicina), motivo pelo de transmissão ao bebê é de 90%; se for positiva apenas
qual a sorologia nas mulheres negativas será mensal, e para o HBsAg, a taxa cai para 15%. Cerca de 70 a 90% dos
não trimestral como aconselha o Ministério da Saúde. recém-nascidos infectados desenvolverão infecção
Caso seja confirmada a infecção fetal por PCR-LA ou crônica, com potencial para a cirrose e o câncer de fígado.
ultrassonografia, é iniciado o tratamento com a Diagnóstico laboratorial
pirimetamina/sulfadiazina – pirimetamina, 50 É possível identificar o HBssAg na infecção aguda e ele
mg/dia; sulfadiazina, 3 g/dia; e ácido folínico, 15 pode ser marcador de infecção crônica quando presente
mg/dia, por 3 semanas – alternando com a espiramicina,
por mais de 6 meses no indivíduo contaminado. O HBeAg,
também por 3 semanas. A pirimetamina/sulfadiazina está
contraindicada no primeiro trimestre da gravidez, quando positivo, indica replicação viral. A sorologia para
período no qual será mantida apenas a espiramicina. A HBsAg é exame de rotina no pré-natal.
espiramicina, mesmo se a PCR-LA for negativa, não será Profilaxia
interrompida, mas mantida durante toda a gestação. O Embora a infecção seja paranatal, não há indicação de
tratamento dos recém-nascidos infectados cesárea. A vacina para hepatite B é obrigatória para evitar
assintomáticos é muito recomendado para reduzir a a infecção no recém-nascido: a primeira dose é feita com
gravidade das sequelas. menos de 12 h do nascimento; a segunda, 1 mês após a
primeira; e a terceira dose, 6 meses após a inicial. Aqueles
com mãe HBsAg-positiva receberão, nas primeiras 12 h,
além da vacina, uma dose (0,5 mℓ IM) de
imunoglobulina hiperimune anti-hepatite B.

AIDS
AIDS (acquired immune deficiency syndrome) é a doença
causada pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência
humana), retrovírus RNA, linfotrópico, que pode
permanecer por um longo período no corpo (fase
assintomática) antes que danos causados por ele apareçam
como sintomas visíveis; quando a enfermidade surge,
caracteriza a AIDS doença. A AIDS tem o seu aspecto
principal na imunossupressão da resposta imune
mediada pelos linfócitos T-CD4, que o vírus ataca,
parasita e inutiliza, diretamente.
O vírus HIV desarma gradualmente o sistema
imunológico, tornando o doente cada vez mais
vulnerável a qualquer infecção ocasionada por outro
vírus, bactéria, fungo ou parasita. Essas infestações
oportunistas ocorrem principalmente na pele, nos
pulmões, no sistema digestivo, nos nervos e no cérebro.
Exames diagnósticos
O mais utilizado é o teste ELISA, atualmente de quarta
geração, que detecta anticorpos HIV-1 e HIV-2 no
sangue, em menos de 2 semanas da contaminação. O
resultado positivo deverá ser sempre confirmado pelo
Western blot, que é definitivo. Há também o teste rápido,
que apresenta o resultado em menos de 30 min.
As vias de transmissão na gravidez são:
transplacentária, paranatal e amamentação. A
transmissão vertical da AIDS está estimada em 25% caso
nenhuma medida preventiva seja tomada. Desse total, 20%
da transmissão ocorre antes de 36 semanas; 50%, entre 36
semanas e o parto; e 30%, durante o parto.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
O risco de transmissão do aleitamento natural pode ser primária, secundária e latente inicial; e de 30% nas fases
tão elevado quanto 15%, quando continuado por 2 anos. latente tardia e terciária (MS, 2006).
Totalizando a gravidez e a amamentação, o risco de Há possibilidade de transmissão direta do T. pallidum por
transmissão vertical da AIDS é de 40%. Com o uso da meio do contato da criança pelo canal de parto, se houver
terapia antirretroviral na gestação, a prática da lesões genitais maternas. Durante o aleitamento, ocorrerá
cesárea e a proibição da amamentação, a transmissão apenas se houver lesão mamária por sífilis.
vertical do HIV ficou reduzida a < 2% A infecção in utero pode determinar abortamento,
Exames de laboratório específicos natimortalidade, hidropisia fetal não imune (HFNI),
Na gestante infectada pelo HIV, está indicada na placentomegalia e parto pré-termo; aproximadamente
primeira consulta pré-natal a determinação de CD4 e da 50% dos fetos escapam da infecção. A transmissão da
carga viral, que será repetida 4 a 6 semanas após o início infecção no final da gravidez está associada a maior dano
do tratamento; depois, com 34 semanas, é feita a última fetal, paradoxalmente quando é maior a sua competência
determinação para escolher a via de parto. imunológica.
Uso da terapia antirretroviral na gestação Sífilis congênita precoce: os sintomas aparecem nos
Na gravidez utiliza-se a TARV combinada – primeiros 2 anos de vida. Além da prematuridade e do
zidovudina (AZT), lamivudina (3TC) e baixo peso ao nascimento, as principais características
lopinavir/ritonavir (LPV/r) (MS, 2010). O efavirenz é dessa síndrome são, excluídas outras causas:
teratogênico e não deve ser usado. Para evitar a hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões
transmissão vertical, as grávidas assintomáticas, mesmo cutâneas (como por exemplo, pênfigo palmo-plantar,
aquelas com CD4 ≥ 500 células/mm3, que fora da condiloma plano), periostite ou osteíte ou osteocondrite
gravidez não necessitariam de tratamento, serão (com alterações características ao estudo radiológico),
obrigatoriamente tratadas, não sem antes fazer um teste pseudoparalisia dos membros, sofrimento respiratório com
de genotipagem para verificar possível resistência a ou sem pneumonia, rinite sero-sanguinolenta, icterícia,
medicamentos; No parto vaginal, o AZT será venoso até anemia e linfadenopatia generalizada (principalmente
a ligadura do cordão e não será interrompida a medicação epitroclear). Outras características clínicas incluem:
oral; na cesárea indicada, o AZT IV será iniciado 3 h petéquias, púrpura, fissura peribucal, síndrome nefrótica,
antes. O bebê receberá o AZT por solução oral nas hidropsia, edema, convulsão e meningite. A
primeiras 8 h após o nascimento, permanecendo o hepatoesplenomegalia e o exantema são as
tratamento por 6 semanas; também estão recomendadas manifestações iniciais mais comuns da sífilis congênita
três doses de nevirapina na primeira semana. precoce, que geralmente se manifesta ao nascimento ou
Via de parto dentro de 3 a 7 semanas do parto.
Cesárea eletiva com 38 semanas de gravidez se a carga Sífilis congênita tardia: se os sintomas se desenvolvem
viral for ≥ 1.000 cópias/mℓ ou desconhecida, estando a após os 2 anos de idade. As principais características dessa
gestação com 34 semanas na época da aferição. A síndrome incluem: tíbia em “Lâmina de Sabre”,
cesárea somente terá indicação se não houver ruptura das articulações de Clutton, fronte “olímpica”, nariz “em
membranas e a dilatação for inferior a 3 a 4 cm. Nos sela”, dentes incisivos medianos superiores deformados
casos em que a carga viral for < 1.000 cópias/mℓ e a (dentes de Hutchinson), molares em “amora”, rágades
paciente foi tratada com TARV, o parto vaginal pode ser periorais, mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite
realizado. intersticial, surdez neurológica e dificuldade no
aprendizado.
Sífilis Sorologia existem dois tipos de testes:
A sífilis é doença venérea sistêmica causada pelo Testes não específicos: VDRL(venereal disease
Treponema pallidum. A infecção sifilítica pode ser research laboratory)
dividida em diversos estágios: incubação, primária, Testes específicos (treponêmicos): FTA-Abs
secundária, latente inicial, latente tardia e terciária. A (fluorescent treponemal antibody absorption).
classificação mais recente é em: sífilis inicial (primária, O rastreamento é feito com o VDRL, mas a ocorrência de
secundária e latente até 1 ano) e tardia (latente após 1 ano falso-positivo obriga que seja feita a confirmação com o
e terciária). FTA-Abs. Em geral, o VDRL se torna positivo 1 a 3
Sífilis congênita: Das várias doenças que podem ser semanas após o aparecimento do cancro duro. O VDRL
transmitidas durante a gravidez, a sífilis é a que tem a quantitativo também é o teste de escolha para seguir os
maior taxa de transmissão. casos após o tratamento, uma vez que o FTA-Abs
A sorologia VDRL na primeira consulta pré-natal é a permanece positivo após a infecção sifilítica inicial.
medida mais importante para identificar os fetos de risco O resultado é descrito qualitativamente (“reagente”, “não
para a sífilis congênita. O MS (2006) recomenda ainda a reagente”) e quantitativamente (titulações tais como 1:2,
repetição do teste no terceiro trimestre (28 semanas). A 1:32 etc). Mesmo sem tratamento, o teste apresenta queda
infecção transplacentária pode ocorrer durante quaisquer progressiva dos títulos ao longo de vários anos; com a
estágios da doença e idade da gravidez; o instituição do tratamento há queda tendendo à
comprometimento fetal depende particularmente da negativação, podendo, porém, se manter reagente por
treponemia materna. Assim, a taxa de transmissão em longos períodos, mesmo após a cura da infecção
mulheres não tratadas será de 70 a 100% nas fases (“memória imunológica”). Considerando-se que a maioria
das crianças apresenta-se assintomática ao nascimento, a

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
aplicação de testes sorológicos para o diagnóstico deve • Realizar o controle de cura mensal por meio do VDRL,
ser avaliada cuidadosamente, tendo em vista que o considerando resposta adequada ao tratamento o declínio
diagnóstico da infecção pelo T. pallidum por meio da dos títulos;
presença de anticorpos na criança pode ser confundida • A elevação de títulos de em quatro ou mais vezes
com a passagem passiva por via transplacentária de (exemplo: de 1:2 para 1:8) acima do último VDRL
anticorpos IgG maternos. Títulos da criança maiores do realizado, justifica um novo tratamento; deve-se verificar
que os da mãe indicariam suspeita de sífilis congênita.
se o tratamento do parceiro foi realizado.
De uma forma geral, aplicando-se testes não-
treponêmicos, os títulos de anticorpos começam a Gestantes ou nutrizes comprovadamente alérgicas à
declinar a partir dos três meses de idade, negativando-se penicilina, após teste de sensibilidade à penicilina, devem
aos seis meses de idade. Após os seis meses de vida, a ser dessensibilizadas e posteriormente tratadas com
criança com VDRL reagente deve ser investigada, exceto penicilina. Na impossibilidade, deverão ser tratadas com
naquelas situações em que a criança está em seguimento. eritromicina (estearato) 500 mg, por via oral, de 6 em 6
Para os testes treponêmicos, uma sorologia reagente após horas durante 15 dias, para a sífilis recente, ou durante 30
os 18 meses de idade define o diagnóstico de sífilis dias, para a sífilis tardia; entretanto, essa gestante não será
congênita. Por outro lado, a negatividade sorológica do considerada adequadamente tratada para fins de
recém-nascido não exclui a infecção, especialmente transmissão fetal, sendo obrigatória a investigação e o
quando a infecção materna se dá no período próximo ao tratamento adequado da criança logo após seu nascimento.
parto. Deste modo, nos casos com suspeita Gripe suína (influenza H1N1)
epidemiológica, no recém-nascido não-reagente para os
testes sorológicos devem ser repetidos após o terceiro A gravidez é fator de risco para o aumento da
mês de vida, pela possibilidade de positivação tardia. morbiletalidade materna e fetal na gripe suína. Na
gripe suína, a mortalidade materna é 5 vezes maior que na
O VDRL reagente com título igual ou superior a 1:16 é população geral; a mortalidade fetal está aumentada de 2
definido como doença e nestes casos o paciente deve ser vezes. Em consequência de menor capacidade residual
tratado. É também o exame utilizado para seguimento (3 funcional no pulmão e maior consumo de oxigênio, o
meses, 6 meses e um ano após o tratamento). Espera-se risco de pneumonia grave é 7 vezes maior na gravidez e,
que os títulos apresentem queda para menor que 1:8 após 20 semanas, é 13 vezes mais elevado. A mortalidade
materna nos casos de síndrome da angústia respiratória
negativem após um ano. Os títulos baixos (menor ou igual
aguda (SARA) é de 10%, e a fetal também. Toda grávida
a 1:4) podem persistir por mais tempo. Por este motivo, deverá tomar a vacina contra a gripe, inclusive a H1N1.
diante de pacientes assintomáticos, sem antecedente Não há risco para o feto quando a vacina for de vírus
conhecido de sífilis tratada, com qualquer teste inativado, bacteriana ou de toxoide. O Tamiflu ®
imunológico reagente, deve-se prescrever tratamento (oseltamivir), administrado nas primeiras 48 h do início
adequado com três doses de Penicilina a intervalos dos sintomas em grávidas suspeitas ou comprovadas da
semanais. doença, na dose de 75 mg 2/dia durante 5 dias, tem ação
poderosa para evitar a morte materna.
Um resultado 1/8 (1:8) significa que o anticorpo foi
identificado até 8 diluições; um resultado 1/64 mostra
que podemos detectar anticorpos mesmo após
diluirmos o sangue 64 vezes. Quanto maior for a
diluição em que ainda se detecta o anticorpo, mais
positivo é o resultado. Assim, o VDRL de 1/2 é um
título mais baixo que 1/4, que é mais baixo que 1/8 e
assim por diante. Quanto mais alto o título, mais
positivo é o exame.
Tratamento: imediato dos casos diagnosticados em
gestantes e seus parceiros:

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
R – Rubéola Síndrome da rubéola congênita
Na gravidez, a infecção nas primeiras 16 semanas, em
O vírus causador da rubéola é um RNA-togavírus que especial nas 12 iniciais, determina abortamento,
contém em seu envelope as glicoproteínas E1 e E2, natimortalidade e defeitos congênitos que constituem a
responsáveis pela indução da resposta humoral do síndrome da rubéola congênita (SRC).
organismo hospedeiro. A rubéola é transmitida por
meio de secreções respiratórias, cujo período inicia-se
em torno de uma semana antes de o indivíduo apresentar
o quadro clínico, juntamente com a viremia, que perdura
por 5 a 7 dias depois da instalação do exantema. A
incubação tem o período em torno de 2 semanas.
Após período de incubação de 14 a 21 dias, a rubéola
exterioriza-se como doença de pequena gravidade,
caracterizada por linfadenopatia pós-auricular
(precede de 5 dias o exantema); exantema
maculopapular, que se inicia na parte superior do
tórax, estendendo-se depois por todo o corpo; e
febrícula. As complicações são mais comuns no adulto e
incluem artralgia, artrite, encefalite, neurite e púrpura
trombocitopênica.
Diagnóstico laboratorial
Testes sorológicos específicos são recomendados em
todos os casos de doença exantemática durante a
gestação, uma vez que o diagnóstico etiológico não é
possível apenas pelo exame clínico. A técnica mais
empregada é o ensaio imunoenzimático, além dos testes Se a infecção ocorrer no primeiro trimestre, o risco da SRC
de inibição da hemaglutinação e de imunofluorescência. está estimado em > 90%; entre 16 e 20 semanas, o risco é
A detecção de anticorpos específicos da classe IgM é muito pequeno (< 1%) e quase sempre associado à surdez;
possível a partir do 5° dia do início do rash cutâneo e após 20 semanas, é praticamente inexistente. A tríade da
persiste por aproximadamente 6 semanas. A pesquisa da SRC está representada por surdez, catarata e defeito
avidez da IgG é importante para determinar quando cardíaco (especialmente a persistência do canal arterial) e
ocorreu a infecção e para o diagnóstico diferencial de ocorre em cerca de 50% das crianças acometidas. São
portadores crônicos de IgM. A avidez aumenta constantes os achados de defeitos cardíacos, e as
progressivamente durante os 3 primeiros meses após a alterações mais comuns são defeitos do septo
infecção primária. Valores baixos de avidez sugerem interventricular, ducto arterioso patente, estenose
infecção recente. pulmonar e coarctação de aorta. Em cerca de 50% dos
casos apresentam surdez e catarata. Ainda podem ser
O diagnóstico deve ser realizado em duas situações:
encontradas alterações radiográficas do esqueleto,
Nas grávidas com exantema, os seguintes resultados
meningoencefalites, microcefalia, trombocitopenia,
indicam infeção:
hepatoesplenomegalia e icterícia obstrutiva.
• Soroconversão (caso a paciente tenha feito teste
Além de alterações cardíacas, os achados
sorológico)
ultrassonográficos podem incluir: ventriculomegalia,
• Aumento do título de IgG de, no mínimo, 4 vezes em microcefalia, acrania, distúrbios do crescimento fetal e
dois exames espaçados de 2 a 3 semanas (fase aguda anormalidades no volume do líquido amniótico.
exantemática e convalescença)
• IgM positivo
Nas grávidas que tiveram contato com a rubéola aplicam-
se os mesmos critérios, apenas o intervalo dos exames
pareados será de 4 a 5 semanas.
Diagnóstico da infecção fetal
Realizada por PCR no líquido amniótico. Para reduzir os
resultados falso-negativos, é necessário esperar 6 a 8
semanas após a infecção materna e 21 semanas de
gestação, quando a excreção urinária fetal é maior.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
congênita acompanhadas em longo prazo. Panencefalite
progressiva e diabetes mellitus representam até 20% dos
casos de síndrome da rubéola estendida, que é de
instalação tardia, geralmente até a 2ª ou 3ª décadas de vida.
Prevenção
Atualmente, não se recomenda a administração de
imunoglobulinas em altas doses para gestantes expostas ao
vírus da rubéola, em razão de não demonstrar benefício. A
vacinação de mulheres suscetíveis em idade reprodutiva é
a estratégia para prevenção primária da rubéola congênita.

C – Citomegalovírus
O citomegalovírus pertence à família Herpesviridae e é
considerado um dos principais patógenos da atualidade.
Assim como os demais herpesvírus, o CMV estabelece
Diagnóstico
infecção, podendo ocorrer episódios de reativação da
Investigações por ultrassonografia, que são não invasivas,
infecção ao longo da vida do indivíduo. O citomegalovírus
podem ser usadas para distinguir casos em que o feto
pode ser detectado em secreções da orofaringe, no sêmen,
também esteja envolvido em infecção exclusivamen-te
na secreção vaginal, no leite materno, no sangue, na urina
maternas.
e nas lágrimas. A transmissão pode ocorrer por diversas
Hidropsia, intestino hiperecoico e restrição do
maneiras, sendo as principais: sexual (evidências sugerem
crescimento fetal são achados ultrassonográficos que
alta concentração vaginal de CMV durante a
caracterizam acometimento fetal; porém nem todos os
primoinfecção), contato próximo (transmissão por saliva e
fetos comprometidos podem exibir achados suspeitos
trato respiratório superior), hemotransfusão, exposição
pelo fato de o exame ultrassonográfico não garantir
ocupacional e transmissão vertical.
sensibilidade de 100%.
Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial na gravidez somente está
indicado quando a gestante apresentar sintomatologia
semelhante à da mononucleose ou à da influenza, ou sinais
ultrassonográficos sugestivos de infecção fetal pelo CMV.
A paciente é assintomática em cerca de 80% dos casos de
CMV.
O diagnóstico laboratorial é realizado pela pesquisa de
anticorpos específicos. A infecção aguda é sugerida pela
presença de anticorpos imunoglobulina M (IgM).
Contudo, testes para IgM apresentam altas taxas de falso-
positivo, além disso, os títulos de IgM podem manter-se
detectáveis por meses após o episódio de primoinfecção.
Deste modo, a Sociedade de Medicina Materno-Fetal
Biópsia de vilosidades coriônicas, da amniocentese ou da recomenda que a detecção de IgM não seja utilizada
cordocentese são também úteis para a investigação do isoladamente como critério diagnóstico. Para datar a
acometimento fetal, que identificam IgM específico em infecção, alguns casos exigem a pesquisa de avidez da
sangue do feto, que podem ser encontradas somente imunoglobulina G (IgG). Quando a avidez está a mais de
depois da 22ª semana de gestação, por isolamento viral ou 65%, ou seja, elevada, é sinal de que a infecção está
pesquisa por técnica de reação em cadeia da polimerase. ativa há mais de 6 meses, por outro lado, se acusar
A investigação invasiva é mais efetiva se for realizada menos de 30%, baixa avidez, habitualmente significa
depois do período mínimo de 6 semanas, caso contrário uma infecção primária ativa de 8 a 12 semanas.
corre-se o risco de um resultado falso-negativo.
Em suma, o diagnóstico da infecção materna primária
Prognóstico recente é feito pela soroconversão ou pelo aparecimento
Maior incidência de glaucoma, retinopatia, surdez do anticorpo IgM específico associado à baixa avidez IgG.
neurossensorial, atraso do desenvolvimento A infecção primária por CMV no primeiro e no segundo
neuropsicomotor, baixa estatura, diabetes mellitus, trimestres da gravidez é responsável por 5 a 10% de
disfunções tireoidianas e alguns distúrbios psiquiátricos recém-nascidos infectados sintomáticos e, desses, 30%
foram constatados em crianças com história de rubéola morrem; dos que sobrevivem, 90% apresentam sequelas
@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
definitivas (perda da audição e comprometimento
neurológico).

