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neuro-hipófise ou hipófise posterior pode ser Os neurônios parvicelulares possuem projeções

MÓDULO X - PROBLEMA 1
considerada uma extensão do hipotálamo. que terminam na eminência mediana, no tronco
1 Anatomia e histologia do sistema Composto por: encefálico e na medula espinal. Esses neurônios liberam
endocrinológico • Corpos mamilares: núcleos arredondados de tecido pequenas quantida- des de neuro-hormônios de
nervoso que fazem parte do hipotálamo e estão liberação ou de inibição (hormônios hipofisiotróficos),
1.1 Hipotálamo que controlam a função da adeno-hipófise.
ligados a memoria.
Região do cérebro envolvida na coordenação das
• Quiasma ótico: localiza-se na parte anterior do
respostas fisiológicas de diferentes órgãos que, em seu
assoalho ventricular.
conjunto, mantêm a homeostasia. Para desempenhar
• Tuber cinéreo: local onde o infudibulo parte para
essa função, o hipotálamo integra os sinais provenientes
sustentar a glândula hipófise, esta localizado atrás
do ambiente, de outras regiões do cérebro e de
do quiasma e tratos opticos, imediatamente anterior
aferentes viscerais e, a seguir, estimula as respostas
aos corpos mamilares
neuroendócrinas apropriadas.
• Infundíbulo
Essas respostas hipotalâmicas são mediadas, em
sua maioria, pelo controle da função hipofisária pelo 1.1.1 Núcleos hipotalâmicos
hipotálamo. Esse controle é obtido por dois mecanismos: Aglomerados ou grupos de neurônios cujas
projeções alcançam outras regiões cerebrais e também
(1) liberação dos neuropeptídeos hipotalâmicos terminam em outros núcleos hipotalâmicos.
sintetizados dos neurônios hipotalâmicos e Esse complexo sistema de conexões neuronais
transportados, através do trato hipotalâmico-hipofisário, assegura uma comunicação contínua entre os neurônios
até a neuro-hipófise, e hipotalâmicos e as outras regiões do cérebro.
(2) controle neuroendócrino da adeno-hipófise Os núcleos do hipotálamo podem ser classificados
por meio da liberação dos peptídeos que medeiam a com base em sua localização anatômica ou no 1.1.2 Irrigação
liberação dos hormônios adeno-hipofisários (hormônios neuropeptídeo principal produzido por suas células. É
hipofisiotróficos). O suprimento sanguíneo da hipófise é constituído
mais apropriado considerar os grupos de neurônios
por ramos da artéria carótida interna. As artérias
como aglomerados de neurônios, e não como núcleos
O hipotálamo constitui a parte do diencéfalo hipofisárias superiores formam o plexo capilar que
bem definidos e delineados, constituídos por um único
localizada abaixo do tálamo e entre a lâmina terminal e fornece sangue à eminência mediana. A partir dessa rede
tipo neuronal.
os corpos mamilares, formando as paredes e o soalho do de capilares, o sangue drena para veias paralelas,
Dois tipos de neurônios são importantes na
terceiro ventrículo. Nesse soalho, as duas metades do denominadas veias porta hipofisárias longas, que descem
mediação das funções endócrinas do hipotálamo: os
hipotálamo são unidas, formando uma região pelo pedículo infundibular até o plexo secundário.
magnocelulares e os parvicelulares.
semelhante a uma ponte, conhecida como eminência Os neurônios magnocelulares localizam-se
mediana, local onde os terminais axônicos dos neurônios Os peptídeos hipofisiotróficos liberados na
predominantemente nos NPV e NSO do hipotálamo e
hipotalâmicos liberam os neuropeptídeos envolvidos no eminência mediana penetram nos capilares do plexo
produzem grandes quantidades dos neuro-hormônios
controle da função da adeno-hipófise. primário.
ocitocina e arginina vasopressina (AVP). Os axônios não
Além disso, ela é atravessada pelos axônios dos A partir daí, são transportados até a adeno-
mielinizados desses neurônios formam o trato
neurônios hipotalâmicos que terminam na neuro- hipófise pelas veias porta hipofisárias longas até o plexo
hipotalâmico-hipofisário, a estrutura semelhante a uma
hipófise. secundário. Esse plexo consiste em uma rede de
ponte que atravessa a eminência mediana e termina na
Ela se afunila para formar a porção infundibular capilares sinusoides fenestrados, que são responsáveis
neuro-hipófise. A ocitocina e a AVP são liberadas da
da neuro-hipófise (também denominada pedículo pelo suprimento sanguíneo da hipófise anterior ou
neuro-hipófise em resposta a um potencial de ação.
hipofisário ou infundibular). Em termos práticos, a adeno-hipófise.
Devido à arquitetura fenestrada desses vasos central. Produzem o GH ou somatotrofina. São - Pars intermédia possui o cisto de Ranthke, algumas
capilares, os neuropeptídeos difundem-se facilmente da células acidófilas pois possuem vesículas eosinófilas células basófilas e cromófobas.
circulação para alcançar as células da adeno-hipófise. em seu citoplasma.
Essas células expressam receptores da superfície celular II. Células lactotróficas: Ou células PRL ou • Pars nervosa (neuro-hipófise) – As terminações
específicos, acoplados à proteína G, que se ligam aos mamotróficas. Constituem 15 a 20% das células da distais dos axônios do trato hipotálamo-hipofisário
neuropeptídeos, ativando cascatas de segundos adenohipófise. São grandes e poligonais, com terminam na pars nervosa e armazenam
mensageiros intracelulares que produzem a liberação núcleos ovais e produzem a prolactina. Quando neurossecreções produzidas por seus corpos
dos hormônios adeno-hipofisários. estão em fase de armazenamento, exibem inúmeras celulares, localizados no hipotálamo. É contínua com
O sangue da adeno-hipófise e da neuro-hipófise vesículas acidófilas, seno caracterizadas como a eminência média do hipotálamo por meio de um
drena no seio intercavernoso e, a seguir, na veia jugular células acidófilas, entretanto, ao esvazia-las, torna- delgado prolongamento de tecido nervoso, o
interna, passando para a circulação venosa sistêmica. se uma célula cromófoba. infundíbulo ou pedúnculo da hipófise. Possui células
1.2 Hipófise III. Células corticotróficas: Ou células ACTH. Também menos coradas pelo fato de tipicamente ser formada
constituem 15-20% das células da adenohipófise. por tecido nervoso (semelhante à substância branca
A adeno-hipófise, ou hipófise anterior, São células poligonais de tamanho médio com
desempenha um papel fundamental na regulação da do SNC);
núcleos arredondados e excêntricos. Produzem uma
função endócrina, por meio da produção e da liberação molécula precursora do ACTH, conhecida como - Pars nervosa Contém axônios mielínicos e suas
dos hormônios tróficos. A função da adeno-hipófise e, POMC (proopiomelanocortina). Coram-se como terminações nervosas de cerca de 100k neurônios
consequentemente, a produção dos hormônios tróficos basófilas. A POMC ainda é clivada dentro das células neurossecretores cujos corpos celulares situam-se nos
são reguladas pelo hipotálamo por meio dos corticotróficas por enzimas proteolíticas dando núcleos supra-optico e paraventricular do hipotálamo.
