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Hipotálamo e hipófise

Sumário
1. Núcleos do hipotálamo
2. Funções do hipotálamo
3. Eixo hipotálamo-hipofisário
4. Hipófise anterior e posterior
5. Funções da hipófise
6. Anorexia e bulimia

Ao contrário dos hemisférios cerebrais, que fazem uma monitorização do meio externo, o
hipotálamo controla a situação interna do corpo humano. As funções do hipotálamo estão
essencialmente relacionadas com o controlo da actividade dos órgãos internos (actividade
visceral) através das glândulas e do sistema nervoso autónomo. Recebe informações
através de conexões nervosas e pela composição sanguínea e do L.C.R. (líquido cefalo-
raquidiano). Quando a glicemia baixa, o hipotálamo dispara uma resposta que se traduz
na procura de alimentos. Se o nível de sódio sobe no sangue, o hipotálamo dispara uma
resposta de sede. O hipotálamo tal como o nome indica situa-se por baixo dos tálamos e
embora não tenha mais de 10 mm de comprimento é altamente especializado sendo
indispensável à vida. É formado por vários núcleos responsáveis pelo seu funcionamento.

1. Núcleos do hipotálamo
O hipotálamo situa-se no diencéfalo e desencadeia as diferentes respostas através da
hipófise, do sistema nervoso autónomo e do sistema límbico. O diencéfalo é uma parte
do encéfalo que faz a ligação entre os hemisférios cerebrais e o tronco cerebral sendo
constituído para além do hipotálmo, pelos tálamos, núcleos subtalâmicos e epitálamo
(pineal). O hipotálamo é semelhante a um funil espalmado que se situa por baixo dos
tálamos e se continua inferiormente pela hipófise. Forma o pavimento e parte das paredes
laterais do III ventrículo.

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Fig. 1 – O hipotálamo forma a base e parte das paredes laterais do III ventrículo,
estendendo-se desde o quiasma até aos corpos mamilares. O hipotálamo continua-se
inferiormente com a hipófise.

À frente continua-se com o quiasma (zona de cruzamento dos nervos ópticos) e atrás com
os corpos mamilares (Fig. 1).

Korsakoff (1854-1900), um neuropsiquiatra Russo, foi o primeiro a descrever no século


XIX as alterações da memória nos alcoólicos. Wernicke (1848-1905), um
neuropsiquiatra Polaco, descreveu um quadro clínico constituído por confusão mental e
alterações dos movimentos oculares que precede o quadro descrito por Korsakoff. No
século XX descobriu-se que estas alterações da memória se associavam a hemorragias
nos corpos mamilares por falta de absorção de tiamina (vitamina B1). Este quadro
clínico passou a ser conhecido por síndrome de Wernicke/Korsakoff.
A estrutura do hipotálamo é muito complicada sendo formada por neurónios agrupados
em núcleos. O hipotálamo pode ser comparado pela sua complexidade e importância ao
processador de um computador. Pensa-se que parte dos núcleos não serão ainda

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conhecidos. Existem várias formas de agrupar estes núcleos. Em termos descritivos os
núcleos podem ser divididos em quatro grupos. O grupo supra óptico (anterior) situa-se
junto ao quiasma, o grupo infundibular (inferior) fica por cima da hipófise, o grupo
mamilar (inferior) localiza-se junto aos tubérculos mamilares e o grupo lateral
(externo) por fora do fórnix.
- O grupo supra óptico inclui o núcleo supraquiasmático, núcleo supraóptico e núcleo
paraventricular.
- O grupo infundibular é formado pelo núcleo ventromedial, o núcleo dorsomedial e o
núcleo arqueado também chamado infundibular.
- O grupo mamilar é constituído pelo núcleo mamilar e núcleo posterior.
- O grupo lateral contem o núcleo lateral.

Fig. 2 – Núcleos do hipotálamo

4 – Hipotálamo e hipófise 3
2. Funções do hipotálamo
O hipotálamo controla a manutenção do meio interno em limites compatíveis com o
funcionamento do organismo. Claude Bernard (1813-1878) definiu os mecanismos que
permitem o equilíbrio do meio interno como homeostase. A hipófise e o sistema nervoso
autónomo dependem do hipotálamo que os utiliza para a regulação do meio interno do
organismo. O hipotálamo controla a temperatura, o sono, o apetite, a sede e a diurese.
1. Controlo da temperatura
A temperatura interna do corpo humano é cerca de 37º C. A região anterior do
hipotálamo tende a baixar a temperatura enquanto a região posterior tende a subir. Os
traumatismos cranianos e as cirurgias de tumores da hipófise, aderentes ao hipotálamo,
podem levar a uma subida incontrolável da temperatura a que se chama febre central.
2.2. Controlo do sono
Lesões da parte posterior do hipotálamo podem causar um sono incontrolável. A
encefalite letárgica, doença de que morreu D. Manuel I, segundo a crónica de Damião
de Góis, pode lesar esta região.
2.3 Controlo do apetite
A estimulação do núcleo ventromedial causa saciedade desaparecendo o interesse pela
comida. Pelo contrário o núcleo lateral do hipotálamo é responsável pela sensação de
fome.
2.4 Controlo da sede
O hipotálamo lateral para além de controlar a fome é também responsável pela sede. A
lesão desta região pode levar o animal a uma desidratação embora tenha água para beber.
2.5 Controlo da diurese
Para além de controlar a ingestão de água o hipotálamo controla a diurese. Os núcleos
supra-óptico e para ventricular controlam a diurese através da produção de hormona
antidiurética (ADH) também conhecida por vasopressina. Esta hormona é libertada pela
hipófise e reduz o volume de urina eliminado pelo rim.

