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2020 / 2023
Vice-Presidente
Lilian de Paiva Rodrigues Hsu
Secretária
Adriana Gomes Luz
Membros
Edson Gomes Tristão
Eliana Martorano Amaral
Eugenia Glaucy Moura Ferreira
Francisco Herlanio Costa Carvalho
Joeline Maria Cleto Cerqueira
José Meirelles Filho
Luciana Silva dos Anjos França
Marianna Facchinetti Brock
Mary Uchiyama Nakamura
Patricia Gonçalves Teixeira
Renato Ajeje
Sérgio Hecker Luz
Descritores
Hiperêmese gravídica; Náuseas e vômitos; Gravidez; Distúrbios hidroeletrolíticos; Distúrbios
metabólicos
Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Náuseas e
vômitos na gravidez. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo Febrasgo-Obstetrícia, n. 32/
Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal).
Introdução
A hiperêmese gravídica (HG) é uma forma grave de náuseas e vômi-
tos na gravidez que afeta de 0,3% a 3% das gestações, dependendo de
diferentes critérios de diagnóstico e variação étnica nas populações
estudadas, constituindo-se em uma das indicações mais comuns de
hospitalização durante a gravidez.(1) É uma das intercorrências mais
comuns da gestação, também conhecida como vômito incoercível
ou vômito pernicioso, sendo um quadro grave de vômitos prove-
niente da complicação da êmese gravídica habitual, podendo levar a
distúrbios hidroeletrolíticos, alterações nutricionais e metabólicas,
com risco para a vida materna e a fetal.(2)
É um diagnóstico clínico de exclusão baseado na presença de
vômitos persistentes e na ausência de outras doenças,(3) associa-
do à fome importante, geralmente com grande cetonúria e alguma
perda de pelo menos 5% do peso pré-gestacional.(4) Anormalidades
* Este protocolo foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal
e validado pela Diretoria Científica como Documento Oficial da Febrasgo. Protocolo Febrasgo de
Obstetrícia, n. 32. Acesse: https://www.febrasgo.org.br/
Todos os direitos reservados. Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo).
Etiologia
O aparecimento da gonadotrofina coriônica e o aumento do estro-
gênio e da progesterona durante a gravidez apresentam potenciali-
dades diretas ou indiretas para causar náuseas, sendo as principais
justificativas nesse sentido,(7) embora a literatura ainda considere ser
uma doença pouco compreendida, com múltiplos órgãos envolvi-
dos, entre os quais se encontram a tireoide e o fígado.(8) NVGs são
mais frequentes e graves entre gestantes que apresentam situações
com aumento das concentrações de hCG, a exemplo da gestação
múltipla e da doença trofoblástica gestacional.
Por causa da estreita relação temporal entre o pico de concentra-
ções de hCG e o pico dos sintomas de NVG, hCG foi considerado um
provável candidato ao estímulo emetogênico. NVGs ainda são mais
comuns quando os níveis de estradiol estão aumentados e menos
comum quando os níveis de estradiol estão baixos,(9,10) e a pílula con-
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Náuseas e vômitos na gravidez
Fisiopatologia
Toxinas, proteínas estranhas, reflexos originados no útero aumen-
tado ou em órgãos digestivos, alterações hormonais, especialmente
gonadotrofinas, neuroses e causas psicossomáticas ativam a área do
centro do vômito, sobretudo por responder às mais variadas aferên-