Diagnóstico da infecção fetal


Como o risco de infecção intrauterina pelo CMV ocorre
em 30% das gestações de mulheres com a infecção
primária e em apenas 1% daquelas com infecção
secundária, é necessário diagnosticar a transmissão fetal.
Os achados ultrassonográficos são importantes, mas não
diagnósticos, pois são comuns a outras doenças fetais.
Além disso, as alterações sonográficas somente são
observadas em não mais de 25% dos fetos infectados. As
Conduta
mais frequentes incluem crescimento intrauterino Até o momento, não existem opções terapêuticas
restrito (CIR), ventriculomegalia, calcificações disponíveis para o tratamento da infecção fetal pelo
intracerebrais periventriculares e hepáticas,
citomegalovírus. Com o intuito de melhorar o prognóstico
microcefalia, intestino hiperecogênico e ascite.
fetal, reduzir a replicação viral e a disfunção placentária
Contudo, o teste usual para o diagnóstico da infecção associada, a administração de imunoglobulina hiperimune
fetal pelo CMV é a PCR no líquido amniótico (PCR-LA). para citomegalovírus no tratamento de infecção primária
Para conseguir boa sensibilidade, a amniocentese deve em gestações foi apresentada por alguns estudos. No
ser realizada 6 semanas após o início da infecção materna entanto a aplicabilidade de antivirais no tratamento fetal
e depois de 21 semanas da gravidez. ainda está em estudo. Estudo envolvendo a administração
de gangiclovir às gestantes infectadas sugere redução do
déficit auditivo nas crianças infectadas. Contudo, o
Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e a
Sociedade de Medicina Materno-Fetal não recomendam o
uso de antivirais ou de imunoglobulina hiperimune na
prática clínica, devido à falta de evidências robustas que
justifiquem tal prática.
PREVENÇÃO
Orientações higiênicas para evitar o contato com secreções
de pessoas infectadas são a única forma de prevenção no
momento, uma vez que não há disponibilidade de uma
vacina para a prevenção primária da infecção pelo
citomegalovírus.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
H - Herpes-vírus simples Disseminado: envolvimento de múltiplos órgãos (pulmão,
fígado, suprarrenal, pele, olhos, cérebro) (presente em
O herpes simples é uma doença infecciosa determinada 25% dos casos)
pelo herpes simplex virus (HSV) com dois tipos Herpes do SNC: (30% dos casos)
sorologicamente distintos: tipo 1 (HSV-1) e tipo 2 Localizado (SEM): pele, olhos e boca (45% dos casos).
(HSV-2). O HSV-1 é o responsável pela infecção não Esta classificação é preditiva de morbidade e de
genital (lábios, face, córnea, mucosa oral), e o HSV-2 mortalidade: no tipo disseminado, a mortalidade é de 30%,
está associado à infecção genital (pênis, uretra, vulva, mesmo com o uso do antiviral.
vagina, cérvice, pele das coxas e das nádegas).
HSV materno
A infecção genital pelo HSV é mais comum com o
HSV-2 (90%), mas a doença genital pelo HSV-1 está
aumentando de frequência.
Terminologia da infecção materna
Quando um indivíduo sem anticorpo HSV-1 ou HSV-2
adquire qualquer um dos vírus no sistema genital, é
estabelecida uma infecção primária primeiro episódio.
Se a pessoa com anticorpo HSV-1 preexistente adquire Prevenção
infecção genital HSV-2 (ou vice-versa), ocorre a Em mulheres com lesão genital ativa, a cesárea pode
infecção não primária primeiro episódio. A reativação reduzir o risco de o bebê adquirir a infecção pelo HSV.
do vírus e a sua translocação para a pele e mucosas A cesárea está indicada em mulheres que apresentaram a
produzem a infecção recorrente. A diferenciação por infecção primária com lesão ativa/pródromos no momento
sorologia e por PCR/cultura da lesão genital, entre esses do parto ou que referem no terceiro trimestre da gravidez,
três tipos clínicos, é possível e complexa. e será realizada até 4 h após a ruptura das membranas. Para
Ainda, a infecção genital HSV pode ser clinicamente as mulheres com diagnóstico prévio de herpes genital
aparente (p. ex., lesões genitais) ou inaparente (infecção recorrente), a cesárea para evitar a infecção
(assintomática ou subclínica), localizando-se o vírus na neonatal pelo HSV somente estará indicada se houver
cérvice uterina. Cerca de 2/3 das mulheres que adquirem lesão genital no momento do parto. Se não houver lesão,
o herpes genital durante a gravidez permanecem poderá ser permitido o parto vaginal se a mulher fez
assintomáticas. Isso é consistente com o achado de que uso oral de aciclovir, a partir de 36 semanas da
60 a 80% das mulheres cujos bebês foram infectados gravidez, por pelo menos 4 semanas, para suprimir o
pelo HSV não apresentam qualquer lesão durante o aparecimento da lesão genital ativa ou a eliminação do
parto, nem referem história de herpes genital. vírus na época do parto.

Infecção neonatal – Tipos


A infecção HSV do recém-nascido pode ser adquirida
de três maneiras: intrauterina, intraparto
(paranatal) ou pós-natal. •
A época da transmissão na gravidez na maioria dos
casos, cerca de 85%, ocorre durante o parto. As
manifestações da infecção congênita intrauterina são
muito graves e incluem microcefalia,
hepatoesplenomegalia, CIR e natimortalidade.
Bebês nascidos de mães que apresentam infecção
primária genital de HSV próxima do termo e estejam
eliminando o vírus no momento do parto apresentam O tratamento do recém-nascido de risco assintomático e
risco 10 a 30 vezes maior de desenvolverem a doença em do sintomático é feito com aciclovir em esquemas que
comparação com aqueles de mães com infecção dependem da gravidade do caso. A mortalidade no tipo
recorrente, apesar de também estarem eliminando o vírus disseminado sem tratamento é de 85%, caindo para cerca
no parto. Isso se deve, em parte, à significativa de 30% com o uso de aciclovir; na forma neurológica,
transferência de anticorpos protetores maternos a partir essas taxas são, respectivamente, de 50% e 6%.
do sétimo mês de gravidez.
Tipos clínicos: O diagnóstico da infecção herpética Z – Zika vírus
neonatal pode ser realizado levando-se em conta o A infecção pelo vírus Zika pode ocasionar um espectro
quadro clínico e/ou a cultura positiva, presentes 48 h clínico que varia de manifestação inaparente, sem a
após o parto. A infecção HSV adquirida intraparto ou percepção da apresentação de sinais ou sintomas, passando
pós-natal pode assumir três tipos clínicos: por um quadro clínico com manifestações brandas e
autolimitadas, e podendo se manifestar com complicações
@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
neurológicas e também por doença congênita. Segundo irritabilidade, discinesia, hipertonia, hipotonia,
os poucos estudos disponíveis, as manifestações clínicas hemiplegia, hemiparesia, espasticidade, hiperreflexia.
em decorrência da infecção pelo vírus Zika são
percebidas em cerca de 20% dos casos infectados. Na Diagnóstico
maioria das vezes, a doença é autolimitada, durando Caso haja diagnóstico laboratorial conclusivo para vírus
aproximadamente de 4 a 7 dias, podendo estar zika, define-se como caso CONFIRMADO para gestante
acompanhada das seguintes manifestações mais comuns: sob risco de feto com microcefalia secundária a possível
exantema maculopapular, febre, artralgia, exposição ao vírus zika. Caso a ultrassonografia obstétrica
conjuntivite não purulenta, cefaleia, mialgia e da gestante mostre um feto com circunferência craniana
prurido. Além dessas manifestações, também foram (CC) aferida menor que dois desvios padrões (<2p) abaixo
descritos casos de síndrome de Guillain-Barré e outras da média para a idade gestacional, ou com alteração no
manifestações neurológicas. sistema nervoso central sugestiva de infecção congênita, o
Quando infectada, mesmo não apresentando sinais e médico pode considerar um caso suspeito de microcefalia
sintomas aparentes da doença, uma gestante poderá relacionada ao vírus zika na gestação.
transmitir o vírus para o feto, podendo ocasionar A confirmação de microcefalia relacionada ao vírus zika
desde o aborto espontâneo, óbito fetal ou anomalias durante a gestação dá-se pelos seguintes critérios:
congênitas. • Caso confirmado de feto com alterações pós-infecciosas
A transmissão do zika aos humanos dar-se-á por meio de no SNC relacionadas ao vírus zika: feto com alterações no
relações sexuais ou de mosquitos infectados. Um SNC características de infecção congênita identificada por
aumento no número de crianças com microcefalia no ultrassonografia E relato de exantema na mãe durante
Brasil foi evidenciado em outubro de 2015, em gestantes gestação E excluídas outras possíveis causas, infecciosas e
que viviam ou que tinham visitado áreas com não infecciosas.
transmissão do vírus. • Caso confirmado de feto com microcefalia pós-
As equipes de saúde devem considerar o combate ao infecciosa relacionada ao vírus zika: feto com microcefalia
mosquito Aedes aegypti como ações prioritárias no seu identificada por ultrassonografia, apresentando alterações
campo de atuação. No âmbito da atenção à saúde, no SNC características de infecção congênita E relato de
devem-se ampliar as ações de atenção à saúde sexual e exantema na mãe durante gestação E excluídas as outras
reprodutiva, a oferta de métodos contraceptivos, as possíveis causas, infecciosas e não infecciosas. • Caso
visitas domiciliares para orientação à população e o confirmado de aborto espontâneo relacionado ao vírus
acompanhamento das gestantes, puérperas e recém- zika: aborto espontâneo de gestante com relato de
nascidos suspeitos de microcefalia. É importante exantema durante a gestação, sem outras causas
ressaltar que, embora neste momento haja uma atenção identificadas, com identificação do vírus zika em tecido
especial às gestantes para evitar a infecção pelo vírus fetal/embrionário ou na mãe.
zika, a equipe de saúde deve manter as orientações e as
ações de promoção da saúde e prevenção para toda a Não há indicação de alteração da via de parto obstétrica,
população, já que cabe a todos a responsabilidade sobre ou seja, a infecção pelo vírus zika ou a microcefalia em si
as medidas de controle, como eliminação de possíveis não são indicações de cirurgia cesariana. É importante
criadouros do mosquito, limpeza dos terrenos, descarte destacar, ainda, que a cesariana desnecessária aumenta os
apropriado do lixo e materiais e utilização adequada da riscos de complicações tanto para a mãe quanto para o
água, além da proteção individual. bebê.
Síndrome Congênita do vírus Zika (SCZ)
A microcefalia, definida como perímetro cefálico abaixo
de -2 desvios-padrão para a idade e sexo de acordo com Possíveis riscos ao uso de produtos químicos
curvas de referência é a manifestação mais marcante
dessa síndrome. O vírus Zika infecta uma população de e medicamentos no período gestacional
células cerebrais em desenvolvimento, incluindo células A teratologia é o ramo da ciência que estuda todos os
humanas progenitoras neuronais específicas de aspectos do desenvolvimento pré-natal anormal, incluindo
prosencéfalo embrionárias, neuroesferas e organoides o estudo das causas e a patogênese dos defeitos
cerebrais, causando assim maior morte celular, congênitos. Um conceito fundamental em teratologia é que
desregulação do ciclo celular e, em última instância, certos estágios do desenvolvimento embrionário são mais
redução do crescimento celular. Com isso, observa-se vulneráveis que outros.
nas neuroimagens de criança com essa síndrome a Anomalia congênita é qualquer anormalidade estrutural
calcificação intracraniana, ventriculomegalia e presente no nascimento, a qual pode ser macroscópica,
diminuição do volume cerebral. microscópica, na superfície externa ou interna do corpo.
Quanto às consequências dessa síndrome resultam um Existem quatro tipos clinicamente significativos de
conjunto de sinais e sintomas além da microcefalia fetal anomalias: malformação, disrupção, deformação e
ou pós-natal, como por exemplo, atraso no displasia.
desenvolvimento neuropsicomotor, anormalidades Malformação é o defeito morfológico que resulta de
auditivas e visuais, desproporção craniofacial, processo de desenvolvimento intrínseco anormal, ou seja,
suturas cranianas sobrepostas, osso occipital o desenvolvimento potencial da estrutura era anormal na
proeminente, excesso de pele nucal, epilepsia, concepção ou em fases precoces da embriogênese.

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
Disrupção é o defeito no desenvolvimento que resulta • A exposição crônica em baixas doses pode
de fatores extrínsecos ou intrínsecos, produzindo quebra contribuir para o risco teratogênico.
ou interferência do processo de desenvolvimento • A gestação pode alterar a distribuição e o
originalmente normal. Na ausência do fator extrínseco ou metabolismo da droga.
intrínseco (estado de deficiência física, química ou • Pode ser difícil determinar se a condição (doença)
biológica, exposição a agentes teratogênicos), o materna contribui para a etiologia da malformação
desenvolvimento seria normal. associada ao tratamento da condição (por exemplo, fatores
Deformação é a forma ou posição anormal de etiológicos que levam à epilepsia associada à exposição de
determinada parte do corpo, causada por forças difenilidantoína podem contribuir para o mau
mecânicas que atuam naquela parte do corpo durante o desenvolvimento fetal).
desenvolvimento. Exemplos de deformações são • Meia-vida longa do agente teratogênico, que pode
gestações complicadas por oligoâmnio, em que a provocar alterações fetais, mesmo após alguns meses de
compressão intrauterina pode levar a alterações no interrupção do uso ou da exposição (por exemplo,
posicionamento dos pés (pé torto). substâncias lipossolúveis como os policlorados e etreti-
Displasia é o processo e a consequência da natos).
desistogênese, ou seja, da formação anormal do tecido.
Todas as anormalidades relacionadas à histogênese são Genótipo do embrião
classificadas como displasias. A displasia não tem causa A suscetibilidade aos teratógenos depende do genótipo do
específica e frequentemente afeta vários órgãos por produto conceptual e da maneira como ele interage com os
causa da natureza do distúrbio celular subjacente. fatores do meio. Diferenças genéticas podem interferir na
resposta aos agentes teratogênicos, de forma que o
Teratógeno é qualquer agente que provoque uma genótipo do embrião determine quando um agente vai
anomalia congênita ou aumente a incidência de afetar seu desenvolvimento.
anomalias numa população. O embrião é mais sensível
aos agentes teratogênicos durante o período de DROGAS
diferenciação rápida. A teratogênese de um agente (por As drogas apresentam capacidades teratogênicas variáveis
exemplo, droga ou agente químico) deve ser avaliada em quando comparadas umas às outras. Algumas causam
três importantes princípios: período crítico do graves disrupções do desenvolvimento se administradas
desenvolvimento, dose ou magnitude da exposição e durante o período da organogênese, como a talidomida.
genótipo do embrião. Outras produzem retardo mental, restrição do crescimento
ou outras anomalias quando usadas excessivamente
Período: É importante lembrar que, durante as duas durante o desenvolvimento do produto conceptual, como
primeiras semanas do desenvolvimento embrionário, os o álcool.
teratógenos danificam todas ou quase todas as células,
resultando em morte celular, ou danificam poucas Álcool
células, o que permite que o embrião se recupere e se O álcool é um dos teratógenos mais frequentes, com a
desenvolva sem defeitos (“fenômeno do tudo ou nada”). prevalência de crianças afetadas, pelo consumo materno,
O período da organogênese (do 18° ao 60° dias de na ordem de 0,5 a 2:1.000 nascimentos. As crianças
gestação) é aquele em que os teratógenos provocam nascidas de mães alcoólatras apresentam alterações bem
maior dano, já que as malformações mais graves ocorrem específicas, como restrição de crescimento, retardo
quando a exposição se dá antes do 36° dia, exceto para mental e anomalias como microcefalia, fissura
as malformações do aparelho genitourinário, do palato, palpebral pequena, prega epicantal, hipoplasia
do SNC ou deformações decorrentes de constrição, maxilar, nariz pequeno com filtro hipoplásico, lábio
disrupção ou destruição. superior fino, prega palmar anormal, anomalias de
O período fetal é caracterizado pela histogênese que articulações e cardiopatias. Essas alterações são
envolve o crescimento, a diferenciação celular e a conhecidas como Síndrome Alcoólica Fetal, condição
migração neuronal. Os agentes teratogênicos, nessa fase, extremamente grave com risco de morte fetal em até 17%
podem reduzir a população celular por causarem morte das vezes.
celular e inibição da divisão ou da diferenciação celular.
Dose ou magnitude da exposição
Estudos em animais mostram que existe relação dose-
res-posta aos agentes teratogênicos, ou seja, quanto
maior for a exposição durante a gestação, mais grave será
o efeito fenotípico. Deve-se considerar que doses
necessárias para provocar anomalias em animais são
muito maiores do que em humanos.
A interpretação da dose-resposta pode ser afetada e,
portanto, alguns aspectos devem ser considerados, como:
• A concentração do metabólito ativo pode ser mais
importante do que a dosagem do produto químico
original