neuropeptídeos hipofisiotróficos liberados na eminência origem a: ACTH, MSH (hormônio 1.2.2 Anatomia funcional
mediana. melanocitoestimulante), encefalina, hormônio
Os hormônios tróficos produzidos pela adeno- A hipófise, ou glândula pituitária, é constituída
lipotrofico beta e beta endorfina. por um lobo anterior e um lobo posterior, que diferem
hipófise são liberados na circulação sistêmica, por meio IV. Células gonadotróficas: Ou células FSH e LH.
da qual alcançam seus órgãos-alvo para produzir uma em sua origem embriológica, modo de desenvolvimento
Constituem cerca de 10% das células da e estrutura.
resposta fisiológica, envolvendo, com mais frequência, a adenohipófise. São pequenas células ovais com
liberação de um hormônio do órgão-alvo. núcleos arredondados e excêntricos, que produzem à O lobo anterior, também conhecido como adeno-
tanto FSH quanto LH. Estão espalhadas em toda a hipófise, é maior e consiste em uma parte anterior e
1.2.1 Histologia parte distal e são basófilas. Algumas delas produzem uma parte intermédia, separadas por uma estreita fenda,
so um dos hormônios, mas como regra geral, ela é o remanescen- te da bolsa de Rathke. A parte intermédia
• Pars distalis (adeno-hipófise) – epitélio glandular
capaz de produzir ambos os hormônios. é de pouca importância na fisiologia humana. A adeno-
endócrino na forma de cordões entremeados por
V. Células tireotróficas: Ou células TSH. Constituem hipófise é uma estrutura altamente vascularizada,
capilares sanguíneos. Os hormônios produzidos por
cerca de 5% das células da adeno-hipófise. São constituída por células epiteliais derivadas do
essas células são armazenados em grânulos de
secreção. Os poucos fibroblastos presentes secretam grandes e poligonais, com núcleos redondos e revestimento ectodérmico do palato. As células
fibras reticulares que sustentam os cordões das excêntricos e produzem o TSH. São basófilas. hipofisárias que revestem os capilares produzem os
células produtoras de hormônios. hormônios tróficos: hormônio adrenocorticotrófico
- Composta por: • Pars intermedia (adeno-hipófise) – caracteriza-se (ACTH), hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio do
por possuir muitos cistos contendo colóide e crescimento (GH), prolactina (Prl) e gonadotrofinas,
I. Células somatotróficas: Ou células GH, são mais hormônio luteinizante (LH, de luteinizing hormone) e
encontradas na parte distal e constituem cerca de revestidos por células cuboides. Os cistos são
resquícios da bolsa de Ranthke (identifica-se por hormônio folículo-estimulante (FSH).Todos são liberados
50% das células da adenohipófise. São células ovais na circulação sistêmica.
de tamanho médio, com núcleo arredondado e apresentar epitélio cúbico em volta). Apresentam
apenas células basófilas.
2 Principais tipos de glândulas e hormônios endócrina de órgãos e mediadores não atua de maneira uma ação biológica sobre uma célula-alvo. Eles podem
com o S.E, bem como seus receptores e mecanismos isolada e ESTÁ ESTREITAMENTE INTEGRADA COM OS ser liberados das glândulas endócrinas (i.e., insulina,
de ação SISTEMAS NERVOSOS CENTRAL E PERIFÉRICO, ALÉM DO cortisol), do cérebro (i.e., hormônio de liberação da
SISTEMA IMUNE (“neuroendócrino” ou corticotrofina [CRH], ocitocina e hormônio antidiurético)
O sistema endócrino tem como função: “neuroendócrino-imune”). e de outros órgãos, como o coração (peptídeo
natriurético atrial), o fígado (fator de crescimento
“Coordenar e integrar a atividade das células em todo o semelhante à insulina 1) e o tecido adiposo (leptina).
organismo por meio da regulação das funções celular e Órgão-alvo – contém células que expressam
orgânica e pela manutenção da homeostasia durante receptores hormonais específicos e que respondem à
toda a vida.” ligação de determinado hormônio com uma ação
biológica demonstrável.
E ele desempenha esse papel da seguinte forma:
• Regulação do equilíbrio do sódio e da água, além de 2.1 Tipos de glândulas
controle do volume sanguíneo e da pressão arterial.
• Regulação do equilíbrio do cálcio e do fosfato para
preservar as concentrações no líquido extracelular 2.2 Classificação dos tipos de hormônios
necessárias à integridade da membrana celular e à Com base em sua estrutura química, os
sinalização intracelular. hormônios podem ser classificados em proteínas (ou
• Regulação do balanço energético e controle da peptídeos), esteroides e derivados de aminoácidos
mobilização, da utilização e do armazenamento da (aminas).
energia para assegurar o suprimento das demandas A estrutura do hormônio é que determina, em
metabólicas celulares. grande parte, a localização do receptor hormonal;
• Coordenação das respostas contrarreguladoras
hemodinâmicas e metabólicas do hospedeiro ao As aminas e os hormônios peptídicos ligam-se a
estresse. receptores situados na superfície celular, enquanto os
• Regulação da reprodução, do desenvolvimento, do hormônios esteroides têm a capacidade de atravessar as
crescimento e do processo de envelhecimento. O sistema endócrino é constituído essencialmente membranas plasmáticas, ligando-se a receptores
No sistema endócrino: por três componentes básicos: intracelulares. Uma exceção a essa generalização é o
hormônio tireoidiano, um hormônio derivado de
Determinado
Libera um Exercer um Glândulas endócrinas – carecem de ductos e, por aminoácido, que é transportado na célula para sua
mensegeiro efeito sobre
orgão (exp.:
hipófise)
químico Na Circulação um orgão alvo isso, secretam seus produtos químicos (hormônios) no ligação a um receptor nuclear.