cias.(17) Em 1987, Jarnfelt-Samsioe descreveu a teoria da pouca reserva
hepática em metabolizar todos esses acréscimos hormonais decor-
rentes da gravidez.(18) Especialistas continuam a debater se as alte-
rações psicológicas são fatores predisponentes ou uma complicação
da HG. A questão de saber se certos tipos de personalidade ou distúr-
bios psicológicos específicos predispõem alguém à HG foi levantada
na literatura por muitos anos. Pequenos ensaios de caso-controle ob-
servaram que HG recorrente não se associa com qualquer condição
psiquiátrica subjacente quando comparada com mulheres grávidas
sem NVGs.(19,20) Uma revisão das teorias psicológicas propostas para
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Anamnese
A presença de náuseas leva à redução do aporte alimentar e da in-
gesta de água, com efeitos negativos sobre a gravidez. Nos casos
mais graves, pode informar perda de peso e diminuição do volume
urinário. Deve-se avaliar antecedentes familiares (principalmente
mães e irmãs) e pessoais acerca do mesmo problema, correlacioná-
-los com sangramento vaginal e cogitar sempre doença trofoblásti-
ca gestacional.(22,23)
Fatores de risco
Mulheres com massa placentária aumentada (gestação molar ou
múltipla), história familiar de HG, história pessoal de náuseas, en-
xaqueca ou HG em gestação anterior têm mais risco de desenvolver
HG.(12) Um estudo descobriu que aproximadamente dois terços das
mulheres que descreveram seus vômitos como graves em uma gra-
videz tiveram sintomas semelhantes na gravidez seguinte e metade
daquelas que descreveram seus sintomas como leves descobriu que
os sintomas pioraram na gestação seguinte.(24) Filhas e irmãs de mu-
lheres que tiveram HG são mais propensas a ter o mesmo problema,
assim como mulheres grávidas de fetos femininos.(25)
Exame físico
Nos casos de média ou maior intensidade, o exame físico pode iden-
tificar sinais de desidratação e redução do peso. Além disso, esses
distúrbios metabólicos são fatores que interferem negativamente
sobre o neurodesenvolvimento embrionário e o fetal.(23)
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Náuseas e vômitos na gravidez
Exames laboratoriais
Sugere-se avaliar inicialmente hemograma, sódio e potássio, soro-
logias (teste para sífilis, HIV, toxoplasmose, rubéola e hepatites A, B
e C), testes de função renal, testes de função hepática, amilase, TSH
e T4 livre, sumário de urina e urocultura.(26) A utrassonografia está
indicada para descartar casos de doença trofoblástica e identificar
gestação gemelar, situações em que as NVGs são mais frequentes.
Pesquisa de HP, via endoscopia digestiva alta, comprova esse fato.
(27,28)
Dentre os vários escores propostos na literatura, sobressai o
Pregnancy Unique Quantification of Emesis (PUQE).(29)
Diagnósticos diferenciais
O momento do início das náuseas e vômitos é importante. Iniciam-
se antes da nona semana de gestação em praticamente todas as mu-
lheres. Quando uma paciente os apresenta pela primeira vez após
nove semanas de gestação, outras condições devem ser cuidadosa-
mente consideradas no diagnóstico diferencial, como colelitíase ou
gastroparesia diabética. Febre e dor de cabeça, bem como alterações
neurológicas, não estão presentes na HG. Apesar de o hipertireoidis-
mo bioquímico poder ser visto na HG, não se observa bócio palpável.