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
efeito carcinogênico, mutagênico e outros efeitos tóxicos),
no metabolismo do folato e da vitamina K.
Antibióticos Tetraciclinas
As tetraciclinas atravessam a barreira placentária e se
depositam nos ossos e dentes, nos locais de ativação da
calcificação. Essa categoria de drogas inclui: tetraciclina,
doxiciclina, oxitetraciclina e minociclina. O uso de 1 g de
tetraciclina ao dia no segundo e terceiro trimestres pode
provocar descoloração marrom-amarelada dos dentes e
diminuição do crescimento dos ossos longos. Essas altera-
ções são decorrentes da ação quelante da droga, que forma
um complexo com o ortofosfato de cálcio e se incorpora
nos ossos e dentes que se encontram no processo de
calcificação. Nos dentes, esse complexo causa
descoloração, uma vez que a remodelação e a troca de
cálcio não ocorrem após se completar a calcificação. Os
Os danos provocados pelo uso excessivo de álcool estão dentes deciduais começam a se calcificar por volta do
relacionados à ação específica nas moléculas que quinto e do sexto mês de gestação e o uso das tetraciclinas
regulam os processos-chave do desenvolvimento (por após esse período provoca descoloração.
exemplo, células L1 de adesão molecular, álcool Antivirais
desidrogenase e catalase). Esses danos interferem no A ribavirina é disponibilizada em apresentação oral,
desenvolvimento precoce dos neurônios intravenosa e inalatória para tratar infecções respiratórias
serotoninérgicos da linha média, interrompem a principalmente em crianças e adolescentes. A droga é
regulação da sinalização para outras estruturas do SNC, altamente teratogênica em todos os estudos em animais,
alteram os fatores tróficos que regulam a neurogênese e com malformações como hidrocefalia e de extremidades.
a sobrevida celular ou provocam morte celular excessiva É considerada droga da categoria X durante a gestação e
pelo estresse oxidativo ou ativação de proteases. NS na lactação, não devendo ser utilizada nesses períodos.
Além disso, o álcool parece ter efeitos específicos no es de que o tabagismo é prejudicial ao feto, mais de 25%
material genético fetal, promovendo alterações das mulheres continuam fumando durante a gestação. O
epigenéticas com manifestações ao longo de toda a vida. cigarro contém mais de 3 mil diferentes compostos; entre
O álcool pode produzir, na mãe, alterações os teratógenos estão a nicotina, cotinina, cianida,
hemodinâmicas sistêmicas (aumento da pressão tiocianato, monóxido de carbono, cádmio, chumbo e
arterial, frequência cardíaca, hipoxia, acidose), vários hidrocarbonetos. Embora essas e outras substâncias
alterações no sistema endócrino (aumento de cortisol, químicas presentes no cigarro representem risco para a
hormônio adrenocorticotrófico, vasopressina), gestação, a maior preocupação está relacionada à nicotina
aumento da reatividade vascular e, ainda, alterações e ao monóxido de carbono. Essas substâncias, além de
na circulação placentária, como alteração do fluxo serem fetotóxicas, têm efeitos vasoativos ou reduzem os
uteroplacentário, angiogênese e remodelação níveis de oxigênio. A nicotina promove a liberação de
vascular. adrenalina, que resulta em redução marcante do fluxo
A dose limiar diária de ingesta de álcool em que a sanguíneo uterino e aumenta a resistência vascular
gestante não expõe o feto a risco não está bem placentária.
estabelecida. Entretanto, estudos demonstram que doses O tabagismo na gestação está associado aos seguintes
abaixo de 15 mL/dia (um drinque) de álcool absoluto não aspectos: gravidez ectópica, abortamento espontâneo,
levariam a riscos teratogênicos. Alterações leves foram baixo peso ao nascimento, parto prematuro, placenta
descritas com doses de dois drinques diários (30 mL de prévia, descolamento prematuro de placenta e rotura
álcool absoluto) em fases iniciais da gestação prematura das membranas ovulares (RPMO). As
Anticonvulsivantes alterações relacionadas são dependentes da quantidade de
Aproximadamente 0,3 a 0,5% das grávidas utilizam cigarros consumidos por dia. Alguns estudos demonstram
drogas anticonvulsivantes. O risco de malformações também associação do cigarro (20 cigarros/dia) com
maiores em filhos de mães usuárias dessas drogas é de 4 anomalias congênitas, como gastrósquise, onfalocele,
a 8%, comparado a 2 a 4% na população geral. Os fatores atresia de intestino delgado, fenda labial e palatina,
de risco incluem doses diárias elevadas e a politerapia. hidrocefalia, microcefalia e anomalias de mãos.
Portanto, o risco dessas drogas pode ser minimizado com Algumas dessas malformações são provavelmente
a monoterapia e a utilização de menor quantidade associadas ao efeito vasoativo do tabaco. O fumo é
efetiva, o que significa que elas podem ser administradas considerado droga das categorias X na gestação e U na
em doses divididas para minimizar os seus picos lactação, e, portanto, é contraindicado nesses dois
sanguíneos. As malformações mais comuns são os períodos.
defeitos faciais Cafeína
e cardíacos. O mecanismo de teratogênese dessas drogas A cafeína é um estimulante do SNC. Trata-se da droga
parece estar relacionado ao efeito direto na membrana mais popular, pois é encontrada em várias bebidas de
celular, no acúmulo de radicais livres (que possuem consumo (café, chás, achocolatados e bebidas com cola).

@resumeairafa
Rafaela Amaral Riscos na gravidez Medicina-FPME-3°P
Não é produto teratogênico. Quando usada em Em contraste, muitas tinturas têm sido associadas a
quantidades moderadas, não apresenta associação com defeitos congênitos em camundongos. No entanto, vale
malformações congênitas, abortamento espontâneo, ressaltar que tais testes envolvem grandes exposições e
baixo peso no nascimento e parto prematuro. Duas não se sabe até que ponto predizem o uso em humanos.
xícaras regulares de café contêm aproximadamente 454 Alguns estudos mostraram que cabeleireiras apresentam
mg de cafeína, e o consumo excessivo corresponde a um índice elevado de abortos espontâneos, maior número
doses diárias maiores do que estas que poderiam de partos prematuros e malformações, que se
provocar restrição de crescimento, abortamento correlacionam com a duração da exposição.
espontâneo e aumento da infertilidade. Doses acima de Alisamento
454 mg demonstraram aumento significativo dos níveis Os alisantes de cabelo podem conter hidróxido de sódio ou
maternos de adrenalina, mas não de noradrenalina e potássio ou combinação de hidróxido de cálcio e carbonato
dopamina. A exposição fetal a altas doses pode de guanidina. Em relação ao uso tópico de tais agentes, não
provocar no recém-nascido sintomas da síndrome da foram encontradas referências a desfechos gestacionais
abstinência com taquiarritmia, contração atrial desfavoráveis em humanos. Entretanto, não existem
prematura, tremores finos e taquipneia. Em doses estudos epidemiológicos que permitam garantir a
regulares e normais, a cafeína pode ser usada durante a segurança do uso durante a gestação. O formol
gestação e a amamentação, sem risco de danos. (formalina), que é uma solução de formaldeído em água,
MONÓXIDO DE CARBONO tem sido amplamente utilizado em técnicas de alisamento
O gás tóxico, inodoro e incolor apresenta afinidade até capilar. Estudos em animais detectaram diversas
trezentas vezes maior com a hemoglobina quando alterações. A inalação, em ratos, foi associada à
comparada à afinidade do oxigênio com a hemoglobina. diminuição do tempo gestacional e a um conteúdo menor
Quando presente na circulação sanguínea, o monóxido de ácidos ascórbico e nucleicos no feto. No entanto, outros
de carbono reduz o transporte de oxigênio aos tecidos e estudos não evidenciaram essas alterações, nem efeitos
a intoxicação aguda pode ser fatal e provocar cefaleia, teratogênicos.
fadiga, efeitos cardíacos e alterações neurológicas. Esse Tinturas
gás é encontrado na combustão de processos industriais, As tinturas para cabelo são fonte de constante preocupação
de veículos automotores e na fumaça de cigarro. No feto, para gestantes, pois são compostas por inúmeras
os danos ao SNC foram descritos com exposições muito substâncias e não recomendadas pelos fabricantes.
altas, mas o risco parece ser baixo, apesar das Aparentemente, a sua absorção sistêmica é muito pequena,
controvérsias. não demonstrando teratogenicidade. Não existem, ainda,
CHUMBO relatos de caso associando o uso de tinturas de cabelo a
Presente em abundância nos locais de trabalho e no meio malformações congênitas.
ambiente, o chumbo atravessa a placenta e pode se
acumular nos tecidos fetais. A exposição ao chumbo Referências
ocorre por meio de solos contaminados, contatos com • https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/
tintas à base de chumbo e exposição ocupacional (na Outros_Manuais/manual_teratogenese.pdf
fabricação de cristais, de cerâmicas, de plásticos e em • MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J.
artesanatos que utilizam chumbo). Exposições a doses Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
muito altas podem provocar abortamentos, anomalias Koogan, 2017.
fetais (marcas na pele e não descida dos testículos em • ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib obstetrícia.
fetos do sexo masculino), restrição de crescimento, 3. ed. Barueri: Manole, 2020.
deficiências funcionais e atraso no desenvolvimento. • https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_r
Entretanto, o efeito teratogênico não está estabelecido esposta_microcefalia_relacionada_infeccao_virus_zika.
para exposições a doses muito baixas, ou seja, pdf
concentrações no sangue materno abaixo de 20 mg%. • https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_sifi
Produtos para o cabelo lis_bolso.pdf
Muitos estudos sugerem que substâncias químicas • MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. EmbriologiaBásica.
tóxicas podem ser absorvidas através do couro 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
cabeludo em quantidades suficientes para aumentar • Langman Embriologia Médica. 9ª Ed. Rio de Janeiro:
o risco de efeitos na gestante e na sua prole. Mulheres Guanabara Koogan, 2005. SCHOENWOLF, G.C
que usam produtos para alisamento, os ditos relaxantes,
por exemplo, geralmente realizam um tratamento a cada
4 a 8 semanas. Tais produtos apresentam cerca de 2 a
3,5% de hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio,
alguns apresentam hidróxido de cálcio e carbonato de
guanidina juntamente com hidróxido de guanidina. Os
produtos usados em técnicas de permanente contêm
tioglicolato de sódio ou amônia. Assim como estes, a
maioria dos componentes de fórmulas para o cabelo
carece de estudo sobre o potencial teratogênico.

@resumeairafa
°
A função gastrointestinal também é foco na maturidade
fetal. Em bebês que são prematuros por mais de dois
meses, os sistemas digestivo e absortivo são quase
sempre inadequados. A absorção de gorduras também
é comprometida, de maneira que o bebê prematuro deve
A maturidade fetal consiste no pleno desenvolvimento ter dieta pobre em gorduras. Ademais, o bebê prematuro
dos diversos órgãos e sistemas fetais que, no seu tem dificuldade incomum de absorver cálcio e,
processo fisiológico normal, se completa entre 37 e 40 portanto, pode desenvolver grave raquitismo, antes que
semanas de gestação. A maturidade do sistema se reconheça tal dificuldade. Por esta razão, deve-se ter
respiratório fetal ocorre ao redor da 35ª semana de atenção especial à ingestão adequada de cálcio e vitamina
gestação, quando as adaptações anatômicas e funcionais D.
permitem ao recém-nascido (RN) prematuro sobreviver
ao ambiente extra-uterino. É conhecido que algumas A imaturidade de outros sistemas de órgãos que, com
condições clínicas aceleram a maturidade fetal (por frequência, causam sérias dificuldades no bebê inclui: (1)
exemplo a hipoxia fetal crônica), enquanto que outras, imaturidade do fígado, que resulta no comprometimento
como o diabete melito, estão associadas a um atraso na do metabolismo intermediário e, muitas vezes, em
maturação pulmonar. A avaliação da maturidade tendência a sangramentos, decorrentes da formação
pulmonar fetal, através da análise do líquido amniótico inadequada de fatores de coagulação; (2) imaturidade dos
(LA), pode ser realizada antes da resolução da gestação, rins, particularmente deficientes na sua capacidade de
principalmente naquelas pré-termo, evitando-se assim, livrar o organismo de ácidos, predispondo o bebê à acidose
em algumas situações, o parto prematuro iatrogênico. e a anormalidades sérias do equilíbrio hídrico; (3)
Entre as múltiplas complicações da prematuridade, a imaturidade do mecanismo de formação do sangue da
imaturidade pulmonar, relacionada à produção medula óssea, que permite o rápido desenvolvimento de
inadequada de surfactante, constitui a de maior gravidade, anemia; e (4) formação diminuída de gamaglobulina
comprometendo, muitas vezes, a sobrevida do concepto. pelo sistema linfoide, que, com frequência, leva a
infecções graves.
O pulmão fetal inicia seu desenvolvimento por volta da
terceira semana de vida e, entre 16 e 24 semanas de
gestação, ocorre aumento da angiogênese e diferenciação
do epitélio cuboide que reveste os ácinos em pneumócitos
do tipo I e II. O pneumócito do tipo I é uma célula com
funções principalmente relacionadas ao revestimento
alveolar. Já o pneumócito do tipo II é a célula Uma das alterações sistêmicas mais notáveis observadas
responsável pela produção do surfactante. O na gravidez é a retenção de líquido, intra e extracelular,
surfactante é produzido pelos pneumócitos tipo II e mas especialmente responsável pelo aumento do volume
armazenado em estruturas granulares chamadas de corpos plasmático. Essa alteração hidreletrolítica é decisiva para
lamelares (CL), que medem de 1 a 5 μm de diâmetro e são que ocorram outras modificações importantes, tais como o
ricas em lipídios. Os CL aparecem no citoplasma dos aumento do débito cardíaco e o do fluxo plasmático
pneumócitos por volta de 24 semanas de gestação, renal. O acréscimo do volume plasmático é maior na
apesar do surfactante no líquido amniótico começar a gravidez gemelar e menor naquela complicada pelo
aumentar após 32 semanas, sugerindo que a secreção de crescimento intrauterino restrito (CIR) e pela pré-
surfactante pelos CL não coincide com o seu eclâmpsia. O provável mecanismo para essa adaptação é a
aparecimento retenção de sódio, determinada principalmente pela
Embora um feto de 22 a 25 semanas nascido maior secreção de aldosterona pela suprarrenal, a
prematuramente possa sobreviver inicialmente se receber despeito do efeito natriurético da progesterona.
cuidados intensivos, ele pode morrer, pois seu sistema
respiratório ainda é imaturo. Fetos nascidos antes de 26 Para conservar o sódio, quando a taxa de filtração
semanas de gestação têm risco elevado de deficiência glomerular aumenta em torno de 50%, surge na gravidez
(funcional) no desenvolvimento neurológico. Da mecanismo compensatório representado pelo sistema
vigésima sexta à vigésima nona semana, em geral, os renina-angiotensina. A renina é elaborada pelo aparelho
fetos sobrevivem se nascerem prematuramente e justaglomerular renal e age, em última análise,
receberem cuidados intensivos, porque os pulmões já se estimulando a secreção de aldosterona pelo córtex
desenvolveram o suficiente para realizar trocas suprarrenal, via angiotensina. A aldosterona é
gasosas adequadas. Além disso, o sistema nervoso responsável pelo aumento da reabsorção tubular de
central já amadureceu para o estágio em que pode sódio, preservando a homeóstase materna -
guiar o ritmo dos movimentos respiratórios e “hiperaldosteronismo secundário da gravidez”.
controlar a temperatura corporal. Próximo ao termo
(37 a 38 semanas), o sistema nervoso está suficientemente Na verdade, a concentração de sódio plasmática
maduro para realizar algumas funções integrativas. encontra-se ligeiramente diminuída na gestação, assim
como a osmolaridade total.
@resumeairafa
°
A gestante parece aceitar esse nível de osmolaridade, Na avaliação do edema na gravidez, é importante
sem elevar a diurese. Por outro lado, o limiar de sede na diferenciar o generalizado do gravitacional. O edema
gravidez está alterado de tal sorte que a gestante sente gravitacional está limitado aos tornozelos e decorre do
vontade de ingerir líquido com nível mais baixo de aumento de pressão nos capilares dos membros
osmolaridade do que a não gestante. Do mesmo modo, inferiores. Quando cessa a pressão na veia cava inferior
há redução acentuada também da pressão oncótica pelo útero gravídico, por exemplo, no momento em que a
paciente fica em decúbito lateral, o edema cede, como
(pressão coloidosmótica), determinada principalmente
habitualmente ocorre à noite. Não apresenta qualquer
pela queda na concentração de albumina plasmática de conotação com o acúmulo de sódio e de água e está
cerca de 20% (níveis gravídicos: 2,8 a 3,7 g/dℓ). O destituído de importância clínica. O edema
significado dessa alteração é o de que a pressão oncótica generalizado, que se anuncia pelo súbito aumento de
é o fator mais relevante para o equilíbrio de Starling, peso, engrossamento dos dedos, face vultosa e
vale dizer, o grau de passagem de líquido através dos deposição de água na metade superior do corpo, é visto
capilares (inclusive dos capilares glomerulares). Assim, em 25 a 30% das gestantes. O edema generalizado, na
a diminuição da pressão oncótica do plasma é ausência de hipertensão e proteinúria, representa simples
responsável pelo aumento da taxa de filtração exagero do processo fisiológico de retenção de sódio,
glomerular renal (TFG) observada na gravidez, além agravado pela queda de pressão oncótica plasmática,
de contribuir para o desenvolvimento do edema decorrente da relativa hipoalbuminemia gravídica. Os
periférico, trivial até mesmo na gravidez normal. Em diuréticos e a dieta hipossódica não são indicados na
resumo, os fatores responsáveis pela retenção de líquido gravidez.
estão descritos a seguir:
A Respiração Materna Aumenta Durante a Gravidez.
• Retenção de sódio Devido ao aumento do metabolismo basal da gestante e
• Novo nível de osmolaridade por causa do aumento de tamanho da mãe, a quantidade
• Diminuição do limiar da sede total de oxigênio usado por ela, pouco antes do
nascimento do bebê, é de aproximadamente 20%
• Redução da pressão oncótica.
acima do normal, e uma quantidade proporcional de
dióxido de carbono é formada. Esses efeitos fazem com
que a ventilação minuto da mãe aumente. Acredita-se
também que os altos níveis de progesterona durante a
gravidez elevem a ventilação minuto ainda mais, já que
a progesterona aumenta a sensibilidade do centro
respiratório ao dióxido de carbono. O resultado efetivo
é o aumento da ventilação minuto de cerca de 50% e queda
na PCO2 arterial de vários milímetros de mercúrio, abaixo
do que seria em uma mulher não grávida.
Simultaneamente, o útero em crescimento pressiona os
conteúdos abdominais para cima, fazendo pressão
ascendente contra o diafragma; assim, a excursão total do
diafragma diminui. Por conseguinte, a frequência
respiratória aumenta para manter a ventilação extra.

O cansaço e o sono excessivo surgem no primeiro


trimestre, não tendo, em um primeiro momento, nada a
ver com o peso do feto ou com o tamanho da barriga, a
progesterona é o que se destaca mais. Ao longo da
gestação, os níveis deste hormônio chegam a aumentar
em mais de 500%. Além da ação direta da
progesterona no sistema nervoso central, o que
provoca intenso sono na gravidez, várias alterações
fisiológicas do organismo e do corpo da mulher, muitas
delas também estimuladas pela própria progesterona,
As consequências da retenção de líquido são:
colaboram para o cansaço.
• Redução na concentração de hemoglobina A grávida nas primeiras semanas, além de desenvolver
• Redução do hematócrito o feto, precisa gerar a placenta que irá nutrir o bebê ao
• Diminuição da concentração de albumina longo da gravidez. Esse processo demanda muito
• Aumento do débito cardíaco gasto de energia, fazendo com que o organismo da
• Elevação do fluxo plasmático renal mulher priorize o desenvolvimento da gravidez em
• Edema periférico detrimento às suas atividades do dia-a-dia.