(hormônio) distante
espaço intersticial, a partir do qual passam para a
circulação. Diferentemente dos sistemas cardiovascular, A estrutura do hormônio também influencia sua
renal e digestório, as glândulas endócrinas não têm meia-vida.
conexão anatômica e estão distribuídas por todo o
Na atualidade, o sistema endócrino é definido
corpo. A comunicação entre os diferentes órgãos é As aminas são as que apresentam meia-vida mais curta
como uma REDE INTEGRADA DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS,
assegurada pela liberação de hormônios ou (2 a 3 minutos), seguidas dos polipeptídeos (4 a 40
de DIFERENTES ORIGENS EMBRIOLÓGICAS, que liberam
neurotransmissores. minutos), dos esteroides e das proteínas (4 a 170
hormônios, incluindo desde pequenos peptídeos a
Hormônios – produtos químicos, liberados pela minutos) e dos hormônios tireoidianos (0,75 a 6,7 dias).
glicoproteínas, QUE EXERCEM SEUS EFEITOS EM
célula em quantidades muito pequenas, que exercem
CÉLULAS-ALVO PRÓXIMAS OU DISTANTES. Essa rede
2.2.1 Hormônios proteicos ou peptídicos biológicas e das taxas de depuração dos hormônios estrogênios derivados dos androgênios. O hormônio é
Constituem a maioria dos hormônios que são glicoproteicos na circulação. sintetizado e atua intracelularmente na mesma célula
sintetizados na forma de pré-pró-hormônios e sofrem 2.2.2 Hormônios esteroides que o produz.
processamento pós-tradução, sendo armazenados em Derivam do colesterol e são sintetizados no córtex 2.3.2 Transporte dos hormônios
grânulos secretores antes de sua liberação por exocitose, da suprarrenal, nas gônadas e na placenta. Os hormônios liberados na circulação podem
por meio de um processo que lembra a liberação dos São lipossolúveis, circulam no plasma ligados às circular em sua forma livre ou ligados a proteínas
neurotransmissores das terminações nervosas. pro- teínas e atravessam a membrana plasmática para se carreadoras, também conhecidas como proteínas de
ligarem a receptores intracelulares citosólicos ou ligação que atuam como reservatórios e prologam a
nucleares. meia-vida do hormônio.
A vitamina D e seus metabólitos também são O hormônio livre ou não ligado constitui a forma
considerados hormônios esteroides. ativa, que se liga ao receptor hormonal específico. Por
2.2.3 Hormônios derivados de aminoácidos conseguinte, a ligação de um hormônio a sua proteína
carreadora serve para regular a atividade hormonal,
Sintetizados a partir do aminoácido tirosina e estabelecendo a quantidade de hormônio livre para
incluem as catecolaminas noradrenalina, adrenalina e exercer uma ação biológica.
dopamina, além dos hormônios tireoidianos, que As proteínas carreadoras são, em sua maioria,
derivam da combinação de dois resíduos do aminoácido globulinas sintetizadas no fígado. Por isso alterações na
tirosina que são iodados. função hepática pode resultar em anormalidades nos
2.3 Mecanismo de ação dos hormônios níveis de proteínas de ligação, podendo afetar
2.3.1 Efeito indiretamente os níveis totais dos hormônios.

Dependendo do local onde o efeito biológico de


Aminas, peptídeos e hormônios proteicos à hidrofílicos,
determinado hormônio é produzido em relação ao local
circulam em forma livre (exceção fatores de crescimento
de sua liberação, ele pode ser classificado de três
semelhantes a insulina).
maneiras.
Hormônios esteroides e tireoidianos à lipofílicos, se
ligam a proteínas de transporte específicas.
• Endócrino quando o hormônio é liberado na
circulação e, em seguida, transportado pelo sangue A interação entre determinado hormônio e sua
para exercer um efeito biológico sobre células-alvo proteína carreadora encontra-se em equilíbrio dinâmico,
distantes. possibilitando adaptações que impedem as
Entre os exemplos de hormônios peptídicos, • Parácrino quando o hormônio liberado de uma manifestações clínicas de deficiência ou de excesso
destacam-se a insulina, o glucagon e o hormônio célula exerce um efeito biológico sobre uma célula hormonal.
adrenocorticotrófico (ACTH). vizinha, frequentemente localizada no mesmo órgão A secreção do hormônio é rapidamente regulada
Alguns dos incluídos nessa categoria, como os ou tecido. após alterações nos níveis das proteínas transportadoras.
hormônios gonadotróficos, hormônio luteinizante (LH) e • Autócrino quando o hormônio produz um efeito Por exemplo, os níveis plasmáticos de proteína de
o hormônio folículo-estimulante (FSH), juntamente com biológico sobre a mesma célula que o libera. ligação do cortisol aumentam durante a gravidez.
o hormônio tireoestimulante (TSH) e a gonadotrofina
coriônica humana, contêm carboidratos e, por isso, são
OBS.: Efeito intrácrino: identificado nos efeitos do A elevação dos níveis circulantes da proteína de ligação
denominados glicoproteínas. do cortisol leva a um aumento da capacidade de ligação
Os componentes de carboidrato desempenham peptídeo relacionado com o paratormônio em células
malignas, bem como em alguns dos efeitos dos do cortisol, com consequente redução dos níveis de
um importante papel na determinação das atividades
cortisol livre. Essa redução do cortisol livre estimula a sem haver uma ocupação de 100% dos receptores
liberação hipotalâmica do CRH, que estimula a liberação hormonais. Os receptores que não são ocupados são
do ACTH pela adeno-hipófise e, consequentemente, a denominados receptores de reserva.
síntese e a liberação do cortisol das glândulas Com frequência, a ocupação do receptor
suprarrenais que, liberado em maiores quantidades, necessária para produzir uma resposta biológica em
restaura os níveis de cortisol livre e impede a determinada célula-alvo é muito baixa; por conseguinte,
manifestação da deficiência de cortisol. uma redução do número de receptores nos tecidos-alvo
não necessariamente provoca um comprometimento
Conforme assinalado anteriormente, a ligação de imediato da ação hormonal.
um hormônio a uma proteína de ligação prolonga sua A função endócrina anormal resulta de excesso ou
meia-vida. A meia-vida de um hormônio está deficiência na ação dos hormônios, podendo decorrer da
inversamente relacionada com sua remoção da produção anormal de determinado hormônio (em
circulação, ou seja, com sua taxa de depuração excesso ou em quantidades insuficientes) ou de redução
metabólica (o volume de depuração plasmática do no número ou na função dos receptores.
hormônio por unidade de tempo).
