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Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia

Neurofisiologia 166
Departamento de Fisiologia,
Fisiologia, IB Unesp-Botucatu
Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida
Nishida

HIPOTÁLAMO

HIPOTÁLAMO: O ALTO COMANDO SOBRE AS FUNÇÕES VISCERAIS

A estabilidade do meio interno é garantida mantendo-se ajustados vários parâmetros


biológicos (temperatura corporal, a pressão arterial, o pH do plasma, os níveis de hormônios
circulantes, de glicose, etc). Através de influências sobre o SNA e o sistema endócrino o
HIPOTÁLAMO orquestra inúmeras funções neurovegetativas conforme as demandas do
organismo. O hipotálamo exerce uma multiplicidade de controles e coerente com isso, recebe
aferências dos órgãos que controla através de conexões neurais e humorais e de amplas áreas
do cérebro. As expressões viscerais e somáticas de um determinado estado emocional são
organizadas pelo hipotálamo.
O hipotálamo situa-se no diencéfalo, sob o tálamo. Situa-se bilateralmente nas paredes
do III ventrículo e apresenta algumas formações anatômicas visíveis na sua face inferior como
o quiasma óptico, túber cinéreo, o infundíbulo e os corpos mamilares. Praticamente constituído
de substância cinzenta, possui vários núcleos, muitas vezes de difícil individualização.
As informações que chegam ao hipotálamo

O hipotálamo possui muitas


conexões difusas, mas podemos
reconhecer feixes distintos de fibras
anatomicamente como o feixe
prosencefálico medial;
medial; o fascículo
dorsal, o fórnix;
longitudinal dorsal, fórnix; a via
amigdalo-fugal e o feixe mamilo-
talâmico.
talâmico.

O feixe prosecefálico medial


origina-se na área septal e áreas olfátorias
e dirige-se para a FOR passando pelo
hipotálamo onde deixa fibras colaterais.
Enquanto as informações sensoriais
olfatórias chegam ao hipotálamo por esse
caminho, as informações sensoriais dos
nervos VII, IX e X chegam pelo fascículo
dorsal, vindos do núcleo do
longitudinal dorsal,
trato solitário, núcleo parabraquial e da
região paraventral do bulbo. As informações
veiculadas pelo feixe prosencefálico medial
são particularmente essenciais para a
organização de comportamentos motivados
como a atividade sexual e a de ingestão de
alimento.
O sistema límbico forma um conjunto de estruturas corticais e subcorticais
responsáveis pela interpretação e expressão das emoções, cujo circuito é conhecido como
circuito de Papez. O hipotálamo faz parte do circuito recebendo informações do sistema
límbico, especificamente do hipocampo (subículo) via fornix. Dos corpos mamilares o
hipotálamo conecta-se com o tálamo (feixe mamilo-talamico). Outra área do sistema límbico
chamado área septal também conecta-se ao hipotálamo (fórnix e do feixe prosencefálico
medial) e, finalmente, recebe da amígdala (via amigadlo-fugal), o botão disparador das
emoções. Esse conjunto de informações possibilita ao hipotálamo organizar as expressões
viscerais e somáticas das emoções. Assim quando ficamos ansiosos (“nervosos”) ou com
medo com uma prova, o hipotálamo realiza uma serie de ajustes autonômicas.
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Graças a essas conexões o hipotálamo organiza os ajustes viscerais e endócrinos


adequados durante uma reação emocional.
Éimportante mencionar as aferências que o hipotálamo recebe diretamente da retina
através do trato retino-hipotalâmico. Graças à detecção do ritmo de luminosidade circadiana
pelo núcleo supra-quiasmatico, o hipotálamo pode sincronizar ritmicamente várias atividades
que controla como, por exemplo, a termorregulaçâo, a secreção de hormônios da adeno-
hipófise, o ciclo sono-vigilia, etc. No ciclo sono-vigilia o hipotálamo participa através de grupos
de neurônios histaminergicos do hipotálamo posterior os quais recebem aferências do sistema
de modulação difuso (feixe prosencefálico medial).