@resumeairafa
°
A grávida, portanto, já respira de forma mais rápida queratinização da pele fetal. O líquido é reabsorvido pelo
que o habitual e usa parte do oxigênio inspirado para feto, principalmente, pela deglutição, na sequência, por
o desenvolvimento do feto e da placenta. Por reabsorção intestinal e por trocas através da superfície
isso, qualquer atividade física que demande um das membranas que revestem o cordão umbilical, a face
aumento ainda maior do consumo de fetal da placenta e a parede uterina. Por volta da 2° metade
oxigênio costuma ser tão mal tolerada, da gestação, acredita-se que cerca de 30% do peso corporal
principalmente pelas mulheres que eram do feto seja decorrente da produção urinária diária, e que
sedentárias antes da gravidez e têm uma de 20 a 25% corresponda ao volume deglutido.
capacidade cardiopulmonar abaixo da desejada.
O volume amniótico é muito variável de um ovo a outro e,
O feto e a placenta também demandam sangue, e na mesma gestante, oscilante, embora com tendência geral
parte da circulação sanguínea é desviada para o ao aumento progressivo. Nos primórdios da gravidez, é
novo ser em desenvolvimento. Além do desvio de maior o volume amniótico que o do concepto. Sendo mais
sangue, os hormônios da gravidez também acentuado o desenvolvimento do feto que o do âmnio,
estimulam uma redução da pressão arterial, igualam-se, em torno do 5° mês, os volumes fetal e
provocada por vasodilatação das artérias. Logo, na amniótico, invertendo-se a proporção ao final do ciclo
gestante, há uma pressão arterial mais baixa para gravídico, ocupando o nascituro, em geral, a maior parte
irrigar uma área tecidual maior que a habitual. do ovo. Em média, o líquido amniótico tem 30 mℓ na 10°
semana, aumenta para 350 mℓ na 20°, próximo ao termo
Além de tudo isso, a retenção de líquidos dilui o alcança 1.000 mℓ, para depois diminuir 150 mℓ/semana. O
sangue, fazendo com que a grávida tenha uma anemia volume anormalmente reduzido é denominado
relativa, o que colabora ainda mais para o cansaço a oligodrâmnio, enquanto o aumento no volume do líquido
para a intolerância aos esforços. é denominado hidrâmnio ou polidrâmnio.

Com 32 semanas de gestação, o volume de líquido


amniótico atinge os valores máximos, a partir de então
diminui gradualmente até o parto. A variação do volume
de líquido é proporcional ao valor médio encontrado em
determinada idade gestacional, no 1° trimestre o volume é
muito menor.

Durante todo o desenvolvimento intrauterino, o produto


conceptual é envolvido pelo líquido amniótico, que
exerce funções importantes na proteção e
desenvolvimento do feto.
O líquido protege o feto tanto de traumas mecânicos
diretos como de fenômenos compressivos de cordão e é
fundamental para o desenvolvimento dos sistemas
musculoesquelético, respiratório e gastrointestinal.
Exerce importante papel na promoção do crescimento e
da diferenciação dos epitélios intestinal e pulmonar pela
presença de diversos hormônios, fatores de crescimento,
enzimas e outras substâncias. Participa, ainda, na
manutenção da homeostase fetal e constitui um ambiente
estéril, com propriedades bacteriostáticas favorável ao
desenvolvimento do concepto.
O mecanismo de regulação do líquido amniótico é
complexo e multifatorial, com a troca de praticamente
todo o volume diariamente no 3° trimestre da gravidez.
Fisiologia
O líquido contido na cavidade amniótica é O líquido amniótico é engolido pelo feto e absorvido pelo
essencialmente um ultrafiltrado do plasma materno, seu trato respiratório e digestivo. Estima-se que, durante
no início da gestação. as etapas finais da gravidez, o feto engula cerca de 400
Depois do 2° trimestre, a composição do líquido mL de fluido amniótico diariamente. O fluido é
amniótico se torna semelhante à do plasma fetal, absorvido pelo trato gastrointestinal e passa para a corrente
quando acontece a difusão do líquido extracelular sanguínea do feto. Os produtos residuais atravessam a
através da pele fetal. A urina fetal e o fluido pulmonar membrana placentária e entram no sangue materno pelo
passam a ser as principais fontes de líquido espaço interviloso. O excesso de água no sangue fetal é
amniótico, a partir da 20° semana de gestação, com a

@resumeairafa
°
excretado pelos rins fetais e devolvido para o saco A altura do útero está maior do que a esperada para a idade
amniótico por meio do trato urinário fetal. O volume de gestacional e a pele abdominal se apresenta distendida, lisa
líquido amniótico é classicamente reconhecido como e brilhante, com estrias extensas. A gestante pode relatar
normal quando está entre 300 e 400 mL dispneia. Os fenômenos mecânicos relacionados à
sobredistensão uterina e à pressão sobre os órgãos
Oligoâmnio: a suspeita é levantada em caso de o volume adjacentes causam outras queixas. O volume excessivo do
uterino ser menor que o esperado para a idade útero pode simular hipertonia, em alguns casos. A
gestacional, a palpação do abdome da gestante permite a identificação das partes fetais está prejudicada à palpação.
percepção da diminuição do líquido, bem como do O feto apresenta com excesso de movimentação,
reconhecimento das partes fetais. Pode haver relato da dificultando a ausculta dos batimentos cardíacos, é
mãe de redução na movimentação fetal e/ou perda de constatado sinal do “piparote”. Edema no baixo ventre
líquido por via vaginal. Pode resultar em insuficiência materno, bem como nos membros inferiores, é comum.
placentária, com diminuição do fluxo sanguíneo Contrações que caracterizam o trabalho de parto
placentário. prematuro podem acontecer em quadros agudos, precoces
e que se desenvolvem em poucos dias. A maioria dos casos
Diante de insuficiência placentária, sob hipofluxo de polidrâmnio (60%) é idiopática (de causa
sanguíneo, ocorrem déficit nutritivo e regime de hipóxia desconhecida); 20% dos casos são causados por fatores
relativa, que desencadeiam a redistribuição da circulação maternos, enquanto 20% são de origem fetal. O
fetal (centralização hemodinâmica), com desvio de polidrâmnio pode estar associado a anomalias graves do
maior fluxo sanguíneo para órgãos mais importantes sistema nervoso central, como a meroencefalia
(cérebro, coração e adrenais), em detrimento de outros, (anencefalia). Com outros defeitos congênitos, como a
como rins, pulmões e sistema digestório. Assim, o atresia de esôfago, o líquido amniótico se acumula porque
oligoâmnio é marcador de insuficiência placentária e não consegue passar para o estômago e intestinos fetais
sofrimento fetal e está frequentemente relacionado a para ser absorvido.
restrição de crescimento fetal e recém--nascidos
pequenos para a idade gestacional.

A ruptura prematura da membrana amniocoriônica é a


causa mais comum de oligodrâmnio. Na presença de
agenesia renal (falha na formação do rim), a falta de
urina fetal no líquido amniótico é a principal causa de Critérios subjetivos do diagnóstico:
oligodrâmnio. Uma diminuição semelhante do líquido
amniótico ocorre na uropatia obstrutiva (obstrução do Oligoâmnio: pequena quantidade de líquido amniótico
trato urinário). Complicações oriundas de entre as interfaces fetais e a parede uterina, constatação das
oligo-hidrâmnio incluem anormalidades fetais pequenas partes fetais muito “aglomeradas” e dificuldade
(hipoplasia pulmonar, defeitos faciais e defeitos nos para o estudo da morfologia fetal em decorrência da
membros), causadas pela compressão fetal pela parede diminuição evidente do líquido amniótico.
uterina. Polidrâmnio: identificação de grandes bolsões resultado
do aumento evidente do volume de líquido amniótico, a
Polidrâmnio: O polidrâmnio é determinado quando o divergência entre a quantidade de líquido amniótico e o
volume de líquido amniótico excede 2.000 mL, situação tamanho do feto, espaços entre este e a parede uterina
que ocorre em aproximadamente 0,2 a 2% das gestações. anterior.
@resumeairafa
°
Critérios semiquantitativos: Atualmente, as téc-nicas
que mensuram o maior bolsão e o índice de líquido
amniótico são as mais aceitas e não há evidência de que
algum dos métodos seja superior ao outro em compara-
ção direta, nem mais reprodutível.

Técnica do maior bolsão de líquido amniótico: É uma


técnica ultrassonográfica para verificar a medida do
diâmetro vertical do maior bolsão de líquido amniótico,
livre de partes fetais e alças de cordão umbilical.

O crescimento intrauterino restrito (CIR) é uma


importante entidade mórbida em obstetrícia, haja vista que
a mortalidade perinatal em fetos incluídos nessa categoria
é 10 vezes maior do que em conceptos normais. Os fetos
que sobrevivem estão propensos a maior morbidade
neonatal imediata – hipoxia, síndrome de aspiração de
mecônio, hipoglicemia –, assim como a complicações
tardias, como retardo no neurodesenvolvimento,
paralisia cerebral e, muito provavelmente, diabetes tipo
2 e hipertensão na vida adulta.

CIR está relacionado com o feto que não conseguiu atingir


o seu potencial genético de crescimento. Pequeno para a
idade gestacional (PIG) corresponde ao recém-nascido
com peso abaixo do 10° porcentil para a idade gestacional.
Recém-nascido de baixo peso é aquele que nasce com peso
inferior a 2.500g, mas que não necessariamente é PIG.

A hipoglicemia neonatal presente nesses casos relaciona-


se à redução dos estoques de glicogênio hepático e
miocárdico, ao decréscimo da neoglicogênese hepática
e à redução do tecido adiposo. A hipocalcemia decorre
da prematuridade (pelo atraso na introdução de leite para
o recém-nascido) e da ocorrência de hipoxia (por sobrecar-
ga de fósforo devido à lesão celular, aumento dos níveis
séricos de calcitonina e diminuição do fluxo de cálcio para
o líquido extracelular quando se corrige a acidose). A
hipotermia, quando presente, ocorre por causa da perda
excessiva de calor por escassez de tecido subcutâneo. A
policitemia é consequência da elevação da eritropoetina
fetal decorrente da hipoxia crônica intrauterina. Com a
Índice do líquido amniótico
hiperviscosidade sanguínea surgem outras complicações,
Também conhecida como a técnica dos quatro
como insuficiência cardíaca, trombose cerebral e
quadrantes, a gestante é posicionada em decúbito dorsal
insuficiência respiratória. Em decorrência da insuficiência
horizontal e o abdome dividido em quatro quadrantes
placentária podem surgir outras anomalias hematológicas
determinados pela linha nigra e pelo eixo transverso,
além da policitemia, como aumento de hemácias
que passa no nível da cicatriz umbilical materna. A soma
nucleadas, plaquetopenia e leucopenia. Em relação ao
das medidas do maior bolsão vertical identificado em
prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor, os estudos
cada um dos quadrantes traduz o resultado final. É uma
mostram que, quando o tecido cerebral é comprometido
técnica vantajosa, em razão de ser facilmente
pela hipoxia e desnutrição antes de 34 semanas, surgem
padronizada e apresentar boa reprodutibilidade. De
problemas de adaptação, irritação e dificuldade de
preferência, deve ser aplicada a gestantes com mais de
concentração. Entretanto, quando a agressão é muito
28 semanas e quando o fundo do útero ultrapasse a
precoce (antes de 26 semanas), os distúrbios são mais
cicatriz umbilical.
graves, com comprometimento do aprendizado, da fala e
da escrita. Apesar de as sequelas neurológicas mais graves
serem secundárias à acidose perinatal e a complicações no
@resumeairafa
°
parto, todas as formas de paralisia cerebral são mais
frequentes diante da CIR.

A maioria dos recém-nascidos com crescimento


restrito no termo recupera suas medidas de estatura
e peso na primeira infância (cerca de 80% deles
recuperam suas medi-das no primeiro ano de vida).
Entretanto, entre aqueles que não se recuperam até 2
anos, cerca de 50% mantêm-se pequenos na idade adulta.

Lin e Evans, em 1984, propuseram uma classificação


que relacionava o agente etiológico com a fase de
crescimento celular prejudicada e o tipo clínico
observado. O comprometimento fetal e, portanto, o
seu prognóstico dependiam do agente agressor, da
fase comprometida da gestação e da duração do
estímulo nocivo. Segundo essa classificação, CIR
pode ser dividida em três tipos clínicos:

Tipo I (simétrico): o agente agressor atua


precocemente na gravidez, ou seja, durante a
embriogênese. Ocorre prejuízo do processo de
multiplicação celular (hiperplasia), dando origem a
recém-nascido com redução proporcional das medidas
corporais (peso, estatura e circunferência cefálica).
Os fatores mais frequentemente envolvidos são
genéticos, infecções congênitas, dr-gas e radiações
ionizantes. Segundo os autores, esse tipo
corresponderia a cerca de 10 a 20% dos casos de CIR,
com prognóstico geralmente ruim, já que se associam
a incidência elevada de malformações fetais.
Tipo II (assimétrico): a atuação sobre o feto acontece
no terceiro trimestre da gestação, isto é, na fase
correspondente ao aumento do tamanho das células
(hipertrofia). Dá origem a recém-nascido com
redução desproporcional das medidas corporais. O
polo cefálico e os ossos longos são pouco atingidos,
permanecendo acima do percentil 10, sendo o abdome Diagnóstico
a região mais comprometida. Ele é típico das O acompanhamento obstétrico adequado durante o pré-
insuficiências placentárias e constitui o tipo mais natal é de suma importância para o diagnóstico do CIR. As
frequente (cerca de 75% dos casos). O diagnóstico gestantes com fatores de risco devem receber maior
precoce e a condução adequada do caso revelavam atenção no que se refere ao crescimento fetal. Um dos
bom prognóstico. fatores de risco que sempre deve ser pesquisado é o
Tipo intermediário: o agente agressor atua no antecedente de CIR em gestação prévia, pelo risco de
segundo trimestre da gestação, comprometendo tanto recorrência. O diagnóstico de CIR só é possível diante da
a fase de hiperplasia como a de hipertrofia das células. determinação exata da idade gestacional. Datando-se a
Geralmente, nesses casos, o feto se apresenta com gestação, podem-se valorizar as medidas da altura uterina
comprometimento cefálico e de ossos longos, mas em e os futuros exames ultrassonográficos. O ganho de peso
grau menor do que no tipo I. Os fatores mais materno insuficiente deve nos alertar para a possibilidade
frequentemente envolvidos são desnutrição, uso de de crescimento fetal diminuído. O peso materno deve ser
determinados fármacos, tabagismo e alcoolismo. Esse aferido em cada consulta de pré-natal e, para seu
tipo é de difícil diagnóstico e corresponderia à acompanhamento, pode-se utilizar a curva de Atalah que
minoria dos casos (10%). relaciona o índice de massa corporal (IMC) materno com
a semana de gestação. O gráfico é dividido em quatro
faixas: baixo peso, peso adequado, sobrepeso e obesidade.

@resumeairafa
°

Ultrassonografia
O diagnóstico provável de CIR é feito pela
ultrassonografia, que é mais precisa do que a medida da
altura uterina. Na avaliação do crescimento fetal por esse
método, diversos parâmetros permitem a detecção e a
classificação da CIR. São importantes as medidas do
diâmetro biparietal (DBP), da circunferência cefálica
(CC), da circunferência abdominal (CA), da relação
circunferência cefálica/circunferência abdominal
(CC/CA), do comprimento do fêmur (F) e da relação
comprimento do fêmur/circunferência abdominal (F/CA).
Entre essas medidas, CA é um dos marcadores mais
importantes do estado nutricional do feto, por refletir o
volume do fígado e da gordura subcutânea abdominal. O
volume do fígado depende da quantidade de glicogênio
armazenada, que é influenciada por fatores que levam à
CIR, especialmente do tipo II. Mesmo diante da estimativa
de peso fetal acima do percentil 10, se CA for inferior à
esperada para a idade gestacional, deve-se manter a
vigilância. Para o cálculo do peso fetal, utilizam-se as
Medida da altura uterina medidas do polo cefálico, do abdome e do fêmur.
A medida da altura uterina com a fita métrica menor do Considera-se a presença de CIR quando o peso do feto se
que a esperada para a idade gestacional, ou seja, abaixo encontra abaixo do percentil 10 em relação à idade
do percentil 10, constitui sinal clínico suspeito e deve ser gestacional.
sempre utilizada para o seu rastreamento. É importante
que tais medidas sejam seriadas, utilizando-se curvas-
padrão próprias da população a ser avaliada.
A medida da altura uterina com a fita métrica apresenta
boa taxa de detecção de CIR, com sensibilidade e
especificidade acima de 80%. Quando a medida obtida
encontra--se acima do percentil 10, a probabilidade de
crescimento normal é superior a 90%. Por outro lado,
quando essa medida é inferior ao percentil 10, a
probabilidade de ser um feto com crescimento restrito é
de aproximadamente 60%, ou seja, o seu valor preditivo
positivo é baixo.

@resumeairafa
°

Devem ser relatadas a atividade cardíaca fetal, a


quantidade de fetos e a apresentação. A frequência
cardíaca fetal (FCF) e o ritmo são anotados. A gravidez
múltipla requer informação adicional de corionicidade,
amnionicidade, comparação dos pesos fetais, estimação
do volume do líquido amniótico (vLA) em cada lado do
septo intergemelar, e sexo fetal. O maior bolsão
(diâmetro vertical) de LA ≤ 2 cm indica oligoidramnia e
≥ 8 cm, polidramnia. A localização da placenta é tempo
fundamental da ultrassonografia morfológica. Se a
placenta alcança o orifício interno do colo, esse achado
deve ser confirmado pela via transvaginal. O
comprimento do colo uterino é um marcador
importantíssimo de parto pré-termo, também há de ser
medido pela ultrassonografia transvaginal.