Uma vez liberados na circulação, os hormônios 2.3.3 Efeitos celulares dos hormônios OBS.: Os agonistas dos receptores hormonais são
podem se ligar a seus receptores específicos em um A resposta biológica aos hormônios é moléculas que se ligam ao receptor hormonal e
órgão-alvo, sofrer transformação metabólica pelo fígado desencadeada pela ligação a receptores hormonais produzem um efeito biológico semelhante ao induzido
ou ser excretados na urina. específicos no órgão-alvo. Por circularem em baixas pelo hormônio. Os antagonistas desses receptores são
No fígado, os mensageiros químicos podem ser concentrações o receptor deve ter afinidade e moléculas que se ligam ao receptor hormonal e inibem os
inativados pelas reações de fase I (hidroxilação ou especificidade elevadas pelo hormônio para produzir efeitos biológicos de um hormônio específico.
oxidação) e/ou de fase II (glicuronidação, sulfatação ou uma resposta biológica.
redução com glutationa) e, em seguida, excretados pelo
2.3.4 Receptores hormonais
fígado através da bile ou pelo rim. Afinidade à determinada pelas taxas de dissociação e
Os hormônios podem ser degradados em suas associação do complexo hormônio-receptor em Com base em sua localização celular, os
células-alvo pela internalização do complexo hormônio- condições de equilíbrio. A constante de dissociação em receptores hormonais são classificados em receptores de
receptor, seguida da degradação lisossomal do equilíbrio (Kd) é definida como a concentração hormonal membrana celular ou receptores intracelulares.
hormônio. Apenas uma fração muito pequena da necessária para a ligação de 50% dos sítios dos
produção total de hormônio é excretada de modo receptores. Quanto mais baixa a Kd, maior a afinidade de EXP.: Os peptídeos e as catecolaminas são incapazes de
intacto na urina e nas fezes. ligação. Basicamente, a afinidade é um reflexo do grau atravessar a bicamada lipídica da membrana celular e,
de intensidade da interação entre o hormônio e o em geral, ligam-se a receptores de membrana celular,
receptor. com exceção dos hormônios da tireoide, conforme
Especificidade à capacidade de um receptor hormonal assinalado anteriormente. Os hormônios tireoidianos são
de discriminar entre vários hormônios com estruturas transportados para dentro da célula e ligam-se a
correlatas. receptores nucleares. Os hormônios esteroides, que são
lipossolúveis, atravessam a membrana plasmática e
A ligação dos hormônios a seus receptores é ligam-se a receptores intracelulares.
passível de saturação, existindo um número finito de
receptores ao qual um hormônio pode se ligar.
Na maioria das células-alvo, a resposta biológica
máxima a determinado hormônio pode ser alcançada
I. Receptores de membrana celular
Hormônio se liga ao receptor
Essas proteínas receptoras localizam-se dentro da acoplado à proteína G As duas principais enzimas que interagem com as
dupla camada fosfolipídica da membrana celular das proteínas G são a adenilato-ciclase (Gs) e a fosfolipase C
células-alvo. (PLC) (Gq), sendo essa seletividade de interação
A ligação do hormônio (i.e., as catecolaminas, os determinada pelo tipo de proteína G ao qual o receptor
Mudança conformacional se associa.
hormônios peptídicos e proteicos) a receptores de
membrana celular e a formação do complexo hormônio-
receptor desencadeiam uma cascata de sinalização de • Receptores de proteína tirosina-quinase:
eventos intracelulares, resultando em uma resposta Receptor reage com a Proteínas transmembrana simples que possuem
biológica específica. proteína G reguladora
atividade enzimática intrínseca.
Do ponto de vista funcional, os receptores de Entre os hormônios que utilizam esses tipos de
membrana celular podem ser divididos em: receptores, destacam-se a insulina e os fatores de
Libera GDP em troca do GTP crescimento.
à Canais iônicos regulados por ligantes (ionotrópicos):
Esses receptores estão funcionalmente acoplados aos
canais iônicos. A ligação de um hormônio a esse receptor Hormônio se liga ao receptor
produz uma mudança de conformação, que determina a
abertura dos canais iônicos na membrana celular, Ativa a proteína G
produzindo fluxos de íons no interior da célula-alvo. Os
efeitos celulares são observados poucos segundos após a Ativa quinase intracelular
ligação do hormônio. Proteīna G ligada ao GTP se
à Receptores que regulam a atividade das proteínas dissocia do receptor
intracelulares: consistem em proteínas transmembrana
Fosforilação de resíduos de
que transmitem sinais a alvos intracelulares quando tirosina no domínio catalítico
do próprio receptor
ativadas. A ligação do ligante ao receptor sobre a Subunidade ALFA se dissocia
superfície celular e a ativação da proteína associada da GAMA-BETA
desencadeiam uma cascata de sinalização de eventos
Aumento da atividade de
que ativa as proteínas e as enzimas intracelulares, quinase e fosforilação fora do
domínio
podendo incluir efeitos sobre a transcrição e a expressão Ativam os alvos intracelulares
dos genes. Os principais tipos de receptores hormonais (exp.: canal iônico ou enzima)
da membrana celular pertencentes a essa categoria são: Cria sítios de ligação
específicos para proteínas
adicionais
• Receptores acoplados à proteína G:

Recrutamento e ativação de
proteínas adicionais

Início a cascata de
sinalização distal
A maioria desses receptores consiste em atravesse a membrana plasmática, ou, como no caso do
polipeptídeos simples, embora alguns deles, como o hormônio tireoidiano, seja transportado ativamente para
receptor de insulina, sejam constituídos por dímeros dentro da célula.
consistindo em dois pares de cadeias polipeptídicas. A distribuição do receptor hormonal intracelular
A ligação do hormônio a receptores de superfície não ligado pode ser citosólica ou nuclear.
celular resulta em rápida ativação das proteínas
citosólicas e em respostas celulares. Pela fosforilação A formação do complexo hormônio-receptor com
proteica, a ligação do hormônio a receptores de receptores citosólicos
superfície celular também pode alterar a transcrição de
genes específicos por intermédio da fosforilação dos
fatores de transcrição.
Provoca uma mudança de conformação
EXP.: fosforilação do fator de transcrição, a proteína de
ligação do elemento de resposta ao AMPc (CREB, de
cAMP response element binding protein), pela proteína-
quinase A em resposta à ligação do receptor e à ativação
Possibilita a entrada do complexo hormônio-receptor no
da adenilato-ciclase. Esse mesmo fator de transcrição
núcleo e sua ligação a sequências específicas de DNA
(CREB) pode ser fosforilado por cálcio-calmodulina após a O receptor de hormônio tireoidiano não ocupado
ligação do hormônio ao receptor de tirosina-quinase e a liga-se ao DNA e reprime a transcrição. A ligação do
ativação da PLC. hormônio tireoidiano ao receptor possibilita a ocorrência
de trans- crição gênica. Por conseguinte, o receptor de
Por conseguinte, a ligação do hormônio a Para regular a transcrição gênica. hormônio tireoidiano atua como repressor na ausência
receptores de superfície celular pode deflagrar uma do hormônio, porém a ligação hormonal o converte em
resposta imediata quando o receptor está acoplado a um Uma vez no interior do núcleo, os receptores um ativador, que estimula a transcrição de genes
canal iônico, ou pela rápida fosforilação das proteínas regulam a transcrição pela ligação, em geral na forma de induzíveis pelo hormônio tireoidiano.