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Fig. 3 – A hipófise está ligada ao hipotálamo através do infundibulo e divide-se em
hipófise anterior e posterior.

3. Eixo hipotálamo-hipofisário
A hipófise situa-se por baixo do hipotálamo ao qual está ligada pelo infundibulum (Fig.
3). Tem uma forma arredondada com cerca de 15 mm de diâmetro. Ocupa uma cavidade
na base do crânio que se chama sela turca. É formada por uma porção anterior chamada
adenohipófise e outra porção posterior chamada neurohipófise. Existe uma ligação íntima
entre o hipotálamo e a hipófise que se faz através dos vasos portais para o lobo anterior
da hipófise e através de neurónios para o lobo posterior. As hormonas libertadas pelos
núcleos do hipotálamo passam pelas veias porta e vão actuar na hipófise anterior
estimulando a produção hormonal.

4. Lobos da hipófise
4.1. Lobo anterior da hipófise
O lobo anterior da hipófise também chamado adenohipófise recebe factores de libertação
produzidos pelo hipotálamo que levam à produção de hormonas (Fig. 4).

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Fig. 4 – Diferentes hormonas produzidas pela hipófise sob o controlo do hipotálamo.

A hormona adrenocorticotrófica (ACTH) vai actuar sobre o córtex da glândula supra-


renal levando à produção de cortisol e hormonas sexuais. A hormona estimulante da
tiróide (TSH) actua sobre a glândula tiróide levando à produção de hormonas tiróideias.
As hormonas folículo estimulantes (FSH) e luteinizante (LH) actuam sobre os ovários e
testículos. A hormona do crescimento (GH) estimula o crescimento ósseo e do tecido
muscular e conjuntivo. A prolactina estimula a produção de leite pela glândula mamária.
A hormona estimulante da melanina (MSH) aumenta a pigmentação da pele.
4.2. Lobo posterior da hipófise

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O lobo posterior da hipófise não tem células secretoras (Fig. 5). Os neurónios dos núcleos
supra-ópticos e paraventriculares do hipotálamo produzem respectivamente hormona
antidiurética e oxitocina que são libertadas no lobo posterior da hipófise.

Fig. 5 – O lobo posterior da hipófise ao contrário do anterior não produz hormonas


limitando-se a armazenar oxitocina e vasopressina.

A hormona antidiurética (ADH) também conhecida por vasopressina controla o volume


urinário. A falta desta hormona leva a uma situação em que o volume urinária está muito
aumentado e que se chama diabetes insípida . A oxitocina estimula a contracção do
útero e a emissão de leite pela glândula mamária.

5. Funções da hipófise
O sistema nervoso comanda o funcionamento das diferentes glândulas do organismo
através de uma série de hormonas produzidas pela hipófise. Este facto leva a que a
hipófise seja comparada a um maestro. Através da hipófise o encéfalo comanda o
crescimento e desenvolvimento do organismo, mantém o seu meio interno e assegura a
reprodução.

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6. Anorexia e bulimia
A ingestão de alimentos é um fenómeno muito complexo que não está apenas dependente
dos núcleos lateral e ventromedial do hipotálamo. O sistema límbico está relacionado
com o controlo emocional e é uma dos circuitos envolvidos na alimentação.
A anorexia traduz-se por uma diminuição ou paragem da alimentação e pode ter causas
físicas, medicamentosas ou psíquicas. Nas causas físicas incluem-se lesões do hipotálamo
ou do aparelho digestivo, das causas medicamentosas fazem parte medicamentos como as
anfetaminas e nas causas psíquicas há um envolvimento do sistema límbico.
A bulimia é uma alteração do comportamento alimentar caracterizada pela necessidade
de ingerir alimentos em grande quantidade. Pode haver factores físicos como no caso de
lesões do hipotálamo ou na diabetes. Na maioria dos casos trata-se de problemas
psicológicos. Na anorexia pode haver períodos de bulimia por vezes seguidos de vómitos
induzidos.

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