No 2° trimestre, a gravidez pode ser datada pela medida


do diâmetro biparietal (DBP) ou pelo comprimento do
fêmur (CF), com precisão de ± 10 dias. O DBP é medido
no nível do tálamo e do cavo do septo pelúcido. A
medida é realizada entre a borda externa do parietal
proximal e a borda interna do parietal distal.
A circunferência abdominal (CA) deve ser determinada
na linha da pele em plano transversal do abdome
superior, no nível do estômago ou da junção da veia
umbilical ao seio portal. A CA conduz ao diagnóstico
de crescimento intrauterino restrito (CIR) ou de
macrossomia. A estimativa do peso fetal (EPF) pode ser
realizada pela obtenção do DBP, da CA e do CF. O erro
da estimativa é de ± 15 a 20%. Os rins, a inserção do
cordão umbilical e a bexiga também serão visualizados
nesse plano, assim como a integridade do diafragma
direito e do esquerdo em planos parassagitais. A. Corte das quatro câmaras. B. Via de saída da aorta. C. Via de
saída da pulmonar
A ultrassonografia morfológica deve surpreender a
existência de malformações estruturais maiores, tais
como encefalocele, gastrosquise, hérnia diafragmática e
anormalidades urogenitais. O útero e os anexos devem
ser estudados, e a existência de miomas e de massas Referências
anexiais deve ser anotada. Há possibilidade de os ovários • MOORE,K.L.; PERSAUD, T. V. N.EmbriologiaBásica.
não serem visualizados na ultrassonografia de 2° 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
trimestre.O corte das quatro câmaras do coração faz parte • MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J.
da ultrassonografia morfológica de 2° trimestre. O corte Rezende obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
das quatro câmaras inclui ainda a via de saída ventricular Koogan, 2017.
esquerda – aorta e a via de saída ventricular direita – • ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib obstetrícia.
pulmonar. 3. ed. Barueri: Manole, 2020.
• GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Guyton e Hall: tratado de
fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017
• https://www.mdsaude.com/gravidez/sono-na-gravidez/
• https://www.scielo.br/j/ramb/a/hvJTG4VdYC7hHw6yc
fsxsvf/?lang=pt&format=pdf
• http://files.bvs.br/upload/S/01007254/2014/v42n3/a478
4.pdf

@resumeairafa
Gestação gemelar °

Formação de uma gestação gemelar Gêmeos Monozigóticos


Como resultam da fecundação de um ovócito e se
A gravidez gemelar é definida pela presença simultânea desenvolvem a partir de um único zigoto, os gêmeos MZ
de 2 ou mais gestações, dentro do útero ou fora dele, são do mesmo sexo, geneticamente idênticos e similares
podendo ser classificada em dupla, tripla e múltipla de
na aparência física. As diferenças físicas entre gêmeos MZ
elevada ordem: quádrupla, quíntupla, sêxtupla etc. são ambientalmente induzidas, como por anastomose dos
Os gêmeos que se originam de dois zigotos são gêmeos vasos da placenta, o que resulta em diferenças no
dizigóticos (DZ) – gêmeos fraternais, enquanto os suprimento de sangue da placenta. Em geral, a geminação
gêmeos que se originam de um zigoto são gêmeos MZ começa na fase de blastocisto, aproximadamente no
monozigóticos (MZ) – gêmeos idênticos. As fim da primeira semana, e resulta da divisão do
membranas fetais e placentas variam de acordo com a embrioblasto em dois primórdios embrionários.
origem dos gêmeos. Posteriormente, dois embriões, cada um em seu próprio
A classificação da gravidez gemelar baseia-se na: saco amniótico, se desenvolvem dentro de um saco
Quantidade de fetos: dupla, tripla, quádrupla etc. coriônico e compartilham uma única placenta, uma
Quantidade de ovos fertilizados: zigotia placenta gêmeo-monocoriônica diamniótica. Mais
Quantidade de placentas: corionia incomum é a separação dos blastômeros no início do
Quantidade de cavidades amnióticas: amnionia. desenvolvimento (p. ex., durante a fase de 2 a 8 células)
No que se refere ao tipo de placentação (corionia ou resultando em gêmeos monozigóticos com dois âmnios,
corionicidade) os gêmeos DZ são sempre DC: 2 dois córios e duas placentas que podem ou não ser
placentas, embora possam estar fusionadas, uma só fusionadas.
massa placentária. A placentação nos MZ pode ser de
qualquer tipo e depende da época, em relação à
fertilização, na qual ocorre a divisão do zigoto.
Quando a divisão ocorre muito precocemente, durante
os 3 primeiros dias após a fertilização, pela divisão da
mórula, formam-se 2 blastocistos e os gêmeos serão
DC, diamnióticos (DA) (30% dos MZ).
Quando a divisão ocorre entre o 3° e o 8° dia após a
fertilização, por divisão do embrioblasto, antes da
formação do âmnio, o resultado será a placentação
MCDA, placentação monocoriônica diamniótica (70%
dos MZ). Se a divisão sucede entre o 8 o e o 13 o dia após
a fertilização, por divisão completa do disco
embrionário, depois da formação do âmnio, a
placentação é MC monoamniótica (MA) (1% dos MZ).
Quando a divisão ocorre após o 13 o dia da fertilização,
a separação do disco embrionário será incompleta,
resultando em gemelidade imperfeita (rara); a
placentação será obrigatoriamente MCMA,
placentação é monocoriônica monoamniótica.
As divisões finais das células embrionárias precoces (ou
seja, a divisão das células do disco embrionário durante
a segunda semana do desenvolvimento) resulta em
gêmeos MZ com um saco amniótico e um saco coriônico.
Uma placenta dupla monocoriônica-monoamniótica
está associada a uma taxa de mortalidade fetal que se
aproxima de 50%. Os cordões umbilicais são
frequentemente tão emaranhados que a circulação do
sangue através de seus vasos cessa e um ou ambos os
fetos morrem.

Gêmeos Dizigóticos
Como resultam da fecundação de dois oócitos por dois
espermatozoides, os gêmeos DZ podem ser do mesmo
sexo ou de sexos diferentes. Pela mesma razão, eles não
são mais parecidos do que irmãos ou irmãs genéticos
nascidos em épocas diferentes. Os DZ sempre
apresentam dois âmnios e dois córios, mas os córios e
as placentas dos dois gêmeos podem se fusionar.
@resumeairafa
Gestação gemelar °

Placenta dicoriônica e diamniótica de gêmeos. A membrana divisória que separa os fetos gemelares foi levantada e é formada por
córion (c) entre dois âmnios (a).

@resumeairafa
Gestação gemelar °
Diagnóstico da gemelidade Número de placentas: duas placentas separadas,
Suspeita-se de gravidez gemelar quando o tamanho distintas, sugerem dicorionicidade, mas uma única massa
uterino está muito aumentado, em discordância com a placentária pode ser indicativa de 2 placentas fusionadas
idade da gestação. Sinal twin peak ou lambda: esse sinal representa uma
Ultrassonografia: Do 1° trimestre da gravidez até o projeção do tecido corial placentário estendendo-se entre
parto do 2° gemelar, a utilização da ultrassonografia no o septo intergemelar e representa a gemelidade DC
acompanhamento da gravidez gemelar é onipresente e O exame ultrassonográfico realizado no primeiro trimestre
indispensável. Entre as aplicações clínicas mais comuns identifica com acurácia próxima de 100% as gestações
estão a determinação de corioamnionicidade; a dicoriônicas pela presença de mais de um saco gestacional
confirmação da idade da gravidez; o diagnóstico de e um septo espesso entre eles.
anomalias e de complicações; o exame do colo; a O sinal do lambda é a projeção do componente
avaliação do crescimento fetal e do volume do líquido coriônico entre as membranas amnióticas identificada
amniótico (LA); a localização da placenta; e a posição na base da inserção placentária portanto, a identificação
fetal para a conduta no parto desse sinal em qualquer estágio da gestação constitui
Determinação da corionicidade evidência de dicorionicidade. A ausência do sinal do
Por conta dos maiores riscos envolvidos em uma lambda após o primeiro trimestre de gestação não deve ser
gestação múltipla monocoriônica, o conhecimento da considerada evidência de monocorionicidade e não exclui
corionicidade em gestações múltiplas é essencial para a possibilidade de gestação dicoriônica ou dizigótica. Isso
guiar o aconselhamento do casal e, principalmente, o decorre do fato de que a camada coriônica regride
manejo dessas gestações. conforme a gestação evolui, o que dificulta
O primeiro trimestre da gestação é o melhor período progressivamente a identificação do sinal do lambda, e as
para se determinar a corionicidade e a amnionicidade. massas placentárias podem se fundir e apresentar aspecto
Indica-se a realização do exame entre 6 e 8 semanas de de massa placentária única.
gestação, por via transvaginal
Antes de 10 semanas da gravidez há inúmeros sinais
sonográficos que tornam possível a determinação da
corioamnionicidade:
Número de sacos gestacionais: cada SG forma a própria
placenta. Assim, a presença de 2 SG implica uma
gravidez DC, enquanto SG único com 2 batimentos
cardiofetais (bcf) identificados atesta gemelaridade MC
Número de cavidades amnióticas: quando os gêmeos
DA são identificados antes de 10 semanas, âmnios
separados e distintos podem ser vistos pela
ultrassonografia transvaginal (UST). Antes de 10
semanas, os 2 âmnios separados da gravidez DA ainda
não se expandiram o suficiente para entrarem em contato
e criarem a membrana (ou septo) intergemelar. Os 2
âmnios são extremamente finos e delicados, mas podem
ser identificados como estruturas separadas na UST
Número de vesículas vitelinas: o número de vesículas
vitelinas (VV) é útil para o diagnóstico da amniocidade.
Quando 2 VV são vistas, a gravidez é DA, enquanto uma
única VV, na maioria dos casos, indica gêmeos MA.
Uma única VV com 2 embriões obriga a um seguimento
sonográfico para determinar definitivamente a
amniocidade. Depois de 10 semanas, esses sinais
sonográficos já não estão mais presentes: os SG já não
são mais distintamente separáveis, e a membrana Gravidez gemelar monocoriônica e diamniótica com 8
intergemelar está formada. semanas. Observe o âmnio delgado envolvendo cada
Nesse estágio, novos sinais sonográficos para determinar embrião, o que resulta em uma membrana divisória fina
amniocidade/corionicidade são procurados: (1) genitália (seta azul).
fetal; (2) quantidade de placentas; (3) sinal twin peak
ou lambda; e (4) características do septo
intergemelar.
Discordância sexual: não é rotineiramente utilizada na
ultrassonografia de 10 a 14 semanas. A discordância
entre os sexos identifica a dicorionicidade; mas a
concordância não a afasta.

@resumeairafa
Gestação gemelar °
Outros Tipos de Nascimentos Múltiplos Trigêmeos complicações hemorrágicas da gestação, como placenta
podem ser derivados a partir de: prévia e descolamento prematuro de placenta (DPP);
• Um zigoto e ser idênticos infecção puerperal; edema pulmonar e óbito. A
• Dois zigotos, sendo dois gêmeos idênticos e um hipertensão arterial merece destaque pois é uma das
diferente complicações gestacionais mais frequentes nas gestações
• Três zigotos do mesmo sexo ou de sexos diferentes; múltiplas.
neste caso, as crianças não são mais semelhantes do que
Causas da infertilidade feminina e masculina
crianças oriundas de três gestações separadas
Combinações semelhantes ocorrem em quádruplos,
quíntuplos, sêxtuplos e sétuplos. Infertilidade é a dificuldade de um casal obter gravidez
no período de um ano tendo relações sexuais sem uso
Gêmeos siameses de nenhuma forma de anticoncepção. As causas de
infertilidade ligadas ao fator feminino podem ser divididas
Se o disco embrionário não se dividir completamente, em quatro grupos:
vários tipos de gêmeos monozigóticos conjugados Causas ovarianas e ovulares:
poderão se formar. A terminologia utilizada para Síndrome dos ovários policísticos ou síndrome da
descrever os gêmeos baseia-se nas regiões do corpo pelas anovulação (ausência de ovulação) crônica; insuficiência
quais estão ligados; por exemplo, toracopago indica ovariana prematura ou menopausa precoce; secreção
união anterior das regiões torácicas. Em alguns casos, os excessiva de prolactina; hipotireoidismo; idade da
gêmeos são ligados um ao outro apenas pela pele ou por mulher – basicamente, a partir dos 37 anos;
outros tecidos, como, por exemplo, fígados fusionados. Síndrome do ovário policístico:
Alguns gêmeos siameses podem ser separados com
sucesso por cirurgia.

Fisiologia materna
São exemplos de alterações mais acentuadas nas
gestações gemelares:
A expansão volêmica média é de 1.960 mL, conforme
observado por Pritchard em estudo longitudinal Esses folículos ficam liberando uma enorme quantidade de
prospectivo, enquanto a observada em gestações únicas estrógeno que circula na corrente sanguínea e pode causar
é de 1.570 mL. outros sintomas, como: irregularidades menstruais,
O aumento da volemia e da pré-carga cardíaca provoca hirsutismo, acne, alopecia, obesidade e infertilidade.
aumento também do débito cardíaco. Em gestações O aumento da resistência à insulina pode causar SOP
gemelares, o débito cardíaco é cerca de 20% maior do (aumento de insulina → aumenta andrógenos →
que nas gestações únicas, o que provoca um estado anovulação).
hiperdinâmico da circulação materna
As queixas de dispneia são mais frequentes nas gestações Insuficiência hipotálamo-hipofisária:
gemelares, pois o aumento do volume abdominal e, É uma causa pré-ovariana na qual há alterações no eixo
consequentemente, o aumento do recrutamento de hipotálamo-hipófise, gerando deficiências na produção
músculos acessórios para a respiração são mais de gonadotrofinas (não libera FSH e LH – perda do
acentuados nessas gestações. Também há quadros de controle ovariano). Pode ser congênita ou adquirida.
pielectasia renal causados pela compressão da drenagem •Congênita → amenorreia primária, anosmia e baixa
ureteral pelo útero distendido. A homeostase gasosa e o concentração de gonadotrofinas, levando a deficiência na
equilíbrio acidobásico são semelhantes aos observados produção GnRH.
em gestações únicas. •Adquirida → perda excessiva de peso, desordem do
Complicações apetite, excesso de exercícios físicos, desnutrição e uso de
Sabe-se que a incidência de complicações gestacionais é medicamentos (anticoncepcionais hormonais,
maior nas gestações múltiplas, com exceção apenas do anfetaminas) e ao estresse crônico, acarretando supressão
pós-datismo e da macrossomia fetal. O diagnóstico de da liberação dos pulsos de GnRH e ao hipogonadismo. É
baixo peso ao nascer é frequente nessas gestações por reversível.
conta da maior incidência de prematuridade e Anovulação crônica de origem hipofisária: Apresenta
restrição do crescimento fetal (RCF). A síndrome da causas multifatoriais, como: síndrome de sheehan
transfusão feto-fetal e a discordância entre os fetos (necrose aguda hipofisária), tumores hipofisários,
quanto a alterações morfológicas, alterações de cirurgias hipofisárias, irradiações hipofisárias, moléstias
vitalidade fetal e alterações do crescimento fetal são granulomatosas (micose, turbeculose, sífilis, etc) e
exclusivas das gestações múltiplas. Entre as hiperprolactina.
complicações maternas, há um aumento na frequência
de anemia; hiperêmese gravídica; pré-eclâmpsia;
@resumeairafa
Gestação gemelar °
Na hiperprolactinemia a mulher não libera LH e FSH, e espermatozoides (azoospermia), diminuição do seu
pode gerar disfunções ovarianas, provocadas por: número (oligospermia) ou alteração na forma
(teratospermia), na capacidade de movimento
(astenospermia) ou na vitalidade (necrospermia). A
insuficiência testicular primária é responsável por,
aproximadamente, 75% de todos os casos de infertilidade
masculina. Até 30 a 50% dos casos não conseguem ter sua
etiologia confirmada, sendo rotulados como infertilidade
idiopática.
Causas:
Criptorquidia (testículos que não desceram):
Endometriose: doença crônica, causa pós-ovariana;
malformação identificada no nascimento do menino,
caracterizada pela presença de tecido endometrial
caracterizada pelo posicionamento incorreto do testículo,
funcionante fora da cavidade uterina podendo
atrapalhando a produção de espermatozoides. O problema
comprometer diversos locais.
deve ser corrigido na infância para evitar a infertilidade;
Fatores genéticos, como aberrações cromossômicas,
Sintomas → dores pélvicas, ausência de menstruação,
alterações genéticas e microdeleções do cromossomo Y.;
problemas intestinais, infertilidade.
Fatores hormonais, como disfunções hipotalâmico-
hipofisárias, tireoidianas ou adrenais;
Causas tubárias e do canal endocervical:
Infecções: prostatites, uretrites, infecções urinárias;
Obstrução tubária, geralmente provocada pela
Obstrução do canal por onde passam os espermatozoides;
endometriose ou infecções pélvicas; alterações na
Varicocele (veias do testículo com dilatação anormal);
secreção do muco cervical;
Outros fatores: radioterapia, quimioterapia, doenças
neurológicas, diabetes, traumas testiculares, drogas,
Causas ligadas à fertilização:
doenças sexualmente transmissíveis.
Vigor do espermatozoide e do óvulo; defeitos nos
cromossomos ou nas outras estruturas que regulam a
fusão dos dois gametas não permite a fertilização;
exposição a fatores de risco (raios X, radiações,
medicamentos tóxicos) podem dificultar ou impedir a
fertilização; idade da mulher;

Causas ligadas à implantação do embrião:


A implantação é a penetração do embrião na camada que
reveste a cavidade uterina, chamada endométrio. Esse
revestimento é preparado para receber o embrião formado
após a ovulação e fertilização. Os hormônios femininos
(estrógeno e progesterona) são responsáveis pela
preparação do endométrio, durante o ciclo menstrual.
Portanto, falhas hormonais podem produzir um
endométrio inadequado para a implantação.

Entre mulheres com 35 anos ou mais, ou quando há


histórico de aborto de repetição, os médicos podem
diagnosticar infertilidade após apenas 6 meses de
tentativas, pois a habilidade de conceber declina
substancialmente com o aumento da idade, e o atraso no
início de uma intervenção poderá diminuir a efetividade A síndrome de Klinefelter é o distúrbio cromossômico
do tratamento. A infertilidade pode ser classificada como mais frequente em homens inférteis e está geralmente
primária (não tem filhos) ou secundária (incapacidade de associada a testículos hipotróficos ou atróficos, níveis
conceber outros filhos). elevados de FSH e azoospermia, embora a
espermatogênese possa ser afetadade maneira diferente.

Estima-se que a infertilidade atinja 10% a 20% dos casais O exame do sêmen constitui o aspecto mais importante da
em idade reprodutiva, independentemente de suas investigação de um homem infértil. A coleta deve ser
origens étnicas ou sociais. Em aproximadamente 30% realizada 3 a 7 dias de abstinência de relações sexuais. A
dos casos, a infertilidade é causada apenas por fatores concentração normal de espermatozoides situa-se em
masculinos. Na maioria dos casos, estão ligadas a 15.000.000/mL, entretanto, homens com uma contagem
indevida produção, ação e/ou transporte dos menor podem ser férteis.
espermatozoides. Em homens inférteis, há ausência de
@resumeairafa
Gestação gemelar °
com as mulheres com idade de 40 anos ou mais. As
complicações mais frequentes observadas foram as
síndromes hipertensivas específicas da gestação,
sobressaindo-se a pré-eclampsia, diabetes gestacional e
rotura prematura de membrana. Os autores justificam
a maior prevalência de hipertensão crônica devido ao
comprometimento vascular da idade, o que pode
aumentar a susceptibilidade dessas mães à hipertensão
específica da gravidez, mesmo que a hipertensão não seja
Tratamento para infertilidade reconhecida clinicamente. Estudos apontam que o
A indução de ovulação com FSH associado à diabetes preexistente e gestacional aumenta de três a
gonadotrofina coriônica humana (hCG) ou ao citrato seis vezes em mulheres com mais de 40 anos em
de clomifeno aumenta notavelmente a probabilidade comparação com mulheres de 20 a 29 anos. A ruptura
de ovulações múltiplas concomitantes. Na revisão que prematura de membranas (RPM) incide em cerca de 10%
fizeram dessa prática, McClamrock e colaboradores de todas as gestações, em sua maioria ao termo, e em 2%
(2012) relataram taxas de gêmeos e de gestações a 3% das vezes na gestação pré-termo. Tem sua gênese em
múltiplas de maior ordem de até 28,6 e 9,3%, múltiplos fatores e, na maioria das vezes, de causas
respectivamente. desconhecidas. Tem sido apontado como fatores
predisponentes o tabagismo, deficiências vitamínicas,
Em geral, com a fertilização in vitro (FIV), quanto infecções genito-urinárias, antecedente de RPM em
maior for o número de embriões transferidos, maior gestação anterior, entre outras. Quanto à paridade, não
será o risco de ocorrerem gêmeos ou de outras houve significância para complicações na gestação.
gestações múltiplas. A American Society for
Porém, estudos afirmam que a multiparidade está
Reproductive Medicine (2017) recentemente revisou associada ao aumento do risco materno e neonatal e que
suas diretrizes relacionadas com a idade no que se refere em mulheres nulíparas com idade
ao número de embriões em estágio de clivagem ou superior a 40 anos correm maior risco de complicações do
blastocistos a serem transferidos durante a FIV. Esse que aquelas que já tiveram filhos, como complicações
esforço visa reduzir a incidência de gestações fetais de temos o baixo peso ao nascer e idade gestacional menor.
maior ordem. Com base nessas novas recomendações, as De todas as gestações clinicamente reconhecidas, 15 a
mulheres com menos de 35 anos de idade são 20% terminam em aborto espontâneo, especialmente
encorajadas a receber a transferência de um único durante as primeiras 13 semanas de gravidez.
embrião, independentemente do estágio do embrião. A idade materna é o rastreamento inicial para identificar
Essas práticas efetivamente reduziram as taxas de
os casos com risco de síndrome de Down (e outras
gestações múltiplas, e a taxa de trigêmeos ou de trissomias – 18, 13), visto que o risco de trissomia 21 se
gestações múltiplas de maior ordem diminuiu eleva com a idade. A priori, o risco para uma mulher de 35
anualmente desde 2009. anos de ter feto com Down, durante o segundo trimestre, é
de 1/270.
Riscos de uma gravidez a partir dos 35 anos As chances de uma mulher de 32 anos com gestação
gemelar e zigotia desconhecida ter ao menos um bebê com
São consideradas gestações tardias, as gestações em síndrome de Down são equivalentes ao risco de uma
mulheres que engravidam após os 34 anos de idade. grávida de 35 anos com gestação única.
A gravidez em idade avançada predispõe a maiores
riscos obstétricos. Tal risco é decorrente tanto da
própria senilidade ovariana, quanto da frequência
aumentada de doenças crônicas pré-existentes, fato
que aumenta com decorrer da idade. Logo, estas
mulheres estarão mais sujeitas a hospitalizações mais
frequentes e ainda terão chance aumentada para
abortamento espontâneo, onde 40 a 60% desses terão
alterações cromossômicas.
Isso se explica pelo fato do declínio da fertilidade ser
gradual até os 35 anos, acentuando-se após essa idade.
Com o avançar da idade aumenta a probabilidade de
defeitos estruturais nos óvulos, frequência de
patologias crônicas, o que torna a história
reprodutiva ser progressivamente mais complicada à
medida que aumenta a faixa etária da gestante. Diante
disso, destaca-se o fato de as mulheres na faixa etária
mais jovem (35 a 39 anos) apresentarem uma frequência
maior de complicações na gestação quando comparado
@resumeairafa
Gestação gemelar °