Os núcleos do hipotálamo

O hipotálamo é praticamente uma


massa de substância cinzenta com inúmeros
núcleos. Uma maneira de reconhecer esses
núcleos é usando o III ventrículo como
referência. Assim, podemos identificar três
colunas longitudinais de cada lado:
periventricular, medial e lateral.

Outra forma é identificar os núcleos é no sentido rostro-caudal conforme a região:área


pré-optica; hipotálamo anterior, tuberal e hipotálamo posterior (ou mamilar).

Área pré-ótica

HIPOTÁLAMO Hipotálamo anterior

Tuberal

Hipotálamo posterior ( Mamilar)

Como os sinais químicos (humorais) chegam ao hipotálamo?


O hipotálamo recebe
não só aferências neurais como
também humorais (sinais
químicos circulantes) para
realizar ajustes homeostáticos
do meio interno. Em torno dos
ventrículos estão os órgãos
circunventriculares. Nessas
regiões a barreita
hematoencefalica é permeável
(capilares fenestrados) e os
neurônios aí situados possuem
receptores moleculares para os
sinais químicos circulantes. A
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grande maioria desses órgãos circunventriculares fica no hipotálamo como a eminência


mediana e a lâmina terminal.
O órgão subfornical (associado a regulação da osmolaridade) e a área postrema
(sitiada próxima ao NTS está associada ao reflexo do vômito) não ficam no hipotálamo mas
além de possuirem conexões recíprocas entre si, enviam axônios para o hipotálamo. Isso
significa que o hipotálamo recebe informações neurais e humorais das visceras.
Finalmente é interessante mencionar a natureza da neurohipofise e da glândula
pineal: ambas são de origem neural, mas funcionam como glândulas nervosas que secretam
seus mediadores na circulação sob o comando do hipotalamo.

O que o hipotálamo faz com tanta informação? Afinal que funções desempenha?

De posse dessas informações neurais e humorais o hipotálamo está plenamente apto


para exercer o controle e a coordenação das funções viscerais através do SNA e do sistema
endócrino. De maneira bastante geral, podemos agregar ao hipotálamo várias funções
integrativas como regulação da ingestão de alimentos; regulação da ingestão de água,
regulação da diurese, termorregulação, regulação do comportamento emocional, regulação do
comportamento sexual e do ciclo-sono-vigilia.

Função neuroendócrina do hipotálamo


No hipotálamo há neurônios que ao invés de realizar sinapses químicas típicas, liberam
os seus mediadores químicos diretamente na corrente sanguínea, ou seja, realizam
neurossecreçâo. Por isso esses mediadores hipotalâmicos foram chamados de neuro-
hormonios, ou simplesmente hormônios hipotalâmicos. Lembre-se: uma célula endócrina
caracteriza-se por sintetizar, armazenar e secretar para a circulação sangüínea, moléculas
mensageiras altamente específicas que atuam em células-alvo, modificando suas funções.
Estas moléculas mensageiras são coletivamente denominadas de hormônios e as células
secretoras, glândulas endócrinas. Pois bem, no hipotálamo existe a possibilidade dos sinais
neurais (impulsos elétricos) serem convertidos em secreções endócrinas. Para
compreendermos os mecanismos de ação desses neuro-hormonios hipotalâmicos vejamos
como a hipófise com o qual o hipotálamo tem intima conexão anatômica e funcional está
organizado.

Hipófise
A hipófise é uma estrutura peduncular que se localiza na base do cérebro e é
anatomicamente dividida em três partes:
adenohipófise (de origem não nervosa)
pars intermédia
neurohipófise (origem nervosa).

A adenohipófise é responsável pela síntese, armazenamento e secreção de vários


hormônios, entre eles Hormônio estimulante da tireóide (tireotropina,TSH), Hormônio
adenocórticotrofico (ACTH), Hormônio folículo estimulante (FSH), hormônio luteinizante
(LH), Prolactina (PRL) e Hormônios de crescimento (GH). Para que estes sejam liberados
para a corrente sangüínea e atuem nos respectivos órgãos-alvo, depende da influência de
neurônios hipotalâmicos.

Como o hipotálamo controla a hipófise?