citosólicas pré-formadas, podendo ativar também a dímeros, a elementos de resposta hormonal normal- O receptor de esteroides, como aquele usado por
transcrição gênica por meio de fosforilação dos fatores mente localizados em regiões reguladoras de genes-alvo. estrogênio, progesterona, cortisol e aldosterona, não é
de transcrição. Em todos os casos, a ligação do hormônio leva à capaz de se ligar ao DNA na ausência do hormônio. Após
localização nuclear quase completa do complexo a ligação do hormônio esteroide a seu receptor, o
hormônio-receptor. receptor dissocia-se das proteínas chaperonas associadas
II. Receptores intracelulares
a ele. O complexo hormônio-receptor (HR) é translocado
Pertencem a superfamília dos receptores de EXP.: Os receptores intracelulares não ligados podem para o núcleo, onde se liga a seu elemento de resposta
esteroides. estar situados no núcleo, como no caso dos receptores do específico no DNA, dando início à transcrição gênica
Eles consistem em fatores de transcrição que hormônio tireoidiano. O receptor do hormônio
possuem locais de ligação para o hormônio (ligante) e o tireoidiano não ocupado reprime a transcrição de genes. à Regulação dos receptores hormonais
DNA e que funcionam como fatores de transcrição A ligação do hormônio tireoidiano ao receptor ativa a Os hormônios podem influenciar a responsividade
regulados por ligantes (hormônios). transcrição gênica. da célula-alvo pela modulação da função dos receptores.
A formação do complexo hormônio-receptor e a As células-alvo têm a capacidade de detectar alterações
ligação ao DNA resultam em ativação ou repressão da no sinal hormonal em uma variedade de intensidades de
transcrição gênica. A ligação a receptores hormonais estímulo.
intracelulares requer que o hormônio seja hidrofóbico e
Isso requer que a célula seja capaz de sofrer um interação é a upregulation dos receptores adrenérgicos A liberação de hormônios por um órgão
processo reversível de adaptação ou dessensibilização, dos miócitos cardíacos após elevação sustentada dos endócrino com frequência é controlada por outro
por meio do qual: níveis de hormônio tireoidiano. hormônio.
Quando o resultado consiste na estimulação da
3 Controle da liberação dos hormônios
A exposição prolongada a determinado hormônio diminui liberação hormonal, o hormônio que exerce esse efeito é
a resposta a mudanças na concentração hormonal (mais A secreção hormonal envolve a síntese ou a denominado trófico, como no caso da maioria dos
do que à concentração absoluta do hormônio) ao longo produção do hormônio e sua liberação da célula. hormônios produzidos e liberados pela adeno-hipófise.
de uma faixa muito ampla de concentrações hormonais. A liberação periódica e pulsátil dos hormônios é
de suma importância na manutenção da função EXP.: A regulação da liberação de glicocorticoides
Por exemplo, a ligação do hormônio a receptores endócrina normal e nos efeitos fisiológicos exercidos pelo ACTH.
de superfície celular pode induzir a endocitose e o sobre o órgão-alvo. Os hormônios também podem suprimir a
sequestro temporário em endossomas. Essa endocitose Podem ser identificados três mecanismos gerais liberação de outro hormônio.
de receptores induzida pelo hormônio pode levar à como reguladores comuns da liberação hormonal.
destruição dos receptores nos lisossomos, um processo 3.1 Controle neural EXP.: A inibição da liberação do hormônio do
conhecido como dowregulation do receptor. crescimento pela somatostatina.
O controle e a integração pelo sistema nervoso
Em outros casos, a dessensibilização resulta de
central constituem um componente- chave da regulação A inibição hormonal da liberação de hormônios
uma rápida inativação dos receptores, como, por
hormonal, mediado pelo controle direto da liberação desempenha um importante papel no processo de
exemplo, em consequência da fosforilação do receptor.
hormonal endócrina pelos neurotransmissores. regulação da liberação hormonal por retroalimentação
A dessensibilização também pode ser causada
O controle neural também desempenha um negativa.
pela alteração em uma proteína envolvida na transdução
importante papel na regulação da liberação endócrina Além disso, os hormônios podem estimular a
de sinais após a ligação do hormônio ao receptor, ou
perifé- rica dos hormônios. Certos órgãos endócrinos, liberação de um segundo hormônio em um mecanismo
pela produção de um inibidor que bloqueia o processo
como o pâncreas, recebem um influxo simpático e conhecido como anteroalimentação (retroalimentação
de transdução.
parassimpático, que contribui para a regulação da positiva), como no caso do aumento de LH mediado pelo
Além disso, um hormônio pode exercer uma
liberação de insulina e glucagon. O controle neural da estradiol na metade do ciclo menstrual
dowregulation ou diminuir a expressão dos receptores
liberação de hormônios é mais bem exemplificado pela
de outro hormônio e reduzir a eficiência desse último 3.3 Regulação por nutrientes ou íons
regulação simpática da glândula suprarrenal, que
hormônio.
funciona como gânglio simpático mo- dificado, Em todos os casos, o hormônio específico regula a
recebendo o influxo neural direto do sistema nervoso concentração do nutriente ou do íon no plasma, direta
Os receptores hormonais também podem sofrer
simpático. ou indiretamente. Entre os exemplos de regulação da
upregulation que envolve um aumento no número de
3.2 Controle hormonal liberação hormonal por nutrientes e íons, destacam-se o
receptores hormonais específicos e, com frequência,
controle da liberação de insulina pelos níveis plasmáticos
ocorre quando os níveis prevalentes do hormônio se
de glicose e o controle da liberação do paratormônio
encontram baixos durante certo período.
pelos níveis plasmáticos de cálcio e fosfato.
O resultado consiste em aumento de
responsividade aos efeitos fisiológicos hormonais no
tecido-alvo, quando os níveis dos hormônios são
restaurados, ou quando se administra um agonista do
receptor.
Um hormônio também pode upregulate os
receptores de outro hormônio, aumentando sua
eficiência no tecido-alvo. Um exemplo desse tipo de
Em vários casos, a liberação de determinado estabilidade por manter um parâmetro fisiológico (p. ex.,
hormônio pode ser influenciada por mais de um desses glicose sanguínea) dentro de uma escala normal.
mecanismos. Por exemplo, a liberação de insulina é Uma alça de retroalimentação positiva, na qual o
regulada por nutrientes (níveis plasmáticos de glicose e hormônio X aumenta os níveis do componente Y e o
de aminoácidos), por mecanismos neurais (estimulação componente Y estimula a secreção do hormônio X,
simpática e parassimpática) e por mecanismos confere instabilidade. Sob o controle de alças de
hormonais (somatostatina). retroalimentação positiva, um estímulo é recebido e
A função final desses meios de controle é fazer o amplificado. Por exemplo, as alças de retroalimentação
sistema neuroendócrino se adaptar a mudanças do positiva controlam os processos que levam à ruptura de
ambiente, integrar sinais e manter a homeostasia. um folículo através da parede ovariana ou à expulsão de
A responsividade das células-alvo à ação feto do útero.
hormonal, com a regulação da liberação de hormônio, Existem duas configurações básicas das alças de
constitui um mecanismo de controle por retroalimentação negativas dentro do sistema
retroalimentação. endócrino: uma alça de retroalimentação de resposta
A redução ou a inibição do estímulo inicial é fisiológica direcionada (mencionada simplesmente como
denominada retroalimentação negativa. “retroalimentação de resposta direcionada”) e uma alça
A estimulação ou a intensificação do estímulo de retroalimentação direcionada do eixo endócrino:
Grande parte do sistema endócrino é organizada
original é conhecida como retroalimentação positiva.
em eixos endócrinos, cada eixo consistindo em
A alça de retroalimentação de resposta
hipotálamo, hipófise e glândulas endócrinas periféricas.