Pré-eclâmpsia e diferenciação com hipertensão


envolvimento em outros órgãos, notadamente, hemólise,
elevação de enzimas hepáticas, queda de plaquetas
crônica, gestacional, gestacional transitória,
(síndrome HELLP) além de cefaleia, escotomas e dor
epigástrica.
eclâmpsia e síndrome Notadamente, a hipertensão crônica na gravidez eleva
Hipertensão crônica: é aquela que está presente antes os riscos de pré-eclâmpsia e de descolamento
de 20 semanas da gravidez, e pode persistir até 12 prematuro da placenta (DPP). Mulheres com
semanas de pós-parto (ACOG, 2012). Hipertensão é hipertensão crônica leve têm risco de pré-eclâmpsia de
definida como pressão sistólica ≥ 140 mmHg e/ou 20%, mas naquelas com a forma grave o risco se eleva para
pressão diastólica ≥ 90 mmHg. Para estabelecer o 50%; em mulheres com hipertensão grave e lesão de
diagnóstico de hipertensão, os níveis de pressão órgãos-alvo ou hipertensão secundária, o risco pode ser tão
sanguínea que atingem o critério devem ser elevado quanto 75%.
documentados em mais de uma ocasião, no mínimo Tratamento
com 4 a 6 h de intervalo. A paciente deve estar sentada,
após 10 min de repouso, e o manguito ao nível do O objetivo primordial no tratamento da gravidez com
coração. Para a pressão diastólica é considerado o hipertensão crônica é reduzir os riscos maternos e
desaparecimento do som (fase V de Korotkoff). alcançar a sobrevida fetal com qualidade. A avaliação
da grávida hipertensa crônica começa pelos
Diagnóstico da hipertensão crônica na gravidez. comemorativos: duração da hipertensão, uso de
medicação anti-hipertensiva, doença renal, diabetes,
doença da tireoide, história de acidente vascular
cerebral e de insuficiência cardíaca.
A dosagem periódica da proteína na urina é
indispensável para surpreender a piora da função
renal ou a associação com a toxemia. Mulheres com
hipertensão de longa duraçãodevem ser investigadas para
lesões em órgãos alvo. O tratamento a ser seguido
depende da classificação da paciente em baixo e alto
risco.
Hipertensão de baixo risco: usualmente têm prognóstico
obstétrico igual ao da população geral. O tratamento anti-
hipertensivo será descontinuado na gravidez pois não
Do ponto de vista etiológico, a hipertensão crônica pode afeta a incidência de pré-eclâmpsia, DPP e parto pré-
ser dividida em primária (essencial) e secundária. A termo. Do mesmo passo, o uso do diurético não é
hipertensão primária é, sem dúvida, a mais frequente na aconselhado. A ingesta de sódio deve ser de no máximo
gravidez (90%). Em menor número de casos (10%) a 2,4 g/dia. A mulher deve ser aconselhada também a não
hipertensão crônica é secundária a outros distúrbios, consumir álcool e a abandonar o tabagismo, pois podem
como doença renal (glomerulonefrite, estenose da artéria agravar o risco de DPP e de CIR.
renal), doenças vasculares do colágeno (lúpus,
esclerodermia), doenças endócrinas (diabetes melito, Hipertensão de alto risco: mulheres com insuficiência
feocromocitoma, tireotoxicose, doença de Cushing, renal significante (creatinina ≥ 1,5 mg/dℓ), diabetes melito
hiperaldosteronismo primário) e coarctação da aorta. com complicação vascular (classes D, F, R), doença
vascular do colágeno grave, cardiomiopatia ou coarctação
São de baixo risco as hipertensas leves, sem lesão em da aorta devem ter aconselhamento por especialista e
órgãos-alvo ou perdas fetais anteriores. São de alto cuidados redobrados. O ideal é hospitalizar essas
risco aquelas com hipertensão secundária, grave pacientes na consulta inicial para avaliar as funções
(níveis tensionais ≥ 160/110 mmHg), lesão em órgãos- cardíaca e renal, aventar o tratamento anti-hipertensivo e
alvo (disfunção ventricular esquerda, retinopatia, de outra medicação (insulina, medicamentos cardíacos e
dislipidemia, acidente vascular cerebral) e história de da tireoide etc.).
perdas fetais. As gestantes de baixo risco que têm seus
níveis tensionais agravados (≥ 160/110 mmHg) ou O atenolol, beta-antagonista puro, mostrou-se
apresentam pré-eclâmpsia superajuntada passam para a responsável por CIR ao reduzir o fluxo
categoria de alto risco. A hipertensão crônica pode uteroplacentário; portanto não deve ser utilizado na
usualmente ser distinta da pré-eclâmpsia porque a gravidez. Os inibidores da enzima conversora da
toxemia tipicamente aparece após 20 semanas da angiotensina (IECA) estão associados a anomalias
gravidez, acompanhada de proteinúria. Na pré- fetais graves, em particular, malformações
eclâmpsia grave estão presentes vários sinais de cardiovasculares e do sistema nervoso central (SNC),

@resumeairafa
Gestação gemelar °
assim como prognóstico fetal adverso – CIR, Hipertensão gestacional:
oligoidramnia, morte fetal e neonatal. Igualmente os
bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA) têm A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG)
sido associados a anomalias renais, dismorfismo e compreende o conjunto das alterações pressóricas
natimortalidade. Os IECA e os BRA estão observadas na gestação, incluindo a pré-eclâmpsia e a
formalmente contraindicados em todos os trimestres eclâmpsia. Ela é caracterizada pela presença de
da gravidez. A terapia anti-hipertensiva será alterada e hipertensão arterial a partir de 20 semanas de
utilizada em mulheres com pressão arterial ≥ 160/110 gestação, em pacientes previamente normotensas.
mmHg. O objetivo do tratamento antihipertensivo é É uma das complicações mais frequentes da gravidez.
manter a pressão sistólica < 150/100 mmHg, de modo Embora a evolução seja favorável nas pacientes com
a assegurar o fluxo sanguíneo uteroplacentário. Fica formas leves da doença, as formas graves (com eclâmpsia
a mãe protegida contra acidentes vasculares e cerebrais, e síndrome HELLP*) constituem importante causa de
embora pareça não haver nenhuma melhora no morbidade materna grave e mortalidade materna e
prognóstico fetal. Em mulheres com lesão em órgãos- perinatal.
alvo, como hipertrofia ventricular esquerda ou
insuficiência renal, o objetivo é estabilizar a pressão Além da eclâmpsia e da síndrome HELLP, outras
sanguínea em níveis normais, assim reduzindo o risco de situações graves podem estar associadas à DHEG, como
comprometimento de outros órgãos-alvo. Mulheres com descolamento prematuro de placenta (DPP),
hipertensão leve, mas com lesão em órgãos-alvo coagulação intravascular disseminada (CIVD),
(portanto de alto risco), terão também terapia anti- hemorragia cerebral, edema pulmonar, insuficiência
hipertensiva pois há benefícios imediatos em baixar a hepática e insuficiência renal aguda. As complicações
pressão arterial nesse grupo de pacientes. perinatais incluem prematuridade, restrição do
crescimento fetal (RCF), sofrimento fetal e morte
perinatal.
O edema generalizado constitui sinal de alerta para
possível desenvolvimento de DHEG. Está presente
quando ocorre inchaço de mãos e face. O aumento súbito
de peso (> 1 kg/semana) deve ser considerado sinal clínico
de importância na identificação do edema generalizado.

Grávidas com hipertensão leve sem complicações


geralmente são candidatas ao parto vaginal a termo (após
39 semanas) porque a maioria mostra prognóstico
favorável materno e neonatal. A cesárea estará indicada
por razões obstétricas. Mulheres controladas com Considera-se proteinúria patológica a presença de 300
medicação devem parir entre 37 e 39 semanas e naquelas mg ou mais de proteínas excretadas na urina coletada
com hipertensão grave de difícil controle a gestação deve durante 24 horas. A identificação de proteinúria por meio
ser interrompida com 36 a 37 semanas. de fita reagente em amostra isolada de urina é recurso
No pós-parto, não se deve usar ergoderivados que podem propedêutico importante por fornecer resultado imediato;
agravar a hipertensão; recomenda-se optar pela entretanto, não dispensa confirmação quantitativa em
ocitocina. Mulheres com hipertensão crônica de alto volume de 24 horas. Recentemente, tem sido proposta a
risco têm predisposição para outras complicações: determinação da proteinúria pela “relação
edema de pulmão, encefalopatia hipertensiva, infarto proteína/creatinina em amostra isolada de urina”. Ainda
agudo do miocárdio e insuficiência renal. Nesse grupo, a não existe consenso quanto ao valor da relação
pressão arterial será rigidamente controlada, no mínimo proteína/creatinina que seria indicativo de proteinúria
por 48 h, com o uso da hidralazina intravenosa. Em significativa na gravidez; diretrizes internacionais aceitam
mulheres que estão amamentando, o fármaco ideal é que a proteinúria é considerada significativa pela relação
ainda a metildopa, que parece ser a mais segura, pois é proteína/creatinina em amostra isolada de urina quando a
excretada no leite em baixas concentrações. A relação (com ambas as medidas em mg/dL) for igual ou
necessidade de instituir os IECA/BRA nesta fase não está superior a 0,3.
contraindicada.
@resumeairafa
Gestação gemelar °
Em algumas mulheres com síndrome de pré-eclâmpsia,
não há proteinúria franca nem restrição do crescimento
fetal. Por essa razão, a Task Force (2013) sugeriu outros
critérios diagnósticos. A evidência do envolvimento de
múltiplos órgãos pode incluir trombocitopenia,
disfunção renal, necrose hepatocelular, perturbações
do sistema nervoso central ou edema pulmonar.

Indicadores da gravidade da pré-eclâmpsia – leve


Hipertensão transitória: elevação dos níveis (não grave) e grave
pressóricos no final da gestação ou no início do
puerpério (24 horas de pós-parto), sem proteinúria e que
retorna aos valores normais em até 10 dias após o parto.
A hipertensão transitória ten-de a recorrer em gestações
posteriores (cerca de 80% dos casos), sendo
provavelmente a maior fonte de diagnósti-cos
equivocados de pré-eclâmpsia em multíparas. Na Clí-
nica Obstétrica do HC-FMUSP, essas gestantes são
geral-mente classificadas como hipertensas crônicas.
Pré-eclâmpsia: desenvolvimento de hipertensão
arterial, com proteinúria significativa e/ou edema de
mãos e face que ocorre após 20 semanas. Era
considerada hipertensa a mulher com pressão arterial
sistólica de pelo menos 140 mmHg e/ou pressão arterial
diastólica de pelo menos 90 mmHg. A proteinúria
significante era definida como pelo menos 0,3 g/L em
urina de 24 horas ou de pelo menos 1+ pelo método
quantitativo de fita.

Pré-eclâmpsia leve
Na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP, prevalece a opinião
de que nas formas leves é possível fazer o
acompanhamento ambulatorial semanal para avaliação
clínica, proteinúria de fita e de vitalidade fetal. No entanto,
a vigilância materna e fetal deve ser cuidadosa, pois
subitamente podem surgir complicações graves. O
controle da vitalidade fetal deve ser realizado pelo menos
uma vez por semana a partir do diagnóstico de DHEG.
Estando a vitalidade fetal preservada, aguarda-se o parto
até o máximo de 40 semanas, quando se interrompe a
gestação, em princípio por indução do trabalho de parto. A
internação estará indicada em caso de necessidade de
doses crescentes de medicamentos anti-hipertensivos,
suspeita de progressão para forma grave, ou ainda para
A proteinúria é o marcador objetivo substituto que define
melhor avaliação da vitalidade fetal (restrição de
o amplo extravasamento endotelial sistêmico, o qual
crescimento fetal em gestação com menos de 37 semanas).
caracteriza a síndrome de pré-eclâmpsia.
Diante do comprometimento da vitalidade fetal, realiza-se
o parto terapêutico (indução).
@resumeairafa
Gestação gemelar °
Pré-eclâmpsia grave Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica
As formas graves, a paciente deve ser internada em Independentemente de sua etiologia, todos os distúrbios
enfermaria de gestação de alto risco. A gravidez pode hipertensivos crônicos predispõem à pré-eclâmpsia
ser seguida até que se observe alguma anormalidade sobreposta. A hipertensão crônica subjacente é
que indique sua interrupção ou até que se atinja a diagnosticada em mulheres com pressão arterial > 140/90
idade gestacional de 37 semanas. mmHg antes da gravidez ou antes de 20 semanas de
gestação, ou ambas. Os distúrbios hipertensivos podem
Avalia-se o crescimento fetal por meio da criar problemas difíceis com o diagnóstico e o tratamento
ultrassonografia obstétrica a cada 15 dias. Na presença nas mulheres não observadas até depois da metade da
de alterações da Dopplervelocimetria ou em caso de gestação. Isso ocorre porque a pressão arterial
instabilidade clínica materna, a avaliação da vitalidade normalmente diminui durante o segundo trimestre e o
fetal deve ser diária. início do terceiro nas mulheres normotensas e
A interrupção da gestação está indicada diante de cronicamente hipertensas. Dessa maneira, uma mulher
controle materno ineficaz ou de alterações da vitalidade. com doença vascular crônica anteriormente não
O término da gestação pode ser imediato ou mediato: diagnosticada, observada pela primeira vez com 20
Imediato: semanas, frequentemente apresenta pressão arterial na
– Iminência de eclâmpsia. faixa da normalidade. No entanto, durante o terceiro
trimestre, quando a pressão arterial volta a seu nível
– Mau controle pressórico (já em uso de três drogas originalmente hipertenso, pode ser difícil determinar
hipotensoras em dose máxima). se a hipertensão é crônica ou induzida pela gravidez.
– Diástole reversa nas artérias umbilicais. Até mesmo uma pesquisa cuidadosa para a evidência de
lesão de órgão-alvo preexistente pode em vão, pois muitas
– Índice de pulsatilidade para veias do ducto venoso ≥
dessas mulheres têm doença leve e não têm evidência de
1,5. – Perfil biofísico fetal ≤ 6 (se igual a 6, requer
hipertrofia ventricular, alterações vasculares retinianas ou
repetição do exame em 6 horas e, se mantido, está
disfunção renal.
indicada a interrupção da gestação).
– Desacelerações tardias de repetição na Em algumas mulheres com hipertensão crônica, a pressão
cardiotocografia. arterial aumenta até níveis evidentemente anormais,
– Oligoâmnio grave (índice do líquido amniótico – ILA tipicamente depois de 24 semanas. Se a hipertensão de
– < 3,0 cm). início recente ou basal em agravamento for
Mediato (após uso de corticosteroide antenatal): acompanhada por proteinúria de início recente ou
outros achados, então a pré-eclâmpsia sobreposta é
– Índice de pulsatilidade para veias do ducto venoso >
diagnosticada. Comparada com a pré-eclâmpsia “pura”, a
1,0 e < 1,5.
pré-eclâmpsia sobreposta com frequência desenvolve-se
– Oligoâmnio (ILA entre 3,0 e 5,0 cm).]
mais precocemente na gravidez. A doença sobreposta
Alguns sintomas são considerados perigosos. Cefaleia tende a ser mais grave e, com maior frequência, é
ou distúrbios visuais, como escotomas, podem acompanhada por restrição do crescimento fetal.
preceder a eclâmpsia, que é uma convulsão não
Etiopatogênese
atribuível a outras causas. As convulsões são
generalizadas, podendo aparecer antes, durante ou Qualquer teoria satisfatória relacionada à origem da pré-
depois do trabalho de parto. Até 10% das mulheres só eclâmpsia deve considerar a observação de que os
desenvolvem convulsões depois de 48 horas após o distúrbios hipertensivos gestacionais são mais prováveis
parto. Outro sintoma, a dor epigástrica ou no de se desenvolver nas mulheres:
quadrante superior direito, frequentemente
acompanha necrose hepatocelular, isquemia e edema que •Expostas às vilosidades coriônicas pela primeira vez;
ostensivamente distende a cápsula de Glisson. Essa dor •Expostas a uma superabundância de vilosidades
característica é frequentemente acompanhada por níveis coriônicas, como com gêmeos ou mola hidatidiforme;
séricos elevados de transaminases hepáticas. Por fim, a •Com condições preexistentes associadas a inflamação ou
trombocitopenia também significa piora da pré- ativação de células endoteliais, como diabetes, obesidade,
eclâmpsia. Ela representa a ativação e agregação doença cardiovascular ou renal, distúrbios imunológicos
plaquetárias, além de hemólise microangiopática. Outros ou influências hereditárias;
fatores indicativos de pré-eclâmpsia grave são •Geneticamente predispostas ao desenvolvimento de
envolvimento renal ou cardíaco, bem como a evidente hipertensão durante a gravidez;
restrição do crescimento fetal e a doença de início Um feto não constitui um requisito para a pré-eclâmpsia.
precoce. Embora as vilosidades coriônicas sejam essenciais, elas
Quanto mais marcantes forem esses sinais e sintomas, não precisam estar localizadas dentro do útero. Por
menos provavelmente serão temporizados e mais exemplo, pode ocorrer pré-eclâmpsia em caso de gestação
provável será a indicação do parto. abdominal.

@resumeairafa
Gestação gemelar °
Etiologia Fisiopatologia em algumas partes do corpo
Vários mecanismos foram propostos para explicar a
causa da pré-eclâmpsia. Atualmente, os considerados A evidência da manifestação de pré-eclâmpsia começa
importantes são: precocemente na gravidez com alterações fisiopatológicas
1.Implantação da placenta com invasão trofoblástica ocultas que ganham impulso ao longo da gestação e, mais
anormal dos vasos uterinos; adiante, ficam clinicamente aparentes. A menos que ocorra
o parto, essas alterações acabam levando ao envolvimento
de múltiplos órgãos com um espectro clínico que varia
desde achados escassos até uma deterioração expressiva.