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A atividade de síntese e liberação dos hormônios hipofisários depende de controle


hipotalâmico. Os neurônios hipotalâmicosneurossecretores são de dois tipos:

1) Células parvicelulares do núcleo arqueado que secretam no sistema porta-hipofisario,


hormônios hipofiseotrópicos (com destino à adeno-hipófise) que determinarão a síntese/
liberação ou não de seus hormônios. A figura abaixo ilustra os vários tipos de hormônios
hipotalâmicos que agem sobre a adeno-hipófise.

CRH: hormônio liberador de corticotrofina; TRH: hormônio liberador de tireotrofina; GnRH: hormônio liberador de
gonadotrofina; GRH: hormônio liberador de GH; GIH:hormônio inibidor de GH; PRH hormônio liberador de
prolactina; PIH: hormônio inibidor da prolactina.

Cada um dos hormônios adeno-hipofisários agirão a distancia nos respectivos órgãos


alvo, causando efeitos específicos que serão detalhadamente estudado no ciclo de
Endocrinologia.
2) Células magnocelulares do núcleo paraventricular que secretam o hormônio anti-
diuretico (ADH) que age diretamente nos túbulos renais e dos núcleos supra-oticos que
secretam a ocitocina que agem diretamente no útero e nas glândulas mamarias, são
liberadas para a grande circulação.
Desta maneira, estímulos originados no ambiente externo (como luz, som, substâncias
químicas voláteis, estímulos nociceptivos, etc) ou originados no meio interno podem influenciar
o sistema endócrino e as funções dos tecidos alvos através do hipotálamo. Estados
psicológicos alterados como medo, ansiedade, ira, libido sexual, depressão, etc. também
podem influenciar o hipotálamo e alterar o nível de atividade do sistema endócrino. Assim
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esses neurônios hipotalâmicos funcionam como transdutores neuroendocrinos: excitam-se


eletricamente e secretam seus mediadores na corrente sanguinea que agem em células-alvo
distantes.

Controle do hipotálamo sobre o SNA


O hipotálamo é o centro
suprassegmentar mais importante do Sistema
Neurovegetativo juntamente com o Sistema
Límbico. As estimulações do hipotálamo
anterior causam respostas parassimpáticas
e do hipotálamo posterior, respostas
simpáticas. Durante uma alteração
emocional, é o hipotálamo que através do
SNA expressa as respostas viscerais.
O hipotálamo estabelece conexões
com os neurônios pré-ganglionares
autonômicos simpáticos e parassimpáticos
através do fascículo longitudinal dorsal e
de outras vias descendentes, através da
formação reticular.
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EXEMPLOS DE FUNÇOES INTEGRATIVAS DO HIPOTALAMO

TERMORREGULAÇÃO

Denominamos de termorregulação o conjunto de mecanismos que procuram manter


constante a temperatura corporal. Os seres humanos são animais homeotérmicos e
necessitam regular delicada e precisamente a temperatura corporal em torno de 37ºC que é
ideal para estabilizar a configuração das proteínas e suas atividades. Essa temperatura ideal é
o ponto de ajuste e é determinado pelo hipotálamo. Embora característico de cada espécie o
ponto de ajuste da temperatura oscila conforme o ritmo de atividade do núcleo
supraquiasmatico que se sincroniza ao ritmo dia-e-noite. Quando “pegamos” infecções o ponto
de ajuste pode ser alterado e podemos ficar com febre. Isso ocorre porque durante o processo
inflamatório, as células de defesa produzem citocinas pirogênicas e através da circulação,
passam a barreira hematoencefálica e chegam até a área preotica onde “reprograma” o ponto
de ajuste, nesse caso para cima. Assim primeiro sentimos calafrio e depois calor.
Quando a temperatura do ambiente está em torno de 20º a 35ºC nos encontramos
termicamente confortáveis. Mas quando a temperatura varia aquém e além desse intervalo,
começamos a sentir desconforto (sentimos com frio ou calor demais) e uma série de reações
homeostáticas são desencadeadas: no frio nos agasalhamos e no calor usamos roupas leves,
ligamos o ventilador, etc. A temperatura corporal em torno de 37ºC é precisamente ajustada
pelo hipotálamo que comanda os reajustes necessários.
A detecção da temperatura ambiental é feita por termorreceptores periféricos e os
termorreceptores hipotalâmicos monitoram a temperatura central do corpo. Os
termorreceptores hipotalâmicos situam-se na área pré-optica (região anterior do hipotálamo) e
são tão sensíveis que respondem a aumentos e decréscimos de temperatura na ordem de 1 a
2º C!. O hipotálamo compara a temperatura central com a periférica e determina se organismo
deve perder (hipotálamo anterior) ou produzir e conservar calor (hipotálamo posterior).
Modelos de lesões experimentais do hipotálamo anterior induzem um estado crônico de febre
e o animal não consegue mais reajustar a temperatura. E se a lesão for no hipotálamo
posterior, o animal fica com a mesma temperatura do ambiente não conseguindo mais produzir
calor (torna-se um animal ectotérmico). Os experimentos com estimulação elétrica corroboram
os efeitos das lesões: a estimulação no hipotálamo anterior desencadeia respostas de perdas
de calor (vasodilatação cutânea, sudorese, ofegaçao).