A integridade do sistema assegura que as direcionada é observada em glândulas endócrinas que
Desta forma, a alça de retroalimentação direcionada do
alterações adaptativas nos níveis de hormônios não irão controlam os níveis de glicose sanguínea (ilhotas
eixo endócrino envolve uma configuração em três níveis.
levar a distúrbios patológicos. Além disso, o mecanismo pancreáticas), níveis sanguíneos de Ca++ e Pi (glândulas
de controle desempenha um importante papel nas paratireoides, rim), osmolaridade e volume de sangue
1º nível Neurônios neuroendócrinos
adaptações a curto e a longo prazo a mudanças do (hipotálamo/neuro-hipófise), e Na+, K+ e H+ sanguíneos hipotalâmicos
ambiente. Podem ser identificados três níveis: (zona glomerulosa do córtex suprarrenal e células
atriais).
Na configuração da resposta direcionada, a
secreção de um hormônio é estimulada ou inibida por Hormônios de liberação

uma mudança no nível de um parâmetro extracelular


específico (p. ex., um aumento na glicose sanguínea
estimula a secreção de insulina). Níveis hormonais
2º nível
alterados levam a mudanças na fisiologia dos órgãos-alvo Na hipófise

(p. ex., gliconeogênese hepática reduzida, consumo


aumentado de glicose pelo músculo) que regulam
diretamente o parâmetro (i. e., glicose sanguínea) em
Estimulam a produção e
questão. A mudança no parâmetro (i. e., glicose secreção de hormônios tróficos
Em uma alça de retroalimentação negativa, o sanguínea reduzida) desta forma inibe a secreção
“hormônio A” atua em um ou mais órgãos-alvo para adicional do hormônio (i. e., a secreção de insulina cai
induzir uma mudança (diminuição ou aumento) nos quando a glicose sanguínea diminui). Estimulam a produção e
níveis circulantes do “componente B”, e a mudança no 3º nível secreção de hormônios das
componente B por sua vez inibe a secreção do hormônio glândulas endócrinas periféricas

A. As alças de retroalimentação negativa garantem


Um aspecto importante dos eixos endócrinos é a secreção de GH por meio de um peptídio, o hormônio
capacidade de diminuir e aumentar os sinais neuronais liberador do hormônio de crescimento (GHRH). O GHRH GHRH
para modular a liberação dos hormônios hipotalâmicos intensifica a secreção de GH e a expressão do gene do
de liberação e desse modo controlar a atividade do eixo. GH.
Uma contribuição neuronal importante aos neurônios O hipotálamo inibe a síntese e a liberação
secretores de hormônios de liberação vem de outra pituitárias de GH por meio do peptídeo somatostatina. Liga-se aos receptores Gs nos
somatotropos
região do hipotálamo chamada de núcleo Na pituitária anterior, a somatostatina inibe a liberação
supraquiasmático (SCN). Neurônios SCN impõem um de GH e TSH. A secreção de GH também é regulada pela
ritmo diário, chamado de ritmo circadiano, sobre a grelina, que é produzida principalmente pelo estômago,
secreção dos hormônios hipotalâmicos de liberação e mas também é expressa no hipotálamo. A grelina
dos eixos endócrinos que eles controlam. aumenta o apetite e pode agir como um sinal que Ativando adenilato-ciclase

coordena a aquisição de nutrientes com o crescimento.


4 Família do hormônio do crescimento
4.1 Síntese e secreção Acúmulo intracelular de
AMPc e ativação da proteína-
Os somatótrofos produzem o hormônio do quinase A (PKA)
crescimento (GH, também denominado somatotrofina) e
constituem uma parte do eixo hipotalâmico-pituitário-
hepático.
Liberado dos somatótrofos em surtos pulsáteis, e PKA fosforila a proteína de
ligação CREB
tendo a maior parte da secreção noturna, que ocorre em
associação ao sono de ondas lentas (NREM fases III e IV).
A base da liberação pulsátil do GH e a função desse
padrão não estão totalmente esclarecidas; entretanto, Ativação de CREB e trancrição
aimenrada do fator de
acredita-se que os mecanismos nutricionais, metabólicos transcrição da hipófise Pit-1
e dos esteroides sexuais relacionados com a idade, os
glicocorticoides suprarrenais e os hormônios
tireoidianos, bem como as funções renal e hepática,
Ativa transcrição do gene do
contribuam para a liberação pulsátil do GH e possam ser GH
essenciais na obtenção da potência biológica ótima do
hormônio.
A somatostatina produz seus efeitos fisiológicos
OBS.: Com frequência, em vez de quantificar o GH, por sua ligação aos receptores de somatostatina
o clínico avalia o IGF-I sérico porque sua secreção é acoplados à proteína Gi, resultando em diminuição da
regulada pelo GH e o IGF-I tem uma meia-vida circulante atividade da adenilato- ciclase, do AMPc intracelular e
relativamente longa que minimiza as alterações pulsáteis das concentrações de Ca2+, bem como em estimulação
e diárias da secreção. da proteína tirosina-fosfatase. Além disso, a ligação da
somatostatina aos receptores acoplados aos canais de K+
A maior parte do GH na circulação está ligada à causa a hiperpolarização da membrana, levando à
proteína de ligação do GH. cessação da atividade espontânea do potencial de ação e
O hipotálamo exerce um controle duplo sobre a redução secundária das concentrações intracelulares de
secreção de GH. Ele estimula predominantemente a Ca2+. A expressão dos receptores de somatostatina é
modulada por hormônios e pelo estado nutricional do GH. A obesidade também inibe a secreção de GH, em O GH age diretamente sobre o fígado, os
indivíduo. parte por causa da resistência à insulina (hiperglicemia músculos e o tecido adiposo para regular o metabolismo
4.1.1 Regulação relativa) e do nível elevado de ácidos graxos livres energético. Ele desvia o metabolismo para que os lipídios
circulantes. sejam utilizados como fonte de energia e os carboidratos
Os dois principais reguladores hipotalâmicos da De modo inverso, o exercício físico e a inanição e as proteínas sejam preservados.