■ Sistema cardiovascular
Os distúrbios cardiovasculares são comuns na síndrome de
pré-eclâmpsia. Eles estão relacionados com: (1) aumento
na sobrecarga cardíaca causada pela hipertensão, (2)
pré-carga cardíaca, que é reduzida pela diminuição
patológica da expansão volêmica durante a gravidez e é
aumentada pelas soluções de cristaloide intravenoso ou
oncóticas, e (3) ativação endotelial com extravasamento
interendotelial do líquido intravascular no espaço
2.Má adaptação da tolerância imunológica entre os extracelular e, importante salientar, nos pulmões.
tecidos materno, paterno (placentário) e fetal; .
3.Má adaptação materna às alterações cardiovasculares
ou inflamatórias da gravidez normal; ■ Hemólise
4.Fatores genéticos, como genes predisponentes
herdados, além de influências epigenéticas. A pré-eclâmpsia grave é frequentemente acompanhada por
hemólise, visto que se manifesta por níveis elevados de
Patogênese lactato-desidrogenase sérica e níveis diminuídos de
Vasospasmo haptoglobina. As outras evidências advêm da
A ativação endotelial sistêmica causa vasospasmo que esquizocitose, esferocitose e reticulocitose no sangue
eleva a resistência até produzir hipertensão periférico
subsequente. Nesse momento, a lesão celular
endotelial sistêmica causa extravasamento ■ Alterações de coagulação
intersticial, por meio do qual os constituintes Alterações sutis compatíveis com a coagulação
sanguíneos, como as plaquetas e o fibrinogênio, são intravascular e, com menor frequência, a destruição de
depositados em nível subendotelial. As proteínas da eritrócitos, são comumente encontradas com a pré-
junção endotelial também são alteradas, e a região eclâmpsia e, principalmente, com a eclampsia. Algumas
subendotelial das artérias de resistência sofrem dessas alterações consistem no maior consumo do fator
alterações ultraestruturais. O circuito venoso, muito VIII, maiores níveis de fibrinopeptídeos A e B, bem como
maior, também está envolvido. dos D-dímeros, e nos menores níveis de proteínas
Com o fluxo sanguíneo reduzido devido à má reguladoras, antitrombina III e proteínas C e S.
distribuição por vasospasmo e extravasamento
intersticial, a isquemia dos tecidos adjacentes pode ■ Rins
levar a necrose, hemorragia e outros distúrbios de
órgãos-alvo característicos da síndrome. Uma Durante a gravidez normal, o fluxo sanguíneo renal e a
importante correlação clínica é o volume sanguíneo taxa de filtração glomerular são apreciavelmente maiores.
acentuadamente atenuado observado em mulheres com Na pré-eclâmpsia, ocorrem várias alterações
pré-eclâmpsia grave. anatômicas e fisiopatológicas reversíveis. De
importância clínica, a perfusão renal e filtração
Lesão de célula endotelial glomerular ficam reduzidas. Os níveis muito menores
que os valores não gravídicos normais são raros, sendo
A lesão de células endoteliais sistêmicas é atualmente consequência da doença grave.
uma peça central na patogênese da pré-eclâmpsia. Nesse Grande parte da diminuição na filtração glomerular advém
esquema, fatores proteicos, provavelmente de origem da maior resistência arteriolar aferente renal, a qual
placentária, são secretados para dentro da circulação pode se mostrar elevada em até cinco vezes. As alterações
materna, provocando ativação e disfunção do endotélio morfológicas caracterizam-se por endoteliose glomerular,
vascular sistêmico. Acredita-se que a pré-eclâmpsia a qual bloqueia a barreira que permite a filtração. A
resulte dessas alterações disseminadas da célula filtração diminuída faz com que os valores da creatinina
endotelial. sérica se elevem até os observados em mulheres não
Respostas pressoras aumentadas e Proteínas grávidas, isto é, 1 mg/mL, mas, por vezes, ainda maiores.
angiogênicas e antiangiogênicas.
@resumeairafa
Gestação gemelar °
Os valores anormais em geral começam a normalizar em pela sedação com benzodiazepínicos – diazepam (5 a 10
10 dias ou mais após o parto. mg por via oral a cada 12 horas). Nas formas graves, para
Na maioria das mulheres pré-eclâmpticas, a gestantes internadas, prefere-se a levomepromazina na
concentração de sódio na urina fica elevada. A dose de 3 mg (3 gotas da solução oral de levomepromazina
osmolalidade urinária aumenta, a razão creatinina a 4%) a cada 8 horas.
urinária/plasmática está elevada e a fração de excreção Hipotensores
de sódio está baixa, indicando que um mecanismo pré- O tratamento das doenças hipertensivas na gravidez é
renal está envolvido. objeto de controvérsias. Nas formas graves, é bem
definido que o tratamento reduz a mortalidade e a
morbidade maternas graves, diminuindo o risco de
eclâmpsia e acidentes vasculares cerebrais. Na hipertensão
leve e moderada, em contrapartida, as revisões e os estudos
questionam o benefício do tratamento, com a alegação de
que não haveria diferença nos desfechos, com
possibilidade de maior ocorrência de restrição de
crescimento fetal (RCF).
O tratamento com drogas hipotensoras deve ser iniciado
quando as medidas citadas forem insuficientes para
diminuir os níveis pressóricos e a pressão arterial
diastólica se mantiver maior ou igual a 100 mmHg. O mais
adequado, tanto para a gestante como para o feto, é reduzir
Conduta clínica na pré-eclâmpsia os níveis pressóricos em 20 a 30% das medidas diastólicas
O tratamento adequado da pré-eclâmpsia visa a diminuir iniciais. É importante destacar que, ao se iniciar o
a incidência de complicações maternas, como acidentes tratamento com esse tipo de drogas, os retornos
vasculares cerebrais, e a morbidade e a mortalidade por ambulatoriais devem ser mais próximos (semanais ou até
eclâmpsia. Embora o tratamento definitivo seja o parto, a cada 3 a 4 dias, se necessário), para a melhor avaliação
o controle da doença pelo tratamento conservador da resposta materna e fetal. Diante de pré-eclâmpsia grave,
permite reduzir as taxas de prematuridade e o tempo de hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia sobreposta
permanência do recém-nascido no berçário. e pré-eclâmpsia associada à RCF, o controle materno e
Repouso fetal deverá ser realizado com a paciente internada.
Recomenda-se repouso para as pacientes portadoras de
DHEG. O repouso em decúbito lateral esquerdo
promove o aumento do fluxo plasmático renal,
intensifica a natriurese e, consequentemente, diminui
os níveis de pressão arterial. Somado a isso, melhora
ainda o fluxo uteroplacentário. Recomendam-se o
afastamento das atividades profissionais, a redução dos
afazeres domésticos e o repouso em decúbito lateral
esquerdo por pelo menos 1 hora no período da manhã e
da tarde (ou 2 horas depois do almoço).
Dieta hipossódica
A recomendação da Clínica Obstétrica do HC-FMUSP é
a dieta hipossódica contendo 2 a 3 g de sal/dia. A
redução da oferta de sal acarreta queda dos níveis séricos
de sódio, com diminuição da reatividade vascular e
queda da pressão arterial. Considerando-se que a dieta
habitual contém de 10 a 12 g de sal/dia, recomenda-se
reduzir o sal adicionado aos alimentos, evitando o uso de
saleiro à mesa e o consumo de alimentos industrializados
(conservas, frios, embutidos, temperos e molhos
prontos). Eclâmpsia:
A eclâmpsia caracteriza-se pelo aparecimento de
Terapêutica farmacológica convulsões tonicoclônicas generalizadas, excluindo-se
Sedação aquelas de outras causas ou alterações do sistema nervoso
As gestantes portadoras de DHEG apresentam resposta central (SNC), em gestantes com sinais e sintomas de pré-
vascular lábil perante as alterações emocionais. Assim, eclâmpsia. Pode-se manifestar durante a gestação, o
para diminuir as oscilações pressóricas, recomenda-se a parto ou o puerpério. Quase sem exceção, a pré-
sedação. Nas formas leves, em gestantes acompanhadas eclâmpsia precede o início das convulsões, porém isso às
em regime ambulatorial, pode-se, eventualmente, optar vezes passa

@resumeairafa
Gestação gemelar °
despercebido. A eclâmpsia é mais comum no último se estabelecer um estado combativo semiconsciente. Nos
trimestre e torna-se cada vez mais frequente à medida casos graves, o coma persiste de uma convulsão para outra,
que o termo se aproxima. podendo resultar em morte. Em casos raros, uma única
convulsão pode ser seguida por coma, do qual a mulher
Achados clínicos na eclampsia pode nunca retornar. No entanto, como regra, a morte não
A convulsão típica da eclâmpsia evolui clinicamente ocorre até depois de convulsões frequentes. Por fim, as
em quatro fases: convulsões podem raramente continuar sem diminuir –
Fase de invasão: pode ser silenciosa ou precedida de estado de mal epiléptico –, requerendo sedação profunda e
grito ou aura. Surgem fibrilações, principalmente em até mesmo anestesia geral para prevenir encefalopatia
torno da boca, com o aparecimento de contrações em anóxica.
outras regiões faciais. A língua pode ser exteriorizada
e, com o fechamento da boca, pode ser atingida e lesada. A frequência respiratória depois de uma convulsão
Os membros superiores ficam em pronação, com o eclâmptica costuma aumentar, podendo atingir 50 ou
polegar sobre a mão fechada. Esta fase dura cerca de 30 mais por minuto em resposta a hipercarbia, acidose láctica
segundos. e hipoxia transitória. A cianose pode ser observada nos
Fase de contrações tônicas: tetanização de todo o corpo casos graves.
com opistótono cefálico. Os masseteres se contraem com
força, fechando a boca. O rosto se mostra cianótico e A febre alta é um sinal de gravidade, porque
pletórico, com os olhos voltados para cima e as pupilas provavelmente resulta da hemorragia cerebrovascular.
dilatadas. A proteinúria está geralmente presente. O débito urinário
Fase de contrações clônicas: inspiração profunda pode diminuir de maneira apreciável, e por vezes
seguida de expiração estertorosa e saída de muco desenvolve-se anúria. Pode haver hemoglobinúria, mas a
sanguinolento pela lesão da língua. Pode haver hemoglobinemia é rara. Em geral, o edema facial e
incontinência de fezes e urina. periférico é pronunciado, mas pode estar ausente.
Fase de coma: surge diante de convulsões repetidas ou
prolongadas em que há perda de consciência e ausência A hemoconcentração é um marco da eclâmpsia. As
de reflexos com duração de alguns minutos até horas ou mulheres de tamanho médio têm um volume sanguíneo de
dias. Há situações em que as convulsões se tornam 3.000 mL, e, durante as últimas semanas de uma gravidez
frequentes e não ocorrem intervalos entre elas, o que normal, ele alcança uma média de 4.500 mL. No entanto,
caracteriza o estado de mal convulsivo. com a eclâmpsia, perde-se grande parte ou a totalidade do
excesso normal previsto de 1.500 mL. Essa
As convulsões eclâmpticas podem ser violentas, e a hemoconcentração resulta de vasospasmo generalizado
mulher deve ser protegida, principalmente a sua via que sucede à ativação endotelial e ao extravasamento do
aérea. Os movimentos musculares são tão vigorosos que plasma para dentro do espaço intersticial. Nas mulheres
a mulher pode ser arremessada para fora do leito, e, com pré-eclâmpsia, e dependendo de sua gravidade, a
quando não protegida, sua língua é mordida pela violenta hemoconcentração geralmente não é tão acentuada.
ação da mandíbula.
A contagem de plaquetas é rotineiramente feita nas
As complicações maternas mais frequentemente mulheres com qualquer forma de hipertensão gestacional.
associadas à eclâmpsia são hemoragia cerebral, edema As concentrações diminuídas de plaquetas na eclâmpsia
agudo dos pulmões, insuficiência respiratória ou foram descritas há mais de 100 anos. A frequência e a
renal e coagulopatia. Por outro lado, o manejo intensidade da trombocitopenia variam e são dependentes
inadequado da eclâmpsia também pode ser responsável da gravidade e da duração da síndrome de pré-eclâmpsia.
pelas mortes maternas, mas a maioria dessas mortes A trombocitopenia franca, definida por uma contagem de
poderia ser evitada com o diagnóstico correto e oportuno plaquetas < 100.000/μL, indica doença grave. Em geral,
e o manejo adequado, sendo a mortalidade perinatal uma quanto menor for a contagem de plaquetas, maiores serão
função dependente das complicações da prematuridade as taxas de morbidade e mortalidade maternas e fetais. Na
em função da idade gestacional ao nascimento. Embora maioria dos casos, o parto é aconselhável porque a
a morbidade e a mortalidade perinatais na eclâmpsia trombocitopenia comumente continua a se agravar. Depois
sejam decorrentes em grande parte da idade gestacional do parto, a contagem de plaquetas pode continuar a
precoce e das condições maternas, as causas diretas mais diminuir até o primeiro dia. Em seguida, costuma
frequentes são a hipoxia secundária às convulsões aumentar de forma progressiva até alcançar um nível
maternas e o descolamento prematuro de placenta. normal em 3 a 5 dias.

Depois de uma convulsão, a mulher se encontra em


estado pós-ictal, mas, em algumas, há o estabelecimento
de coma de duração variável. Quando as convulsões são
infrequentes, a mulher costuma recuperar algum grau de
consciência depois de cada crise. Quando desperta, pode
@resumeairafa
Gestação gemelar °
Classificação prognóstica comumente recebem sulfato de magnésio durante o
Na dependência da concomitância de outras trabalho de parto e por 24 horas após o parto.
intercorrências clínicas, a eclâmpsia pode ser
classificada em não complicada, complicada ou 1.Controle das convulsões utilizando uma dose de ataque
descompensada. intravenosa de sulfato de magnésio, seguindo-se por uma
dose de manutenção geralmente intravenosa de sulfato de
magnésio
2.Administração intermitente de medicamento anti-
hipertensivo para diminuir a pressão arterial sempre que
for considerada perigosamente alta
3.Evitar os diuréticos a menos que haja edema pulmonar
evidente, limitação da administração de líquidos
intravenosos a não ser que a perda de líquido seja
excessiva, e evitar os agentes hiperosmóticos
4.Parto do feto para resolver a pré-eclâmpsia

Fisiopatologia
A eclampsia consiste em uma manifestação do
comprometimento do SNC da pré-eclâmpsia e, portanto,
o motivo do aparecimento das convulsões é
desconhecido. Foi sugerida a participação do edema
cerebral, da isquemia, da encefalopatia hipertensiva, do Monitorização fetal
infarto cerebral e da hemorragia cerebral. Estudos Com a estabilização materna, deve-se dar início à
recentes têm avaliado o papel de fatores circulantes avaliação da idade gestacional, do peso e da vitalidade
(fatores de crescimento, citocinas, fatores pró- fetal. Bradicardias fetais transitórias com duração de 3 a 5
inflamatórios e antiangiogênicos) no endotélio dos vasos minutos são comuns após as convulsões e não indicam que
cerebrais, a interrupção da gestação deva ser imediata. Depois do
demonstrando aumento da permeabilidade capilar; a episódio convulsivo, é comum o aparecimento de
atividade de aquaporinas também seria reduzida em taquicardia fetal compensatória com desacelerações
pacientes com pré-eclâmpsia, dificultando a drenagem transitórias que desaparecem em 20 a 30 minutos.
de líquido acumulado no cérebro. Contudo, nenhuma Apesar de a interrupção da gestação constituir o
dessas condições tem explicado de maneira satisfatória a tratamento definitivo da eclâmpsia, é importante que as
fisiopatologia da eclâmpsia. avaliações maternas e fetais sejam adequadas e que todas
as medidas de correção sejam realizadas antes do
Manejo da eclâmpsia nascimento. A estabilização clínica antes do parto melhora
as condições perinatais e reduz os riscos maternos.
O sulfato de magnésio é altamente efetivo na
prevenção de convulsões em mulheres com pré- Síndrome HELLP
eclâmpsia e na sua interrupção naquelas com eclâmpsia. A síndrome HELLP é uma entidade clínica que pode
O sulfato de magnésio administrado por via parenteral é ocorrer na pré-eclâmpsia ou na eclâmpsia e se caracteriza
um anticonvulsivante efetivo que evita a depressão do por um conjunto de sinais e sintomas associados a
sistema nervoso central. Ele pode ser administrado por hemólise microangiopática, elevação das enzimas
via intravenosa por infusão contínua ou via hepáticas e plaquetopenia.
intramuscular por injeção intermitente. As dosagens para
a pré-eclâmpsia grave são idênticas às da eclâmpsia. Hemólise
Como o trabalho de parto e o parto constituem um O aumento da destruição de eritrócitos é responsável
momento mais provável para que se desenvolvam as pela hiperbilirrubinemia não conjugada, daí o
convulsões, as mulheres com pré-eclâmpsia/eclâmpsia aparecimento de icterícia.

@resumeairafa
Gestação gemelar °
No entanto, a icterícia só é observada quando o nível de diagnósticos laboratoriais se encontram presentes e parcial
bilirrubina ultrapassa 3 mg/dL. Valores elevados de quando se verifica apenas parte deles
bilirrubina sugerem disfunção hepática, com aumento da
bilirrubina conjugada.
Entre os achados da anemia hemolítica
microangiopática, observam-se alterações eritrocitárias
que ocorrem em diversas situações clínicas (hipertensão
arterial maligna, púrpura trombocitopênica, necrose
cortical renal, LES, entre outras) em que há diminuição
do nível de hemoglobina e presença de lesões vasculares.
Entre as alterações eritrocitárias, destaca-se a presença
de esquizócitos e equinócitos.
O esquizócito, também denominado de célula capacete
ou fragmentada, caracteriza-se por apresentar forma
discoide alterada, com duas ou três espículas nas Tratamento
extremidades. Acredita-se que essa fragmentação O tratamento inicial é o mesmo utilizado para as formas
eritrocitária seja secundária à passagem do sangue por graves de hipertensão arterial, ou seja, estabilização das
pequenos vasos sanguíneos que possuem lesão da condições clínicas maternas, profilaxia da convulsão
camada íntima e/ou deposição de fibrina. O equinócito é (quando indicada), terapia anti-hipertensiva e avaliação da
outra alteração da morfologia do eritrócito, caracterizada vitalidade fetal.
por apresentar várias espículas em sua superfície.
Elevação de enzimas hepáticas
Em decorrência da necrose das células hepáticas, ocorre
a elevação das enzimas TGO e TGP. Além disso, no
comprometimento hepático, pode haver elevação da
DHL, desidrogenase láctica, embora em níveis inferiores
aos da TGO e da TGP.
Plaquetopenia
A redução do número de plaquetas (< 100.000/mm3) na
síndrome HELLP é consequência do aumento da sua
destruição. Acredita-se que as plaquetas circulantes
aderem ao colágeno vascular exposto pela lesão
endotelial. Além disso, o consumo de plaquetas
exacerba-se diante da coagulação intravascular
disseminada, situação em que se observam também
baixos níveis plasmáticos de fibrinogênio (< 300 mg/dL)
e de antitrombina III (< 80%) e aumento do tempo de
protrombina (< 70%), além de elevação dos produtos de Referências
• MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE-FILHO, J. Rezende
degradação da fibrina (> 40 mg/ mL). Pelo menos três
obstetrícia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
desses valores alterados indicam a presença de
coagulação intravascular disseminada, e dois valores 2017.
alterados, a sua suspeita. • ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib obstetrícia. 3.
Quadro clínico e diagnóstico ed. Barueri: Manole, 2020
A síndrome HELLP é um diagnóstico • Obstetrícia de Williams. 25.ed. AMGH São Paulo:
predominantemente laboratorial. As manifestações ARTMED, 2014.
clínicas são geralmente múltiplas e imprecisas e • MACHADO, Lucas Vianna. Endocrinologia
superpõem-se às da pré-eclâmpsia, sendo comuns as ginecológica. 3. ed. Rio de Janeiro: Med book, 2015.
queixas de cefaleia, dor epigástrica e/ou no • MOORE,K.L.; PERSAUD, T. V. N.EmbriologiaBásica. 9.
hipocôndrio direito, perda de apetite, náuseas e ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
vômitos, escotomas e níveis pressóricos elevados. Nos • https://bvsms.saude.gov.br/infertilidade-feminina/
casos mais graves, como na iminência de eclâmpsia e na • https://bvsms.saude.gov.br/infertilidade-masculina/
eclâmpsia, as pacientes apresentam-se com alteração do • https://www.scielo.br/j/rgenf/a/sv9h8bdt75zgqKhgXwfS
estado de consciência. O diagnóstico deve ser o mais BmB/?lang=pt&format=pdf
precoce possível, e quanto maior o número de sintomas
e sinais sugestivos de síndrome HELLP, maior a chance
do diagnóstico e a necessidade do tratamento. A
confirmação diagnóstica é laboratorial. A síndrome
HELLP é dita completa quando todos os critérios

@resumeairafa
Rafaela Amaral Hipotireoidismo na gestação Medicina-FPME-3°P
A tireoide e sua ação uma reação de acoplamento. Uma MIT e uma DIT
A glândula tireoide é uma glândula em formato de combinam-se para formar o hormônio da tireoide tri-
borboleta que repousa sobre a traqueia, na base da iodotironina, ou T3 (observe a mudança de tirosina para
garganta, logo abaixo da laringe. Possui dois diferentes tironina no nome). Duas DIT unem-se para formar a
tipos celulares: células C, que secretam um hormônio tetraiodotironina (T4, também conhecida como tiroxina).
regulador de cálcio, chamado de calcitonina, e as células Neste ponto, os hormônios ainda estão ligados à
foliculares, que secretam os hormônios da tireoide. tireoglobulina. Quando a síntese hormonal está completa,
o complexo tireoglobulina-T3/T4 é recapturado pelas
células foliculares em vesículas. As enzimas intracelulares
liberam os hormônios T3 e T4 da proteína tireoglobulina.
Evidências atuais indicam que os hormônios da tireoide se
movem através das membranas por proteínas
carreadoras.