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Condições gastrointestinais
• Gastroenterite
• Gastroparesia
• Acalasia
• Doença do trato biliar
• Hepatite
• Obstrução intestinal
• Úlcera péptica
• Pancreatite
• Apendicite
Condições metabólicas
• Cetoacidose diabética
• Porfiria
• Doença de Addison
• Hipertireoidismo
• Hiperparatireoidismo
Desordens neurológicas
• Pseudotumor cerebral
• Lesões vestibulares
• Enxaqueca
• Tumores do sistema nervoso central
• Hipofisite linfocítica
Condições diversas
• Toxicidade ou intolerância a medicamentos
• Condições psicológicas
Tratamento
O tratamento de NVGs deve começar com prevenção. Dois estudos
descobriram que mulheres que estavam tomando um polivitamíni-
co no momento da fecundação eram menos propensas a precisar de
atenção médica para NVGs.(32,33) Embora a base biológica dessa obser-
vação não seja clara, os autores especulam que isso pode ter ocorrido
por otimização generalizada do estado nutricional ou porque o au-
mento dos níveis de vitamina B6 (piridoxina) pode reduzir o vômito
em algumas mulheres.(32,33)
Há poucas evidências publicadas sobre a eficácia das mu-
danças dietéticas para prevenir ou tratar NVGs. São recomenda-
Não farmacológicas
A associação de apoio psicoemocional, medidas alimentares e
mudanças nutricionais e terapias não convencionais ou comple-
mentares beneficia melhor as gestantes que se situam como for-
ma leve (< 6) na classificação de PUQE. Acupressão, aromaterapia
e acupuntura, hidroginástica e outras atividades físicas de baixo
impacto articular, uso de vitaminas como piridoxina (vitamina
B6) na dose de 25 mg, a cada oito horas, podem ajudar.(38) O pon-
to clássico de acupuntura preconizado para as náuseas é o ponto
PC6 (pericárdio 6), a duas polegadas proximais à prega distal do
punho, entre os tendões do músculo palmar longo e do flexor ra-
dial do carpo. A própria gestante poderá pressionar esse ponto até
melhorar. As hortaliças brássicas ou crucíferas (repolho, brócolis,
couve-manteiga), por terem efeito redutor de colonização por H.
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Náuseas e vômitos na gravidez
Farmacológicas
• Ondansetrona – todos os estudos comparativos entre os an-
tieméticos mostram superioridade de ação da ondansetrona em
relação aos demais grupos farmacológicos, com baixa incidên-
cia de efeitos colaterais, sendo o principal flush facial.(41,42) Dois
estudos recentes abordam o tema e têm sido citados. Um de
coorte retrospectivo analisou mais de 88 mil mulheres em uso
de ondansetrona no primeiro trimestre, comparando-as com
mais de 1.700.000 que não a usaram,(43) e outro de caso-con-
trole, com mais de 864 mil casais de mães e filhos. no primei-
ro estudo, os resultados apontaram três casos com defeitos
orofaciais para cada 10 mil em mulheres expostas, sem ter
observado malformações cardíacas. No segundo, houve mais
risco de malformações, mas não se verificou risco de defeitos
orofaciais. Em nota técnica da FEBRASGO de 2019, não se con-
sideram seus resultados como definidores de conduta e acon-
selha-se prestar esclarecimento a gestantes sobre o baixo risco
de malformações, reservando seu uso para quando medidas de
apoio e dietéticas associadas a outros fármacos não tiverem su-
cesso.(44) Embora tenha havido um pequeno aumento no risco
de defeitos cardíacos em dois estudos (or: 2,0; ic de 95%; 1,3-
3,1; or: 1,62; 95%ic: 1,04-2,14), não ocorreu aumento na taxa
geral de malformações nos pacientes expostos a ondansetro-
na.(45) Medicaid foi um trabalho que avaliou a exposição a on-
dansetrona no primeiro trimestre, mostrando que não houve
associação com malformações cardíacas nem malformações,
porém ocorreu associação de pequeno risco aumentado de
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Recomendações finais
Internação
É necessário tanto para o tratamento como para retirar a paciente do
ambiente de estresse:(30,51)
• Controle de peso e de diurese diário;
• Correção de distúrbios hidroeletrolíticos;
• Evitar suplementação de derivados de ferro, pois aumentam os
sintomas;
• Apoio psicológico, em especial da família e, se necessário, recor-
rer à psicoterapia.
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Alimentação
• Jejum por 24 a 48 horas ou até a estabilização do quadro, retor-
nando progressivamente à dieta líquida e, em seguida, a alimen-
tos sólidos. Dar preferência a alimentos pobres em lipídios e
ricos em carboidratos, em pequenas porções e pequenos inter-
valos (de três em três horas).(30,51)
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