liberação de GH pela adeno-hipófise são o GHRH e a estimulam a secreção de GH. Entre os outros hormônios O GH é um hormônio anabolizante que age sobre
somatostatina, que exercem influências excitatórias e que regulam a secreção de GH estão o estrógeno, os as proteínas. Ele aumenta a captação celular de
inibitórias, respectivamente, sobre os somatotropos. A andrógenos e o hormônio tireoidiano, que intensificam a aminoácidos e sua incorporação em proteínas, além de
liberação do GH também é inibida pelo fator de secreção de GH e IGF-I, bem como a maturação dos inibir a proteólise.
crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), o hormônio ossos. Como consequência, provoca retenção de
produzido nos tecidos periféricos em resposta à nitrogênio (balanço positivo de nitrogênio) e diminui a
estimulação do GH. produção de ureia. Foi proposto que a perda muscular
O IGF-1 derivado da síntese hepática faz parte de que acompanha o envelhecimento é causada, pelo
um mecanismo de liberação de GH por retroalimentação menos em parte, pela diminuição da secreção de GH que
negativa clássica. ocorre nessa fase da vida.
O GH estimula a produção de IGF-I pelo fígado, e
o IGF-I, por sua vez, inibe a síntese e a secreção de GH
A ação do GH é mediada por um receptor do
pela pituitária e pelo hipotálamo por meio de uma alça
hormônio, expresso principalmente no fígado e nas
de retroalimentação “longa” clássica.
cartilagens, e com- posto de dímeros pré-formados que
Além disso, o próprio GH exerce uma
sofrem modificação conformacional quando ocupados
retroalimentação negativa sobre a liberação de GHRH
por um ligante do GH, promovendo a sinalização. A
por meio de uma alça de retroalimentação “curta”. O GH 4.2 Transporte
clivagem do receptor do GH libera a sua porção
também aumenta a liberação de somatostatina. O GH é liberado pela adeno-hipófise na circulação extramembranária, que origina uma proteína de ligação
A grelina é um peptídeo liberado sistêmica. Os níveis circulantes do hormônio são do GH sérico (GHBP1). Esta última prolonga a meia- vida
predominantemente pelo estômago, mas também inferiores a 3 ng/mL, e a maior parte (60%) liga-se à e medeia o transporte celular do hormônio. O GH ativa o
expresso no pâncreas, no rim, no fígado e no núcleo proteína de ligação do GH. Essa proteína deriva da crescimento do receptor do GH, ao qual se liga uma
arqueado do hipotálamo, que foi identificado como clivagem proteolítica do receptor de membrana do GH tirosinoquinase intracelular denominada quinase Janus 2
outro secretagogo do GH. A contribuição geral da grelina por metaloproteases e atua como reservatório do (JAK2). Tanto o receptor quanto a JAK2 são fosforilados,
na regulação da liberação do GH nos seres humanos hormônio, prolongando sua meia-vida ao diminuir sua possibilitando a ligação a esse complexo das proteínas
ainda não está totalmente elucidada. taxa de degradação. A meia-vida hormonal é, em média, transdutoras de sinal e ativadoras de transcrição (STAT).
A secreção de GH também é regulada por vários de 6 a 20 minutos. O GH é degradado nos lisossomos, As proteínas STAT são, então, fosforiladas e translocadas
estados fisiológicos diferentes. após a ligação a seus receptores e a internalização do para o núcleo, o que inicia a transcrição das proteínas-
O GH é classificado como um dos hormônios do complexo hormônio-receptor. alvo do GH. A sinalização intracelular do GH é suprimida
“estresse” e aumenta tanto no estresse neurogênico
4.3 Mecanismo de ação por diversas proteínas, especialmente os supressores da
como no físico. Ele promove a lipólise, aumenta a síntese
sinalização das citocinas (SOCS).
de proteínas e antagoniza a capacidade da insulina de O efeito fisiológico mais importante do GH
reduzir os níveis de glicose do sangue. Não é consiste na estimulação do crescimento longitudinal pós-
surpreendente, portanto, o fato de que a hipoglicemia natal. Esse hormônio também desempenha um papel na 4.3.1 Receptores
aguda seja um estímulo para a secreção de GH e que o regulação do metabolismo de substratos e na Nos tecidos periféricos, o GH liga-se aos
GH seja classificado como hormônio hiperglicemiante. diferenciação dos adipócitos; na manutenção e no receptores específicos de superfície celular que
Em contrapartida, o aumento da glicose desenvolvimento do sistema imune, e na regulação da
sanguínea ou dos ácidos graxos livres inibe a secreção de função cerebral e cardíaca.
pertencem à superfamília dos receptores de citocinas da começam de modo gradativo durante o primeiro e o
classe 1. segundo ano de vida, alcançando seu máximo por • Diretamente
Os receptores de GH são encontrados em muitos ocasião da puberdade.
tecidos biológicos e tipos celulares, como fígado, osso, Antes da fusão das epífises dos ossos longos, o GH O GH age diretamente sobre o fígado, os
rim, tecido adiposo, músculo, olho, cérebro, coração e estimula a condrogênese e o alargamento das placas músculos e o tecido adiposo para regular o metabolismo
células do sistema imune. epifisiais cartilaginosas, seguidos de deposição de matriz energético, desviando-o para que os lipídios sejam
A molécula do GH exibe dois sítios de ligação para óssea. Além de seus efeitos sobre a estimulação do utilizados como fonte de energia e os carboidratos e as
o receptor de GH, resultando na dimerização do crescimento linear, esse hormônio desempenha um proteínas sejam preservados.
receptor, uma etapa necessária para a atividade papel na regulação da fisiologia normal da formação O GH é um hormônio anabolizante que age sobre
biológica do hormônio. óssea no adulto, aumentando a renovação do osso, com as proteínas. Ele aumenta a captação celular de
A dimerização do receptor é seguida da ativação aumento na formação e, em menor grau, na reabsorção aminoácidos e sua incorporação em proteínas, além de
de uma quinase associada ao receptor, a Janus-quinase ósseas. Acredita-se que os efeitos do GH na placa de inibir a proteólise. Como consequência, provoca
2. Essa quinase atua por transdutores de sinais e crescimento epifisial sejam mediados diretamente, pela retenção de nitrogênio (balanço positivo de nitrogênio) e
ativadores das proteínas de transcrição (STATs) especiais, estimulação da diferenciação dos precursores dos diminui a produção de ureia.
que sofrem dimerização e translocação para o núcleo, condrócitos, e indiretamente, pelo aumento da produção Foi proposto que a perda muscular que
transmitindo sinais a elementos de resposta reguladores local e da responsividade ao IGF-1, que, por sua vez, atua acompanha o envelhecimento é causada, pelo menos em
específicos do DNA. de modo autócrino ou parácrino, estimulando a parte, pela diminuição da secreção de GH que ocorre
expansão clonal dos condrócitos em processo de nessa fase da vida.