Os hormônios da tireoide, assim como os


glicocorticoides, têm efeitos de longo prazo no
metabolismo. Diferentemente dos glicocorticoides, O TSH controla a glândula tireoide
entretanto, os hormônios da tireoide não são essenciais à O controle da secreção dos hormônios da tireoide segue o
vida: os adultos podem sobreviver, embora não de padrão hipotalâmico-hipofisário-glândula endócrina
maneira confortável, sem os hormônios da tireoide ou periférica típico. O hormônio liberador de tireotrofinas
sem a glândula tireoide. Os hormônios da tireoide são (TRH), do hipotálamo, controla a secreção do hormônio
essenciais para o crescimento e o desenvolvimento da adeno-hipófise, tireotrofina, também conhecida
normais em crianças, e bebês que nasceram com como hormônio estimulador da tireoide (TSH). O TSH,
deficiência na tireoide terão o desenvolvimento atrasado, por sua vez, atua na glândula tireoide para promover a
a não ser que essa deficiência seja tratada imediatamente. síntese hormonal. Os hormônios da tireoide geralmente
Atualmente, os hormônios da tireoide são o único uso atuam como um sinal de retroalimentação negativa para
conhecido do iodo no corpo, embora outros poucos evitar a hipersecreção. A ação principal dos hormônios da
tecidos também concentrem esse mineral. A síntese dos tireoide nos adultos é prover substrato para o
hormônios da tireoide ocorre nos folículos metabolismo oxidativo. Os hormônios da tireoide são
tireoideanos (também chamados de ácinos), estruturas termogênicos e aumentam o consumo de oxigênio na
esféricas cujas paredes são compostas por uma camada maioria dos tecidos. O mecanismo exato não está claro,
única de células epiteliais. O centro oco de cada folículo mas é parcialmente relacionado às mudanças no transporte
é preenchido com uma mistura pegajosa de de íons através das membranas mitocondrial e celular. Os
glicoproteínas, denominada coloide. O coloide mantém hormônios da tireoide também interagem com outros
um suprimento de 2 a 3 meses de hormônios da hormônios para modular o metabolismo das proteínas, dos
tireoide. As células foliculares que cercam o coloide carboidratos e dos lipídeos.
sintetizam uma glicoproteína, chamada de
tireoglobulina, e enzimas para a síntese dos hormônios
da tireoide. Essas proteínas são empacotadas em
vesículas e secretadas no centro do folículo. As células
foliculares também concentram ativamente o iodo da
dieta, usando o simporte sódio-iodo (NIS). O transporte
de I- para o coloide é mediado por um transportador de
ânions, chamado de pendrina. Conforme o I- entra no
coloide, a enzima tireoide peroxidase remove um elétron
do iodo e adiciona o iodo à tirosina na molécula de
tireoglobulina. A adição de um iodo à tirosina cria a
monoiodotirosina (MIT). A adição de um segundo iodo
cria a di-iodotirosina (DIT). MIT e DIT, então, sofrem

@resumeairafa
Rafaela Amaral Hipotireoidismo na gestação
Problemas com a secreção dos hormônios da tireoide
Medicina-FPME-3°P
TSH aumenta a glândula tireoide (bócio). Apesar da
podem surgir na própria glândula tireoide ou ao longo da hipertrofia, a glândula não pode obter iodo para produzir
via de controle. A ação trófica do TSH sob a glândula hormônios, e, assim, o paciente permanece com
tireoide causa o crescimento, ou hipertrofia, das hipotireoidismo.
células foliculares. Em situações patológicas com
níveis elevados de TSH, a glândula tireoide aumenta Fisiologia da tireoide e gravidez
de tamanho, uma condição conhecida como bócio. O Relação do hipotireoidismo e a gravidez (identificar
bócio é o resultado do excesso de estimulação da tratamentos/sintomas, complicações e referências)
glândula tireoide pelo TSH, mas saber apenas que uma As mudanças na tireoide materna são substanciais, e a
pessoa tem um bócio não nos diz qual é a doença, função e a estrutura da glândula normalmente alteradas
hipotireoidismo ou hipertireoidismo. algumas vezes são confundidas com anormalidades da
O TSH reduz quando há um aumento significativo na tireoide. Destaca-se que os receptores de TSH são
produção dos hormônios da tireoide (T3 e T4), inibindo estimulados de maneira cruzada, embora fraca, por
a produção de TSH pela hipófise. O TSH alto indica que grandes quantidades de gonadotrofina coriônica
a tireoide não está produzindo seus hormônios (T3 e T4) humana (hCG) secretada pelo trofoblasto placentário.
de forma suficiente Como o TSH não atravessa a placenta, ele não apresenta
Hipertireoidismo efeitos fetais diretos. Durante as primeiras 12 semanas de
Uma pessoa cuja glândula tireoide secreta hormônios gestação, quando os níveis de hCG materna no soro são
em excesso sofre de hipertireoidismo. Os hormônios da máximos, a secreção do hormônio da tireoide é
tireoide em excesso causam alterações no metabolismo, estimulada. Os níveis mais altos resultantes de tiroxina
no sistema nervoso e no coração. livre (T4) no soro atuam para suprimir o hormônio
1. O hipertireoidismo aumenta o consumo de oxigênio liberador da tireotrofina (TRH) hipofisário e, por sua vez,
e a produção metabólica de calor. Devido ao calor limitam a secreção de TSH hipofisário (Fig. 58-1).
interno gerado, os pacientes têm pele quente e suada e Consequentemente, o TRH é indetectável no soro materno.
podem queixar-se de intolerância ao calor. Por outro lado, no soro fetal, a partir da metade da
2. O excesso de hormônios da tireoide aumenta o gestação, o TRH se torna detectável, mas os níveis são
catabolismo das proteínas e pode causar fraqueza estáticos e não aumentam.
muscular. Os pacientes muitas vezes relatam perda de
peso.
Hipotireoidismo
A hipossecreção de hormônios da tireoide afeta os
mesmos sistemas alterados no hipertireoidismo.
1. A diminuição da secreção dos hormônios da tireoide
diminui a taxa metabólica e o consumo de oxigênio. Os
pacientes tornam-se intolerantes ao frio, visto que eles
produzem menos calor interno.
2. O hipotireoidismo diminui a síntese proteica. Em
adultos, isso produz unhas quebradiças, queda de cabelos
e pele fina e seca. O hipotireoidismo também causa o
acúmulo de mucopolissacarídeos sob a pele. Essas
moléculas atraem água e causam a aparência inchada
do mixedema. Crianças com hipotireoidismo
apresentam crescimento atrasado dos ossos e dos tecidos Durante toda a gravidez, a tiroxina materna é transferida
e são mais baixas do que o normal para a sua idade. para o feto. A tiroxina materna é importante para o
3. Alterações do sistema nervoso em adultos incluem desenvolvimento normal do cérebro fetal, em especial
reflexos lentos, lentidão da fala e dos processos do antes do início da função da glândula tireoide fetal.
pensamento e sensação de fadiga. A deficiência da Ainda que a glândula fetal comece a concentrar iodo e
secreção de hormônios da tireoide na infância causa sintetizar o hormônio da tireoide após 12 semanas, a
cretinismo, uma condição marcada por capacidade contribuição de tiroxina materna permanece importante.
mental diminuída.
4. A alteração cardiovascular primária no A maioria dos distúrbios da tireoide estão intrinsecamente
hipotireoidismo é a bradicardia. ligados a autoanticorpos contra quase 200 componentes
O hipotireoidismo primário é frequentemente tireócitos. Esses anticorpos variavelmente estimulam a
causado por uma deficiência de iodo na dieta. Sem função da tireoide, bloqueiam a função ou causam
iodo, a glândula tireoide não é capaz de formar os inflamação na tireoide que pode levar à destruição das
hormônios da tireoide. Baixos níveis de T3 e T4 no células foliculares. Com frequência, esses efeitos
sangue não são capazes de exercer retroalimentação sobrepõem-se ou mesmo coexistem.
negativa no hipotálamo e na adeno-hipófise. Na Os autoanticorpos estimulantes da tireoide, também
ausência de retroalimentação negativa, a secreção do chamados imunoglobulinas estimulantes da tireoide
TSH aumenta significativamente, e o estímulo do (TSIs), ligam-se ao receptor de TSH e o ativam, causando
@resumeairafa
Rafaela Amaral Hipotireoidismo na gestação
hiperfunção e crescimento da tireoide. Embora esses
Medicina-FPME-3°P
O hipotireoidismo clínico ou sintomático é caracterizado
anticorpos sejam identificados na maioria dos pacientes por achados clínicos não específicos insidiosos que
com doença de Graves clássica, a produção simultânea incluem fadiga, constipação, intolerância ao frio,
de anticorpos bloqueadores de tireoestimulantes pode cãibras musculares e ganho de peso. Uma glândula
neutralizar esse efeito. A tireoperoxidase (TPO) é uma tireoide patologicamente aumentada depende da etiologia
enzima da glândula tireoide que normalmente funciona do hipotireoidismo, sendo mais provável em mulheres em
na produção de hormônios da tireoide. Os anticorpos áreas de deficiência endêmica de iodo ou naquelas com
antitireoperoxidase, são direcionados contra a TPO. tireoidite de Hashimoto. Outros achados incluem edema,
Esses anticorpos foram associados em alguns estudos pele seca, queda de cabelo e fase de relaxamento
a perda gestacional precoce e parto pré-termo. Essas prolongada dos reflexos do tendão profundo.
mulheres também correm alto risco de disfunção O hipotireoidismo clínico é diagnosticado quando um
tireoidiana pós-parto e um risco para a vida toda de nível de TSH sérico anormalmente alto é acompanhado
insuficiência tireoidiana permanente. por um nível de tiroxina anormalmente baixo. O
hipotireoidismo subclínico é definido por um nível de
TSH sérico elevado e uma concentração de tiroxina
sérico normal. Às vezes, estão incluídos no espectro da
doença tireoidiana subclínica indivíduos assintomáticos
com altos níveis de anticorpos anti-TPO ou
antitireoglobulina.
A causa mais comum de hipotireoidismo na gravidez é
a tireoidite de Hashimoto, caracterizada pela
destruição glandular por autoanticorpos, em
particular anticorpos anti-TPO.
Outra causa é a doença de Graves pós-ablação. A
deficiência de iodo no Brasil é causa pouco comum de
hipotireoidismo devido à política de iodação do sal. O
hipotireoidismo é pouco comum na gravidez,
principalmente porque, quando não tratado, é causa de
infertilidade. A identificação clínica do hipotireoidismo é
especialmente difícil durante a gravidez porque muitos dos
sinais ou sintomas também são comuns da própria
gravidez.

Diagnóstico
O diagnóstico de hipotireoidismo clínico é feito por meio da dosagem do TSH e do T4 total ou livre. Nas pacientes com disf
glandular primária, espera-se TSH acima dos valores de referência para o trimestre e T4 total ou livre diminuídos. Ta
pode-se considerar hipotireoidismo clínico o achado de TSH maior que 10 mUI/L, a despeito dos níveis de T4 total ou livre. A pre
de anti-TPO e antitireoglobulina (anti-TG) relaciona-se com a doença de Hashimoto.

@resumeairafa
Rafaela Amaral
Complicações materno-fetais
Hipotireoidismo na gestação Medicina-FPME-3°P
Estudos demonstram taxas aumentadas de complicações
materno-fetais nas gestantes com hipotireoidismo não
tratado. Observa-se que, na presença desta doença,
elevam-se as taxas de intercorrências como
abortamento, óbito fetal, prematuridade, pré-
eclâmpsia, RCF, anemia e anomalias congênitas.
As taxas de abortamento são maiores em mulheres que
apresentam hipotireoidismo pré-gestacional. A presença
de anti-TPO aumenta em duas vezes o risco de perdas
fetais precoces (17 versus 8,4%), e estima-se que 6% dos
abortamentos são associados à autoimunidade O intuito é manter o TSH dentro do intervalo de referência
tireoidiana com perdas fetais (3,8 versus 0,9%). Quando para a idade gestacional.
o TSH é superior a 10 mU/L, essa taxa pode chegar a Para mulheres que já usavam a levotiroxina antes da
8,1%. O não tratamento, mesmo em formas leves de gestação, prevendo-se a necessidade de aumento da
disfunção tireoidiana, está associado a déficit no medicação, provavelmente relacionada ao aumento
desenvolvimento intelectual de crianças em idade fisiológico dos níveis de estrógeno, orienta-se que a dose
pré-escolar e escolar. Os anticorpos anti-TG e anti-TPO de levotiroxina seja aumentada em cerca de 30% assim que
não atravessam a barreira placentária e, portanto, não se detecte a gravidez.
causam disfunções na tireoide fetal; contudo, os
anticorpos bloqueadores do receptor de TSH podem Para o hipotireoidismo subclínico, sugere-se que se inicie
atravessar essa barreira e causar hipotireoidismo a levotiroxina na dose de 1,2 µg/kg/dia, em dose única a
neonatal em 1:180.000 neonatos. ser tomada em jejum. O controle deve ser feito por meio
da dosagem de TSH a cada 4 semanas, também tendo
Hipotireoidismo subclínico como meta manter a concentração de TSH dentro dos
O hipotireoidismo subclínico é definido como elevações valores de normalidade para a idade gestacional. Os
dos níveis circulantes de TSH (porém abaixo de 10 ajustes de dose devem ser feitos de acordo com a dosagem
mUI/L), sem alterações dos valores absolutos dos do TSH, da mesma forma que para o hipotireoidismo
hormônios tireoidianos (T4 total, T4 livre e T3), em clínico.
pacientes assintomáticas. Há divergência na literatura A dosagem de TSH e T4 livre deve ser realizada a
quanto à associação do hipotireoidismo subclínico com intervalos de 4 semanas até se atingir controle adequado, a
maiores taxas de parto prematuro, descolamento partir de quando pode ser espaçada para cada 6 semanas.
prematuro de placenta, pré-eclâmpsia, diabetes
mellitus gestacional e admissão em UTI neonatal. Existe um potencial de piora do hipotireoidismo nos
Alterações no desenvolvimento neuropsicológico têm últimos trimestres da gravidez. Compostos à base de
sido observadas em filhos de mulheres com ferro e cálcio parecem interferir na absorção intestinal da
hipotireoidismo subclínico. Apesar desses achados, droga e, portanto, na biodisponibilidade da levotiroxina
ainda não existem dados que comprovem que o sódica no plasma materno. Recomenda-se a ingestão
tratamento do hipotireoidismo subclínico durante a desses compostos com intervalo mínimo de 4 horas após a
gestação melhore a evolução dessas crianças. Embora ingestão da medicação.
não haja comprovação do benefício do tratamento do
hipotireoidismo subclínico durante a gestação, o Após o pós-parto, recomenda-se retornar as doses de
potencial benefício supera os riscos do uso da levotiroxina usadas previamente à gestação naquelas
levotiroxina sódica. Dessa forma, é preconizado que o mulheres que já faziam uso do medicamento e estavam
tratamento sempre seja instituído mediante o diagnóstico bem controladas antes da gravidez. Naquelas em que o
do hipotireoidismo subclínico, principalmente em hipotireoidismo clínico ou overt hipotireoidismo foi
mulheres com anticorpo anti-TPO positivo. identificado na gravidez, orienta-se reduzir em 50% a dose
Tratamento de levotiroxina utilizada antes do parto. Para aquelas com
O tratamento do hipotireoidismo, tanto clínico quanto hipotireoidismo subclínico, duas situações são previstas:
subclínico, é realizado por meio de reposição hormonal se a dosagem de TSH ao diagnóstico tiver sido ≥ 5 mUI/L
com levotiroxina sódica administrada uma vez ao dia, ou se tiver sido detectada a presença de anticorpos anti-
preferencialmente em jejum (80% de absorção TPO ou anti-TG, reduz-se a dose de levotiroxina à metade
intestinal). Se for ingerido com alimentos, ou mesmo daquela usada ao final da gravidez; naquelas com
com outros medicamentos, a absorção desse anticorpos ausentes e TSH < 5 mUI/L ao diagnóstico,
medicamento é reduzida para 59%. pode-se suspender a medicação após o parto. Em todas as
Para o hipotireoidismo clínico, recomenda-se iniciar o situações descritas, deve-se reavaliar a dosagem de
tratamento com 2 µg/kg/dia, em dose única diária, em TSH 6 semanas após o parto para ajustes pertinentes
jejum, para as pacientes sem tratamento prévio, e da medicação. Não há restrições para a amamentação
aumentar a dosagem de acordo com a medida de TSH, em mulheres usando de levotiroxina.
dosado a cada 4 semanas.

@resumeairafa
Rafaela Amaral
A gravidez está associada a um aumento nas
Hipotireoidismo na gestação Medicina-FPME-3°P
necessidades de tiroxina em aproximadamente um terço
das mulheres suplementadas. Acredita-se que o
aumento da demanda na gravidez esteja relacionado
à produção aumentada de estrogênio.

O aumento das necessidades de tiroxina começa em


até 5 semanas de gestação. Um hipotireoidismo
significativo pode se desenvolver cedo em mulheres sem
reserva de tireoide, como aquelas com tireoidectomia
prévia, história de ablação de iodo radioativo ou naquelas
que se submeteram a técnicas de reprodução assistida.
Aumentos antecipados de 25% na reposição de tiroxina
na confirmação da gravidez reduzem essa probabilidade.
Todas as outras mulheres com hipotireoidismo devem,
em vez disso, se submeter ao teste de TSH no início do
cuidado pré-natal.

Referências

• ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R.P.V. Zugaib


obstetrícia. 3. ed. Barueri: Manole, 2020 (todas as
imagens)
• Obstetrícia de Williams. 25.ed. AMGH São Paulo:
ARTMED, 2014.

@resumeairafa

Você também pode gostar