Resposta ao frio Resposta ao calor


Hipotálamo posterior: controla os mecanismos que Hipotálamo anterior: controla os mecanismos
aumentam a produção e a conservação de calor. que favorecem a perda de calor.
Ativação da tireóide Taquipnéia
Aumento do metabolismo lipídico Sudorese
Tremores musculares Vasodilatação cutânea
Vasoconstriçâo periférica Anorexia
Aumento da ingestão de alimento Inércia, apatia
Aumento das atividades voluntárias

Febre

A febre é um sintoma sempre associado a alguma doença. É como se, ao invés da


temperatura estar regulada para 37oC, fosse regulada para um valor mais alto. Esse novo
ponto de ajuste artificial faz com que os mecanismos produtores de calor sejam acionados,
mas até lá sentimos calafrios e tremores. Mas o que fato causa o desajuste?
Durante uma infecção, toxinas bacterianas atuam sobre monócitos, macrófagos e
células de Kpffer para produzir citocinas que agem como pirógenos endógenos (PE). Ao
atingirem o hipotálamo, causem alterações no ponto de ajuste da temperatura, elevando-o. A
evidência de que as prostaglandinas são as responsáveis pela alteração do termostato
hipotalâmico, pode ser demonstrada pela indução de febre com a injeção da mesma no
hipotálamo. A aspirina, que é um anti-inflamatório, bloqueia a produção de PG e age como anti-
pirético.
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O papel da febre como sendo benéfico é um assunto controvertido: supõe-se que o


benefício está no fato do próprio organismo infectado produzir o aumento da temperatura
corporal e impor um ambiente térmico hostil aos microrganismos e reduzir a sua taxa de
crescimento. Adicionalmente ao fato, o aumento da temperatura estimula a produção de anti-
corpos. Mas quando a temperatura retal alcança os 41oC e persiste, ocorre alguma lesão
permanente no cérebro e acima dos 43oC, a morte é iminente.
ESTRESSE

O medo é uma sensação de desconforto e insegurança que é causado por motivos


objetivos e subjetivos. Esse medo pode ser rápido e passageiro (um susto ou sobressalto) ou
então ser lento e duradouro. Quando experimentamos um estado de medo crônico nos
encontramos sob estresse que poderá ou não evoluir para um estado de ansiedade.
Essas sensações emocionais são reconhecidas no complexo amigdaloide que fica
situado no lobo temporal; desse partem axônios para o hipotálamo e para o tronco encefálico
que se responsabilizam respectivamente na organização visceral e comportamento somático
do medo. No hipotálamo, os estímulos alertantes causam a liberação de CRH (hormônio
hipotalâmico hipofiseotrópico) e a secreção de ACTH pela adeno-hipofise. O ACTH alcança as
células corticais da glândula supra-renal e estimula a secreção de cortisol. O cortisol é um
hormônio endócrino que age aumentando a taxa metabólica nos tecidos.
Assim durante um estado de estresse, alem de uma ação endócrina, ocorre um
aumento da atividade autônoma simpática:

Estímulos
alertantes
Sistema
Límbico

SNA
Simpático

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