4.3.2 Efeitos do GH O GH é um hormônio lipolítico. Ele ativa a lipase
diferenciação
à Tecido adiposo: o GH estimula a liberação e a sensível aos hormônios e, dessa forma, mobiliza as
oxidação dos ácidos graxos livres, particularmente gorduras neutras do tecido adiposo. Como consequência,
durante o jejum. Esses efeitos são mediados por uma os níveis séricos de ácidos graxos sobem após a
redução na ati- vidade da lipase lipoproteica, a enzima administração de GH, mais gordura é utilizada na
envolvida na depuração dos quilomícrons ricos em produção de energia e aumenta a captação e a oxidação
triglicerídeos e das lipoproteínas de densidade muito de ácidos graxos na musculatura esquelética e no fígado.
baixa (VLDL) da corrente san- guínea. Por conseguinte, o O GH pode ser cetogênico como resultado do
GH favorece a disponibilidade de ácidos graxos livres aumento da oxidação dos ácidos graxos (o efeito
para armazenamento no tecido adiposo e oxidação no cetogênico do GH não ocorre quando os níveis de
músculo esquelético. insulina estão normais). Se a insulina for administrada
à Músculo esquelético: o GH exerce ações anabólicas juntamente com o GH, os efeitos lipolíticos do GH serão
sobre o tecido muscular esquelé- tico. O hormônio abolidos.
estimula a captação de aminoácidos e sua incorporação O GH altera o metabolismo dos carboidratos.
em proteínas, a proliferação celular e a supressão da Muitas de suas ações podem ser secundárias ao
degradação proteica. Fígado – O GH estimula a produção aumento da mobilização e da oxidação da gordura.
e a liberação hepáticas do IGF-1, estimulando também a (Lembre-se de que o aumento dos ácidos graxos livres
produção hepática de glicose. séricos inibe a captação de glicose pela musculatura
à Sistema imune: o GH afeta múltiplos aspectos da esquelética e pelo tecido adiposo). Após a administração
resposta imune, incluindo as res- postas das células B e a de GH, a glicose sanguínea eleva-se. Os efeitos
à Osso: estimula o crescimento longitudinal, produção de anticorpos, a atividade das células natural hiperglicemiantes do GH são leves e mais lentos que os
aumentando a formação de novo osso e cartilagem. Os killer, a atividade dos macrófagos e a função dos do glucagon e da epinefrina.
efeitos desse hormônio no crescimento não são de linfócitos T. O GH antagoniza a ação da insulina, no nível pós-
importância crítica durante o período gestacional, mas receptor, na musculatura esquelética e no tecido adiposo
(mas não no fígado). A hipofisectomia (remoção da uma outra proteína chamada subunidade ácido-lábil da produção hormonal. Outras causas são infeções e
glândula pituitária) é capaz de melhorar o controle do (ALS). O GH estimula a produção hepática de IGF-I, lesões hipofisárias.
diabetes porque o GH, como o cortisol, diminui a IGFBPs e ALS. O complexo IGFBP/ALS/IGF-I medeia o
sensibilidade à insulina. Por produzir insensibilidade à transporte e a biodisponibilidade do IGF-I. OBS.: Os anões de Laron são resistentes ao GH
insulina, o GH é considerado um hormônio A insulina também estimula a produção de IGFs, e por causa de um defeito genético na expressão do
diabetogênico. Quando secretado em excesso, o GH o GH não consegue estimular a produção de IGFs na receptor do GH tanto que a resposta ao GH está
pode causar diabetes melito, e os níveis de insulina ausência de insulina. A inanição inibe de maneira eficaz a prejudicada. Assim, embora os níveis séricos de GH sejam
necessários para manter o metabolismo normal secreção de IGFs, mesmo quando os níveis de GH estão normais ou elevados, os anões de Laron não produzem
aumentam. A secreção excessiva de insulina resultante elevados. IGFs em resposta ao GH. O tratamento dos pacientes
do excesso de GH pode causar dano às células beta do afetados pelo nanismo de Laron com GH não corrigirá a
pâncreas. Na ausência de GH, a secreção de insulina deficiência de crescimento.
diminui. Por isso, são necessários níveis normais de GH
para que a função pancreática e a secreção de insulina
sejam normais. 5.2 Acromegalia e gigantismo
Doença sistêmica crônica, decorrente da
• Indiretos produção excessiva do hormônio do crescimento (GH –
O GH aumenta o crescimento do esqueleto e das growth hormone ) e do fator de crescimento semelhante
vísceras; crianças sem GH têm atraso de crescimento ou à insulina tipo 1 (IGF-1).Clinicamente, ela se caracteriza
nanismo. O GH também promove o crescimento das pelo surgimento de feições grosseiras e crescimento de
cartilagens, do comprimento dos ossos longos e do extremidades.
periósteo. A maioria desses efeitos é mediada por um A doença ocorre com igual frequência em homens
grupo de hormônios que são denominados fatores de e mulheres, podendo acontecer em qualquer idade,
crescimento semelhantes à insulina (IGFs). porém é mais comum entre 30 e 50 anos. Quando a
Os IGFs e a insulina reagem de modo cruzado, um secreção excessiva de GH se inicia antes do fechamento
ocupando o receptor do outro, e os IGFs em altas das cartilagens de crescimento, acontecem crescimento
concentrações imitam as ações metabólicas da insulina. linear excessivo e gigantismo, enquanto excesso de GH
Tanto o IGF-I como o IGF-II agem por intermédio de após a fusão epifisária causa apenas acromegalia
receptores de IGF do tipo I, que são similares aos
5 Disfunções envolvendo o GH
receptores de insulina e EGF e contêm atividade
tirosinocinase intrínseca. 5.1 Nanismo hipofisário
A ligação a esses receptores provavelmente Caracteriza-se por deficiência de produção de GH
facilita a internalização e a degradação do IGF. Os IGFs pelo lobo anterior da hipófise e consequentemente
estimulam a captação de glicose e aminoácidos e a diminuição do crescimento na infância e na adolescência.
síntese de proteínas e DNA. Eles foram inicialmente Esta deficiência pode ser total ou parcial, podendo
chamados de somatomedinas porque medeiam a ação ocorrer de forma isolada ou associada à deficiência de
do GH (somatotrofina) sobre o crescimento das outras hormonas, como a TSH e a ACTH.
cartilagens e dos ossos. Etiologicamente, este tipo de nanismo deve-se na
Praticamente todos os IGFs circulantes são maioria dos casos, a um tumor intracraniano congénito,
transportados no soro ligados às proteínas de ligação dos normalmente do tipo craniofaringeoma que perturba o
fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFBPs). funcionamento da hipófise, provocando uma diminuição
As IGFBPs ligam-se aos IGFs e, em seguida, associam-se a

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